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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO_MAROEL BISPO_ATUALIZADO EM 31 MARÇO 2020_OK

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA 
COLEGIADO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
MAROEL DA SILVA BISPO 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES AFETIVO-SEXUAIS DE JOVENS: SENTIMENTOS E ATITUDES NO 
CONTEXTO DE AMEAÇAS DE MORTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FEIRA DE SANTANA – BA 
2020 
 
 
 
MAROEL DA SILVA BISPO 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES AFETIVO-SEXUAIS DE JOVENS: SENTIMENTOS E ATITUDES NO 
CONTEXTO DE AMEAÇAS DE MORTES 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Estadual de Feira de Santana, como 
avaliação final para obtenção do grau de Bacharel em 
Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Me. Ohana Cunha 
do Nascimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Feira de Santana – BA 
2020 
 
 
 
 
 
MAROEL DA SILVA BISPO 
 
 
RELAÇÕES AFETIVO-SEXUAIS DE JOVENS: SENTIMENTOS E ATITUDES NO 
CONTEXTO DE AMEAÇAS DE MORTES 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Colegiado do curso de Psicologia da 
Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial à obtenção de título de 
Bacharel em Psicologia. 
 
Data de Aprovação: Feira de Santana, ____ de __________ de ______. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Profª. Me. Ohana Cunha do Nascimento 
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) 
 
 
_______________________________________ 
Profª. Me. Joelma Oliveira Silva 
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) 
 
 
_______________________________________________ 
Profª. Me. Roberta Lima Machado de Souza 
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, à minha esposa Natali e meus filhos Raquel e Natã, 
por toda dedicação, incentivo e compreensão ao longo do curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A caminhada no curso de Psicologia nem sempre foram por terrenos planos, todavia, 
ocorreu de forma satisfatória e ricas em experiências, muito além do que eu imaginava. Durante 
essa trajetória pude expandir pensamentos e ideias sobre a vida, as pessoas e o mundo. Portanto, 
registro aqui a alegria e a gratidão em poder ter convivido com pessoas tão maravilhosas e que 
muito me ajudaram para que eu chegasse até aqui. 
Agradeço à minha orientadora, professora mestre Ohana Cunha do Nascimento, pela 
valiosa colaboração na escrita deste Trabalho de Conclusão de Curso. Obrigado pelo carinho 
e pelas orientações seguras e adequadas em cada momento dessa parte tão singular e importante 
da vida acadêmica. 
 Agradeço à minha coorientadora, professora doutora Maria Conceição Oliveira Costa, 
pelos ensinamentos valiosos, bem como seu próprio exemplo de pesquisadora dedicada e 
competente, referencial de ser humano ético e que plantou lições de coragem, responsabilidade, 
afeto e gratidão, contribuindo não só para a minha formação profissional, mas para a vida como 
um todo. A esse grande ser humano, de coração e braços sempre abertos, agradeço, também, 
por ter me acolhido, no ano de 2016, no Núcleo de Estudos e Pesquisas na Infância e 
Adolescência (NNEPA/UEFS), na condição de Aluno Voluntário de Iniciação Científica, 
possibilitando que eu desse os passos iniciais na seara das pesquisas, realizando estudos sobre 
violência sexual na infância e adolescência, violência nas relações íntimas juvenis, dentre outros 
temas. 
Expresso, também, minha gratidão ao professor mestre Marcos Antônio de Oliveira 
Santana, exemplo ímpar de grande pessoa humana, educado, alegre, gentil, pesquisador 
extremamente dedicado e aplicado, pela rica contribuição e valiosas sugestões para a construção 
desse trabalho, o qual foi um recorte de sua tese de doutorado. 
 Na Família NNEPA, pude viver, por mais de quatro anos, com intensidade, vários 
momentos, abrangendo estudos, coletas de dados, análises, organização de eventos científicos, 
além dos momentos de lazer e comunhão, com resenhas e festas, celebrando, com alegria, a 
amizade, o amor, o companheirismo e a vida. Sem todos vocês, esse estudo não teria ocorrido! 
Gratidão e reconhecimento a todos os meus professores do curso de Psicologia da Universidade 
Estadual de Feira de Santana, aqui representados pela Prof.ª Me. Joelma, que me ensinaram 
 
 
muito mais do que as técnicas e teorias da Psicologia, pois em suas aulas, foram transmitidos 
valores fundamentais da existência humana, como o valor da ética, a importância do respeito, 
do afeto e do cuidado com o outro, que nossa profissão tanto exige, pensando sempre, na 
singularidade de cada sujeito que cruza os nossos caminhos. 
Obrigado professores, doutorandos e mestrandos do NNEPA/UEFS (Profª Jamilly, Profª 
Cris, Profª Magali, Profª André, Profª Monalisa, Profª Eloísa (que me entrevistou e me acolheu 
tão bem, em 2016); Emanoela (que me orientou nas coletas da DAI/DERRCA); Claudiana e 
Marcelle. A todos vocês, meus sinceros agradecimentos, pelas palavras de apoio e pelo 
incentivo, na minha trajetória de aluno de Iniciação Científica e, também na graduação de 
Psicologia. 
Registro, com muito carinho, agradecimentos a todos os meus colegas de sala, pelos 
quase seis anos de experiência que passamos juntos nesses últimos cinco anos; pelos momentos 
vividos; pelas agradáveis lembranças que nunca sairão do meu coração e pela eterna amizade 
consolidada entre todos nós. Em particular sou grato àqueles da equipe do 1º ao 4º semestre: 
Alisson, Magali, Mônica, Lucimária, Vagner e Karina, além de Larissa, que não fez parte dessa 
equipe, mas sempre foi uma colega querida, que me ajudou e também por ser irmã em Cristo, 
dividindo algumas bênçãos e angústias. Com vocês, colegas, aprendi muito e pude vivenciar 
momentos inesquecíveis, tanto de estudos e apresentações de seminários, como também, 
momentos de alegrias e tristezas, sendo acolhido por vocês com carinho, afeto, amizade e 
respeito. 
Obrigado povo lindo, meus queridos colegas de Iniciação Científica, os famosos nnepianos e 
ex-nnepianos, se é que existe essa condição de ex-nnepiano...Creio que uma vez nnepiano, 
sempre nnepiano: Valeu pela acolhida e amizade: Priscilla, Hosannah, Daniela e Naysa 
(nnepianos pioneiros, que me acolheram tão bem, em 2016); Marcos, Larissa, Wanessa, Carol, 
Amanda, colegas que que pude acolher nos anos seguintes, e que se tornaram amigos do 
coração. As coletas de dados nas delegacias DEAM/DAI/DERRCA, nos conselhos tutelares, as 
pesquisas desenvolvidas, as palestras nas escolas, a hora do cafezinho com biscoitos na copa; o 
esperado momento do almoço compartilhado, o dia das festinhas de aniversário, regados de 
poemas e novas músicas, a hora da carona, todos juntos e apertados (cinco, seis ou até sete)...não 
fala isso pra Natali... primeiro, no famoso carro da Venezuela, (Siena 1.0) e depois, no carro do 
Canadá (Corolla 2.0), jamais serão esquecidos, pois que registrados estão, nas tábuas desse meu 
coração nnepiano, que se comprime ao ver chegar a hora de partir. Um jovem coroa no meio 
dessa garotada...vocês não imaginam o quanto ter passado por tudo isso me rejuvenesceu. 
 
