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Literatura Brasileira I Das Origens ao Romantismo

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Núcleo de Educação a Distância
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
SEMESTRE 4
LITERATURA BRASILEIRA I: DAS ORIGENS AO ROMANTISMO
Créditos e Copyright	
MARTINS, Fábio.
Literatura Brasileira I. Fábio Martins. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2007. (Material didático. Curso de Letras).
 
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Ensino a distância.  2. Letras.   3. Literatura.  I. Título
CDD 800      
	
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
CURSO: Licenciaturas em Letras
COMPONENTE CURRICULAR: Literatura Brasileira I
SEMESTRE: 4º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80
 
EMENTA: Estudo das primeiras manifestações literárias no Brasil. Barroco, Arcadismo e Romantismo. Sua formação e repercussões.
OBJETIVO GERAL: Realizar o estudo teórico e prático sobre as primeiras manifestações literárias em solo brasileiro; Analisar as características e autores dos movimentos literários e suas relações históricas. .
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
Unidade I – O que é literatura
Compreender o que caracteriza uma obra como literária e sua relação com a sociedade. 
Unidade II – Primeiras manifestações literárias em solo brasileiro
Conhecer as primeiras formas de literatura produzidas em nosso país e as características do quinhentismo.
Unidade III – Barroco: contextualização, características, principais autores e obras.
Ler e analisar textos representativos das estéticas estudadas
Unidade IV – Arcadismo: contextualização, características, principais autores e obras
Oferecer subsídios teóricos e práticos para a compreensão das produções literárias do movimento.
Unidade V – Romantismo: contextualização, características, principais autores e obras.
Oferecer subsídios teóricos e práticos para a compreensão das produções do período romântico.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Unidade I – O que é literatura
O conceito de literatura
A relação entre literatura e a sociedade 
Gêneros literários
Unidade II – Primeiras manifestações literárias em solo brasileiro
Contexto histórico 
Literatura de informação
A literatura dos Jesuítas 
Obras de Padre Anchieta 
Unidade III – Barroco: contextualização, características, principais autores e obras.
Contexto histórico do Barroco
Características do movimento.
A literatura de Padre Antônio Vieira 
A literatura de Gregório de Matos
Unidade IV – Arcadismo: contextualização, características, principais autores e obras
Características do movimento árcade
Contexto histórico
A literatura de José Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Tomás Antônio Gonzaga
Unidade V – Romantismo: contextualização, características, principais autores e obras.
Literatura Brasileira
As características do movimento romântico
A primeira geração romântica 
A prosa romântica e seus autores
A poesia romântica e seus autores
TEMA TRANSVERSAL: Iracema e o índio atual
Bibliografia Básica
ALENCAR, José. Iracema. Rio de Janeiro: Vozes, 2016
CITELLI, Adilson. Romantismo. São Paulo: Ática, 2007.
KAVISKI, Ewerton. Literatura brasileira: uma perspectiva histórica. Curitiba: Intersaberes, 2014. (Série Literatura em Foco)
 Bibliografia Complementar
GASPARETTI, Angela Maria Organizadora. Literatura Brasileira I. São Paulo: Pearson, 2015 
GERALDI, João Wanderley (org). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática,1984. 
PROENÇA FILHO, Domício. A Linguagem Literária - 8ª edição. São Paulo: Ática 
RHEINHEIMER, Marione; CAVALCANTE, Moema; Ogliari, Ítalo Nunes; PEREIRA, Maria Elisa Matos. Literatura brasileira: do quinhentismo ao romantismo. Curitiba: Editora Intersaberes, 2013 
ZINANI, Cecil Jeanine Albert. História da literatura. Caxias do Sul: Educs, 2010
METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo ensino/aprendizagem.
AVALIAÇÃO:
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.
Aula 1_O que é Literatura?
    
Olá, sejam bem-vindas. Bem-vindas todas as pessoas que estão cursando Letras e que começam a navegação pelo vasto mundo da literatura, especificamente, a brasileira.
Mas antes de entrarmos, e usarei aqui a quarta pessoa da conjugação verbal, mais conhecida como primeira pessoa do plural, pois estaremos sempre juntos, construindo nosso conhecimento de forma colaborativa, participativa, de maneira a compreendermos esse universo maravilhoso e imenso que é a literatura.
Mas o que é, afinal, literatura? Se pegarmos a definição de qualquer dicionário, literatura, do latim literatura, é a arte de escrever, de forma artística, em prosa ou em verso. Ezra Pound, poeta norte-americano, do início do século passado, dizia que “literatura é a linguagem carregada de significado”. Para Edgar Morin, educador francês, “literatura é um mundo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo, sobre as ciências naturais, sobre as ciências sociológicas, sobre a antropologia cultural, sobre os princípios éticos, sobre política, economia, ecologia...”
O senso comum diz que literatura é a arte da palavra. Eu completaria a frase, dizendo que literatura é a arte da palavra escrita! Mas ela ultrapassa a escrita, é muito mais que isso. É a arte que desperta muitas outras possibilidades, como veremos em aulas posteriores.
Afinal, quando os portugueses por aqui chegaram, já havia muitas culturas indígenas estabelecidas. Com suas histórias, suas lendas, suas narrativas. Porém essa cultura era baseada em relatos orais, sem nenhum tipo de registro escrito. Foram os portugueses que fizeram os primeiros registros escritos no Brasil, iniciando o que chamamos de Literatura de Informação, como veremos na segunda unidade, deste curso.
Bem, agora que chegamos a uma definição única sobre o que é literatura, é importante salientarmos que há várias divisões no universo literário, como veremos nas próximas aulas. O importante é que façamos como Fernando Pessoa, poeta moderno português:
  
                                               Navegar é preciso
                                               Viver não é preciso
  
Para finalizarmos nossa primeira aula, pesquise outras definições sobre literatura, registre essas definições e seus respectivos autores e aguarde, essas definições serão muito importantes em breve.     
Aula 2_Literatura e Sociedade
  
Na aula anterior vimos o que é literatura. Acompanhamos definições específicas e o senso comum. Desvendamos, juntos, os significados internos que a palavra traz.
Seguiremos agora por um outro rumo importante. A representação literária da sociedade. É importante salientar que a literatura é uma das tantas manifestações artísticas que representam a sociedade e sua época. Por isso, muitos historiadores, estudam determinados períodos históricos através de suas manifestações literárias. 
Como ignorar as diversas produções do período da ditadura, no Brasil, como não levar em conta as manifestações literárias do período da luta pela independência do século XVIII, que veremos em nossa quarta unidade?
Você deve estar se perguntando se estes são os únicos registros válidos. Óbvio que não. Há outros, muitos outros. Registros históricos, documentos oficiais, dentre tantos outros, porém, através dos estilos e períodos literários podemos entender,verificar e propor análises de diversas épocas em diversas sociedades.
Ao lermos os livros de Machado de Assis, podemos entender, com detalhes, a sociedade carioca do século XIX. O Regionalismo do século XX retrata com detalhes a vida nordestina em seus diferentes aspectos, em seus diferentes momentos e em suas diferentes possibilidades: o sertão, o coronelismo, a vida nas cidades emergentes, enfim, um completo panorama sóciopolítico econômico.
Assim sendo, você pode analisar vários momentos da vida brasileira, lendo e refletindo sobre diversos livros, diversas produções desde o período da chegada dos portugueses, conhecido como Quinhentismo ou Literatura de Informação até a chamada literatura pós-moderna, que acompanha a atualidade. 
Mas uma obra literária não é uma obra de ficção?
Sim e não! Sim porque parte da imaginação do escritor, e não porque ele pode usar essa peça de ficção para fazer uma denúncia social, criticar a realidade que o cerca ou mesmo satirizar a sociedade em que vive, como tão bem fez Bocage, o chamado Boca do Inferno, como veremos em nossa terceira unidade. 
Na verdade, o escritor usa sua arte para certo engajamento político, pois como já disse Bertold Brecht, nenhuma arte é totalmente ingênua, ou seja, há sempre uma intencionalidade por trás daquilo que está sendo escrito, há sempre algo a ser dito nas entrelinhas. Diretamente o texto pode não ter nenhuma crítica, mas pode estar lá de forma indireta, metafórica, como em Apesar de Você, de Chico Buarque:
  
                                               Apesar de você
                                               Amanha há de ser
                                               Um novo dia...
                                                Hoje você é quem manda
                                               Falou ta falado
                                               Não tem discussão...
  
