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Avaliação Escolar e Taxonomia de Bloom Edson Fialho Copyright © 2018, Edson Fialho A meu querido Mestre, Daisaku Ikeda À Suzana, ao Matheus e à Mariana Sumário Prefácio Capítulo 1 - Avaliar: para quê, por quê? Capítulo 2 - Refletindo sobre o papel da avaliação e o sucesso escolar Capítulo 3 - Instrumentos de Avaliação e Tipos de Avaliação Capítulo 4 - A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação Capítulo 5 - Alguns exemplos de aplicação da Taxonomia de Bloom Capítulo 6 - Valoração Segundo a Taxonomia de Bloom Referências Bibliográficas Prefácio Uma das possíveis razões do mau desempenho escolar é o verdadeiro terror que a avaliação incute nos estudantes. Obviamente a avaliação não é o único fator envolvido, mas neste trabalho nos ateremos à avaliação. Nosso desejo é mostrar alguns pontos de vista a respeito da avaliação em geral, e apresentar a Taxonomia de Bloom, um sistema de classificação dos itens da avaliação escolar. Propositalmente escrevemos um livro com capítulos curtos, para ser lido rapidamente e usando o jargão pedagógico com parcimônia. O segundo capítulo, Avaliar: para quê, por quê?, mostra algumas ideias gerais sobre a avaliação. O capítulo 3 – Refletindo sobre o papel da avaliação e o sucesso escolar – tenta realizar aquilo que se propõe em seu título: propor um momento para pensar nas relações entre a avaliação e o sucesso escolar. O quarto capítulo - Instrumentos de Avaliação e Tipos de Avaliação - lista alguns instrumentos de avaliação, suas qualidades e pontos fracos, além de tipos de avaliação e suas épocas de aplicação. Já o quinto capítulo - A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação - apresenta a Taxonomia de Bloom e sua relação com a avaliação escolar. O sexto capítulo - Alguns exemplos de aplicação da Taxonomia de Bloom - como o próprio nome indica, mostra exemplos de várias disciplinas de aplicação da Taxonomia de Bloom. Já o sétimo capítulo - Valoração Segundo a Taxonomia de Bloom - mostra um exemplo de como distribuir os pontos em uma avaliação de Matemática do Nono Ano, usando os critérios da Taxonomia de Bloom. Alguns agradecimentos são necessários, ou melhor, obrigatórios. Agradeço aos queridos colegas de ontem e de hoje pelo companheirismo e diálogos profícuos; à minha família e amigos, simplesmente por existirem; aos meus estudantes de ontem e de hoje, por terem feito de mim o que eu sou hoje [e se não sou ainda melhor, relaxem, vocês não são os culpados]; e aos companheiros da Associação Brasil SGI pela infinita paciência. Por último, mas não menos importante, agradeço à minha querida esposa, Suzana, por ser uma excelente companhia e minha eterna (ins)piração, e à minha filha, Mariana, o solzinho da casa. Queria muito que você e o Matheus tivessem um mundo melhor à disposição, mas só tinha esse, desculpem. Sinto-me obrigado a citar nominalmente o professor André Luiz R. Chaves, com quem tive a honra de ser contemporâneo no CEFET-RJ. Sua palestra para os professores de Matemática do Sistema FIRJAN em julho de 2012 forneceu alguns insights fundamentais para este trabalho. Grato! Meus companheiros de trabalho na E. M. Evangelina Duarte Batista terão sempre um lugar especial em meu coração por terem me acolhido tão bem e por serem um grupo realmente fantástico. Vocês são os melhores! O autor se responsabiliza inteiramente pelos pontos de vista aqui emitidos e põe a culpa por algum eventual erro ortográfico, gramatical ou de qualquer outro tipo no notebook onde ele batuca estas linhas, num vírus de computador ou em qualquer coisa inanimada. Capítulo 1 - Avaliar: para quê, por quê? Perguntas aparentemente óbvias têm um grande problema: suas respostas não são nada óbvias. Ou melhor, a resposta óbvia quase sempre é inadequada (porque irrefletida). A pergunta ‘para quê avaliar?’ tem várias respostas óbvias, das quais a mais frequente é que se avalia para dar nota. Vamos construir, ao longo do texto, um conceito cada vez mais completo a respeito da avaliação, baseado nas reflexões aqui apresentadas. O trecho a seguir está contido no livro Matemática e Didática1, e a clareza do raciocínio pode estendê-lo a qualquer disciplina sem perda de generalidade: Um sistema de avaliação é o conjunto de princípios, procedimentos e de instrumentos que o professor faz funcionar e que, atuando entre si de forma ordenada, contribui para coletar e sistematizar informações necessárias para avaliar a aprendizagem dos alunos. Avaliar bem o desempenho de um aluno é tão importante quanto ensinar, pois sem a avaliação torna-se difícil compreender seu processo de aprendizagem e os efeitos positivos da prática docente. Disso decorre que um aluno mal avaliado não permite ao professor aferir a qualidade de seu trabalho e de seu empenho e nem mesmo sugerir eventuais mudanças de rumo no processo de ensino, se necessário. Então, fica claro que a avaliação tem várias funções, sendo as principais: reflexão a respeito do processo de ensino; mensuração do empenho e progresso do educando; sinalização para o educando família, de alguma forma [usualmente, notas], do progresso do aprendizado. Parece natural que a avaliação seja, por assim dizer, um reflexo do ensino: não posso cobrar dos meus estudantes o que não ensinei; também não posso exigir um grau de profundidade de respostas inadequado à faixa etária deles [esse assunto será retomado mais tarde]. Mas e quando os estudantes aprendem menos do que seria o esperado? Cabe aí uma reflexão tripla, a respeito do que está sendo ensinado, o quanto está sendo aprendido e o que [e como] está sendo aprendido. Se muitos estudantes erram a mesma questão isso pode ser um indicativo de que talvez aquele tema pudesse ser melhor trabalhado em sala de aula, ou pelo menos de um modo diferente. Num mundo ideal, o professor teria tempo para refletir sobre esses assuntos quando estivesse corrigindo provas, de modo a orientar o planejamento das futuras aulas e/ou intervir no processo de ensino-aprendizagem. Mais à frente esse assunto (erros em questões) será retomado. Pensamos na educação escolar como um grande processo dialógico e de comunicação entre seus vários atores: o educando, a família, o corpo docente, o corpo pedagógico e a direção da escola. Idealmente, a avaliação escolar é parte desse grande diálogo: é um método de o professor perceber o empenho e o progresso do educando, e origina um feedback na forma de notas e/ou comunicações orais/escritas. Esse feedback é primordial para a eficiência do processo educacional; a ausência de comunicação ou a ausência de retorno das comunicações é prejudicial a todas as partes envolvidas. Se o professor e/ou a escola não comunicam ao estudante/família o resultado de suas avaliações, ele(s) se sente(m) desorientado(s); se a família/estudante não comunicam à escola suas percepções a respeito do processo educativo, todos perdem uma oportunidade de melhoria. Agora