 
De coração expresso minha gratidão ao Pr. Alberto e Prª Nilma, pelo cuidado, apoio e orações 
por mim e pela família. Tem sido uma honra tê-los como nossos amigos e pastores. O caráter 
nobre, a postura espiritual e o testemunho de vocês têm marcado sobremaneira a minha vida e 
a de muitas gerações. 
Registro, com muito amor e reconhecimento, a gratidão aos meus pais, Marcílio e Damiana 
Bispo, “in memorian”, que me instruíram no caminho do bem, do amor e respeito ao próximo, 
do valor da educação e do trabalho, da determinação e da coragem diante das dificuldades e 
sempre, sempre, confiar em Deus, como o El Shadday, o Todo Poderoso, pleno de amor e 
misericórdia por todos nós, seus filhos. 
E o que dizer de Natali, Natã e Raquel?Pelo incentivo, pelo amor e alegrias dados durante esse 
percurso acadêmico difícil, mas enriquecedor, de quase seis anos? Pela ajuda e encorajamento, 
incondicional, de minha amiga e esposa Natali, que me ouvia atentamente e depois fazia 
perguntas, quando tinha apresentação de seminário ou na véspera das provas mais difíceis? Pelo 
incentivo e carinho de Raquel e Natã, sempre com demonstrações de amor, de cuidado e 
respeito em nosso dia a dia em casa, às vezes pedindo “Calma painho, descansa um pouco, tá 
se enchendo de coisas não”? Queridos, com o jeitinho especial de cada um, vocês me deram 
base, alicerce, a fim de poder, hoje, alcançar esse sonho, e por isso, declaro: Muito obrigado! 
E finalmente, e mais importante, agradeço a Deus Pai, ao Senhor Jesus Cristo e ao divino 
Espírito Santo, por terem sempre estado pertinho de mim, me guiando, me renovando, me 
fortalecendo, nessa parte tão maravilhosa da história da minha vida. Porque dEle, por Ele e para 
Ele são todas as coisas! Obrigado Senhor! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem 
de nós mesmos”. 
(Fernando Pessoa) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.pensador.com/autor/fernando_pessoa/
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1.INTRODUÇÃO....................................................................................................................11 
2.OBJETIVO GERAL............................................................................................................15 
2.1OBJETIVOS ESPECIFICOS...............................................................................................15 
3.REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................16 
 3.1 ADOLESCÊNCIA E CONTEXTOS...............................................................................17 
 3.2 VIOLÊNCIA NO NAMORO: TIPOLOGIA E MANIFESTAÇÕES.............................18 
 3.3 SENTIMENTOS E COMPORTAMENTOS ENVOLVIDOS........................................19 
...3.4 GÊNERO, VIOLÊNCIA DE GÊNERO E CONTROLE................................................20 
4. METODOLOGIA...............................................................................................................22 
 4.1 TIPO DE PESQUISA......................................................................................................22 
 4.2 LOCAL DA PESQUISA.................................................................................................23 
 4.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA................................................................................23 
 4.4 TÉCNICAS E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........................................24 
 4.5 ANÁLISE DE DADOS...................................................................................................26 
 4.6 ASPECTOS ÉTICOS......................................................................................................27 
5. RESULTADOS...................................................................................................................28 
6. DISCUSSÃO.......................................................................................................................35 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................46 
8. REFERÊNCIAS.................................................................................................................48 
9. ANEXOS.............................................................................................................................52 
 9.1 ANEXO A – AUTORIZAÇÃO DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO...........52 
 9.2 ANEXO B – PARECER COM ACEITE DO CEP.........................................................53 
 9.3 ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...............54 
 9.4 TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........................................55 
 9.5 ANEXO E – FORMULÁRIO DE QUESTÕES SOBRE VIOLÊNCIA........................56 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A presente investigação envolve a violência nas relações de intimidade, associada às ameaças 
de mortes, com recorte geracional na juventude. Este tema tem atingido elevada visibilidade 
social e científica, sendo considerado como um sério problema, pelo impacto que deriva da 
multiplicidade de manifestações e consequências. Objetivo: compreender como os jovens 
agressores e/ou vítimas de ameaças de mortes nas relações de intimidade expressam seus 
sentimentos e atitudes perante os eventos violentos vivenciados. Método: Trata-se de um 
estudo exploratório, de caráter qualitativo, baseado em uma amostra composta por 25 jovens, 
sendo 16 garotas e 9 rapazes, estudantes da rede pública estadual em Feira de Santana-BA, com 
idades entre 15 e 21 anos, que perpetraram e/ou sofreram algum tipo de violência em seu 
relacionamento afetivo sexual no passado. A coleta de dados foi realizada através da aplicação 
do instrumento de desenho-estória, onde constavam três questões: a) Desenhe algo que 
represente a violência no namoro. b) Agora, olhe para o desenho e conte uma história que tenha 
começo, meio e fim; c) Leia sua história e dê um título. O material resultante da pesquisa de 
campo foi submetido à análise de conteúdo, em sua modalidade temática. Esta pesquisa foi 
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana 
(CAAE: 890084517.8.0000.0053), conforme Resolução 466/12 do Conselho Nacional de 
Saúde) Resultados: Os achados apontaram que a maioria dos rapazes praticaram atos violentos 
contra suas parceiras, evidenciando a violência de gênero. Nos momentos que antecederam às 
ameaças de morte, as manifestações de maior predomínio foram as de ordem psicológica 
(insultos e ofensas), física (espancamentos) e relacional (controle/poder). Os comportamentos 
e sentimentos que emergiram para a concretização dos atos foram de possessividade, controle, 
ciúmes e raiva. Os sentimentos e atitudes das vítimas, diante das agressões sofridas foram: 
medo, tristeza, denúncia, silenciamento. Considerações: Tendo em vista a função das 
universidades e sua relevância na transformação da realidade social, salienta-se a necessidade 
de mais pesquisas sobre a temática da Violência, envolvendo sentimentos e atitudes nas relações 
íntimas juvenis, no intuito de poder contribuir na formulação de políticas públicas e na 
promoção de ações preventivas, a fim de proporcionar o desenvolvimento de relacionamentos 
amorosos saudáveis para a juventude brasileira. 
 
Palavras-chave: Jovens. Namoro. Violência. Ameaça de morte. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present investigation involves violence in intimate relationships, associated with death 
threats, with a generational profile in adolescence. This topic has reached high social and 
scientific visibility, being considered as a serious problem, due to the impact that derives from 
the multiplicity of manifestations and consequences. Objective: to understand how young 
aggressors and / or victims of death threats in intimate relationships express their feelings and 
attitudes towards the violent events experienced. Method: This is an exploratory, qualitative 
study, based on a sample of 25 young people, 16 girls and 9 boys, students from the state public 
school in Feira de Santana-BA, aged between 15 and 21 years old, who perpetrated and / or 
suffered some type of violence in their sexual affective relationship in the past. Data collection 
was carried out through the application of the drawing-story instrument, which contained three 
questions: a) Draw something that represents dating violence. b) Now, look at the drawing and 
tell a story that has a beginning, middle and end; c) Read your story and give it a title. The 
material resulting from the fieldresearch was submitted to content analysis, in its thematic 
modality. This research was approved by the Research Ethics Committee of the State University 
of Feira de Santana (CAAE: 890084517.8.0000.0053), according to Resolution 466/12 of the 
National Health Council) Results: The findings showed that the majority of boys practiced 
violent acts against their partners, highlighting gender violence. In the moments before death 
threats, the most prevalent manifestations were psychological (insults and offenses), physical 
(beatings) and relational (control / power). The behaviors and feelings that emerged for the 
realization of the acts were possessiveness, control, jealousy and anger. The feelings and 
attitudes of the victims, in the face of the aggressions suffered were: fear, sadness, denunciation, 
silencing. Considerations: In view of the role of universities and their relevance in the 
transformation of social reality, the need for further research on the theme of Violence is 
highlighted, involving feelings and attitudes in intimate youth relationships, in order to be able 
to contribute to the formulation of public policies and in the promotion of preventive actions, 
in order to provide the development of healthy loving relationships for Brazilian youth. 
 
Keywords: Adolescent. Dating. Violence. Death thre. 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A adolescência é caracterizada por diversas transformações que fundamentam a 
aquisição de autonomia, maturidade e a inserção social com efetivo papel na fase adulta. 
Apresenta singularidades importantes, uma vez que as mudanças são operadas a nível físico, 
psicológico, social e cultural, citado por Abramo & León, 2005, p. 29). Vale sinalizar que não 
existe homogeneidade para esta fase da vida, uma vez que depende das diversas exposições 
colocadas como experiências para os jovens. 
A delimitação desse período do desenvolvimento não é mensurável pela quantidade de 
anos, todavia, tentativas de categorização são realizadas, a exemplo da Organização Pan-
Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (1990) e Ministério da Saúde 
(1989) que caracteriza o período entre os 10 e os 19 anos e a juventude dos 15 aos 24 anos. Já 
para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a adolescência abrange a fase dos 12 aos 
18 anos de idade. 
Segundo Minayo, Assis e Njaine (2011), a juventude constitui a etapa da vida sobre a 
qual existe maior expectativa social, por se tratar de um estágio do desenvolvimento de 
preparação para a vida adulta, que pode ir dos 15 aos 30 anos. As autoras definem a condição 
juvenil como a etapa em que o ser humano completa sua formação física, intelectual, psíquica, 
social e cultural, passando da circunstância de dependência à autonomia em relação ao núcleo 
familiar. 
Nesse trabalho, será utilizado o termo “jovem” para tratar os sujeitos da pesquisa, que 
se situam entre 15 e 24 anos, seguindo a classificação da Organização das Nações Unidas 
(EISENSTEIN 2005; DE LIMA, 2013). 
A juventude é período em que os jovens vivenciam instabilidade natural decorrente do 
desprendimento familiar, das transformações físicas e psicológicas. Conforme as circunstâncias 
vivenciadas, as demandas enfrentadas poderão se agravar, com intensa manifestação nos 
espaços em que vivem: família, comunidade e escola. A competência de saber lidar com a 
experiência de uma situação violenta, especialmente quando conta com redes sociais de apoio, 
contribui sobremaneira para o desenvolvimento salutar dos jovens. Nessa fase, as autoras 
afirmam que o jovem constrói mais relacionamentos saudáveis, tanto dentro da família como 
na comunidade (MINAYO,2011; DORNELLES, PANOZZO, REIS,2016). 
No momento da consolidação das relações amorosas observa-se uma etapa relevante no 
desenvolvimento pessoal dos jovens, uma vez que estas vivências oportunizam situações onde 
12 
 
serão explorados seus corpos, suas necessidades de intimidade, companheirismo e autonomia, 
proporcionando ainda a aquisição de conhecimentos e a prática de papéis sociais indispensáveis 
para a fase adulta e nos relacionamentos amorosos futuros (FAIAS, CARIDADE & 
CARDOSO, 2016). Caridade et al. (2012) afirmam que o namoro abrange as dimensões 
sentimental e sexual entre duas pessoas, onde elas vivenciam momentos de compromisso 
mútuo, intimidade física e desejo de permanência na relação, mas, por outro lado, os 
sentimentos de carinho e afeto que deveriam nortear o relacionamento, dão lugar às 
manifestações de atos violentos, por conta das mudanças no comportamento. 
Desse modo, vale destacar que a violência tem se tornado um problema crescente de 
considerável magnitude com envolvimento de diversos atores sociais: comunidade, igreja, 
poderes executivos, legislativos, judiciários, organizações não governamentais (ONG), 
universidades, entre outros. Trata-se de um fenômeno que se expressa sob múltiplas facetas, 
acompanhadas de marcas indeléveis, conduzindo à constatação de que se coloca como um sério 
problema de saúde pública (MINAYO, 1998). 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende a violência como uma problemática 
de saúde pública (KRUG et al. 2002) e enfatiza a relevância do seu reconhecimento precoce e 
do atendimento eficaz no intuito de prevenir dificuldades na vida adulta, uma vez que a 
exposição contínua à violência na adolescência deixa consequências que tendem à repetição de 
padrões comportamentais violentos em relações íntimas futuras (CASCARDI, 2016; 
IZAGUIRRE & CALVETE, 2017; OLIVEIRA, 2014). 
Os atos violentos podem assumir diversas configurações, a saber: física, psicológica e 
sexual. Violência física abrange o uso da força para provocar feridas, dor ou incapacidade em 
outrem; violência psicológica ocorre a partir de agressões verbais ou gestuais, no intuito de 
provocar rejeição e humilhação na vítima; abuso sexual significa o ato que acontece nas 
relações hétero ou homossexual, a fim de usá-la para obter excitação sexual (SINIMBU, 
MASCARENHAS, 2016; CERQUEIRA, 2018; NUNES, SALES, 2016; MINAYO, 2005). 
Destaca-se o impacto dos eventos violentos no mundo, estimando-se a 
representatividade dos mesmos frente as causas básicas de óbitos de pessoas entre 15 e 44 anos 
em todo o mundo, com sérias influências nos aspectos culturais, sociais e econômicos, 
culminando em sentimentos de dor e agravos à saúde física e mental dos indivíduos vitimados 
e seus familiares, os quais, em muitos casos, por conta das pressões ou convenções sociais, 
silenciam sobre suas experiências (DAHLBERG, KRUG, 2007). 
13 
 
