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1. INTRODUÇÃO A doença de Parkinson é uma das principais causas neurológicas de déficits motores ou até incapacidade física em indivíduos com mais de 60 anos, podendo afetar ambos os sexos e todas as raças. O fator hereditariedade foi citado, porém não foi comprovado. Sua evolução é progressiva e embora a freqüência da doença não seja exata, diversos autores concordaram que seria em torno de um em cada mil pacientes. O Parkinson ocorre em função de afecções no sistema extrapiramidal e gânglios da base. (MENESES et al, 2003). James Parkinson em 1817 descreveu em um ensaio da paralisia agitante as principais manifestações de uma síndrome caracterizada por: acinesia, rigidez muscular e tremor podendo alterar por completo as atividades de vida diária desses pacientes. Manifestações fonaudiológicas tais como: distúrbios da comunicação e deglutição podem aparecer de forma branda ou mais acentuada; podendo contribuir para a queda de qualidade de vida desses indivíduos. Quando suaves os sintomas dessa patologia podem ser confundidos com outras, dificultando o diagnóstico, logo ele poderá ser comparativo. Apesar da medicina ter evoluído muito, o tratamento do Parkinson ainda não é satisfatório, existem medicamentos que poderão minimizar os sintomas, mas, seus efeitos colaterais são bastante acentuados, logo as manifestações parkinsonianas, na maioria dos casos, persistem por toda a vida. Na doença de Parkinson, o principal problema é a dificuldade na deglutição dos alimentos por inabilidade na realização rápida e coordenada dos movimentos 2 envolvidos no ato de engolir. Além disso, é comum a diminuição da freqüência do reflexo de deglutição, que ocorre normalmente de modo automático. A disfagia costuma manifestar-se nas fases mais avançadas da doença, podendo ocorrer precocemente, onde, deve-se suspeitar de outras formas de Parkinsonismo. O fonoaudiólogo trabalha com as fases oral e faríngea através de manobras e exercícios facilitadores da deglutição com o objetivo de evitar as aspirações, desnutrição e o isolamento do indivíduo. De acordo com estas considerações, o presente estudo teve como objetivo, investigar exercícios e manobras reabilitadoras da disfagia orofaríngea na doença de Parkinson, através de levantamento bibliográfico. _________________________________ _____________________________________ 3 2. MÉTODO A coleta de dados da pesquisa foi realizado entre os meses de setembro e novembro de 2003. O tipo de pesquisa foi descritivo e bibliográfico. O método da pesquisa ocorreu com visitas a bibliotecas, análises de artigos, publicações literárias e material eletrônico. A coletânea de material bibliográfico foi selecionado de acordo com as especificidades do tema, e organizada em capítulos, que através de um análise transversal possibilitou uma documentação sobre a abordagem fonoterápica da disfagia orofaríngea na doença de Parkinson. 4 3. A HISTORIA DA DOENÇA DE PARKINSON James Parkinson, 1817 Segundo Meneses (2003), a doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez por James Parkinson, médico inglês, associado ao colégio real de Cirurgiões, nascido em 1755 e falecido em 1824. James Parkinson difundiu muitos trabalhos científicos, dentro da área médica e nas áreas de geologia, paleontologia e sociologia, além de ter sido considerado um reformador social para o seu tempo. Em 1817 Parkinson publicou, em Londres, um ensaio intitulado que, vem a ser a primeira descrição mundial bem definida da doença que hoje leva o seu nome. A enfermidade intitulada paralisia agitante foi definida como uma doença caracterizada pela presença de movimentos tremulantes involuntários, com diminuição da força muscular, tendência para inclinação do tronco para frente e festinação1, tendo os sentidos e o intelecto não afetados. Na evolução da doença também foi descrita a presença de tremores, de início principalmente em uma das mãos e posteriormente, mais difuso, existindo piora gradativa da marcha, quedas freqüentes, obstipação2 progressiva, disartria3, disfagia4, sialorréia5 constante e incontinência urinária. 1 Festinação - alteração da marcha. 2 Obstipação – prisão de ventre. 3 Disartria - dificuldade ou má articulação de palavra. 4 Disfagia - alteração da deglutição. 5 Sialorréia - Excesso de salivação. 5 Parkinson, na sua clássica descrição, ainda interroga a possibilidade de a medula espinhal cervical, na junção com a medula oblonga (bulbo), ser a possível causa da doença, secundariamente a traumatismos locais. Quanto ao tratamento, mostrou-se otimista, acreditando que no futuro, haverá alguma forma de tratamento. Apesar da publicação e da divulgação do ensaio sobre a paralisia agitante por Parkinson, a doença somente tornou-se bem conhecida pelos neurologistas na segunda metade do século XIX. Jean-Martin Charcot, 1877 A participação de Charcot em 1877 no estudo da paralisia agitante é de tamanha importância, que seria justo acrescentar seu nome à doença. Em primeiro lugar foi ele que sugeriu á mudança de nome da enfermidade, de paralisia agitante para doença de Parkinson, em homenagem à descrição Clássica de James Parkinson.__________________ Por outro lado, Charcot acrescentou inúmeras contribuições pessoais na descrição do quadro clínico, no diagnóstico diferencial e no Tratamento da doença. O autor definiu a presença do tremor como um sintoma cardinal, referindo-se do início unilateral, geralmente em um membro superior, observando-se durante o período de repouso e, posteriormente, tornando-se generalizado. Realizou estudos comparativos, diferenciando o tremor parkinsoniano dos tremores de outras etiologias, como o da esclerose múltipla (do tipo cerebelar). Outra característica do 6 tremor da doença de Parkinson, descrito por charcot, foi o acontecimento muito raro da cabeça. Ele definiu ainda a presença da alteração postural, com atitude peculiar do corpo e dos membros, com o olhar fixo, e as características de imobilidade bem como a tendência à propulsão e a retropulsão. Caracterizou a escrita privativa dos pacientes com doença de Parkinson de micrografia6. Outra característica de extrema importância da doença de Parkinson definida pelo mesmo e que não havia sido enfatizado por James Parkinson, é a presença da rigidez7 muscular do pescoço, tronco e das extremidades. A presença de fraqueza muscular foi contestada por Charcot, relacionando esse erro cometido por Parkinson à presença de rigidez muscular. Outro conceito discutido por esse autor foi o da bradicinesia8. Ele concluiu que a bradicinesia é independente da rigidez e da presença de tremores. Charcot discordou da descrição inicial de Parkinson quanto à preservação das funções corticais superiores na doença. Ele caracterizou a presença de perda de memória e disfunção cognitiva, fatos esses hoje bastantes conhecido, e, finalmente foi o primeiro a sugerir terapêutica para a doença de Parkinson. Meynert em 1871, sugeriu que a doença de Parkinson poderia ser o resultado de um funcionamento defeituoso dos gânglios da base e, pela primeira vez em 1912, Wilson descreveu o conceito de sistema extrapiramidal, o qual estaria envolvida no desenvolvimento da rigidez muscular. Uma importante contribuição ao entendimento da doença de Parkinson, foi trazida por Brissaud em 1895, ao relatar que a lesão do lócus niger poderia ser a base anatômica da enfermidade, foram descobertas as modificações anatômicas na 6 Micrografia - mudança da escrita manual, em que a escrita vai reduzindo de tamanho. 7 Rigidez – espasmos irregulares da musculatura. 8 Bradicinesia - Lentidão ou falta de movimento. 7 substância negra no cérebro dos parkinsonianos, já que a doença é causada pela morte dos neurônios nessa região, mas, foi com Wilson, que em 1929 descreveu a acinesia9, que o Parkinson passou a ser quase que completamente entendido. Vários anos se passaram até que, 1960, Ehringer e Hornykiewiez associaram a doença de Parkinson com a depleção da produção de dopamina10 nos circuitos motores subcorticais. ______________________________________________________________ ___ 9 Acinesia é a redução da quantidade de movimentos. 10Dopamina – substância química do cérebro, encarregada da comunicação entre uma célula nervosa e outra. 8 4. ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS NÚCLEOS DA BASE Os Núcleos da Base são massas densas de substância cinzenta constituídos principalmente por corpos de neurônios, células gliais e fibras nervosas amielínicas. Estão situados aproximadamente na parte média e internamente no cérebro, na região talâmica e na parte ventral do mesencéfalo. Os núcleos localizados no cérebro são derivados do telencéfalo e são divididos em: corpo estriado e complexo do corpo amigdalóide. O corpo estriado é formado pelos núcleos caudado e lentiforme. No cérebro existem ainda núcleos separados, ou seja, que não constituem grupos, que são o núcleo claustro, o núcleo basal de meynert e o núcleo accumbens. Na região do tálamo existem os núcleos talâmicos, o núcleo subtalâmico e a zona incerta, todos de origem diencefálicos. O mesencéfalo, que não se divide durante a embriogênese do encéfalo, aloja na sua parte ventral (tegmento), dois principais núcleos que são a substância negra e o núcleo rubro. Figura 01: Esquema dos Núcleos da Base (Figura copiada do site: http://www.parkinsonismo.hpg.ig.com.br/Frames/central.htm). 