Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Prof. Nielson Ribeiro UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Escola de Química Construção de nanomateriais A nanotecnologia oferece um novo paradigma para a manufatura de materiais utilizando a manipulação em escala submicrométrica com o objetivo de criar dispositivos a partir de unidades estruturais fundamentais ou blocos de construção, por meio da construção de baixo para cima (bottom-up) ou de cima para baixo (top-down) até chegar a nanodispositivos. 2 Envolve mecanismos e estruturas já existentes, que são miniaturizados até a escala nanométrica. Ou seja, parte-se de um material bulk, que é fragmentado ou manipulado utilizando-se energia mecânica, química ou outra forma de energia. Top-down - Moagem mecânica: a severa deformação plástica associada ao atrito mecânico causa o refinamento da estrutura interna dos materiais em pó até a escala nanométrica. - Processamento mecano-químico: reações químicas ocorrem durante a moagem. - Eletro-explosão: Aplica-se uma alta corrente, por curto intervalo de tempo, num fio metálico, que alcança elevadas temperaturas, formando um plasma. Quando o plasma metálico se expande, com velocidade supersônica, cria-se uma onda de choque no gás ionizado ao redor do fio. A taxa de resfriamento extremamente rápida cria condições ideais para a estabilização de estruturas metaestáveis. O pó formado tem maior reatividade química e metalúrgica, permitindo a produção de ligas em temperaturas reduzidas. Principais técnicas: 3 - Sputtering (PVD- deposição física de vapor): bombardeamento de um alvo com íons de um gás inerte (como o argônio) para deslocar átomos do material do alvo, que é depositado sobre um substrato. - Litografia: padronização de uma superfície por exposição a luz, íons ou elétrons, seguido da gravação (etching) ou deposição de materiais para formação de estruturas nanométricas sobre substratos planares. A litografia é a “escultura” de um bloco macroscópico do material. Constitui a base de produção de dispositivos semicondutores para a indústria eletrônica. 4 Processo de transferência do padrão de cada máscara: • Uma fina camada de material orgânico fotossensível (fotoresiste) é depositada sobre o wafer. • A máscara é cuidadosamente alinhada sobre a superfície do wafer e exposta à luz; o fotoresiste torna-se solúvel. • A camada é então revelada para produzir o traçado desejado sobre a superfície. Etching: Processo de remoção do material não protegido Técnicas de Etching: - Etching químico: remoção química de materiais desprotegidos - Etching seco ou por plasma: usa gases ionizados ativos quimicamente por um plasma gerado por RF 5 Envolve a construção de estruturas a partir de átomos e moléculas, como em um “lego”, utilizando sínteses químicas ou processos de automontagem (self-assembly). Bottom-up 6 - Deposição química de vapor (CVD): Promove-se uma reação química em fase gasosa por aquecimento com resistência elétrica, radiação infravermelha, laser ou plasma. Precursores voláteis sofrem reação e/ou decomposição e o produto formado deposita-se como um filme fino por nucleação e crescimento sobre um substrato aquecido. Para deposição de silício pode-se utilizar silano (SiH4) e tetraetilortosilicato (TEOS). Para deposição de metais, os reagentes mais utilizados são carbonilas metálicas, haletos, hidretos ou compostos organometálicos, devido à alta volatilidade. Sínteses químicas: Tipos de reatores CVD: 7 - Sol-gel: Capaz de produzir nanomateriais em condições brandas e controladas (soft chemistry). Síntese de óxidos inorgânicos ou compósitos orgânico-inorgânicos por métodos de via úmida, envolvendo reações de hidrólise e condensação de compostos organometálicos, nomeadamente alcóxidos metálicos. Formam-se partículas de tamanho coloidal (sol), com posterior formação da rede tridimensional (gel). - Condensação atômica ou molecular: É usado sobretudo para nanopartículas metálicas. O material bulk é aquecido em vácuo, produzindo uma corrente de material vaporizado e atomizado, que é direcionado a uma câmara contendo um gás inerte ou reativo. O rápido resfriamento dos átomos metálicos devido à colisão com as moléculas do gás leva à condensação e formação de nanopartículas. Usando-se O2 como gás reativo, produz- se nanopartículas óxidas. 8 Envolve a ligação espontânea de moléculas a superfícies específicas, reconhecimento molecular e princípios de auto- organização (como o pareamento de bases complementares que formam o DNA) para formar estruturas supramoleculares. Ex de estrutura supramolecular: formação de micela por moléculas surfactantes em solução. Na automontagem os componentes devem ser capazes de se deslocar sucessivamente, de forma que as forças atrativas predominem sobre os efeitos repulsivos e caóticos. Portanto, a automontagem requer que os componentes sejam móveis e, por isso, o processo é geralmente conduzido em meio líquido ou em interfaces. Processos de automontagem (self-assembly): Self-assembled monolayer (SAM) de alcanotiós sobre substrato de Au (111): 9 A química supramolecular é definida como a "química dos arranjos moleculares e das ligações intermoleculares" e está interessada em entidades de grande complexidade que resultam da associação de duas ou mais espécies químicas mantidas unidas por forças intermoleculares. Forças intermoleculares que levam a formação de estruturas supramoleculares podem ser ligações secundárias, ligações de hidrogênio, interações doador-aceptor (tipo ácido-base de Lewis) ou interações iônicas. A formação de estruturas supramoleculares é um processo espontâneo (self-assembly) e não um processo em etapas e envolve o processo conhecido como "reconhecimento molecular". 