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1 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Alfabetização e Letramento Na Educação Infantil Módulo II 2 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Conteúdo Programático 4. Decodificação e codificação gráfica 5. Analfabetismo e alfabetismo funcional 6. Métodos de alfabetização 7. O construtivismo e a desmetodização 8. Concepções de alfabetização e letramento 3 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. 4. Decodificação e codificação gráfica Após as pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosk sobre a psicogênese da língua escrita, ficou claro que a capacidade de ler e escrever não depende exclusivamente da habilidade que o alfabetizando apresente de “somar pedaços de escrita”, e sim, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade. Fonte: blog.educacional.com.br Magda Soares diz que, num sentido amplo, o que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita é o processo de um sujeito entrar nesse mundo, o que ocorre basicamente por duas vias: uma, por meio do aprendizado de uma técnica, ou seja, quando o educando aprende a ler e a escrever relacionando sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar e decodificar. Esta via prioriza o domínio do código convencional da leitura e da escrita, com base na teoria empirista, que historicamente é a que mais tem influenciado as representações sobre o ato de ensinar e o de aprender, expressando-se em um modelo de aprendizagem conhecido como de “estímulo-resposta”. Decorrentes da proposta didática de alfabetização por meio da aquisição de uma técnica (tradicional), estão concepções como a de que ler é aprender a identificar letras, sílabas, palavras e frases para depois conseguir decifrar curtos e simples textos escolares específicos; ler, no período da alfabetização, consiste em codificar e decodificar letras e sons; o aluno só consegue ler depois de dominar a técnica da leitura e da escrita, quando, então, passa a ter contato com textos reais e com a linguagem utilizada cotidianamente; o 4 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. alfabetizando precisa memorizar e fixar informações, das mais simples para as mais complexas, que se vão sobrepondo e acumulando na composição das palavras, que têm um fim em si mesmas; o planejamento não precisa ser flexível, podendo o professor utilizar o mesmo em todos os anos e em qualquer classe, que deve ser homogênea para facilitar o trabalho do docente, detentor do conhecimento, que corrige rigorosamente todas as atividades, a fim de evitar que o erro seja fixado. Isso pode ser constatado através das tradicionais cartilhas, que na grande maioria utilizam a silabação, embora proclamem lançar mão do método misto. Partem da memorização das vogais, que se combinam com cada consoante, no estudo das famílias silábicas. Tais instrumentos enfatizam uma concepção de língua escrita como transcrição da fala, apresentando textos construídos com a finalidade de tornar clara essa relação. Fonte: silvanapsicopedagoga.blogspot.com Ao alfabetizar o aluno com embasamento no método tradicional, valoriza-se o produto final do ato de ler e escrever, entendendo-o como decorrente da aquisição de habilidades como, aprender a técnica, desenvolver a coordenação motora, discriminação visual, o uso de lápis, do papel, etc. , o que gera ênfase primordial na automação da escrita para, numa segunda etapa, voltar-se para a compreensão ou interpretação do texto, em detrimento ao processo de construção da língua escrita pelos alunos. É centrado no professor e valoriza a cópia, podendo conduzir muitos alunos ao analfabetismo funcional. Neste processo, é prioridade a mecanização e memorização da escrita, caracterizando crianças que realizam somente a codificação e/ou a decodificação das sílabas mais trabalhadas em sala de aula e não são capazes de construir novas palavras a partir destas mesmas sílabas, nem de utilizá-las 5 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. em textos diversos. Tal abordagem vê a língua como pura fonologia, apresentando à criança textos não estruturados, que não passam de um agregado de palavras desconectadas, sem coerência e coesão. Dessa forma, podem até reconhecer essas sílabas e palavras-chave exaustivamente repetidas em sala de aula, mas não conseguem formar novas palavras juntando tais sílabas, nem escrever frases contextualizadas com essas palavras. Com frequência, muitas crianças decoram todo o alfabeto, mas não conseguem ler sílaba nem palavra; sílabas que, por ventura, conseguiram decorar para leitura não conseguem escrever no ditado, nem reconhecer em outros contextos; podem, até, conseguir fazer cópias, mas não conseguem escrever as mesmas palavras quando são ditadas. São as crianças copistas, que sofrem muito com sua própria situação. Há as que escrevem precariamente algumas palavras-chave e famílias silábicas, usadas exaustivamente, mas não leem. Fonte: abreucadena.zip.net E como são muito cobradas, tendem a desenvolver baixa autoestima e alguns bloqueios, pois adentram à escola com muitas expectativas, que não são correspondidas, o que pode levá-las a se sentirem desmotivadas, principalmente em função dos exercícios descontextualizados e da cobrança da memorização, com o que fica-lhes muito mais difícil alfabetizar-se. Com o método sintético, a criança é um aprendiz que vai juntando informações; que aprende uma família silábica após a outra se supondo que, em dado momento no decorrer desse caminho, tenha um insight e compreenda 6 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. a relação entre todas essas sílabas, fazendo uma síntese a partir de uma determinada quantidade de informações. Pode aprender a escrever, porém não a expressar-se com desinibição e espontaneidade, pois, inclusive pela falta de contextualização, sua visão de mundo tende a limitar-se ao discurso escolar; é como se a leitura e a escrita fossem atividades restritas ao ambiente escolar: leem e escrevem