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Efeitos da corrupção

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Efeitos da corrupção
Niedjha Abdalla-Santos
Introdução
Um dos problemas morais e éticos enfrentados pela sociedade é a corrupção. Os atos ligados à 
corrupção vão desde pagamentos de propinas a agentes públicos para obter facilidades em diversos 
aspectos administrativos, até a formação de quadrilhas especializadas em fraudar o erário público. 
Este fenômeno tem sido alvo de debate acalorado por entidades e sociedade civil nos últimos anos.
A corrupção atinge todas as esferas do poder público no Brasil e no mundo, e seus efeitos são 
perversos para a sociedade, pois recursos necessários para setores como saúde, segurança e edu-
cação são desviados (LIVIANU, 2014). No Pacto Global (ONU, 2010), há um projeto de princípios 
que trata justamente deste assunto. No Brasil, temos a Lei Anticorrupção nº 12.846, de agosto de 
2013, que buscou criar regras e normas específicas para atos de corrupção junto ao erário público.
Existe, ainda, o processo de corrupção empresarial para a obtenção de vantagens indevidas. 
Estes casos são menos divulgados e mais difíceis de serem descobertos, pois há conivência do 
setor privado (SROUR, 2009). 
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • compreender os efeitos da corrupção no desenvolvimento de uma sociedade; 
 • entender as diferentes facetas da corrupção: tipos, conceitos e exemplos.
1 O que é corrupção?
Corrupção é o ato ilegal de pagamento de propinas ou uso de meio escuso para obter vanta-
gem indevida, normalmente em setores do poder público, em todas as esferas da administração, e 
também em empresas. Tais atos são ilegais, pois ferem o princípio da neutralidade e da igualdade 
que deve ser a tônica dos serviços públicos em geral (FURTADO, 2014).
Para que seja configurado um ato de corrupção, deve haver dois atores: o corruptor e o cor-
rompido. O corruptor é o que vai propor o processo de pagamento indevido ou ação ilegal, mesmo 
que seja obrigado a fazê-lo por solicitação do corrompido.
EXEMPLO
Às vezes, o corruptor não tem como negar a propina, como aconteceu no episódio 
de 1997 chamado “Máfia dos Fiscais”, em que os fiscais da prefeitura de São Paulo 
obrigavam vendedores ambulantes a pagar periodicamente taxas irregulares para 
evitar que suas mercadorias fossem apreendidas ou que fossem incomodados por 
trabalhar irregularmente. Os valores pagos aos fiscais eram mensais e compulsó-
rios, ou seja, o corruptor do caso, o ambulante, não tinha outra alternativa a não ser 
aceitar o proposto pelos corrompidos. Neste caso, o processo se configura extorsão.
Por outro lado, temos os corrompidos, ou seja, aqueles que aceitam o pagamento de valores 
ilegais, brindes ou que manipulam situações para se beneficiar ou beneficiar determinado grupo. 
Eles sabem da ilegalidade e mesmo assim aceitam propostas dos corruptores.
Figura 1 - Propina é ato de corrupção.
Fonte: hin255/Shutterstock.com 
A corrupção configura atos que vão contra os valores éticos e morais da sociedade, pois 
configuram crimes contra o patrimônio e erário público, além de ser prática desleal. A ONU (Orga-
nização das Nações Unidas) criou em 2010 o que chamamos de Pacto Global, uma franquia de 
princípios básicos que visa reduzir problemas éticos e morais nas corporações e sociedade civil do 
mundo todo. Um destes princípios, o de número 10, norteia o combate à corrupção, pagamentos 
de propinas e crimes de extorsão.
FIQUE ATENTO!
A OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou, em 
2009, que em mais da metade dos casos de corrupção nos setores públicos há 
a ciência de líderes e diretores das empresas privadas que praticam a corrupção 
junto aos órgãos públicos. A partir de um levantamento de cerca de 500 casos de 
corrupção pelo mundo nos últimos 15 anos, somente 261 tiveram algum tipo de 
penalidade aos corruptores e 80 pessoas presas. Em todos os países existem mais 
de 100 mil casos anuais de algum processo de propina ou extorsão (OCDE, 2009).
No Brasil, foi promulgada e sancionada a Lei de Combate à Corrupção, de 01 agosto de 2013, 
que estabelece penas para empresas, entidades e pessoas, de caráter público e privado em atos 
contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Esta lei é muito mais específica e traz 
algumas novidades como o chamado Acordo de Leniência (LIVIANU, 2014).
SAIBA MAIS!
O Acordo de Leniência (LIVIANU, 2014) acontece quando empresas, pessoas, 
ou até mesmo corruptores e corrompidos do setor público contribuem com 
a investigação e punição dos infratores para se livrar de pena maior. O objetivo, 
portanto, é comutação ou até mesmo redução da pena para estes delatores. O 
acordo de Leniência está previsto na Lei nº 12.846 e está intimamente ligado ao 
processo de delação premiada.
Figura 2 - Conceito de corrupção e propina.
Fonte: Stokkete/Shutterstock.com
SAIBA MAIS!
A Lei Anticorrupção versa sobre temas como fraudes a licitações públicas e 
dificultar investigações, bem como obter vantagem indevida mediante pagamento 
de valores a agente público, seja em espécie ou por meio de depósitos em contas 
de qualquer natureza. Para saber mais sobre a lei, acesse: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm>.
Como podemos ver, a corrupção ocorre tanto no âmbito público quanto no privado, ainda que 
em menor escala. Agora, veremos tipos e exemplos de corrupção. 
2 Tipos de corrupção
Alguns itens na Lei Anticorrupção definem os limites adotados no país para combater a cor-
rupção e também suas modalidades e processos. Acompanhe!
 • Promessa ou oferta de forma indireta ou direta de vantagem a agente público. 
Figura 3 - Oferta de dinheiro indevido. 
Fonte: Alexander Raths/Shutterstock.com 
EXEMPLO
É muito comum oferecer um simples “cafezinho” para uma autoridade policial para 
que ele não multe o veículo ou o condutor por alguma irregularidade cometida, 
quando ambos, corruptor e corrompido, sabem que ela existiu.
 • Receber patrocínios, brindes, custeios e outros valores ilícitos para subvencionar práti-
cas ilegais pelo agente público.
 • Fraudar contratos com o governo, licitações e concorrências com o único e exclusivo 
interesse de ganhar a competição e auferir ganhos, mediante extorsão e pagamento de 
valores indevidos a agentes públicos.
 • Dificultar as investigações, obter facilidades do poder público, prestar serviços mediante 
pagamento compulsório, entre outros similares.
FIQUE ATENTO!
As fraudes em licitações configuram um dos maiores problemas no Brasil. Mui-
tas vezes, as empresas pagam valores indevidos para funcionários públicos (com 
acesso ao poder decisório) para que cometam infrações no processo licitatório, ou 
até mesmo que divulguem dados relevantes para favorecê-la.
Os processos de corrupção estão presentes nas corporações também (SROUR, 2009), tra-
zendo danos a sua imagem. Lembre-se de que, cada vez mais, a sociedade preza pela Responsa-
bilidade Social Corporativa. 
3 Os efeitos da corrupção
Os efeitos da corrupção são mais cruéis do que aparentam. Conforme Furtado (2014), a 
corrupção por muito tempo esteve arraigada na população brasileira e em países considerados 
menos desenvolvidos. Isto ocorria pela falta do poder público em áreas básicas, o que influenciava 
a ética do cidadão para aceitar casos de corrupção.
Entretanto, no Brasil de hoje, esta temática não se sustenta (LIVIANU, 2014), pois o poder 
público está presente em todas as esferas de atuação social, nos estados e seus municípios.
 
