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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Márcia Adriana de Souza Verona Doutorando em Estudos Linguísticos na Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Letras pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (2009), Especialista em Língua Portuguesa pela PUC Minas (2005), Especialista em Gestão de Políticas Publicas em Gênero e Raça pela Universidade Federal de Ouro Preto (2012), Graduada em Letras pela Faculdade Santa Rita (2003). Danúbia da Costa Teixeira Doutorando em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Montes Claros (2015). Especialista em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2012). Graduada em Letras com ênfase em inglês pela Faculdade de Ciências e Letras do Leste Mineiro (2005). Atua como docente no Instituto Superior de Educação Elvira Dayrell e na rede pública Estadual de educação. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Carla Jordânia G. de Souza Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO UM POUCO DE HISTÓRIA .......................................................................... 8 1.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 8 1.2 PROTAGONISTA DA ALFABETIZAÇÃO ................................................................... 8 1.3 OS DESENHOS VIRARAM LETRAS (HISTÓRIA DA ESCRITA) ................................. 10 1.4 UM PASSEIO PELO CONTEXTO DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ................ 13 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 18 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ......................................................... 21 2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 21 2.2 ENTENDENDO O TERMO ALFABETIZAÇÃO .......................................................... 21 2.3 APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA (PSICOGÊNESE DA ESCRITA) .......... 23 2.4 O QUE É LETRAMENTO .......................................................................................... 24 2.5 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ......................................................................... 26 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 29 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO .......................................................... 33 3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 33 3.2 MÉTODOS SINTÉTICOS .......................................................................................... 34 3.2.1 Método Alfabético ....................................................................................... 35 3.2.2 Método Fônico .............................................................................................. 35 3.2.3 Método Silábico ............................................................................................ 37 3.3 MÉTODOS ANALÍTICOS ........................................................................................ 39 3.3.1 Método global ............................................................................................... 40 3.3.2 Método de palavração ............................................................................... 40 3.3.3 Método de sentenciação ........................................................................... 41 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 43 ARTICULANDO TEORIA E PRÁTICA OU PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS ............................................................................................................. 48 4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 48 4.2 PLANEJAR: O PONTO DE PARTIDA ....................................................................... 48 4.3 ESTABELECER METAS E OBJETIVOS ....................................................................... 51 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 54 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA ALFABETIZAÇÃO ................................................................................. 58 5.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 58 5.2 COMO UTILIZAR AS TICS NA ALFABETIZAÇÃO ................................................... 58 5.3 RECURSOS TECNOLÓGICOS E O AMBIENTE DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ............................................................................................................................... 61 5.4 SUGESTÃO DE SITES DE RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA ALFABETIZAÇÃO .. 63 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 67 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 6 A ALFABETIZAÇÃO E SUAS PRÁTICAS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR – BNCC ......................................................................... 73 6.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 73 6.2 EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................................................................... 73 6.3 PRÁTICAS DE LINGUAGEM ................................................................................... 75 6.3.1 Oralidade ....................................................................................................... 76 6.3.2Análise Linguística e Semiótica ................................................................... 77 6.3.3 Leitura e Escuta ............................................................................................. 78 6.3.4 Produção de texto ........................................................................................ 79 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................... 86 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 87 UNIDADE 06 7 CONFIRA NO LIVRO Nesta unidade, desafiamos você, aluno, a rememorar seus primeiros dias de aula. Assim, traremos alguns conceitos de memória. Conheceremos um pouco da história da escrita, como os desenhos se transformaram em letras, em seguida, faremos um passeio histórico pelo processo de alfabetização e letramento. Nesta unidade, trataremos sobre Alfabetização e letramento. Veremos que o conceito de alfabetização, em razão das mudanças referentes à leitura e à escrita, foi se modificando com o tempo, e assim, surgiu o letramento. Estudaremos também sobre a apropriação da linguagem escrita. Nesta unidade, estudaremos os dois métodos de alfabetização que são considerados historicamente: sintético e analítico. Como veremos em detalhes, o método sintético vai da parte para o todo. Enquanto o método analítico parte do todo para as partes e busca romper com o princípio da solução. Nesta unidade, abordaremos um importante conteúdo para a alfabetização que é o planejamento. Vale lembrar que o planejamento é uma forma de organizar e programar as ações do professor, mas sobretudo é um momento de pesquisa que o leva à reflexão de suas práticas pedagógicas. Dessa maneira, é possível também aliar teoria e prática. Nesta Unidade, elegemos um tema muito discutido, atualmente, a Tecnologia da Informação e Comunicação - TIC. Pois há muitas ferramentas tecnológicas que podem ser usadas na educação, vários desses recursos foram desenvolvidos com o objetivo de auxiliar o professor em sua prática docente. Nesta unidade, abordaremos a BNCC - Base Nacional Comum Curricular. E, principalmente, a visão de texto que o documento propõe, seja esse texto escrito, oral ou multimídia deve ser um elemento central no trabalho docente em todo o ensino Fundamental. 8 UM POUCO DE HISTÓRIA 1.1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, desafiamos você aluno, a rememorar seus primeiros dias de aula. Tente lembrar como foi, quais as sensações e emoções sentiram naquele dia. Dando continuidade ao nosso processo de recordações, tente lembrar-se de como foi seu primeiro contato com o papel, o lápis, a letra etc. Além de recordarmos nosso primeiro contato com a escola, conheceremos um pouco da história da escrita, como os desenhos se transformaram em letras, em seguida, faremos um passeio histórico pelo processo de alfabetização e letramento. Sendo assim, vamos construir juntos, um espaço de interação, de reflexão e de diálogo por todo nosso curso, buscando aliar teoria e prática. Vamos despertar, ampliar, renovar a sua visão sobre Alfabetização e Letramento. E para começar nossa jornada, convido você a ser o protagonista dessa história. 