A música, aparentemente, uma crítica a um relacionamento amoroso que chega ao fim, na verdade era uma crítica ao governo militar que, então instalava o Ato Institucional Número 5, o conhecido AI5, no momento em que a ditadura militar no Brasil atingia seu auge.
Assim, mesmo em um texto metafórico, é possível estudar um determinado período histórico e uma determinada sociedade através de seus textos literários, no caso acima, um poema. 
Espero que você tenha apreciado essa aula e que tenha compreendido a relação entre literatura e sociedade. Na próxima aula iniciaremos nossa navegação pelos gêneros literários e mergulharemos um pouco mais nessa fascinante viagem que é a literatura.
Aula 3_Gênero e período literário
    
Vimos até agora, nas duas primeiras aulas, a literatura de uma forma geral. Seus aspectos mais relevantes, suas representações sociais. Entraremos agora em nossa primeira especificidade, que é como dividimos a literatura e como a classificamos ao longo do tempo.
Em geral, a literatura é classificada em gêneros, ou seja, tipos de textos literários. Esses gêneros estão dentro de duas divisões básicas: textos em prosa e textos em verso.
Veja a figura abaixo: 
Já o gênero é dividido em três classificações, de acordo com a concepção clássica, baseada na obra Arte Poética de Aristóteles – Lírico, Poético e Dramático. Veremos cada um dos gêneros, a seguir.
Gênero Lírico: Baseado na primeira pessoa, no eu, é uma visão particular do mundo, exprimindo suas emoções, ideias e ideais em relação ao mundo exterior. Um belo exemplo é este trecho do poema de Fernando Pessoa:
                                            
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo...  
Veja que todos os verbos estão na primeira pessoa e que o poeta apresenta uma função emotiva, vendo a si de maneira particular, independente da visão que o mundo tem de si.
Gênero Épico: É marcado pela narrativa de grandes feitos. Há um distanciamento entre o narrador e o fato narrado. Esses textos quase sempre estão na terceira pessoa e valorizam seus heróis e feitos. Na história da humanidade temos vários exemplos: Ilíada e Odisseia, de Homero; Os Lusíadas, de Camões e, mais recentemente, Mensagem, de Fernando Pessoa. Todos esses textos citados, por se tratarem de obras poéticas são conhecidos, também por epopeia. O gênero épico também é conhecido no cinema desde muito tempo com filmes como:Ben Hur, Cleópatra, El Cid, Rei dos Reis – da época clássica do cinema, até filmes mais atuais como O Último Samurai, Troia, Gladiador e a trilogia Guerra nas Estrelas.
Gênero Dramático: É o texto escrito para ser encenado. O texto só atinge seu verdadeiro sentido no local onde deve ser encenado, seja ele um palco, um restaurante ou um hospital. Grandes autores brasileiros desenvolveram esse gênero que tem origem na Grécia antiga.
  
Bem, agora já sabemos quais são os gêneros que compõem a literatura. Serão nossos instrumentos de navegação. Nossa bússola, nosso astrolábio, nossa luneta. Então vamos navegar agora por outro mar. O mar chamado período literário que nada mais é que a divisão temporal dos estilos que predominaram em determinada época. Como poderemos verificar no quadro abaixo:
 
Como deve ter notado, esses períodos são referências históricas, vistas pela modernidade, obviamente, um escritor que publicasse suas obras noBarroco, não se intitulava e nem sabia que era um autor barroco. Assim, também são os marcos históricos, quando Machado de Assis publicou Memórias Póstumas não sabia que estava instaurando o Realismo, mas é considerado seu marco, pois rompeu com a estética vigente até então. Veremos, em nossa navegação dentro da Literatura Brasileira I, o período que abrange da Literatura de Informação até o período denominado Arcadismo. Três séculos de intensa atividade social, política, econômica e literária. 
Espero que tenha gostado dessa aula e que aprecie, também, nossa próxima aula, quando entraremos no que denominamos, hoje, de literatura brasileira.
Para refletir, deixo a vocês uma pergunta: Qual período literário estamos vivendo hoje? Pesquise e, em uma próxima oportunidade, refletiremos sobre esse assunto.
Aula 4_Literatura Brasileira 
 
O Zé Pereira chegou de caravela
E perguntou pro guarani da mata virgem
- Sois cristão?
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte...
Oswald de Andrade
  
Você pôde acompanhar, na aula anterior, como a literatura possui algumas classificações importantes. Agora nos deteremos, mais profundamente, no que chamamos de Literatura Brasileira.
Segundo o professor Antonio Candido e diversos outros autores, o que chamamos de Literatura Brasileira não surgiu assim que os portugueses aportaram no Brasil. Apesar de a carta de Pero Vaz de Caminha ser considerada o marco do início da Literatura Brasileira, até o barroco esta literatura era feita por portugueses. Foi o chamado período da Literatura de Informação.
É apenas no Barroco que se instala uma verdadeira literatura feita com características brasileiras, mas ainda assim, influenciada, e muito, pela literatura feita em Portugal. 
As raízes da literatura brasileira sempre estarão interligadas com nossos patrícios, até a Semana de Arte Moderna não se fez uma literatura genuinamente brasileira, mas, em muitos aspectos, uma literatura híbrida, marcadamente europeizada, como podemos verificar nos textos de Machado de Assis, principalmente em sua primeira fase.
Como nosso foco de estudo são as origens da literatura brasileira até o Arcadismo, vamos verificar, juntos, que essa literatura está marcada, não apenas em sua linguagem, mas em seus aspectos estéticos e, em alguns pontos, ideológicos, pela literatura feita em Portugal. Muito em razão de que os nossos poetas e escritores fossem filhos de grandes proprietários de terra portugueses que aqui se firmaram e de terem estudado em universidades lusas, principalmente na de Coimbra.
Difícil fazerafirmações categóricas em termos artísticos, principalmente em literatura, mas é certo que nossos primeiros grandes escritores, por mais revolucionários e rebeldes que fossem – vide geração árcade – tinham uma formação europeizada, muito distante da realidade brasileira da época.
Na verdade, o estudo da literatura reflete muito mais seus aspectos históricos do que pensamos, por isso é importante que você esteja atento a esses aspectos. A literatura brasileira não surgiu do nada, não se inventou, tampouco evoluiu fora de um contexto sócio-político da época. Época de colonização, de invasões, de escravidão e violência, principalmente em seu início. 
Com esta aula chegamos ao final de nossa primeira unidade, cuja ideia foi situar através de um panorama geral sobre literatura. Espero que tenha apreciado, que estude e se apaixone pela navegação literária que faremos. 
Na próxima unidade abriremos nossa carta de navegação no período intitulado Quinhentismo ou Literatura de Informação, mas para que possamos aportar em nossa próxima parada você deve fazer os exercícios de finalização dessa unidade que darão os instrumentos necessários para que sigamos nossa navegação, juntos!
Espero todos na próxima unidade!
Resumo_Unidade I
   
Nesta unidade você estudou definições sobre literatura para entender, afinal, o que é literatura. Viu, também, como essa literatura reflete a sociedade na qual está inserida e de como é influenciada por esta sociedade.
Além disso, refletiu sobre as possibilidades dessa literatura e o que ela representa em determinados períodos específicos.
Partimos juntos, então, para pensarmos sobre as classificações, clássicas e modernas, desta literatura. Você pôde observar que uma classificação clássica divide a literatura em gêneros e, uma mais moderna, em períodos, que acabam por englobar esses gêneros.
Finalmente, seguimos por refletir sobre o que, realmente, é literatura brasileira, o que ela significa, quais suas influências e formação. E o que representa chamarmos uma literatura de brasileira e que reflexos isto possui atualmente.
Na próxima unidade, entraremos em nossas raízes e refletiremos sobre as origens de nossa literatura.
Aula 5_Contexto Histórico 
 
Na unidade anterior, você acompanhou a conceituação de literatura e algumas reflexões sobre ela. Agora zarparemos por outros mares para aportarmos em outras terras, mais precisamente, o Brasil.
Um dos cuidados que teremos, ao longo de nosso curso, é o da contextualização histórica. É preciso lembrar que o Brasil, como já vimos anteriormente, possuía um povo e uma cultura nativa e que foi dominado por um povo estrangeiro. Este povo trouxe uma nova cultura, novas características. Acima de tudo, trouxe uma cultura escrita. É bom lembrar, como você deve estar vendo em Literatura Portuguesa I, que Portugal já possuía alguns séculos de história literária. Na época do “achamento” como dito na carta de Caminha, ou da invasão, na visão de historiadores contemporâneos, Portugal já havia passado pelo Trovadorismo, pelo Humanismo e estava às portas do Classicismo.
O Brasil, então, entrava no período literário chamado Quinhentismo a partir do olhar do colonizador, do invasor.
Em termos de história, Portugal era uma potência marítima, a maior da Europa. Vivia o apogeu econômico, militar, dividindo com a Espanha o domínio dos mares. Um filme bem interessante que você pode assistir chama-se – 1492, A Conquista do Paraíso – que conta a trajetória de Cristóvão Colombo e a descoberta do continente americano.
Não por coincidência, ambos os reinos, aventuraram-se a tomar posse das terras ocidentais.
Em termos de literatura, a Europa vivia um período riquíssimo, com grande autores, grandes obras, grandes artistas em todas as áreas.
As potências marítimas – Portugal e Espanha – lançam-se, então, por mares nunca d´antes navegados, no caso de Portugal, boa parte das expedições partiam da Torre de Belém, mais especificamente da Praia do Restelo – hoje inexistente – no belo Rio Tejo.
É daí que parte a esquadra de Cabral, onde havia um escrivão da armada chamado Pero Vaz de Caminha, que fornece nossa entrada, ainda que de forma estranha, no universo da literatura mundial.  
Nesta aula contextualizamos o período que é considerado o início da Literatura Brasileira. Na próxima aula falaremos sobre esse período, com mais detalhes e sobre seus principais autores.  
Estude, tire suas dúvidas e, acima de tudo, leia bastante.
	
Aula 6_Quinhentismo e leitura de informação
 
  
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade
 
Esta terra, Senhor, me parece que, da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste ponto temos de vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima de toda chã é muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa...Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho.
 