podemos dar uma resposta aceitável para a questão que dá nome ao capítulo: avalia-se para obter um instantâneo do processo de ensino- aprendizagem, e esse instantâneo será o guia para tomadas de decisão referentes ao modo de ensinar e aprender após sua aplicação. Por que avaliar? Princípios norteadores da avaliação Segundo o (ótimo) trabalho de ALMEIDA (2012), há seis princípios norteadores da avaliação: Princípio da Coerência: a avaliação deve ser coerente com o que consta no currículo [i.e., com os objetivos, as metodologias e os conteúdos]. Ou seja, não posso solicitar em uma avaliação um tipo de raciocínio abstrato que jamais tenha aparecido antes em aula, ou, digamos, uma generalização subjetiva a quem ainda está na fase objetiva. Princípio da Integração: considera a avaliação como parte integrante da aprendizagem. Tem duas interpretações diferentes; na primeira, a avaliação está incluída ao longo da aprendizagem; o professor deve usar os resultadosda aprendizagem na reflexão do processo de ensino-aprendizagem e não num momento posterior. A segunda interpretação pensa que as formas de avaliação escolhidas também são, em si, situações de aprendizagem2. Os dois pontos de vista são complementares e não-excludentes. Princípio do Caráter Positivo: a avaliação deve estar voltada para o que o estudante sabe fazer, ao invés de estar direcionada para o que ainda não sabe fazer. Até porque, caso o desejo fosse descobrir o que o educando não sabe, seria uma avaliação punitiva, o que não é conveniente, pedagogicamente falando. Princípio da Generalidade: este princípio preconiza que o estudante deve ser visto como “um todo”, e que a avaliação deve adotar uma visão holística da Matemática e da aprendizagem. Princípio da Diversidade: o professor deve aplicar formas diversificadas de avaliação, de modo a conseguir atender às diferentes características dos estudantes. Princípio da Postura: a avaliação deve acontecer num ambiente de confiança e clareza. O estudante deve saber, preferencialmente com a necessária antecedência, o que lhe será exigido na avaliação, e como. Quanto mais detalhes, melhor, mas sem excessos. Pode-se dizer, digamos, quantas serão as questões da avaliação, qual será sua forma, se de múltipla escolha ou discursivas, e quais serão os assuntos sobre os quais as questões versarão. Durante a graduação, um professor pouco ortodoxo deste que vos escreve fazia o seguinte: aplicava uma prova de 13 questões em que o estudante precisava escolher as dez que iria fazer. Ou seja: é preciso avaliar de modo coerente; a avaliação deve ser considerada como parte do aprendizado; deve tentar mensurar o que o estudante sabe, ao invés de investigar o que ele não sabe; deve avaliar o estudante como um indivíduo, e estar integrada com o aprendizado de outras disciplinas; deve estar baseada em formas diversificadas de avaliação; e, como se tudo que foi mencionado anteriormente não fosse suficiente, deve ser feita em um ambiente de confiança mútua. Ninguém disse que seria fácil! Este livro vai ajudá-los com relação às formas diversificadas de avaliação, como será visto mais à frente, e dar algumas ideias referentes à Taxonomia de Bloom. Vamos adiante! Capítulo 2 - Refletindo sobre o papel da avaliação e o sucesso escolar Parece estranho, aos nossos olhos, que a reprovação seja um fenômeno considerado normal. A reprovação é o ápice do que o sistema educacional pode produzir de pior: elitismo, exclusão, evasão, queda na autoestima dos educandos, etc. Também parece estranho o outro extremo, da assim chamada aprovação automática, na verdade uma ideia concebida em sistemas educacionais totalmente diferentes do nosso, e muito mal aplicada por estas bandas. Então, o que temos em mente é um sistema que não seja excludente, reprovando em massa, mas também não seja estimulador da falta de qualidade, que não reprova devido a decisões politico-burocráticas, quando o ideal seria que as reprovações não acontecessem em virtude do incremento da qualidade. Neste capítulo, proporemos uma radical reflexão a respeito do papel que a avaliação exerce com relação ao sucesso escolar. Os pilares da nossa argumentação são os seguintes: se a avaliação for aprimorada, tornando-se, digamos, mais precisa, os resultados [com relação às reprovações e aprovações] tornam-se diferentes; se conseguirmos criar avaliações que [com o perdão do pleonasmo proposital] avaliem melhor, ou seja, meçam melhor o aprendizado, poderemos ter maior êxito. Vamos, agora, explicar melhor nosso ponto de vista, desenvolvendo o raciocínio. No capítulo 5, A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação, mostraremos os níveis e os domínios da taxonomia de Bloom, e como essas ideias podem impactar a elaboração das avaliações. Antes disso, vamos esclarecer o que temos em mente quando falamos em aprimorar a avaliação. Pedimos licença ao leitor para citar um trecho de um artigo de Charles Hadji3, extraído da revista Nova Escola: (...) o fracasso é um artefato real, produzido pelo exercício da avaliação em si, que faz uma classificação predeterminada e nada mais é que a antecâmara da eliminação. O que podemos pensar de um médico que sempre se contenta em ver 25% de seus pacientes morrerem? Um educador tampouco é técnico de um time de futebol. Ele não deve simplesmente convocar os 11 melhores, mas obter 100% de aprovação daqueles que lhe são confiados. É exatamente esse o princípio básico da pedagogia voltada ao bom desempenho: sob as condições apropriadas, quase todos os alunos conseguem dominar os conteúdos dados. Usando o gancho do trecho citado acima, é correto concluir que, ao contrário de um técnico da seleção de futebol, que é pago para escolher os melhores jogadores, o papel do professor é tornar os seus estudantes os melhores, ou seja, estimulá-los a desenvolverem-se ao máximo. E onde entra a avaliação nessa história? Não atrapalhando! Situação ideal: a avaliação não está presa a padrões estanques parados no tempo, usando sempre os mesmos velhos recursos [provas escritas e trabalhos expositivos]. Quando estamos ensinando, o ideal é que tenhamos à disposição uma quantidade de recursos diferentes, de modo a contemplar os diferentes tipos de inteligências dos estudantes. Se, ao ensinar, podemos usar vários recursos, por que não usar vários recursos ao avaliar, também? Afinal, se nossa avaliação for abrangente, poderemos assim contemplar melhor os tipos de inteligências, e consequentemente valorizar o que poderia passar despercebido se usássemos um único tipo de avaliação [esse assunto será retomado no capítulo 4]. O ‘ritmo’ ideal do processo de ensino-aprendizagem deveria ser o seguinte: Planejamento > Execução > Reflexão que realimentaria o Planejamento, num círculo virtuoso. Detalhando melhor: - O Planejamento é tudo que precede as aulas e avaliações: planos de aula, elaboração de avaliações, planejamento de trabalhos, etc.. Em um mundo ideal, só seria aplicado o que tivesse