1.2 PROTAGONISTA DA ALFABETIZAÇÃO A memória procura recuperar o passado. No entanto, dificilmente, conseguimos nos lembrar de tudo e de todos os detalhes dos fatos que ocorreram ao longo de nossa vida. Sempre ficam algumas experiências das quais não nos recordamos de todos os pormenores. Para Bosi (1994, p. 55), “na maioria das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens, ideias de hoje, as experiências do passado”. As recordações acontecem quando são estimuladas, ou seja, se alguém ou algum acontecimento nos transporta de volta ao passado. Diante disso, podemos afirmar que: A memória é um cabedal infinito do qual registramos um fragmento. Frequentemente, as mais vívidas recordações afloram depois da entrevista, na hora do cafezinho, na escada, no jardim, ou na despedida do portão. [...] Continuando a escutar, ouviríamos o outro tanto e ainda mais. Lembrança puxa lembrança e seria preciso escutar o infinito (BOSI, 1994, p. 39). UNIDADE 9 As lembranças são subjetivas, elas acarretam emoções e significados diferentes em cada sujeito, mesmo que vários indivíduos vivenciem o mesmo acontecimento, cada um terá um modo de percebê-lo, senti-lo, essas experiências acarretam significados diferentes para a trajetória de vida de cada um. É nessa perspectiva que convidamos você, caro(a) aluno(a), a buscar na sua memória como foi seu primeiro dia na escola, seu contato com os colegas e com os professores, o ambiente escolar, como era o espaço da escola, e por fim, como foi sua alfabetização. O que somos, atualmente, muitas vezes reflete tudo aquilo que aprendemos ao longo da nossa jornada e das experiências que tivemos. Enquanto educadores devemos sempre refletir sobre a nossa prática e experiências pessoais e profissionais, pois escolhemos diariamente o modelo de docente que queremos ser na nossa prática. Já que este momento está sendo dedicado às lembranças, ao ato rememorar. Eu lhe pergunto: e o que é memória? Já parou para pensar nas diferentes acepções dessa palavra? Para nos ajudar a entender o conceito de memória, traremos a seguir algumas definições. 10 1.3 OS DESENHOS VIRARAM LETRAS (HISTÓRIA DA ESCRITA) Como foi para você aprender a ler e a escrever? Foi fácil ou difícil? Já parou para pensar como a escrita surgiu? Quando os homens começaram a se comunicarem por meio da linguagem escrita? Vamos juntos nessa viagem ao tempo, buscar informações sobre como se deu o desenvolvimento da escrita. A evolução da escrita passou por diferentes etapas. De acordo com Cagliari (1996), podemos considerar que a escrita tem sua história e esses acontecimentos se passaram em três fases diferentes: a escrita pictórica, a ideográfica e a alfabética. Vamos estudar as três fases separadamente para entendermos melhor como os desenhos se transformaram em letras ao longo do tempo. Os homens primitivos interagiam por diferentes formas de comunicação, 1. Você se lembra de qual método o seu professor utilizou para o seu processo de alfabetização? 2. Quais recursos, ferramentas, metodologias o professor(a) utilizava? 3. Você se recorda de algum fato marcante no período de sua alfabetização? 4. Houve alguma experiência desagradável, no período de alfabetização, da qual você se lembre? 5. Como era a interação entre professor/aluno e aluno/aluno? 6. Registre outros acontecimentos que você considere importantes no período de sua alfabetização? Deixe registradas todas essas lembranças, para que depois, possamos retomá-las e refletirmos sobre qual era a concepção de alfabetização norteadora da prática de seu(a) professora. Segundo Bosi (2003, p. 68) “[...] a narração da própria vida é o testemunho de mãos eloquentes dos modos que a pessoa tem de lembrar. É a sua memória.” E essas vivências e experiências pessoais contribuem para nossa formação e atuação profissional. 11 todavia, nenhuma delas tinha como propósito a representação da língua oral. A primeira ocorrência dessa representação foi a pictografia que corresponde à primeira fase da escrita, ou seja, a escrita pictográfica. Essa escrita teve como objetivo apresentar uma ideia, conceito por meio de símbolos (desenhos). Os astecas, povo que habitava no centro México deram início a essa fase da escrita. Esta era caracterizada, principalmente, por desenhos que representavam algumas ações,costumes desses povos. Dessa maneira, os pictogramas eram usados como meio de comunicação deles. A escrita ideográfica marca a segunda fase do desenvolvimento da linguagem escrita. Você sabia que o alfabeto teve sua origem nos ideogramas? Nesse modelo de escrita, misturavam-se desenhos e símbolos para representar ideias. Essa escrita surgiu na Suméria.As letras apareceram a partir de algumas figuras da escrita ideográfica. Exemplo, na escrita egípcia a letra A representava a cabeça de um boi; as ondas do mar eram representadas pela letra M. Atualmente, as letras do alfabeto possuem um valor fonográfico, no entanto, no passado, essas “letras” eram os ideogramas e tinham valores ideográficos. Em resumo, antes mesmo de haver o alfabeto, ou seja, as letras. O homem já buscava uma ideia de uma escrita alfabética. Figura 1: Escrita ideográfica Fonte: Disponível em https://bit.ly/3at4UR4. Acesso em: 08 abr. 2021. Outros exemplos de escrita ideográfica que usamos muito, hoje em dia, são alguns sinais de trânsito, o círculo vermelho com uma linha diagonal vermelha indicando que é “proibido”, por exemplo, também é um ideograma. Ao longo do 12 tempo, houve uma expansão do vocábulo ideograma, atualmente, todos os sistemas de símbolos que representam ideias são considerados ideogramas. Para Cagliari (1996, p. 108), a diferença de destaque entre a escrita pictórica e a ideográfica baseia-se na ocorrência de que os “pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade.” E os sumérios não pararam por aí, somente os desenhos e o alfabeto não eram suficientes para se comunicarem, eles queriam mais. E buscaram a forma escrita. E de que maneira conseguiram? Os signos não tinham mais apenas significados, passaram a ter valores fonéticos e sons. E assim surge a escrita que foi se desenvolvendo ao longo do tempo e chegou à escrita alfabética. E assim, chegamos à terceira fase de desenvolvimento da escrita da linguagem. Hoje, as letras estão agrupadas no conjunto ao qual conhecemos por alfabeto. Este surgiu da junção do grego alfhabetos e do latim alfhabetum e para formar a palavra alfabeto juntaram as duas primeiras letras do alfabeto grego alfa e beta que atualmente são as letras A e B do nosso alfabeto. Inicialmente, o alfabeto era um conjunto de vinte e quatro sinais, e estes representavam consoantes, os gregos fizeram essa adaptação da representação deixada pelo povo Semita. Os homens primitivos moravam em cavernas e para se comunicarem muito tempo escreveram nas paredes, em pedras, em tijolos de argila. No entanto, com o tempo sentiram necessidade de outras formas de comunicação, pois as usadas até então não estavam sendo suficientes, já que a sociedade foi aumentando e se modificando. E assim surgiram papéis e tinteiros que contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento da escrita. E a partir dessa necessidade origina-se o papiro. Este se originou de uma árvore de nome cyperus papiros, na época era encontrada às margens do Rio Nilo. Essa planta já era usada para produzir cordas, roupas, velas de barco. Extraiam de seu caule lâminas bem finas que depois eram trançadas e trabalhadas até se obter uma superfície bem lisa, ideal para escrever. Vale lembrar que quem fez todo esse processo para se chegar ao material que seria utilizado para a escrita foram os egípcios. Esse material tinha um preço bem elevado, posteriormente, estudos mostraram que para economizar, muitas vezes, o papiro escrito, depois era raspado e reaproveitado, ou seja, escreviam novamente no mesmo material. Com certeza, você está se perguntando, mas como escreviam? Se naquela 13 época não havia lápis e caneta? Então os egípcios pensaram em tudo. Segundo Cagliari (1996) para escrever usavam pena de caniço (cana usada para pescar) molhada em uma tinta produzida de fuligem de água e goma que servia para engrossar. Com o passar do tempo, o homem foi modificando esses materiais até chegarem às canetas que usamos, hoje em dia. Esse passeio pela história da escrita contribuirá para que possamos entender e valorizar todas as atividades de escrita da criança. Todos os desenhos e rabiscos devem ser considerados e analisados pelo professor (a) alfabetizador (a), pois são formas de comunicação da criança com as pessoas e o mundo que as cercam. As crianças utilizam dos desenhos e dos rabiscos para expressarem suas histórias, brincadeiras, vontades e pensamentos. O desenvolvimento do grafismo infantil não deve ser considerado como fruto apenas do treinamento específico. Ele é um processo de construção do sistema de representação que culmina com a produção da escrita como um instrumento de comunicação e expressão (MARTINS, 2007, p. 01). Dessa maneira, percebe-se que a criança começa a sua comunicação escrita por meio da pictografia, ou seja, antes mesmo de aprender sobre a escrita e como escrever, se comunica por desenho e rabisco, no processo de desenvolvimento da escrita vai juntando letras e desenhos, e assim vai experimentando a escrita, até ser alfabetizada. 