as palavras que o professor ensina. A criança é levada a construir seu conhecimento da língua escrita em um sistema gráfico de representação da linguagem oral, e faz do ato de ler e escrever apenas uma codificação e decodificação. É uma alfabetização artificial e mecânica dificultando a sua compreensão, pois não tem a ver com tudo que vivencia em seu cotidiano: o educando faz cópias de conteúdos não contextualizados e sem significado para a sua vida. A outra via, construtivista, consiste em desenvolver as práticas de uso da língua escrita, considerando que não adianta aprender uma técnica e não saber usá-la. Os dois processos devem ser simultâneos e interdependentes, pois aprender a técnica da leitura e da escrita não é pré-requisito para utilizar tais capacidades nas atividades cotidianas. Fonte: moodle.plataformaeduc.com.br O professor que atua com postura construtivista valoriza um ambiente alfabetizador, que facilite a interação do educando com os mais diversos tipos de textos, dentro de um clima de liberdade para participar das propostas e construir o ato de ler e de escrever. Considera que ler é atribuir significado, o 7 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. que ocorre pelo uso de estratégias de leitura (de decodificação, seleção, antecipação, inferência e verificação) a partir do conhecimento prévio e dos índices fornecidos pelo texto. Fonte: tania-educainfantil.blogspot.com Procura trazer para a sala de aula tudo que possa motivar a criança, despertar sua curiosidade e o desejo de ler, utilizando a decodificação possível naquele momento, como identificar a letra inicial, final ou as intermediárias para antecipar o significado da escrita de, por exemplo, painéis contextualizados, receitas, rótulos de produtos bem conhecidos, que auxiliarão na produção de textos individuais e coletivos, pois considera que é possível ler quando ainda não se sabe ler convencionalmente, e que é dessa forma que se pode aprender, tratando os alunos como leitores, desde sua entrada na escola. Nas oportunidades de interação com textos reais, mesmo sem saber ler convencionalmente, os alunos poderão questionar, explorar e confrontar suas hipóteses, registrando suas próprias escritas. A correspondência letra-som é um conteúdo fundamental, mas apenas um dos inúmeros conteúdos que a criança precisa, necessariamente, dominar na aquisição progressiva da linguagem escrita. Considera-se a alfabetização uma parte constituinte da prática da leitura e da escrita, onde, na interação com os textos, a criança constrói o seu conhecimento, as hipóteses a respeito da escrita e, dessa forma, progressivamente aprende a ler e a escrever, compreendendo as relações que existem entre fonemas e grafemas, codificando e decodificando, pois a alfabetização acontece como resultado da reflexão sobre as características e regularidades da escrita, sendo a palavra um meio para isso. 8 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. O construtivismo coloca em evidência as hipóteses que as crianças formulam, testam, reorganizam, assimilam, acomodam e formam novas hipóteses até adquirirem a forma convencional da língua escrita. Há uma leitura sequencial com conteúdo significativo, de modo que a criança vê a escrita como um objeto social. A proposta construtivista busca uma alfabetização com compreensão, construída pouco a pouco, respeitando a compreensão dos meios que a criança utiliza para representar a construção do seu conhecimento sobre a língua escrita. Deixa o aluno livre para criar suas próprias hipóteses, valorizando-o como construtor do seu conhecimento e sujeito de sua aprendizagem. Para tanto, o planejamento deve ser elaborado em função de uma classe real, necessitando de retomadas e reorganizações, não podendo ser reutilizado na íntegra, de um ano para outro e de uma classe para outra, pois estas devem ser heterogêneas, sendo benéfico para os alunos interagirem com colegas de diferentes níveis de conhecimento, o que favorece o trabalho do professor, uma vez que, quando os alunos aprendem uns com os outros, o educador tem maior liberação para atender os educandos mais necessitados de sua intervenção pedagógica. Fonte: blogger.com Repetindo, tais diferenças ficam evidentes, sobretudo porque, para o método tradicional, todos aprendem da mesma forma, em classes homogêneas, descartando os conhecimentos prévios que a criança trouxe de seu ambiente social. Ela é ensinada mecanicamente, utilizando-se de sua 9 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. memória sem lhe dar oportunidade de pensar sobre a escrita e construí-la. Já numa abordagem construtivista, todo processo de elaboração é respeitado e é a partir dele que o professor vai estimular e intervir para que o aluno se desenvolva e se aproprie da leitura e da escrita. Nesse processo, são apresentados à criança diversos textos que irão auxiliá-la, e ela será capaz de produzir narrativas e demais textos que não são apenas frases soltas, justapostas, mas que terão um sentido e uma ligação entre si. Percebe-se que o aluno consegue realmente escrever uma história com princípio, meio e fim, rica de vocabulário e imaginação. Neste caso, a criança foi estimulada diariamente em sala de aula, com textos elaborados. O professor construtivista acredita que cada aluno aprende no seu tempo e de acordo com suas diferenças. Isso o estimula a ser mais dinâmico, procurando sempre diversificar sua ação pedagógica para atender todas as diferenças. Embasado pela teoria construtivista, o professor criará situações que possibilitem aos alunos a vivência dos usos sociais que se faz da escrita, possibilitando-lhes ouvir a leitura e atentar às características dos diferentes gêneros textuais, bem como a linguagem compatível com diferentes contextos comunicativos, participando de situações sociais nas quais os textos reais são utilizados, pensando sobre seus usos, características e funcionamento, além do sistema alfabético, pelo qual a língua é grafada. Fonte: atividadesalfabetizacao.blogspot.com