Conforme Bair-Merritt (2010), nos Estados Unidos da América, ao longo da vida, entre 
1/4 e 1/3 das mulheres são vítimas de violência por um parceiro íntimo e todos os anos, entre 
dois a quatro milhões de mulheres e cinquenta mil a um milhão de homens relatam terem 
passado pelo mesmo tipo de violência, atingindo com grau maior de risco o público considerado 
jovem, entre 18 e 24 anos. 
No estudo qualitativo/quantitativo mais abrangente em termos amostrais sobre o tema 
no Brasil, desenvolvido por Minayo et al. (2011), envolvendo 3.205 jovens de dez centros 
urbanos, na faixa etária de 15 (quinze) a 19 (dezenove) anos, se verificou um número elevado 
de comportamentos violentos nas relações afetivas dos jovens. Os resultados para ambos os 
gêneros apontaram que 86% já foram tanto vítimas, como já perpetraram, também, algum tipo 
de agressão durante o relacionamento íntimo, seja ela de ordem física, sexual ou psicológica. 
Schleiniger (2014) constatou, em seu estudo sobre a violência e as relações de gênero 
nos relacionamentos afetivos e sexuais entre jovens, que os discursos de gênero estiveram 
presentes nas opiniões, crenças e atitudes dos (as) jovens, assim como nas expectativas 
familiares, sendo que os papéis tradicionais de gênero criam situações favoráveis para a 
produção e/ou a invisibilidade da violência. No Brasil, ao final dos anos 1990, a violênciade 
gênero surgiu como categoria de estudos para evidenciar as grandes desigualdades entre 
homens e mulheres (CECCHETTO, 2016, BRANCAGLIONI, 2016, OLIVEIRA, 2016, DA 
FONSECA, 2018). 
Minayo, Assis e Njaine (2011) e Cecchetto (2016), mencionaram que a violência nas 
relações de namoro ou na prática do “ficar” deve ser compreendida em um contexto de violência 
social, referentes às relações construídas através da história. Portanto, a violência entre jovens 
namorados vem sendo influenciada por fatores e modelos culturais que geram a reprodução de 
formas de agir e comportar-se no mundo. Entre esses fatores, pode-se destacar a influência do 
contexto sociocultural ou individual sobre outras variáveis, tais como: a falta de autocontrole, 
perturbações mentais, violência na infância e características de agressividade. 
Torna-se possível elencar as crenças e as atitudes que legitimam o uso de violência na 
resolução de conflitos ou que a banalizam, levando à sua desvalorização e ao não 
reconhecimento do comportamento violento como tal, particularmente em comportamentos 
violentos menos severos e na violência sexual (CAMPOS, TORRES & GUIMARÃES, 2016; 
OLIVEIRA, 2016; CAVALCANTE, 2019). 
A violência nas relações íntimas juvenis tem sido compreendida como toda e qualquer 
atitude tomada para subjugar o parceiro, utilizando-se meios psicológicos, físicos ou sexuais, 
14 
 
podendo provocar sofrimento e danos aos envolvido, sendo considerada violência de gênero 
(SAFFIOTI, 2004; MURTA et al., 2016) 
Nas últimas décadas, o fenômeno da violência no namoro vêm ganhando ampla 
dimensão, sendo compreendido por diversos estudiosos como um grave problema de saúde 
pública, podendo causar diversos problemas como: condutas sexuais de risco, abuso de 
substâncias psicoativas, depressão e ideação suicida (OMS, 2002; MINAYO, 2011; MURTA, 
2013; PENUNURI et al., 2017). 
Apesar da grande relevância social, para Bezerra et. al (2016), a violência nos 
relacionamentos íntimos de jovens é uma demanda ainda recente na literatura científica. 
Os programas de prevenção à violência no namoro desenvolvido nos Estados Unidos e 
Canadá, especialmente, tem mostrado coerência com os estudos que apontam déficits em 
habilidades de resolução de conflitos e regulação das emoções como fatores que têm levado à 
perpetração da violência entre jovens parceiros. Essa inabilidade demonstrada em negociações 
conflituosas e as dificuldades de lidar com os aspectos emocionais de forma coerente são 
também impactadas, em muitos casos, pela exposição à violência intrafamiliar (MURTA,2016, 
OLIVEIRA, 2016). 
A motivação pessoal para a realização desse trabalho surgiu após participar da pesquisa 
“Saúde de jovens e violência: interlocução entre a rede de informação em saúde e o sistema de 
educação, para prevenir a vitimização familiar, amorosa e entre pares” do Núcleo de Estudo e 
Pesquisa na Infância e Adolescência-NNEPA/UEFS, como aluno de Iniciação Científica. Nesta 
oportunidade confrontei-me com a temática da “Violência”, o que me permitiu a possibilidade 
de estudar sobre algumas implicações deste fenômeno nos relacionamentos íntimos de jovens, 
sob a perspectiva dos sentimentos e comportamentos envolvidos. 
Considerando que a adolescência é um período da vida marcado por diversas 
transformações, onde se evidencia a aquisição da autonomia, da maturidade e da inserção 
efetiva na vida adulta, agregando-se à experiência do namoro, que envolve as dimensões 
sentimental e sexual entre duas pessoas, no intuito de vivenciar momentos de compromisso 
mútuo, afeto e carinho. Todavia, nesse relacionamento de intimidade também surgem situações 
de abusos e violências, e, dessa forma, justifica-se a realização da presente pesquisa, na 
perspectiva de ampliar a compreensão dos sentimentos e atitudes de jovens nas relações de 
intimidade, no contexto de ameaças de mortes, entendendo a necessidade de estudos para a 
promoção da saúde, educação e direitos, durante essa etapa tão delicada da vida. 
15 
 
Espera-se, portanto, que este trabalho possa trazer contribuições efetivas, capazes de 
subsidiar o planejamento de estratégias efetivas de prevenção e atendimento da violência nos 
relacionamentos afetivo-sexuais entre jovens brasileiros, possibilitando que a juventude 
vivencie seu processo de desenvolvimento de forma saudável, digna e segura. 
A partir dessas considerações iniciais, a questão norteadora da presente pesquisa foi: 
como os jovens agressores e/ou vítimas de ameaças de mortes nas relações de intimidade 
juvenis expressam seus sentimentos e atitudes perante os eventos violentos vivenciados? 
 
2 OBJETIVOS 
2.1 OBJETIVO GERAL 
Compreender os sentimentos e atitudes envolvidos nos momentos antecedentes à 
ameaça de morte por jovens em situação de namoro. 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
- Descrever os aspectos sociodemográficos dos jovens envolvidos em circunstâncias de 
violência no namoro; 
- Compreender as manifestações violentas precedentes às ameaças de morte (violência 
psicológica, violência física e controle); 
 - Analisar o comportamento e os sentimentos dos agressores e das vítimas a partir da 
concretização dos atos. 
 
3 REFERENCIAL TEÓRICO 
 No intuito de melhor embasar a temática proposta no presente estudo, foi elaborado 
este referencial teórico, abrangendo os seguintes tópicos: Adolescência e contextos, abordando 
as vivências dos jovens no contexto da família, da escola e das relações amorosas e suas 
implicações nos seus sentimentos e atitudes. Em seguida, foi tratado sobre Tipologias das 
violências perpetradas no namoro, sendo caracterizada pela violência física, violência 
psicológica e violência sexual. Após isso, é discutido sobre sentimentos e comportamentos 
evidenciados no namoro, entre os quais, são citados a raiva, o medo, as agressões físicas, dentre 
outros. Por fim, é abordado sobre a violência de gênero e o controle, quando se debate sobre 
conceitos e implicações desses aspectos nas relações íntimas juvenis. 
16 
 
 3.1 ADOLESCÊNCIA E CONTEXTOS 
 
Na adolescência e juventude, a vulnerabilidade relaciona-se à forte exposição aos mais 
diversos aspectos, sobretudo aqueles ligados às práticas socioculturais que toleram a 
banalização da violência, a qual se evidencia pelas diversas expressões de agressão interpessoal, 
nas relações sociais, amigáveis e afetivas (NASCIMENTO et al., 2018). 
Na literatura internacional, são vários os termos utilizados para a discussão da temática 
sobre violência no namoro, tais como: teen dating violence, adolescent relationship abuse ou 
adolescent dating violence, sendo evidenciado, em todos eles, como a violência que ocorre 
entre dois jovens que estejam em um relacionamento íntimo, a qual pode ser expressada de 
forma física, e/ou psicológica, e/ou sexual. O abusador pode agir de forma direta, através da 
web ou por intermédio de terceiros (CALVETE, FERNÁNDEZ-GONZÁLEZ, ORUE & 
LITTLE, 2016; MILLER, 2017). Segundo Flach & Deslandes (2017), desde o ato de monitorar 
o celular do parceiro, com quem ele conversa através das redes sociais, até apontar quais peças 
do vestuário a pessoa pode ou não usar e com quais amigos o parceiro pode ou não conversar, 
o que os jovens, em geral, parecem fazer são tentativas de controle, cabendo, portanto, uma 
análise atenta para as diversas faces da violência presentes entre eles. 
 