1.4 UM PASSEIO PELO CONTEXTO DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO O percurso da alfabetização está permeado pelas discussões sobre como alfabetizar, e, logo, como a metodologia e a concepção de ensino podem contribuir para práticas eficazes. Mas antes de abordarmos essas questões e para entendermos melhor o processo de alfabetização vale a pena estudarmos o processo de surgimento da alfabetização e suas respectivas influências. Após a Revolução https://bit.ly/2P3SS9o. 14 Francesa, criou-se um protótipo de alfabetização. E como nos aponta Barbosa: [...] a partir de então, “crianças são transformadas em alunos, aprender a escrever se sobrepõe a aprender a ler, ler agora se aprende escrevendo – até esse período, ler era uma aprendizagem distinta e anterior a escrever, compreendendo alguns anos de instrução através do ensino individualizado”. É, então, no jogo estabelecido pela Revolução entre a continuidade e a descontinuidade do tempo, onde a ruptura vai sendo atropelada pela tradição, que a alfabetização se torna o fundamento da escola básica e da leitura/escrita, aprendizagem escolar (BARBOSA, 1994, p. 28). Há muito tempo, vem se discutindo o problema da alfabetização no Brasil. Busca-se entender o fracasso dos diferentes modelos a que esses estão relacionados e acaba-se chegando à conclusão de que esse fracasso está muitas vezes associado a interesses políticos de cada período. No início, a alfabetização era uma prerrogativa somente da classe mais alta, ou seja, somente a elite do Brasil era alfabetizada, sendo assim, a escola contribuía para o fortalecimento das desigualdades sociais. Esse privilégio de acesso à escola só começa a mudar com a implantação do primeiro grau, no Brasil, hoje Ensino Fundamental. A partir desse período as crianças das classes populares passam a frequentar a escola, no entanto, com essa chegada dos menos favorecidos, há uma ascensão de fracasso no processo de alfabetização. E assim começam as pesquisas, estudos e investigações para saber o porquê desse fracasso. No entanto, o assunto não se esgotou com as pesquisas da época, até hoje sofremos com essa questão da alfabetização. Para facilitar nossa compreensão apresentaremos um resumo de três períodos importantes para o processo de alfabetização no Brasil e no mundo. Por volta de 1950, passamos pelo período em que se discutiu sobre os melhores métodos a serem usados, ou pelo menos, aqueles que trariam maior eficaz ao processo de alfabetização, uma vez que achavam que o fracasso escolar estava relacionado ao método de alfabetização usado. Para essas discussões havia duas vertentes: umaque defendia o método global e outra que era a favor do método fonético. No Brasil, optou-se pelo método misto empregado nas cartilhas, esse método versa em um trabalho com as silabas. Alguns docentes ainda usam algumas nuances dessa maneira de alfabetizar. Como muitos docentes foram alfabetizados com o método misto constante nas as cartilhas, trouxeram para sua prática profissional aqueles pontos que consideram que foram relevantes e contribuíram para sua alfabetização. 15 Dez anos depois, nos anos 1960, temos uma grande expansão das pesquisas sobre o déficit de aprendizagem. Buscava-se entender o que causava o fracasso escolar, e sempre se buscava no aluno essa defasagem da aprendizagem. Neste mesmo período, por coincidência ou não, havia uma luta entre brancos e negros nos EUA e as classes menos favorecidas das quais o negro fazia parte não apresentavam o mesmo desempenho escolar que os alunos os quais pertenciam à elite. Esse foi um ponto que se passou a discutir: o fracasso dos alunos na alfabetização poderia também estar ligado a fatores externos à escola. Perceberam que os alunos não apresentavam as mesmas habilidades, uma vez que viviam em situações diferentes, as famílias de negros e brancos não apresentavam as mesmas condições para o desenvolvimento das crianças. Na época, o que encontraram para resolver a situação foi a aplicação de extensas atividades de treinamento (os chamados exercícios de prontidão) para tentar sanar as dificuldades de aprendizagem e as crianças fossem preparadas para não fracassar no processo de alfabetização. Por volta de meados de 1970, iniciaram pesquisas com outro olhar sobre a maneira como as crianças aprendiam e buscava-se entender o motivo causador dessa dificuldade. Muitas pesquisas surgiram na época sobre o assunto, como as de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, autoras da obra Psicogênese da Língua Escrita, assunto que será abordado na próxima unidade. Essa nova visão sobre a alfabetização foi muito importante para provocar novas práticas de alfabetização. De acordo com o discurso da Secretaria da Educação Fundamental (SEF) e do Ministério da Educação (MEC), a partir dos resultados das pesquisas foi necessário: [...] rever as concepções nas quais se apoiava a alfabetização. E isso tem demandado uma transformação radical nas práticas de ensino da leitura e da escrita no início da escolarização, ou seja, na didática da alfabetização. Já não é mais possível conceber a escrita exclusivamente como um código de transcrição gráfica de sons, já não é mais possível desconsiderar os saberes que as crianças constroem antes de aprender formalmente a ler, já não é mais possível fechar os olhos para as consequências provocadas pela diferença de oportunidades que marca as crianças de diferentes classes sociais. Portanto, já não se pode mais ensinar como antes [...] (BRASIL, 2001, p. 08). Como visto, a alfabetização vem passando por diversas mudanças. Na unidade III estudaremos cada um dos métodos de alfabetização, como também suas respectivas implicações no processo de aprendizagem. Teremos, também, ao 16 longo deste material, um subcapítulo que veremos as contribuições da psicogênese da escrita que muito colaborou para a mudança de paradigmas na alfabetização. Como já vimos anteriormente, a alfabetização vem passando por várias influências benéficas de resultados de pesquisas. Nessas várias pesquisas, percebeu- se que a alfabetização não se trata somente da aplicação de sequências de atividades motoras e, sim, de desenvolvimento cognitivo, no qual as crianças manifestam diferentes possibilidades de aprendizagem da escrita. Fazemos uso da escrita em diversos contextos de nossa vida, na padaria, restaurante, escola, família, entre amigos; sempre estamos em contato com a escrita. E nesse contexto, aparece o letramento, já que desde o nosso nascimento estamos expostos a esse mundo letrado. A partir das perspectivas de letramento, a concepção de alfabetização mudou completamente rompendo as barreiras da sala de aula e se estendendo para o dia a dia. O educador, Paulo Freire, em seus estudos destaca que aprender a ler vai além de decodificar o código, faz-se necessário compreender o que leu, vista dessa maneira a aprendizagem tem uma relação social, cultural e coletiva, buscaremos conceituar letramento nessas perspectivas. Refletir sobre a língua escrita como uso social nos conduz ao conceito de letramento, ou melhor, numa perspectiva sociocultural da língua escrita. E o que é letramento? Para confirmar essa designação apresentada no Fique Atento acima, sobre o que é letramento, as palavras de Soares (2004, p. 16) dão embasamento sobre o assunto. Letrar é: [...] mais que alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto onde a leitura e a escrita tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Segundo o dicionário Aurélio, letrado é aquele 17 “versado em letras, erudito”, enquanto que iletrado é “aquele que não tem conhecimentos literários” e também o “analfabeto ou quase analfabeto”. Ao estudarmos o conceito de letramento, devemos refletir sobre o quão é significante essa concepção para a ampliação do ato de se alfabetizar, já que assim alfabetizar está relacionado somente ao indivíduo e o letramento relaciona à dimensão social desse sujeito, esses dois aspectos são inseparáveis já que somos sujeitos sociais por natureza. Na próxima unidade, estudaremos com mais detalhes o processo de alfabetização e letramento. Nesta, apresentamos uma introdução do assunto para entendermos como e de onde surgiram os termos: alfabetização e letramento. 18 FIXANDO O CONTEÚDO 1. De acordo com Cagliari (1996, p.106), podemos considerar que a escrita tem sua história e esta se passou em três fases distintas. Marque a opção correta: a) A pictórica, a ideográfica e a alfabética b) A alfabética, a analfabética e a ideográfica c) A pictórica, a ideográfica e a silábica. d) A alfabética, a ideográfica e a silábica. e) A pictórica, a ideográfica e a pré-silábica. 2. Você viu, ao longo do capítulo, que a primeira forma de representação gráfica do mundo que os homens inventaram foi a: a) Alfabética. b) Ideográfica. c) Pictográfica. d) Silábica. e) Pré-silábica. 