Assim, acreditar que o que mobiliza a aprendizagem é o esforço do sujeito com vistas a dar sentido às informações que estão disponíveis, como fazem os construtivistas, é bem diferente de acreditar que o educando 10 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. permanece passivo introjetando as informações que lhe são oferecidas e da maneira como são oferecidas, de acordo com concepções empiristas. O professor que questiona a eficácia do uso de cartilhas, do método tradicional, dos materiais excessivamente estruturantes utilizados, frequentemente, percebe que é preciso fazer mudanças. Nesse momento é fundamental estar atento para compreender que o construtivismo constitui uma teoria muito complexa, que possibilita saber quais passos a criança, em sua interação com a escrita, dá numa direção que lhe permite descobrir que escrever é registrar sons e não coisas. Depois que passa pela fase silábica, vai perceber o som do fonema, até o momento em que se tornará alfabética. Nesse momento, a criança deverá apropriar-se do sistema alfabético e do sistema ortográfico da escrita, que são sistemas constituídos de regras convencionais, as quais ela tem de aprender. E isso não ocorre de maneira espontaneísta; melhor ainda, a intervenção do professor é determinante neste processo: ele tem que definir e propor atividades; acompanhar o desempenho de cada aluno, encorajando-o, explicando, interpretando a sua escrita, auxiliando-o a perceber onde está o erro, auxiliando-o a avançar. Cabe-lhe observar a ação dos alunos, acolher ou problematizar suas produções, intervir a cada momento que julgar que pode colaborar para o avanço da sua reflexão sobre a escrita, pois realmente o alfabetizando tem que passar por um processo sistemático e progressivo de aprendizagem desse sistema, evoluindo com a ação compromissada e coerente do professor. Com finalidade didática, procuramos registrar lado a lado aspectos significativos de cada uma destas concepções de alfabetização: Tradicional, com silabário Construtivista, com textos - Valoriza o produto final do ato de ler e escrever. - Entende alfabetização como compreensão do modo de construir conhecimento. - A concepção de ensino e aprendizagem pressupõe que a alfabetização é um processo cumulativo: agregam-se conhecimentos, passando pouco a pouco do simples (letras e sílabas) ao complexo (palavras e texto). - A concepção de ensino e aprendizagem pressupõe que a alfabetização é um processo de construção conceitual, apoiando na reflexão sobre as características e funcionamento da escrita: pouco a pouco o educando compreende as regularidades que caracterizam a escrita. 11 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. - Exercícios repetitivos de coordenação motora, discriminação visual e auditiva, localização espaço-temporal, etc. - Entende alfabetização como compreensão dos meios que a criança utiliza para representar a construção do seu conhecimento sobre a língua escrita. - O modelo de ensino apoia-se na capacidade do sujeito de associar estímulos e respostas, repetindo, memorizando e fixando na memória; a escrita é algo a ser decifrado. - O modelo de ensino apoia-se na capacidade do sujeito refletir, inferir, estabelecer relações, processar e compreender informações transformando-as em conhecimento próprio. A criança compreende a função social da escrita. - Parte-se da crença de que seja fácil para o educando aprender primeiro, havendo falsa suposição sobre o que é fácil e difícil de aprender. - Parte-se do que os alunos pensam e sabem sobre a escrita, e isto possibilita que a aprendizagem seja significativa. - A criança é copista, não conseguindo construir um texto elaborado, e sim com frases soltas, repetitivas. - O aluno elabora o texto de acordo com sua visão de mundo, de forma criativa, expondo suas ideias. - Tudo vem pronto para ser copiado. São utilizados textos artificiais para ensinar a ler e a escrever. - Os textos são desenvolvidos pelos alunos, conforme sua linha de raciocínio. São textos reais, considerados como o local onde se aprende a ler e escrever, bem como se reflete sobre as regularidades da escrita. - A informação deve ser oferecida da forma mais simples possível, uma de cada vez, para não confundir aquele que aprende. - O aprendiz é um sujeito, protagonista do seu próprio processo de aprendizagem. É fundamental que o alfabetizador conheça cada uma dessas vias para identificar as respectivas consequências, pois cada concepção orienta práticas pedagógicas diferentes, sendo diferentes, também, os resultados alcançados. Ao adotar a metodologia de alfabetização, definirá também suas atitudes e posturas em sala de aula, bem como os materiais que utilizará, priorizando as competências e habilidades a serem construídas pelos alunos. Embasado pelo conhecimento da teoria, o professor atuará de forma coerente quanto à compreensão dos processos de ensino-aprendizagem, à concepção de língua escrita por parte de cada um de seus alunos, bem como a escolha crítica do material a ser utilizado em sala de aula, correlacionando-o à realidade dos alunos, num esforço para orientar sistemática e progressivamente sua apropriação do sistema de escrita. 