sido previamente planejado. No Planejamento é que se determinam os objetivos pedagógicos a serem atingidos, ou, pra ser ainda mais exato, aí se definem ‘o quê’, ‘como’, ‘quando’, ‘por que’. - A Execução é a colocação em prática do que foi planejado anteriormente. É o ‘momento especial’ do processo educacional. - A Reflexão é o que fará com que o professor pense a respeito dos objetivos atingidos [ou não], e de que forma seria possível atingi-los de forma mais efetiva. Então, qual é o papel da avaliação nisso tudo? A avaliação, nesse ritmo ideal, é a ‘fotografia instantânea’ do processo todo. Com ela pode-se medir o que foi feito e o que ficou por fazer; ou, melhor dizendo, pode-se medir como foi feito o que se fez. Logo, nesse processo, a avaliação serve o ensino (ou melhor, está subordinada a ele), e não o contrário. Usando a avaliação dessa forma, será possível influenciar positivamente os índices de retenção de alunos, impactando assim no sucesso escolar. Ensino e aprendizagem, irmãos siameses brigados Ensino e aprendizagem, infelizmente, não são a mesma coisa. Em uma escola ideal, as duas coisas seriam a mesma coisa, ou melhor, tudo que fosse ensinado seria aprendido. A avaliação só existe porque, no mundo real, ensino não implica necessariamente em aprendizagem. Quais as razões que levam o ensino a não impactar em aprendizagem? Bem, se aquele que vos escreve soubesse tais respostas com absoluta certeza, escreveria um livro e ficaria bilionário. Lamentavelmente não temos essa certeza, então deixamos algumas breves digressões a respeito: - Incompreensão, por parte dos estudantes, dos objetivos educacionais – A frase mais ouvida ao ensinar Matemática (ou qualquer outra disciplina) é “Professor, pra que serve isso?”. A mesma reclamação (com algumas variantes) é ouvida, por exemplo, pelos professores de idiomas. A rejeição ao conteúdo que é ensinado, ou aomodo como tal conteúdo está sendo ensinado, dificulta o diálogo entre professor e estudantes e consequentemente o aprendizado. - Linguagem inadequada ou incompreendida – se o professor não entende o que os estudantes querem dizer, ou se os estudantes não alcançam o vocabulário do professor, tem-se um problema de aprendizado. - Indisciplina – um autor afirmou certa vez que o estudante se sente tapeado quando não aprende. Então, uma vez que se ensina e ele não aprende, ele se insere no contexto da indisciplina. Some-se a isso salas de aula superlotadas e está feita a tragédia. - Fatores emocionais – o principal fator [mas não o único] que impacta no aprendizado dos estudantes, sem dúvida, é a baixa autoestima. Lamentavelmente, seus impactos são persistentes e duradouros, e só um programa de longo prazo capitaneado por profissionais capacitados desde os primeiros anos de escolaridade poderia ajudar a evitar seus efeitos. - Desmotivação - é um fator desagradável que pode afetar tanto professores quanto estudantes, e seus efeitos podem ser longos. Uma possível solução é a mesma mencionada no item anterior. - Acúmulo de conteúdos de séries anteriores que são pré-requisito para conteúdos de uma série posterior - entender, digamos, como operar com números inteiros e com frações é importante para resolver equações do segundo grau. Se o estudante não aprendeu esse conteúdo em anos anteriores, tudo fica mais difícil. Juntar isso a um grau mais alto de abstração exigido, digamos, no ensino superior atrapalha grandemente a vida acadêmica. Todos os fatores mencionados podem ser amenizados [e em alguns casos resolvidos] com diálogo e boa comunicação entre todos os atores envolvidos. Não nos aprofundamos nesse assunto propositalmente, pois foge um pouco de nosso objetivo. Pensando positivo, vamos voltar ao tema principal de nosso livro no próximo capítulo. Capítulo 3 - Instrumentos de Avaliação e Tipos de Avaliação Múltiplos instrumentos de avaliação são importantes tanto para o educando quanto para a escola. O educando se beneficia por não ser avaliado com base em um único instrumento de avaliação [quase sempre, a prova]; e a instituição se beneficia por ter mais segurança quando do veredito da avaliação somativa (que veremos mais à frente), e/ou quando emite comunicações do desempenho dos estudantes à família e aos próprios estudantes. A propósito, aqui está um trecho dos PCN’s4 que tratam do assunto avaliação: É fundamental a utilização de diferentes códigos, como o verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, de forma a se considerar as diferentes aptidões dos alunos. Por exemplo, muitas vezes o aluno não domina a escrita suficientemente para expor um raciocínio mais complexo sobre como compreende um fato histórico, mas pode fazê-lo perfeitamente bem em uma situação de intercâmbio oral, como em diálogos, entrevistas ou debates. (BRASIL, 1997) Ou seja, os PCN’s nos exortam (embora, é verdade, não de modo muito explícito nesse trecho) a usar múltiplas formas de avaliação, de modo a conseguir radiografar precisamente o estado atual do aprendizado do estudante. Em outro trecho, dos PCN’s de Matemática para o Ensino Fundamental, consta o trecho mais direto: Alguns professores têm procurado elaborar instrumentos para registrar observações sobre os alunos. Um exemplo são as fichas para o mapeamento do desenvolvimento de atitudes, que incluem questões como: Procura resolver problemas por seus próprios meios? Faz perguntas? Usa estratégias criativas ou apenas as convencionais? Justifica as respostas obtidas? Comunica suas respostas com clareza? Participa dos trabalhos em grupo? Ajuda os outros na resolução de problemas? Contesta pontos que não compreende ou com os quais não concorda? (Idem) Então, a própria observação, pura e simples, acompanhada de um registro detalhado, também é um instrumento de avaliação, segundo os PCN’s. Se a única ferramenta de que eu disponho é um martelo, todo parafuso vira prego De acordo com a teoria das múltiplas inteligências de Gardner5, há alguns tipos de inteligência, e não um único tipo; logo, idealmente deveríamos ter múltiplos instrumentos de avaliação, e não variações numa nota só [usando apenas testes de múltipla escolha e provas]. Além do mais, ter apenas um instrumento de avaliação faz com que ela seja facilmente questionável. Abaixo, estão relacionados alguns instrumentos de avaliação; são citadas suas características, seus defeitos e sugestões para contornar esses defeitos. Testes de preenchimento ou correlações: são testes com lacunas a preencher pelo estudante ou em que o estudante precisa relacionar conceitos com suas definições. Evoca apenas a memória, e não explora os saberes/habilidades. Pontos Fracos: se o instrumento de avaliação só consiste nisso, pode parecer superficial; algumas questões podem, até mesmo por engano na confecção, possuir mais de uma resposta correta, ou nenhuma. Sugestão: a avaliação não pode se basear apenas nessas duas formas [testes de preenchimento e de correlações] sob pena de ser realmente superficial. Testes de múltipla escolha: são fáceis e rápidos de elaborar e de corrigir. Pontos Fracos: podem ser bastante superficiais e propícios ao chute – o estudante pode acertar a resposta ao acaso, obtendo assim um resultado que não necessariamente traduz o seu empenho [ou falta de]. Sugestão: não distribuir a maior parte do valor da nota final da avaliação em testes de múltipla escolha. Provas discursivas: exigem um breve texto escrito, e necessariamente têm um comando verbal no enunciado [cite, relacione, enumere, calcule, explicite...]