 - A família e a escola: a construção dos relacionamentos 
 
 Nas diversas configurações familiares, as relações do cotidiano se diferenciam a partir 
das culturas e oportunizam transformações sociais. Os espaços sociais e simbólicos de 
referências são demarcados no seio dessa instituição familiar, sendo ao mesmo tempo, tanto um 
lócus de acolhimento e proteção, quanto também de experiências violentas. Dessa forma, a 
família é lugar onde os sujeitos formam sua visão de mundo, conforme as normas sociais e o 
contexto ondevivem (CAVALCANTI, 2015; COSTA, 2018). 
Muitos autores acreditam que a maioria dos comportamentos disruptivos é aprendida no 
seio das comunidades onde as instituições de controle social, como as famílias, se veem 
incapazes de exercer o devido controle (OESTERLE, 2012; SANTOS et al., 2010). Onde a 
estrutura familiar é desagregada, as relações conjugais são hostilizadas, o investimento na vida 
familiar é baixo, o vínculo entre os membros da família é escasso, as características parentais 
são desviantes e a disciplina é irregular (MINAYO, 2011; SPOHN & KURTZ, 2011; WONG, 
SLOTBOOM & BIJLEVELD, 2010). 
17 
 
As vivências de relações permeadas pela violência no seio da família, na comunidade 
ou no espaço escolar, segundo Nascimento et al., (2018), geram riscos e repercussões capazes 
de abalar os jovens, seja pela exposição ao fato ou pela própria vitimização, causando reações 
que afetam os aspectos afetivos, emocionais e relacionais, impedindo-os de se desenvolverem 
de forma salutar. 
 Do mesmo modo, a escola desempenha um papel especial na inibição, mas também na 
adoção de comportamentos disruptivos, isto porque é na escola que as crianças estabelecem as 
primeiras relações interpessoais sem supervisão dos pais, e essas relações podem ser positivas 
ou negativas (PERREIRA et al., 2010; OESTERLE, 2012). 
 De acordo com Caridade & Machado (2006), a adolescência constitui-se de uma fase 
de grandes mudanças e transições, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento 
dos jovens, que nesta etapa da vida promovem a construção de relações no contexto 
extrafamiliar, no intuito de conquistar a sua autonomia e de definir a sua identidade. 
 Na busca de outros relacionamentos fora do ambiente da família, é que se encontram 
os amigos, importantes atores no cenário do relacionamento juvenil. Nesse sentido, Minayo 
(2011), traz que, particularmente na etapa da adolescência, as amizades são fundamentais, 
principalmente porque influenciam a maneira de o jovem agir e reagir em suas diversas 
vivências. O grupo de amigos possibilita a competência social dos jovens, por promover a 
aquisição de habilidades que oportunizam a socialização e o desenvolvimento cognitivo e 
emocional. Além disso, essas relações, quando saudáveis, colaboram no aumento da capacidade 
do jovem para enfrentar, de forma assertiva, as transformações inerentes a esse estágio da vida 
e às adversidades no seu cotidiano. 
 A força dos laços estabelecidos no grupo define o poder de influência, os valores e os 
comportamentos dos jovens. Aqueles que empregam considerável parte de seu tempo com 
amigos podem estar mais propensos a exercerem e a sofrerem influência. Além disso, se alguma 
norma do grupo for violada pode colocar em risco o senso de pertencimento do jovem, algo que 
é extremamente ameaçador para ele (MINAYO, 2011) 
Estudos sobre superação de dificuldades, abrangendo violências entre jovens de escolas 
públicas e privadas, apontam que aqueles que se mostram mais capacitados para enfrentar as 
adversidades da vida possuem mais amigos e demonstram bom relacionamento. Por outro lado, 
os que têm um círculo de amizade restrito apresentam uma relação com pouca interação, são 
18 
 
mais tímidos e têm menos habilidades na resolução de conflitos, sobretudo os que se passam 
no convívio (ASSIS, PESCE & AVANCI, 2005). 
A adolescência é considerada uma fase do desenvolvimento do indivíduo que tem início 
na puberdade e termina com a entrada na idade adulta, sendo um tempo de ricas vivências 
baseadas na construção de valores e no estabelecimento de compromissos. Além disso, é o 
período em que se iniciam as relações amorosas (Caridade & Machado, 2006). 
 É justamente no namoro, que além do carinho, surgem outros sentimentos, trazendo 
sérias implicações. Segundo Minayo (2011), alguns sentimentos como ciúme, desconfiança e 
medo de traição tendem a ser suscitados no ambiente das relações íntimas juvenis. Em virtude 
do vínculo mais sólido entre o casal, essas emoções geralmente estão mais presentes e podem 
provocar desavenças, fazendo do namoro, ora um lugar de partilha de afetos, ora um espaço de 
controle dos passos, um do outro. 
 
 
 3. 2 VIOLÊNCIA NO NAMORO: TIPOLOGIA E MANIFESTAÇÕES 
 
Na literatura, é consenso a consideração da existência de diversos tipos de violência nas 
relações afetivo-sexuais: violência psicológica, violência física e violência sexual 
(CARIDADE & MACHADO, 2006). Embora sejam classificadas nessas três categorias, 
seguindo um modelo tradicional, não há, de forma unânime, entre pesquisadores nacionais e 
internacionais, uma definição única para cada uma delas. 
 Violência física - A violência física é compreendida como toda e qualquer ação não 
acidental, e acontece quando o agressor exerce poder sobre o parceiro, mediante o uso da força, 
no intuito de causar dor, sofrimento físico e/ou psicológico. Inclui atitudes como: empurrar, 
puxar os cabelos, arremessar objetos, morder, esbofetear, esmurrar, sufocar, dar pontapés. 
Vários estudos mostram que há uma prevalência significativa de casos de agressão física 
durante o período de namoro (OLIVEIRA, 2011; APAV, 2011; GONÇALVES, 2013; 
MONTEIRO, 2015). 
 
Violência psicológica - A violência psicológica corresponde normalmente ao recurso 
da intimidação para controlar a vítima, de forma verbal ou não verbal, como por exemplo, 
ameaça, humilhação, desmoralização, rejeição, insulto, isolamento social, a perseguição e o 
desprezo. Inicialmente, o tipo de violência que surge, na maioria dos casos, é do tipo 
psicológico, que se manifesta, quer num ambiente público, quer num ambiente privado. Este 
tipo de violência deixa a vítima insegura e com medo do seu companheiro e faz com que o 
19 
 
agressor aumente a sua intensidade, abandonando a violência psicológica e escalando para a 
violência física, muitas vezes conjugando-se com os outros tipos (APAV, 2011; MINAYO, 
2011; OLIVEIRA, 2011; AFONSO & TEIXEIRA, 2015). 
 Violência sexual - Esta violência ocorre quando existem atitudes e comportamentos 
sexuais, por parte do agressor, com a utilização de ameaça e/ou força física, sem o 
consentimento da parceira, bem como mediante outras formas de coerção sexual, incluindo a 
sabotagem de métodos anticonceptivos, pressão para ter relações ou ter mais relações que as 
desejadas pela parceira, acariciar e beijar forçosamente, (APAV, 2011, MINAYO, 2011; 
FERNANDES, 2013; AFONSO & TEIXEIRA, 2015). 
 Diversas formas de intervenção podem ser utilizadas para a prevenção da violência nas 
relações de intimidade. A inclusão no currículo das escolas de estratégias e programas de 
prevenção da violência possibilita o impacto no conhecimento e consequentemente, na busca 
de apoio pelos jovens, colaborando significativamente para a intervenção precoce na 
diminuição dos comportamentos violentos (SILVA; METTRAU, 2010; MURTA et al., 2013). 
Dessa forma, a escola se constitui num espaço relevante na socialização juvenil, bem como um 
local privilegiado para o surgimento e necessária sinalização de condutas movidas pela 
violência (MELO, 2018). 
 
 3.3 SENTIMENTOS E COMPORTAMENTOS ENVOLVIDOS EM SITUAÇÃO 
VIOLENTA 
 
 A literatura traz que um dos aspectos que contribui para a práticas de atos violentos nas 
relações de intimidade juvenil é a sensibilidade à rejeição e a insegurança emocional. Essa 
sensibilidade deriva de um processo de aprendizagem natural, ou seja, das experiências da 
rejeição na infância por parte dos pais, amigos, colegas, professores, parceiros amorosos, de 
forma pontual ou prolongada. Em outras palavras, é a disposição das pessoas em vivenciar 
sentimentos de ansiedade e de raiva quando percebem a rejeição numa relação, mesmo em 
situações ambíguas e neutras (GONÇALVES, 2013). 
Jovens de ambos os sexos podem ser vítimas e/ou perpetradores da violência 
psicológica, mas, geralmente têm dificuldade em reconhecer a violência como tal e raramenteprocuram ajuda. Conforme Barreira et al. (2011), atualmente, se sabe que a violência nas 
relações de namoro de jovens, além de se tornar um potencial precursor de atos violentos entre 
parceiros íntimos na fase adulta, tem particularidades próprias da faixa etária e é tão grave 
quanto essa, com relação à prevalência, lesões e danos psicológicos à vítima, e, portanto, deve 
20 
 
ser estudada de forma independente. Aliado à essa potencialização, Cecchetto (2016) aponta 
que tal fato ocorre, também, se esse comportamento violento se estabelece como uma forma de 
comunicação entre parceiros íntimos juvenis, e assim, a violência pode acabar se cristalizando 
como estratégia para lidar com os conflitos nas relações íntimas. 
Para Oliveira et al. (2011), na atual conjuntura de pouca atenção à violência psicológica, 
o envolvimento de jovens em violência nas relações íntimas acaba subestimado, isso porque, 
além de seus elevados índices de prevalência, a violência psicológica é a maneira mais 
frequentemente perpetrada pelos jovens, de ambos os gêneros, contra seus parceiros, sendo 
também, um preditor da violência física no namoro. 
O aumento do número de eventos de violência psicológica desencadeada pelos jovens 
em seus relacionamentos íntimos está associado à mais elevada agressão verbal da mãe e do pai 
no cotidiano do lar; à mais frequente vivência de violência psicológica entre pais, irmãos, 
amigos e àquela presente nos namoros anteriores, reforçando assim, a ideia de circularidade da 
violência psicológica nos diversos contextos de socialização nos quais os jovens estão inseridos 
e influenciando-os na reprodução dos comportamentos violentos (OLIVEIRA, et al. 2014). 
A violência nas relações afetivas juvenis pode causar impacto significativo para a 
vítima, resultando em sérios danos, a curto e a longo prazo, como por exemplo, as disfunções 
do comportamento alimentar, estresse pós-traumático, perturbações emocionais além dos 
comportamentos sexuais de risco. As meninas sofrem danos mais graves como resultado do 
abuso na intimidade, com taxas mais elevadas de vitimação sexual, quando comparadas com os 
rapazes (FERNANDES, 2013; CECCHETTO, 2016). Segundo esses mesmos autores, a baixa 
autoestima, depressão e os comportamentos suicidas são aspectos que podem potencializar a 
violência no namoro. 
 
