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TCC DEFINITIVO PROF. MARCELO (1)

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Prévia do material em texto

FACULDADE MAURICIO DE NASSAU 
UNIDADE FAP TERESINA 
BACHARELADO EM DIREITO 
ANTÔNIO BARBOSA LIMA JÚNIOR 
 
 
 
 
 
 
 
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADAS NO DIREITO DE 
GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DO PIAUÍ. 
Trabalho de Qualificação apresentado 
como requisito parcial para obtenção de 
aprovação na disciplina Técnicas em 
Elaboração de Monografia II, da Faculdade 
Maurício de Nassau – Unidade FAP 
Teresina. 
 
ORIENTADOR: MARCELO LEANDRO PEREIRA 
LOPES 
 
 
 
 
 
TERESINA/ PIAUÍ 
2017 
 
ANTÔNIO BARBOSA LIMA JÚNIOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADAS 
NO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DO PIAUÍ. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Curso de Bacharelado de Direito da 
Faculdade Maurício de Nassau - Unidade FAP 
Teresina, como requisito parcial à obtenção do 
título de Bacharel em Direito. 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Leandro Pereira 
Lopes. 
Coorientador: Prof. Ana Maria Chaib Gomes 
Ribeiro. 
 
 
 
 
TERESINA - PI 
2017 
ANTÔNIO LIMA BARBOSA JÚNIOR 
 
 
 
 
 
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADAS 
NO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DO PIAUÍ. 
 
 
 
 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi 
julgado adequado à obtenção do título de 
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma 
final pelo Curso de Bacharelado em Direito da 
Faculdade Maurício de Nassau - Unidade FAP 
Teresina. 
 
 
 
Nota: _____________ 
Cidade, (dia) de (mês) de (ano da defesa). 
 
______________________________________________________ 
Professor e orientador Nome do Professor, Título. 
 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
 
 
 RESUMO 
A presente pesquisa abordou o estudo das normas constitucionais de eficácia limitada 
e o direito de greve, analisou a aplicabilidade das normas constitucionais de eficácia 
limitada do direito de greve no que diz respeito aos servidores da Justiça do Piauí, na 
cidade de Teresina, no ano de 2016. Buscou enumerar os fatos históricos, analisou a 
preterição legislativa e demonstrou os casos de aplicação da norma de eficácia 
limitada. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica pura descritiva e de pesquisa de campo 
com abordagem explicativa. Apoiado na literatura jurídica de Lenza (2013), Mendes 
(2014), Temer (2008), e demais referenciais. As normas encontram-se classificadas 
segundo sua eficácia e a aplicabilidade: normas de eficácia plena, de eficácia contida 
e de eficácia limitada. Classificação está mais aceita doutrinariamente e feita por José 
Afonso Silva (1999). O direito de greve previstos constitucionalmente no artigo 37, VII 
da CRFB/88 é uma norma de eficácia limitada o que faz procurar se necessitando da 
complementação, ainda legitima o exercício do direito de greves dos servidores 
públicos do Piauí. O questionário e entrevista realizados com um servidor público, com 
representante da presidência do Tribunal de Justiça e com o presidente do Sindicato 
dos Oficiais do Piauí veio mostrar a visão de cada uma dessas categorias que 
contribuem com a formação do Poder Judiciário piauiense. 
 
Palavras-chave: Direito Constitucional. Normas de eficácia limitada. Direito de greve. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 6 
2 CONSTITUCIONALISMO, CONSTITUIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, PODER 
CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E DERIVADO ------------------------------------------------ 10 
2.1 CONSTITUCIONALISMO --------------------------------------------------------------------- 10 
2.2 CONSTITUIÇÃO --------------------------------------------------------------------------------- 12 
2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ----------------------------------------------- 14 
2.4 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E DERIVADO -------------------------------- 15 
3 EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, HISTÓRICO 
DA GREVE, AGENTES PÚBLICOS E CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS 
PÚBLICOS --------------------------------------------------------------------------------------------- 19 
3.1 NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA ---------------------------- 20 
3.2 HISTÓRICO DA GREVE ----------------------------------------------------------------------- 23 
3.3 AGENTES PÚBLICOS ------------------------------------------------------------------------- 27 
3.4 CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ----------------------------------------- 29 
4 DIREITO DE GREVE, PREVISÃO CONSTITUCIONAL, DIREITO DE GREVE DOS 
SERVIDORES PÚBLICOS, APLICABILIDADE DO DIREITO DE GREVE DOS 
SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ ---------------------- 31 
4.1 DIREITO DE GREVE --------------------------------------------------------------------------- 32 
4.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL ------------------------------------------------------------- 32 
4.3 DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS -------------------------------- 35 
4.4 APLICABILIDADE DO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES DO PODER 
JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ ----------------------------------------------------------- 39 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
REFERÊNCIAS 
 
 
 
 
6 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa abordou como tema o estudo das Normas 
Constitucionais de Eficácia Limitada Brasileira que estão espalhadas pelo corpo da 
CF/88, em específico a norma que trata sobre o direito de greve do servidor público. 
Estas normas, apesar de necessitarem de futura atuação do Constituinte para terem 
efetividade, já produzem alguns efeitos, como o de vincular o Poder Público na 
confecção de normas e atos normativos compatíveis com seus preceitos, sob pena 
de serem declaradas inconstitucionais e asseguram o exercício de direitos, entre 
outros. 
Desta forma, foi abordado no decorrer deste trabalho, de maneira sucinta o 
estudo do fenômeno mundialmente conhecido como constitucionalismo, bem como, 
analisado o tema constituição e classificações das constituições. Em um segundo 
momento, foi estudado e conceituado o tema poder constituinte, desde sua origem até 
sua classificação em poder constituinte originário e derivado. Para o entendimento do 
tema contemplado pelo presente trabalho, é necessário o estudo da eficácia e 
aplicabilidade das normas constitucionais, como também, suas classificações em 
normas de eficácia plena, contida e limitada, tal como a clássica classificação do 
doutrinador José Afonso da Silva. Ao final foi estudado a aplicabilidade do direito de 
greve dos servidores do Poder Judiciário do Estado do Piauí. 
Sendo assim, foi analisado o histórico da greve, desde suas primeiras 
manifestações nas sociedades antigas até a contemporaneidade, como também, os 
agentes públicos e suas classificações, as formas de ingresso no serviço público, e o 
princípio da continuidade dos serviços públicos. 
Desta forma, foi estudado o direito de greve, sucintamente o da iniciativa 
privada e em específico o direito de greve dos servidores públicos, desde sua previsão 
dentro do sistema jurídico-constitucional até o seu exercício análogo ao vigente no 
setor privado. 
Ao final foram analisadas as normas constitucionais de eficácialimitada e a 
aplicabilidade do direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário do 
7 
 
Estado do Piauí, tendo como enfoque a aplicação da norma constitucional de eficácia 
limitada prevista no artigo 37, VII da Constituição Federal de 1988, analisando as 
consequências geradas pela paralisação dos serviços públicos prestados pelo Poder 
Judiciário do Estado do Piauí. Foi estudado as consequências geradas pela preterição 
legislativa na confecção de lei específica disciplinando o exercício do direito de greve 
dos servidores públicos, como também, durante o período de paralisação foram 
respeitados os princípios que regem a Administração Pública, em especial o princípio 
da continuidade dos serviços públicos. 
O presente trabalho teve como problema a seguinte indagação: a 
aplicabilidade das normas constitucionais de eficácia limitada legitima o exercício do 
direito de greve dos servidores públicos do Estado do Piauí? 
A presente pesquisa teve como hipótese a utilização do remédio 
constitucional previsto no artigo 5º, inciso LXXI da Constituição Federal de 1988, o 
mandado de injunção, com o objetivo de que a Suprema Corte declare a omissão 
legislativa, uma vez que, este será concedido sempre que a falta de norma 
regulamentadora prejudique o exercício de direitos assegurados pela Constituição e 
estejam pendentes de regulamentação. Destaca-se também, a criação e aprovação 
de lei legislativa pelo Congresso Nacional, que regulamente o exercício do direito de 
greve dos servidores públicos. 
O objetivo geral do presente trabalho foi a análise da aplicabilidade das 
normas constitucionais de eficácia limitada no direito de greve dos servidores públicos 
no âmbito do Estado do Piauí, no sentido de compreender a sua efetividade. Enquanto 
que os objetivos específicos foram enumerar os fatos históricos acerca do estudo 
desta classificação de normas, como também, analisando a preterição legislativa e o 
exercício desse direito que é análogo ao dos empregados da iniciativa privada, e, por 
fim, demonstrando os casos de aplicação das mencionadas normas no cotidiano dos 
servidores públicos estaduais que declararam greve. 
Diante deste cenário, o presente trabalho justifica-se, pela importância do 
estudo das normas constitucionais de eficácia limitada brasileira, pois apesar de 
dependerem de atuação futura do Poder Público elas asseguram e legitimam o 
exercício de direitos, dentre outras características que foram e serão apresentadas no 
decorrer do presente trabalho. Para tanto, o artigo 37, inciso VII da Constituição 
Federal de 1988, assegura ao servidor público o direito de greve, que será exercido 
8 
 
