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O Positivismo de Comte e sua influência

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O POSITIVISMO DE COMTE
Aula invertida
TÓPICOS
O surgimento do positivismo
A definição e as linhas gerais do positivismo
A concepção da ciência
O Positivismo e o surgimento da psicologia.
VÍDEOS
O Positivismo de Auguste Comte
https://www.youtube.com/watch?v=HfLpQ16WauM
TEXTO
Segue abaixo.
Capit~lo dkcimo quint0 
O 
socioIbgico e utilitarista 
0 positivismo e o movimento de pensamento que dominou base 
parte da cultura europeia em suas expressbes nao s6 filosbficas, do positivismo 
mas tambem politicas, pedagogicas e literarias (e este o period0 hs os 
do verismo e do naturalismo) desde cerca de 1840 ate os inicios desenvolvimentos 
da primeira guerra mundial. 0 s traqos de fundo do ambiente da ci@ncia 
sociocultural que o positivismo interpreta, exalta e favorece silo: e a revolugSo 
uma substancial estabilidade politica, o process0 de industriali- industrial 
zaqilo e desenvolvimentos por vezes portentosos da ciCncia e da + 5 
tecnologia. 0 marxismo interpretara de mod0 muito diferente a 
revoluqilo industrial e seus males (desequilibrios sociais, exploraqao do trabalho de 
menores etc.). 0 s positivistas nil0 ignorarilo estes males; tinham porem confianqa 
na forqa da ciCncia e do espirito cientifico, a seu ver mais que adequados a repor 
em seu lugar todo o corpo social. 
Eis os representantes mais influentes do positivismo: Au- 
guste Comte (1798-1857) na Franqa; John Stuart Mill (1806-1873) ~ P ~ ' ~ ~ ~ n t e s 
e Herbert Spencer (1820-1903) na lnglaterra; Jakob Moleschott do positivirmo (1822-1893) e Ernst Haeckel (1834-1919) na Alemanha; Roberto , 
Ardigo (1828-1920) na Italia. 
Embora se inserindo e se desenvolvendo em tradiqbes culturais e filosoficas 
diferentes (racionalismo cartesiano e lluminismo na Franqa; tradiqilo empirista, 
utilitarista e evolucionista na Inglaterra; naturalismo renascentista na Italia), o 
positivismo mostra, em suas manifestaqbes, traqos comuns que 
permitem fixar sua identidade como movimento cultural. 0s tracos 
a) 0 positivismo reivindica o primado da ciCncia: o unico teoricos 
conhecimento valido e o cientifico; o unico metodo para adqui- que conotam 
rir conhecimento e o das ciCncias naturais; este metodo consiste a "identidade" 
no encontro de leis causais e em seu controle sobre os fatos; tal do positivism0 
metodo deve ser aplicado tambem ao estudo da sociedade, isto + 5 
e, a sociologia. 
b) Passo a passo com o primado da ciCncia como instrumento cognoscitivo, 
temos a exaltaqilo da ciCncia como unico meio capaz de resolver, no curso do 
tempo, todos os problemas humanos e sociais anteriormente sofridos pela hu- 
manidade. 
288 Sexta parte - 6 positivismo na cultura europCia 
da sociedade 
e progvessos da cizncia 
na kpoca do positivismo 
0 positivismo representa um mo- 
vimento composite de pensamento que 
dominou grande parte da cultura europiia, 
em suas manifestaq6es filosoficas, politicas, 
pedagogicas, historiogrificas e literirias 
(a proposito de literatura, basta pensar no 
verismo e no naturalismo), de cerca de 1840 
at6 quase 1914. 
Passado o furaciio de 1848, excetuan- 
do-se o conflito da Crimiia em 1854 e a 
guerra franco-prussiana de 1870, a era do 
positivismo foi ipoca de paz substancial 
na Europa e, ao mesmo tempo, ipoca da 
ypansiio colonial europiia na Africa e na 
Asia. 
Dentro desse quadro politico, a Europa 
consumou sua transformaqiio industrial, e os 
efeitos dessa revoluqiio sobre a vida social 
foram maciqos: o emprego das descobertas 
cientificas transformou todo o mod0 de pro- 
duqiio; as grandes cidades se multiplicaram; 
cresceu de forma impressionante a rede de 
intercimbios; rompeu-se o antigo equilibrio 
entre a cidade e o campo; aumentaram a 
produqiio e a riqueza; a medicina debelou 
as doenqas infecciosas, antigo e angustiante 
flagelo da humanidade. 