9 Núcleo Caudado: É uma extensa massa de substância cinzenta, situada entre a parede lateral dos ventrículos laterais e a cápsula interna. É divido no sentido ântero-posterior em três partes principais: cabeça, corpo e cauda. A cabeça é uma área bem dilatada e mantêm estreitas relações com as outras estruturas do corpo estriado. O corpo do núcleo caudado estende-se pôstero-lateralmente sobre o tálamo, do qual é separado pela estria terminal e pela veia terminal. A cauda do Núcleo caudado é fina e fortemente arqueada, terminado próximo à extremidade anterior do corno inferior (temporal) dos ventrículos laterais. Essa parte faz contatos com determinadas partes do corpo amigdalóide. Núcleo Lentiforme: Possui a forma de uma lente biconvexa, situada profundamente no interior dos hemisférios cerebrais, dispostos entre o núcleo claustro (lateralmente) e cápsula interna (medialmente). É dividido em putâmen e o globo pálido. O putâmen é parte mais lateral do corpo estriado. É um núcleo grande e escuro, situado lateralmente ao globo pálido, sendo separado destes por uma estreita faixa de substância branca denominada de lâmina medular lateral. O putâmen emite fibras de projeção tanto para a substância negra como para outras estruturas do corpo estriado e para o corpo amigdalóide. O globo pálido é a menor parte do núcleo lentiforme. Possui uma coloração mais clara que o putâmen e está localizado medialmente ao mesmo. É subdividido ainda, através de uma outra faixa de substância branca denominada de lâmina medular medial, em uma parte mais externa chamada de globo pálido lateral (GPe) ou Pálido I e uma parte mais interna chamada de globo pálido medial (GPi) ou Pálido II. Ambas as partes possuem conexões extensas com as outras partes do corpo estriado, com núcleos talâmicos e com a substância negra. 10 Substância Negra: É uma massa compacta de substância cinzenta localizada entre o tegmento mesencefálico e a parte anterior dos pedúnculos cerebrais. A substância negra é dividida em duas partes: a parte compacta (que possui neurônios ricos em dopamina) e a parte reticulada (onde o conteúdo de dopamina é pouco ou ausente). Sua principal conexão é com o corpo estriado, pelas vias nigro-estriatal e estriato- nigral. A via nigro-estriatal é uma via eferente e dopaminérgica, na qual os impulsos de dopamina produzidos pelos neurônios da substância negra vão para o corpo estriado, principalmente para o putâmen e para o núcleo caudado. Com a degeneração da substância negra, ocorre uma disfunção do fluxo de dopamina na via nigro-estriatal e conseqüentemente uma redução do conteúdo dessa substância no corpo estriado, provocando as alterações motoras presentes na doença de Parkinson. A via estriato-nigral é uma via aferente, que faz o sentido retrógrado, onde as fibras originadas no corpo estriado projetam-se para a parte reticulata da substância negra, e, portanto, não contêm dopamina. A substância negra faz conexões também com o núcleo accumbens, com o corpo amigalóide e com o córtex pré-frontal. 11 5. CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA DE PARKINSON Segundo Teive (2000), a doença de Parkinson é uma enfermidade neurodegenerativa com grande prevalência na população idosa. Embora facilmente reconhecível quando se mostra estabelecida, a doença de Parkinson leve ou incipiente pode ser difícil de distinguir, particularmente nos jovens, e pode passar despercebida por vários meses ou anos. É também conhecida como parkinsonismo. Leva esse nome por ter sido descoberta pelo médico inglês James Parkinson, em 1817. Dá-se pela morte prematura dos neurônios, principais células constituintes do sistema nervoso, localizado em uma região do cérebro conhecida como substância negra, em virtude de sua cor escura. Com a morte desses neurônios, o organismo deixa de produzir a dopamina, responsável por levar mensagens de uma célula para outra (neurotransmissores). Segundo Oxtoby e Williams (2000), a substância negra foi descrita como a caixa de mudanças do cérebro. Quando deixa de funcionar apropriadamente, leva a tremores, extrema rigidez dos músculos, lentidão e movimento desordenado. Esses, freqüentemente se mostram como dificuldades com o movimento de braços e pernas, e com menor freqüência, com problemas da fala. No entanto, não irá afetar a todas as pessoas que tenham a doença de Parkinson. Oxtoby e Williams ( op cit ), fizeram referência que em 1817, James Parkinson, publicou uma monografia denominada “Ensaio sobre a paralisia agitante” (An Essay on Shaking Palsy), onde descrevia pela primeira vez sobre a moléstia que hoje recebe o seu nome. Essa enfermidade denominada por Parkinson como 12 paralisia agitante, foi caracterizada pela presença de tremores, diminuição da força muscular, tendência à inclinação do tronco para frente e alteração da marcha. Além de ser uma das afecções mais freqüentes dos gânglios da base, a doença de Parkinson é uma das principais causas neurológicas de incapacidade física, em pessoas acima de 60 anos de idade. Não se conhece a freqüência exata desta doença, mais a sua prevalência tem sido calculada em 100 / 150 casos por 100.000 habitantes; a incidência anual está em torno de 20 casos por 100.000. Acomete ambos os sexos, diferentes raças e classes sociais. O Parkinson tem evolução progressiva, sempre acarretando em acentuados déficits motores. O tempo de evolução, atualmente, é pouco descrito, talvez isto ocorra em função da sutileza de seus primeiros sintomas e da procura tardia do médico. Esta evolução depende de outras patologias associadas ao Parkinsonismo tal como as alterações do próprio envelhecimento. Merrit (1986) defende que o ritmo da evolução depende do grau de dopamina no cérebro. Antes do tratamento com levodopa o índice de mortalidade e incapacidade física eram bem maiores e em um período bem menor. Segundo Merrit (op cit.), 25% dos pacientes iam ao óbito ou eram levados à incapacidade física nos primeiros anos da doença; 65% dos pacientes nos primeiros dez anos e 80% nos primeiros quinze anos. O Parkinson pós-encefálico fugia a regra, pois apresentava evolução mais lenta e sua capacidade funcional era mantida por longos períodos. Atualmente, a expectativa de vida é bem maior e sua qualidade de vida melhor, porém o tratamento ainda deixa a desejar, pois os efeitos das medicações diminuem depois de um longo período de uso. A incapacidade funcional do indivíduo é postergada, mas não é evitada. 13 O parkinsonismo pode ser classificado em ideopático, secundário, parkinsonismo plus e heredodegenerativo. Case (1995) admite que a forma primária relaciona-se a ideopática, corresponde cerca de 80% de todas as formas de parkinsonismo; a secundária está ligada às situações em que as causas específicas estão nos grupos de pós- encefalites, ruptura vascular, traumas e várias substâncias tóxicas; o parkinsonismo plus, ocorre o processo degenerativo, não se restringindo à substância negra, como também várias regiões do cérebro. A progressão costuma ser mais rápida, e as medicações não são tão eficazes como na doença de Parkinson. As formas mais conhecidas são: a paralisia supra-nuclear progressiva, atrofia de múltiplos sistemas e degeneração núcleo-córtico-basal; no caso do parkinsonismo heredodegenerativo, nessa enfermidade encaixam-se a doença dos corpos de Lewy autossômica dominante, a doença de Huntington, a doença de Wilsom etc. 14 6. QUADRO CLÍNICO Os quatro sinais cardinais da doença de Parkinson são: tremor de repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. O achado inicial mais comum é um tremor de repouso assimétrico, apesar de aproximadamente 20% dos pacientes sentirem primeiro a inépcia de uma das mãos (CALNE, 1986). Segundo Gilbray (1985), o tremor deve-se à inibição da atividade do neurônio motor gama. Essa inibição provoca a perda da sensibilidade do circuito gama que resulta em uma diminuição do controle fino do movimento motor. Essa falta de controle permite o aparecimento de movimentos involuntários gerados em outros níveis do sistema nervoso central. A rigidez muscular deve-se ao aumento do tônus nos antagonistas e agonistas parecendo haver uma falta de inibição da atividade do neurônio motor alfa nos antagonistas durante o movimento. A atividade aumentada do neurônio motor alfa nos protagonistas e antagonistas resulta em rigidez, que se faz presente na amplitude total do movimento no membro afetado. Esta é resultado do aumento do tônus muscular tanto durante o repouso como em ação. A bradicinesia significa a lentidão dos movimentos que pode chegar a aboli- los, pode acarretar numa dificuldade para iniciar um movimento. É o resultado final de um distúrbio na integração dos impulsos sensitivos ópticos, labirínticos, proprioceptivos e outros nos gânglios basais. Isso resulta em uma alteração na atividade reflexa que influencia os neurônios motores gama e alfa. Os distúrbios posturais característicos destes pacientes, no estágio avançado da doença, observam-se uma postura em flexão, com cabeça fletida sobre o tórax, 15 os ombros caídos para frente, às costas arqueadas para frente e os braços mantidos imóveis ao lado do corpo. Além