. Têm por objetivo avaliar a aquisição de um saber ou habilidade específica. Primeiro Ponto Fraco: caso o estudante interprete o enunciado de forma incorreta poderão surgir respostas inesperadas, em total desacordo com a proposta original. Dão bem mais trabalho para a elaboração, caso se deseje fazer direito. Segundo Ponto Fraco: caso não se tenha um certo cuidado na elaboração do enunciado, as respostas absurdas surgirão sem falha. Seja mais descritivo e não economize palavras, se isso tornar sua questão mais compreensível. Sugestão: Convém criar enunciados facilmente compreensíveis, objetivos, para que não ocorra de o estudante saber a resposta e não a escrever por não ter compreendido o enunciado. Portfólio: coleção [física, mesmo] de trabalhos feitos pelos estudantes, de modo a ser um registro do avanço do aprendizado dos estudantes. Ponto Fraco (óbvio): caso se trate de professores do primeiro segmento do ensino fundamental, fazer portfólios para cada uma de suas turmas gerará uma quantidade infinita de papel a ser guardado. O mesmo defeito (porém com magnitude menor) ocorreria, digamos, no Ensino Médio, com professores de Português e/ou Redação. Sugestão (incompleta, é verdade): selecionar trabalhos em quatro momentos: início e culminância do primeiro semestre; início e fim do segundo semestre. Trabalho escrito: trabalho, versando sobre um determinado tema, com parâmetros de estilo [margem direita e esquerda, fonte, etc...] e de conteúdo mínimo especificados previamente pelo professor. Ponto Fraco: qualquer um que tenha cursado uma faculdade sabe que há os que fazem os trabalhos, os que os imprimem, os que fazem a capa, os que participam da apresentação... e os que pedem no último momento para incluir seus nomes. Atire o primeiro pendrive quem nunca fez isso. Sugestão: não estabeleça grupos grandes. Haverá mais trabalhos para corrigir, mas faz parte. Paciência. Segundo Ponto Fraco: há um grandioso mercado no País para trabalhos feitos sob encomenda. Se há quem compre uma monografia, uma dissertação ou uma tese, o que impede alguém de comprar um trabalho escolar, ou de pedir a outrem que o faça (com ou sem envolvimento financeiro)? Segunda Sugestão: se essa hipótese lhe angustia, é simples:não dê trabalhos. Melhor assim. Ou, caso ache que os trabalhos são importantes: crie meios de os estudantes escreverem os trabalhos durante as aulas (e apenas durante as aulas). Terceira sugestão: caso você realmente ache importante que os estudantes façam trabalhos, ensine-os a fazê-los. Muitos deles não sabem fazer porque ninguém ensinou (e jamais aprenderão se ninguém ensinar). Seminário: aqui não é suficiente escrever o trabalho; os estudantes devem ainda apresentá-lo à turma. Os professores tidos como mais rigorosos permitem até que os estudantes atribuam notas ao trabalho dos outros grupos. Ponto Fraco: novamente, pode ser feito por outrem e apenas apresentado pelos estudantes. Quando da atribuição de notas, por “vingança”, estudantes que não se dão com integrantes dos outros grupos podem puxar as notas para baixo. Sugestões: caso aplique essa maneira de avaliação, ignore que o trabalho pode ser escrito por outras pessoas. Caso a turma em questão tenha várias panelinhas adversárias, avalie os trabalhos sozinho ao invés de partilhar a avaliação com a turma. Outra ideia seria contrabalançar a nota atribuída pelos estudantes com a do professor. WebQuest: como o próprio nome indica, WebQuest é uma busca na Internet. O professor indica questões que deverão ser respondidas, e normalmente é composta de Introdução (onde o professor determina o assunto e dá uma motivação inicial); Tarefa (descreve o percurso que os alunos vão fazer até o fim da WebQuest); Processo (inclui todas as etapas da WebQuest); Recursos (bibliografia inicial e recursos a que se pode recorrer); Conclusão (finalização da tarefa: quando o trabalho está pronto? Quais são os parâmetros mínimos que devem ser atingidos?) e Avaliação (Quais são os critérios usados pelo professor para avaliar os trabalhos finais). Pontos Fracos: os mesmos dos trabalhos escritos. Sugestões: pesquise bastante antes de aplicar a Web- Quest como avaliação. Vai valer a pena. Debate: o autor, enquanto educando, estudou com um professor que aplicava debates como instrumento de avaliação. Nesse caso, são escolhidos dois lados [normalmente a favor ou contra determinado tema], e os estudantes precisam defender os pontos de vista, sob o julgamento dos outros alunos (que não estão tomando parte na argumentação do debate). Lá no longínquo ano de 1986, o bravo professor daquele que vos escreve fez um debate sobre energia nuclear. Alguns estudantes deveriam falar contra a energia nuclear, e outros estudantes, que não eram da mesma escola dos primeiros, deveriam usar argumentos a favor da energia nuclear. Embora os participantes tivessem no máximo 15 anos, o debate deixou uma boa impressão nestes fatigados neurônios. Problema: turmas que brigam muito acabarão brigando também ao aplicar este instrumento de avaliação. Temas em que possa haver um argumento religioso podem se tornar desagradáveis para os debatedores não- religiosos - não dá pra ganhar de Deus num debate... Sugestões: estabelecer regras claras para o debate e para coibir as possíveis provocações entre os participantes. Controvérsia controlada CTS: de acordo com CHRISPINO6, citado por CHAVES, a controvérsia controlada é “um método didático de construção de consenso (pelo menos no processo de debate) minuciosamente preparado a partir de regras previamente definidas visando o exercício de (1) identificação de problemas comuns para fomentar a controvérsia; (2) o exercício de estabelecer padrões mutuamente aceitáveis para sustentar um debate; (3) a busca organizada de informações pertinentes ao tema definido; (4) a preparação da exposição em defesa da posição; (5) a capacidade de escutar a posição controversa apresentada racionalmente pelos demais participantes; (6) o exercício de contraargumentar a partir do conhecimento dos argumentos utilizados pelos demais debatedores e (7) reavaliar as posições – a sua e as demais – a partir de novas informações.” Ou seja, é preciso escolher um tema; distribuir tarefas de modo que todos os estudantes estejam engajados em um grupo que pesquise um determinado ponto de vista; pensar o modo de apresentação dos argumentos; estabelecer os tempos para falações