Em poucas palavras, a revoluqiio indus- 
trial mudou radicalmente o mod0 de vida. E 
os entusiasmos se cristalizaram em torno da 
idiia de progress0 humano e social irrefrei- 
vel, j i que, de agora em diante, possuiam-se 
os instrumentos para a soluqiio de todos os 
problemas. Para o pensamento da tpoca, 
esses instrumentos eram sobretudo a ciincia 
e suas aplicaq6es na industria, bem como no 
livre intercimbio e na educaqiio. 
Altm disso, no que se refere B ciincia, 
deve-se dizer que, no period0 que vai de 
1830 a 1890, freqiientemente se entrela- 
qando com o desenvolvimento da industria 
(num entrelaqamento que niio foi unilateral), 
a ciincia registrou muitos passos adiante em 
seus setores mais importantes: na matemi- 
tica, entre outros, temos as contribuiq6es 
de Cauchy, Weierstrass, Dedekind e Can- 
tor; na geometria, as de Riemann, Bolyai, 
Lobacewskij e Klein; a fisica apresenta os 
resultados das pesquisas de Faraday sobre 
a eletricidade, e de Maxwell e Hertz sobre 
o eletromagnetismo; ainda na fisica, temos 
os trabalhos fundamentais de Mayer, Hel- 
mholtz, Joule, Clausius e Thomson sobre a 
termodinimica; o saber quimico 6 desen- 
volvido por Berzelius, Mendelejev e von 
Liebig, entre outros; Koch, Pasteur e seus 
discipulos desenvolvem a microbiologia, ob- 
tendo fxitos estrondosos; Bernard constr6i 
a fisiologia e a medicina experimental. Altm 
disso, i a ipoca da teoria evolucionista de 
Darwin. E os projetos tecnologicos encon- 
tram seu simbolo na Torre Eiffel de Paris e 
na abertura do canal de Suez. 
Substancial estabilidade politica, o 
process0 de industrializaqiio e o desenvolvi- 
mento da ciincia e da tecnologia constituem 
os pilares do meio sociocultural que o posi- 
t ivism~ interpreta, exalta e favorece. 
fi bem verdade que os grandes males 
da sociedade industrial niio tardariio a se 
fazer sentir (desequilibrios sociais, lutas pela 
conquista de mercados, condiqiio de misiria 
do proletariado, exploraqiio do trabalho do 
menor etc.). Esses males seriio diagnostica- 
dos pel0 marxismo em direqiio diferente da 
interpretaqiio do positivismo que, embora 
niio ignorando de mod0 nenhum tais males, 
pensava que eles logo desapareceriam, como 
fen6menos transitorios eliminiveis pel0 
crescimento do saber, da educaqiio popular 
e da riqueza. 
0 s pontos centvais 
da filosofia positivista 
0 s representantes mais significativos 
do positivismo siio Auguste Comte (1798- 
1857), na Franqa; John Stuart Mill (1806- 
1873) e Herbert Spencer (1820-1903), na 
Inglaterra; Jakob Moleschott (1822-1893) 
e Ernst Haeckel(1834-1919), na Alemanha; 
Roberto Ardigb (1 828-1920), na Itilia. 
0 positivismo, portanto, situa-se em 
tradiq6es culturais diferenres: na Franqa, 
inseriu-se no racionalismo, que vai de 
Descartes ao Iluminismo; na Inglaterra, 
ele se desenvolveu inserindo-se na tradiqiio 
empirista e utilitarista, entrelaqando-se, 
em seguida, com a teoria darwiniana da 
evolugiio; na Alemanha, assume a forma de 
cientificismo e de monismo materialista; na 
Itilia, com Ardigo, aprofunda suas raizes 
no naturalismo renascentista, embora d i 
seus frutos maiores, dada a situaqiio so- 
Capitulo de'cimo quinto - O positivismo soci016~ico e u t i l i t a ~ i ~ t a 289 
cia1 da naqiio recim-unificada, no campo 
da pedagogia e tambim na antropologia 
criminal. Apesar de tais diversificaq6es, o 
positivismo apresenta traqos comuns que 
nos permitem sua identificaqiio como mo- 
vimento de pensamento. 