disso, podem apresentar uma dificuldade para a correção dos desvios abruptos da posição do corpo, ou seja, observa-se uma incapacidade de alcançar o seu centro de gravidade isso pode ocasionar quedas freqüentes. Outras manifestações do parkinsonismo que apresentam características específicas são: a fala, a caligrafia, a marcha, a face, fraqueza, fadiga, e perturbações cognitivas. A face assume uma aparência "tipo máscara" e ausência de expressão, este aspecto facial típico é causado pela bradicinesia. Por outro lado, muitos pacientes com parkisonismo ideopático experimentam fraqueza e fadiga fácil depois que a doença se torna generalizada. Observa-se o aparecimento gradativo de uma caligrafia minúscula e agrupada, deve-se admitir que esse é o primeiro sintoma em alguns casos. Também, a marcha se apresenta lenta, com passos pequenos e o paciente movimenta-se em bloco sem os movimentos de balanceio dos braços. Estudo conduzido por Limonge (1997), concluiu que aproximadamente 40% dos pacientes apresentam depressão. Geralmente ocorre na forma de apatia, anorexia11, fadiga, alteração de sono. A ocorrência da depressão nem sempre se relaciona com a gravidade dos sintomas motores. A sintomatologia relacionada às alterações da comunicação oral e funções estomatognáticas pode ser compreendida de acordo com as seguintes dimensões: função respiratória, função fonatória, função do esfíncter velofaríngeo e articulação oral. 11 Anorexia - perda de apetite. 16 Darley, Aronson e Brown (1975), estudaram aspectos relacionados á dinâmica respiratória de indivíduos disártricos e referem: monointensidade, variações excessivas de intensidade, decréscimo de intensidade no decorrer da emissão, alteração da intensidade, esforço à inspiração e expiração e frases curtas. Deve-se ressaltar que tais dimensões podem não estar relacionada apenas à função respiratória, mas também a função fonatória ou velofaríngeo. Carrara (1998), afirma que na doença de Parkinson observa-se movimentação reduzida tanto na fase ativa quanto passiva do cicio respiratório, decorrente da rigidez muscular característica desta doença. Pode também causar redução do volume respiratório e ocorrer escape de ar transglótico, gerando desta forma uma alteração da coordenação pneumo-fono-articulatória. Os distúrbios fonatórios têm um papel de destaque no estabelecimento do diagnóstico diferencial entre as disartrofonias, bem como auxiliar no diagnóstico precoce de algumas doenças progressivas como o parkinsonismo. Segundo Casper (1996), durante a fala, deve haver um nível elevado de coordenação entre o sistema mecânico parede do tórax, abdômen, laringe, lábios, língua, dentes e mandíbula de modo que todos funcionem no momento correto e pela duração de tempo necessária para a produção de sons individuais. Grene (1989), às variações da duração e da velocidade da fala são freqüentemente notadas: dificuldade de iniciar movimento para falar por acinesia antecipatória, bloqueio interativos, pausas freqüentes e de duração prolongada dando a impressão de pseudogagueira. Leopold e Kagel (1997), relatam, que as alterações de sucção, mastigação e deglutição também são encontradas com freqüência. Alguns autores descrevem que muitos casos de pacientes com a doença de Parkinson apresentavam dificuldades 17 para sugar e agrupar o alimento sobre a língua antes do momento da deglutição, assim como dificuldades em formar o bolo alimentar, decorrentes das alterações da mobilidade lingual. O escape de saliva é freqüente nos casos onde existe incompetência labial, transtornos de mobilidade lingual e redução da sensibilidade oral. Além disso, podem ocorrer alterações ao nível do esfíncter velo-faríngeo, com incompetência do véu que ocasiona dificuldades no ato da deglutição, além de paralisias uni ou bilateral das paredes da faringe. Estas dificuldades unidas à redução do movimento posterior da base da língua podem provocar aspirações, assim como a disfunção cricofaríngeo. Pronunciar a palavra, “deglutir”, parece ocorrer de forma simples; mas, ao contrário do que se pensa, é resultante de um complexo mecanismo neuromotor, onde muitos músculos faciais e nervos encefálicos estão envolvidos. O tratamento de reabilitação engloba desde exercícios para estimular a sensibilidade intra-oral, exercícios de mobilidade, tônus e coordenação da língua e véu palatino, movimentos de sucção, estimulação do reflexo de deglutição, em conjunto com manobras posturais e estratégias facilitadoras do processo de deglutição. Pacientes no início dos sintomas da doença de Parkinson geralmente percebem dificuldades em movimentos de coordenação motora fina. As atividades da vida diária podem torna-se mais difíceis de serem realizadas. Pode haver também dificuldades em se abotoar uma simples camisa, pentear o cabelo, ou praticar um esporte. 18 Na evolução da doença, poderá ocorrer, salivação excessiva e dificuldade na deglutição dos alimentos, os pacientes podem reclamar de alteração no gosto dos alimentos provocado pela anosmia12. Alguns pacientes se queixam de dor nos membros afetados, levando a um diagnóstico errôneo de artrite ou bursite. Em geral, esta dor envolve um grande grupo muscular de um dos lados do corpo, freqüentemente a panturrilha. Com o passar do tempo, podem surgir insônia, depressão ou demência. Os sintomas de disfunção autonômica incluem anormalidades da sudorese, dermatite e disfunção sexual. 12 Anosmia - falta do olfato. 19 7. ETIOLOGIA A causa da doença de Parkinson não é conhecida, várias teorias têm sido discutidas. A natureza exata deste processo ainda não é, bem compreendida, mas parece haver desenvolvimento ativo de toxidade neuronal relacionado a mecanismo de estresse oxidativo por um ou mais eventos diferentes, conforme (LIMONGE, 1997). De maneira geral, define-se com clareza a existência de uma perda neuronal progressiva no grupo de células ventro-laterais da parte compacta da substância negra do mesencéfalo. Na literatura acredita-se que, em média, deva haver acima de 60% de perda neuronal para que surjam os chamados sinais cardinais da doença. A resultante deficiência de dopamina, causando disfunção da via nigroestriatal, seria a responsável pela fisiopatologia da enfermidade (GIBB et al, 1994). A disfunção do sistema nigroestriatal, com diminuição da concentração de dopamina ao nível dos receptores dopaminergicos nos gânglios da base, no corpo estriado, seriam um mecanismo responsável pelo aparecimento da síndrome rígido- acinética, geralmente associada a presença de tremor e de instabilidade postural. Do ponto de vista de disfunção do circuito dos gânglios da base, observa-se perda de ação inibitória do segmento lateral do globo pálido sobre o núcleo subtalamico, bem como existe uma ação hiperexitatoria do núcleo subtalamico sobre o segmento medial do globo pálido, cujo resultado final será uma menor ação excitatória do tálamo sobre o córtex motor determinando, dessa forma, a síndrome rígido-acinetica (MIZUNO, et al 1997). 20 Na atualidade, com a atualização dos exames de neuroimagem, conhecidos como PET scan, pode-se observar com clareza a presença de deficiência dopaminergica, a nível estriacal, nos pacientes com DP (OLANAW, et al, 1998). O marcador neuropatológico da doença de Parkinson é a presença dos chamados corpos de Lewy, que são corpos de inclusão citoplasmática, eonosifílicos, existentes na substancia negra do mesencéfalo (OLANAW, et al, 1998). Os corpos de Lewy tem como maiores componentes a presença de filamentos que consistem em uma proteína conhecida como α – sinucleína. A descoberta dessa proteína ocorreu quando se identificaram formas raras de doenças de Parkinson com herança autossômica dominante, com o gene chamado Park ou Parkin I, localizado no cromossomo IV. A mutação encontrada dentro do gene da α – sinucleína ficou conhecida como G209A. posteriormente, definiu-se que, mesmo em casos de DP, esporádicos, a α–sinucleína representa um importante marcador do processo degenerativo, e, desde então, passou-se a definir a doença, bem como outras entidades, como a demência com corpos de Lewy, atrofia de múltiplos sistemas e mesmo forma de Alzheimer, como sinucleinopatias (Lucking, et al, 2000). Define-se, então, que o processo neurodegenerativo da doença de Parkinson envolve a agregação patológica de proteínas ao nível da parte compacta da substancia negra do mesencéfalo, nos corpos de Lewy, ( LUCKING, et al, 2000). Na atualidade, outras proteínas tem sido descritas como co-adjuvantes nesse processo de agregação patológica tais como a sinfilina-1 e a sinoretina (SURGUCHOV, et al, 1999). Para esses autores, inúmeros fatores tem sido relacionados ao processo etiopatogênicos da DP, e, de forma sucinta pode-se definir como mais importantes os seguintes: 21 O papel das neurotoxinas ambientais O papel do stress oxidativos e dos radicais livres O papel do ferro As anormalidades mitocôndrias O papel da excitotoxidade, óxido nítrico e cálcio O papel dos fatores neurotróficos O envelhecimento cerebral Os fatores genéticos Outros mecanismos De uma forma geral, as diferentes hipóteses etiopatogenicas da doença de Parkinson tem oscilado entre duas correntes principais: os fatores tóxicos ambientais e os fatores genéticos. 22 8. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da doença de Parkinson é essencialmente clínico, baseado nos dados coletados durante a anamnese e no exame físico. Diferenciar a doença de Parkinson das outras enfermidades ou situações que produzem a síndrome parkinsoniana nem sempre é fácil. Muitas vezes, é preciso observar o paciente por um longo tempo para se ter convicção do diagnóstico. Até o presente momento, não existe um exame laboratorial ou de imagens cerebrais que possa ser utilizado de forma rotineira capaz de confirmar o diagnóstico da doença. Para o diagnóstico, não é necessário que todos os principais sinais e sintomas estejam presentes, nem mesmo o tremor, manifestação que ocorre com maior freqüência. É importante atentar para um aspecto singular e de importância crucial na avaliação de doença de Parkinson incipiente: a assimetria das anormalidades semiológicas. Tremor, rigidez ou bradicinesia manifestam-se inicialmente em um hemicorpo, tendendo a evoluir simetricamente com o passar dos anos. No parkinsonismo induzido por drogas, não importa qual, as alterações neurológicas sempre debutarão bilateralmente. Um outro critério importante, útil para se diferenciar a genuína doença de Parkinson idiopática de outras formas de Parkinsonismo, é a resposta a levodopa. Salvo raras exceções, os indivíduos com a enfermidade responderão favoravelmente ao medicamento. Está peculiaridade é tão relevante, que a ausência de resposta a levodopa quando bem indicada e tolerada, é indicativo da possibilidade de parkinsonismo plus (AHLSKOG, J.E., 2000). 23 O mesmo autor salienta que esta melhora do quadro clínico, pode não ser verificada nas fases iniciais de doença de Parkinson, quando geralmente se observa apenas leve tremor unilateral. É importante, observar se o paciente apresenta depressão, parece ser uma intercorrência comum entre eles, mesmo antes do diagnóstico da doença ter sido estabelecido. O que explicaria, é que, a dopamina como já foi citado no decorrer do trabalho, que é um neurotransmissor é também considerado um dos neuro- hormônios imprescindíveis para a modulação do humor. Um outro sintoma menor extremamente freqüente entre pessoas com a doença de Parkinson é a artralgia13. Embora, esse acometimento apareça na maioria das pessoas idosas, que não tem a doença de Parkinson. É um dado importante na soma com as outras peculiaridades. Segundo Stacy (1992), um dos sinais mais notáveis no início da doença de Parkinson, são os braços que não balançam ao deambular14, como esta doença inicia assimetricamente, acometendo um dos membros superiores; por esta razão, por um tempo muitas vezes prolongado, alguns anos em muitos pacientes, a primeira e única manifestação será a perda ou a diminuição da movimentação do membro superior afetado. Resultando em uma marcha típica, com membro ainda poupado movimentando-se de forma sincinética com o membro inferior oposto durante a deambulação, enquanto o contralateral fica imóvel ou com amplitude significativamente diminuída. Com o passar dos anos, sobrevêm dificuldades no membro inferior ipsilateral e acometimento dos membros contralaterais também. 13 Artralgia – dor localizada em uma articulação. 14 Deambular – ato de caminhar. 24 9. TRATAMENTO O Parkinson é uma das poucas condições neurológicas para as quais estão disponíveis tratamentos específicos com drogas, embora elas não curem a condição ou detenha seu progredir, elas podem fazer uma imensa diferença nos sintomas e melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes. De qualquer forma, acha-se que as drogas funcionam melhor do que as operações, embora elas sejam eficazes contra o tremor. A resposta ao tratamento médico é variável, porém a terapia freqüentemente traz certo alívio sintomático. Dentre as drogas, estão destacadas algumas de maior utilização: Biperideno: é indicado para o tratamento de parkinsonismo em todas as suas formas (pós-encefalítico, arteriosclerótico ou idopático) e tratamento das reações extrapiramidais induzidas por fármacos promovendo a modulação da ação colinérgica, normalizando os impulsos neuroquímicos de Acetilcolina no sistema Nervoso. Suas propriedades de ação específica são desconhecidas, porém, calcula- se que bloqueia os receptores colinérgicos centrais (do corpo estriado) de forma parcial, contribuindo assim para o equilíbrio entre atividade colinérgica e dopaminérgica nos gânglios basais. Não melhora a discinesia tardia e pode até mesmo agravá-la por seus efeitos antimuscarínicos. Pode ser administrado por via oral como cloridrato de biperideno e por via parenteral como lactato de biperideno. Tem boa absorção gastrintestinal. 25 Selegilina: é Importante para a manutenção dos neurônios e promoção da sobrevida dos mesmos, tornando-os mais fortes e resistentes contra a Doença de Parkinson. Sendo indicado para o mal de Parkinson, como coadjuvante de levodopa/carbidopa, em pacientes que apresentem falha no tratamento com levodopa/carbidopa. Tem sido utilizada de forma isolada ou como coadjuvante no tratamento da demência do tipo Alzheimer e na depressão endógena. Suas propriedades antiparkinsoniano que parece agir inibindo de forma irreversível a enzima monoamino oxidase B, acarretando a degradação da dopamina no cérebro. A selegilina pode aumentar a transmissão dopaminérgica através de outros mecanismos como o de impedir a recaptura da dopamina ao nível da sinapse. Nas doses preconizadas inibe seletivamente a enzima MAO B; porém em doses maiores, a MAO A pode também ser inibida. A não ocorrência de crises hipertensivas na vigência de doses terapêuticas da selegilina associada a alimentos que contêm tiramina (queijo, vinho, licores, peixes, leveduras, etc.) pode ser explicada pela presença da enzima MAO A também ao nível do intestino; dessa forma a tiramina ingerida seria normalmente metabolizada sob ação dessa enzima. Seu efeito benéfico no tratamento do mal de Parkinson ocorre, sobretudo, como coadjuvante a outros fármacos como a levodopa e a carbidopa. Levodopa; é indicado nos casos de Parkinsonismo idiopático, pós-encefalítico, sintomático ou associado com arteriosclerose cerebral. A Levodopa é precursora da dopamina, a ela atua na normalização dos níveis de dopamina, que decaem em função da debilidade da substância negra. Ao que parece, o pequeno percentual de cada dose que atravessa a barreira hematoencefálica se descarboxila em dopamina, que por sua vez estimula os receptores dopaminérgicos nos gânglios basais e 26 melhora, assim, o equilíbrio entre a atividade colinérgica e a dopaminérgica, com melhoria da modulação dos impulsos nervosos transmitidos ao córtex motor. É absorvida rapidamente no intestino delgado mediante um sistema de transporte ativo de aminoácidos; na circulação geral, chega de 30 a 50%. Distribui-se na maioria dos tecidos corporais, porém não no SNC, que recebe menos de 1% da dose devido ao metabolismo intenso da periferia. A enzima descarboxilase de aminoácidos L- aromáticos converte 95% em dopamina no estômago, intestinos e fígado, por metabolismo de primeiro passo. Sua meia-vida é de 1 a 3 horas. É eliminada por via renal; 80% da dose são eliminados em 24 horas como metabólitos da dopamina, principalmente ácido diidroxifenilacético (DOPAC) e ácido homovanílico (HVA). Entacapona: coadjuvante no tratamento com Levodopa, o Entacapone inibe a enzima Catecol-Metiltransferase que se liga ao Entacapone diminuindo seus sítio de ação e provocando queda nos níveis de Dopamina. Esta ligação entre Entacapone e a enzima, para inibição da mesma, otimiza o tratamento da Levodopa. As primeiras tentativas de se tratar à doença de Parkinson mediante cirurgia foram realizadas já na década de 1940, mas com sucesso bastante limitado. Nos anos 50, na Suécia, foram feitas as primeiras tentativas de palidotomia e, na década de 1960, a talamotomia chegou a ser um procedimento largamente utilizado. Na década de 1970, como conseqüência do surgimento da levodopa, as indicações cirúrgicas praticamente desapareceram. Na década de 1990, alguns desses procedimentos foram revistos e voltaram a ser considerado como opção terapêutica em determinados casos. O tratamento cirúrgico da DP pode ser dividido em três categorias maiores: (i) técnicas lesionais e (ii) estimulação cerebral. 27 Técnicas lesionais 1. A talamotomia é uma técnica indicada no tremor. Pode proporcionar uma redução de 80% da intensidade do tremor, em especial se este for predominante em um dimídio, (JANKOVIC, 1995). Esta é uma vantagem do ponto de vista clínico, por reduzir ou abolir a necessidade de uso de drogas. 2. A palidotomia estereotática do globo pálido interno é o procedimento cirúrgico de escolha no tratamento de discinesias induzidas por levodopa, promovendo uma notável melhora deste sintoma (LAITINEN, 1992). A lesão bilateral deve ser executada preferencialmente em uma única sessão. Também é o procedimento mais adequado no tratamento de bradicinesia refratária à medicação (LAITINEN, op cit ). O benefício na redução do tremor é bem mais discreto. Ainda assim, na Suécia, a palidotomia substituiu a talamotomia como método cirúrgico de escolha, mesmo para pacientes com predomínio de tremores. Esta técnica cirúrgica apresenta morbidade menor que a talamotomia e mortalidade nula (JANKOVIC, 1995). No entanto, há relatos de complicações como disfunção cognitiva, disfagia, disartria, abscesso intracraniano e hemorragia subcortical. Os locais acidentalmente lesados são a cápsula interna e a radiação óptica Ainda não estão definitivamente determinados o alvo preciso da palidotomia, quais seriam os candidatos ideais a este procedimento e o mecanismo responsável pelo benefício. 