12 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Para tanto, é essencial o planejamento e a organização do trabalho em torno da alfabetização, a fim de promover situações motivadoras e a partir delas realizar uma intervenção adequada. Sua decisão depende de sua visão de homem, de mundo, de educação. Fonte: pedagogiaaopedaletra.com Assim, decidir se vai ou não utilizar a escrita socialmente, permitindo ao aluno construir seu próprio conhecimento; que tipo de criança quer formar: mais criativa, questionadora, com melhor entendimento de expressão escrita e leitura, ou que simplesmente reproduza os fonemas e grafemas ensinados? Que a aprendizagem da escrita ocorra de modo dinâmico, interessante, com crianças engajadas na construção do próprio conhecimento, orientadas por um professor que lhes facilita a ação de conhecer o mundo, ou ocorra de modo mecânico, sistemático e previamente determinado pela cartilha? A afirmação de que o comportamento linguístico revela a inteligência superior do homem pode ser considerada de três maneiras. Pode ser as coisas que dizemos: nossas palavras dão indícios de nossos pensamentos, e a correção e criatividade de nossos pensamentos mostram o quão inteligente somos. Pode-se sustentar também que, sem comunicação linguística não haveria literatura, ciência, lei, em suma, nenhum acúmulo de conhecimento, seja ele teórico ou prático. Ora, a transmissão cultura do conhecimento sem dúvida contribuem bastante para o desenvolvimento da inteligência individual. De acordo com algumas argumentações, nada melhor para estabelecer nossa inteligência do que a própria existência da comunicação verbal, não importa o que seja dito. Como argumentou Descartes, mesmo pessoas 13 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. desprovidas de razão dizendo coisas insensatas exibem uma forma de inteligência que nenhum outro animal possui. A própria ambiguidade da palavra "entendimento" significando ao mesmo tempo inteligência e compreensão é, nesse aspecto, bastante expressiva. Essa visão de relação entre linguagem e inteligência, contudo, não se ajusta muito bem a uma outra visão mais comum, segundo a qual a comunicação verbal é uma questão de codificação e decodificação. Pois, são a codificação e a decodificação verdadeiras atividades inteligentes? ► Codificação e seus limites O que fazemos quando nos comunicamos? Que habilidade cognitiva exibimos nessa ocasião? A visão comum é que a comunicação é possível apenas se os interlocutores compartilham um código. Uma língua como o inglês é vista como um código complexo. Seja simples ou complexo, um código é um mecanismo que gera pares constituídos de uma mensagem e um sinal: o código Morse, por exemplo, emparelha cada letra do alfabeto com uma série de sinais sonoros curtos ou longos; uma língua emparelha sentidos e sons linguísticos. O emparelhamento de mensagens e sinais gerados pelo código pode ser posto em funcionamento em dois tipos de mecanismos: codificadores e decodificadores. Humanos podem realizar as duas tarefas, como codificadores de sentidos linguísticos e como decodificadores de som linguístico, e é assim que prosseguem a argumentação e se comunicam entre si. Falhas de comunicação ocorrem quando a codificação ou decodificação não é feita de maneira apropriada, ou quando um ruído prejudica o sinal sonoro, ou, o que pe mais significativo, quando os códigos dos interlocutores não estão adequadamente reproduzidos. Em caso contrário, uma tal comunicação baseada em códigos deve fluir sem maiores problemas. Esta é uma explicação simples e poderosa dos sucessos e fracassos da comunicação. Contudo, se essa explicação estiver coreta, então a habilidade de comunicar-se linguisticamente não deve em absoluto ser descrita como inteligente. O modo de funcionamento do mecanismo de codificação ou decodificação não é nem inferencial nem criativo. Não é inferencial em virtude de a relação simétrica entre uma mensagem e um sinal ser bastante diferente 14 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. da relação assimétrica entre a premissa e a conclusão: assim como a letra "m" não se segue logicamente de dois sinais sonoros longos, o significado de uma sentença não se segue logicamente de seu som. O mecanismo de codificação ou decodificação tampouco é criativo: é uma reação automática à mensagem ou sinal introduzido. Na verdade, é melhor que não seja criativo: um impulso criativo na codificação ou decodificação iria comprometer a simetria entre os dois processos e, portanto, o sucesso da comunicação baseada em código. Todavia, a visão comum da comunicação verbal é falsa e, a codificação e a decodificação são apenas componentes subsidiários do que é essencialmente um processo inferencial criativo. 5. Analfabetismo e alfabetismo funcional A definição sobre o que é analfabetismo vem sofrendo revisões nas últimas décadas. Em 1958, a Unesco definia como alfabetizada uma pessoa capaz de ler ou escrever um enunciado simples, relacionado a sua vida diária. Vinte anos depois, a Unesco sugeriu a adoção do conceito de alfabetismo funcional. É considerada alfabetizada funcional a pessoa capaz de utilizar a leitura e escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e de usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida. Fonte: colmeiaviva.com.br Em todo o mundo, a modernização das sociedades, o desenvolvimento tecnológico, a ampliação da participação social e política colocam demandas cada vez maiores com relação às habilidades de leitura e escrita. A questão não é mais apenas saber se as pessoas conseguem ou não ler e escrever, mas também o que elas são capazes de fazer com essas habilidades. Isso 15 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. quer dizer que, além da preocupação com o analfabetismo, problema que ainda persiste nos países mais pobres e também no Brasil, emerge a preocupação com o alfabetismo, ou seja, com as capacidades e usos efetivos da leitura e escrita nas diferentes esferas da vida social. A capacidade de utilizar a linguagem escrita para informar-se, expressar- se, documentar, planejar e aprender cada vez mais é um dos principais legados da educação básica. A toda a sociedade e, em especial, aos educadores e responsáveis pelas políticas educacionais, interessa saber em que medida os sistemas escolares vêm respondendo às exigências do mundo moderno em relação ao alfabetismo e, além da escolarização, que condições são necessárias para que todos adultos tenham oportunidades de continuar a se desenvolver pessoal e profissionalmente. No meio educacional brasileiro, letramento é o termo que vem sendo usado para designar esse conceito de alfabetismo, que corresponde ao literacy, do inglês, ou ao littératie, do francês, ou ainda ao literacia, em Portugal. Fonte: alunosonline.com.br ► Índices e critérios de medida No século 20, as taxas de analfabetismo entre os brasileiros com 15 anos ou mais decresceram de 65% em 1920 para 13% em 2000. Esse decréscimo resulta da expansão paulatina dos sistemas de ensino público, ampliando o acesso à educação primária. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tal como se faz em outros países, sempre apurou os índices de analfabetismo com base na auto-avaliação da população recenseada sobre sua capacidade de ler e escrever. Pergunta-se se a pessoa sabe ler e escrever 16 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. uma mensagem simples. Seguindo recomendações da Unesco, na década de 90, o IBGE passou a divulgar também índices de analfabetismo funcional, tomando como base não a auto-avaliação dos respondentes, mas o número de séries escolares concluídas. Pelo critério adotado, são analfabetas funcionais as pessoas com menos de quatro anos de escolaridade. Com isso, o índice de analfabetismo funcional no Brasil chega perto dos 27%, segundo o Censo 2000. Mas ter sido aprovado na 4ª série garante o alfabetismo funcional? A pergunta não tem resposta categórica, pois o conceito é relativo, dependente das demandas de leitura e escrita existentes nos contextos e das expectativas que a sociedade coloca quanto às competências mínimas que todos deveriam ter. É por isso que, enquanto nos países menos desenvolvidos se toma o critério de quatro séries escolares, na América do Norte e na Europa toma-se oito ou nove séries como patamar mínimo para se atingir o alfabetismo funcional. E, mesmo já tendo estendido a escolaridade de oito ou até 12 séries para praticamente toda a população, muitos países norte americanos e europeus continuam preocupados com o nível de alfabetismo da população, tendo em vista, principalmente, as exigências de competitividade no mercado globalizado. O grau de escolaridade atingido já não satisfaz como critério de alfabetismo. Fonte: itd.org.br Por um lado, é cada vez mais patente que os resultados de aprendizagem dos sistemas de ensino são muito desiguais e, além disso, os governos estão interessados em saber quanto a população adulta encontra 17 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. oportunidades de desenvolver as habilidades adquiridas na escola, mantendo a capacidade de aprender. Com esse tipo de preocupação, na década de 90, muitos países desenvolvidos começaram a realizar pesquisas amostrais para verificar de forma direta, por meio da aplicação de testes, os níveis de habilidades de leitura e escrita da população adulta. O principal programa internacional é articulado pelo OCDE, o International Adult Literacy Survey, do qual participam mais de 40 países. Nesses estudos, o foco não é o analfabetismo, mas a insuficiência das habilidades de leitura e escrita da população alfabetizada. A dicotomia analfabeto x alfabetizado cede lugar para o interesse em determinar e comparar níveis de habilidade de leitura e escrita. Na América Latina e no Brasil, em particular, a questão tem características específicas e mais complexas. Fonte: redebrasilatual.com.br Aqui, enfrentamos ao mesmo tempo os problemas novos e os antigos. O analfabetismo absoluto ainda atinge milhões de brasileiros e precisa ser solucionado com políticas voltadas à superação da pobreza e da exclusão. Ao mesmo tempo, é preciso melhorar o desempenho dos sistemas de ensino e elevar a qualificação da força de trabalho em todos os níveis, tendo em vista a participação nos setores de ponta da economia mundializada e o fortalecimento das instituições democráticas. ► Os compromissos necessários para um Brasil alfabetizado Os dados sobre o alfabetismo funcional confirmam que a educação básica é o pilar fundamental para promover a leitura, o acesso à informação, a 18 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. cultura e a aprendizagem ao longo de toda a vida. Assim, para que tenhamos um Brasil com níveis satisfatórios de participação social e competitividade no mundo globalizado, um primeiro compromisso a ser reafirmado é com a extensão do ensino fundamental de pelo menos oito anos a todos os brasileiros, independentemente da faixa etária, com oferta flexível e diversificada aos jovens e adultos que não puderam realizá-lo na idade adequada. Fonte: bibliomozartmonteiro.blogspot.com É preciso também reconhecer que os resultados da escolarização em termos de aprendizagem ainda são muito insuficientes e que um eixo norteador para a melhoria pedagógica na educação básica deve ser o aprimoramento do trabalho sobre a leitura e a escrita. É preciso superar a visão de que esse é um problema apenas dos professores alfabetizadores e dos professores de Português. Grande parte das aprendizagens escolares depende da capacidade de processar informações escritas, verbais e numéricas, relacionando-as com imagens, gráficos etc. Todos os educadores precisam atuar de forma coordenada na promoção dessas habilidades, contando com referências claras quanto a estratégias e estágios de progressão desejáveis ao longo do processo, para que os avanços possam ser monitorados. Com apoio dos gestores, todos os professores devem agir sistemática e intensivamente no sentido de desenvolver nos alunos hábitos e procedimentos de leitura para estudo, lazer e informação, assim como proporcionar o acesso e a manipulação das fontes: bibliotecas com bons acervos de livros, revistas e jornais, computador e internet. 