3. (Quadrix 2020 – adaptada) A escrita ideográfica marca a segunda fase do desenvolvimento da linguagem escrita. Com relação à escrita desse período, marque a opção correta. a) Trabalhavam com a hipótese de que os caracteres gráficos representavam características daquilo a que se referiam, do campo físico das ideias. b) Representavam ícones, mas nunca similares à lógica do computador. c) Representavam as hipóteses sem lógica nenhuma. d) Usavam ícones, os quais nunca poderiam funcionar com a mesma lógica de representação dos ícones do computador. e) Desenhavam ícones, mas sem diferenciá-los da escrita. 4. (IBADE – 2020 adaptada) Leia o texto abaixo para responder a questão. Vivemos numa sociedade grafocêntrica. A leitura e a escrita permeiam as interações humanas. Entretanto, na escola, ainda enfrentamos dificuldades no desenvolvimento de 19 atividades que promovam não apenas o aprendizado sobre a linguagem, mas também a conscientização da centralidade da escrita e da leitura na sociedade. Esse problema – o inadequado processo de escolarização na modalidade escrita e a artificialização da produção dos alunos – tem se tornado um obstáculo para uma aprendizagem significativa. Concepções sobre letramento (Bakhtin, Kleiman, Street, Soares, Freire) mostram uma possibilidade concreta para um ensino-aprendizagem significativo. Um caminho emancipatório para o ensino pode ser exemplificado pela:a) Utilização de todos os possíveis artefatos tecnológicos em sala de aula. b) Aproximação das atividades escolares com as práticas sociais dos alunos. c) Criação de atividades e jogos competitivos do tipo ‘soletrando’. d) Organização de grêmios estudantis para representar o interesse de estudantes. e) Preparação de encontros e seminários para os estudantes trocarem ideias. 5. (CETREDE - 2019) O domínio da linguagem oral e escrita é imprescindível para a inserção social do indivíduo, pois é por meio dele que o(os)(as): a) Ser humano impõe seus pontos de vista. b) Saberes linguísticos são determinados. c) Direito de expressão é autorizado. d) Informações são censuradas. e) Conhecimento é construído. 6. (FGV - 2019) Leia o fragmento a seguir. “_____________ é o processo de aprendizagem no qual se desenvolve a habilidade de ler e escrever. ___________ é o processo que desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais.” Assinale a opção cujos termos completam corretamente as lacunas do fragmento acima. a) Alfabetismo – Alfabetização. 20 b) IIetrismo – Letramento. c) Letramento – Alfabetismo. d) Alfabetização – Letramento. e) Alfabetização – Iletrismo. 7. (GUALIMP – 2020 - adaptado) Para Ferreiro (1996) a leitura e escrita são sistemas construídos paulatinamente. As primeiras escritas feitas pelos educandos no início da aprendizagem devem ser consideradas como produções de grande valor, porque: a) O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. b) Muitos professores ainda definem erroneamente o processo de alfabetização como sinônimo de uma técnica. c) A língua escrita adquire seu caráter de objeto social. d) d.De alguma forma os seus esforços foram colocados nos papéis para representar algo. e) Dominam convenções gráficas 8. (Nosso Rumo - 2020) No que concerne às capacidades linguísticas da alfabetização, a compreensão e valorização da cultura escrita (capacidades, conhecimentos e atitudes) diz respeito, entre outros, a: a) Dominar as relações entre fonemas e grafemas. b) Compreender a natureza alfabética do sistema da escrita. c) Conhecer, utilizar e valorizar os modos de produção e de circulação da escrita na sociedade. d) Conhecer o alfabeto. e) Dominar convenções gráficas. 21 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 2.1 INTRODUÇÃO O domínio da escrita e da leitura é uma grande preocupação não só no ambiente escolar, mas também por toda a sociedade, principalmente, dos pais que têm filhos matriculados nesse período escolar denominado: alfabetização. Além disso, essa preocupação não se restringe em aprender a ler e escrever, a escola precisa formar leitores e escritores, sujeitos que dominem a leitura e a escrita e que saibam usá-las no dia a dia. 2.2 ENTENDENDO O TERMO ALFABETIZAÇÃO Para começarmos nossa conversa sobre o assunto, é fundamental refletirmos sobre o conceito de alfabetização. Geralmente, considera-se como alfabetizada a pessoa que saber ler e escrever. Contudo, essa questão do que vem a ser uma pessoa alfabetizada é bem mais ampla e não se refere apenas às ações de codificação e decodificação. Podemos pensar a alfabetização como um processo que circunda outras competências e que ocorre não só de maneira sistematizada na escola, mas em todos os momentos da vida do indivíduo. Diante disso, procuramos entender o conceito de alfabetização baseando- nos no que propõe Soares (2010, p. 15), considerada uma das principais referências sobre o assunto: [...] não parece apropriado, nem etimológica nem pedagogicamente, que o termo alfabetização designe tanto o processo de aquisição da língua escrita quanto o seu desenvolvimento; etimologicamente, o termo alfabetização não ultrapassa o significado de levar à aquisição do alfabeto’, ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribui um significado mais amplo ao processo de alfabetização seria negar-lhe a especificidade, com reflexos indesejáveis na caracterização de sua natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da competência em alfabetizar. Toma-se, por isso, aqui, alfabetização em seu sentido próprio, especifico: processo de aquisição do código escrito das habilidades de leitura e da escrita. Em relação ao conceito de alfabetização, assim entendido, o debate UNIDADE 22 básico desenvolve-se em torno de dois pontos de vista, de certa forma, estão presentes no duplo significado que os verbos ler e escrever possuem em nossa língua. Para Soares (2010), o primeiro significado incide em dominar de maneira “mecânica” a língua escrita. Nessa perspectiva, o indivíduo detém a habilidade de codificar a língua oral em língua escrita e decodificar a língua escrita em língua oral, ou seja, a pessoa consegue ler. Nesse primeiro entendimento, basta decodificar, enquanto que para o segundo sentido para os verbos ler e escrever é preciso que se entenda a língua. De acordo com Kramer (1982) apud Soares, (2010, p. 16) “o objetivo primordial é a apreensão e a compreensão do mundo, desde o que está mais próximo à criança ao que lhe está mais distante, visando à comunicação, à aquisição de conhecimento, à troca”. E assim o conceito de alfabetização foi se modificando em razão das mudanças das questões de leitura e escrita e de acordo com Soares (2004a, p. 72): [...]à medida que foram se intensificando as demandas sociais de profissionais de leitura e de escrita, apenas aprender a ler e a escrever foi se revelando insuficiente, e tornou-se indispensável incluir como parte constituinte do processo de alfabetização também o desenvolvimento de habilidades para o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais e profissionais. Conclui dizendo que [...] esse processo não pode ser dissociado do processo educativo, que o inclui e lhe dá sentido. É indiscutível a importância do domínio da língua oral e escrita para o desenvolvimento pessoal, sendo assim, faz-se necessário que a escola busque novas metodologias que possam contribuir para o aprendizado da leitura e da escrita dos educandos. 23 2.3 APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA (PSICOGÊNESE DA ESCRITA) Um marco importante para os estudos relacionados à escrita no Brasil, ocorreu em 1985 com a da tradução do título Psicogênese da língua escrita de autoria das pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Segundo Mello (2015, p.254), “Mesmo antes da publicação da tradução brasileira do livro Psicogênese da língua escrita e da divulgação dos resultados na Argentina, Ferreiro começou a tratar do tema da alfabetização em nosso país”. O livro, resultado de suas reflexões e pesquisas, busca evidenciar que existe um novo modo de compreendermos a questão do fracasso da alfabetização. Para as autoras a aprendizagem da leitura: [...] entendida como questionamento a respeito da natureza, da função e do valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 11). De acordo com as autoras Ferreiro e Teberosky (1985), a escrita tem início antes mesmo do período em que a criança é matriculada na escola, essa iniciação se dá por meio dos meios culturais, dos diferentes contextos educativos que a criança está inserida e de acordo com a língua. Sendo assim não é suficiente saber ler e escrever para que uma pessoa possa ser considerada alfabetizada, uma vez que a alfabetização vai muito além do domino do alfabeto. Podemos observar que a criança antes mesmo de frequentar a escola, ela já tem uma necessidade deexplicar seus desenhos, mostrar o que eles representam; essa é uma maneira de representação em linguagem escrita, pois é importante para ela mostrar que os desenhos estão representando algo. Tem um significado para ela. Em vista disso, é importante o estímulo aos desenhos, aos rabiscos, às formas, à leitura e à escrita que a