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RELACIONAMENTOS ABUSIVOS LGBT GAMAZO RAYANE

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RELACIONAMENTOS ABUSIVOS LGBT: UMA EXPERIÊNCIA DE ESCUTA DENTRO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Rayane Lins Gamazo, Graduanda em Psicologia UnB
Renata Cristina Oliveira, Graduanda em Psicologia UnB
Palavras chaves: Heteronormatividade; Relacionamento abusivo; LGBT.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o cenário político e cultural brasileiro vêm sofrendo intensas transformações. Ao mesmo tempo em que minorias têm conquistado espaço e ganhado voz, nota-se uma crescente ameaça a diretos com o avanço do conservadorismo, perpetuados pela intolerância, o fanatismo religioso, a LGBTfobia, o machismo, entre outros.
Consequentemente, as violências sofridas por minorias vêm ganhando visibilidade, promovendo um contexto de diálogo para desconstrução de preconceitos por meio da educação popular.  Este é um debate que não pode fugir ao âmbito acadêmico, considerando-o como um espaço plural e público para a construção de diálogo e saberes com a comunidade, além de instituição passível de reprodução destas violências.
Sendo assim, este estudo apresenta relatos de pesquisa realizada pelo coletivo Escuta Diversa na Universidade de Brasília, por meio dos DesaBAPHOS, que consistem em rodas de conversa acerca destas violências como ferramenta para intervenção.
A pesquisa tem caráter qualitativo e conta como base empírica, memórias registradas destes DesaBAPHOS, além de levantamento bibliográfico de temas provenientes das reflexões geradas como a heteronormatividade, relacionamento abusivo entre homossexuais, a masculinização para impor poder em relacionamentos homos e trans, e identidade a pessoas trans.    
MÉTODO
São considerados para a presente reflexão dois DesaBAPHOS realizados em Setembro de 2017, um em parceria com o Centro de Convivência de Mulheres (CCM) no dia 20/09/2017 e o segundo promovido pelo Escuta Diversa por conta da visibilidade bissexual no dia 22/09/2017 na Praça Chico Mendes/UnB. Nos dois encontros os debates centraram-se nas relações abusivas. 
A roda foi escolhida como instrumento devido a sua estrutura que possui valor democrático fugindo da lógica hierárquica, propiciando assim percepções de um espaço acolhedor para uma intervenção.
Foram divididas em três momentos: primeiro de apresentação, onde todas as participantes se subdividiram em duplas e alguns trios, para se conhecerem e apresentarem umas as outras; no segundo momento se iniciam os desabafos, onde ficam livres para relatar suas vivências e sofrimentos, sendo que, durante as intervenções, a equipe do Escuta Diversa integra-se na roda de forma que ao mesmo tempo em que mediam também participam como sujeitos, fortalecendo o vínculo terapêutico com os demais participantes. A terceira e última parte é o encerramento, onde ocorre reflexão em conjunto sobre os temas levantados, possíveis soluções e o que se esperar para o futuro.
	
