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ELEMENTOS DA PAISAGEM E A CONSERVAÇÃO

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ELEMENTOS DA PAISAGEM E A CONSERVAÇÃO
A paisagem é um sistema territorial integrado por componentes e complexos de diferentes amplitudes formados a partir da influência dos processos naturais e da atividade modificadora da sociedade humana, que se encontra em permanente interação e que se desenvolve historicamente. Uma das maneiras de interpretar a paisagem ambiental, assim como todos os seus elementos e atributos, é observar as fases da evolução espacial e temporal da ocupação dessas áreas, seja por humanos ou por outros organismos. Atualmente a paisagem adquire importância em diferentes escalas de compreensão por meio de relações sociais, econômicas, culturais e ecológicas (POLETTE, 1997).
As mudanças na paisagem se dão principalmente pela ação antrópica, como resultado da construção de uma cultura materialista e individualista. Desde os primórdios da história da humanidade, os humanos estão modificando a paisagem dentro do espaço em que estão integrados e, essa paisagem, é moldada e toma a forma de uma entidade complexa, relativizando questões relacionadas ao sentimento, às concepções culturais, ecológicas e políticas (AGUDELO & MARANGON, 2005). Esses valores atribuídos à paisagem são os que definem o interesse em sua conservação, como a estética, que é totalmente dependente dos padrões culturais da sociedade em um determinado momento histórico; a afetividade, atributo construído temporalmente pelos povos que se utilizam daquele espaço; e o simbolismo, que está associado à questões religiosas, históricas etc. Segundo Berque (1997), o modo de agir sobre a paisagem se dá pela observação e compreensão da própria natureza.
A ecologia da paisagem é uma área que busca estudar os processos que ocorrem em áreas heterogêneas espacialmente definidas, como a interação entre os elementos que a compõem no que se refere a sua estrutura, seu funcionamento e a dinâmica de mudanças. Seu objetivo principal é compreender as interações e sua evolução ao longo do tempo, de maneira a definir parâmetros para a utilização adequada do solo e dos recursos naturais, permitindo a estabilidade ou equilíbrio dinâmico, tanto dos processos naturais como humanos (AZEVEDO, 2002).
A estrutura da paisagem corresponde aos padrões espaciais e ao arranjo de elementos da paisagem. O seu funcionamento diz respeito aos fluxos de espécies, energia, nutrientes e materiais entre estes elementos, enquanto que as mudanças correspondem à dinâmica das alterações dos padrões espaciais e funcionamento ao longo do tempo. As perturbações sobre a paisagem são estudadas sobretudo em sua intensidade e ciclo, e como estes afetam a heterogeneidade e estabilidade da paisagem. Vários pesquisadores defendem a hipótese de que a heterogeneidade é essencial ao equilíbrio da paisagem e, de acordo com algumas hipóteses que vêm sendo defendidas, perturbações moderadas contribuem para o aumento da heterogeneidade, e afetam pouco a capacidade de recuperação de ambientes naturais, sobretudo se tiverem ciclos regulares, como no caso de algumas perturbações naturais ou mesmo humanas, como a agricultura rotativa, sendo incorporadas à evolução natural do sistema (AZEVEDO, 2002)
Os conceitos de estabilidade, perturbações e mudanças, e heterogeneidade, tal como elaborados pela ecologia da paisagem, podem ser entendidos como uma forma sistematizada de defender o bom uso da natureza, em uma abordagem da questão da conservação cujo potencial é enorme no sentido de integrar seus princípios a um modelo de desenvolvimento efetivamente sustentável, e de superar o modelo de áreas protegidas. No entanto, algumas considerações devem ser feitas com relação a sua capacidade de servir de base a um modelo de conservação que responda a contextos tão diversos e aos conflitos sociais em torno da conservação.
Os princípios para a conservação da paisagem devem ser compatibilizados com a justiça social, levando em consideração que os humanos são indissociáveis à natureza. Além disso, a visão das populações locais deve ser levada em consideração por meio de um processo de negociação que envolva a co-gestão de iniciativas de conservação e desenvolvimento e, antes de qualquer coisa, as diferentes soluções e iniciativas devem ser concebidas tendo em vista o contexto local, evitando a utilização de padrões e modelos universais para, dessa forma, serem aplicadas a diferentes unidades territoriais com diferentes escalas e níveis de antropização.
Ressalta-se que a paisagem favorece a população das áreas protegidas não somente por resguardar a sua qualidade de vida, mas também por que valoriza o patrimônio local pois, “tudo que ali exista ou passe a existir valerá mais se inserido num ambiente harmonioso e paisagisticamente equilibrado” (BRASIL PINTO, 1998).
REFERÊNCIAS
AGUDELO, L. P. P. & MARANGON, M. Uso da paisagem e conservação: tensões socioambientais e diálogo de saberes em UCs. Revista Educação & Tecnologia. Rio de Janeiro, 2005.
AZEVEDO, Joaquim Rondon da Rocha. A conservação da paisagem como alternativa à criação de áreas protegidas. 2002. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
BERQUE, Agustín. El Paisaje. Huesca: Arte y naturaleza. Actas del Segundo Curso Huesca, 23-27 setiembre, 1996. Espanha: Diputación de Huesca, 1997.
BRASIL PINTO, A. C. Atividade Urbanística, preservação, urbanismo e a ecologia da paisagem. In: O novo em direito ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 185-211, 1998.
POLETTE, M. Paisagem: uma breve reflexão sobre um amplo conceito. Florianópolis, 1997.

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