criança produz, não devemos valorizar somente as letras, sílabas e 24 palavras que são consideradas certas de acordo com nosso código de língua. Como nos aponta as pesquisadoras: Na maioria de nossas sociedades as crianças iniciam a educação elementar por volta de seis anos de idade, e ela já é capaz de fazer a leitura e escrever de forma figurativa e essa leitura e escrita deve ser considerada pelo o professor para ser posteriormente reconhecida como a leitura que consideramos correta na norma culta (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 77). Nessa acepção, ao compreendermos a criança como sujeito cognoscente, a escola passa a ter um novo papel, uma nova dimensão. Uma de suas funções, agora, é contribuir para que as crianças tenham acesso à linguagem escrita que privilegie o sentido social, ou seja, a criança passa a compreender a escrita e sua utilização no dia a dia. O aprendizado da linguagem escrita não fica reduzido apenas a uma técnica, e sim, a construção de um sistema de representação. Sendo assim, a escola precisa deixar de operar com o princípio de que a leitura e escrita baseiam-se no ensino de sinais ortográficos; normalmente, a instituição escolar está mais preocupada em fazer com que a criança aprenda a identificar letras, sílabas e palavras. No entanto, essa visão vem mudando ao longo do tempo. 2.4 O QUE É LETRAMENTO A alfabetização está normalmente delimitada a um momento específico, enquanto o letramento está relacionado à condição, ou seja, ao contexto. Que de acordo com Frade, Dalben, Costa (2011, p. 18) o letramento é “conjunto de outras habilidades específicas que dá sentido o uso dos textos.” Desse modo, ao longo do tempo, o conceito de alfabetização foi sendo ampliado e passa a ser praticamente um sinônimo de letramento. Soares nos aponta que o mundo da escrita passa, essencialmente, por dois caminhos: um que se refere ao uso; o outro por meio do aprendizado de uma técnica. Dessa maneira de acordo 25 com Soares, a alfabetização se refere à ao conhecimento dessa técnica, definida da seguinte maneira pela autora: Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável (SOARES, 2003, p. 15). Além da porta de entrada técnica, conforme nos mostra Soares, há outra porta que deve estar sempre ao lado da técnica que é o letramento. Conforme nos aponta Soares (2002), podemos entender o letramento como um estado ou condição da pessoa que além de saber ler e escrever, domina e desempenha as práticas sociais acerca da escrita. Dessa maneira, ainda em consonância com Soares, entendemos que letramento não é apenas o desenvolvimento de apropriação da leitura e da escrita refere-se também ao grau de envolvimento com as práticas sociais da leitura e da escrita. Para Kleiman (1995, p. 22) letramento é “[...] um conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Entende-se, assim, que o Letramento transcende o processo de Alfabetização, uma vez que não se limita apenas a ensinar a ler e escrever, mas possibilita que o indivíduo se relacione com seu meio social e cultural. Em outras palavras, o sujeito passa a se apropriar dos diferentes gêneros e tipos textuais e passa a usá-los a seu favor. Nessa perspectiva, a escola deve trazer para a sala de aula situações concretas de uso da escrita. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita: não leem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não saber preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio (SOARES, 2002, p. 46). Vale ressaltar que o Letramento não é um novo método de Alfabetização. O conceito de letramento como já vimos refere-se a um novo propósito com que se 26 ensina a ler e escrever. Dessa maneira, letrar vai além da técnica de alfabetizar, é levar o indivíduo a desenvolver a capacidade de pensar criticamente. Letramento vai além do conceito de escolaridade e de alfabetização. 2.5 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Ao pensarmos no conceito de alfabetização sob as novas perspectivas e de letramento, logo, percebemos que esses novos conceitos trouxeram outras formas de alfabetizar, sendo assim, a alfabetização extrapolou as barreiras da sala de aula. Quanto ao conceito de letramento, esse veio reformular o que compreendemos sobre o ensino da Língua escrita. [...] no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento (SOARES, 2004a, p. 10). Com os novos entendimentos para o conceito de alfabetização, logo, devemos refletir sobre o valor de se ampliar essa atividade, desse modo alfabetizar está relacionado ao individual do sujeito, enquanto o letramento refere-se à sua dimensão social, essas duas facetas são intrínsecas. Conforme Soares (2003), vale lembrar que um indivíduo alfabetizado não significa um indivíduo letrado; a pessoa alfabetizada é aquela que sabe codificar e decodificar, ou seja, consegue ler e escrever. Enquanto a pessoa letrada, ela ocupa um estado de letramento, em outras palavras, não só sabe ler e escrever, como também, consegue usar a leitura e a escrita no seu dia a dia, sabe quando e o que usar corretamente, de acordo com as necessidades sociais em que esteja inserida. Corroborando com as ideias expostas acima, para Kleiman letramento vai além do conceito de escolaridade e de alfabetização: O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e 27 promoção na escola. Já outras agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho, mostram orientações de letramento muito diferentes (KLEIMAN, 1995, p. 20). A partir do momento que se tem consciência da ideia de letramento, o compromisso da escola e do alfabetizador é redobrado em relação à efetivação de práticas de letramento. Já que ao idealizar a cidadania, em uma sociedade letrada, incideapresentar condições para que os indivíduos sejam capazes de lidar de forma autônoma com a palavra escrita; de maneira que consigam auxiliar as necessidades humanas e sociais, apropriando, assim do espaço que realmente lhes é de direito na sociedade da qual o sujeito faz parte. Como vimos nesta unidade, letramento e alfabetização não são conceitos tão simples quanto parecem ao se pôr em prática. Ao pensarmos na alfabetização pelo viés do letramento, devemos nos lembrar de que se refere a um momento de mudança de paradigma no ensino e na aprendizagem. Contudo, os questionamentos que levem a mudanças benéficas da aprendizagem não podem parar. Sendo assim, o simples fato de estar envolvido em práticas de letramento é satisfatório para ser letrado, ou para “ser letrado” demanda o envolvimento nessas práticas, e um envolvimento de maneira autônoma. Nesse caso, a criança, o adolescente ou o adulto que ainda não seja alfabetizado pode estar vivendo esse processo de letramento, entretanto, não podem ainda ser considerados letrados, uma vez que o uso da língua escrita por esse indivíduo não está sendo realizado inteiramente com autonomia. De maneira resumida, baseando-nos no entendimento da pesquisadora do assunto, Soares (2014), seguem os conceitos de letramento e alfabetização. Se pudéssemos ampliar o sentido do vocábulo alfabetização, talvez, não houvesse necessidade da criação do termo letramento. No entanto, essa criação se fez necessária, pois tradicionalmente, sejam em dicionários, no uso do dia a dia e também para o senso comum, a alfabetização é entendida somente como a aprendizagem do sistema alfabético e suas particularidades de uso, em suma, aprender a ler e escrever. Dessa maneira, somente ampliar a significação do termo alfabetização para que deixe de referir-se ao que vem designando há tanto tempo seria uma tentativa sem sucesso, uma vez que o termo e seus significados já estão consolidados na língua. Por esse motivo, justifica-se a inserção do termo letramento, pois este aponta para uma outra vertente da alfabetização, da aprendizagem da língua escrita. Pois 28 letramento refere-se ao desenvolvimento de habilidades que permitem que o indivíduo saiba usar a leitura e a escrita de maneira eficiente, nos diversos contextos de sua vida, a pessoa letrada estará apta a ler e escrever os mais variados tipos e gêneros textuais, em diversos suportes, com as mais diferentes objetivos em interação com seus interlocutores. 29 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (EXATUS-PR - 2015 – adaptado) Analise as afirmativas abaixo, no que se refere à alfabetização e ao letramento. I. A alfabetização é apenas um processo baseado em perceber e memorizar para aprender a ler e escrever. Contudo o aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual. II. O letramento surge a partir das novas relações estabelecidas com as práticas de leitura e escrita na sociedade, ao passo que não basta apenas saber ler e escrever, mas que funções a leitura e a escrita assumem em decorrência das novas exigências impostas pela cultura letrada. III. A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades pela leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem. IV. Em primeiro lugar a alfabetização é simplesmente a relação entre o método utilizado e o estado de “maturidade” ou de “prontidão” da criança. Está CORRETO o que se afirma em: a) Apenas as afirmativas I, II e III. b) Apenas as afirmativas II, III e IV. c) Apenas as afirmativas II e III. d) Apenas as afirmativas III e IV. e) Apenas as afirmativas I e III. 2. (IDECAN- SEARH – RN-2016- adaptada) Analise as afirmativas correlatas. I. “A criança, desde muito cedo, está inserida de forma sistemática, no mundo letrado.” PORQUE II. “Vive numa sociedade em que as pessoas são usuárias da linguagem.” Assinale a alternativa correta. 