 3.4 VIOLÊNCIA DE GÊNERO E CONTROLE NAS RELAÇÕES AFETIVO-
SEXUAIS JUVENIS 
Segundo Cecchetto et al. (2016), na perspectiva das ciências sociais, gênero é o conceito 
utilizado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social. Defende-se o aspecto 
relacional e não, apenas, o masculino e o feminino como campos estanques, dissociados e sem 
vínculo um com o outro na sua própria constituição. A masculinidade é aqui entendida como 
um construto sócio-histórico, tendo como base o aprendizado contínuo de práticas consideradas 
‘masculinas. Ou seja, é preciso aprender a ser mulher, uma vez que o feminino não é posto pela 
biologia, ou pela anatomia, e sim construído pela sociedade. (SAFFIOTI, 1999) 
21 
 
A compreensão do masculino como sujeito da sexualidade e o feminino como seu objeto 
é um princípio instituído há muito tempo na cultura ocidental. Na visão enraizada no 
patriarcalismo, o masculino é ritualizado como o lócus da ação, da decisão, onde o homem 
ocupa o papel de protagonista nas relações familiares e de paternidade como sinônimo de 
provimento material, ancourado nos pressupostos dos valores tradicionais de gênero. Desse 
modo, o masculino é revestido socialmente com a posição de agente do poder da violência, 
existindo, historicamente, uma associação direta entre as concepções vigentes de masculinidade 
e o exercício do domínio de pessoas (MINAYO, 2005). 
A violência de gênero, muitas vezes, invisibilizada, traz consigo a percepção equivocada 
do amor romântico, levando Bourdieu (1999) a questionar se, nas relações amorosas, o amor é 
uma suspensão da violência simbólica ou se é a forma mais sutil dessa violência. O mesmo 
autor ainda diz, que, partindo da premissa de que um dos parceiros, especialmente a mulher, 
compreende o amor como resultado do seu destino, sentindo-se assim, forçada de amar uma 
pessoa que o acaso social lhe reservou, pode-se afirmar que o amor, se constitui num espaço 
de submissão consentida na paixão, não se importando se a pessoa é feliz ou não. 
As atitudes violentas de gênero são associadas à variação intercultural que existe na 
tolerância ao comportamento violento perpetrado sobre a mulher, através da influência dos 
valores patriarcais presentes em cada cultura. A violência contra a mulher se refere com o valor 
social que lhe é atribuído e com o seu estatuto social e assim, as normas culturais que valorizam 
a submissão e a castidade femininas desempenham também um importante papel na promoção 
da violência (CARIDADE & MACHADO, 2012). 
No intuito de romper o ciclo da violência de gênero, é preciso propor questionamentos 
e pensar na possibilidade de um deslocamento do amor que tudo exige, onde tudo deve ser 
aceito, para um amor em que as relações são dialogadas, havendo uma simetria dos prazeres e 
cujo objetivo comum seja a construção da felicidade para os que fazem parte da relação. Dessa 
forma, promover estranhamentos sobre as relações amorosas pode ser um caminhar na direção 
oposta à violência simbólica nas relações afetivo-sexuais (GOMES, 2011). 
Estudo sobre as percepções de meninas tailandesas quanto ao namoro e à violência por 
parceiro(a) íntimo(a), realizado com 24 (vinte e quatro) jovens, revelou que dentre as 
participantes, 81% (n=19) relataram ter experienciado comportamentos de controle, tais como 
determinar o local onde ela deveria ir e em qual horário deveria voltar para casa; criticar o 
vestuário da parceira; não permitir que tivesse amigos do sexo masculino e negar-lhe a 
possibilidade de decidir juntos o que o casal iria fazer (OLIVEIRA et al., 2015). 
22 
 
Na investigação de Faias, Caridade e Cardoso (2016), foi constatado que os jovens que 
tinham vivenciado ou presenciado atos de controle, coerção e abuso emocional no contexto 
familiar, relataram ter utilizado de violência nas suas relações amorosas, especificamente 
violência psicológica e agressão física. Os participantes que foram expostos à violência no 
espaço de suas famílias, seja abuso emocional, controle, coerção ou abuso físico, admitiram ter 
sofrido agressões físicas com sequelas e coerção sexual no âmbito de suas relações íntimas. 
Esses dados são consistentes com outros estudos nacionais e internacionais (Gover, 2008; 
Oliveira, 2009; 2014), que comprovam que muitos jovens estão dentro de ambientes familiares 
abusivos, constituindo esta evidência um forte preditor para o envolvimento em relações 
amorosas também abusivas, quer seja como perpetradores, quer seja como vítimas. 
O estabelecimento do controle nas relações íntimas juvenis é sutil, pois geralmente o 
agressor se apresenta com ares de preocupação com o relacionamento e com o bem estar do 
próprio parceiro, sendo tal sutileza, por vezes, imperceptível para quem nunca sofreu a violência 
conjugal. Dessa forma, a pessoa pode manifestar o ciúme como uma sinonímia do amor que 
sente, escondendo o comportamento violento por detrás da máscara da simpatia (ALMEIDA, 
2001, OLIVEIRA et al., 2013). 
O comportamento controlador é expressão de autoridade e domínio sobre o outro, e 
nesse sentido, os rapazes tendem a perceberem-se como detentores de mais poder do que as 
suas parceiras, agindo em analogia com os modelos dominantes na sua cultura, evidenciando 
uma postura baseada no controle, poder e competitividade, podendo esta postura ser deslocada 
para as suas relações de intimidade, numa tentativa de conservarem os papéis de género 
tradicionais, sobre quais foram educados (CARIDADE, 2007; SAAVEDRA, 2010; MOURA, 
2012). 
 
4 METODOLOGIA 
 
 4. 1 TIPO DE PESQUISA 
 
Trata-se de pesquisabaseada na abordagem qualitativa, de caráter descritivo e 
exploratório. 
A abordagem qualitativa tem como princípios norteadores as percepções e interpretações 
humanas acerca de suas vivências e sentimentos (MINAYO, 2010). Segundo Bardin (2011), 
esta abordagem é capaz de incorporar o significado e a intencionalidade como inerentes aos 
atos, às relações e às estruturas sociais, permitindo desvelar processos sociais ainda pouco 
23 
 
conhecidos referentes a grupos particulares. Dessa forma, permite revelar expressões e 
interações entre indivíduos e a diversidade e expressões, especialmente na população jovem, 
que utiliza diversas linguagens e expressões comunicativas. 
No que tange ao caráter descritivo da pesquisa, ela busca descrever a realidade, as 
características de determinada população/fenômeno estudado ou estabelecimento de relações 
entre variáveis (TRIVINOS, 1987), enquanto que as pesquisas exploratórias buscam se 
aprofundar no sentido de explicitar e proporcionar maior entendimento de um determinado 
problema, um maior conhecimento sobre o tema em estudo, a elucidação de problemas e até o 
levantamento de hipóteses (GIL, 2008). 
 
4. 2 LOCAL DA PESQUISA 
Esta pesquisa faz parte de um projeto interinstitucional mais amplo desenvolvido entre 
Universidades (UEFS/NNEPA – Feira de Santana, Bahia, Brasil; UQAM/EVISSA – Montreal, 
Canadá; e UCSAL/NEDH – Salvador, Bahia, Brasil), o qual estuda a “Saúde de jovens e 
violência: interlocução entre a rede de informação em saúde e o sistema de educação, para 
prevenir a vitimização familiar, amorosa e entre pares”. Este projeto é de autoria do Núcleo 
de Estudos e Pesquisas na Infância e Adolescência da Universidade Estadual de Feira de 
Santana (NNEPA-UEFS), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da 
Bahia (FAPESB), conforme Edital n° 03/2017 – Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão 
compartilhada em Saúde - PPSUS/BA. O objeto temático deste trabalho de conclusão de curso 
foi extraído do projeto principal como parte a ser analisada. 
 