19 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Finalmente, é preciso reconhecer que a promoção do alfabetismo não é tarefa só da escola. Os países que já conseguiram garantir o acesso universal à educação básica estão conscientes de que é necessário também que os jovens e adultos encontrem, depois da escolarização, oportunidades e estímulos para continuar aprendendo e desenvolvendo as suas habilidades. Os programas de dinamização de bibliotecas e inclusão digital são fundamentais e devem ser levados a sério pelas políticas públicas. Para a população empregada, o próprio local de trabalho pode ser potencializado como espaço de aprendizagem e, nesse caso, os empresários tem uma participação importante nos compromissos a ser assumidos. As empresas podem oferecer e incentivar o uso de acervos de jornais, revistas e livros, assim como de terminais de acesso à internet para fins de pesquisa, além de ampliar as oportunidades de participação em programas educativos relacionados ao desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores, dando especial atenção aos que têm menor qualificação e necessitam de mais apoio para superar a exclusão cultural. Fonte: glima.eci.ufmg.br 6. Métodos de alfabetização O melhor método para a alfabetização é um discussão antiga entre os especialistas no assunto e também entre os pais quando vão escolher uma escola para seus filhos começaram a ler as primeiras palavras e frases. No caso brasileiro, com os elevados índices de analfabetismo e os graves problemas estruturais na rede pública de ensino, especialistas debatem qual seria o melhor método para revolucionar, ou pelo menos, melhorar a educação 20 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. brasileira. Ao longo das décadas, houve uma mudança da forma de pensar a educação, que passou de ser vista da perspectiva de como o aluno aprende e não como o professor ensina. São muitas as formas de alfabetizar e cada uma delas destaca um aspecto no aprendizado. Desde o método fônico, adotado na maioria dos países do mundo, que faz associação entre as letras e sons, passando pelo método da linguagem total, que não utiliza cartilhas, e o alfabético, que trabalha com o soletramento, todos contribuem, de uma forma ou de outra, para o processo de alfabetização. ♦ Qual é o melhor método? Vamos conhecer os métodos de alfabetização mais utilizados, como funcionam, quais são as vantagens e desvantagens de cada um deles, além da orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa, adotados pelo governo federal. A proposta não é apontar o melhor método de alfabetização, até porque os educadores e especialistas não têm um consenso sobre o tema. Pretendemos apenas mostrar as características de cada método para que os pais conheçam mais profundamente o método que está sendo aplicado na educação de seus filhos. • Método Sintético O método sintético estabelece uma correspondência entre o som e a grafia, entre o oral e o escrito, através do aprendizado por letra por letra, ou sílaba por sílaba e palavra por palavra. Fonte: pessoas.hsw.uol.com.br 21 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Os métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o alfabético, o fônico e o silábico. No alfabético, o estudante aprende inicialmente as letras, depois forma as sílabas juntando as consoantes com as vogais, para, depois, formar as palavras que constroem o texto. No fônico, também conhecido como fonético, o aluno parte do som das letras, unindo o som da consoante com o som da vogal, pronunciando a sílaba formada. Já no silábico, ou silabação, o estudante aprende primeiro as sílabas para formar as palavras. Por este método, a aprendizagem é feita primeiro através de uma leitura mecânica do texto, através da decifração das palavras, vindo posteriormente a sua leitura com compreensão. Neste método, as cartilhas são utilizadas para orientar os alunos e professores no aprendizado, apresentando um fonema e seu grafema correspondente por vez, evitando confusões auditivas e visuais. Como este aprendizado é feito de forma mecânica, através da repetição, o método sintético é tido pelos críticos como mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não cria nada, apenas age sem autonomia. • Método Analítico O método analítico, também conhecido como “método olhar-e-dizer”, defende que a leitura é um ato global e audiovisual. Partindo deste princípio, os seguidores do método começam a trabalhar a partir de unidades completas de linguagem para depois dividi-las em partes menores. Por exemplo, a criança parte da frase para extrair as palavras e, depois, dividi-las em unidades mais simples, as sílabas. Fonte: misturadealegria.blogspot.com 22 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Este método pode ser divido em palavração, sentenciação ou global. Na palavração, como o próprio nome diz, parte-se da palavra. Primeiro, existe o contato com os vocábulos em uma sequência que engloba todos os sons da língua e, depois da aquisição de um certo número de palavras, inicia-se a formação das frases. Na sentenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase, que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os elementos mais simples: as sílabas. Já no global, também conhecido como conto e estória, o método é composto por várias unidades de leitura que têm começo, meio e fim, sendo ligadas por frases com sentido para formar um enredo de interesse da criança. Os críticos deste método dizem que a criança não aprende a ler, apenas decora. • Método Alfabético Um dos mais antigos sistemas de alfabetização, o método alfabético, também conhecido como soletração, tem como princípio de que a leitura parte da decoração oral das letras do alfabeto, depois, todas as suas combinações silábicas e, em seguida, as palavras. A partir daí, a criança começa a ler sentenças curtas e vai evoluindo até conhecer histórias. Fonte: espacoeducar-liza.blogspot.com Por este processo, a criança vai soletrando as sílabas até decodificar a palavra. Por exemplo, a palavra casa soletra-se assim c, a, ca, s, a, sa, casa. O método Alfabético permite a utilização de cartilhas. As principais críticas a este método estão relacionadas à repetição dos exercícios, o que o tornaria tedioso para as crianças, além de não respeitar os conhecimentos adquiridos pelos alunos antes de eles ingressarem na escola. 