O trecho acima faz parte da Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei Dom Manuel. Peço agora um exercício imediato a você. Releia o trecho, em seguida feche os olhos, por breves segundos, e tente visualizar a imagem que os portugueses tiveram ao chegar em nossas terras. Pronto, não fique muito tempo assim, senão acabará pegando no sono e nossa viagem está apenas começando.
Autores como Antonio Candido e Alfredo Bosi preferem chamar a produção deste período de colonização de “manifestações literárias” ou “ecos da literatura no Brasil”, só muito depois, chamarão de Literatura Brasileira. Mas o certo é que a carta de Caminha é um marco, um referencial de documento, porém sem valor literário ainda.
É época dos cronistas, não no sentido como conhecemos hoje, mas no sentido de relatores das viagens, da época em que viveram. Eram os chamados “escrevinhadores”, que tinham a função de registrar todas as ações dos exércitos, dos navegadores ou, simplesmente, registrarem o cotidiano do reino.
Por este motivo o Quinhentismo também recebe o nome de Literatura de Informação, pois eram essas crônicas que informavam os soberanos sobre os movimentos de seus comandados.
A Carta de Caminha inicia o chamado Período Colonial que perdura até o século XVIII e, como já vimos, representa uma literatura não totalmente brasileira, pelo menos até surgirem os movimentos de independência.
Há outros cronistas importantes, além de Caminha, dentre eles, Pero de Magalhães Gandavo e Gabriel Soares de Sousa. Estes dois vieram após Caminha e tinham o intuito de alertar o rei de Portugal sobre as possibilidades de exploração e colonização, além de atrair portugueses para a colônia. Em ambos os casos se apaixonaram pela nova terra, sendo que Gandavo faleceu na Bahia, porém sem data precisa.
Outro momento importante da época de início da colonização, em termos de literatura, é a literatura chamada jesuítica que tem como seu maior expoente, José de Anchieta, sobre quem veremos em aulas posteriores.
Você pode encontrar em vários sites a carta de caminha na íntegra. Basta acessar um bom site (sítio) de buscas. Sugerimos o Google (www.google.com.br).  
Sugerimos, também, como leituras complementares, os seguintes livros:
Cronistas do Descobrimento – Série Bom Livro – Ed. Ática.
A Carta de Pero Vaz de Caminha, com comentários e notas de Douglas Tufano – Ed. Moderna.  
Espero que você tenha gostado desta aula, que ela tenha contribuído para dar novos instrumentos para nossa navegação e que possamos continuar navegando juntos. Na próxima aula, trataremos de como os povos originais de nossa terra eram vistos pelos portugueses, desde a visão inicial de Caminha, passando pela visão de outros cronistas do mesmo período.
Aula 7_A visão do índio pelo colonizadorQuando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Oswald de Andrade
  
“O índio não se chamava nem chama si mesmo de índio. O nome ‘índio’ veio trazido pelos ventos dos mares do século XVI, mas o espírito ‘índio’ habitava o Brasil antes mesmo de o tempo existir e se estendeu pelas Américas para, mais tarde, exprimir muitos nomes, difusores da Tradição do Sol, da Lua e do Sonho.”[1]
  
A visão acima descrita é de um “índio” para com os “índios”. Para que possamos conversar sobre o assunto vou abolir as aspas, elas serviram apenas para destacar  que o que chamamos de índio não se vê como tal. Índio, e todos os seus derivados, é um termo europeu, do colonizador, do invasor. Invasor esse que tem uma visão peculiar sobre os povos ancestrais que habitavam as muitas terras do novo mundo. Caminha, em sua carta, cita: “Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa de cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como tem de mostrar o rosto.”  Mais adiante, Caminha, cita: “Ali andavam entre eles três ou quatro moças bem novinhas e gentis, com cabelos mui pretos e compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha.”
Estava assim estereotipado o bom selvagem, que tão cedo não sairia do imaginário europeu. Estava assim estigmatizada a mulher brasileira, da época, que perduraria por vários séculos. Você verá no Romantismo brasileiro o ápice desta visão através do livro Iracema de José de Alencar.
Pero de Magalhães Gandavo reforça essa visão em seu História da Província de Santa Cruz
 
Mas a vida que buscam e a granjearia de que todos vivem é a custa de pouco trabalho e muito mais descansada que a nossa: porque não possuem nenhuma fazenda, nem procuram adquiri-la como os outros homens, e assim vivem livres de toda cobiça e desejo desordenado de riquezas, de que as outras nações não carecem; e tanto que o ouro nem a prata nem pedras preciosas tem entre eles nenhuma valia, nem para seu uso tem necessidade de nenhuma coisa destas nem doutras semelhantes...
  
Fica clara, nos dois casos, a visão de que os povos, que habitavam, então, a recém-colônia, eram em muito diferentes dos europeus. Sua simplicidade, seu modo de vida, não necessitava de grandes preciosidades, aqui buscadas pelos colonizadores. Alguns autores fazem outra leitura dessas descrições. Percebem no discurso, em suas entrelinhas a chance de escravizar esses povos. Veem na leitura de Gandavo a chance de escravizar os homens e copular com as mulheres. Mas nos atendo aos aspectos literários, vemos neste tipo de literatura a predominância do aspecto descritivo, do olhar do observador, minuciosamente descrevendo cada detalhe dos aspectos observados.
Gabriel Soares de Sousa possui uma visão mais científica, observando aspectos da fala, principalmente no tocante à falta de algumas letras do alfabeto europeu.
Em todos os aspectos, esses cronistas foram importantes por traçarem os primeiros registros e respectivas impressões sobre os povos ancestrais que aqui habitavam. Mesmo com uma visão um tanto deturpada pela tradição crista, seus registros são importantíssimos por serem uns dos poucos documentos que temos do Brasil neste início de período colonial.  
Fechamos um primeiro ciclo do Quinhentismo. Nossa navegação parte agora para outros rumos. Vimos os cronistas, a narrativa descritiva da Literatura de Informação. Partiremos agora para a visão jesuíta, para a visão dos primeiros clérigos que aqui chegaram.
Há muitas músicas que tratam do tema indígena, de diversos autores brasileiros. Pesquise algumas na Internet e as registre para que possamos trocar essas informações em um de nossos fóruns.
Espero que tenha gostado de nossa aula e que possamos continuar navegando juntos.
  
  
 
[1] A Terra dos Mil Povos – Kaka Werá Jecupé – Ed. Fundação Peirópolis
Aula 8_A literatura Jesuíta
  
Você pode acompanhar na aula anterior a visão dos europeus em relação aos índios. Essa visão redundará em um importante movimento que aporta aqui, em 1.549.
Neste ano, surgem os primeiros jesuítas no Brasil. Historicamente seu papel foi importantíssimo: fundaram os primeiros colégios, divulgaram festas cristãs e iniciaram uma série de atividades culturais. Embora, muitos jesuítas tenham se dedicado a diversas atividades literárias, o mais conhecido deles foi José de Anchieta. Aportado no Brasil em 1553, foi o fundador, junto com o Padre Manuel da Nóbrega, do Colégio de Piratininga, ponto central da futura cidade de São Paulo.
Uma das mais importantes funções de Anchieta foi a de catequização dos índios. Seus dons artísticos, porém, destacaram-se dentre tantos outros jesuítas. Dedicou-se, com afinco, ao diálogo e às narrativas, autos e poemas, além da retórica.
Os Jesuítas, com Anchieta, tinham a função de catequizar os índios. 
Em termos de literatura suas obras são classificadas:
Poemas e peças teatrais com o objetivo de catequizar e moralizar;
Textos informativos, que tratam questões relacionadas com a catequese;
Poemas sem finalidade de catequese ou informação.
  
Anchieta, com seus autos, destacou-se por versar em três línguas – tupi, português e espanhol.
Além desses aspectos, Anchieta escreveu vários poemas sem cunho religioso ou informativo, mostrando grande capacidade de expressão e um talento nato para as artes.
  
Na próxima aula, veremos essa capacidade de Anchieta, bem como entenderemos alguns detalhes de sua capacidade criativa.
Aula 9_A obra de Anchieta
   
Você viu na aula anterior que os Jesuítas produziram uma infinidade de obras. Autos, poemas, literatura informativa...boa parte dessas obras tinha como objetivo catequizar os índios, até então, considerados pela igreja católica como seres humanos sem alma. O maior expoente dessas obras é José de Anchieta, padre da Companhia de Jesus que aportou no Brasil, em 1553, na comitiva do governador-geral Duarte da Costa, com a missão de dilatar a fé católica.
A obra de Anchieta é extremamente vasta. Você verá destacados trechos de dois de seus principais poemas: Do Santíssimo Sacramento e A Santa Inês.
A ideia é que, juntos, analisemos alguns pontos importantes desses poemas, lembrando que ambos foram feitos com objetivos diferentes. Enquanto Do Santíssimo Sacramento tem o objetivo catequético, A Santa Inês é um poema de cunho meramente pessoal.
 
Abaixo, alguns trechos do poema Do Santíssimo Sacramento:
 
Ó pão, ó que comida,
ó que divino manjar
se nos dá no santo altar
cada dia!
Filho da virgem Maria,
que Deus-Padre cá mandou
e por nós na cruz passou,
Crua morte,
E para que nos conforte
se deixou no sacramento
para dar-nos, com aumento
sua graça,
Esta divina fogaça
é manjar de lutadores,
galardão de vencedores
esforçados,
Deleite de namorados,
que co o gosto deste pão,
deixam a deleitação
transitória.
  