4. 3 PARTICIPANTES DA PESQUISA 
 
Participaram da pesquisa do projeto principal 334 (trezentos e trinta e quatro) jovens de 
ambos os sexos, na faixa de 15 a 24 anos, matriculados e frequentando 9 (nove) escolas da rede 
pública estadual de ensino de Feira de Santana-Bahia selecionadas, os quais assinaram o Termo 
de Assentimento/Consentimento Livre e Esclarecido, aceitando participar da pesquisa, após a 
explicação dos objetivos e importância da mesma. 
Os critérios de inclusão para o presente trabalho foram: estar na faixa etária de 15 a 24 
anos, matriculado, presente na aula no momento da coleta dos dados e que tenha sofrido 
ameaças de mortes em suas relações íntimas. Os critérios de não inclusão foram não saber ler, 
ter relatado não ter vivenciado nenhum episódio de violência no namoro e/ou não ter 
24 
 
respondido o instrumento, enquanto que os critérios de exclusão foram: ter registrado apenas 
desenho, letras ilegíveis, não ter relatado uma estória com início, meio e fim, informações 
insuficientes relativas à idade e sexo, desistência de participar da pesquisa. 
Ressalta-se que foram dadas explicações sobre a relevância da pesquisa e o impacto 
positivo desta para as escolas e a comunidade. Para operacionalização, as salas foram 
organizadas com as cadeiras distantes uma das outras, professores ausentes e pesquisadores 
mantendo determinada distância dos alunos, a fim de atender os necessários preceitos éticos. 
Após o término da realização do desenho-estória, os jovens foram orientados a fazer a 
deposição dos mesmos em cima da sua respectiva carteira. Os desenhos estórias receberam 
numeração e códigos específicos, evitando-se a identificação de alunos e escolas. 
Dentre os participantes do projeto principal, após serem aplicados os critérios de 
inclusão e exclusão, foram contabilizados para fazer parte do presente trabalho 25 (vinte e 
cinco) jovens. 
Foi considerada a definição de juventude da Organização das Nações Unidas (ONU), 
a qual compreende os indivíduos entre 15 e 24 anos de idade (EISENSTEIN, 2005; DE 
SOUZA, 2016). Para o conceito de namoro foi utilizado o critério de Caridade et al. (2012): 
“o namoro abrange as dimensões sentimental e sexual entre duas pessoas, onde elas vivenciam 
momentos de compromisso mútuo, intimidade física e desejo de permanência na relação, mas, 
por outro lado, os sentimentos de carinho e afeto que deveriam nortear o relacionamento, dão 
lugar às manifestações de atos violentos, por conta das mudanças no comportamento”. 
 
4.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 
 
Para a coleta de dados inicial, utilizou-se a versão brasileira do questionário PAJ (“ 
Parcours Amoureux des Jeunes” Percurso Amoroso de Jovens), original do Canadá 
(Universidade de Québec à Montreal -UQAM), que foi submetido aos processos de adaptação 
transcultural, validação e análise das propriedades psicométricas pelo NNEPA\UEFS, para ser 
aplicado e replicado no contexto nacional (NASCIMENTO, 2014; SILVA, 2015). 
A grande coleta realizada no projeto mais amplo envolveu uma amostragem 
representativa em escolas de diferentes portes e áreas de localização do município integrantes 
da rede pública estadual de ensino de Feira de Santana-Bahia. Durante o processo de análise 
das questões subjetivas do PAJ, verificou-se a necessidade de retornar a campo, no mesmo 
contexto de realização da grande coleta, para obtenção de mais subsídios acerca das questões 
25 
 
relativas às “experiências difíceis” relatadas pelos jovens nas relações afetivo-sexuais. 
Para a presente pesquisa, foram selecionadas 9 (nove) escolas da rede pública estadual 
de ensino, as quais participaram do Projeto mais amplo mencionado. Para a seleção das 
referidas escolas, as 3 (três) condições observadas foram: localização em área/região/bairro com 
altos índices de violência interpessoal; estarem localizadas área de alta densidade populacional; 
e possuírem elevado índice de alunos matriculados oriundos de distritos circunvizinhos a Feira 
de Santana. Esses critérios foram levados em consideração para uma maior aproximação do 
estudo com o fenômeno da violência nas relações de namoro, no universo da educação pública 
do referido município e áreas adjacentes. Utilizando-se dos critérios supracitados, foram 
selecionadas 4 (quatro) escolas de grande porte. 
Como forma de resguardar as identidades dos participantes, foram usados nomes de 
flores existentes na Caatinga nordestina. A escolha se explica por dois motivos: Em primeiro 
lugar, pelo fato do município de Feira de Santana estar localizado entre o Recôncavo Baiano 
e os tabuleiros semiáridos do nordeste baiano, sendo constituído de floresta de transição entre 
a mata atlântica e a caatinga, às margens do rio Jacuípe. Em segundo, pelas características de 
resiliência destas plantas diante do clima árido. Dessa forma, registra-se o desejo que as jovens 
vítimas de violência nas relações de intimidade, motivadas pela esperança e pela coragem, 
possam ser resilientes e romper o ciclo da violência de gênero, florescendo para experiências 
amorosas felizes, onde as mesmas sejam tratadas com respeito, carinho e dignidade. 
Nomeamos os participantes, conforme as seguintes flores: 1. Angico (Anadenanthera 
colubrina); 2. Aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi); 3. Bromélia 
(Bromeliaceae); 4. Cacto (Cactaceae); 5. Caroá (Neoglasiovia variegata); 6. Coroa-de-frade 
(Melocactus bahiensis); 7. Ipê roxo (Tabebuia impetiginosa Mart); 8. Jurema branca 
(Piptadenia stipulacea); 9. Malva branca (Sida cordifolia L); 10. Palma (Opuntia 
cochenillifera). Optamos em utilizar os nomes em negrito no decorrer da pesquisa, em virtude 
de referir-se aos nomes populares das espécies, facilitando a identificação pelos leitores e 
leitoras. 
Na presente pesquisa foi utilizada a Técnica Projetiva (desenho-estória) baseada em 
um tema (COUTINHO,2005). Esta técnica é uma estratégia metodológica de coleta que 
proporciona um amplo campo de interpretação, no que diz respeito ao resgate do inconsciente 
do indivíduo, uma vez que busca “compreender o sujeito - o que faz e não faz, a forma como 
faz, quando e porquê” (MELLO; FORMIGA, 2000). Possui particularidades na busca de 
informações de conteúdos velados, não conscientes (mentais, emocionais), importantes por sua 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tabuleiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%A1rido
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mata_atl%C3%A2ntica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caatinga
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Jacu%C3%ADpe_(Bahia)
26 
 
penetração e acepções, sobretudo quando o fenômeno em estudo é inerente ao imaginário do 
sujeito e/ou encontra dificuldade para ser manifestado, mas que, através desse processo, pode 
ser emergido (RIBEIRO; COUTINHO; NASCIMENTO, 2010). 
A escolha da Técnica Projetiva desenho-estória se justificou por permitir a escuta de 
expressões subjetivas e lúdicas de diálogo, que minimiza as dificuldades de expressão e ampara 
a superação das censuras e dos discursos previamente elaborados. Dessa forma, favorecem a 
apreensão das projeções mentais e, consequentemente, o acesso aos estereótipos sociais 
partilhados pelos membros do grupo, no sentido de captar as representações sociais, como 
formas de pensamento, enraizadas no inconsciente (AIELLO-VAISBERG, 1995).Para 
desenvolver esta etapa da pesquisa foi oferecido aos participantes papel sulfite em branco e 
lápis. Em seguida, foi orientado que realizassem um desenho a partir do seguinte estímulo: 
“desenhe algo que represente a Violência no namoro”; posteriormente, foi solicitado que 
contassem uma estória sobre o desenho, com um conteúdo que apresentasse um início, 
desenvolvimento e fim. E, por último, orientou-se que lessem a estória escrita e lhe designasse 
um título. 
 
 4. 5 ANÁLISE DE DADOS 
 
A Técnica Projetiva foi utilizada como estratégia de coleta de dados e a Análise 
Temática de Conteúdo/ATC será usada como recurso de análise de dados, cujos procedimentos 
sistemáticos descrevem o conteúdo das mensagens, a partir de um conjunto de técnicas de 
análise das comunicações (BARDIN, 2011). 
Os resultados foram analisados seguindo as etapas do modelo de análise e interpretação 
propostas por Coutinho (2005), definidas pela observação ordenada dos desenhos, para 
agrupamento, segundo as relações de semelhanças gráficas e por convergência dos temas. Esses 
agrupamentos foram interpretados e discutidos numa visão reflexiva sobre a temática, 
entretanto, neste estudo, não foi realizada a análise gráfica dos desenhos. O processo analítico 
será desenvolvido com as estórias e seus respectivos temas, através da técnica de Análise 
Temática de Conteúdo (ATC). 
As unidades temáticas que emergiram das estórias garantiram o máximo de 
fidedignidade ao material coletado e, em seguida, passaram pelos procedimentos de Análise 
Temática de Conteúdo (BARDIN, 2011), os quais tiveram início com a reunião de todas as 
estórias, para a constituição do corpus e realização de leituras livres. 
27 
 
No momento inicial houve uma primeira aproximação com o material coletado, para 
verificação das informações essenciais à pesquisa. Foi listado o total inicial de participantes e 
o quantitativo final, após a utilização dos critérios de exclusão, sendo divididos em sexo 
masculino e feminino, a fim de examinar o material, separadamente. Cada documento utilizado 
na coleta foi numerado e separado em pastas diferentes para facilitar a elucidação de possíveis 
dúvidas. Também houve uma leitura flutuante dos materiais coletados, o que ensejou as 
primeiras impressões trazidas pelos documentos em relação ao objeto de estudo. 
Para constituição do corpus que compôs as análises realizadas, foram observadas as 
regras que constituíram as escolhas: exaustividade, homogeneidade e pertinência. No que se 
refere à exaustividade, todos os 25 (vinte e cinco) desenhos-estórias foram contempladas, feita 
uma leitura reflexiva, extração das informações essenciais para possível inserção em 
determinada categoria. Com relação à homogeneidade, foram selecionados os desenhos-
estórias que apresentaram algumas similaridades, sendo priorizado o desfecho “ameaça de 
morte” como indicador dessa convergência, sendo os demais excluídos. 
Ao final, se buscou a pertinência ao eleger o grupo de composição, com base no 
desfecho “ameaça de morte”. Em seguida, para melhor exploração do material, foi 
estabelecida a decomposição do corpus e o agrupamento em categorias, às quais foram 
validadas para compor unidades de análise. 
Os resultados foram comparados e interpretados mediante inferências com a literatura 
pesquisada. 
 