1) Diversamente do idealismo, o posi- 
t ivism~ reivindica o primado da ci2ncia: nos 
conhecemos somente aquilo que as ciincias 
nos d io a conhecer, pois o unico me'todo de 
conhecimento e' o das ciBncias naturais. 
2 ) 0 mitodo das ciincias naturais 
(identificaqiio das leis causais e seu domi- 
nio sobre os fatos) nio vale somente para 
o estudo da natureza, mas tambim para o 
estudo da sociedade. 
3) Por isso, entendida como citncia dos 
"fatos naturais" que sPo as relaq6es huma- 
nas e sociais, a sociologia 6 frutoqualificado 
do programa filosofico positivista. 
4) 0 positivismo niio apenas afirma a 
unidade do mitodo cientifico e o primado 
desse mitodo como instrumento cognosci- 
tivo, mas tambim exalta a ciincia como o 
unico meio em condiq6es de resolver, ao lon- 
go do tempo, todos os problemas humanos 
e sociais que at i entgo haviam atormentado 
a humanidade. 
5 ) Conseqiientemente, a era do posi- 
t ivism~ i ipoca perpassada por otimismo 
geral, que brota da certeza de progress0 irre- 
freavel (por vezes concebido como fruto da 
engenhosidade e do trabalho humano e, por 
vezes, ao contririo, visto como necessiirio e 
automitico) rum0 a condiq6es de bem-estar 
generalizado em uma sociedade pacifica e 
penetrada pela solidariedade humana. 
6) 0 fato de que a cisncia seja proposta 
pelos positivistas como o unico fundamen- 
to solido da vida dos individuos e da vida 
associada, de eia ser considerada como a 
garantia absoluta do destino progressista 
da humanidade, e de o positivismo se pro- 
nunciar pela "divindade" do fato, induziu 
alguns estudiosos a interpretarem o posi- 
t ivism~ como parte integrante da menta- 
lidade romBntica. Somente que, no caso 
do positivismo, seria exatamente a citncia 
a ser infinitizada. Assim, por exemplo, o 
positivismo de Comte, diz Kolakowski, 
"contim uma construqiio oniabrangente 
de filosofia da historia, que se consuma em 
visiio messiBnica" . 
7) Essa interpretaqgo, porim, niio 
impediu que outros intirpretes (por exem- 
plo, Geymonat) vissem no positivismo 
temas fundamentais tornados da tradiqio 
iluminista, como a tendincia de consi- 
derar os fatos empiricos como a unica 
base do verdadeiro conhecimento, a f6 
na racionalidade cientifica como solucio 
dos problemas da humanidade, ou aiida 
a concepqio leiga da cultura, entendida 
como construqiio puramente humana, sem 
dependtncias em relaqiio a pressupostos e 
teorias teologicas. 
8) Sempre em linha geral, o positivis- 
mo (neste caso, John Stuart Mill i exceqgo) 
caracteriza-se pela confianqa acritica e, 
amiude, leviana e superficial, na estabilidade 
e no crescimento sem obstaculos da citncia. 
Essa confianqa acritica na cicncia chegou a 
se tornar fen6meno de costume. 
9) A "positividade" da citncia leva 
a mentalidade positivista a combater as 
concepq6es idealistas e espiritualistas da 
realidade, concepq6es que os positivistas 
rotulavam como metafisicas, embora mais 
tarde tenham caido em metafisicas igual- 
mente dogmaticas. 
10) A confian~a na citncia e na racio- 
nalidade humana, em suma, os traqos ilu- 
ministas do positivismo induziram alguns 
marxistas a considerarem insuficiente e at6 
reducionista a usual interpretaqio marxis- 
ta, que s6 vti no positivismo a ideologia da 
burguesia da segunda metade do sku lo 
XIX. 
290 Sexta parte - 0 positivisnzo m a cultura europCia 
11. firrgrrste Colnte 
e o positivislno socioIbgico 
Animado desde a juventude com propositos de "regeneragao universal", 
sucessivamente pai oficial da sociologia, Auguste Comte (1798-1857) 6 o autor do 
Curso de filosofia positiva (1830-1842, em seis volumes). E e aqui que ele formula 
sua famosa lei dos tr& estagios, segundo a qua1 a humanidade, 
A humanidade assim como a psique dos individuos particulares, passa atraves de 
passa por trCs estbgios: 
tr& estdgios: a) estagio teologico; 
teologico, b) estdgio metafisico; 
meta fisico c) estag io positive. 
e positivo No estdgio teologico os fendmenos s%o interpretados como 
+ § I "produtos da a@o direta e continua de agentes sobrenaturais, 
mais ou menos numerosos"; no estagio metafisico sao explicados 
com referCncia a essCncias, idCias, forgas abstratas como a "simpatia", a "alma 
vegetativa" etc.; no estagio positivo o homem procura descobrir, "com o uso bem 
combinado do raciocinio e da observagao", as leis efetivas "de sucessao e de se- 
melhanga" que presidem ao acontecimento dos fendmenos. 