23 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. O método alfabético, apesar de não ser o indicado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda é muito utilizado em diversas cidades do interior do Nordeste e Norte do país, já que é mais simples de ser aplicado por professores leigos, através da repetição das Cartas de ABC, e na alfabetização doméstica. • Método Fônico O método fônico consiste no aprendizado através da associação entre fonemas e grafemas, ou seja, sons e letras. Esse método de ensino permite primeiro descobrir o princípio alfabético e, progressivamente, dominar o conhecimento ortográfico próprio de sua língua, através de textos produzidos especificamente para este fim. Fonte: espacoeducar-liza.blogspot.com O método é baseado no ensino do código alfabético de forma dinâmica, ou seja, as relações entre sons e letras devem ser feitas através do planejamento de atividades lúdicas para levar as crianças a aprender a codificar a fala em escrita e a decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento. O método fônico nasceu como uma crítica ao método da soletração ou alfabético. Primeiro são ensinadas as formas e os sons das vogais. Depois são ensinadas as consoantes, sendo, aos poucos, estabelecidas relações mais 24 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. complexas. Cada letra é aprendida como um fonema que, juntamente com outro, forma sílabas e palavras. São ensinadas primeiro as sílabas mais simples e depois as mais complexas. Visando aproximar os alunos de algum significado é que foram criadas variações do método fônico. O que difere uma modalidade da outra é a maneira de apresentar os sons: seja a partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada à imagem e som, de um personagem associado a um fonema, de uma onomatopéia ou de uma história para dar sentido à apresentação dos fonemas. Um exemplo deste método é o professor que escreve uma letra no quadro e apresenta imagens de objetos que comecem com esta letra. Em seguida, escreve várias palavras no quadro e pede para os alunos apontarem a letra inicialmente apresentada. A partir do conhecimento já adquirido, o aluno pode apresentar outras palavras com esta letra. Os especialistas dizem que este método alfabetiza crianças, em média, no período de quatro a seis meses. Este é o método mais recomendado nas diretrizes curriculares dos países desenvolvidos que utilizam a linguagem alfabética. ♦ A velha cartilha Caminho Suave A grande maioria dos brasileiros alfabetizados até os anos de 1970 e início dos 80 teve na cartilha Caminho Suave o seu primeiro passo para o aprendizado das letras. Com mais de 40 milhões de exemplares vendidos desde a sua criação, a cartilha idealizada pela educadora Branca Alves de Lima, que morreu em 2001, aos 90 anos, teve um grande sucesso devido à simplicidade de sua técnica. Fonte: blig.ig.com.br 25 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Na tentativa de facilitar a memorização das letras, vogais e consoantes, e depois das sílabas para aprender a formar as palavras, a então professora Branca, no final da década de 40, criou uma série de desenhos que continham a inicial das palavras: o “A” no corpo da abelha, o “F” no cabo da faca, o “G”, no corpo do gato. Por causa da facilidade no aprendizado por meio desta técnica, rapidamente a cartilha tornou-se o principal aliado na alfabetização brasileira até o início dos anos 80, quando o construtivismo começou a tomar forma. Em 1995, o Ministério da Educação retirou a cartilha do seu catálogo de livros. Apesar disto, estima-se que ainda são vendidas 10 mil cartilhas por ano no Brasil. 7. O construtivismo e a desmetodização Os Parâmetros Curriculares Nacionais, também conhecido como PCN, são uma espécie de manual para as escolas sobre como deveria ser a orientação para o ensino, de acordo com o Ministério da Educação. Criado em 1998, este documento tem como função orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. Fonte: educacaojuventudes.blogspot.com Os PCNs propõem um currículo baseado no domínio das competências básicas e que esteja em consonância com os diversos contextos de vida dos alunos. "Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas 26 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado", diz o documento. Os PCN´s foram estabelecidos a partir de uma série de encontros, reuniões e de discussão realizados por especialistas e educadores de todo o país, de acordo com as diretrizes gerais estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases. Segundo o MEC, estes documentos foram feitos para ajudar o professor na execução de seu trabalho, servindo de estímulo e apoio à reflexão sobre a sua prática diária, ao planejamento das aulas e, sobretudo, ao desenvolvimento do currículo da escola, formando jovens brasileiros para enfrentar a vida adulta com mais segurança. Os Parâmetros Curriculares Nacionais defendem a linha construtivista como método de alfabetização. Surgida na década de 80, a partir de estudiosas da área como Ana Teberowsky e Emília Ferreiro, esta linha defende que a escola deve valorizar o conhecimento que a criança tem antes de ingressar no estabelecimento. A sua ênfase é na leitura e na língua escrita. Os construtivistas são contra a elaboração de um material único para ser aplicado a todas as crianças, como as cartilhas, e rejeitam a prioridade do processo fônico. Por este método, as escolas, durante o processo de alfabetização, devem utilizar textos que estejam próximos do universo da criança. Fonte: redepitagoras.com.br Os defensores do método fônico culpam o construtivismo, base dos Parâmetros Curriculares Nacionais, pelos problemas de alfabetização no Brasil. 27 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. Segundo os críticos, a concepção construtivista, em muitos casos, ignora que os estudantes de classe baixa, vindos de famílias menos letradas, trazem de casa uma bagagem cultural muito pequena, dificultando a sua adaptação a este método. 