e réplicas; e determinar a conclusão da controvérsia, em que os estudantes falam sobre o que aprenderam dos próprios pontos de vista e dos pontos de vista contrários aos seus. É bem mais abrangente do que o simples debate, porque nela todos devem estar envolvidos. É bastante enriquecedor, mas... Defeito: – O único defeito: é trabalhoso. Sugestões: Leia o trabalho de CHAVES e procure alguns artigos de CHRISPINO antes de aplicar a ideia da controvérsia CTS. Vale a pena aprender um pouco mais, já que este livro seria bem maior caso déssemos mais detalhes sobre a controvérsia. Propositalmente não mencionamos o que é CTS. O prazer da descoberta é algo que não deveria ser retirado das pessoas, e desejamos que o leitor realize essa descoberta por si só. Pesquisa de campo: é necessário estabelecer um objetivo claro e pedir aos estudantes que pesquisem sobre um determinado tema, e depois mostrem os resultados de sua pesquisa. Exemplo: comparação de preços em diversos lugares; entrevistas com pessoas externas à escola; visitas a locais externos à escola com relatório posterior, etc. Ponto Fraco: caso os objetivos não tenham sido muito bem explicados poderão aparecer resultados esdrúxulos. Sugestões: seja cuidadoso e explique bem o que você deseja. Em todos os casos, seja qual for o instrumento adotado, deve-se lembrar de uma regra válida eternamente: o que quer que seja proposto, deve poder ser executado no tempo disponível para tal (regra da exequibilidade). Outras dicas fundamentais: usar linguagem clara, direta e adequada ao nível de ensino; não criar questões que sejam respondidas com outras questões anteriores ou posteriores a ela; caso use tabelas ou gráficos, tenha o seguinte cuidado: essas informações ficarão legíveis? Caso haja dúvida, contorne-as e aborreça-se menos. O princípio fundamental ao avaliar deve ser o seguinte: muito mais importante que qualquer coisa é responder à seguinte pergunta: quanto meu estudante aprendeu com esse trabalho? A nota ou conceito deve estar associado a essa resposta. Tipos de avaliação Avaliação diagnóstica: como o próprio nome sugere, serve para diagnosticar o que os estudantes sabem dos requisitos para a série atual. Dando um exemplo, quando se vai começar a primeira série do ensino médio, um dos conteúdos de Matemática é Trigonometria; logo, o trabalho do professor ficará mais fácil se ele já souber antecipadamente quais são os conteúdos – pré-requisitos - que os estudantes dominam e os que precisarão ser revistos. Este tipo de avaliação não conta para a avaliação somativa, pois não é recomendado como punir ou recompensar alguém pelos conteúdos que a pessoa domina (ou não) de anos anteriores. A função dessa avaliação é apenas orientar o planejamento das aulas e demais atividades do professor. Como está afirmado nos PCN’s: O acompanhamento e a reorganização do processo de ensino e a aprendizagem na escola inclui, necessariamente, uma avaliação inicial para o planejamento do professor e uma avaliação ao final de uma etapa de trabalho. A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o professor para que possa pôr em prática seu planejamento de forma adequada às características de seus alunos. Esse é o momento em que o professor vai se informar sobre o que o aluno já sabe sobre determinado conteúdo para, a partir daí, estruturar sua programação, definindo os conteúdos e o nível de profundidade em que deve ser abordados. A avaliação inicial serve para o professor obter informações necessárias para propor atividades e gerar novos conhecimentos, assim como para o aluno tomar consciência do que já sabe e do que pode ainda aprender sobre um determinado conjunto de conteúdos. É importante que ocorra uma avaliaçãono início do ano, pois o fato do aluno estar iniciando uma série não é informação suficiente para que o professor saiba sobre suas necessidades de aprendizagens. Mesmo que o professor acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha registros detalhados sobre o desempenho dos alunos no ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois os alunos não deixam de aprender durante as férias e muita coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos letivos. Mas essas avaliações não devem ser aplicadas exclusivamente nos inícios de ano e de semestre; são pertinentes sempre que o professor propõe novos conteúdos ou novas sequências de situações didáticas. É importante ter claro que a avaliação inicial não implica a instauração de um longo período diagnóstico, que acabe por se destacar do processo de aprendizagem que está em curso, no qual o professor não avança em suas propostas perdendo escasso e precioso tempo escolar de que dispõe. Ela pode ser realizada no interior mesmo de um processo de ensino aprendizagem, já que os alunos põem inevitavelmente em jogo seus conhecimentos prévios ao enfrentar qualquer situação didática. O processo contempla, também, a observação dos avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao final de um período de trabalho, seja este determinado pelo fim de um bimestre ou de um ano, seja pelo encerramento de um projeto ou sequência didática. (Ibidem) Assim ficou claro, certo? A avaliação diagnóstica é algo aparentemente irrelevante, mas pode ser bastante valiosa para o planejamento do ano letivo se bem usada. Seus resultados podem evitar perda de tempo com repetições de assuntos que os estudantes dominam; ou, pior ainda, falar assuntos sem que os estudantes dominem seus pré-requisitos [o que será um grandioso desperdício de tempo, porque inevitavelmente será necessário parar e ensinar os pré-requisitos. . . ]. Avaliação formativa: é a avaliação durante o processo educativo. Seus resultados são comunicados à família (e por extensão à sociedade) através de conceitos, notas e resultados parciais. Avaliação somativa ou qualitativa: é o veredito final do ano letivo, ou seja, o resultado final. Em uma situação ideal, jamais haveria uma surpresa nesse momento; ainda em uma situação ideal, a ênfase da escola seria nas avaliações parciais (=biópsias -–análises sobre um processo em andamento), e não na avaliação somativa (=autópsia –análise sobre um processo terminado). Correto? Capítulo 4 - A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação Esta ideia (da taxonomia) não é nova: já existe desde 1948, e foi proposta por um grupo de educadores, que criaram um sistema de classificação para três domínios: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. A palavra taxonomia, ou taxionomia, significa organização em classes, que é o que veremos logo a seguir. A ideia central [de quando a taxonomia de Bloom foi proposta] é de que os objetivos educacionais podem ser organizados hierarquicamente, do nível mais simples — Conhecimento — até o mais complexo — Avaliação (no sentido de juízo de valor). Os níveis da taxonomia de Bloom são, pela ordem: Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação. Não há consenso com relação às posições da Síntese e da Avaliação, porém ambas são necessariamente posteriores à Análise. Cada nível tem, associado a si, uma série de verbos, como exemplificamos abaixo. Apresentamos, ainda, exemplos simples de aplicação dos níveis. Vamos a eles: 1 – Conhecimento – lembrar fatos, datas, nomes, características, etc. previamente conhecidos. Verbos: descrever, ordenar, listar, enumerar, relacionar, rotular, memorizar, identificar e citar. - Quantos e quais são os planetas do sistema solar? - Quais são os rios da margem direita do Amazonas? 