Você notou algo interessante? O tom é quase que pedagógico, explicativo, como uma catequese. A ideia era essa mesmo. Usar um português simples para conseguir catequizar os índios e aqueles que ainda não fossem da fé católica. Notou mais alguma coisa? Sim, existem palavras que podem ser novas a você. Afinal é um português de cinco séculos atrás. Então elaboramos um pequeno glossário, ou seja, um pequeno levantamento explicativo de palavras que podem não fazer parte do português que utilizamos atualmente. Sempre que tivermos poemas ou textos muito antigos, lançaremos mão deste glossário para facilitar seu entendimento e nossa conversa. Então vamos lá:
  
Fogaça: Pão grande, bolo.
Galardão: Recompensa, honra.
Deleitacão: Vem de deleite, que significa prazer.
  
Outro ponto importante a destacar, uma vez que a ideia é catequizar, é a linguagem extremamente simples, para a época. Apesar de ser uma pessoa extremamente culta, Anchieta procurava escrever de maneira simples, mesmo em seus textos mais pessoais, pois tinha a intenção que todos pudessemter acesso aos seus textos. Assim, poderia atingir mais rapidamente seus objetivos e trazer para a fé católica mais pessoas e salvar mais almas.
Se você se interessou pela obra de Anchieta, pesquise, procure em livros de uma biblioteca pública ou de seu polo, procure na Internet, tenho certeza de que achará muitos outros textos.
Se quiser assistir a um bom filme sobre o assunto pode assistir ao filme A Missão, que retrata o período dos jesuítas na América.  
Gostou da aula? Espero que sim. Na próxima aula trataremos da obra de cunho mais pessoal de José de Anchieta, a partir de trechos do poema A Santa Inês. Aguardo você.
Aula 10_A obra de Anchieta II
  
A Santa Inês 
Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.
  
                                                                           
O que você percebe no poema acima? Pense um pouco.
Procure analisar o poema pensando na visão de Anchieta, em como ele vê a mulher. Qual a visão da Cordeirinha, quem ela é?
Anote, pense e reflita sobre essa visão. Uma santa, idealização de mulher, virginal e salvadora. Bem diferente da visão de hoje em dia, não?  
Agora faça um exercício simples: Compare a visão da mulher da época com a visão da mulher de hoje? Anote e registre as diferenças. Depois conversaremos sobre elas. 
 Pintura com a imagem de José de Anchieta – Museu Paulista – Autor desconhecido
  
Anchieta veio a falecer em 1.597, deixando vastíssima obra, entre poemas e sermões, mas foi no teatro que deixou vasto legado e um estilo próprio; um teatro popular que atingia índios, soldados, colonos, comerciantes e toda a sorte de pessoas que viviam na colônia ou nela estavam por algum motivo. Sua obra, escrita em muitas línguas, deixou um importante registro sobre a visão da época e sobre como era a colônia.  
Gostou? Espero que sim! Estamos quase no fim de nossa segunda unidade. Na próxima navegaremos por outros mares, os mares do rococó ou o formalmente conhecido Barroco. Estilo que nos une, novamente, a Portugal, que teve grandes representantes nas mais diversas áreas da arte e que pode ser apreciado em muitos lugares do Brasil. Passaremos, então, da literatura de informação para uma literatura voltada para a arte, para a criação e para a reflexão sobre a condição humana.
 
Porém, antes de passarmos para o Barroco, conversaremos em nossa última aula sobre o ensinar literatura.
Até lá e espero que continuem acompanhando atentamente o nosso curso!           
Aula 11_O Ensino de Literatura I
   
O grande educador Rubem Alves, em uma entrevista à Revista Nova Escola, novaescola.abril.uol.com.br/index.htm?ed/152_mai02/html/fala_mestre, diz que a leitura deve ser uma coisa vagabunda, preguiçosa, feita de maneira despretensiosa.
Nada mais desafiador para o professor de Literatura que a fala deste grande mestre. Então, como ensinar literatura, se ela deve ser algo pessoal, vagabundo, sem compromisso?
Em primeiro lugar, devemos ter claro que não ensinamos literatura. Literatura não é técnica. Podemos ensinar alguém a pintar, mesmo que não tenha talento, a desenhar, a escrever, mas jamais a gostar de ler. O que se ensina nas escolas, mesmo nas universidades é história da literatura, e o grande desafio, como educadores, é transformar essa história em algo tão apaixonante que permita ao educando descobrir o prazer, o sabor de viajar através das páginas de um livro. Isso não é tarefa fácil, tampouco se dá em um passe de mágica.
Essa paixão só é possível ser despertada através do ato da leitura, da descoberta dos muitos prazeres que ela proporciona. Cabe ao professor orientar, indagar, tornar possível a reflexão. Cabe ao professor ser um orientador dessa jornada, fazer com que o educando descubra a maravilha que é a leitura, as muitas faces que ela pode ter e transformar.
Nesta unidade vimos a literatura de informação, o período colonial. Aparentemente, pouco ou nada há de interessante nisso, mas transformando essas informações em uma peça de teatro, em uma brincadeira, em um jogo, podemos descobrir muitas coisas. Cabe a você, caro professor, tornar essa descoberta possível.
Imagine seus alunos reescrevendo a Carta de Caminha, teatralizando um personagem tão incrível como José de Anchieta, feche os olhos, por alguns minutos e imagine...é possível e, quando menos esperar, estará lá, um universo inteiro de possibilidades, seus alunos, literalmente, vivendo a literatura, experimentando, brincando com o sabor do saber.
Imagine uma peça em que seus alunos recriem os escritos da época do achamento? Que vejam como sua língua evoluiu ao longo dos séculos, modificando-se, enriquecendo-se; imagine a diversão ao falarem uma língua tão diferente que nem parece a mesma?
Literatura é isso. É invenção, diversão, possibilidade infinita de criação.
  
Espero que tenha gostado até aqui. Chegamos exatamente na metade de nossa viagem, espero que a navegação esteja sendo tranquila e que possamos continuar navegando em mar tranquilo, mas não esqueçam que, em mar tranquilo todo barco navega bem, a grande diferença é navegar em mares agitados de maneira segura!
  
Até a próxima unidade quando veremos os mestres do Barroco!
 
Aula 12_Contexto Histórico do Barroco
  
Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra
Chico Buarque
  
Como vão todas? Todas as pessoas!
Chegamos ao período literário conhecido como Barroco. Não sem um motivo, retomei o uso da expressão acima. Foi neste período que o trabalho com a língua e com suas linguagens começou a ser mais elaborado. Usos de expressões mais trabalhadas, como veremos com detalhes nas próximas aulas.
O Barroco, também, influenciou muitos poetas e autores contemporâneos. Em Portugal podemos citar José Saramago, prêmio Nobel de Literatura; no Brasil, algumas composições de Caetano Veloso, escritores como Haroldo e Augusto de Campos e, principalmente Chico Buarque, um artesão das palavras e de um estilo muito semelhante, em determinados momentos, da estética literária barroca.  
Mas em qual contexto surgiu o movimento Barroco? 
É importante ressaltar que o Barroco é o primeiro movimento artístico que, efetivamente, une Brasil e Portugal. Embora com algumas décadas de defasagem, já é possível falar e observar uma arte com características brasileiras, mas com forte envolvimento europeu.
O Barroco é um movimento artístico muito forte na península ibérica, sendo quase nulo em outros países da Europa. Surge em um momento extremamente complicado para Portugal, em franca decadência, sofrendo com a morte de Dom Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, enfrentando os mouros, na África que, sem herdeiros, provocou a unificação de Portugal e Espanha, com a ascensão do rei católico Felipe II. Aliás, o conflito entre o tradicionalismo religioso e os valores progressistas advindos do Renascimento é uma das características mais marcantes doBarroco.
O marco inicial do Barroco português é a morte de Camões em 1580. Como já foi dito, Portugal era um país arrasado e atrasado em relação a outros países da Europa como Inglaterra e Holanda. Holanda essa que tem forte influência política e econômica no Brasil, com as invasões capitaneadas por Maurício de Nassau, principalmente no litoral do Nordeste.
No Brasil, o período barroco tem como marco a publicação de Prosopopeia, de Bento Teixeira, em 1601, uma obra que imitava Os Lusíadas de Camões.
Brasil Colônia que entra no período açucareiro, com grandes transformações econômicas e o surgimento de uma classe extremamentepoderosa que pode ser tratada como uma espécie de elite rural: os senhores de engenho que, ao contrário do imaginário popular, muito influenciado pelas novelas brasileiras de época, não eram homens maus e cruéis, mas representavam a sociedade e o modo de pensar da época.
Em uma colônia marcada pela escravidão negra, nada mais natural que a arte barroca se misturasse com a visão local, com a maneira de agir e pensar dos inúmeros brasileiros nascidos já em nossas terras.
Neste panorama de transformação social, econômica, política e cultural, surge o Barroco, com expoentes em diversas áreas artísticas. Lembremos que o Brasil passa a ser uma colônia extremamente importante, por causa da produção açucareira e muitos são os portugueses que para cá aportam, a fim de fazerem fortuna e voltarem para Portugal. O Brasil é, neste momento, uma colônia de extrativismo, marca que perdurará por muitos séculos, sendo, até hoje, característica em algumas regiões, uma vez que diversas multinacionais exploram desde o solo até produções em larga escala de tecnologia.
O Barroco, como movimento artístico reflete este conflito entre a colônia rica, porém dominada e a metrópole dominadora, decadente e dominada pela Espanha.  
Fique atento (a): Tanto o Barroco, como o Arcadismo, que veremos na próxima unidade, são movimentos extremamente importantes para a formação da identidade de nossa literatura. São, também, movimentos indissociáveis do Barroco e do Arcadismo portugueses, mas mais que isso, inseparáveis do contexto político-histórico em que estão inseridos e que culminará com diversos movimentos de independência, nos séculos XVII e XVIII.
Aula 13_Características do Barroco
 