30 a) As duas afirmativas são falsas. b) As duas afirmativas são corretas e se completam. c) A primeira afirmativa é falsa e a segunda, verdadeira. d) As duas afirmativas são verdadeiras, mas não estabelecem relação entre si. e) A primeira alternativa é verdadeira e a segunda, falsa. 3. (Quadrix - 2019) A respeito de alfabetização e letramento, correlacione as colunas e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. 1) Alfabetização 2) Letramento ( ) Aquisição de uma tecnologia: o sistema alfabético e ortográfico. ( ) Deixa o indivíduo apto a desenvolver os mais diversos métodos de aprendizado da língua. ( ) Habilita o sujeito a utilizar a escrita e a leitura nos mais diversos contextos. ( ) Desenvolvimento de habilidades de uso da tecnologia da escrita. a) 1/ 2/ 1/ 2. b) 2/ 1/ 2/ 1. c) 2/ 2/ 1/ 1. d) 1/ 1/ 2/ 2 . e) 1/ 2/ 2/ 1. 4. (Prefeitura Municipal de Jataí – Pedagogo- Quadrix - 2019) Assinale a alternativa que apresenta o conceito de letramento: a) Processo de codificação e decodificação da escrita. b) Incorporação estrutural da capacidade de leitura. c) Introdução do aluno adulto no mundo da escrita. d) Desenvolvimento do uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais. e) Desenvolvimento das estruturas neurais necessárias à leitura de diferentes estilos textuais. 31 5. (CONTEMAX – 2019) Em conformidade com as dimensões da proposta pedagógica para o ensino da linguagem escrita para crianças, marque a alternativa que complete adequadamente a frase abaixo: _______ se refere ao processo por meio do qual o sujeito domina o código e as habilidades de utilizá-lo para ler e escrever. Trata-se do _______ da tecnologia, do conjunto de técnicas que o capacita a exercer a arte e a ciência_______. a) Letramento; desenvolvimento; do saber. b) Alfabetização; domínio; da escrita. c) Alfabetização; conhecimento; do saber. d) Letramento; domínio; do saber. e) Ensino; exercício; moderna. 6. (ADM&TEC – 2019) Leia as afirmativas a seguir: I. Ao conduzir o processo de alfabetização e letramento, o alfabetizador deve compreender que cada criança aprende no seu tempo, de acordo com suas diferenças e suas capacidades cognitivas. II. Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar uma educação baseada em condições de aprendizagem que desrespeitem suas necessidades e ritmos individuais. Marque a alternativa CORRETA: a) As duas afirmativas são verdadeiras. b) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. c) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa. d) As duas afirmativas são falsas. e) A afirmativa I é falsa, e a II é verdadeira. 7. (ADM&TEC – 2019) Leia as afirmativas a seguir: I. A alfabetização é um processo que não se limita apenas a ler e escrever os signos 32 do alfabeto, mas, sim, compreender como funciona a estrutura da língua e a forma como é utilizada. II. A prática educativa deve evitar situações de aprendizagens que reproduzam contextos cotidianos. Marque a alternativa CORRETA: a) A afirmativa I é falsa, e a II é verdadeira. b) As duas afirmativas são verdadeiras. c) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. d) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa. e) As duas afirmativas são falsas. 8. (Avança SP – 2020) No que tange ao processo de alfabetização, analise os itens a seguir e, ao final, assinale a alternativa correta: I. O letramento é a forma pela qual as pessoas funcionam no discurso da sociedade. II. O letramento se dá apenas na escola. III. O letramento e a alfabetização são fenômenos independentes. a) Apenas o item I é verdadeiro. b) Apenas o item II é verdadeiro. c) Apenas o item III é verdadeiro. d) Apenas os itens II eIII são verdadeiros. e) Todos os itens são verdadeiros. 33 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO 3.1 INTRODUÇÃO Na história das políticas de alfabetização, os debates sobre os métodos têm sido um dos pontos mais polêmicos ao longo do tempo. E assim, as escolhas de métodos para alfabetização, ora são consideradas como a solução para resolver a questão do fracasso da alfabetização, em outros momentos nega-se a necessidade de métodos, gerando a desvalorização de práticas bem-sucedidas que se basearam na tradição do uso dos métodos. Dessa maneira, cada um de nós passou pelo período da alfabetização, e se compararmos nossas memórias, logo, perceberemos que alguns métodos em determinadas regiões, estados se assemelham, e em outras são bem distintos. E veremos que há práticas de alfabetização que se repetem para todos nós, em diferentes tempos. Mas, afinal, o que seriam esses métodos. Historicamente, consideram-se dois métodos de alfabetização: o sintético e o analítico. A prática docente está interligada à metodologia usada, pois o trabalho do docente organiza-se em função desse método. Nesta unidade, ampliaremos nossa visão para essa prática, estudando as principais características dos métodos sintético e analítico empregados no trabalho de alfabetização. Muito se vem discutindo sobre Erro! Fonte de referênci a não encontra 34 qual método de ensino da leitura e da escrita é mais eficaz no processo de alfabetização. Em relação aos métodos, Mortatti (2000) colabora nos mostrando que a alfabetização é um procedimento que envolve a intenção, a sistematização e a escolarização e não há como procedê-la sem um método; este deve abranger também os objetivos e os conteúdos fundamentais ao desenvolvimento da prática de alfabetizar. Ou seja, a utilização dos métodos é imprescindível, no entanto, não será somente eles que resolverão todos os problemas que envolvem a alfabetização. Trata de um processo muito heterogêneo, o qual está em uma busca constante para solucionar os problemas das crianças em aprender a ler e a escrever, bem como as dificuldades encontradas pelos professores para ensinar as crianças essas duas atividades tão importantes para a vida delas. Sendo assim, ao discutirmos sobre os métodos de alfabetização não devemos considerar que o método de ensino selecionado é somente uma das referências em um processo de educação. 3.2 MÉTODOS SINTÉTICOS Considerado o método de alfabetização mais antigo, existe há cerca de 2000 anos, passou pela Antiguidade, chegando à Idade Média, momento em que foi adotado também em alguns países Europeus. A França, por exemplo, utilizava-se desse método para ensinar primeiramente o latim, e posteriormente, ensinava-se a língua materna. De acordo com Almeida (2008, p. 4234), os métodos sintéticos "seguem a marcha que vai das partes para o todo, ou seja, primeiro a criança internaliza as unidades menores (fonemas), para depois gradativamente chegar às unidades maiores". Inicialmente se aprende o processo de codificação e decodificação para, posteriormente, numa etapa, considerada mais avançada, compreender a leitura e a escrita. A aprendizagem pelos métodos sintéticos conduz à decodificação ou decifração. O método sintético se divide em três processos: alfabético, fônico e silábico. Segundo Frade (2005) há três métodos sintéticos que se sobressaem: o método da soletração ou alfabético, que dá ênfase aos nomes das letras; o da silabação, que partem das sílabas e os fônicos, que iniciam das unidades menores, isto é, dos 35 sons que correspondem à pauta sonora. 3.2.1 Método Alfabético No método Alfabético ou da soletração, a criança aprende o nome de cada letra, suas formas maiúsculas e minúsculas, a sequência do alfabeto e junta as letras entre si, formando sílabas ou palavras. Dessa maneira, os alunos devem decorar as letras do alfabeto, letra por letra, pois assim conseguirão formar sílaba, palavra ou texto. Conforme nos aponta Galeriani e Galuch (2018, p. 02-03) enfatizando-se o processo de pronunciar “os “nomes” das letras antes de fazer a combinação silábica (BE+A= BA, por exemplo). O ensino com a marcha sintética contou com materiais didáticos para auxiliar o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita.” De acordo com Frade (2005, p. 23)(2005, p. 23), “um material que pode ser citado, que coincide com o uso do método alfabético, são as Cartas de ABC e os silabários” O método alfabético ou de soletração acontece pela: [...] memorização que se dá por meio da: decoração oral das letras do alfabeto, seu reconhecimento posterior em pequenas sequências e numa sequência de todo o alfabeto e, finalmente, de letras isoladas. Em seguida a decoração de todos os casos possíveis de combinações silábicas, que eram memorizadas sem que se estabelecesse a relação entre o que era reconhecido graficamente e o que as letras representavam, ou seja, a fala (FRADE, 2007, p. 22-23). O modo alfabético é considerado um dos mais tradicionais, é empregado há mais de dois séculos. O método parte de unidades menores e abstratas que vão combinando com outras à medida em que a criança vai aprendendo. Geralmente, a criança aprende primeiramente o nome das letras que compõe o alfabeto, posteriormente, quando junta as letras vai soletrando e decorando algumas sílabas. Depois de aprender a juntar as sílabas e decorá-las, a criança passa a buscar encontrar essas silabas/palavras em um texto. 