2 – Compreensão — compreender e dar significado ao conteúdo. Aplicar uma ideia em contextos diferentes. Verbos: descrever, identificar, interpretar, reconhecer, explicar, distinguir, selecionar, exemplificar, classificar e situar. - Descreva pelo menos duas características dos planetas do sistema solar. - A Lua é chamada de satélite do planeta Terra. Explique a diferença entre um planeta e um satélite. 3 – Aplicação — usar ideias/ conceitos/ procedimentos aprendidos anteriormente em novas situações concretas. Verbos: aplicar, criar, fazer, construir, modelar, prever, preparar, descrever, explicar com base em conhecimentos prévios, interpretar. - Explique por que a vida seria impossível em qualquer planeta pertencente ao sistema solar, exceto a Terra. - Se tivéssemos tecnologia e recursos que tornassem possível estabelecer uma colônia terráquea em Marte, cite algumas dificuldades da possível implantação dessa colônia. 4 – Análise — dividir o conhecimento em partes visando o entendimento da estrutura completa. Verbos: comparar, especificar, dividir, distinguir, classificar, comparar, identificar, selecionar, examinar e analisar. - Analise as diferenças entre o presidencialismo e o parlamentarismo. Aponte vantagens e desvantagens entre os sistemas. - Qual é a diferença entre os planetas mais próximos e os mais distantes do Sol? Especifique pelo menos duas diferenças. 5 – Síntese — combinar/agregar partes para formar um ‘todo’ a partir de elementos com diferentes características. Verbos: categorizar, combinar, generalizar, compilar, reconstruir, compor, reescrever, sintetizar, projetar, modificar. - Descreva como você projetaria um modelo do sistema solar. Explique o que deve ser feito para que ele não fique incorreto. Calma: apenas descreva, não será necessário fazê-lo de fato. 6 – Avaliação — argumentar e fazer julgamentos objetivos sobre o valor/qualidades de algo para um propósito específico. Julgar a importância ou o valor de algo. Verbos: avaliar, julgar, averiguar, interpretar, resumir, relatar, comparar, resolver, argumentar, justificar. - O Brasil é uma república presidencialista. Muitos países (principalmente na Europa) são monarquias. Compare os dois modelos (república e monarquia) e diga qual deles parece mais adequado, e por quê. - Vamos fazer algumas hipóteses. Aqui no planeta Terra, ao lançar um relógio da altura de 50 metros, ao nível do mar, é necessário um certo tempo para que o relógio atinja o chão. Caso o mesmo relógio fosse lançado da altura de 50 metros em relação ao chão no planeta Mercúrio, o tempo de queda seria igual ou diferente em relação ao tempo na terra? Caso você ache que o tempo é diferente, explique os fatores que afetam o tempo de queda. E como isso (a taxionomia de Bloom) influencia a minha avaliação? Quem consegue fazer uma avaliação, mesmo que seja uma “simples” prova, baseado na taxionomia de Bloom, vai ver que é mais fácil [em relação ao trabalho necessário para confeccioná-la] do que parece, e a tal avaliação é menos cansativa para o estudante. Vejamos: o ideal é misturar questões com níveis diferentes, de modo a não privilegiar demais um único nível da taxionomia de Bloom. Essa atitude fará com que a avaliação não se torne desagradável. Se – digamos – o professor se empolgasse e atirasse apenas questões dos níveis 5 e 6 em uma prova, certamente hordas de estudantes furibundos reclamariam com a direção. Supondo, por absurdo, que as questões fossem apenas dos níveis 1 e 2, os estudantes não lhes dariam a mínima importância (talvez por não se sentirem estimulados intelectualmente). Logo, o mais recomendado é uma mescla dos níveis das questões. Todo professor fica irado ao ler respostas absurdas, sem conexão com o que se esperava que o estudante respondesse. Porém, a probabilidade de aparecimento desse tipo de resposta é minimizada [assim esperamos] quando as perguntas são mais específicas. Alguns exemplos do que estamos tentando dizer: P – Onde fica o sistema excretor do camarão? R – No corpo do camarão. P – Escreva tudo o que você sabe sobre a Semana de 22. R – [O estudantenão escreveu nada, e queria porque queria a pontuação referente à questão. Alegação: ele não sabia nada sobre a Semana de 22, portanto escreveu tudo que sabia (nada).] Algumas ideias: - Evite a todo custo a expressão ‘diga o que você sabe’ e coisas desse gênero. - Antes de aplicar a avaliação, reveja cada questão, e pense se alguma delas poderia ser usada como alvo para respostas irrelevantes e/ou irreverentes. Pense, ainda, como algum estudante intelectualmente engraçadinho poderia fazer com que o objetivo de determinadas questões se perdesse. - Seja preciso, como nos exemplos anteriores reescritos: Em sala de aula nós estudamos as características dos artrópodes. Um representante desse filo de seres vivos é o camarão. Com base no que discutimos em aula, explique em que parte do corpo do camarão fica o seu sistema excretor. A Semana de Arte Moderna de 1922, também referida simplesmente como Semana de 22, ocorreu em fevereiro de 1922, em São Paulo. Cite alguns escritores que participaram da Semana de 22 e algumas reações negativas. Uma avaliação interessante é uma avaliação que mescla questões com vários dos níveis da Taxonomia de Bloom. Turmas com alunos mais novos, que ainda não sabem argumentar bem, deveriam ser expostas gradativamente às questões com base nos níveis 5 e 6 [Síntese e Avaliação, respectivamente] da taxonomia. Já no ensino médio, pode-se usar tais níveis um pouco mais. Adiante no texto haverá algumas questões que poderiam ser usada como referência; entretanto, nosso desejo é que cada professor faça sua própria reflexão e adapte-se à realidade educacional de sua turma. Capítulo 5 - Alguns exemplos de aplicação da Taxonomia de Bloom Aqui, teremos alguns exemplos de aplicação da taxonomia de Bloom, em várias disciplinas. Matemática, Concurso para Professores do Estado do Rio de Janeiro, 2011 Considerando x ≠ y, a expressão cos(x - y) + cos(x + y) é equivalente a: a) 1 b) cos2x – sen2x c) 2 cos x cos y d) cos(x2 – y2) e) cos (xy) Essa questão, que envolve apenas o primeiro nível da Taxonomia de Bloom - Conhecimento - fez parte de uma seleção de professores de Matemática do Estado do Rio de Janeiro de 2011. A crítica óbvia é que não é possível mensurar se alguém ensinará bem Matemática com esse tipo de questão - seria possível que a pessoa tenha decorado