RESULTADOS E DISCUSSÃO
	Foram diversos os relatos e reflexões sobre a significação da violência, sua naturalização, o abuso psicológico e físico em diversos contextos, na roda do CCM. Embora a roda fosse exclusivamente de mulheres, houve variedade em idade, curso, profissão, estado civil, orientação sexual, entre outras características singulares, promovendo diferentes percepções e contextos.
Após as mais variadas reflexões sobre violência e suas percepções, uma participante da roda, solteira e lésbica, se declarou abusiva em um antigo relacionamento no qual não se deu conta na época, mas percebe somente hoje em dias esses atos como abusivos. Há tensão em debater sobre violência contra as mulheres quando esta pode ser causada por uma outra mulher. Ocorre que popularmente a violência é ligada a masculinidade, identificar-se assim é delicado principalmente entre as lésbicas. 
No momento da roda, este foi um tema pouco explorado, a participante não quis entrar em detalhes, e as demais, apesar de confirmarem e concordarem, também não aprofundaram, tendo em vista que não é raro perceber abusos em relacionamentos homoafetivos assim como nos heteronormativos.
Na roda sobre a visibilidade Bissexual, o Biquinique, composta em sua maioria por mulheres, houveram vários relatos de bifobia, principalmente dentro da própria comunidade LGBT, como a objetificação da sexualidade Bi, sentimentos de traição ao descobrir que o parceiro é Bi e o preconceito com a sexualidade do parceiro, gerando possessividade e ciúmes, um dos alicerces de relacionamentos abusivos.
Na roda do CCM o tema foi relacionamentos abusivos, sendo esse o debate esperado, entretanto na roda da visibilidade Bisexual a quantidade de relatos ligados à relacionamentos abusivos foi surpreendente.
Um relato que chamou atenção nesta segunda roda foi de uma estudante mulher e bissexual que se relacionou com um homem transgênero. A participante declarou que se relacionava com essa pessoa desde antes da transição, acompanhou o processo e durante o período, seu parceiro passou a manifestar comportamentos violentos e machistas, induzidos talvez pela reafirmação do gênero masculino, causando o fim da relação.  
Um dos principais objetivos da roda de conversa é socializar saberes e promover a troca de experiências, conversas, divulgação e conhecimentos entre os participantes uma vez que pressupõe um exercício de escuta e fala na intenção de gerar cada vez mais novos conteúdos relevantes sobre o tema proposto (Moura; Lima, 2014).
Durante as rodas ficou evidente o quanto o machismo e o modelo heteronormativo domina as relações e a forma como os sujeitos se percebem no mundo. Entende-se a heteronormatividade como um padrão de sexualidade a ser seguido, sendo esse padrão aquele em que o homem se relaciona unicamente com mulheres e as mulheres com os homens, considerando todas as outras formas de vivenciar a sexualidade anormais, (Doberstein, 2011).
Devido ao modelo heterossexista que propõe a divisão de papéis entre casais heterossexuais onde a mulher é criada historicamente para a subordinação e passividade, e o homem sucumbido à racionalidade e agressividade, a sociedade em geral supõe que o mesmo modelo deve ser aplicada nas relações que estão fora da norma, como é o caso das LGBTs, (Doberstein, 2011).
Para o senso comum, gays e lésbicas trazem consigo estereótipos onde o primeiro é mais feminino e o segundo mais masculino, gerando a ideia de passividade e atividade dentro da relação e, consequentemente, a regra de papéis femininos e masculinos mesmo num casal formado por pessoas do mesmo sexo. Essa imposição de papéis pode ser um fator de risco para relacionamentos abusivos.
Doberstein (2011 p. 19) cita Simon, que afirma que a ausência de reconhecimento tanto social quanto religioso, bem como a falta de modelos de relações LGBTs a serem seguidos faz com que estes casais criem suas próprias regras conjugais. Entretanto, essa falta também pode culminar na utilização do modelo de relação hegemônico por ser o mais encontrado e relativamente mais fácil, fazendo com que os casais sigam os exemplos oferecidos pelas relações heterossexuais, podendo assim, reproduzir violências de gênero.  
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os DesaBAPHOS são as rodas de conversa e o principal instrumento de trabalho do Escuta Diversa, que a princípio tratavam apenas sobre violências LGBTfóbicas ocorridas na universidade e posteriormente o diálogo se estendeu para outras esferas como: machismo, relacionamentos abusivos, racismo entre outras formas de opressão em diversos contextos, de acordo com demandas da comunidade universitária.
Este espaço de escuta e acolhimento é de grande relevância para a manutenção da saúde mental e qualidade de vida da comunidade universitária, que como instituição, cotidianamente reproduz violências e opressões. Durante o processo, os participantes levantaram questões que lhes trazem grande sofrimento psíquico, sendo um fator prejudicial à saúde mental e sua permanência na vida acadêmica. 
A imposição do modelo heteronormativo pode gerar segregação e opressão de quaisquer outras formas de relacionamento que não seja o padrão. Este modelo encontra-se em todosos contextos vivenciados, até mesmo aqueles que se opõe a ele, acabam reproduzindo-o, como é o caso das opressões de gênero dentro de relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, que como foi dito anteriormente, pode vir a ser um fator de risco para um relacionamento abusivo. 
A grande mídia possui poder performático e alcance para diversos temas, inclusive, discussões sociais e como estas são percebidas. Sendo assim, a mídia acaba exercendo o poder de influenciador social, estimulando o diálogo coletivo dos mais diversos temas, com o exercício democrático da nação e seus direitos civis. Além disso, a história nos mostra que as mídias desenvolveram formas de manipulação e coerção social visando moldar e/ou mudar a percepção do público, destacando-se pelo silenciamento de minorias e apagamento de conflitos sociais, (Cardinalli, M et al 2016). 
Falta representatividade, sobretudo, falta representatividade de modelos saudáveis que fujam dessa lógica heteronormativa e se oponha a imposição destes papéis. As representações disponíveis, em sua grande maioria se encaixam no modelo heteronormativo, muitas vezes romantizando abusos, comportamentos agressivos disfarçados masculinidade e outras formas de opressão. Quando tentam se diferenciar correm o risco de estimular estereótipos que por fim influenciam negativamente na percepção destas questões. Falta também responsabilidade para tratar temas sérios e delicados de forma que não se tornem piada ou escracho.
O tema relacionamento abusivo vem ganhando cada vez mais visibilidade, as pessoas estão debatendo mais a respeito, as mídias e instituição estão se posicionando, buscando mais conhecimento sobre o assunto, minimizando a culpabilidade das vítimas e entendendo a responsabilidade social e coletiva deste, porém é um assunto mais explorado na esfera heteronormativa cis e pouco discutido em relacionamentos LGBTs, como suas causas, fatores de risco e proteção. 
Desta forma, pode-se constatar que muitas das questões levantadas necessitam ser mais exploradas, mas para isso deve-se passar por cima de tabus, e assim podem ser elaboradas estratégias de intervenção, educação e planejamentos para medidas institucionais de combate a este tipo de violência. 
REFERÊNCIAS
CARDINALLI, Marcos et al. Revista Applause: A Comunidade LGBT+ em Pauta. 2016. 10f. Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação - Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Prêmio Expocom. Bauru, 2016.
DOBERSTEIN, Nicole Simone Flesch. O relacionamento Homossexual sob a perspectiva heteronormativa. 2011. 62f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul, Porto Alegre, 2011. 
MOURA, Adriana Ferro; LIMA, Maria Glória. A reinvenção da roda: roda de conversa: um instrumento metodológico possível. Revista Temas em Educação, João Pessoa, v.23, n.1, p. 98-106, jan.-jun. 2014

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