nos termos de lei específica, que apesar de ainda não haver esta lei específica 
regulamentando esse direito, os servidores públicos exercem o seu direito com a 
simples previsão constitucional. Por estas razões, o presente tem como público alvo 
os servidores públicos em geral, os discentes e demais categorias que tenham 
interesse pelo estudo das normas constitucionais de eficácia limitada brasileira, em 
especial a contemplada por este trabalho, a saber, a prevista no artigo 37, inciso VII 
da Constituição Federal de 1988. 
Para concretizar o presente trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica pura 
descritiva, bem como, de pesquisa de campo como técnica com abordagem 
explicativa. A pesquisa bibliográfica pura descritiva tomou por base publicações 
científicas no ramo do Direito Constitucional e Administrativo, já a pesquisa de campo 
como técnica com abordagem explicativa foi realizada utilizando como instrumento o 
questionário. 
O questionário envolveu a visão das seguintes categorias sobre a 
aplicabilidade das normas constitucionais de eficácia limitada no direito de greve dos 
servidores públicos estaduais do Piauí, um servidor da Justiça Estadual, o presidente 
do sindicato dos Oficiais de Justiça do Estado do Piauí e a Presidência do Tribunal de 
Justiça do Estado do Piauí, sendo representada pela Secretária de Administração. 
A afinidade pelas disciplinas de Direito Constitucional e Direito Administrativo 
e principalmente no tocante ao assunto eficácia e aplicabilidade das normas 
constitucionais foi a motivação para levar a cabo o a pesquisa da norma do direito de 
greve do servidor público. A norma descrita no artigo 37, VII da CRFB/88, trata-se de 
norma constitucional limitada de princípio programático, que significa veiculação de 
programas a serem implementados pelo Estado objetivando a realização de fins 
sociais. 
A pesquisa realizada teve como público alvo tanto os servidores públicos em 
geral, quanto os discentes e demais pessoas que tenham interesse pelo tema. A 
bibliografia que fundamenta a pesquisa é dos doutrinadores Pedro Lenza (2013), 
Gilmar Mendes (2014) e Michel Temer (2008). 
O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo o primeiro a 
introdução que tratou sobre o tema, delimitação do tema, problema, hipóteses, 
objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa, a metodologia utilizada neste 
trabalho. No segundo capítulo foi estudado o tema constitucionalismo que tem como 
9 
 
objetivo organizar e disciplinar o poder estatal, analisando a Constituição e suas 
classificações, como também, foi feito o estudo do poder constituinte e sua 
classificação em poder constituinte originário e poder constituinte derivado. 
 O terceiro capítulo tratou da eficácia e aplicabilidade das normas 
constitucionais, sua classificação em normas de eficácia plena, normas de eficácia 
contida e normas de eficácia limitada, foi também analisado o histórico da greve, 
desde suas primeiras manifestações nas sociedades antigas até os dias atuais, os 
agentes públicos e o princípio da continuidade dos serviços públicos. 
O quarto capítulo abordou no geral o direito de greve, sua previsão 
constitucional e no específico o direito de greve dos servidores públicos e a 
aplicabilidade do direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário do 
Estado do Piauí. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
2. CONSTITUCIONALISMO, CONSTITUIÇÃO, CLASSIFICAÇÕES, PODER 
CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E DERIVADO 
 
Nesta etapa do presente trabalho será analisado o movimento mundialmente 
conhecido na literatura jurídica como constitucionalismo que tem como alguns de seus 
fundamentos a organização e limitação do Estado. Será estudado o tema Constituição 
que é a Lei Maior do Estado, vez que, ela o constitui como realidade jurídica. E o final 
do capítulo será visto brevemente a classificação das constituições, sendo a 
Constituição Federal de 1988 classificada como democrática, escrita, formal, 
dogmática, rígida e eclética. Depois será visto o tema poder constituinte originário e 
derivado, tal como será visto adiante. 
 
2.1. CONSTITUCIONALISMO 
 
O estudo da história humana inicia-se pela análise de uma sociedade dita 
primitiva e rudimentar, em comparação aos dias atuais, pois cada sociedade em seu 
tempo e lugar tem suas próprias características peculiares e diferenciadas. O emprego 
das palavras primitivas e rudimentar tem como forte destaque nas formas de 
resoluções de conflitos, pois prevalecia a autotutela (a lei do mais forte sobre o mais 
fraco), a dita vingança privada. Matos (2010, p. 14), complementa que: 
No princípio era cada um por si, num mundo onde prevalecia a força individual, 
a vingança privada. Depois, surgiram famílias, tribos e a sociedade primitiva 
e, diante deste fenômeno, a necessidade da criação de um instrumento que 
organizasse a vida dos seres humanos. Tendo em vista a necessidade do 
homem de viver harmoniosamente em sociedade, surgemas leis – 
inicialmente religiosas, morais, depois jurídicas. Regras de conduta que 
reprimem o instinto, a barbárie, disciplinam relações interpessoais e protegem 
a sociedade. Conjuntura na qual se inicia o processo civilizatório. 
Os estudiosos destacam que para a prevalência da sociedade humana, se fez 
necessário a criação de leis, tais como religiosas, morais e depois jurídicas (emanadas 
de um Indivíduo central, o Estado, dotadas de caráter de generalidade e abstração). 
Diante das arbitrariedades praticadas no passado surge o movimento 
conhecido pelo nome de Constitucionalismo que tem como fundamento organizar e 
limitar o poder estatal, no qual “no estudo de um passado não muito remoto, 
constatamos que foram praticadas diversas arbitrariedades, como a escravidão, morte 
do devedor inadimplente etc.” (KOENIGKAM; VIANNA, 2014, p. 17.). 
11 
 
Constitucionalismo dá-se como um movimento estatal que tem por objetivo 
limitar o poder e garantir liberdades individuais/liberdades públicas. 
Segundo Silvio Gonçalves Matos (2010, p.14), “o termo constitucionalismo é 
recente no mundo jurídico, possui pouco mais de duzentos anos, e foi associado ao 
processo revolucionário francês e americano”. 
Nesse sentido, destaca-se o entendimento de Koenigkam e Vianna (2014, p. 
17, grifo do autor), senão veja: 
A origem formal do constitucionalismo tem vínculo com as Constituições dos 
Estados Unidos da América em 1787 (posteriormente à independência das 
treze colônias) e da França em 1791 (após a revolução francesa), com duas 
características: organização do Estado e limitação do poder estatal, mediante 
previsão de direitos e garantias fundamentais. 
Como analisado, o marco histórico da origem formal do constitucionalismo se 
deu no ano de 1787, que está ligado com as Constituições dos Estados Unidos da 
América logo após a independência das treze colônias, como também, na França, no 
ano de 1791, logo após a revolução francesa, com duas peculiaridades importantes, 
organizar o Estado e limitar o seu poder (atuação), através de direitos e garantias 
fundamentais. 
O constitucionalismo tem por objetivo organizar a estrutura do Estado e limitar 
a sua atuação através de um documento formal que traga em seu corpo um 
emaranhado de direitos e garantias fundamentais. 
No século XXI iniciou-se uma nova fase do constitucionalismo, a doutrina pós-
moderna o chama de neoconstitucionalismo que tem como objetivo além da limitação 
do poder estatal busca-se a eficácia da Constituição especificamente na real 
concretização dos direitos fundamentais, ou seja, a Constituição deixa de ser vista 
apenas como um documento ideal, que apenas preveem direitos e passa a ser vista 
como um documento que garante e torna efetivos tais direitos, ressalta Lenza (2013, 
p. 52, grifo do autor): 
A doutrina passa a desenvolver, a partir do início do século XXI, uma nova 
perspectiva em relação ao constitucionalismo, denominado 
neoconstitucionalismo, ou, segundo alguns, constitucionalismo pós-
moderno, ou, ainda, pós-positivismo. Busca-se, dentro dessa nova 
realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação 
do poder político, mas, acima de tudo, buscar a eficácia da Constituição, 
deixando o texto de ter um caráter meramente retórico e passando a ser mais 
efetivo, especialmente diante da expectativa de concretização dos direitos 
fundamentais. (Grifo do autor). 
Como visto, o neoconstitucionalismo tem como um de seus principais 
fundamentos a efetivação dos direitos garantidos pela Constituição, deixando esta de 
12 
 
ter apenas caráter retórico e passando a ter atuação efetiva. O novo 
constitucionalismo defende a ideia de que os direitos fundamentais assegurados pela 
constituição sejam concretizados, ou seja, este movimento não está somente ligado à 
limitação do poder estatal, mas também, defende a eficácia e efetividade da 
Constituição, pois de nada adiantaria a Constituição prever vários direitos, sendo que 
estes direitos não podem ser exercidos. Seguindo este pensamento Mendes (2014, p. 
62), complementa que: 
Hoje, é possível falar em um momento de constitucionalismo que se 
caracteriza pela superação da supremacia do Parlamento. O instante atual é 
marcado pela superioridade da Constituição, a que se subordinam todos os 
poderes por ela constituídos, garantida por mecanismos jurisdicionais de 
controle de constitucionalidade. A Constituição, além disso, se caracteriza 
pela absorção de valores morais e políticos (fenômeno por vezes designado 
como materialização da Constituição), sobretudo em um sistema de direitos 
fundamentais autoaplicáveis. 
Neste cenário, percebe-se que os poderes constituídos estão subordinados a 
Constituição, que é dotada de superioridade dentro da órbita jurídica, que traz em si 
um conjunto de direitos fundamentais que não dependem de futura atuação do Estado 
para serem efetivos, esses direitos têm aplicação imediata, ou seja, autoaplicáveis. 
Além do mais, foi superada a ideia de que o poder legislativo está superior 
aos outros poderes e a própria ordem jurídico-constitucional, devendo respeitar a 
Constituição, sendo este respeito assegurado por um sistema jurisdicional de controle 
de constitucionalidade das leis e atos normativos do Poder Público. 
Não é possível estudar o fenômeno constitucionalismo sem se dissociar do 
tema Constituição, vez que este surge em decorrência daquele, que tem como 
fundamentos a limitação do poder estatal e supremacia da lei. 
 