Se gostas de afetação e pompa de palavras, e do estilo que
chamam culto, não leias. Quando este estilo mais florescia, nasceram as verduras do meu (que perdoarás quando as encontrares), mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido; e o começaram também a ser os que me reconheceram o seu engano, e mal se entendiam a si mesmos. Padre Antonio Vieira
  
Como dissemos, na aula anterior, o Barroco nasce em um momento político bastante complexo. Você deve ter notado que este período, marcado por invasões estrangeiras, forte extrativismo e movimento de escravos, marcou profundamente a cultura brasileira. Quando falamos em barroco o que lhe vem à mente? Pense um pouco. Sim, ele mesmo, você sabe, não fique com medo de dizer. É Antonio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho que, com seus profetas em Congonhas do Campo e com suas inúmeras obras em igrejas tornou-se o artista mais importante e conhecido do Barroco brasileiro, suas obras sacras são famosas no mundo inteiro e seu estilo marcou o Barroco conhecido como “mineiro” voltado para as artes plásticas.
 
Profetas de Aleijadinho
 
A obra de Aleijadinho reflete claramente a estética barroca brasileira, uma arte europeia, misturada com a tradição popular já existente no país, não por acaso, o mestre Antonio Francisco Lisboa se utiliza de materiais existentes em abundância na região de Minas. Esta estética ganhou uma alcunha um tanto pejorativa, porém refletindo bem o que significava para os portugueses este estilo chamado de arte “crioulizada”. Além disso, Aleijadinho é o expoente maior da arte sacra brasileira, sendo que inúmeras igrejas de Congonhas do Campo, Ouro Preto, Mariana, possuem obras suas. É a característica religiosa, mística, do Barroco.
 
 Profetas de Aleijadinho, feitos em Pedra Sabão – Congonhas do Campo – MG
 
Contrapondo-se ao estilo mineiro, surge, neste mesmo período, o estilo chamado de “baiano”. Enquanto o estilo mineiro é, nitidamente, marcado pela arquitetura e pelas artes plásticas, o estilo baiano tem sua maior expressividade na literatura, tendo como dois ícones Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, e o exímio orador jesuíta, Padre Antonio Vieira que, embora português de nascimento, aqui, produziu toda sua vastíssima obra, notória por seus sermões.
Deteremos, mais especificamente, no Barroco produzido no estilo baiano, ou seja, calcado na literatura. Estudaremos com cuidado e atenção esta escola literária, extremamente importante para o início de uma literatura genuinamente brasileira. 
Está gostando das aulas? Espero que sim. Vimos rapidamente um panorama sobre as características do Barroco brasileiro. Na próxima aula, falaremos sobre as características específicas da estética da literatura barroca, suas representações, contradições e ambiguidades.
Quero deixar uma pesquisa para que você faça. Falamos sobre escolas literárias. Mas o que são as chamadas escolas literárias? Pesquise e conversaremos no fórum sobre elas. Bons estudos!
Aula 14_A Estética Literária Barroca
 
  
Junto da nova Lusitânia ordena
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto, e tão seguro,
Que para as curvas Naus serve de muro.
Bento Teixeira
  
A estética literária barroca é marcada pelo conflito céu x terra, espírito x carne, tradição x progresso. Se o Classicismo pretendia gerar textos de natureza formal, rigorosos em sua estética, o Barroco surge como contraponto, cheio de ambiguidades, figuras de linguagem que indicavam os conflitos do homem, como a antítese e o uso de oxímoros. Essa dualidade fica clara nos estilos dos autores, como Gregório de Matos que produziu poemas eróticos e satíricos, mas também produziu inúmeros poemas religiosos de forte apelo ao espírito.
O dualismo do Barroco rendeu-lhe diversos traços que, ao invés de valorizá-lo, acabaram por se tornar pejorativos, como o estilo rococó e o gongorismo.
Já ouviu estes termos? Então façamos o seguinte, pesquise-os, há diversos sítios de busca que podem ajudá-lo (a).
Como está nossa navegação? Nosso barco agora irá ficar atracado, um tempo, em terras baianas, mais precisamente em Salvador, lugar em que ocorrerão as produções mais importantes da literatura barroca brasileira.
Estranhou algo? Este estranhamento é comum no Barroco. Muitas vezes o segredo da literatura barroca, principalmente em seus poemas, está em uma ordem de construção inversa, sendo que o início está no meio e o entendimento só se dá após uma leitura atenta.
Temos então alguns importantes pontos a serem destacados sobre a estética barroca:
 
Dualismo – Contradição entre espírito e carne;
Figuras de linguagem conflituosas, atestando a ambiguidade do ser humano;
Estilo rebuscado, confundido muitas vezes com afetação ou futilidade.
  
Leia um trecho de um poema de amor de Gregório de Matos:
 
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia
E ouvida, me incitava e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
 
Ontem a vi, por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia,
De um sol, que se trajava em criatura.
  
Este poema, com o título: Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela possui inúmeras características do Barroco que ainda veremos, porém já podemos analisá-lo com o que já estudamos.
Além da tradição clássica dos sonetos, rimando o primeiro com o quarto, e o segundo com o terceiro verso, tradição esta advinda do Classicismo português, há uma estética barroca no conteúdo.
1) Que características, já estudadas do Barroco poderemos destacar nestas duas estrofes?
2) Qual a visão da mulher no poema?
3) Pesquise:
a) O que é e qual a estrutura do soneto clássico;
b) Pode-se dizer que este trecho do poema se enquadra nesta estrutura.
  
Você tem muitas atividades para fazer. Tire suas dúvidas comigo ou com nossos tutores e continue estudando, lembre-se que a melhor maneira de conhecer literatura é lendo. Sigamos navegando juntos e trocando ideias.
Até a próxima aula. Bons estudos!
Aula 15_Estilos dentro do Barroco
  
Na aula anterior você começou a ver a estética barroca. Continuaremos nesta aula observando a estrutura, o estilo barroco quanto a sua forma e conteúdo.
É importante ressaltar que, este estilo possui variados representantes, servindo tanto para a Europa quantopara o Brasil. No caso da arte literária barroca no Brasil, veremos que, apesar da influência europeia ser muito forte, já existem características marcadamente nacionais, principalmente na obra de Gregório de Matos.
A principal característica do Barroco, como vimos, é o contraste, a dualidade. Poderíamos dizer que é uma arte maniqueísta, opondo dois polos claramente: bem e mal, céu e inferno, espírito e carne. Dentro dessa dualidade surgem outras características muito importantes que marcam o Barroco e o determinam como um dos mais importantes períodos literários tanto no Brasil quanto em Portugal. Vejamos no resumo abaixo estas características:
 
 
Como você pode notar, dentro do Barroco há inúmeras características que o fazem muito diferente de outros períodos literários. Importante notar que a arte literária barroca, representou um marco na literatura, pois mudou o enfoque até então vigente. Nem Deus nem o homem eram centro do universo, antes de tudo, o que existia era a dúvida, o conflito entre o sacro e o mundano, entre o pecado e a salvação. O homem deste período é um homem em constante conflito, em constante desestruturação, pois não sabe se quer salvar sua alma ou lutar com todas as suas forças contra as injustiças cometidas pela igreja, principalmente pela omissão aos males cometidos contra os escravos e pelo poder demasiado da metrópole.
Neste contexto surge Gregório de Matos e Padre Antonio Vieira. Utilizaremos, para nossos estudos, a ordem cronológica de nascimento, sendo que Padre Vieira nasceu antes, começaremos por ele e por sua obra sacra, marca muito forte do barroco brasileiro.
No quadro e que você viu acima, a obra de Padre Antonio Veira talvez fique um pouco deslocada, exceção feita ao conceptismo, marca de sua retórica e ao uso amplo de figuras de linguagem.
Na próxima aula nos deteremos mais demoradamente na obra de Vieira, observando alguns detalhes importantes e refletindo sobre suas características. Obviamente veremos uma pequena parte. Quando nosso barco zarpar, você pode pesquisar em outros lugares, ler outras obras de seu vastíssimo repertório, poderá, inclusive, estudar com mais afinco e mais desenvoltura as características barrocas que aparecem em seus textos.  
Espero que esteja apreciando nossa viagem e que possamos trocar mais ideias, mais observações sobre as obras barrocas. Se quiser, pesquise também, é importante que troquemos informações, ideias, dúvidas, é esse nosso papel como professores de literatura. Devemos instigar, fazer com que o aluno pense e reflita criticamente sobre a obra e o período que está estudando. Não somos preparadores físicos de decorebas para vestibulares. Somos encantadores de mentes, parteiros de ideias, como diria Galileu Galilei. Somos o elo fundamental entre a história da literatura e este aprendiz de mago que ingressa no mundo amplo, mágico e encantador da literatura. Sigamos, então, nossa navegação está apenas chegando ao meio de seu caminho, nosso barco continua ancorado, mas em breve zarpará para nossa última escala.
  