3.2.2 Método Fônico Para o método fônico, devem-se ensinar as relações entre os sons e as letras, com o objetivo de levar a criança a relacionar a palavra falada com a palavra escrita. Dessa maneira, a menor unidade para se analisar é o som. O método fônico tem por objetivo: 36 [...] desenvolver as habilidades metafonológicas e ensinar as correspondências grafofonêmicas de modo que possa levar a criança a adquirir leitura e escrita competentes; ou seja, escrita, fazendo codificação fonografêmica fluente para poder registrar seus pensamentos e, na leitura, fazendo decodificação grafofonêmica fluente para obter acesso semântico natural à medida que processa o texto (CAPOVILLA, 2004, p. 06). Para o método fônico, primeiramente, deve-se priorizar as atividades com as vogais e, em seguida, as consoantes, dando destaque para a identificação gráfica, depois para os nomes das letras e, posteriormente para os sons característicos. O método fônico preocupa-se em desenvolver a consciência fonológica, de maneira sistematizada e explícita. No que se refere à sistemática do ensino da língua escrita, conforme o grau de dificuldade da relação fonema-grafema, Seabra e Dias (2011, p. 312) defendem que o aluno desenvolve as “[...] habilidades de decodificação grafofonêmica e de codificação fonografêmica, paralelamente ao trabalho para desenvolvimento da consciência fonológica” Alguns pesquisadores apontam que esse método de alfabetização possibilita ao aluno aprender a ler e a escrever de maneira mais autônoma, o que é benéfico para a apropriação da linguagem oral e escrita. No entanto, Frade apresenta algumas considerações em relação ao método fônico: [...] algumas letras podem representar diversos fonemas, segundo sua posição na palavra: a letra s, por exemplo, corresponde a diferentes fonemas, conforme apareça no começo da palavra (sapato, semente, sílaba, sorte, susto) ou entre vogais (casa, pose, música, pouso, usual). Além disso, um fonema pode ser representado por várias letras: o fonema /s/ por ser representado pela letra s (sapeca), pela letra c (cenoura), pela letra ç (laço), pelo dígrafo ss (assar), pelo dígrafo sc (descer), pelo dígrafo xc (excelente). O princípio de relação direta da fala com a escrita não se aplica, então, à maioriados casos. Por isso temos a ortografia e diversas convenções para estabilizar essas diferenças de representação (FRADE, 2005, p. 27). 37 Figura 2: Metodologia fonética Fonte: Disponível em https://bit.ly/3sBRt7L. Acesso em: 10 jan. 2021. Por outro lado, Capovilla e Capovilla (2015) esclarecem que ao se alfabetizar utilizando o método fônico, este tende a potencializar o progresso da consciência fonológica e também o ensino claro e visível da relação grafema-fonema avança gradualmente, ou seja, parte dos sons das letras e chega-se a escrita de textos maiores, mais complexos. 3.2.3 Método Silábico No método da silabação, a principal unidade a ser analisada pelos discentes é a sílaba. Contudo algumas cartilhas de alfabetização do século XX, o trabalho inicial de alfabetização centrava-se nas vogais e seus encontros, formando, na sequência, as sílabas. No desenvolvimento do método, geralmente é escolhida uma ordem de apresentação, feita segundo princípios calcados na ideia ‘do mais fácil para o mais difícil’, ou seja, das sílabas ‛simples’ para as ‛complexas’. São apresentadas palavras-chave, utilizadas apenas para indicar as sílabas, que são destacadas das palavras e estudadas sistematicamente em famílias silábicas (FRADE, 2005, p. 27). Como já mencionado, o foco do método silábico incide sobre as sílabas. No processo de alfabetização, o ensino dessas unidades menores é direcionado de maneira gradual de acordo com o grau de dificuldade das famílias silábicas. A partir dos grupos silábicos estudados, o aluno vai aprendendo a escrever palavras, depois as frases e, por fim, os textos. Para esse método de ensino foram utilizadas as cartilhas. Frade (2005) destaca duas cartilhas: Caminho Suave e Cartilha Sondré que direcionavam o ensino e a aprendizagem para a decomposição e a composição 38 das famílias silábicas. Para Frade (2005) o método silábico tem vantagens e complexidades, para a autora, uma das vantagens refere-se ao processo de aprendizagem da leitura, pois o método facilita a leitura, uma vez que enfatiza as sílabas e não aos fonemas separadamente. A seguir, exemplo de uma lição (Lição do gato), da cartilha Caminho Suave, de Branca Alves de Lima, percebemos que o se pretende ensinar é a sílaba e não o sentido do texto. Figura 3: Lição do gato Fonte: Disponível em https://bit.ly/3viNmzp. Acesso em: 20 mar. 2021. O outro exemplo foi retirado da cartilha Sodré, esta cartilha traz mais de uma sílaba em cada lição, a vogal é a mesma para todas as sílabas. 39 Figura 4: Repetição de sílaba Fonte: Disponível em https://bit.ly/3gCY53B. Acesso em: 10 fev. 2021. 3.3 MÉTODOS ANALÍTICOS Os métodos analíticos partem do todo para as partes e buscam romper completamente com os conceitos da decifração. Os métodos mais conhecidos são: global, sentenciação e palavração, o emprego deles defende-se o trabalho com sentido. Dessa maneira, esses métodos estão preocupados com a compreensão, entendem que a linguagem escrita deve ser ensinada à criança de acordo com sua percepção global da língua. A palavra, a frase e o texto são as unidades de análise. Conforme Frade (2005, p. 32), há alguns pontos comuns entre os defensores dos métodos analíticos, que são: A linguagem funciona como um todo; 40 Existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o todo para depois se observar as partes; Os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão; No ato da leitura, o leitor se utiliza de estratégias globais de reconhecimento; O aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu significado, que é muito importante para o aprendiz; A escola tem que acompanhar os interesses, a linguagem e o universo infantil e, portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser familiares e ter valor afetivo para a criança. 3.3.1 Método global No método global, parte-se de pequenas histórias, posteriormente, separa o texto em frases, em seguida, as frases em palavras, as palavras em sílabas, e, por fim, formam-se novas palavras com as sílabas aprendidas. Sendo assim, no método global a aprendizagem é voltada para a leitura e o texto é a base para o processo de alfabetização. Para Freitas (2016, p. 56), o método global, didaticamente, faz o seguinte trajeto: a) reconhecimento global do texto; b) memorização do texto; c) divisão do texto em sentenças (frases); d) reconhecimento de expressões (porções de sentido); e) divisão das sentenças em palavras e f) divisão das palavras em sílabas. Para Frade (2005, p. 37) “[...] quando se elege a organização do processo de apropriação da língua escrita por palavra ou sentença, a criança tem acesso a uma significação, podendo ‛ler’ palavras, sentenças ou textos desde a primeira lição, por reconhecimento global”. Em outras palavras, ao se usar o método global pressupõe- se que a criança ao memorizar as palavras lidas, a decodificação dessas acontecem de maneira mais rápida. 3.3.2 Método de palavração Nesse método, as palavras consideradas mais expressivas são retiradas de um texto, depois são agrupadas, em seguida, são apresentadas aos alunos que aprendem a partir da visualização dessas palavras. Isto é, o aluno aprende 41 relacionando o vocábulo com a imagem gráfica que visualiza. Morais, Albuquerque e Leal (2005, p. 17) mostram como se dá o processo de palavração: [...] a criança é colocada diante de uma lista de palavras ditas e compreendidas num processo oral, usando, assim, a técnica da memorização, para o reconhecimento global de certa quantidade de palavras da lista em combinações diferentes, para construírem sentenças significativas e, na sequência, trabalhar as sílabas/letras até a criança se tornar capaz de fazer, de forma automática, as conversões letras/sons. No método da palavração, o ponto de partida do processo de alfabetização é a análise das palavras, depois que o aluno aprende a decompor as palavras em sílabas e letras. Dessa maneira, nesse método, as crianças aprendem primeiramente a ler as palavras globalmente, depois que faz a decomposição. É considerado como um método descomplicado, uma vez que emprega palavras básicas e estimula a criança ao reconhecimentos dos sonsa dessas palavras. 