28 Estimulação cerebral profunda (ECP) Há uma grande semelhança nos efeitos clínicos obtidos com lesão cirúrgica e estímulo cerebral profundo. Tal fato sugere que a estimulação elétrica crônica atue de forma a romper ou inibir a atividade neuronal. Além de ser um método aparentemente seguro, a estimulação cerebral profunda possui a vantagem de poder ser regulada ou mesmo suspensa, ao contrário das técnicas lesionais. Da mesma forma, não impede que o paciente possa futuramente obter proveito de novas abordagens (JANKOVIC, 1995). O eletrodo, sustentado por uma bateria subcutânea que dura de 3 a 5 anos, pode ser implantado no núcleo subtalâmico ou no globo pálido interno. Há certa evidência de que a estimulação do núcleo subtalâmico produza melhores resultados. Ao atenuar as discinesias, a estimulação subtalâmica permite o aumento da dose de levodopa e melhorar os sintomas parkinsonianos. Independentemente da ação da levodopa, melhora da bradicinesia e do tremor pode ser observada. As complicações encontradas são disartria e alterações do equilíbrio. O alto custo desta forma de tratamento é um de seus principais fatores limitantes. Além disso, a estimulação cerebral profunda é um método recente e seus benefícios e riscos concretos ainda não foram satisfatoriamente analisados. A fisioterapia compreende massagem, estiramento dos músculos e exercício ativo, quando possível. O paciente deve ser ensinado a exercita-se diariamente em relação aos músculos mais severamente afetados, especialmente aqueles das mãos, dedos, punhos, cotovelos, joelhos e pescoço (MATTHEWS, 1975). 29 10. DEGLUTIÇÃO NORMAL Um bom sabor e odor são, naturalmente, importantes para motivar as pessoas a comerem. As refeições humanas são habitualmente organizadas para induzir a ingestão, seguindo uma ordem, onde aparecem sabores, consistência e aparências. Furkim (1997), coloca que a alimentação para o ser humano não contém apenas o aspecto de manutenção do aporte calórico necessário para a sobrevivência, mas é também uma fonte de prazer. A deglutição ocorre como um processo fisiológico ordenado, que transporta material deglutido e saliva da boca ao estômago. O mecanismo sensorial que desencadeia a deglutição ainda não é precisamente conhecido, mas, sim, baseado em evidências experimentais. Deglutir é uma seqüência motora extremamente complexa que envolve a coordenação de um grande número de músculos da boca, faringe, laringe e esôfago. Para deglutirmos de forma segura, precisamos de uma coordenação neuromuscular, que envolve sensibilidade, paladar, propriocepção, mobilidade, tônus e tensão muscular, além da intenção de se alimentar. Por dia, um indivíduo normal deglute aproximadamente de 900 a 1.100 vezes, sendo a deglutição efetuada pela união de ações mecânicas e sensoriais, promotoras diretas de um jogo pressórico, realizado através da movimentação segmentada e conjunta dos órgãos do trato aerodigestivo, tendo como conseqüência o direcionamento e encaminhamento do bolo da cavidade oral até o estômago, visando a manutenção da integridade imunológica, através da hidratação e nutrição (BORBA, 1998). 30 É interessante observar que embora exista constância em alguns conceitos, os autores acrescentam e ponderam diferentes aspectos em sua definição de deglutição. O fato de existirem perspectivas variadas nas definições pode ser atribuída ao universo de cada autor, ou seja, seu referencial teórico ou prático. Distintas formações profissionais e práticas diferenciadas podem permitir olhares diferentes sobre o mesmo objeto de estudo. No entanto, vale salientar que tal característica diferencial entre autores não deve priorizar ou excluir um aspecto do outro, devendo sim, serem completamentares e objeto de reflexão. Segundo Macedo (1998), o ato de deglutir, aparentemente tão simples na sua concepção, é um complexo mecanismo neuromotor, cuja absoluta coordenação em cada fase e entre elas resultará no efetivo transporte do alimento da boca até o estômago. A deglutição é uma ação motora automática, na qual estão envolvidos músculos da respiração e do trato gastrointestinal. O objetivo da deglutição é o transporte do bolo alimentar e também a limpeza do trato respiratório ( MARCHESAN ,1998 p.51-58). Para Douglas (1996), a deglutição é “o ato de engolir” ou “engolição”, isto é, o transporte do bolo alimentar ou de líquidos da cavidade oral até o estômago. Consiste de atividades neuromuscular muito complexa, que às vezes é iniciada conscientemente e que se completa mediante a integração, no sistema nervoso central, de impulsos aferentes e eferentes, organizados no centro da deglutição e em circuitos intramurais esofágicos, nas porções, mais baixa do esôfago. Ainda para o autor, a deglutição tem como função fundamental à propulsão do alimento da boca para o estômago, mas pode servir como mecanismo protetor para os tratos respiratório e digestivo. O conceito de deglutição está baseado na ação sinérgica neuromuscular da propulsão do alimento. 31 Para Logemann (1995), a deglutição consiste em uma série de comportamentos fisiológicos, os quais resultam em deslocamento de alimento líquido ou não, da boca para o estômago de forma segura e eficiente. Miller (1994), define a deglutição normal como uma série complexa de eventos neuromusculares coordenados, controlados pelo sistema nervoso, designados a direcionar o bolo alimentar da boca para o estômago sem riscos. Para Tuchman & Walter (1994), a deglutição caracteriza-se por uma série complexa de eventos que ocorrem na parte proximal do trato digestivo com a função de direcionar substâncias da cavidade oral para o estômago. Arverdson & Broodsky (1993), definem a deglutição como um ato de engolir, sendo este somente um dos processos do contexto de alimentação. A alimentação é o processo que inclui capturar e preparar o alimento para ingerir, sugando ou mastigando e engolindo. Wolf & Glass (1992), dizem que a deglutição é uma seqüência motora extremamente complexa que envolve a coordenação de um grande número de músculos da boca, faringe, laringe e esôfago. A deglutição é o mecanismo pelo qual o alimento é transportado pelo trato alimentar, garantindo a sobrevivência. Hrycyshyn & Basmajian (1972), falam que a deglutição é o ato pelo qual um bolo fluido ou sólido é passado da boca ao estômago em três fases: oral, faringiana e esofagiana. A deglutição consiste em uma série complexa de reflexos que, embora possam ser iniciados voluntariamente, uma vez iniciados continuam independentemente da vontade (Lanley & Cherrasquin, 1958 p.490-493). É importante conhecermos a anatomia funcional da deglutição normal para situarmos a ou as perturbações que possam ocorrer. 32 Segundo Françoise e Desharmais (1993), algumas estruturas do tubo digestivo são alojadas na cabeça e no pescoço: cavidade oral, faringe e parte superior do esôfago, juntamente com a laringe, têm uma participação importante na deglutição. As estruturas na cavidade oral compreendem anteriormente os lábios, os dentes, palato duro, palato mole, úvula, mandíbula, soalho da boca, língua e pilares. Os lábios apresentam-se em número de dois, superior e inferior, recobrindo a parte anterior da cavidade oral. Elas são animadas pelo músculo orbicular dos lábios, cuja tonicidade mantém a boca fechada quando em repouso. Permite também a apreensão dos alimentos na fase inicial da deglutição, assim como os dentes e as bochechas, que possuem, também, papéis de destaque na mastigação. A língua é um órgão sensorial e elemento essencial na mastigarão fonação e deglutição. Composta de fibras musculares orientadas em três diferentes direções, o que a torna uma estrutura móvel, é capaz de realizar diversos movimentos, os quais incluem mudanças de forma e posição. A língua funciona misturando a saliva com o bolo alimentar e mantendo, juntamente com as bochechas, o referido alimento pressionado entre os dentes, possibilitando a mastigação, é um dos elementos que impulsionam o alimento durante a deglutição. A faringe é a porção do trato digestivo que serve como via de passagem tanto para o sistema digestivo como para o respiratório. Ela permite ao indivíduo respirar através de sua boca, mesmo que as passagens aéreas estejam obstruídas. O esôfago é um conduto músculo membranoso que une a faringe e o estômago, mais precisamente entre o esfíncter esofagiano superior, ou músculo cricofaríngeo, e o esfíncter mesofageano inferior. Na sua parte superior ele está 33 situado na frente da coluna cervical e atrás da traquéia. Em repouso, os dois esfíncteres constituem zonas de alta pressão. O ar não penetra nas vias digestivas no decorrer da respiração, a boca esofagiana estando fechada, em repouso. Esta oclusão resulta da ação do músculo cricofaríngeo, cujas fibras circulares agem sobre a parte terminal do funil faringeano e sobre a parte inicial do esôfago, o qual está normalmente bem relaxado. A laringe faz parte das vias respiratórias, mas sua atividade é vital na deglutição. Ela se encontra na parte mediana anterior do pescoço, acima da traquéia, que a prolonga. É móvel, passivamente no sentido transversal, ativamente no sentido vertical e se eleva a cada deglutição, puxada pela faringe. É constituída de uma espécie de caixa cartilaginosa, atapetada de uma mucosa. No interior desta caixa existem ligamentos, membranas e músculos, cujas pregas vocais são situadas no plano horizontal. Entre as onze cartilagens que compõem a laringe, a mais conhecida é a tireóide. Na parte Antero-posterior da laringe se encontra a epiglote que quando em repouso toma uma posição vertical, mas, durante a deglutição, ela se rebaixa para cobrir as vias respiratórias. Simultaneamente as pregas vocais se colocam em posição de fechamento e completam assim o mecanismo de proteção.Qualquer partícula alimentar, quando entra em contato com a mucosa laringeana, provoca e faz desencadear uma tosse reflexa. A tosse se define como uma respiração brusca e sonora, precedida ou não de uma inspiração profunda, enquanto que a glote (espaço compreendido entre as bordas livres das pregas vocais) fica mais ou menos fechada. 