Sigamos juntos e até a próxima aula!
Resumo_Unidade II  
 
Olá, chegamos à metade de nosso curso. Nesta unidade vimos o primeiro período em que surge uma produção que começa a ser chamada, tempos depois, de Literatura Brasileira. Produção esta, ainda, muito esporádica, de caráter meramente informativo, mas de registro histórico fundamental para que entendamos a época colonial.
Começamos com a Carta de Pero Vaz de Caminha e chegamos até a enorme produção de José de Anchieta. Vimos as características dessa época, como era a visão dos portugueses em relação aos índios e quais suas aspirações.
Percorremos juntos o caminho da colonização e suas representações escritas.
Espero que tenha compreendido a importância de todo esse nosso caminho e que tenha entendido, na última aula da unidade, a importância de sabermos exatamente o que queremos com o ensino de literatura e como despertar o interesse de nossos alunos para a leitura.
 
Um grande abraço e até a próxima unidade. Bons estudos!
Aula 16_Padre Antonio Vieira - Primeiras informações 
 
Se pregadores semeiam ventos, se o que se prega é vaidade, se não se prega a palavra de Deus, como não há a igreja de Deus de colher tormenta, em vez de colher fruto? Padre Antonio Vieira
  
Como você viu na última aula, Padre Antonio Vieira foi um dos expoentes mais significativos do Barroco, sendo estudado tanto no Brasil quanto em Portugal. Sua obra religiosa tem importância fundamental para a igreja católica em termos de oratória e de crítica a muitos rumos tomados.
Passaremos, agora, a estudar mais detidamente a obra deste grande orador.
Padre Antonio Vieira – Gravura do século XVII
  
Na epígrafe que abre esta aula, o Padre Vieira faz uma dura crítica ao gongorismo adotado pela Igreja Católica em sua retórica. O trecho faz parte de um dos sermões mais conhecidos do Padre Vieira, chamado de Sermão da Sexagésima. Lembrando que o Gongorismo é um estilo recheado de construções obscuras e preciosismos quase impossíveis de entender para a maioria da população da época, uma vez que era formada por analfabetos e pessoas de pouco ou nenhum acesso à cultura de qualquer espécie.
 
Mas quem foi esse padre? Quem foi Antonio Vieira?  
Nascido em Lisboa, em 1608, e falecido em Salvador, em 1697, Padre Antonio Vieira foi, possivelmente, o mais importante orador da Língua Portuguesa e é considerado o mais famoso orador sacro do Brasil Colônia. Desempenhando missões jesuíticas em diversos lugares do Nordeste brasileiro, trabalhou, arduamente, com a missão de reeducar os padres da Companhia de Jesus que haviam se desvirtuado da missão original de divulgar a fé cristã, no Brasil. Exímio com as palavras, hábil com as figuras de linguagem, Vieira era enfático em seus sermões, capaz de persuadir através de longas e veementes idéias. Sua capacidade era tão grande que deixou vastíssima obra em prosa, ao todo 16 volumes de seus sermões. O uso de hipérboles (figura de exagero), metáforas e comparações são marcas muito fortes em seus sermões, como podemos notar no trecho abaixo do Sermão da Sexagésima: 
Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte; na música tudo se faz por compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; caia onde cair...lá o trigo caindo e nascendo.  
O que você pensa sobre este trecho? Belo não? Nele podemos visualizar, claramente, as comparações de Vieira e o uso de, pelo menos, uma antítese – arte sem arte.
Veremos a seguir, mais alguns detalhes da obra do Padre Antonio Vieira através do estudo de outro trecho de seus sermões.  
Espero que esteja apreciando, que participe de nossos fóruns e que troquemos muitas ideias acerca do que estamos lendo e conversando. Participe atentamente das aulas, tire suas dúvidas e perceba a beleza deste universo de navegação que é a literatura. Bons estudos!
Aula 17_Textos de Padre Antônio Vieira - Um olhar
  
Como está indo? Gostou de nossa mais recente aula. É, aquela em que falamos sobre o Padre Antonio Vieira, seu estilo e algumas de suas obras, principalmente seus sermões. Já procurou algum deles na Internet para ler? Há textos interessantíssimos.
Uma curiosidade. Você sabia que o Padre Antonio Vieira foi perseguido pela inquisição? É verdade! Suas ideias políticas, sua luta contra a escravidão e suas críticas ao modo de agir da Igreja levaram-no a ser considerado herege, principalmente após a morte de seu protetor, D. João IV. Foi absolvido, mas voltou ao Brasil desgostoso da vida, vindo a falecer em Salvador, tempos depois.
Bem, após esta curiosidade, é importante que saiba que passamos da metade de nosso curso. Em breve nosso navio irá zarpar para outro período literário importante, antes, contudo, devemos nos ater a dois trechos de sermões do Padre Antonio Viera. Ler estes sermões e estudá-los comatenção pode nos abrir muitos caminhos para o entendimento desta figura ímpar do Barroco.
O primeiro sermão é o chamado Sermão dos Bons Anos, vejamos um trecho abaixo: 
“...hoje quisera prometer e ainda assegurar. Em um Mundo, digo, tão avarento de bens, onde apenas se encontra com um bom-dia, ter obrigação de dar bons- anos, dificultoso empenho! E na minha opinião cresce ainda mais esta dificuldade, porque isto de dar bons- anos, entendo-o de diferente maneira do que comummente se pratica no Mundo. Os bons-anos não os dá quem os deseja, senão quem os assegura. A quantos se desejaram nesta vida, a quantos se deram os bons-anos, que os não lograram bons, senão mui infelizes? Segue-se logo, própria e rigorosamente falando, que não dá os bons-anos quem só os deseja, senão quem os faz seguros. Esta é a dificuldade a que me vejo empenhado hoje, que o tempo e o Evangelho fazem ainda maior. Em todo o tempo é dificultoso cousa segurar anos felizes; mas muito mais em tempo de guerras e em tempo de felicidades. Se o dia dos bens é véspera dos males; se para merecer uma desgraça, basta ter sido ditoso, quem fará confiança em glórias presentes, para esperar prosperidades futuras? Se a as bandeiras vitoriosas mais firmes seguem o vento vário.”  
O que notou neste trecho? Percebeu como o estilo é enfático e claro, sem rebusques ou voltas? Notou a crítica ao ter em detrimento ao ser?
Se você notou estas facetas, marque as passagens, anote-as, depois conversaremos sobre elas em nossos fóruns ou por e-mails.
O importante é que tenha percebido o enfoque revolucionário e crítico do Padre Vieira em relação a posturas comuns da igreja e seu poder de persuasão através da palavra.
Agora vejamos outro trecho de outro sermão, este intitulado: Sermão Histórico e Penegírico nos Anos da Rainha.
  
“...fazer as ações. O mais famoso dia que teve o Mundo, foi aquele em que parou o Sol obediente à voz de um homem. Escreve o caso o Texto Sagrado, e diz assim: Stetit sol in medio caeli; non fuit antea, nec postea tam longa dies (Jos. X-13 e 14): Esteve o Sol parado no meio do Céu, e não antes nem depois houve no Mundo tão longo dia. Notai; não diz o texto dia tão grande senão dia tão longo: Tam longa dies; porque o Sol pode fazer dias longos; dias grandes só os podem fazer as ações. Aquele mesmo dia verdadeiramente foi longo e foi grande; mas foi longo, porque o fez o Sol; foi grande, porque o fez Josué; foi longo porque o estendeu a luz; foi grande, porque o engrandeceu a maravilha; foi longo, porque esteve o Sol parado; foi grande, porque um homem o mandou parar: Non fuit antea nec postea tam longa dies. Este dia. em que se contam vinte e dois de Junho, dizem os matemáticos que é o maior dia do ano. O mais longo, deverão dizer, e não o maior. O mais longo para o Mundo, mas o maior para Portugal. O mais longo para o maior para Portugal, porque nasceu hoje Sua Majestade.”  
E agora? O que notou? Anote antes que eu diga! Percebeu o caráter doutrinário? O uso da hipérbole? O tom enfático e exagerado? Imagine este sermão sendo feito nas igrejas medievais, igrejas centenárias, o eco, a força que as palavras ganham. Pode imaginar isso? Consegue entender, então, a importância de tamanho orador para os jesuítas? 
Então faça o seguinte exercício:
1)    Compare os dois trechos. Divida uma folha e anote de um lado as semelhanças, de outro as diferenças.
2)    Qual a diferença mais importante que você notou?
  