2.2. CONSTITUIÇÃO 
 
Quando se encontra o significado da palavra constituição, observa-se que ela 
nos leva a entender que algo foi constituído ou formado. A palavra constituição em 
seu sentido jurídico significa a Lei Maior do Estado, pois ela o constitui como realidade 
jurídica, disciplinando sua estrutura e funcionamento (atuação). (KOENIGKAM; 
VIANNA, 2014, p. 18). 
Segundo o teórico Michel Temer (2008, p. 17), ao analisar a palavra 
constituição em dois sentidos, o primeiro em sentido comum e o segundo em sentido 
13 
 
específico, preconiza que a constituição em sentido restrito significa a estrutura do 
Estado, veja: 
Em sentido mais restrito, Constituição significa “corpo”, a “estrutura” de um 
ser que se convencionou a denominar Estado. Por ser nela que podemos 
localizar as partes componentes do Estado, estamos autorizados a afirmar 
que somente pelo seu exame é que conheceremos o Estado. 
Em sentido restrito a constituição pode ser conceituada como a estrutura do 
Estado, pois ela traz em seu corpo, normas que tratam da decisão política fundamental, 
como por exemplo, normas que tratam sobre separação dos poderes ou funções 
estatais, forma de governo, forma de estado, etc. 
Somente se conhece o Estado em sua plenitude se fizer uma análise da 
Constituição, vez que a mesma traz em si a estrutura do Estado (elementos que juntos 
formam o Estado). 
Com o advento do Estado Constitucional de Direito, a Constituição passa a 
ter valor axiológico e os Poderes Constituídos passam a observar as normas por ela 
ditadas, ela passa a ser o centro do ordenamento jurídico e todas as normas e atos 
do poder público devem guardar respeito com suas disposições, como preceitua 
Lenza, (2013, p. 53): 
Supera-se a ideia de Estado Legislativo de Direito, passando a Constituição 
a ser o centro do sistema, marcada por uma intensa carga valorativa. A lei e, 
de modo geral, os Poderes Públicos, então, devem não só observar a forma 
prescrita na Constituição, mas, acima de tudo, estar em consonância com o 
seu espírito, o seu caráter axiológico e os seus valores destacados. A 
Constituição, assim, adquire, de vez, o caráter de norma jurídica, dotada de 
imperatividade, superioridade (dentro do sistema) e centralidade,vale dizer, 
tudo deve ser interpretado a partir da Constituição. 
Como visto em linhas anteriores, no contexto atual, foi superada a ideia de 
que o poder legislativo está superior aos outros poderes e a própria ordem jurídico-
constitucional, ou seja, todos os poderes constituídos estão subordinados a 
Constituição que é dotada de superioridade dentro do sistema jurídico. Está superior 
a todas as normas dentro do ordenamento jurídico, passou a denotar comando, 
assumindo caráter imperativo e está no centro do ordenamento jurídico, isto é, o 
fundamento de validade e interpretação de todas as normas. 
Existem diversos conceitos capazes de definir o significado de constituição, 
mas há um que se apresenta de forma completa e merece ser analisado, Barroso 
(2009, p.74) conceitua que: 
Cria ou reconstrói o Estado, organizando e limitando o poder político, 
dispondo acerca de direitos fundamentais, valores e fins públicos e 
disciplinando o modo de produção e os limites de conteúdo das normas que 
integrarão a ordem jurídica por ela instituída. Como regra geral, terá a forma 
14 
 
de um documento escrito e sistemático, cabendo-lhe o papel, decisivo no 
mundo moderno, de transportar o fenômeno político para o mundo jurídico, 
convertendo o poder em direito. 
O teórico enfatiza que a Constituição cria e reconstrói o Estado, organizando 
e limitando o seu poder, tratando dos direitos fundamentais, disciplinando o modo de 
produção e os limites de conteúdos que comporão a ordem jurídica por ela 
estabelecida. Percebe-se claramente as manifestações do poder constituinte 
originário quando se cria ou reconstrói o Estado, já o poder constituinte derivado é 
visto quando retrata os limites impostos polo poder constituinte originário, que devem 
ser respeitados para fins de alteração do texto constitucional. 
Feitas as análises do tema Constituição, passa-se ao estudo do tema 
Classificações das Constituições. 
 
2.3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
A Constituição Federal de 1988 é doutrinariamente classificada como sendo 
democrática, escrita, formal, dogmática, rígida e eclética, tal como classifica 
Koenigkam e Vianna (2014, p. 20). 
Segundo os mencionados teóricos as constituições podem ser classificadas 
quanto à origem, forma, elaboração, ideologia, estabilidade, conteúdo, eficácia e 
efetividade. 
Quanto à origem classificam-se em outorgadas (imposta por um ou um grupo 
de governantes) e democráticas (aprovada através de uma Assembleia Nacional 
Constituinte, composta por representantes do povo). 
Quanto à sua forma classificam-se em escritas (escrita em um único 
documento) e não escritas (não são escritas em um único documento). 
Quanto à sua elaboração podem ser classificadas em dogmáticas (baseadas 
em dogmas, verdades absolutas) e históricas (fruto da longa evolução da história). 
Quanto à sua ideologia podem ser ortodoxas (adotam somente uma ideologia) 
ou ecléticas (adotam várias ideologias). 
Quanto à estabilidade (mutabilidade) classificam-se em rígidas (para serem 
alteradas estas constituições exigem um processo legislativo solene e dificultoso), 
semirrígidas (para serem alteradas necessitam de um processo especial em alguns 
15 
 
dispositivos), flexíveis (para serem alteradas passam por um processo legislativo 
comum) e imutáveis (são perpétuas e jamais serão alteradas). 
Quanto ao conteúdo as constituições podem ser materiais (trata de assuntos 
essenciais à organização e estrutura do Estado) e formais (trata de assuntos 
estranhos a organização e estrutura do Estado). 
Quanto à eficácia e efetividade podem ser normativas (foram feitas para 
atingir com êxito a sociedade a qual vai disciplinar), nominais (foram feitas para 
disciplinar além do atual estado da sociedade) e semânticas (a sociedade não acredita 
nos dispositivos previstos na constituição). 
Feitas as considerações preliminares, nesse momento da pesquisa passa-se 
a analisar o tema Poder Constituinte. 
 
 
2.4. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
O poder constituinte significa o poder de elaborar, criar uma constituição, 
como também, alterar o texto normativo através da edição de emendas constitucionais 
ou dando nova interpretação ao dispositivo sem alterar o conteúdo da norma (poder 
constituinte difuso ou mutação constitucional), o primeiro se refere ao poder 
constituinte originário e o segundo ao poder constituinte derivado, neste sentido, 
ensina Lenza: 
O poder constituinte pode ser conceituado como o poder de elaborar (e neste 
caso será originário) ou atualizar uma Constituição, mediante supressão, 
modificação ou acréscimo de normas constitucionais (sendo nesta última 
situação derivado do originário). (LENZA, 2013, p.166). 
Como bem observa o estudioso, o poder constituinte pode ser conceituado 
como o poder de elaborar a constituição, como também, o poder de alterá-la, e a 
depender do seu modo de atuação, criando ou alterando, será classificado em poder 
constituinte originário ou derivado. 
Nesse sentido, cita-se o entendimento de Rafael Damaceno extraído de um 
de seus trabalhos científicos, intitulado, breve resumo do poder constituinte originário 
e derivado frente aos princípios fundamentais, veja: 
A ideia de supremacia da constituição decorre de sua origem, alicerçada num 
poder instituidor de todos os outros poderes, que constitui os demais; daí sua 
denominação poder constituinte. Em uma outra visão podemos dizer que o 
poder constituinte pode ser estudado em uma dupla dimensão: originário e 
16 
 