4.6 ASPECTOS ÉTICOS 
 
A pesquisa possui autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade 
Estadual de Feira de Santana (UEFS), sob Protocolo (CAAE: 890084517.8.0000.0053), 
conforme regulamentação da Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. 
Para realização da coleta de dados, os pesquisadores responsáveis contataram o Núcleo 
Regional de Educação de Feira de Santana (NRE-19), a fim de apresentarem o projeto; 
estabeleceram uma relação de confiança para o desenvolvimento do mesmo em escolas da rede 
estadual do município de Feira de Santana; verificaram a viabilidade para a sua realização e, 
em seguida, solicitaram a relação de escolas e alunos da rede. 
Posteriormente, de posse da referida relação, elaborado ofício para os respectivos 
diretores, bem como Termo de Assentimento/Consentimento Livre e Esclarecido para os 
28 
 
participantes do estudo, atendeu-se a recomendação da Resolução n° 466, de 12 de Dezembro 
de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), vinculado ao Ministério da Saúde, que versa 
sobre as normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, sobretudo questões 
éticas. 
Para a aplicação da técnica projetiva, foram tomados os cuidados éticos, com relação 
à autorização voluntária dos jovens para participarem da pesquisa, mediante assinatura do 
Termo de Assentimento/Consentimento Livre e Esclarecido, e o rigoroso treinamento da equipe 
de coleta de dados foram observados. 
Foi realizado agendamento prévio junto às escolas, tendo sido explicado aos estudantes 
sobre os objetivos e a finalidade da pesquisa, momento que foi solicitada a colaboração desses 
e assegurado o livre arbítrio e o anonimato. Os estudantes que aceitaram participar, assinaram o 
Termo de Assentimento/Consentimento Livre e Esclarecido. Foram informados que os 
documentos não deviam ser identificados, sendo garantido total sigilo e confidencialidade. 
Durante a aplicação do instrumento, os professores não permaneceram no ambiente, garantindo 
a liberdade de expressão quanto ao seu preenchimento. Foram liberados de participar na 
pesquisa aqueles que se recusaram, respeitando-se o livre arbítrio. 
A organização das salas obedeceu a equidistância entre cadeiras, mantendo-se 
privacidade entre os estudantes. Ao final, os instrumentos não identificados foram 
depositados pelos próprios jovens em uma urna lacrada, disponibilizada para esta finalidade. 
 A operacionalização da coleta obedeceu, criteriosamente, as etapas preconizadas, 
visando alcançar os objetivos. Vale salientar a importância do retorno positivo à comunidade 
sobre os problemas levantados, causas e consequências e respectivas medidas de prevenção e 
proteção a serem implementadas, visando à qualidade dos relacionamentos interpessoais e 
convivência pacífica entre jovens. 
 
5 RESULTADOS 
 
Os resultados sobre os dados sociodemográficos, indicaram que, do total de 25 (vinte e 
cinco) entrevistados, 09 (nove) jovens foram do gênero masculino e 16 (dezesseis) do feminino. 
A faixa etária de ambos os gêneros variou entre 15 e 19 anos. 
A violência como construção da masculinidade se revela nas narrativas tanto de meninos 
quantode meninas, quando entendem a agressão física como algo inerente ao ser homem e 
percebem-na como algo mais praticado pelos parceiros contra suas namoradas do que o 
29 
 
contrário. Dessa forma, no presente trabalho, a discussão será desenvolvida na perspectiva da 
violência de gênero. 
Sobre as manifestações violentas que precederam às ameaças de morte, verificou-se 
expressões de controle com privação, insultos e espancamentos, caracterizando, portanto, a) 
controle; b) violência psicológica; c) violência física. 
 
a) Controle 
 
 
 
 
 
 
“[.... sempre a tratou muito bem, com todas as regalias possíveis, porém não admitia 
que frequentasse bares, baladas e casa de amigos sem a sua presença. No início, . 
achava aquilo uma simples demonstração de ciúmes, mesmo com suas amigas avisando 
que estava errada aquela situação...foi uma longa briga, até que pediu para terminar 
a relação. .... não suportou a ideia e fez agressões verbais...passados alguns minutos, 
teve seu cabelo cortado... não cometeu assassinato porque a irmã ouviu os gritos e 
chamou a polícia e ele foi preso]”(Participante Aroeira vermelha). 
No desenho F-039 acima, a participante traz a figura de uma jovem chorando, 
cabisbaixa, triste, com os cabelos cortados e as mãos para trás, indicando passividade e 
submissão. Ao seu lado, a imagem de um celular e as palavras escritas: amigos, roupas, controle 
e abusivo, apontando para as atitudes controladoras de seu namorado, o qual parece lhe ameaçar 
com um objeto perfurocortante na mão. 
No relato acima transcrito, consta que o agressor tratava com afeto e carinho sua 
parceira, porém não admitia que saísse com amigos para as festas, apontando para um 
comportamento ciumento e, quando a parceira quis terminar a relação, o rapaz não aceitou. 
Dessa forma, o agressor utilizou-se dos mecanismos de controle, no intuito de obrigar a vítima 
a submeter-se e permanecer no relacionamento abusivo. 
30 
 
b) Violência psicológica 
 
 
 
 
 “Ela sofria muito nas mãos de seu namorado...ela apanha todo dia. Era xingada de 
várias coisas e ela se sentias presa e achava que merecia isso; se acusava, dizendo que era 
punição dos céus. À noite, era doloroso; ele queria sempre transar e doía muito; ela pedia pra 
ele parar e ele não parava...”(participante Bromélia) 
O desenho acima traz a imagem de um coração com riscos fortes, e dentro dele, um 
rosto feminino em lágrimas, expressando dor e sofrimento; mostra ainda um garoto, que 
aparenta ser o namorado da menina, com parte do corpo todo riscado, lançando contra a vítima, 
diversas palavras ofensivas, xingamentos e ameaças, como: “Eu te mato”; Ninguém vai te 
ajudar”; “Maluca, vou te matar”; “Vadia” “Retardada”, sinalizando para uma ocorrência de 
violência psicológica. 
O depoimento traz uma circunstância de perpetração de violência psicológica grave, na 
qual seu namorado a xingava a sua parceira constantemente, o que implica em sentimentos de 
humilhação, tristeza, medo e estresse e culpa. Além disso, o rapaz obrigava a parceira a ter 
relações sexuais, mesmo quando ela não desejava, utilizando-se de intimidação e ameaças, 
configurando-se ainda como uma associação com a violência sexual. 
31 
 
 
c) Violência física 
 
 
 
“Quando eu chegava nos lugares, todos notavam os machucados e eu ficava 
envergonha, tentando esconder meu rosto de todas as formas. Até que um dia, ele me bateu tão 
forte que fui parar no hospital. Eu já não aguentava mais. Decidi denunciá-lo, ele descobriu e 
tentou me matar (Participante Jurema branca). 
 
O desenho acima mostra uma jovem chorando, com hematomas na face e no olho 
direito, revelando ter sido espancada. O coração partido aponta para uma possível ruptura do 
relacionamento ou descontentamento, decepção com a vinculação afetiva. 
Em seu relato escrito, a vítima traz que ela apanhava com frequência e, quando chegava 
nos lugares, as pessoas notavam as marcas das agressões físicas sofridas, díade tal modo que 
em outra circunstância, foi preciso ser atendida no hospital. Diante disso, não suportando mais 
tal sofrimento, decidiu denunciá-lo. O jovem demonstrava ser tão violento, que após a denúncia 
da menina, tentou matá-la. 
 Com relação ao comportamento e aos sentimentos do agressor, que emergiram para a 
concretização dos atos violentos, os resultados apontaram para: a) possessividade, b) controle, 
c) ciúme, d) raiva. 
 
32 
 
a) Possessividade 
 
 “O homem machista que acha que tem poder sobre a mulher, agride ela e ameaça 
matá-la; ele agride tanto psicologicamente quanto fisicamente e ela indefesa, só chora, e se 
pergunta porque ela está passando por isso, mas a melhor forma de combater é denunciando” 
(Participante Coroa de frade). 
O desenho acima mostra uma jovem com hematomas nas pernas e braços, além do olho 
roxo, indicando ter sido espancada pelo parceiro. Ao lado da garota, o rapaz profere palavras 
que depreciam a autoestima da menina. 
Na sua narrativa, a participante traz, de forma clara, o comportamento violento 
possessivo do rapaz, agredindo fisicamente a parceira, ofendendo, humilhando-a, além de 
ameaça-la, evidenciando uma postura machista que visa objetificar a mulher em suas relações 
íntimas. No texto, a vítima, além de sofrer com as agressões físicas, se sente fragilizada 
emocionalmente, chora muito e expressa sentimento de culpa pela situação que enfrenta. 
b) Controle 
 
33 
 
“[...R. sempre a tratou muito bem, com todas as regalias possíveis, porém não admitia 
que A. frequentasse bares, baladas e casa de amigos sem a sua presença. No início, A. 
achava aquilo uma simples demonstração de ciúmes, mesmo com suas amigas avisando 
que estava errada aquela situação...foi uma longa briga, até que A. pediu para terminar 
a relação. R. não suportou a ideia e fez agressões verbais...passados alguns minutos, 
teve seu cabelo cortado. R. não cometeu assassinato porque a irmã de A. ouviu os gritos 
e chamou a polícia. R. foi preso]” (Participante Palma). 
No desenho acima, a participante traz a figura de uma jovem chorando, cabisbaixa, 
triste, com os cabelos cortados e as mãos para trás, indicando passividade e submissão. Ao seu 
lado, a imagem de um celular e as palavras escritas: amigos, roupas, controle e abusivo, 
apontando para as atitudes controladoras de seu namorado, o qual parece lhe ameaçar com um 
objeto perfurocortante na mão. 
No relato acima transcrito, consta que o agressor tratava com afeto e carinho sua 
parceira, porém não admitia que saísse com amigos para as festas, apontando para um 
comportamento ciumento e, quando a parceira quis terminar a relação, o rapaz não aceitou. 
Dessa forma, o agressor utilizou-se dos mecanismos de controle, no intuito de obrigar a vítima 
a submeter-se e permanecer no relacionamento abusivo. 
“O homem não gosta de ver a mulher com outro homem, por que pensa que tá te 
traindo; aí tem muitos fatos acontecendo hoje pelo mundo. Tem uma crise de ciúmes e quer 
matar a mulher, pensando que tá sendo traído”. (Participante Cacto) 
O desenho acima traz a imagem do jovem apontando, o que aparenta ser uma de fogo, 
para sua namorada, indicando que desejava matar a mesma, acusando-a, em sua fala, de tê-lo 
traído. A menina, com os braços estendidos, sinalizando passividade, nega, em seu discurso, a 
traição, dizendo que estava conversando com um amigo. 
c) Ciúme 
 