a ideia mas não tenha noção da utilidade dessa fórmula. A propósito, o gabarito da questão é a letra C. Geografia, ENEM, 2016 O Rio de Janeiro tem projeção imediata no próprio estado e no Espírito Santo, em parcela do sul do estado da Bahia, e na Zona da Mata, em Minas Gerais, onde tem influência dividida com Belo Horizonte. Compõem a rede urbana do Rio de Janeiro, entre outras cidades: Vitória, Juiz de Fora, Cachoeiro de Itapemirim, Campos dos Goytacazes, Volta Redonda - Barra Mansa, Teixeira de Freitas, Angra dos Reis e Teresópolis. O conceito que expressa a relação entre o espaço apresentado e a cidade do Rio de Janeiro é: (A) Frente pioneira. (B) Zona de transição. (C) Região polarizada. (D) Área de conurbação. (E) Periferia metropolitana. Outra vez, o contexto obriga o estudante a reconhecer um conceito, e nada mais. Trata-se de uma questão de Conhecimento. Gabarito: letra C. Física, UFRJ, vestibular 2011 Um avião vai decolar em uma pista retilínea. Ele inicia seu movimento na cabeceira da pista com velocidade nula e corre por ela com aceleração média de 2,0 m/s2 até o instante em que levanta voo, com uma velocidade de 80 m/s, antes de terminar a pista. a) Calcule quanto tempo o avião permanece na pista desde o início do movimento até o instante em que levanta voo. b) Determine o menor comprimento possível dessa pista. Para calcular o tempo em que o avião fica na pista até decolar a 80 m/s, é necessário aplicar uma fórmula7. Feito isto, o tempo encontrado é o tempo que foi gasto percorrendo a pista; e outra fórmula8 pode ser usada para determinar qual foi a distância percorrida. Essa distância (∆s) é o comprimento mínimo da pista. Logo, a questão envolve os níveis Compreensão e Aplicação. Biologia, UFRJ, vestibular 2011 Todos os seres vivos podem ser classificados em espécies e cada espécie pertence a um único reino (Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia). Os taxonomistas já descreveram mais de 10.000 espécies de líquens, seguindo as normas de nomenclatura dos seres vivos, embora os líquens apresentem uma característica que os diferencia das demais espécies. Explique por que os líquens não podem ser considerados verdadeiras espécies. A questão solicita que o respondente explicite a razão pela qual os líquens não podem ser considerados verdadeiras espécies. Ou seja, é necessário saber o que caracteriza uma espécie, e não está presente nos líquens. Ou seja, trata-se do terceiro nível (Aplicação) da taxonomia de Bloom. Livro didático da Sexta Série de Ciências9 Este capítulo mostrou a você o conceito de adaptação. Nesse texto sobre morcegos há muitos exemplos de adaptações desses animais. Faça uma lista delas. O autor solicita ao estudante uma questão claramente de Análise, de acordo com a Taxonomia de Bloom. Filosofia, UFRJ, Vestibular 2008 “Filosofia” é uma palavra de origem grega. Ela é constituída pela reunião de duas outras palavras gregas: “philia” e “sophia”. O termo grego “philia” pode ser traduzido por “amizade”, “afeição”, “amor”. Já o termo “sophia” costuma ser traduzido por “sabedoria”. A partir dessas considerações: a) indique o significado da palavra “filosofia”; b) comente o sentido da atividade que ela designa. A primeira parte da questão se refere ao nível Síntese da Taxonomia de Bloom: reunir (sintetizar) os significados de duas palavras diferentes formando um novo significado. Matemática, Concurso para Professores do Estado do Rio de Janeiro, 2011 O professor Gilson, de Matemática, pediu a seus alunos para determinarem a solução da inequação x2 – 4 > 0, em <. Ele destacou a solução de 3 alunos: Armínio, Benedito e Carla, mostrando os passos utilizados por eles na resolução da inequação. Armínio: Passo 1A: x2 > 4 Passo 2A: x > 2 Passo 3A: S =]2; ∞[ Benedito: Passo 1B: x2 > 4 Passo 2B: x > 2 ou x > –2 Passo 3B: S =] –2; ∞ [ Carla: Passo 1C: x2 > 4 Passo 2C: x > 2 ou x < –2 Passo 3C: S =]-∞, -2[ U ]2; ∞ [ Com relação às respostas dos alunos, considere as afirmativas abaixo. I- O passo 2A está errado, pois não se pode dizer que a raiz quadrada de qualquer quadrado de um número x real é igual a x. II- O passo 2B está correto. III- O passo 2C está correto. IV- O passo 3C está errado. Estão corretas somente as afirmativas: A) I e II B) I e III C) I e IV D) II e III E) III e IV Necessariamente, para resolver a questão, é preciso aplicar conhecimentos prévios, analisar os itens apresentados e finalmente avaliar (no sentido de julgar ) qual é o mais correto. Então, embora pudéssemos classificar a questão usando os níveis da Aplicação e da Análise, o objetivo da questão é a Avaliação. Capítulo 6 - Valoração Segundo a Taxonomia de Bloom Parece natural que, uma vez que a Taxonomia de Bloom estabelece que há classificações diferentes para os itens de avaliação, estes itens tenham um valor diferente também. A valoração, naturalmente, é subjetiva, ou seja, depende dos critérios do professor. Analisaremos uma avaliação do Nono Ano do Ensino Fundamental, de Matemática, em que constarão os seguintes tópicos: - Identificar e aplicar noções de juros simples e compostos (sem o uso de fórmula e com auxílio de tabelas). - Reconhecer e aplicar razões trigonométricas em triângulos retângulos. - Calcular os zeros de uma função quadrática. - Calcular o ponto vértice da parábola que representa uma função quadrática. - Construir o gráfico de uma função, a partir de pares de soluções de uma função. Esta é a avaliação para esses descritores: Questão 1 - Uma pessoa fezuma dívida no cartão de crédito em um certo país em que esse tipo de dívida cresce no regime de juros compostos, e a taxa é de 20% ao mês. (2 pontos) a) Se a dívida dela era de $ 2.000,00, quanto a pessoa estará devendo depois de um mês? b) Se a pessoa não fez nenhum pagamento, quanto estará devendo após dois meses? Questão 2 - Um triângulo retângulo ABC tem um ângulo C de 30º e a medida do lado BC é de 20 cm. Determine todas as medidas ainda não conhecidas desse triângulo (ou seja, os lados AC e AB, e o ângulo B). (1,5 ponto) Questão 3 - Sobre a função f(x) = x2 – 8x + 15, temos algumas afirmações: (1,5 ponto) I - A função tem duas raízes iguais. II - O vértice da função é o ponto (4; -1). III - A concavidade dessa função é virada para cima. Quantas dessas afirmações são verdadeiras? a) Nenhuma b) Uma c) Duas d) Três. Questão 4 - Escreva uma função do segundo grau cujo coeficiente de x2 seja negativo e que tenha raízes 4 e 5. (1,5 ponto) Questão 5 - Determine em qual das alternativas escritas abaixo há uma afirmação incorreta. (1,5 ponto) a) A concavidade de uma equação do segundo grau é determinada pelo coeficiente de x2. b) Uma equação do segundo grau tem duas raízes se ∆ < 0. c) Se uma função do segundo grau tem concavidade para cima, então seu vértice é um ponto de mínimo. d) Multiplicar todos os termos de uma função do segundo grau por 3 não altera suas raízes. Questão 6 - Em um jogo de vôlei, uma bola é sacada em direção à quadra