* 0 objetivo da ciCncia - escreve Comte - e a pesquisa das leis, e isso por 
causa do fato de que "apenas o conhecimento das leis dos fendmenos [...I pode 
evidentemente levar-nos na vida ativa a modifica-10s para nossa 
"Ci@ncia, vantagem ". Ci&ncia, de onde previsao; previsao, de onde a@o. Na de ondepreviGo; esteira de Bacon e de Descartes, Comte afirma que sera a ciencia 
previskio, que fornecera ao homem o dominio sobre a natureza. Por con- 
de onde ac,+jon seguinte, d indispensavel conhecer a sociedade. Eis, entao, que 
+ § 2 Comte propde a ciCncia da sociedade, a sociologia, como fisica 
social, que tem como tarefa a descoberta das leis que guiam os 
fendmenos sociais, assim como a fisica estabelece as leis dos fendmenos fisicos; 
e faz isso por meio de observagdes e compara$3es. A fisica social ou sociologia 
divide-se em estdtica social e dindmica social. 
A estatica social estuda as condigdes comuns que permitem a existencia das 
diversas sociedades no tempo: a sociabilidade fundamental do homem, a fami- 
lia, a divisao do trabalho e a coopera@o nos esfor~os etc. A lei 
Estatica social fundamental da estdtica social e a da liga@o entre os diversos 
e din6mica aspectos da vida social (politico, econdmico, cultural etc.). A di- 
social ndmica social compreende o estudo das leis de desenvolvimento 
+ § 3 da sociedade. A lei fundamental da dini3mica social C a dos trbs 
est6gios. E eis um exemplo de aplicagao desta lei: o feudalism0 C 
estdgio teol6gico; a revolugao (que comega com a reforma protestante e termina 
com a revolu@o francesa) 6 estagio metafisico; a sociedade industrial 6 estagio 
positivo. 
Entre as ciCncias, a sociologia e a mais complexa, uma vez 
Classifica@o que - na hierarquia estabelecida por Comte e que quer ser uma 
e hjerarquia ordem Idgica, histdrica e pedagdgica - pressupde a biologia, a 
dasciencias qua1 pressupde a quimica, que, por sua vez, pressupde a fisica. 
+ § 4 Nesta perspectiva, a filosofia deve "determinar exatamente o 
espirito de cada ciiincia, descobrir suas relagdes, reassumir, se pos- 
sivel, todos os seus principios proprios em numero minimo de principios comuns, 
conforme o metodo positivo". 
Capitulo decimo quinto - O positivismo socioIbgico e utilitarista 291 
A regeneragao da sociedade - que, sobre a base do conhecimento das leis 
sociais, Comte propoe no Sistema de politica positiva (1851-1854) - assume as 
formas de uma religiZio, onde a Deus se substitui a humanidade, ao amor de Deus 
o da humanidade. Humanidade que e o conjunto de todos os homens vivos, dos 
mortos e dos que devem ainda nascer. 0 s individuos se regene- 
ram, dentro da humanidade, como as celulas de um organismo. Substituir 
0 s individuos sZio o produto da humanidade: esta deve ser vene- 
rada como outrora o eram os deuses pagaos. E, fascinado pelo de oeu, 
universalismo do catolicismo, Comte propde sua religiao da hu- pel0 amor 
manidade como copia da ordem da lgreja catolica: com dogmas a humanidade 
(filosofia positiva, leis cientificas), batismo secular, crisma secular + § 5 
etc.; com templos leigos (institutos cientificos) e um papa positivo 
que vigiara o desenvolvimento da indhtria e a utilizaqZio pratica das descobertas. 
Havera nomes novos para os meses e para os dias. A mulher e considerada o anjo 
da guarda positivo. 