3.3.3 Método de sentenciação No método de sentenciação, usa-se a comparação das palavras, assim, o professor separa os elementos que já são de conhecimento do aluno, pois assim há uma expansão do vocabulário na aprendizagem. Dessa forma, vão surgindo novas palavras e a leitura delas vão sendo aprendida. “Na sentenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase, que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os elementos mais simples: as sílabas” (BORGES, 2008, p. 03). Dessa forma, percebemos que no método da sentenciação, o processo de ensino parte da leitura global e compreensão das sentenças, ou seja, das frases; em seguida, realiza-se a decomposição das palavras e, por fim, chega-se às sílabas. A alfabetização por esse método conduz-se à comparação e à decomposição de palavras. Com isso, a aprendizagem do aluno, por meio do método de sentenciação incide em aprender a leitura e a escrita de novas palavras. Como o nome do método indica, no processo de sentenciação, o aprendizado da leitura e escrita, inicia-se por frases inteiras e explora-se a memorização. Para sistematizar essa síntese da abordagem dos métodos, observe o quadro abaixo: 42 Figura 5: Sinopse das fases dos métodos Fonte: Disponível em https://bit.ly/3x4YMbD. Acesso em: 12 abr. 2021. 43 FIXANDO OCONTEÚDO 1. Identifique as ideias centrais dos métodos de alfabetização, fazendo a correspondência dos números e parênteses. Em seguida, marque a opção correta. 1) Método alfabético. 2) Método fônico. 3) Método silábico. 4) Método global . ( ) Elege como unidade o fonema, ressaltando as relações diretas entre a cadeia sonora e a representação escrita. ( ) Prioriza o ensino do alfabeto e a identificação de letra por letra, para o reconhecimento de sílabas e palavras. ( ) Toma como unidade mínima as sílabas e as reorganiza para compor novas palavras. ( ) Elege como unidade o texto, por considerá-lo uma unidade que leva à compreensão. a) 2, 1, 3, 4. b) 3, 2, 1, 4. c) 2, 4, 3, 1. d) 4, 1, 3, 2. e) 1, 4, 2, 3. 2. (URI – 2018) O processo de popularização da língua escrita originou a preocupação com o “como alfabetizar”. Desde então, a busca pelo melhor método de alfabetização é uma constante. No que diz respeito aos métodos de alfabetização sintético e analítico (Moll, p. 60), pode-se afirmar que: 1) O método de marcha sintética é o mais antigo; usado na Grécia e Roma Antiga tem mais de 2.000 anos. Parte do elemento para o todo, isto é, da letra para a sílaba e da sílaba para a palavra; propõe partir dos elementos mais simples para chegar aos mais complexos. 44 2) Pelo método sintético, no processo fônico, a fase inicial da aprendizagem concentra-se no reconhecimento das sílabas prontas, assim como há uma maior preocupação em dar ênfase à articulação das consoantes com as vogais. 3) Os métodos sintéticos conduzem a uma decodificação automática, que pode provocar o desinteresse da criança pela leitura e o consequentemente afastamento da realidade social. 4) Os métodos sintéticos têm como pressuposto o conceito de que, para ensinar a ler, é preciso partir de unidades significativas da língua: palavras, sentenças ou textos. Buscam uma alfabetização mais significativa; entretanto centram a atenção em estratégias visuais, cristalizando o processo de alfabetização em etapas e procedimentos que desconsideram o processo de aprendizagem do aluno. 5) Os métodos sintéticos se desdobram em processos de palavração, sentenciação e contos, assim como os analíticos se desdobram em processos como o alfabético, o silábico e o fônico. Está (estão) correta(s): a) Somente as alternativas 2, 3 e 4. b) Somente a alternativa 3. c) Somente as alternativas 1 e 3. d) Somente as alternativas 3 e 4. e) Somente as alternativas 2 e 4. 3. (MUNICÍPIO DE IPOJUCA - PROFESSOR ALFABETIZADOR – adaptado) Leia o texto. “Conheço todas as letras, mas juntar é que é o difícil. Minha professora, quando eu era garoto, ensinava... A lição era assim: letra por letra. Eu chega ficava feliz quando terminava a lição, porque ia escapulindo. Agora não tem mais nesse panorama. Mas, de primeiro, era assim”. Seu Aguinaldo (Aluno do Programa Brasil Alfabetizado- PCR/UFPE/UPE/UFRPE) 45 A fala acima revela a experiência escolar de seu Aguinaldo com a escrita. Enquanto professores alfabetizadores, como é definida a condição desse aluno? a) Alfabetizado, porque conhecia todas as letras. b) Alfabetizado, porque estava em contato com as letras por meio da lição. c) Analfabeto, porque, embora conhecesse as letras, não dominava a leitura e a escrita. d) Analfabeto, porque juntava as letras, embora com dificuldade. e) Alfabetizado, porque juntava as letras, e isso o habilitava a escrever o seu nome. 4. (MUNICÍPIO DE IPOJUCA -PROFESSOR ALFABETIZADOR) A vivência do Seu Aguinaldo com a escrita alfabética remete-nos a um método de alfabetização recorrente em muitas práticas escolares. Identifique a alternativa cuja caracterização remeta ao método empregado na alfabetização desse aluno. I. Partem das palavras, das frases ou de pequenos textos, para depois conduzir à análise das letras e das sílabas (Métodos analíticos). II. Partem do treino do nome das letras, em que os alunos pronunciavam os nomes das letras, unindo-as em sílabas e depois, em palavras (bê com a, ba, te com a, ta, bata) (Métodos sintéticos). III. Partem das palavras, das frases, dos textos, para, logo em seguida, passarem à decomposição das palavras em letras ou em sílabas (Métodos analítico- sintéticos). a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) III, apenas. d) II, apenas. e) I e III, apenas. 46 5. (MUNICÍPIO DE IPOJUCA -PROFESSOR ALFABETIZADOR) Analise a tirinha abaixo: É CORRETO afirmar que a fala da personagem Mafalda representa um/a: a) Crítica ao modelo de escola que se engaja na luta por uma alfabetização letrada. b) Denúncia de um modelo de escola que a impossibilita de vivenciar as práticas de alfabetização letrada. C) elogio à forma como a escola a alfabetiza e a insere em eventos mediados pela escrita. c) Reconhecimento de que a alfabetização escolar supre as suas necessidades cotidianas. d) Louvor à rotina escolar e à sua capacidade de dialogar com a sua realidade letrada. 6. (PROCESSO SELETIVO- TREVISO/SC) Segundo a autora Ferreiro, há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Ferreiro ainda afirma que: a) “A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita, por um indivíduo ou grupo de indivíduos”. b) “A alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola e que não termina ao finalizar a escola primária”. c) “A alfabetização é um processo no qual o indivíduo assimila o aprendizado do alfabeto e a sua utilização como código de comunicação”. d) “A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral”. e) “A alfabetização de qualquer indivíduo é algo que nunca será alcançado por completo, ou seja, não há um ponto final”. 7. (PROCESSO SELETIVO – TREVISO/SC) Relacione os itens abaixo com a coluna a 47 seguir: I. Método Sintético II. Método Analítico III. Método Analítico-Sintético ( ) Aprendizagem ocorre por meio de letra por letra e sílaba por sílaba e palavra por palavra. ( ) Faz com que as crianças compreendam o sentido de um texto. ( ) Caracteriza-se por explorar o todo significativo e as partes simultaneamente. ( ) Prioriza as habilidades de ouvir, falar e escrever. ( ) O indivíduo é capaz de perceber os símbolos gráficos de uma forma geral. Assinale a alternativa com a sequência CORRETA: A) I, II, III, III, II. B) III, I, II, I, I. C) II, II, I, III, I. D) I, II, III, II, I. E) II, I, III, I, II. 8. (Pref. Maracanaú/CE - PEB - ALFABETIZADOR – 2015) A evolução da escrita do nível silábico-alfabética para o alfabético é repleta de especificidades. Conhecê-las é fundamental para __________ adequadamente o __________ dos alunos e melhor ajudá-los a __________. Em sequência as palavras que completam corretamente essas lacunas são: a) Avançar; desenvolvimento; avaliar. b) Desenvolvimento; avaliar; avançar. c) Avançar; avaliar; desenvolvimento. d) Avaliar; desenvolvimento; avançar. e) Desenvolvimento; avançar; avaliar. 48 ARTICULANDO TEORIA E PRÁTICA OU PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS 4.1 INTRODUÇÃO O planejamento escolar é um encargo do professor que abrange tanto as atividades previstas para determinado período, quanto para a organização dessas tarefas. Pois o docente, deve coordená-las de acordo com os objetivos e as metas que se pretende alcançar. Como se sabe o planejamento deve ser flexível, por isso, o professor deverá adequá-lo de acordo com as necessidades que surgirem ao longo de sua execução.
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