adversária e sua trajetória pode ser aproximada por uma função f(x) = -x2 - 4x, em que x é o tempo decorrido e o valor de y é a altura atingida pela bola. a) Qual é a altura máxima atingida pela bola? em que momento a bola atinge essa altura? (0,5) b) Supondo que a bola não seja interceptada após o saque, em que momento sua altura será igual a zero (ou seja, em que momento depois de sacada atingirá o chão)? (0,5) c) Construa o gráfico dessa função no espaço abaixo. (1,0) Comentários: A primeira questão é, nitidamente, de Compreensão. Não bastará, aqui, conhecer a fórmula para juros compostos; é necessário conhecer a fórmula, saber que esta é a fórmula que deve ser utilizada (e não a de juros simples), e calcular corretamente o valor da dívida. A segunda questão, embora também seja de Compreensão, é de um grau de dificuldade um pouco menor que a primeira; os cálculos são com números menores e o resultado pode ser obtido mais rapidamente. Para saber a medida do terceiro ângulo só é necessário conhecer a Lei Angular de Tales (a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180º). A terceira questão é parte de Conhecimento, parte de Compreensão: a parte sobre a concavidade ser virada para cima é de Conhecimento (não é necessário fazer nenhum cálculo; só é necessário saber que se o valor do coeficiente de x2 é positivo, então a concavidade é virada para cima). O mesmo não é válido para os outros dois itens: apenas o Conhecimento não nos permitirá decidir se os itens são verdadeiros ou falsos. Será necessário compreender a que o enunciado se refere e aplicar a fórmula para decidir se a função tem duas raízes iguais, ou qual é o vértice dessa função. A questão 4 é sutil: pede uma função com raízes 4 e 5 e coeficiente negativo para x2. Ou seja, existem infinitas soluções; basta escrever a.(x - 4). (x - 5), com a < 0. Portanto, é uma questão de Compreensão. A questão 5 é outra em que não é necessário fazer nenhum cálculo: apenas saber as definições é suficiente para dar cabo dela. Logo, é nitidamente uma questão de Conhecimento. A questão 6 pede uma aplicação dos conceitos matemáticos em um contexto além da matemática; logo, é uma questão de Aplicação. Uma crítica consistente que poderia ser feita a esta avaliação é a de que ela tem poucas questões e está focada em níveis mais baixos da Taxonomia de Bloom, e além disso não utiliza os níveis mais elevados (Avaliação, Síntese e Análise); portanto, seria uma avaliação, digamos assim, mal dosada. Uma possibilidade de melhoria seria fazer mais questões e ajustá-las de modo que 50% da nota máxima estivesse associado a questões dos três primeiros níveis da Taxonomia de Bloom, e os outros 50%, aos outros três níveis. Como questões destes níveis, por serem mais difíceis, valem mais pontos, é preciso aumentar a quantidade de questões dos três primeiros níveis. Por exemplo, em uma avaliação com dez questões, três poderiam ser referentes aos três últimos níveis (Análise, Síntese e Avaliação), enquanto as outras sete poderiam tratar dos três primeiros níveis (Conhecimento, Compreensão e Aplicação). Obviamente, há casos em que será necessário evitar usar um ou outro nível devido à natureza das turmas a serem avaliadas. Turmas muito jovens podem ter problemas com os níveis mais elevados da Taxonomia, então tais questões podem ser usadas, mas com moderação. Encerramos assim este trabalho, desejando que o leitor consiga aproveitar estas ideias em seu trabalho docente com êxito. Obrigado! Referências Bibliográficas ALMEIDA, Adosinda P. P.. A utilização de instrumentos diversificados de avaliação das aprendizagens em Matemática, uma investigação sobre a prática. 2012. 131f. Relatório de Mestrado (Mestrado em Educação e Tecnologia em Matemática). Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Instituto Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal. Disponível em: https://iconline.ipleiria.pt/handle/10400.8/727 . Acesso em: 27 Abr. 2017 BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. CHAVES, André L. R. Uma experiência de CTS em sala de aula: a internacionalização da Amazônia. 2010. 99f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática). Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro. CHRISPINO, Alvaro. O uso do enfoque CTS e controvérsias tecnocientíficas por professores do ensino médio: um exemplo da capacitação em serviço em grande escala, in: IX Congreso Internacional Sobre Investigación en Didáctica de las Ciencias. Disponível em: http://www.raco.cat/index.php/Ensenanza/article/view/296519 . Acesso em: 01 Mai. 2017 FERRAZ, Ana Paula do C. M.; BELHOT, Renato V.. Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos instrucionais. in: Gest. Prod., São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n2/a15v17n2.pdf Acesso em: 23 Fev. 2017 GALHARDI, Antonio C; AZEVEDO, Marília M. de. Avaliações de aprendizagem: o uso da taxonomia de Bloom. in: VIII Workshop de Pós- Graduação e Pesquisa do Centro Paula Souza. Disponível em: http://www.cps.sp.gov.br/pos-graduacao/workshopde-pos-graduacao-e- pesquisa/008-workshop- 2013/trabalhos/educacao_corporativa/121728_237_247_FINAL.pdf . Acesso em: 01 Mai. 2017 Notas [←1] SELBACH, S.(org) Matemática e Didática, Petrópolis, RJ, Ed.Vozes, 2010 [←2] Aliás, há um livro de autoria de Vasco Moretto chamado "Prova: Um Momento Privilegiado de Estudo, não um Acerto de Contas", Lamparina, 2010. [←3] HADJI, Charles. A avaliação e o fracasso escolar. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/562/a-avaliacao-e-o- fracassoescolar [←4] BRASIL, 1997. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF [←5] Que aparentemente foge um pouco do objetivo deste livro, mas vale a pena ler [←6] CHRISPINO, A. Proibição do fumo: decisão pessoal ou social? Uma abordagem de ensino CTS para o tema tabagismo a partir da situação de controvérsia controlada. Disponível em: http://www.oei.es/salactsi/alvaro.pdf [←7] Para os curiosos, VF = V0 +at [←8] Para os muito curiosos, V = V02 + 2a∆s [←9] CANTO, Eduardo L.: Ciências Naturais: Aprendendo com o Cotidiano. São Paulo: Editora Moderna, 1999. Table of Contents Prefácio Capítulo 1 - Avaliar: para quê, por quê? Capítulo 2 - Refletindo sobre o papel da avaliação e o sucesso escolar Capítulo 3 - Instrumentos de Avaliação e Tipos de Avaliação Capítulo 4 - A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação Capítulo 5 - Alguns exemplos de aplicação da Taxonomia de Bloom Capítulo 6 - Valoração Segundo a Taxonomia de Bloom Referências Bibliográficas Prefácio Capítulo 1 - Avaliar: para quê, por quê? Capítulo 2 - Refletindo sobre o papel da avaliação e o sucesso escolar Capítulo 3 - Instrumentos de Avaliação e Tipos de Avaliação Capítulo 4 - A Taxonomia de Bloom Revisada e a Avaliação Capítulo 5 - Alguns exemplos de aplicação da Taxonomia de Bloom Capítulo 6 - Valoração Segundo a Taxonomia de Bloom Referências Bibliográficas
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