, , , , ~ J\ lei dos tr&s estA9ios 
II A 
Augusto Comte foi o fundador do po- 
si t ivism~ francts. Nasceu no ano de 1798 
em Montpellier de familia modesta, "emi- 
nentemente catolica e monirquica", foi 
discipulo e secretirio (e, depois, decidido 
antagonjsta) de Saint-Simon, aluno da 
famosa Ecole Polytechnique (e, aqui, niio 
devemos esquecer a funqiio de modelo da 
Ecole Polytechnique). Teve suficiente fami- 
liaridade corn a matemitica. Foi leitor dos 
empiristas ingleses, de Diderot, d'Alembert, 
Turgot e Condorcet (mais tarde, "por 
higiene mental", ler5 o menos possivel). 
Foi o pai oficial da sociologiae, em certos 
aspectos, o expoente mais representativo 
da orientaqgo do pensamento positivista 
em seu conjunto. 
Em seu itinerario intelectual e moral 
Comte escreve: "Ainda aos 14 anos eu j i 
sentia a necessidade fundamental de uma 
reestruturaqiio universal, politica e filosofica 
ao mesmo tempo, sob o impulso de salutar 
crise revolucionAria, cuja fase principal 
precedera meu nascimento. A influtncia 
luminosa de uma iniciaqiio matemitica rece- 
bida na familia, desenvolvida felizmente na 
~ c o l e Polytechnique, fez-me instintivamente 
pressentir a unica via intelectual que podia 
realmente conduzir a essa grande renova- 
$50". E acrescenta que em 1822 ele via 
claro seu projeto filos6fico "sob a inspiraqiio 
constante de minha grande lei relativa ao 
conjunto da evoluqiio humana, individual 
e coletiva": a lei dos trts estigios. 
Trata-se da lei segundo a qua1 a huma- 
nidade, conforme a psique de cada homem, 
passa por trts estigios: 
a) o teologico; 
b) o metafisico; 
c) o positivo. 
Escreveu Comte no Curso de filosofia 
positivista (1 830-1 842): "Estudando o de- 
senvolvimento da inteligencia humana [.. .] 
desde sua primeira manifestaqiio at6 hoje, 
creio ter descoberto uma grande lei funda- 
mental [...I. Esta lei consiste no seguinte: 
cada uma de nossas concepq6es principais e 
cada ram0 de nossos conhecimentos passam 
necessariamente por trts estigios te6ricos 
diferentes: o estigio teol6gico ou ficticio, o 
estAgio metafisico ou abstrato e o estigio 
cientifico ou positivo [...I. Dai trts tipos de 
filosofia ou de sistemas conceituais gerais 
sobre o conjunto dos ferGmenos, que se 
excluem reciprocamente. 0 primeiro C um 
ponto de partida necessirio da inteligtncia 
humana; o terceiro C seu estado fix0 e de- 
finitivo; o segundo destina-se unicamente a 
servir como etapa de transiqiio". 
a) No estigio teologico, os fen6menos 
S ~ O vistos como "produtos da agio direta e 
continua de agentes sobrenaturais mais ou 
menos numerosos "; 
b) no estigio metafisico, S ~ O explicados 
em funqiio de esszncias, idCias ou forqas 
abstratas (0s corpos se uniriam graqas A 
66 ' simpatia"; as plantas cresceriam em virtude 
da presenqa da "alma vegetativa"; o opio, 
como ironizava Moliih-e, adormece porque 
possui a "virtude soporifera"); 
c) mas C somente no "estigio positivo 
que o espirito humano, reconhecendo a 
E Lei dos trBs estagios. Comte de- 
nomina sua proposta da lei dos tr& 
estagios "minha grande lei", lei que 
se refere "ao conjunto da evolugao 
humana, individual e coletiva". A 
humanidade, como tambem a psique 
dos individuos particulares, passa 
atraves de trCs estdgios: a) o teolo- 
gico; b) o metafisico; c) o positivo ou 
cientifico. 
No Curso de filosofia positiva Comte 
afirma: "Estudando o desenvolvimen- 
t o da inteligencia humana [...I desde 
sua primeira manifestaqao ate hoje, 
creio ter descoberto uma grande lei 
fundamental [...I. Esta lei consiste 
no seguinte: cada uma de nossas 
concepgaes principais, cada ram0 de 
nossos conhecimentos passa neces- 
sariamente por trCs estagios teoricos 
diferentes: o estagio teologico ou 
fictlcio; o estagio metafisico ou abs- 
trato; o estagio cientifico ou positivo [...I. Dai trCs tipos de filosofia, ou de 
sistemas conceituais gerais, sobre 
o conjunto dos fendmenos, que se 
excluem reciprocamente. 0 primeiro 
6 um ponto de partida necessario da 
inteligencia humana; o terceiro e seu 
estagio fixo definitivo; o segundo 
destina-se unicamente a servir como 
etapa de transigfio". 