reformadora. Trata-se do poder que constitui, que faz e que elabora normas 
constitucionais. As origens da doutrina do poder constituinte remontam à 
Idade Moderna. A partir do século XVI e XVIII, surgiram as doutrinas do 
contrato social, que vieram influenciar a própria noção de Estado, a 
necessidade da adoção das constituições escritas e o poder envolvendo na 
elaboração destas constituições. As normas produzidas pelo poder 
constituinte compõem um texto normativo, localizado em posição de 
superioridade, em relação as demais normas do ordenamento jurídico de um 
pais. 
É incontestável que a superioridade da constituição surge em razão da sua 
origem, embasada em um poder formador dos demais poderes, e por este motivo é 
chamado de poder constituinte originário. A partir do momento que se analisa este 
poder, é perceptível visualizar sua classificação em poder constituinte originário e 
derivado, que está condicionado a sua forma de atuação criando ou reformando a 
constituição. 
Tem sua essência na doutrina italiana que conduz ao período da Idade Média, 
entre os séculos XVI e XVIII, quando do surgimento da teoria do contrato social, que 
por seguinte passou a inspirar a própria noção do que se denomina de Estado. Em 
razão disso passou-se a materializar as constituições a partir de um documento escrito 
para consolidar e legitimar o poder. 
Frisa-se novamente que todas as normas confeccionadas pelo poder 
constituinte originário estão situadas acima de todas as outras normas presentes em 
um ordenamento jurídico. 
Analisado o seu significado, segue à sua classificação. 
O poder constituinte significa o poder de fato, o poder de elaborar uma nova 
constituição do jeito que melhor lhe convier. 
Sendo assim, veja o conceito do poder constituinte originário segundo o 
estudioso Pedro Lenza (2013, p. 167): 
O poder constituinte originário (também denominado, inicial, inaugural, 
genuíno ou de 1º. Grau) é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, 
rompendo por completo com a ordem jurídica precedente. 
O objetivo fundamental do poder constituinte originário, portanto, é criar um 
novo Estado, diverso do que vigorava em decorrência da manifestação do 
poder constituinteprecedente. (Grifo do autor). 
O poder constituinte apresenta as seguintes características: inicial, 
juridicamente ilimitado, incondicionado e autônomo. 
O estudioso Rafael Damaceno, citado anteriormente em folhas, leciona que a 
titularidade deste poder é pertencente ao povo, sendo que é este quem confere 
autoridade, legitimidade e poder ao seu próprio governo, conforme se extrai do seu 
17 
 
trabalho científico, senão veja: 
A titularidade do poder constituinte é largamente aceita como sendo do povo, 
já que esse é quem legitima seu próprio governo, não obstante a incerteza do 
conceito doutrinário de povo. Esta titularidade é em razão do principio da 
inalienabilidade da soberania popular, irrenunciável. Logo o titular do poder 
constituinte é maior e mais importante que qualquer noção e conceito de 
Estado. 
Conforme visto, a titularidade do poder constituinte originário é conferida ao 
povo em razão dos princípios da inalienabilidade e irrenunciabilidade da soberania 
popular, isto é, o povo, titular do poder constituinte está superior ao próprio Estado. 
O exercício do poder constituinte se dá por meio da Assembléia Nacional 
Constituinte, composta de representantes do povo e eleitos pelo povo, que em nome 
deste exerce tal poder e ao qual pertence. No Brasil, o poder constituinte é exercido 
pelo Congresso Nacional, que é composto de membros da Câmara dos Deputados e 
do Senado Federal, segundo Koenigkam e Vianna (2014, p.22). 
Evidencia-se ainda, os ensinamentos de Rafael Damaceno, citado antes, veja: 
[…] o poder constituinte é um poder de fato. Encontra se vinculado à realidade 
concreta da vida social em determinação espaço territorial. Sob este enfoque, 
dizer que é um poder de fato equivale a dizer que um poder político. Assim 
sendo, se não há Estado não há Direito, não sofrendo poder constituinte 
derivado qualquer limitação de direito. O poder constituinte originário é 
compreendido também como um poder de direito tendo por fundamento o 
Direito Natural, que é anterior e superior ao Direito de Estado, fundado num 
poder natural do homem de organizar a vida social; estaria, então, limitado 
este poder originário não pelo Direito positivo, mas sim pelo Direito natural. 
Conceitua-se o poder constituinte originário como sendo um poder de fato, 
pois está entrelaçado com a realidade fática vivenciada na sociedade dentro de um 
estabelecido espaço territorial. 
Nesse diapasão, pode-se afirmar que o poder constituinte originário é igual ao 
poder político, pois a existência do Estado e, por conseguinte do Direito, estão 
condicionadas a existência desse poder, uma vez que, ele institui uma ordem jurídica 
criando o Estado e o Direito, e, por fim, cria o poder constituinte derivado que encontra 
limitações de direito. 
Destaca-se que este poder é justificado pelo direito natural e a ele encontra 
limites, baseado na ideia de que o homem é um ser dotado da capacidade de 
organizar-se em sociedade. 
 
 
 
18 
 
2.5. PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
 
O Poder Constituinte pode ser dividido em Poder Constituinte Originário e 
Derivado. O poder constituinte originário, como próprio nome anuncia, significa o 
poder de fato, o poder de elaborar uma nova constituição e consequentemente uma 
nova ordem jurídica. Esse poder pode tratar de todos os assuntos do jeito que melhor 
lhe convier, a título de exemplo, pode até instituir pena de morte. Já o poder 
constituinte derivado surge em razão do poder constituinte originário e a este é 
subordinado, limitado e condicionado, segundo leciona Koenigkam e Vianna (2014, p. 
23). 
Com o mesmo entendimento apresenta-se a doutrina de Gilmar Mendes 
(2014, p. 132), veja: 
Embora as constituições sejam concebidas para durar no tempo, a evolução 
dos fatos sociais pode reclamar ajustes na vontade expressa no documento 
do poder constituinte originário. Para prevenir os efeitos nefastos de um 
engessamento de todo o texto constitucional, o próprio poder constituinte 
originário prevê a possibilidade de um poder, por ele instituído, vir a alterar a 
Lei Maior. 
 A doutrina o chama de poder de direito e o divide em duas espécies, a saber, 
poder constituinte derivado reformador (poder de reformar a constituição) e poder 
constituinte decorrente (poder de os Estados-membros criarem as suas próprias 
constituições, respeitando os parâmetros estabelecidos pela constituição federal), 
entendimento de Koenigkam e Vianna (2014, p. 24). 
O teórico Pedro Lenza (2013, p. 170), conceitua o poder constituinte derivado 
reformador seguinte maneira: 
O poder constituinte derivado reformador, chamado por alguns de 
competência reformadora, tem a capacidade de modificar a Constituição 
Federal, por meio de um procedimento específico, estabelecido pelo 
originário, sem que haja uma verdadeira revolução. O poder de reforma 
constitucional, assim, tem natureza jurídica, ao contrário do originário, que é 
um poder de fato, um poder político, ou, segundo alguns, uma força ou 
energia social. 
Com relação ao poder constituinte decorrente o mencionado autor (2013. p. 
171), assim o conceitua: “O poder constituinte derivado decorrente, assim como o 
reformador, por ser derivado do originário e por ele criado, é também jurídico e 
encontra os seus parâmetros de manifestação nas regras estabelecidas pelo 
originário”. 
Sabe-se que o poder constituinte derivado é criado pelo poder constituinte 
originário que se manifesta através das alterações no texto da constituição do Estado, 
19 
 
bem como, através de sua reforma. Conforme foi destacado em linhas anteriores, este 
poder apresenta algumas características, sendo a limitação ao suprimento dos direitos 
fundamentais uma das mais importantes, ou seja, não pode criar normas abolindo 
direitos pertencentes ao núcleo de intangibilidade constitucional (cláusulas pétreas), 
conforme preceitua Rafael Damaceno, citado em folhas, no corpo do seu trabalho 
científico, veja: 
Este poder seria derivado do poder constituinte originário, sendo usado nas 
alterações do texto constitucional ou sua reforma. Suas principais 
características são a limitação material de seu exercício e a condicionalidade 
destes limites impostos; se não houvesse limites, não haveria diferença entre 
o poder revisor e o poder constituinte. Como fonte limitadora deste poder 
reformador, Estado brasileiro assumidamente reconhece os direitos 
fundamentais e seus instrumentos de garantia, como o Status das “clausulas 
Pétreas”, como forma de impedir que uma revisão, ou mesmo uma alteração, 
através de emenda constitucional, suprima um direito eleito pelo constituinte 
como essencial à existência daquela sociedade. O que se quer vedar ao 
revisor da constituição é a alteração da substância e não a redação dos 
dispositivos referentes aos direitos fundamentais. 
O poder constituinte derivado encontra limites materiais dentro do sistema 
jurídico-constitucional e está condicionado a tais limites, se assim não o fosse, não 
existiria distinção entre o poder constituinte originário e derivado. 
Dentro do sistema jurídico-constitucional brasileiro, apresenta-se como fonte 
de limitadora deste poder, os direitos e garantias fundamentais espalhados pelo corpo 
do texto constitucional, a título de exemplo, o rol elencado, que não se esgota no artigo 
5º e seus incisos, e o artigo 60, §4º e incisos, todos da Constituição Federal de 1988. 
Analisado o tema poder constituinte originário e sua classificação, segue para 
o tema eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais. 
 