34 
 
“O homem não gosta de ver a mulher com outro homem, por que pensa que tá te 
traindo; aí tem muitos fatos acontecendo hoje pelo mundo. Tem uma crise de ciúmes e quer 
matar a mulher, pensando que tá sendo traído”. (Participante Umbuzeiro) 
O desenho acima traz a imagem do jovem apontando, o que aparenta ser uma de fogo, 
para sua namorada, indicando que desejava matar a mesma, acusando-a, em sua fala, de tê-lo 
traído. A menina, com os braços estendidos, sinalizando passividade, nega, em seu discurso, atraição, dizendo que estava conversando com um amigo. 
 
d) Raiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O namorado estava atrás de uma árvore, vendo os dois conversando e o pior é que 
ela achou que ela estava traindo-o. Então ele foi para casa esperar ela. Quando ela o 
encontrou, o mesmo não falou nada, apenas apontou a arma para ela e disparou um tiro” 
(Participante Ipê roxo). 
No desenho acima, o jovem aponta uma arma para sua parceira íntima, a qual parece 
estar conversando com um amigo. 
No discurso escrito pelo participante, o namorado estava escondido atrás de uma árvore, 
talvez já desconfiado da parceira, pensando estar sendo traído. Após isso, com muita raiva, ele 
se dirigiu à casa dela, e quando ele a viu, disparou a arma contra, numa tentativa de feminicídio. 
Os resultados encontrados sobre as atitudes, comportamentos e os sentimentos das 
vítimas, foram os seguintes: a) denúncia e término da relação, b) silenciamento/tristeza, medo 
e culpa. 
 
35 
 
a) Denúncia e término da relação 
“L. e T. namoram há 6 meses e ele sempre foi tranquilo, ou pelo menos aparentava, 
mas começou a beber/se embriagar e um inesperado dia, havia se chateado com T., pois ela 
havia saído sem avisá-lo, e ele a destratou, e ela imediatamente pediu o fim do relacionamento, 
pois não queria se submeter a este tipo de situação. L. grita com ela, dá um murro em T. e logo 
vai pra cozinha, pega uma faca e a ameaça de morte. T. e sua família denunciam L., que é 
preso”. (Participante Malva branca). 
No relato acima, após o que parece, ter sido a primeira situação de ofensa do parceiro 
na relação, a garota tomou a atitude de terminar o namoro. Quando ela declarou que desejava 
pôr fim ao namoro, o rapaz a agrediu fisicamente e ameaçou-a de morte, tendo a vítima e sua 
família denunciado o agressor às autoridades, que o prenderam. 
 
b) Silenciamento, tristeza e medo 
 
“...o namorado agride sua parceira por ciúmes e seu machismo, e ela fica muito ferida e 
com medo, e logo após o namorado ameaça ela, pra que ela não conte nada do que ocorreu; 
senão ele acabará com sua vida”. (Participante Palma ). 
“mulher sendo agredido por seu namorado, ameaçando matá-la, por ciúmes, ela chora sem 
parar, com medo e por não conseguir denunciá-lo” (Participante Caroá). 
Nas estórias acimas, diante das agressões físicas e das ameaças de morte, as vítimas 
choram muito, evidenciando os sentimentos de tristeza e medo de morrer, indicando opção pelo 
silenciamento. 
 
6 DISCUSSÃO 
 
 O fenômeno da violência nas relações íntimas na juventude tem se constituído um sério 
problema de saúde pública e está relacionado a diversos fatores desencadeadores, 
caracterizando a complexidade da temática e seu caráter multicausal. Diante dessa 
complexidade, diferentes pesquisas têm como foco de investigação diversas variáveis, por 
exemplo, a exposição à violência intrafamiliar (CARDOSO MAIA, 2017, AVANCI, 2017, 
IZAGUIRRE & CALVETE, 2017; KARLSSON & TEMPLE 2016, ) grupo de pares (HEINE, 
2017) ou uso de drogas (BAKER, 2016; FILHO, 2015). Poucos estudos têm dado ênfase à 
36 
 
variável ameaça de morte como associada à violência no namoro entre jovens (GUERREIRO, 
2016, MONTEIRO, 2015, BRANCAGLIONI, 2016). 
Esta pesquisa buscou ampliar a compreensão dos fatores precipitantes associados aos 
sentimentos que precederam à ameaça de morte nos relacionamentos amorosos, descrever os 
sentimentos e atitudes envolvidas nos momentos antecedentes à ameaça de morte, bem como 
relatar quais as atitudes relacionadas com os sentimentos posteriores a estas ameaças. 
Portanto, esta pesquisa amplia e contribui para a área, uma vez que possui um caráter 
inovador de investigar, no ambiente das relações íntimas juvenis, os sentimentos e 
comportamentos de jovens, relacionados às ameaças de morte. 
No que se refere aos aspectos sociodemográficos, ficou evidenciado os atos violentos, 
em sua totalidade, foram praticados pelos rapazes, sendo utilizados como meios de execução 
as armas de fogo (revólver), arma branca (faca), agressão física (espancamentos) e agressão 
psicológica (ameaças, insultos). Essa constatação aponta para a problemática da violência de 
gênero, expressada nos sentimentos e atitudes e nas condutas mediadas pelo abuso de poder e 
mecanismos de controle. 
 
Com relação aos sentimentos e atitudes vivenciadas pelos agressores ficaram 
evidenciados a) a possessividade, b) o ciúme, c) a raiva, d) controle. 
 
a) Sentimento de possessividade: aliada ao ciúme, coisifica as mulheres. 
 
Estudo desenvolvido, em nível nacional, realizado com jovens de ensino médio por 
Nascimento (2009), apontou que o ciúme é considerado o principal motivo de contendas nas 
relações afetivas juvenis, sendo a possessividade, desejo de ter o parceiro apenas para si, sem 
permitir que o mesmo interaja com outras pessoas, um dos aspectos de que contribuem para 
uma maior manifestação desse sentimento. 
Conforme Murphy & Smith (2010), um estudo realizado na Austrália, sendo verificado 
que 60% das meninas relataram ter vivenciado ciúmes e comportamentos possessivos 
perpetrados pelo parceiro. 
Na presente pesquisa, a maioria das garotas relataram sobre o comportamento 
possessivo de seus parceiros. Em várias estórias, foi dito que os rapazes tratam as meninas como 
objetos pessoais, como se eles fossem donos de suas vontades e de seus corpos. Tal fato 
encontra respaldo com a fala de Minayo et al. (2011), quando afirma que o patriarcalismo, 
enquanto sistema cultural, compreende que o masculino é o sujeito da sexualidade, e o 
37 
 
feminino, seu objeto e nesse caso, o masculino é ritualizado como o lugar da ação, da decisão, 
da chefia da rede de relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento 
material. No mesmo sentido, e em consequência, para OLIVEIRA et al., (2016), o masculino 
é investido significativamente com a posição social (quase sempre naturalizada) de agente do 
poder e da violência, existindo, historicamente, uma relação direta entre a ótica vigente de 
masculinidade e o exercício do domínio das pessoas, das guerras e das conquistas. 
Dessa forma, a violência que ocorre nas relações afetivo-sexuais juvenis, em sua 
essência, é uma questão de gênero, de controle e de poder, onde o enfoque das estruturas 
patriarcais sancionou a dominação do homem e a subordinação das mulheres (VIANA & 
SOUSA, 2016, GOMES, 2016; OLIVEIRA & FONSECA, 2019). 
Segundo Freitas & Dias (2010), o namoro é entendido como uma etapa da vida em que 
os apaixonados se conhecem, de forma mútua, no intuito de alcançar uma maior consciência de 
si e do outro antes de um compromisso definitivo. Assim, a ideia do amor romântico relaciona-
se ao ideal de felicidade e apenas é feliz, quem consegue atingi-lo. No mesmo sentido, os papéis 
de gênero se encontram ligados à expectativa de eternidade da paixão (MINAYO, 2011). 
Muitas vezes, entretanto, essa paixão pode se transformar numa necessidade de posse 
sobre a outra pessoa e aí é que despontam os ciúmes, as desavenças intermináveis e, em casos 
extremos – mas não raros –, as agressões físicas e psicológicas. Diante disso, Souza (2018), 
traz que o relacionamento afetivo se torna abusivo, pois o sujeito perde sua liberdade e 
espontaneidade, por conta da imposição ou intimidação de um dos pares, como visto em alguns 
dos desenhos-estórias da presente pesquisa, quando uma moça precisou se distanciar do seu 
círculo de amigos, simplesmente devido ao seu namorado ser ciumento. 
Em um dos depoimentos, um jovem afirma que quem manda na relação é ele e que se a 
menina for dele, não será de mais ninguém. A atitude possessiva no namoro pode se manifestar 
por meio da imposição de mecanismos autoritários, do predomínio de uma única vontade, do 
desejo de posse do outro e de não deixar que o outro seja livre, autônomo. A partir de então, a 
relação se converte num campo de batalha declarado ou encoberto,

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