No estcigio teofdgico os fen6menos 
sao explicados como produtos da ag8o 
direta de agentes sobrenaturais; no 
estcigio metafisico os agentes sobre- 
naturais silo substituidos por forgas 
abstratas, esshcias; 6 no estdgio po- 
sitivo "que o espirito humano, reco- 
nhecendo a impossibilidade de obter 
conhecimentos absolutos, renuncia a 
perguntar-se qua1 seja a origem e o 
destino do universo, quais sejam as 
causas intimas dos fendmenos, para 
procurar apenas descobrir, com o uso 
bem combinado do raciocinio e da 
observasao, suas leis efetivas, isto 6, 
suas relaqdes invariaveis de sucessao 
e de semelhansa". 
Esta 6, portanto, a lei dos trcis estagios, 
a pedra angular do edificio filosofico 
de Comte; lei que, a seu ver, valeria 
- como se repete - para o desenvol- 
vimento de toda a historia da huma- 
nidade, como tambem para o desen- 
volvimento da vida dos individuos 
particulares: todo homem e teologo 
em sua infbncia; e metafisico em sua 
juventude; e fijico em sua maturidade. 
impossibilidade de obter conhecimentos 
absolutos, renuncia a perguntar qual C sua 
origem, qual o destino do universo e quais as 
causas intimas dos fen6menos para procurar 
somente descobrir, com o uso bem combina- 
do do raciocinio e da observaqiio, suas leis 
efetivas, isto C, suas relaqBes invariiveis de 
suces+o e de semelhanqa". 
E essa, portanto, a lei dos trts estigios, 
o conceito-chave da filosofia de Comte. 
Lei que encontraria confirmaqio tanto no 
desenvolvimento da vida dos individuos 
(todo homem C te6logo na sua infincia, C 
metafisico em sua juventude e C fisico em 
sua maturidade), como na hist6ria humana. 
At6 sem conhecer Vico nem Hegel, Comte 
constr6i com sua lei dos trts estigios uma 
grandiosa filosofia da h id r i a , que se apre- 
senta como o es toda a evoluqiio 
da humanidade. 
Agora, portanto, estamos no estigio 
positivo. 0 s mitodos teologicos e metafisi- 
cos niio siio mais empregados por ninguCm, 
exceto no campo dos fen6menos sociais, 
observa amargamente Comte no Curso de 
filosofia positiva, "embora sua insuficihcia 
a esse respeito ja seja plenamente sentida 
por todos os espiritos um pouco evoluidos". 
Eis, portanto, salienta Comte, "a grande e 
unica lacuna que se trata de preencher para 
construir a filosofia positiva". A filosofia 
positiva, portanto, deve submeter a socie- 
dade a rigorosa pesquisa cientifica, ja que 
somente uma sociologia cientifica pode "ser 
considerada como a unica base solida para 
a reorganizagio social, que deve encerrar 
o estado de crise em que se encontram h i 
longo tempo as na@5es mais civilizadas". 
N5o se podem resolver crises sociais 
e politicas sen1 o devido conhecimento dos 
fatos sociais e politicos. E C por essa razio 
que Comte vE como tarefa extremamente ur- 
gente a do desenvolvimento da fisica social, 
vale dizer, da sociologia cientifica. 
Mas, antes de mais nada, em que 
consiste a ci@ncia para Comte? Na opiniio 
dele, o objetivo da cicncia esta na pesquisa 
das leis, j i que "s6 o conhecimento das leis 
dos fen6menos, cujo resultado constante 
C o de fazer com que possamos prevt-los, 
evidentemente, pode nos levar, na vida 
ativa, a modifici-10s em nosso beneficio". 
Capitulo de'cimo quinto - 6 positivisrno s o c i o k ~ i c o e utilitarista 293 
Auguste Comte ( 1 798-1 8 57) 
for o pal ofictal 
da socrologza e o expoente 
mars representatzvo 
d o posztruzsmo. 