 
 
3. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, HISTÓRICO 
DA GREVE, AGENTES PÚBLICOS E CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS 
 
O professor Ricardo Russel grifa em seu trabalho da eficácia dasnormas 
constitucionais, a preocupação com a omissão dos legisladores e/ou administradores 
públicos em relação à efetividade das normas constitucionais que não tem aplicação 
imediata (limitada). Porém, a efetividade destas normas se dá segundo a criação de 
20 
 
outras normas que as regulamenta efetivado os seus preceitos. Segundo o professor 
extraiu da teoria de Pontes Miranda: 
Quando uma regra se basta, por si mesma, para a sua incidência, diz-se 
bastante em si, self executing, self acting, self enforcing. Quando, porém, 
precisam as regras jurídicas de regulamentação, porque, sem a criação de 
novas regras jurídicas, que as complementem ou suplementem, não 
poderiam incidir e, pois, ser aplicadas, dizem-se não bastantes em si” 
(MIRANDA, 1946, p.148). 
Como destacado, as normas constitucionais de eficácia limitada padecem de 
regulamentação através da elaboração de normas jurídicas que lhes integrem. 
Quando se trata do tema eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais, 
se faz necessário recorrer-se para a doutrina de José Afonso da Silva (1999, p. 266), 
uma vez que, o teórico classifica as normas no tocante a sua eficácia em normas de 
eficácia plena, normas de eficácia contida, e por fim, normas de eficácia limitada. No 
Brasil, essa é a classificação adotada pela maioria dos estudiosos do direito, como 
também, pela Suprema Corte. 
De antemão, em verdade todas as normas constitucionais têm uma eficácia 
plena, pois até mesmo as denominadas normas de eficácia limitada, que, conforme 
será visto, exigem uma regulamentação, e não deixam de ter certa aplicação quando 
do momento de sua feitura, vez que, em hipótese mínima, elas impedem que as 
normas infraconstitucionais as desrespeitem, bem como possibilitam a propositura da 
Ação de Inconstitucionalidade por Omissão e do Mandado de Injunção, conforme frisa 
o professor Ricardo Russel, citado anteriormente em folhas. 
 
3.1. NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA 
 
 São aquelas que estão aptas a produzir todos os efeitos almejados pelo 
constituinte, independente da elaboração de novas normas. 
Aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm a 
possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos 
interesses, comportamentos e situações que o legislador constituinte, direta 
e normativamente, quis regular. (MORAIS. 2014, p.11). 
Exemplo seria os remédios constitucionais, hipóteses de introdução de novos 
preceitos por emendas à Constituição ou ainda hipóteses do artigo 5 º da Constituição 
da República Federativa do Brasil. 
São as que receberam do constituinte normatividade suficiente à sua 
incidência imediata. Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da 
21 
 
Constituição, não necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação. 
Criam situações subjetivas de vantagens ou de vínculo, desde logo exigíveis, segundo 
Lenza (2014, p.252). 
Ricardo Russel, citado anteriormente em folhas, leciona que as normas de 
eficácia plena expressas no texto constitucional, para surtirem todos os seus efeitos 
jurídicos, não necessitam da produção de nenhuma outra norma que lhe dê 
efetividade, senão veja: 
[…] o texto constitucional não requer qualquer tipo de norma o 
regulamentando. Ele é aplicado de imediato, diz claramente quem exerce o 
poder legislativo no âmbito da União, o Congresso Nacional, e quem compõe 
esse último. Não remete a sua regulamentação a nada, nem ao poder 
legislativo, nem ao pode executivo Estabelece como deve ser feito, sem 
precisar de qualquer complementação e sem possibilitar que seja regulado 
de outra forma. 
A norma insculpida no caput do artigo 49 da Constituição Federal de 1988 
descreve que o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe 
da Câmara dos deputados e do Senado Federal, é classificada como norma de 
eficácia plena, pois basta apenas sua previsão constitucional para ter aplicação 
efetiva, sem precisar de regulamentação futura. 
Feitas as considerações sobre as normas de eficácia plena, segue a análise 
das normas de eficácia contida. 
 As normas constitucionais de eficácia contida são aquelas aptas a produção 
imediata de efeitos, porém, poderão, por atuação legislativa, sofrer restrições em sua 
aplicabilidade, como preceitua Alexandre de Morais na sua obra Direito Constitucional: 
Normas de eficácia contida são aquelas em que o legislador 
constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a 
determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte 
da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei 
estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados” (por 
exemplo: art. 5a, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício 
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei 
estabelecer). (2014, p. 11) 
O professor Ricardo Russel, citado antes, frisa o entendimento retirado da 
doutrina do professor e atual presidente do Brasil Michel Termer (TEMER, 1998, p. 
24), salientando que essa modalidade de normas se apresenta como de eficácia plena, 
contudo é suscetível de restrições através da atuação do Poder Público. 
 Ocorre que o entendimento do estudioso é divergente do salientado por 
Michel Temer, visto que, normas de eficácia restringível é a nomenclatura que se 
apresenta como mais adequada, porque tal como as normas de eficácia plena tem 
22 
 
aplicação imediata às normas de eficácia contida também têm, apesar de poderem 
sofrer limitações/restrições por parte do legislador infraconstitucional. 
Apresenta-se como sendo norma de eficácia contida preceito contido no artigo 
5º, inciso XIII da Constituição Federal de 1988, que assim dispõe, é livre o exercício 
de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a lei 
estabelecer. 
Nesse mesmo sentido, destacasse o artigo 170, parágrafo único, da 
Constituição Federal de 1988, que assim prescreve, é assegurado a todos o livre 
exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização dos 
órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. 
Evidencia-se que tais dispositivos apesar de terem aplicação imediata e 
integral, poderão sofrer futuras restrições/limitações por parte do Poder Público. 
Analisado as normas constitucionais de eficácia contida, segue a análise das 
normas de eficácia limitada. 
O professor Ricardo Russel, citado antes, ressalta que as normas 
classificadas como sendo de eficácia limitada não surtem os seus efeitos primordiais 
com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, são classificadas em duas 
categorias, normas programáticas e normas de princípio institutivo. As normas 
programáticas necessitam de atuação futura do Poder Executivo, Legislativo e do 
Judiciário para efetivarem os seus preceitos, e por esse motivo são classificadas como 
normas de eficácia limitada, veja: 
São aquelas que não produzem seus efeitos essenciais com a simples 
entrada em vigor da Constituição. São exemplos de normas de eficácia 
limitada: as normas programáticas e as normas definidoras de princípio 
institutivo ou organizativo. As normas programáticas possuem eficácia 
limitada e, por conseguinte, exigem determinada atuação dos órgãos estatais 
a fim de que os objetivos traçados pelo constituinte sejam alcançados. Essas 
normas são definidoras de princípios programáticos. Nesta modalidade de 
normas, o constituinte limitou-se a traçar diretrizes e princípios que deverão 
ser implementados pelos órgãos integrantes dos poderes constituídos 
(Legislativo, Executivo e Judiciário). São exemplos de programas a serem 
implantados pelo Poder Público: o combate ao analfabetismo, à realização 
da justiça social, a valorizaçãodo trabalho, o amparo à família, entre outros. 
A norma expressa no artigo 37, inciso VII da Constituição Federal de 1988, 
traz apenas a eventualidade de os servidores públicos se organizarem em 
movimentos paralisação, somente se surgir uma lei regulamentando o mencionado 
dispositivo, percebe-se que há tão somente a possibilidade de existência do direito de 
greve dessa categoria. As normas constitucionais de eficácia limitada apresentam o 
23 
 
risco de não poderem ser exercidos os direitos estampados na Constituição. Desse 
modo, podem ser utilizadas as ferramentas que defendem a efetivação dos direitos 
constitucionais, como por exemplo, a ação declaratória de inconstitucionalidade por 
omissão e o mandando de injunção, conforme ensina o professor Ricardo Russel, 
citado antes em folhas, abaixo colacionada: 
O dispositivo acima claramente impede a possibilidade dos servidores 
públicos de imediato realizarem greve, o que ela faz é trazer a possibilidade 
da existência desse direito, porém condicionado à existência de lei regulando 
a referida situação. O perigo desses tipos de normas é possibilidade de, 
durante certo espaço de tempo, não haver a possibilidade do exercício de 
determinados direitos previstos na Constituição. Assim, instrumentos como a 
Ação Declaratório de Inconstitucionalidade por Omissão e o Mandando de 
Injunção são remédios essenciais para a efetivação de direitos 
constitucionais. 
Nesse sentido, destaca-se a doutrina de Alexandre de Morais em sua obra 
Direito Constitucional (2014) que conceitua da seguinte forma: 
São aquelas que apresentam “aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, 
porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma 
normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade” (por exemplo: CF, 
art. 37, VII: o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos 
em lei específica. Essa previsão condiciona o exercício do direito de greve, 
no serviço público, à regulamentação legal. Ainda, podemos citar como 
exemplo o art. 7a, XI, da Constituição Federal, que prevê a participação dos 
empregados nos lucros, ou resultados da empresa, conforme definido em lei). 
(p.12). 
Referidas normas têm a menos eficácia jurídica imediata, direta e vinculante 
já que estabelecem um dever para o legislador ordinário, condicionam a legislação 
futura com a consequência de serem inconstitucionais as leis ou atos que as ferirem. 
Exemplo desse tipo de normas pode ser retirado do princípio da legalidade no 
artigo 7ª da Constituição Federal de 1988, e outro exemplo retirado do mesmo 
dispositivo é a proteção do mercado de trabalho da mulher. 
 