Bem, chegamos ao final de mais uma aula. Terminamos com o conteúdo sobre o Padre Antonio Vieira, mas você pode e deve continuar estudando. Há vários sítios onde poderá encontrar mais informações e textos. Pesquise, poste suas dúvidas e ideias em nosso ambiente virtual. 
Aguardo você na nossa próxima aula. Bons estudos!
Aula 18_Gregório de Matos - O Boca do inferno
  
                                               O homem é a ponte entre o animal e o além-homem
                                                                                                                   Nietzsche
 
Nas nossas mais recentes aulas você estudou sobre o Padre Antonio Vieira e a sua literatura sacra, seus sermões e sua vasta produção. Viu a sua crítica ferrenha a valores deturpados da Igreja Católica e sua capacidade de, através de seus sermões, persuadir quem os ouvia.
Passaremos, agora, a estudar outro escritor fundamental desse período. O poeta Gregório de Matos Guerra, nascido e falecido em Salvador, viveu exatos sessenta anos, sendo seu ano de nascimento o de 1636 e o de falecimento o de 1696. Sua obra, igualmente vasta, foi dedicada aos poemas, escrevendo com lirismo descomedido, como um dia Manoel Bandeira retomaria, tão descomedido que foi perseguido por críticos – chegou mesmo a se dizer na época que ele plagiava escritores espanhóis como Quevedo e Gongora, aliás você já ouviu esse nome em uma aula anterior, o que é mesmo o gongorismo?
Gregório de Matos teve uma vida atribulada. Como outros autores que criticaram duramente a igreja, foi perseguido pela inquisição. Aliás, você deve estar se perguntando como, no século XVII ainda havia inquisição. O tribunal da Santa Inquisição já havia perdido seu poder há muito, em boa parte da Europa, mas na península Ibérica, graças ao catolicismo fervoroso de seus reis, a Igreja Católica permanecia muito forte e, como resultado, a Santa Inquisição estendia seus braços pelas colônias também.
Perseguido foi por criticar duramente as mazelas e arbitrariedades dos mandatários religiosos, embora fosse um crente, Gregório de Matos sofreu por suas ideias. Seus poemas satíricos o levaram a ganhar a alcunha de Boca do Inferno, pois criticava abertamente não apenas o clero, mas autoridades e a aristocracia da época.
Seus poemas são considerados, hoje, de uma importância fundamental para o Barroco brasileiro. Também são elogiados pela sua estética e Gregório de Matos por ser um exímio sonetista. 
Sua obra é, classicamente, dividida em três tendências:
     Poemas satíricos de crítica social;
     Poemas lírico-amorosos, resultantes de paixões momentâneas;
     Poemas líricos de cunho sacro, produtos de sua profunda reflexão religiosa.
  
Sua musa mais constante, aparecendo em vários de seus poemas é D. Ângela. A ela são dedicados vários dos sonetos lírico-amorosos produzidos pelo poeta ao longo da vida.
Os poemas satíricos, falam da sociedade local, não deixando de criticar ninguém com o qual o poeta não concordasse ou visse algum desvio de conduta moral.
Seus poemas sacros surgem do profundo respeito e de sua profunda religiosidade. Em sua juventude e idade adulta, Gregório de Matos é um duro crítico da igreja como um todo, chegando mesmo a zombar dela; com o passar dos anos e a velhice chegando, a proximidade da morte faz com que fique cada vez mais religioso, reatando com a antiga fé.
 
Gravura de Gregório de Matos
  
Espero que esteja gostando de nossa aula até aqui. Pesquise sobre Gregório de Matos, leia sua obra, praticamente toda ela está disponível na Internet. Tenho certeza de que irá gostar.
Como sugestão de leitura, deixo o livro Boca do Inferno, de Ana Miranda, editado pela Companhia das Letras. Uma biografia romanceada deste autor que teve a vida tão ou mais interessante do que sua obra, sendo um dos preferidos de Jorge Amado.
Hoje conversamos sobre as características da obra de Gregório de Matos, nas próximas aulas nos deteremos em seus poemas e veremos algumas das características desse poeta, considerado o iniciador da Literatura Brasileira propriamente dita. Até lá!
Aula 19_Gregório de Matos - Poesia Lirico Amorosa
 
 
Na aula anterior, estudamos sobre a vida de Gregório de Matos. Você viu que ele teve uma vida atribulada, quase aventureira. Se ler o livro de Ana Miranda, sugerido no final da aula 18, verá que ele foi uma espécie de rebelde para sua época; hoje, talvez, influenciaria vários jovens a seguir seu modelo.
Agora acompanharemos alguns poemas de sua autoria e notaremos como se encaixam na estética barroca e que características possuem paraserem classificados em diferentes tendências. Comecemos com um soneto dedicado a D. Ângela:
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente*
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama florescente?
A quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio*, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
  
Antes de qualquer coisa, quero que você se detenha na estrutura do poema, um soneto clássico estruturado com dois quartetos e dois tercetos, rimando o primeiro com quarto e o segundo com o terceiro verso, nos quartetos, e o primeiro com o último verso, sendo que os versos do meio rimam entre si, nos tercetos.
Agora quero perguntar a você: o que mais nota neste poema? Qual a estética barroca claramente expressa?
Claro, tinha certeza que você sabia: o paradoxo, o conflito, explicitado pela antítese, como figura de linguagem. A mulher é vista como o ser amado, o anjo, mas com algo de demoníaco, com algo de pecaminoso. Não por acaso os inúmeros trocadilhos com o nome Ângela e Anjo. O conflito amor carnal x amor espiritual aparece claramente neste poema. O último verso deixa isso ainda mais explícito quando o poeta diz que a amada é anjo que não o guarda e sim o atenta. Lembremos que a visão da mulher, no século XVII, é uma visão marcada pelo pecado original, ou seja, a mulher não tem alma, por isso atenta o homem, só é pura aquela que vive para o marido e para a procriação.
Uma visão absurda para os padrões ocidentais de hoje? Nem tanto, em muitas regiões de nosso país, uma visão como essa não é de todo absurda para muitas comunidades.
Que tal traçar um paralelo entre a mulher do século XVII e a dos dias atuais? Será que isto é possível? Pense, pesquise e escreva, depois poderemos conversar em nosso fórum!
Continuando pela poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos, vejamos uma que mistura também o lado satírico:
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa, é besta.
  
Que característica você nota? Há claramente um tom de humor, satirizando e até ridicularizando o ato sexual. O amor carnal é visto como algo atabalhoado, atrapalhado, algo que faz com que o corpo atue em descompasso com sua natureza. Culmina chamando de besta quem diz o contrário, clara alusão aos poetas clássicos que viam no amor o paraíso da alma.
Gostou dos poemas do Boca do Inferno? Espero que sim. Espero que esteja, também, apreciando nossa aula, que esteja acompanhando com atenção e pesquisando muito sobre este período tão fértil de nossa literatura!
 
Até nossa próxima aula quando veremos outros poemas de Gregório de Matos.
Um forte abraço e até lá!
Aula 20_Gregório de Matos - Poesia Religiosa (Sacra)
 
Seguiu até aqui com atenção? Em nossa mais recente aula vimos a poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos, suas características e particularidades. Agora analisaremos a poesia sacra. Lembrando que a maior parte destes poemas foi escrita já na velhice do poeta quando faz as pazes com a sua fé e se dedica a redimir os seus pecados.
 
BUSCANDO A CRISTO 
A vós correndo vou, braços sagrados, 
Nessa cruz sacrossanta descobertos, 
Que, para receber-me, estais abertos, 
E, por não castigar-me, estais cravados. 
A vós, divinos olhos, eclipsados 
De tanto sangue e lágrimas abertos, 
Pois, para perdoar-me, estais despertos, 
E, por não condenar-me, estais fechados,
A vós, pregados pés, por não deixar-me, 
A vós, sangue vertido, para ungir-me, 
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me, 
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, 
Para ficar unido, atado e firme.
  
Novamente Gregório de Matos mostra-se um exímio criador de sonetos. Longe do rebuscamento típico do Barroco, seu poema torna-se muito mais próximo da exaltação e do conceptismo. Mostra-se frágil diante de sua pequenez humana, necessitando do perdão de Cristo.
Preste atenção ao uso das rimas, tanto externas quanto internas, que dão um ar dramático ao poema, bem diferente dos poemas líricos e satíricos da juventude, aqui o poeta busca sua salvação, arrependendo-se de tudo o que fez, querendo se unir a Cristo em seu sofrimento, como no verso: A vós, cravos preciosos, quero atar-me.
O desespero do poeta diante de sua fragilidade, só encontra salvação na religiosidade perdida, só encontra abrigo no perdão de Deus. Não mais é o poeta dos versos desbragados de amor, não é mais o poeta da crítica ferrenha, é um ser humano frágil, cansado, despido do arroubo da juventude. A igreja que tanto criticou agora o acolhe, a fé que, em dado momento da vida, perdeu, agora quer retomar. Claramente, o Boca do Inferno, prepara-se para a passagem e pede a salvação de sua alma.
Poeta genial, crítico contumaz de uma sociedade degenerada e hipócrita, Gregório de Matos foi o precursor de muitos movimentos revolucionários que viriam nos séculos subsequentes. Não foi o único a criticar duramente as mazelas da sociedade, os erros do clero e a ridicularizar o pedantismo da aristocracia. Outros fizeram em todo o mundo.
Seu valor se dá, além de suas qualidades literárias, por ser o primeiro brasileiro a fazer isso, ainda que fortemente influenciado pela literatura portuguesa da sociedade lisboeta que tanto frequentou, por ares generosos de brasilidade a seus poemas e inserindo um tom quase autobiográfico a vários deles.
Calma, caro aluno, não estamos nos despedindo, ainda do poeta. Ainda há algumas coisas para vermos sobre sua capacidade criativa, mas se está tão interessado, pode continuar pesquisando, lendo, navegando pelas palavras desse grande autor de nossa literatura.
 