A lei C necessiria para prever, e a previsiio 
C necessiria para a aqio do homem sobre a 
natureza. Afirma Comte: "Em suma, ciincia, 
logo previsiio; previsiio, logo a@o: essa C 
a f6rmula simples que expressa de mod0 
exato a relaqiio geral entre a ciincia e a arte, 
tomando esses dois termos em sua acepqiio 
total". 
Na trilha de Bacon e Descartes, Comte 
pensa que a ciincia C que deve fornecer ao 
homem o dominio sobre a natureza. E, no 
entanto, ele niio C em absoluto de opiniiio 
que a cicncia, essencialmente e por sua 
natureza, esteja voltada para os problemas 
prhticos. Comte C claro sobre a natureza 
teorica dos conhecimentos cientificos, que 
ele se apressa a distinguir claramente dos 
conhecimentos tCcnico-praticos. A esse 
respeito, chega a citar uma consideraqiio de 
Condorcet: "0 marinheiro, preservado do 
naufragio graqas a observaqiio exata da lon- 
gitude, devesua vida a uma teoria concebida 
dois mil anos antes por homens de ginio, 
que tinham em vista simples especulaq6es 
geomttricas". 
Mas Comte tambCm niio C empirista de 
tip0 antigo, que cuida somente dos dados 
de fato e exclui as teorias. Ainda no Curso 
de filosofia positiva, podemos ler: "Nos 
reconhecemos que a verdadeira ciincia [. . .] 
consiste essencialmente de leis e n io mais 
de fatos, embora estes sejam indispenshveis 
para o seu estabelecimento e sua sanqiio". 
A pura erudiqio consiste em fatos sem lei; a 
verdadeira ciincia consiste em leis controla- 
das com base nos fatos. E esse controle com 
base nos fatos exclui da ciincia toda busca 
de essincias e causas dtimas metafisicas. 
Essas idCias de Comte sobre a doutrina 
da ciincia influenciaram o pensamento pos- 
terior em virtude de sua clareza e validade. 
De qualquer modo, porCm, ja em alguns tre- 
chos do Curso de filosofia positiva e depois, 
sobretudo, no Sistema de politica positiva 
(1851-1854), Comte enrijece sua imagem 
de ciincia, quase a ponto de absolutiza-la: 
294 Sexta parte - O positivismo na cultura europkia 
condena pesquisas especializadas, inclusive 
experimentais, o uso excessivo do cilculo e 
qualquer pesquisa cientifica cuja utilidade 
nHo seja evidente. Por isso, em sua opiniHo, 
deve-se confiar a citncia nHo aos cientistas, 
mas aos "verdadeiros fil6sofos", ou seja, a 
todos os que estio "dignamente dedicados 
ao sacerdocio da humanidade". 
0 desenvolvimento posterior das citn- 
cias desmentiu essas idtias de Comte. Altm 
disso, urn conhecimento que hoje parece 
infitil pode se tornar necesshrio amanhi. 
Entretanto, no sistema de Comte, um saber 
estivel e bloqueado esta em funqiio de uma 
ordem social estivel. 
fi sociologia 
COMO fisica social 
Para passar de uma sociedade em crise 
para a "ordem social", h i necessidade de sa- 
ber. 0 conhecimento C feito de leis provadas 
com base nos fatos. Desse modo, C precis0 
encontrar as leis da sociedade se quisermos 
resolver suas crises e prever o desenvolvi- 
mento futuro da convivhcia social 
Portanto, para a sociologia, atravCs do 
raciocinio e da observaqio, t possivel esta- 
belecer as leis dos fen6menos sociais, como 
a fisica pode estabelecer as leis que guiam 
os fen6menos fisicos. 
Comte divide a sociologia, ou fisica 
social, em: 
a) estatica social; 
b) dinhnica social. 
a) A estitica social estuda as condiqoes 
de existencia comuns a todas as sociedades 
em todos os tempos. Tais condi~oes siio a 
sociabilidade fundamental do homem, o 
nucleo familiar e a divisio do trabalho, que 
se concilia corn "a cooperaqHo dos esfor- 
qos". A lei fundamental da estitica social 
t a conex20 entre os diversos aspectos da 
vida social, de mod0 que, por exemplo, uma 
constituiqHo politica n io t independente de 
fatores como o econ6mico e o cultural. 
Rctrato de Conzte 2 mesa de tmbnlho.

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