 
 
3.2. HISTÓRICO DA GREVE 
 
Neste subcapítulo será brevemente analisado o histórico do instituto da greve, 
desde suas primeiras manifestações até os dias atuais. 
Luciana Machado Teixeira Fabel, citada pelo Excelentíssimo Senhor Ministro 
do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, em sede de Recurso Extraordinário, autos 
24 
 
de nº 693.456, folhas quatro, ao manifestar o seu voto, fez uma análise histórica sobre 
o instituto da greve, que assim dispôs: 
A greve é uma das manifestações coletivas mais antigas e complexas 
produzidas pela sociedade. Sua primeira referência histórica, como se extrai 
dos livros, remonta ao Egito, no reinado de Ramsés III, no século XII a.C, no 
episódio conhecido como “pernas cruzadas”, quando os trabalhadores, por 
não terem recebido o que fora prometido pelo faraó, a isso se opuseram 
cruzando as pernas (FABEL, 2009, p. 39). (Grifo do autor). 
O instituto da greve foi uma forma que a sociedade encontrou para se 
manifestar contra o seu governante, por não ter sido efetivado o que fora prometido. 
Como acima destacado, o surgimento deste instituto remonta ao Egito, 
especificamente no século XII a. C, durante o reinado do Faraó Ramsés III, em que 
os trabalhadores se insurgiram cruzando as pernas, motivo pelo qual este episódio 
ficou conhecido como pernas cruzadas. 
Pedro Castro, citado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, 
nos autos do mencionado Recurso Extraordinário, em folhas 4 e 5, destaca: 
Já o surgimento do instituto da greve, nos moldes em que se apresenta 
atualmente, decorre do regime de trabalho assalariado, fruto da Revolução 
Industrial e da consolidação do modelo capitalista. Seu marco se deu em 
Paris, no século XVIII, com a reunião de trabalhadores na “Place de Grève” 
ou “Praça do Cascalho” (hoje denominada de Place de l'Hôtel de Ville). A 
expressão “grève”, inicialmente, representava o ato de permanência de 
desempregados no local, à procura de trabalho, mas, com o tempo, passou 
a significar a união dos operários que se insurgiam contra as condições de 
trabalho impostas pelos empregadores. Das paralisações das atividades, 
com o fim de protestar e revindicar melhores condições de trabalho, surgiu 
propriamente o termo greve, expressão repetida por socialistas como Pierre 
Joseph Proudhon e Karl Marx no final da primeira metade do século XIX 
(CASTRO, 1986). (Grifo do autor). 
O instituto da grave no modelo que hoje se apresenta, surge em razão do 
regime assalariado de trabalho e é fruto da Revolução Francesa, como também, da 
instituição do regime capitalista. Sua demarcação histórica remonta ao século XVIII, 
em Paris, com a reunião dos trabalhadores na “Place de Grève”, que hoje é conhecida 
como Place de l'Hôtel de Ville. 
A expressão greve, em um primeiro momento se apresentava como sendo a 
ocasião em que os desempregados permaneciam no local à procura de trabalho, 
porém em um segundo momento passou a representar a junção de trabalhadores 
contra as condições de trabalho que foram impostas pelos empregadores. 
Como acima destacado, em decorrência das paralisações das atividades, 
objetivando protestar e reivindicar melhores condições de trabalho apareceu o termo 
25 
 
greve expressão que foi repetida pelos socialistas Pierre Joseph Proudhon e Karl Marx 
no final da primeira metade do século XIX. 
Em termos bem simples, tal como conceitua Maria da Consolação Vegi da 
Conceição, que "a greve é um ato social que ocorre a partir do momento em que o 
Estado deixa de cumprir a sua obrigação de pacificador social. É um fenômeno que 
existe em decorrência das forças invisíveis de coerção social". 
A greve é um ato que a sociedade se utiliza no momento em que falha a 
função estatal de pacificação social, é uma coerção social por parte dos grevistas, 
partindo a partir de uma perspectiva sociológica. 
O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, em sede de Recurso 
Extraordinário, autos de nº 693.456, folhas 5, destaca que "no direito brasileiro, o 
instituto surgiu formalmente em meados do século XIX, a partir da massificação do 
trabalho assalariado". 
O Ministro cita o ensinamento de Marcelo Uchôa (2012, p. 250): “a primeira 
greve do país ocorreu em 1858, no Rio de Janeiro, quando os tipógrafos da capital 
imperial deram-se às mãos para protestar por melhoria salarial”. 
As primeiras manifestações da greve no Brasil se deu no período imperial, no 
ano de 1850, na cidade do Rio de Janeiro, posto que os trabalhadores reivindicavam 
melhores condições de salário. 
Maria da Consolação Vegi da Conceição, leciona que no Brasil a greve ficou 
entre a seara do lícito e do ilícito, a depender do momento político e social, senão veja: 
No Brasil, a greve oscilou entre ser um delito e um direito, 
dependendo do contexto político e social vivenciado na sociedade. Durante 
os anos de ditadura e restrições aos direitos, a greve foi repreendida. Em 
outros momentos de democracia, ela foi tolerada. Mas somente depois da 
Constituição Federal de 1988 é que a greve passou a ser um direito do 
trabalhador. O Código Penal de 1890 proibiaa greve no Brasil. Em 1932, a 
Lei nº 38 conceituou a greve como um delito. Na Constituição Federal de 1937, 
a greve ou lockout foram considerados recursos anti-sociais, nocivos ao 
trabalho e ao capital e incompatíveis com os interesses superiores da 
produção nacional. (Grifo do autor). 
No direito brasileiro o instituto da greve ficou entre a esfera do ilícito e do lícito, 
e por anos foi reprimida, subjugada pelo ordenamento da época. No período da 
ditadura militar em que a sociedade vivenciou uma época de suprimento dos seus 
direitos essenciais que surgem em razão da condição de ser humano, os movimentos 
paredistas eram cotados como movimentos que conspiravam contra o Estado, por 
isso a greve era censurada. 
26 
 
Durante o período de instabilidade da democracia os movimentos grevistas 
foram suportados. A legislação penal de 1890 tipificava a greve como um ilícito penal 
no Brasil. 
Destaca-se que a Lei nº 38 de 1932, que travava sobre os crimes contra a 
ordem política e social, estabelecia o significado da greve como crime. Já com a nova 
ordem jurídico-constitucional de 1937, os movimentos grevistas foram classificados 
como mecanismos de oposição a ordem social, sendo prejudicial para o trabalho e 
para o capital, como também, incompatíveis com os interesses da produção nacional. 
A consolidação do direito de greve como sendo um direito fundamental se deu 
somente depois da entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 que garantiu o 
direito de greve tanto para os trabalhadores da iniciativa privada, quanto para os 
servidores públicos e ampliou os direitos e garantias fundamentais. 
O Ministro Dias Toffoli, citado anteriormente em folhas, complementa frisando 
com o entendimento de Marcelo Uchôa (2012, p. 250): 
As Constituições de 1824, de 1891 e de 1934 não trouxeram sequer a 
previsão do instituto, sendo ele considerado apenas fato social. A primeira lei 
brasileira que tratou da greve foi o Código Penal de 1890, tipificando o 
instituto como crime e punindo o infrator com pena de detenção. Em 1930, foi 
criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio com a função de efetivar 
a política trabalhista do governo. No entanto, os avanços foram poucos na 
proteção dos direitos trabalhistas e a Lei nº 38/32, que dispunha sobre 
segurança nacional, proibiu o exercício da greve. 
Com as Constituições de 1824, 1891 e 1934, os movimentos grevistas eram 
classificados apenas como um acontecimento social sem relevância. Como visto 
anteriormente, a legislação penal de 1890 que foi a primeira legislação a dispor desse 
instituto tipificando a greve como um ilícito penal no Brasil, prevendo pena de detenção 
para o agente que descumprisse com a norma. Já no ano de 1930, com a Criação do 
Ministério do Trabalho que objetivava tornar real as políticas trabalhistas do governo, 
não teve muito progresso na proteção dos direitos dos trabalhadores. Com a entrada 
em vigor da Lei nº 38/32, que tratava sobre a segurança nacional, impediu as 
manifestações de movimentos paredistas. 
O Ministro Dias Toffoli leciona que desde 1979 surgiram vários movimentos 
paredistas no Brasil, e, com a entrada da nova ordem jurídico-constitucional de 1988 
o instituto da greve foi reconhecido como um direito social, um mecanismo 
democrático, sendo uma das formas de manifestação do exercício da cidadania, 
passando a significar a reivindicação do proletariado por melhores condições sociais, 
27 
 
o que ocorreu em razão das discussões da sociedade, frente a acareação entre o 
capital e o trabalho, veja: 
A partir de 1979, eclodiram movimentos grevistas. Com o tempo, após amplo 
debate na sociedade, diante de um vetusto confronto entre capital e trabalho, 
houve um reconhecimento formal no sentido de que a greve consistiria em 
forma legítima de manifestação dos interesses sociais da classe trabalhadora. 
Assim, um novo modelo de relação de trabalho foi implementado pela 
Constituição Federal de 1988, que reconheceu a greve como direito social, 
instrumento democrático a serviço da cidadania, entendida como reação 
pacífica e ordenada da classe trabalhadora para melhoria das condições 
sociais. 
As primeiras limitações ao direito de greve encontram-se na própria 
constituição, independentemente desse direito ser exercido pala iniciativa privada ou 
no serviço público. Seguindo, a ordem constitucional, a Lei 7.783/89, que 
regulamentou a greve no setor privado, corrobora algumas dessas restrições. Está 
expressamente previsto no artigo 6º, § 1º que nem empregados nem empregadores 
poderão usar meios que violem ou constranjam os direitos e garantias fundamentais 
inseridos na Constituição. 
Analisado o histórico da greve, segue para o tema agentes públicos. 
 