34 Figura 02: Vista Lateral dos músculos da deglutição (Figura copiada de NETTO, C.R.S., 2003). A deglutição é controlada por um conjunto interconectado de neurônios contidos no núcleo do fascículo solitário e na substância reticular do bulbo. Esse conjunto de neurônios tem sido funcionalmente denominado “centro da deglutição”. A informação aferente chega ao centro por vias dos nervos trigêmio, glossofaríngeo e vago, assim como centros nervosos superiores. A informação aferente chega a vários conjuntos neurais. Dodds (1989), o controle neurológico da deglutição envolve quatro grandes componentes: Fibras sensoriais aferentes contidas nos nervos cranianos; 35 Fibras cerebrais, do mesencéfalo e cerebelares que fazem sinapse com os centros da deglutição no tronco encefálico; Os nervos cranianos envolvidos na deglutição situados no tronco encefálico; Fibras motoras eferentes contidas nos nervos cranianos. Figura 03: A – Elementos do sistema central; encéfalo e tronco encefálico ou cerebral; e B – Tronco encefálico: 1-Bulbo; 2- Ponte; e 3- Mesencéfalo. (Figura copiada de NETTO, C.R.S., 2003). Os influxos que desencadeiam os mecanismos da deglutição viajem ao longo das fibras motrizes e sensitivas de cinco pares cranianos. Segundo Logemamn (1983), os cinco pares cranianos importantes na deglutição são V (trigêmeo), VII (facial), IX (glossofaríngeo), X (vago) e XII (hipoglosso). 36 A inervação motriz dos lábios é assegurada pelo VII par e a parte sensitiva pelo IX par. Os nervos motores da língua são o V par e o XII , enquanto a parte sensitiva os responsáveis são o VII e o IX As bochechas são inervadas pelo VII (parte motora). O X (vago) é responsável pela parte motora do palato e o IX pela sensibilidade. A mandíbula é controlada pelo V (trigêmeo) e a laringe é assegurada pelo X (vago). Figura 04: Tronco encefálico ou cerebral (Vista Ventral) e os nervos cranianos. (Figura copiada de NETTO, C.R.S., 2003). 37 Figura 05: Tronco encefálico apresentando as vias aferentes (A) e a projeção ao nível do tálamo e córtex cerebral.(Figura copiada de NETTO, C.R.S., 2003). Ferraz (1997) e Françoise (1993) distinguem três momentos da deglutição que são integradas e coordenadas. A fase ora, é a etapa prévia à deglutição propriamente dita. O bolo alimentar é ajuntado sobre o dorso da língua, a boca se fecha, a ponta da língua levanta e torna apoio atrás dos incisivos superiores. A língua se reúne em seguida à parte anterior e posterior do palato duro, o palato mole se eleva, a base da língua oscila embaixo e atrás. Ao mesmo tempo, os pilares posteriores da faringe param e o bolo alimentar, é empurrado para trás e para baixo pela língua, liberando o istmo da garganta. 38 Simultaneamente, a parede posterior da faringe se eleva, até encontrar o véu do palato que se tomou horizontal. As fossas nasais ficam assim protegidas contra a penetração de partículas alimentares. A fase oral pode ser desencadeada de modo voluntário e consciente. No decorrer da segunda fase denominada fase faringeana a via aérea se fecha e a via digestiva se abre para a passagem do bolo alimentar, os dois pilares posteriores se aproximam e apertam a úvula que fica rígida. A nasofaringe fica então totalmente isolada e a oclusão velo-faringeana se completa. De outra parte, o osso hióide levanta, seguido da faringe. Nesse movimento de elevação, a laringe é fortemente puxada contra a base da língua e, neste fato, a entrada da laringe se fecha. Além disso, a glote se rebaixa para trás, acima do orifício laringeano. O fechamento da glote, pela ação das pregas vocais, completa o mecanismo de Proteção contra as falsas entradas que pode eventualmente causar uma pneumonia por aspiração ou mesmo a morte por asfixia. Este seguimento extremamente rápido de movimentos impede o bolo alimentar de pedir emprestado as três outras vias possíveis (cavidade oral, nasofaringe e laringe) e se dirige para o esôfago. A faringe é encurtada e fica mais larga pela elevação da laringe, assim a abertura do esôfago sobe ao encontro do bolo alimentar que é apanhado neste nível, ajudado por uma contração breve do diafragma criando uma aspiração torácica, a progressão do bolo alimentar é em seguida facilitada pela contração sucessiva dos músculos constritores da faringe. Na extremidade superior do esôfago, o esfíncter esofagiano superior se relaciona assim que o bolo alimentar entra em contato com a parede posterior da faringe e se contrai novamente após 39 sua passagem. A respiração fica suspensa durante esta fase consciente, se bem que reflexa e involuntária. Durante a terceira fase denominada esofagiana o bolo alimentar passa em seguida, do esôfago ao estômago. Movimentos peristálticos que são movimentos musculares involuntários comandados pelo sistema nervoso autônomo permitem aos alimentos avançarem no tubo digestivo. Esta ação é, sobretudo importante na deglutição de sólidos, ou ainda de líquidos absorvidos contra a gravidade. Distinguem-se as ondas peristálticas primária, colocadas em movimento pelo mecanismo de deglutição propriamente dito, da onda peristáltica secundária, produzida pela distenção do esôfago, pelo bolo alimentar. A onda peristáltica, iniciante ao nível da laringe, empurra os alimentos para frente, atinge o esôfago e termina após seis ou sete segundos, na junção esôfago- estômago. Devem-se a ela influxos nervosos que se deslocam ao longo terminações de fibras nervosas vegetativas nas paredes das vísceras. O esfíncter eso-faringeano se relaxa, o que permite aos alimentos descerem ao estômago. Normalmente, o esfíncter continua aberto até que o bolo alimentar tenha passado totalmente, se contraindo novamente em sincronia com a onda peristáltica que se segue. A passagem dos alimentos da faringe ao estômago dura de cinco a dez segundos. Os líquidos atingem a entrada do estômago em um ou dois segundos. No decorrer dessa fase, a cartilagem tireóide desce, enquanto que o osso hióide, a epiglote, a língua e o véu do palato retomam suas posições iniciais. Essa etapa é involuntária, não consciente e reflexa. Não é necessário estimar o aspecto sensitivo da deglutição. Nas pessoas normais, o bolo alimentar estimula os receptores táteis situados na base da língua, 40 sobre as tonsilas palatinas, os pilares anteriores e posteriores da faringe, o palato e a parede posterior da faringe. Segundo Dodds (1988), com a existência das quatro fases da deglutição, acrescenta que a primeira fase tem a duração de alguns segundos; a segunda fase dura um segundo; a terceira fase 7 a 12 segundos e a última fase ocorre de 6 a 10 segundos. Leopoldo e Kagel (1983), propuseram uma mudança neste paradigma das fases da deglutição, sugerindo que uma quinta fase, a pré-oral, também chamada de antecipatória, devesse ser considerada. Referiram vários fatores que podem influenciar esta fase antecipatória, tais como: fome, grau de saciedade, aspecto dos alimentos, ambiente alimentar, estado emocional, influências sociais, utilização de utensílios, coordenação mão e boca, posturas cervicais, entre outros. Propuseram, assim, que a própria deglutição seja conceituada como ingestão. Logemamn (1983) e Dodds (1988), referem-se a quatro fases da deglutição e não três fases como abordam Ferraz e Françoise. A primeira fase como a fase oral preparatória, quando o alimento é manipulado na boca e mastigado se necessário; a segunda, fase oral ou voluntária da deglutição, quando a língua impulsiona o alimento para trás até que o reflexo da deglutição seja disparado; a terceira fase sendo denominada faríngea, quando a deglutição reflexa carrega o bolo através da faringe; e a última fase sendo esofágica, quando a peristáltica esofágica carrega o bolo através do esôfago cervical e torácico até o estômago. Segundo Françoise e Desharmais (1993), as funções associadas à deglutição seriam a respiração, mastigação e salivação. 