8. Concepções de alfabetização e letramento A língua escrita é um objeto cultural que envolve as pessoas e, muitas vezes, constitui verdadeira “armadilha”, lembrando o COLE – Congresso de Leitura do Brasil, versão 2007. Já não basta desenhar letras, decifrar códigos ou simplesmente ler o que está posto, mas é necessário compreender as transformações culturais, sociais, políticas e tecnológicas ocorridas na sociedade contemporânea e que chegam aos sujeitos sociais por gêneros textuais diversificados, dos quais não se pode eximir da convivência e dos usos, se tivermos em vista a formação de cidadãos atuantes e participativos. No final do século XX, começamos a descobrir que não basta somente alfabetizar, mas, acima de tudo, é preciso que todos os povos entrem em contato com as mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os apelos do mundo letrado que o domínio da língua e seu uso, em situações significativas, tornaram-se uma verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania. Fonte: hottopos.com Os estudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística, 28 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. processo que se dá pelo uso efetivo, respeitando-se níveis conceituais diversificados, pelos quais passam o sujeito que aprende. Alfabetizar, nessa perspectiva, deixa de ser um ato mecânico, mas um processo ativo, em que, aquele que aprende, reflete e age sobre a leitura e a escrita. Ferreiro (2001) deixa claro que o educando deve reconstruir uma relação entre linguagem oral e escrita para se alfabetizar. Cabe lembrar, também, Azevedo (1995): "como se vai construindo progressivamente a correspondência silábica, até que esta chegue a ser uma correspondência estrita termo a termo". Alfabetizar-se, entre outros domínios envolvidos, é progredir no domínio fonético-fonológico, é caminhar para uma "correspondência termo a termo" entre as unidades/elementos da palavra falada e escrita. Mas é também fazer associações, estabelecer sentidos e correlacioná-los às especificidades da vida. Fonte: marco-severo.blogspot.com Pensando a alfabetização para além da decifração, é preciso lembrar que a sociedade oferece e faz circular várias fontes e gêneros textuais. Portanto, cabe ao professor, ao fazer uso dos instrumentos e objetivos da educação, propiciar no processo alfabetizador, o convívio com gêneros textuais os mais diversificados, de forma a romper com a alfabetização descontextualizada, pois como propõe Soares (2000) a alfabetização “é um processo de compreensão/expressão de significados por meio do código escrito”. A funcionalidade da linguagem está, eminentemente, vinculada à percepção dos usos sociais da língua - uso heterogêneo, que se dá por de 29 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. “sequências relativamente estáveis de enunciados”, marcadas sócio- historicamente, estritamente vinculadas às mais diversas situações da vida, e tem em Bakhtin (2003) a definição de gêneros primários e secundários. Os gêneros primários estão ligados à esfera das situações cotidianas que determinam as características temáticas, composicional e estilísticas típicas desse gênero; os gêneros secundários estão ligados a esferas públicas mais complexas e apresentam uma forma composicional mais monologizada, absorvendo e transmutando os gêneros primários. Fonte: escolapraque.blogspot.com Marcuschi (2005) reforça o aspecto ‘coletivo, maleável, dinâmico e plástico’ dos gêneros, eventos linguísticos que nascem ‘emparelhados a necessidades e atividades socioculturais’. Os gêneros textuais são instâncias de sentidos que se diferenciam em conteúdo, forma e estilo e estão vinculados a situações sócio-comunicativas e culturais, em constante transformação. Crianças e adultos convivem, diariamente, com outdoors, convites, receitas, histórias, piadas, provérbios, história em quadrinhos, novelas, fábulas, charges, etc., o que justifica trabalhar essa realidade em sala de aula, buscando, cada vez mais, tornar o ensino proficiente, proporcionando, assim, o letramento dos envolvidos no processo. Soares diferencia alfabetização e letramento. Ao fazê-lo, amplia o conceito de alfabetização e valoriza o conjunto de práticas sociais de linguagem, resgatando sua importância para o sujeito. Para essa autora alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício 30 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (2000). É no processo de alfabetizar letrando que o professor capacita ao homem para o domínio dos símbolos da comunicação, habilidade imprescindível no mundo contemporâneo. Alfabetizar e letrar são dois processos simultâneos, o que talvez até permitisse optar por um ou outro termo, como sugere Emilia Ferreiro (In: NOVA ESCOLA, 2003, p. 30), com o argumento de que em alfabetização já estaria compreendido o conceito de letramento, ou vice-versa, seria verdade, que por alfabetização se estaria entendendo muito mais que a aprendizagem grafo- fônica. No processo alfabetizador, há que se ir além do entendimento do funcionamento da escrita, para a compreensão da sua funcionalidade nas práticas sociais e culturais. Neste sentido, Tfouni (1995) afirma que “enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade”. Assim, alfabetizar e letrar necessariamente devem ser simultâneos. Fonte: pedagogiaaopedaletra.com Dados do Instituto Nacional de Estatística e Pesquisa em Educação (INEP) revelam que os índices obtidos pela maioria dos alunos de 4ª série do Ensino Fundamental não ultrapassam os níveis “crítico” e “muito crítico”. Colello (2003) diz que “mesmo para as crianças que têm acesso à escola e que 31 Material elaborado exclusivamente para treinamento dos cursos a distância do Instituto da Educação. Comercialização proibida. nela permanecem por mais de 3 anos, não tem garantia de acesso autônomo às práticas sociais de leitura e escrita”. As sociedades estão, cada vez mais, centradas na escrita com suas múltiplas funcionalidades. Para os sujeitos, saber ler e escrever tem se revelado, muitas vezes, condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito; é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano; apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso letrar-se.
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