3.3 AGENTES PÚBLICOS 
 
Neste subcapítulo será estudado os agentes públicos destacando sua 
classificação, forma de ingresso no serviço público e o seu regime jurídico-
administrativo (estatutário). Antes de ser analisado o direito de greve dos servidores 
públicos, se faz necessário um prévio estudo do conceito e classificações dos agentes 
públicos. 
Marcus Bittencourt (2010, p. 63), conceitua agente público como "toda pessoa 
física que exerce função pública, de forma permanente ou temporária, com ou sem 
remuneração". 
De maneira didática, o teórico classifica os agentes públicos da seguinte 
forma, agentes políticos, servidores públicos e particulares no exercício de função 
pública. 
São agentes políticos todas as autoridades que atuem com independência 
funcional, a título de exemplo os agentes ocupantes de cargos junto aos poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário (governador, deputado, juiz), estes agentes 
desempenham suas funções de forma independente, são investidos de prerrogativas 
28 
 
e responsabilidades estampadas na constituição Federal e em leis especiais. 
(BITTENCOURT, 2010, p. 63). 
Já os servidores públicos são pessoas físicas que compõem os quadros da 
Administração Pública, mediante relação profissional, recebendo remuneração direta 
do Estado. 
Englobam os servidores ocupantes de cargo público (regime estatutário); 
emprego público (são admitidos na maioria das vezes, sob o regime celetista); 
temporários (previsto no artigo 37, IX da Constituição Federal, estes servidores 
admitidos por tempo determinado para atender temporária necessidade do interesse 
público, sem necessidade de estar vinculado a cargo ou emprego público); e por fim, 
os militares (subordinados a disciplina própria diferente do regime estatuário e 
trabalhista). (BITTENCOURT, 2010, p. 64). 
Os particulares no exercício de função pública, neste instituto não há 
nenhuma relação profissional direta entre o Poder Público e o particular. O teórico 
ensina que nesta modalidade o exercício nasce em razão de delegação do Poder 
Público (execução de serviços notariais e de registro) ou por meio de designação de 
cidadãos para o exercício de função pública (exercício da função de jurado no Tribunal 
do Júri ou mesário em período eleitoral), e também, nos casos de emergência em que 
o cidadão manifesta a vontade de exercer função pública (epidemia). (BITTENCOURT, 
2010, p. 64). 
O teórico leciona que o termo servidor público é bem amplo, alcançando todos 
àqueles que mantêm uma ligação com a Administração Pública, através de cargo, 
emprego ou função, englobando até mesmo os contratados em situações 
excepcionais previstas na Constituição Federal, qual não ocuparão cargo ou função 
pública. (BITTENCOURT, 2010, p. 65). 
As expressões cargo público e emprego público representam o emaranhado 
de responsabilidades e atribuições insculpidas na legislação, aplicadas a servidor 
público, fazendo distinção ao tipo de vínculo que liga o servidor ao Estado,por 
exemplo, os ocupantes de empregos públicos são contratados pelo regime celetista, 
diferentemente dos que ocupam cargos públicos que são regidos pelo regime 
estatutário. 
Com relação aos que exercem função pública, esta é exercida de forma 
residual, uma vez que, suas atribuições são os resíduos que não são atribuídos nem 
29 
 
a cargo e nem a emprego, cita-se novamente como exemplo, os contratados 
temporariamente. 
O agente público se vincula ao Estado através do ato de provimento ou 
investidura, que pode ser da seguinte forma: administrativa (se dá por meio de 
nomeação ou contratação), política (através de eleição), originária (vincula o agente 
pela primeira vez, tanto por contratação, como por nomeação), derivada (já existe 
vínculo entre o servidor e a Administração Pública, nos casos de reintegração ou 
promoção), vitalícia (a perda do cargo somente se opera por meio de decisão judicial 
transitada em julgado), efetivo (precisa ser aprovado em concurso público e somente 
se adquire a estabilidade após o período de três anos de estágio probatório), em 
comissão (não possui estabilidade, visto que pode ser tanto, livremente nomeado, 
quanto exonerado, dado o seu caráter precário. A Constituição Federal no artigo 37, 
inciso V, reza que os cargos em comissão e as funções de confiança destinam-se 
apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento). (BITTENCOURT, 2010, 
p. 67 a 69). 
Feito o estudo do conceito e das classificações dos agentes públicos, passa-
se para análise do princípio da continuidade dos serviços públicos. 
 
3.4. CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS 
 
O artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988 apresenta alguns 
princípios que a Administração Pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem minunciosamente 
observar, como por exemplo, princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência. Esse rol de princípios é meramente exemplificativo podendo 
a legislação ordinária estabelecer parâmetros a serem observados pela Administração 
Pública. 
Durante os movimentos grevistas a Administração Pública e os servidores 
devem observar os princípios constitucionais e os parâmetros legais sob pena desses 
atos serem declarados ilegais. 
A Lei nº 7.783/89, regulamenta o artigo 9º da Constituição Federal de 1988 
que disciplina o direito de greve dos trabalhadores da iniciativa privada assegura o 
direito de greve aos trabalhadores, cabendo a essa categoria decidir sobre o momento 
30 
 
adequado de exercer esse direito, defendendo os seus interesses. Já o parágrafo 
primeiro preconiza que será disciplinado por meio de lei os serviços públicos cotados 
como essenciais, e também, tratará sobre como será realizado o atendimento dos 
serviços de urgência da comunidade. E todos os excessos cometidos no período de 
greve serão os autores inteiramente responsáveis pôr os atos praticados, veja: 
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir 
sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio 
dele defender. 
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o 
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. 
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. 
A Suprema Corte entendeu que para que fosse possível a aplicação 
mencionada no artigo 9º, caput, da Lei nº 7.783/89 para ser aplicado para os 
servidores públicos, se fez necessário a modulação desse artigo, veja: 
Art. 9º. Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante 
acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá 
em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar a regular 
continuidade da prestação do serviço público. (Grifo Nosso). 
Observa-se que, o Supremo Tribunal Federal fazendo um juízo de 
ponderação diante da colisão do direito fundamental dos servidores à greve, frente ao 
princípio da continuidade dos serviços públicos, destacou que durante o período de 
greve, o sindicato dos servidores ou a comissão responsável pelas negociações com 
a entidade patronal, através de mutuo acordo, deverão manter uma equipe de 
servidores a fim de garantir a devida continuidade da prestação dos serviços públicos. 
O Supremo Tribunal Federal também modulou o enunciado do artigo 14, caput, 
da Lei nº 7.783/89, que assim dispõe: 
Art. 14. Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas 
contidas na presente Lei, em especial o comprometimento da regular 
continuidade da prestação do serviço público, bem como com a manutenção 
da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da 
Justiça do Trabalho. (Grifo Nosso). 
A Corte entendeu que configura abuso do direito de greve quando os 
servidores grevistas deixam de observar as regras estabelecidas na mencionada lei, 
frisando como peculiaridade a continuidade da prestação dos serviços públicos. 
O Ministro Dias Toffoli citado anteriormente, cita os ensinamentos do 
administrativista francês Gaston Jèze (1909, p. 500), veja: 
O pressuposto de existência do serviço público é a garantia do atendimento 
às necessidades inadiáveis dos administrados, pois indispensável à 
concretização e ao desenvolvimento social. Daí a afirmação do 
administrativista francês Gaston Jèze no sentido de que greve e serviço 
público são institutos destoantes, causando a paralisação incalculáveis 
prejuízos à sociedade. 
31 
 