Figura 4 - Efeitos da corrupção.
Fonte: Anna Jurkovska/Shutterstock.com
FIQUE ATENTO!
Segundo o relatório da OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento 
Econômico) alguns efeitos são nocivos para a população, e são percebidos com 
mais clareza em momentos de crise aguda. Outros são percebidos mais diretamen-
te no dia a dia, como o declíniodos serviços em escolas, hospitais e investimentos 
em infraestrutura e segurança pública, por exemplo.
O efeito mais notável é a oferta de serviços de qualidade inferior em detrimento de melhores 
condições pela falta de investimento. Em outras ocasiões, há o aumento de custos de mercado-
rias, devido ao pagamento de propinas a agentes por parte das empresas, para obter autorização 
de venda de seus produtos, visto que as corporações tendem a repassar estes custos extras em 
sua margem de lucro. Outras facetas da corrupção são: 
 • não recolhimento de impostos e tributos, que deixam de ser recebidos pelo governo, 
além da certeza por parte dos cidadãos de que haverá impunidade.
 • funcionários de empresas e agentes públicos ficam constrangidos e temerários em 
divulgar ou delatar os companheiros e empresa, pois temem ficar esquecidos dentro 
de seus setores ou ficar de fora do esquema de corrupção, o que vem mudando com o 
Acordo de Leniência.
 • órgãos públicos, partidos políticos e setores da administração pública, como o Judiciário 
e o Legislativo, além de empresas e cidadãos, ficam desacreditados perante à sociedade.
Estes são alguns exemplos do potencial destrutivo que a corrupção representa para a socie-
dade e seus indivíduos. 
Fechamento
Chegamos ao final desta aula. Aqui, verificamos os efeitos nocivos causados pela prática da 
corrupção, além de ver algumas vertentes desta dinâmica, como pagamentos de propinas, comis-
sões indevidas, práticas ilegais em licitações etc.
Nesta aula, você teve a oportunidade de: 
 • compreender o conceito e os efeitos da corrupção na sociedade;
 • verificar as diferentes facetas da corrupção, tipos e exemplos.
Referências
FURTADO, Lucas Rocha. As raízes da corrupção no Brasil - Estudo de casos e lições para o futuro. 
São Paulo: Fórum, 2014.
LIVIANU, Roberto. Corrupção. 2. ed. Revisada. São Paulo: Quartier Latin, 2014. 
BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 08 set. 2019. 
______. Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm>. Acesso em: 08 set. 2019.
MINISTÉRIO DA TRANSPARÊNCIA, FISCALIZAÇÃO E CONTROLE. Convenção da OCDE contra 
suborno transnacional, 2016. Disponível em: <www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-internacio-
nal/convencao-da-ocde/arquivos/cartilha-ocde-2016.pdf>. Acesso em: 08 set. 2016. 
ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Recommendation 
of the Council for Further Combating Bribery of Foreign Public Officials in International Busi-
ness Transactions, 26 nov. 2009. Disponível em <www.oecd.org/daf/anti-bribery/44176910.pdf />. 
Acesso em: 15 set. 2016.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Global. Disponível em: <www.pactoglobal.org.br/>. 
Acesso em: 08 set. 2016.
SROUR, Robert Henry. Ética empresarial, o ciclo virtuoso dos negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2008.
SROUR, Robert Henry. Poder, Cultura e Ética nas Organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

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