41 A deglutição e respiração são coordenadas a fim de protegerem as vias respiratórias. A deglutição é precedida de uma curta inspiração e a apnéia persiste durante todo o tempo faringeano. O mecanismo da mastigação, ainda que não seja indispensável, represente um papel importante na deglutição, é um reflexo desencadeado, pelo contato dos alimentos com a gengiva, os dentes e o palato duro. Os movimentos de mastigação, realizados pela mandíbula, permitem aos dentes de rasgar e de triturarem os alimentos, lubrificando-os com a saliva para que formem o bolo alimentar coeso. A mastigação estimula a salivação, sem a qual se torna muito difícil mastigar. O contato prolongado dos alimentos com a mucosa bucal, que acontece quando se mastiga o suficiente, prepara a digestão provocando a secreção de suco gástrico no estômago. As sensações de pressão, tato, paladar, de textura, de temperatura são transmitidas da boca aos núcleos bulbares pelas fibras correspondentes. Tais informações estimulam por sua vez as glândulas salivares. Compreende-se, pois que a apresentação visual, o odor, o tempero agem igualmente sobre a salivação e facilitam a mastigação. 42 11. DISFAGIA Conhecendo o mecanismo normal da deglutição, toma-se mais fácil conhecermos os distúrbios de deglutição no adulto. De acordo com Rocha (1998), disfagia é a dificuldade de coordenação dos movimentos de deglutição que afeta crianças e adultos, podendo se congênito ou adquirido. A disfagia pode acontecer devido a uma causa funcional (perturbação ou falta de coordenação das etapas da deglutição ou a uma causa estrutural, ou seja, um estreitamente da luz esofagiana ligado a um processo inflamatório ou de um tumor). Do ponto de vista sintomatológico, a dificuldade para engolir pode aparecer acompanhada ou não de odinofagia15. Em certos casos, é a dor que provoca esta dificuldade. Para Marchesan (1995), a dor durante ou imediatamente após deglutir não é típica da disfagia, e usualmente, indica inflamação. A disfagia pode iniciar de um modo progressivo ou brutal, pode ser aguda ou crônica, intermitente ou constante. Completando esta informação, Marchesan (1995), acrescenta como causas mais comuns da disfagia são por problemas neurológicos como AVC, Parkinson, mal de Alzheimer, Miastemia Gravis, Distrofia muscular, nos traumas Iranianos e câncer de cabeça e pescoço, tumores cerebrais e desordens Escierose lateral Amiotrófica, Paralisia Cerebral entre outros. Também é comum encontrarmos em desordens 15 Odinofagia – dor ao deglutir. 43 gastroenterológicas. Caso existam traumas ou problemas neurológicos evidentes, a disfagia é vista como problema secundário. Em outros quadros a disfagia pode apresentar aspirações silenciosas que são as aspirações que não percebemos e, com isto, a comida ou saliva entra com freqüência no canal aéreo e, em seguida, nos pulmões. A principio isto não causa nenhum sintoma, mas, algum tempo depois, pode-se observar edemas pulmonares ou crescimento de germes patológicos, principalmente os que causam pneumonia. A aspiração pode ter conseqüências severas e até mesmo fatais. As disfagias também podem ocorrer por próteses mal adaptadas e pelo próprio envelhecimento do individuo, onde o peristaltísmo fica diminuído. As disfagias decorrentes destas causas não são em geral valorizadas e mesmo diagnosticadas. Françoise e Desharmais (1993), apresentam alguns sintomas apresentados pelos distúrbios da deglutição durante as suas diferentes fases. No momento oral, o paciente apresenta mau controle da cabeça, sialorréia, dificuldade para mastigar; retenção alimentar intrabucal, tosse, sufocamento, às vezes , distúrbios sensoriais (gosto, temperatura e textura); dificuldades com líquidos e sólidos e disartria. Durante o primeiro estágio a redução da força oral, coordenação, extensão do movimento ou sensação, podem levar a comida ou líquido a cair na faringe antes da deglutição faringeal ser disparada, algumas vezes resultando em aspiração. Estas desordens podem também prejudicar a propulsão do bolo durante o estágio oral. Na fase faringeana os sintomas apresentados são: tosse no momento de engolir; regurgitação; aspiração; sensação reduzida ou ausente no nível da laringe e da 44 faringe; reflexo de náusea reduzido ou ausente; impressão de alimentos presos na garganta; dificuldades principalmente com líquidos e às vezes disartria. O disparo do estágio faringeal pode ser atrasado ou ausente. Quando a deglutição faringeal é disparada, a comida ou o líquido pode tornar-se armadilhas nas fendas naturais ou recessos da faringe. A comida remanescente nestes recessos pode deslizar para a passagem aérea e causar aspiração depois da deglutição. Durante o estágio faringeal, a laringe pode falhar, ao levantar e ou fechar, também causando aspiração. No momento esofagiano, os sintomas são: impressão de alimentos colados na garganta; regurgitação em posição deitada após a refeição e dificuldades com sólidos. Durante esse estágio, quando a comida ou o líquido move-se através do esôfago, a presença de divertículos, estreitamente, contrações anormais do músculo, ou anormalidades no esfíncter do baixo esôfago podem causar problemas de deglutição. Costa (1998) acredita que a deglutição deva ser avaliada de modo dinâmico como permitido pela videofluroscopia, que registra e permite a revisão da mor- fofuncionalidade das estruturas envolvidas no processo. Melhor visualização e interpretação, em especial da dinâmica orofaríngea, pode ser obtida corri o uso associado de meio de contraste sólido, líquido e pastoso. Silva (1998), considera a disfagia um sintoma com características de desordem de movimento, tornando-se bastante produtivo abordar a reabilitação com objetivos que priorizem a independência funcional motora, neste caso da deglutição do indivíduo. Segundo Longmann (1983), para a reabilitação do disfágico, o tempo utilizado pelo paciente para deglutir uma determinada consistência do alimento parece ser um 45 parâmetro importante. Se o estudo radiológico demonstra que ele demora mais de 10 segundos para todas as consistências testadas, o paciente poderá receber via oral, porém irá necessitar uma sonda nasogástrica para complementar a alimentação. Se a terapia indica que o progresso do paciente é demorado, e parecendo que irá levar mais de três meses para a melhora da deglutição não necessitando alimentações suplementares, o clínico pode preferir a indicação de uma gastrotomia, ao invés de deixar a sonda nasogástrica. Alguns clínicos não gostam de deixar a sonda nasogástrica por mais de 3 a 4 semanas. Ou o paciente pode ser ensinado a colocar a sua sonda a cada refeição e retirá-la após a alimentação. A aspiração também é importante. Se o paciente é consciente de sua aspiração ele pode eliminar de sua dieta a consistência que aspira mais de 1 0%. Entretanto, os pacientes que não são conscientes de sua aspiração, incluem-se aqui principalmente os pacientes neurológicos, irão preservar as tentativas de alimentação via oral, apesar da grande quantidade aspirada. Após o exame radiológico, o clínico deverá ser comunicado a respeito da porcentagem de aspiração, apesar das tentativas terapêuticas. Ele determinará a conduta a respeito da alimentação via oral. Em geral um paciente que aspira mais de 1 0% de todo bolo, independente da consistência do alimento, não deverá ser alimentado por via oral. Freqüentemente os pacientes têm dificuldades com seis aspectos do controle de língua durante a deglutição: Lateralização da língua durante a mastigação-, Elevação da língua em direção ao palato duro; Modelar a língua em volta do bolo, para segurar de forma coesa; 46 Elevação da língua contra o palato para segurar o bolo; Movimentação ântero-posterior da língua no início da fase oral; Movimentação ântero-posterior da língua organizada. Segundo Silvia e Vieira (1998), classificam as desordens presentes na disfagia orofaríngea em adultos, como: Disfagia Leve: quando o controle motor e transporte do bolo alimentar está atrasado e lento, sem sinais de penetração laringeal na ausculta cervical. Achados: alteração de esfíncter labial, incoordenação de língua, atraso para desencadear o reflexo de deglutição, ausência de tosse, sem redução acentuada da elevação da laringe, sem alteração do comportamento vocal após a deglutição e ausculta cervical normal. Disfagia moderada: quando o controle e transporte do bolo alimentar está atrasado e lento, com sinais de penetração laringeal e risco de aspiração. Achados: alteração de esfíncter labial, incoordenação de língua, atraso ou ausência do reflexo de deglutição, ausência de tosse, presença de tosse antes, durante ou após a deglutição, redução na elevação da laringe, alteração do comportamento vocal após a deglutição e ausculta cervical alterada. Disfagia severa: quando há presença de aspiração substancial e ausência ou falha na deglutição completa do bolo alimentar. Achados: atraso ou ausência do reflexo de deglutição, redução na elevação da laringe, ausência de tosse, presença de tosse durante ou após a deglutição, alteração do comportamento vocal após a deglutição, alteração respiratória evidente, ausculta cervical alterada e deglutição incompleta. 