O Ministro ensina que a recepção das necessidades essenciais dos 
administrados pela Administração Pública é o que justifica a existência dos serviços 
públicos, uma vez que, isso é fundamental para a realização e crescimento da 
sociedade. Por esse motivo, o Ministro enfatiza o entendimento do administrativista 
francês Gaston Jèze, que leciona que o instituto da greve é totalmente distinto do 
serviço público, pois a interrupção do serviço público provoca graves danos para a 
sociedade e o Estado. 
O Ministro ainda destaca os parâmetros a serem observados quando da 
deflagração da greve pelos servidores públicos, abaixo colacionado: 
Destarte, são requisitos para a deflagração de uma greve no serviço público: 
i) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica; ii) frustração ou 
impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda comum; iii) 
deflagração após decisão assemblear; iv) comunicação aos interessados, no 
caso, ao ente da Administração Pública a que a categoria se encontre 
vinculada e à população, com antecedência mínima de 72 horas (uma vez 
que todo serviço público é atividade essencial); v) adesão ao movimento por 
meios pacíficos; e vi) a garantia de prestação dos serviços indispensáveis ao 
atendimento das necessidades dos administrados - usuários ou destinatários 
dos serviços - e à sociedade. 
Para que seja deflagrado o movimento paredista no serviço público deve-se 
observar alguns requisitos, como a tentativa prévia de negociação com o Estado 
Patrão; impossibilidade de negociação ou de agendar uma data e horário para debate; 
a declaração da greve somente pode acontecer após a decisão da assembleia geral 
de greve ou entidade responsável; em razão do serviço público ser essencial para a 
sociedade o ente da Administração Pública deve ser comunicado com antecedência 
mínima de 72 horas; os servidores públicos devem aderir ao movimento grevista 
pacificamente; tem que ser garantido aos administrados a prestação dos serviços 
públicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
4. DIREITO DE GREVE, PREVISÃO CONSTITUCIONAL, DIREITO DE GREVE DOS 
SERVIDORES PÚBLICOS, APLICABILIDADE DO DIREITO DE GREVE DOS 
SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIODO ESTADO DO PIAUÍ 
 
Neste capítulo será visto o direito de greve dos servidores públicos civis, sua 
previsão no sistema jurídico-constitucional, a aplicabilidade desse direito no tocante 
aos servidores do Poder Judiciário do Estado do Piauí. 
 
4.1. DIREITO DE GREVE 
 
Ao tratar do tema direito de greve do servidor público brasileiro Cid 
Capobiango Soares de Moura destaca o enunciado do artigo 37, inciso VII da 
Constituição Federal de 1988, que garantiu o exercício do direito de greve pelos 
agentes públicos civis, a ser regulamentado mediante lei específica, ou seja, uma lei 
infraconstitucional. 
O mencionado teórico ainda complementa, ao analisar o entendimento do 
Supremo Tribunal Federal que a mencionada lei específica que visa regulamentar o 
exercício do direito de greve está pendente de elaboração, senão veja: 
Contudo esta lei nunca foi elaborada. Por conseguinte, a conclusão inicial – 
inclusive do STF – foi a de que o exercício do direito de greve pelos 
funcionários públicos carecia de regulamentação. Sendo assim, diversas 
greves foram declaradas inconstitucionais no Brasil. 
Ante a ausência de norma regulamentadora do exercício do direito de greve 
dos servidores públicos que vários movimentos grevistas foram declarados 
inconstitucionais no Brasil, segundo o entendimento de que tais movimentos não 
guardavam compatibilidade com a Constituição Federal de 1988, uma vez que, a 
constituição garantiu o exercício deste direito, mas não especificou como se 
procederia ao seu exercício. 
 
4.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL 
 
De acordo com os ensinamentos de Vitória dos Santos Lima Queiroga, 
extraído de uma de suas obras científicas, intitulada, aspectos doutrinários e 
jurisprudenciais acerca da greve do servidor público: uma análise da decisão do STF 
ao suprir a omissão do legislativo, entende que com a promulgação da Constituição 
33 
 
Federal de 1988 o poder constituinte originário reservou o tema tratado na norma 
contida no art. 37, VII, para o legislador ordinário criar a lei específica disciplinado 
aquela norma, pelo fato de o direito de greve deve harmonizar-se com os princípios 
que regem a Administração Pública, veja: 
O legislador constituinte de 1988 deixou o legislador ordinário incumbido de 
regulamentar o inciso VII do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, devido 
à necessidade de conciliar o direito de greve com os princípios da 
Administração Pública. Coube, portanto, ao Congresso Nacional editar lei 
complementar (conforme a redação original do dispositivo) e, posteriormente, 
lei específica (como determinou a EC n. 19/98), restando claro que tanto o 
legislador constituinte, assim como o reformador diferenciaram o direito de 
greve dos trabalhadores privados, do direito de greve do servidor público. 
Ficou a cargo do Congresso Nacional a edição da lei específica que discipline 
o direito de greve dos servidores públicos. O Poder Constituinte originário e o 
reformador deram tratamento diferente entre os servidores públicos dos trabalhadores 
da iniciativa privada. 
A estudiosa ainda complementa que o Poder Legislativo descumpriu com o 
mandamento constitucional de editar lei específica disciplinada o direito de greve no 
setor público constituindo-se em mora e em face disso ocasionou problemas sociais, 
como vários movimentos grevistas declarados que duraram meses ocasionando 
enorme prejuízo à economia: 
Descumprindo o que fora determinado pela Constituição Federal de 1988, o 
Poder Legislativo não só se constituiu em mora, como sua omissão gerou uma 
problemática social, haja vista que os movimentos grevistas deflagrados, 
perduram, não raro, por meses, causando imenso prejuízo à economia. 
Embora o Supremo Tribunal Federal em várias decisões em sede de 
mandado de injunção e ação declaratória de inconstitucionalidade por omissão 
declarou a omissão do Congresso Nacional na edição de lei que regulamente o direito 
de greve do servidor público, entendendo que o projeto de lei que discipline esse 
assunto seria de iniciativa do Poder Legislativo, porém, deve ser analisada a textura 
do artigo 61, §1º, II, c, da Constituição Federal de 1988, que dispõe ser de iniciativa 
privativa do Presidente da República as leis que disponham sobre servidores públicos 
da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e 
aposentadoria. 
A teórica ainda cita as ideias de Ives Gandra Martins, que inconformada, 
explica se tiver levado a debate nos Tribunais o tema do direito de greve dos 
servidores públicos, entretanto, não se tem discutido sobre o direito da sociedade 
receber uma excelente prestação dos serviços públicos, pois ela é quem suporta e 
34 
 
arca com a mais elevada tributação dos países em desenvolvimento, senão veja: 
Tem-se falado muito, nos Tribunais, em direito dos servidores. Infelizmente, 
não se tem falado no direito da sociedade de receber serviços públicos, 
principalmente quando paga a mais alta carga tributária dos países 
emergentes em todo o mundo. 
Em razão disso, a própria sociedade, por sofrer com a alta carga tributária 
imposta não necessariamente apoia a greve no setor público. 
O direito de greve do servidor público está localizado na Constituição Federal 
de 1988, no Título II, que trouxe o gênero DOS DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS, do qual derivam as seguintes espécies, quais sejam, a) DIREITOS 
INDIVIDUAIS E COLETIVOS, b) DIREITOS SOCIAIS (artigo 7º a 11, onde se encontra 
o direito à greve), c) DIREITOS À NACIONALIDADE (artigo 12) e os d) DIREITOS 
POLÍTICOS (artigo 14 a 17). 
Vitória dos Santos, citada antes, leciona que o direito de greve é consagrado 
como um direito fundamental e que a Constituição reza pelo direito à igualdade, 
poderia ser indagado que não poderia haver distinção entre os trabalhadores da seara 
privada e os da seara pública, porém, o princípio da igualdade deve ser analisado com 
ponderação, uma vez que a constituição poderá tratar em sentido oposto, veja: 
Visto que o direito de greve é um direito fundamental, e que a Constituição 
preconiza o direito à igualdade, poder-se-ia argumentar que o direito de greve 
não permite distinção entre o trabalhador do setor privado e o do setor público. 
Contudo, o princípio da igualdade deve ser visto com cautela, pois a 
constituição pode dispor em contrário. 
Nesse sentido, destaca-se a doutrina de Celso Antônio Bandeira de Melo 
(2015, p. 57) que ensina os parâmetros pelos quais devem ser utilizados pelo 
intérprete quando da aplicação da norma sem prejudicar os preceitos constitucionais: 
a) Que a desequiparação não atinja de modo atual e absolutamente um só 
indivíduo; 
b) Que as situações ou pessoas desequiparadas pela regra de direito sejam 
efetivamente distintas entre si, vale dizer, possuam características, traços, 
nelas residentes, diferenciados; 
c) Que exista, em abstrato, uma correlação lógica entre os fatores diferenciais 
existentes e a distinção de regime jurídico em função deles, estabelecida pela 
norma jurídica; 
d) Que, in concreto, o vínculo de correlação supra-referido, seja pertinente 
em função dos interesses constitucionalmente protegidos, isto é, resulte em 
diferenciação de tratamento jurídico fundamentada em razão valiosa - ao 
lume do texto constitucional- para o bem público. 
Vitória dos Santos, citada antes, ensina que a greve na seara pública é diversa 
da seara privada, pois não é respeitado apenas um único servidor, mas a categoria 
como um todo. Os servidores públicos têm particularidades diversas dos 
trabalhadores do setor privado. Além disso, o ordenamento jurídico prevê um regime 
35 
 
jurídico diferente entre servidor público e empregado, com base no princípio da 
supremacia do interesse público,

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