Espero que tenha gostado dessa aula. Na próxima, nossa penúltima aula desta unidade, veremos a poesia satírica de Gregório de Matos. Até lá!
Aula 21_Gregório de Matos - A poesia Satírica
 
Na aula anterior, vimos a poesia sacra de Gregório de Matos, um momento de profunda reflexão religiosa. Em seus últimos anos de vida, dedicando-se a reatar com sua fé e suas crenças, quase esqueceu do Boca do Inferno, aquele que tanto criticou a sociedade da Bahia, principalmente a sociedade aristocrática de Salvador.
É justamente este poeta que estudaremos nesta aula. É justamente o poeta crítico, mordaz e altamente ácido que analisaremos no poema abaixo. Então fique atento e leia o poema, depois conversaremos a respeito.
A cada canto um grande conselheiro,
Quer nos governar cabana e vinha, *
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para a levar à Praça e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.*
Estupendas usuras* nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
  
Já na primeira estrofe o poeta deixa claro o que pensa sobre os governantes de sua época que não sabendo governar a própria cozinha tem o poder de governar o mundo. Mas o poeta continua com sua crítica feroz falando sobre os fofoqueiros de plantão, sobre os nobres hipócritas. Essa acidez, essa capacidade crítica não tira seu talento com os versos, seu cuidado com a estrutura e com a forma, não o impossibilita de fazer um belo soneto sem a rigidez dos clássicos, mas com o cuidado dos grandes poetas. 
O que mais você nota no poema? Que outras leituras, após nossos estudos, você pode fazer?  
Leia atentamente, procure nas entrelinhas, é assim que você deve ensinar seus alunos a lerem poemas, nas entrelinhas observarem o que não está dito, mas está subentendido, qual índio quenão observa a árvore, mas seus vãos, pois quando os vãos estão preenchidos é sinal que existe uma onça lá, você deve ensinar seus alunos a lerem com olhos espertos, procurando o que não está claramente dito, procurando os vãos que irão se preencher com suas ideias, com suas leituras. Um poema é passível de diferentes leituras para diferentes pessoas em diferentes tempos.
Agora sim, despeçamo-nos do poeta. Se gostou, despeça-se por pouco tempo e continue lendo seus belos poemas e se encontrando com ele ao longo de nosso curso. Espero realmente que tenha gostado e que possamos continuar juntos nossa navegação.
 
Na próxima aula encerraremos essa unidade continuando a refletir sobre o ensino de literatura.
Um grande abraço e até lá!
Resumo_Unidade III
   
Olá, fizemos um belo percurso nesta unidade, não é? Percorremos o estilo conhecido como Barroco, vendo suas origens, características e principais autores.
Surgido em Portugal, em um momento complicado politicamente, aportou no Brasil através de Bento Teixeira com sua obra Prosopopeia, mas teve seu ápice com Padre Antonio Vieira e com Gregório de Matos.
Foi um período marcado na literatura por grandes paradoxos e grandes conflitos internos do homem opondo o antropocentrismo ao teocentrismo.
Sua característica principal foi a reflexão sobre a posição do homem dentro do complexo emaranhado de oposições da vida.
No Brasil, há, ainda, uma característica bem interessante que culminou em duas escola: a mineira, voltada mais para a arquitetura e artes plásticas, e a baiana, voltada predominantemente para a literatura.
Se em Padre Vieira teve seu expoente máximo de literatura sacra, em Gregório de Matos encontrou um crítico severo da sociedade, de suas mazelas e de seus absurdos.
Foi um movimento que se opôs a rigidez da forma do Classicismo, mas que se viu perdido em sua própria rigidez de ruptura, sendo contrariado subsequentemente pelo Arcadismo.
 
Bons estudos e boa navegação na próxima unidade. Até lá!
Aula 22_O Ensino de Literatura II 
 
Você acabou de estudar o período conhecido como Barroco. Viu diversos autores, suas características, seus estilos e alguns de seus poemas e trechos de obras. A pergunta que deve estar fazendo é: Como ensinar aos meus alunos o gosto pela leitura, o prazer da literatura através de textos que nada têm a ver com o cotidiano e com a realidade deles?
Na primeira unidade, falamos sobre isso, está lembrado? A palavra é encantar através de atividades criativas. E o Barroco permite muitas dessas atividades. Duvido que, em sua cidade, você não seja capaz de encontrar alguma obra referente ao barroco. Uma igreja, uma escultura, um objeto qualquer. Há sempre algo ligado a um período tão importante quanto este. Em muitos lugares do Brasil, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste existem obras do Barroco, existem museus, principalmente com arte sacra. Basta a você, procurar, pesquisar, incentivar seus alunos a fazerem o mesmo.
Em literatura, os Sermões do Padre Vieira podem ser lidos em voz alta, com grande eloquência, pois além de belíssimos ainda suscitam muitas reflexões acerca do homem e de sua religiosidade.
Já em Gregório de Matos, podemos encontrar um homem a frente de seu tempo, crítico, libertário revolucionário. Seus poemas, além de belos, são ora divertidos, ora reflexivos, ora emocionantes. Principalmente no Ensino Médio, os poemas mais picantes podem se tornar divertidíssimos, vistos sua pureza diante das coisas que são mostradas e faladas via meios de comunicação. Podem-se traçar paralelos entre a visão de mundo, de erotismo da época e a de hoje.
O importante é não bloquear sua criatividade. Trace paralelos, também, com outros autores. Por exemplo, é possível aproximar, em determinadas obras, Gregório de Matos de Bocage, embora tenham vivido em épocas diferentes, Bocage, vem em época imediatamente subsequente, tem trajetórias muitos semelhantes, principalmente se pensarmos que foram perseguidos por suas ideias, vistos como libertinos e pecaminosos. São autores que podem ser aproximados e, assim, se criar um contexto para o estudo de épocas que se seguiram.
Contar as histórias desses autores também pode ser um recurso muito interessante, pois suas vidas, em muitos momentos, tornaram-se tão incríveis quanto um romance de aventura.
Há muitos termos do Barroco que ainda são usados em arquitetura, em paisagismo, na própria literatura. Esse período influenciou outros escritores, foi resgatado em importância e fluência por grandes críticos. Você pode traçar um paralelo entre o Barroco e o Concretismo, por exemplo, movimento, historicamente recente, que bebeu na fonte do primeiro.
Enfim, há diversas maneiras de tornar mais interessante uma aula que talvez não tenha tanta reverberação para um adolescente da era da Internet, mas, sensibilizá-lo para a beleza de poemas como os de Gregório de Matos ou para a sensibilidade e grandiosidade de Sermões como os do Padre Vieira, é tarefa de todo educador que se envolve com literatura.
Bem, chegamos ao final de mais unidade. Nosso barco está zarpando para a última unidade de nosso curso e com ela chegarão os poetas Árcades e seu bucolismo.
 
Espero que tenha gostado dessa unidade e que estejamos juntos na próxima, terminando nossa viagem pelo curso de Literatura Brasileira I. Faça sua autoavaliação com calma para tirar dúvidas e utilizá-la de maneira a enriquecer seus estudos.Um grande abraço e até lá!
Aula 23_Arcadismo - Contexto Histórico 
  
Doce e meiga senhorita, o que eu tenho é quase nada
Mas tenho o sol como amigo
Traz o que é seu e vem morar comigo
Uma palhoça no canto da serra
Será nosso abrigo
Zé Geraldo
  
Nosso barco continua navegando, zarpou da incerteza e do dualismo do Barroco para aportar no Arcadismo e seu bucolismo. Antes de adentrarmos pelos rios tranquilos e pela vida simples pregada pelos árcades, é necessário entendermos o termo Arcadismo.
Advindo do grego – Arcádia – que designa uma sociedade literária da última fase do Classicismo, tinha por característica homenagear a vida simples dos pastores, a comunhão com a natureza, assim sendo, seus poetas adotavam pseudônimos pastoris e cultivavam a vida campestre, o chamado bucolismo. Fossem poetas na década de 1970 do século passado, seu lema seria “O que é a natureza...” bordão adotado por Zé Trindade, humorista brasileiro, muito famoso em um programa de outro humorista famoso, Chico Anysio.
Muitos autores chamam o Arcadismo de Neoclassicismo, visto que é uma volta ao modelo greco-latino de literatura.
  
Contexto político-social no Brasil e em Portugal
Estamos no século XVIII, momento de transformações culturais, sociais e políticas na Europa com a ascensão da burguesia, decadência da aristocracia e ruptura definitiva com o universo medieval. É o momento do Iluminismo, corrente filosófica surgida na França que pregava a liberdade de propriedade e a igualdade dos poderes, criticando abertamente o estado absolutista e teve por lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, culminando, em 1789 com a revolução francesa e a ascensão da burguesia ao poder.
Portugal já está livre do domínio espanhol, mas o estrago feito por décadas de desmandos, por invasões e pela concorrência das colônias holandesas deixa a metrópole com sérios problemas financeiros e a aristocracia extremamente preocupada com a ascensão da burguesia.
No Brasil, o ouro deixa de ser o branco açúcar para ser o dourado ouro e a cor das belas pedras preciosas. A atividade mineradora ganha força e surge uma classe de artesãos, profissionais liberais, burocratas, literatos, todos muito influenciados pelo Iluminismo francês. Circulam mercadorias em grande escala para a época, principalmente na região sudeste, e a classe dominante dos senhores de engenho e grandes proprietários rurais perde força.
Neste contexto surge um dos movimentos mais importantes de tentativa de libertação ante os desmandos de Portugal: A Inconfidência Mineira, que teve como mártir o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

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