47 12. DISFAGIA OROFARÍNGEA NA DOENÇA DE PARKINSON De acordo com Edwards (1992) & Logemann (1988), a disfagia é freqüentemente vista na doença de Parkinson até 82% em determinados estágios, mas essa relação não está claramente estabelecida na literatura. São freqüentes as alterações da deglutição na doença de Parkinson, devido à rigidez muscular, inabilidade para realizar movimentos orofaciais, xerostomia ou saliva grossa e Globus16. A rigidez e as discinesias podem afetar alguns aspectos, principalmente na fase oral da deglutição. Os comprometimentos da deglutição levam a aspirações (quando o alimento deglutido não é conduzido pelo esôfago ao estômago, mas penetra nas vias aéreas por meio da laringe, podendo chegar até os pulmões, causando pneumonia por aspiração do alimento). Em fases iniciais das alterações de deglutição podem-se notar dificuldades para deglutir líquidos, principalmente água, ou o doente pode se engasgar com comprimidos, antes deglutidos de maneira automática e sem desconforto. É de grande evidência ser observada, nos casos de disfagia orofaríngea na doença de Parkinson, uma diminuição da sensibilidade e do reflexo de tosse, além do comportamento cognitivo prejudicando a percepção e a demonstração do problema. Levando em conta que todos os fatores podem mascarar o caso clínico, dificultando, o trabalho específico dos profissionais nesta área. Segundo Furkim e Silva (2001), na doença de Parkinson, a dificuldade pode ocorrer na fase oral ou na fase faríngea da deglutição. Na fase oral, há retenção do bolo alimentar causado pela falta de movimentação suficiente para que a base da língua permita a passagem do bolo 16 Globus – é a sensação de haver um corpo estranho na faringe. 48 alimenta. Tal dificuldade em dar prosseguimento à ação é devido à rigidez e à bradicinesia, tendo por conseqüência um atraso no disparo do reflexo da deglutição, comprometendo o sincronismo do processo. Em razão da mobilidade reduzida das estruturas orofaringeais, há acúmulo de alimentos em orofaringe, valécula e recessos piriformes; favorecendo episódios de aspiração, no momento em que o paciente respira após deglutir. A pneumonia aspirativa é muitas vezes a causa mais freqüente de óbito nos estágios avançados. 49 13. PROCEDIMENTOS TERAPÊUTICOS FONOAUDIOLÓGICOS “O principal objetivo da terapia não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir a paciência diante do sofrimento”. CARL JUNG Segundo Rocha (1998), a reabilitação fonoaudiológica consiste em uma reeducação funcional que visa o restabelecimento da função normal ou compensatória. Como foi visto no decorrer do trabalho, o fonoaudiólogo deve reconhecer e tratar das desordens da deglutição, compreendendo profundamente todo seu processo de funcionamento, para um diagnóstico precoce no paciente. Antes de ser iniciado o processo de reabilitação fonoaudiológica, algumas considerações e conhecimentos essenciais para o manuseio do paciente disfágico orofaríngeo neurogênico deverão ser abordados. Segundo Furkin (1999) o manuseio da disfagia nos pacientes com a doença de Parkinson deve ser cuidadosamente planejado também junto a outros profissionais. De Renzo (1997), toda terapia deve ser planejada pelo fonoaudiólogo, bem como o objetivo a ser atingido. Todas as condições de procedimento, o motivo pelo qual a pessoa está em tratamento e as possíveis modificações de terapia devem ser explicadas ao paciente e à sua família. Faz-se isso como uma garantia à ética no atendimento. Para que possa ser feito o atendimento fonoaudiológico é necessário que o paciente esteja com um quadro clínico estável, tornando a terapia mais proveitosa. 50 Toda atenção do fonoaudiólogo é fundamental para detectar os sinais de possíveis aspirações, tais como: tosse, espirros, incoordenação entre respiração e deglutição, sonolência, cianose17, engasgos, taquipnéia18, sufocamento, dispnéia19 e lágrimas. Em face de todas as considerações anteriores, necessárias como um preparo para o início da terapia, poderá ser realizada como próxima etapa à parte passiva da terapia, a verificação e a estimulação da sensibilidade. É muito comum, no paciente com disfagia orofaríngea na doença de Parkinson, o comprometimento da sensibilidade. Esta pode apresentar-se diminuída (hiposensibilidade), aumentada (hipersensibilidade) ou até ausente. A sensibilidade é responsável pelo sistema de aferência de estímulos, que vai preparar o disparo do reflexo da deglutição, o qual deve receber os estímulos na intensidade certa. Se houver alterações neste mecanismo, não vai adiantar conseguir uma boa mobilidade do sistema estomatognático, pois, se o paciente apresenta uma hipo ou hipersensibilidade intra-oral, todo processo vai ficar comprometido. Pommerenk et al (1927), as manifestações mais observadas nos pacientes com alterações da sensibilidade são o atraso no trânsito oral, dificuldade em iniciar a fase oral ou atraso no disparo do reflexo da deglutição O paciente pode apresentar, ainda, tensão dos grupos musculares devido à tentativa de alimentação ou da situação de terapia que o deixa tenso. Essa tensão pode apresentar-se como uma hiperconstrição, por exemplo, dos músculos elevadores da mandíbula, da musculatura, da musculatura intrínseca e 17 Cianose – coloração azul da pele denunciando uma falta de oxigênio. 18 Taquipnéia – aumento da freqüência nos movimentos respiratórios. 19 Dispnéia – falta de ar. Alteração no ritmo respiratório que gera uma sensação angustiosa e sufocante. 51 extrínseca da laringe, posteriorização da língua, tensão da musculatura paravertebral, retrusão de mandíbula e hiperextensão cervical. É muito indicado, nestes casos, o uso de relaxamento dos grupos musculares envolvidos, associados ao trabalho de estimulação da sensibilidade da região, para uma normalização do tônus ideal benéfico ao paciente. De acordo com Furkim (1999), a sensibilidade pode ser trabalhada através da estimulação digital, pois permite um contato direto (pressão e tato) na região envolvida e têm a função de induzir diretamente um movimento. Passando-se o dedo, por exemplo, na papila retroincisal o paciente tentará levar a língua até esta região, conseguindo assim executar ativamente uma elevação de ponta de língua sem que nada lhe tenha sido solicitado. A estimulação digital é um ótimo recurso para pacientes com um baixo nível cognitivo. Pode-se também usar cotonetes embebidos em sabor, ao invés do “dedo de luva”. Esses sabores podem ser variados, bem como a textura do que é colocado no cotonete e sua temperatura. Morris, et al (1985), revela que os estímulos visuais e olfativos do alimento favorecem um maior interesse do paciente em se alimentar. São estes estímulos (visuais e olfativos) que preparam o organismo, fisiologicamente, para receber o alimento e, ainda, aumentam a salivação e encorajam o paciente a se alimentar por via oral. Furkim (1999), ressalta que a apresentação do sabor e odor do alimento é importante, pois colabora para que o paciente mantenha-se motivado a ingeri-lo. Além disso, o volume, a consistência e a temperatura deste pode variar de acordo com o caso. 52 No caso do volume, uma hiposensibilidade fornece mais pistas para o paciente devido ao peso na cavidade oral, facilitando o controle oral sobre o alimento. Certamente, quando o volume torna-se grande demais e o paciente fica com risco de aspiração, deve-se começar com volumes menores até que ele consiga aceitá-los. Quanto à consistência, prefere-se aquela que é mais aceita pelo paciente e, paulatinamente, aumenta-se à dificuldade com o decorrer da terapia. As consistências básicas são: líquido, pastoso fino, pastoso grosso e sólido. Segundo Rosenbec et al (1996), com alimentos frios o tempo de trânsito total da deglutição é diminuído, assim como a melhora do tempo de disparo do reflexo da deglutição é eficiente. Estes alimentos oferecem uma pista mais evidente da presença do bolo alimentar do que o alimento com a mesma temperatura da cavidade oral. Alimentos com temperatura mais morna podem relaxar as estruturas da cavidade oral. Com indicações terapêuticas, podem ser empregadas as terapias indireta ou direta. Na terapia indireta são realizados exercícios de mobilidade das estruturas envolvidas, como a laringe, língua, faringe, bochechas, lábios, mastigação, palato mole e fechamento das pregas vocais, para melhorar as condições de força, mobilidade e sensibilidade geral de todo o sistema orofaríngeo, sem a apresentação do alimento. Essa terapia é indicada para pacientes que aspiram todas as consistências e volume de alimento (LOGEMANN, 1983). A terapia direta tem os mesmos objetivos que a indireta, mas envolve a apresentação do alimento real. 53 Para Logemann (1998), a terapia sensório-motora ou de estimulação visa não deixar que o paciente fique com hipersensibilidade intra-oral por falta de estímulos da região. A existência dessa hipersensibilidade favorece manutenção dos reflexos exacerbados como o Gag (vômito), de mordida e de mastigação. Essa terapia pode ser um preparo para a terapia de deglutição. A terapia de deglutição é aquela em que todos os elementos que compõem o processo de deglutição (como os músculos da língua, bochechas, faringe e laringe) estão adequados quanto à sensibilidade, controle oral, mobilidade e funcionalidade. . Para Furkim (1997), a terapia fonoaudilológica envolve exercícios para: Resistência muscular; Melhorar o controle do bolo alimentar dentro da cavidade oral (mobilidade e motricidade de órgãos faciais); Aumentar a adução
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