10 No contexto da química supramolecular, é muito mais conveniente trabalhar na montagem de nanoestruturas a partir de moléculas do que de átomos. Por que moléculas? - moléculas são espécies estáveis, mais fáceis de serem manipuladas - moléculas possuem diferentes formas e propriedades inerentes a estrutura - moléculas possuem estados π estendidos (são sistemas termodinamicamente favoráveis para conduzir elétrons - moléculas atuam como fios) - moléculas podem se auto-organizar (“self-assembly”) ou podem criar longas cadeias de dispositivos idênticos - moléculas são idênticas (podem ser fabricadas sem defeitos em números muito grandes) Em compostos supramoleculares podemos distinguir três níveis de organização estrutural: - a estrutura primária (a nível molecular); - a estrutura secundária que consiste da associação de moléculas (ou seja, entidades supramoleculares que resultam das interações intermoleculares); -a estrutura terciária (o empacotamento cristalino das entidades supramoleculares). A automontagem é bastante facilitada utilizando-se complexos metálicos como conectores, visto que a ligação coordenativa é o exemplo mais simples de auto-organização molecular. De acordo com Lehn: "a química supramolecular é uma generalização da química de coordenação". 11 Ex: Automontagem por associação coordenativa de uma porfirina com 4 unidades de clusters triangulares de Ru Na presença das unidades periféricas de Ru adquire capacidade de realizar transferência multieletrônica, como a enzima citrocomo C-oxidase. Filmes supramoleculares de porfirina modificadas com complexos de Ru são usados como sensores eletroquímicos bastante eficientes para uma variedade de espécies, como SO2, nitritos, sulfitos, dopamina e fármacos. Porfirinas são sistemas macrocíclicos tetrapirrólicos, estudados originalmente devido a sua importância na fotossíntese e transferência da hemoglobina, mas que vem sendo estudados devido às propriedades químicas únicas. São usadas em processosde transferência de elétrons e dispositivos de computação quântica. 12 A técnica litográfica (top-down) pode ser combinada com técnicas bottom-up, permitindo uma complementação e sinergia entre elas. Técnicas híbridas (top-down+ bottom-up) Ex: Técnica “grown in place” para fabricação de nanofios de Si usando templates com nanocanais. (a) O catalisador (nanofios de Au) é depositado sobre o substrato de Si por litografia; (b) Deposição de uma camada de recobrimento; (c) Etching parcial do catalisador para formar nanocanais; (d) crescimento de SiNW por mecanismo VLS. 13 Dendrímeros O termo dendrímero deriva do grego “dendra”= árvore e “meros”= parte. São macromoléculas monodispersas, altamente ramificadas, sendo que todas as ligações emergem radialmente a partir de um ponto central. Este tipo de sistema possui superfícies e interfaces altamente controladas e apresenta vazios internos. O dendrímero consiste tipicamente de três unidades estruturais: o centro multifuncional (C), as ramificações (B) e os grupos superficiais (S). As ramificações são organizadas em camadas chamadas de “gerações”, que representam as unidades monoméricas destas macromoléculas. Exemplo de um dendrímero com 3 gerações. 14 Exemplos: Dendrímeros são reconhecidos como “blocos de construção” bastante versáteis, composicional e estruturalmente, em nanoescala controlada. Assim, os dendrímeros constituem um material de partida em nanoescala fundamental para o desenvolvimento de materiais altamente especializados. Sistemas dendríticos auto-montados podem ser preparados a partir de complexos metálicos ligantes ou por ligações de hidrogênio: 15 Os dendrímeros podem ser sintetizados a partir do centro para a periferia (síntese divergente) ou partindo-se da periferia para o centro (síntese convergente). A síntese convergente em geral permite maior controle estrutural, com maior facilidade de introdução de grupos funcionais. A presença de cavidades internas permite, por exemplo, o encapsulamento de moléculas hóspedes, à semelhança de uma micela, ou seja, atuando como uma micela unimolecular. Ao contrário das micelas clássicas, que são agregados de moléculas anfifílicas (moléculas que ao mesmo tempo tenham uma parte hidrofílica e outra hidrofóbica), as micelas unimoleculares retêm sua coesão independente da concentração. Dendrímeros com interior hidrofóbico e periferia hidrofílica permitem não apenas a inclusão molecular mas também são capazes de solubilizar moléculas hidrofóbicas. Por isso os dendrímeros têm sido muito investigados no campo biomédico para a liberação de drogas (drug-delivery), terapia genética e como agentes de liberação de contraste de imagem. 16 Dendrímeros também têm sido explorados como agentes captadores de luz, sensores químicos, agentes formadores de ligações cruzadas e catalisadores. Representação esquemática de um dendrímero usado como antena. A energia de excitação hν migra ao longo das ramificações até a parte central onde pode ser usada, por exemplo, para uma reação química. Os dendrímeros podem atuar como catalisadores altamente seletivos e que permitem uma transferência rápida e direcional de reagentes e produtos, sendo chamados de nanoreatores. 17 Ex: Utilização de um dendrímero com periferia apolar e centro polar como catalisador da eliminação de um haleto de alquila terciário num solvente alifático apolar. Como o haleto é polar ele fica concentrado na parte central do dendrímero. O meio polar na parte central do dendrímero favorece a formação de estados de transição e intermediários polares, com produção de certa quantidade de alceno. Devido a sua baixa polaridade o alceno é rapidamente expelido em direção à periferia, de volta ao solvente apolar. Pontos Quânticos ou Nanocristais São nanopartículas semicondutoras menores que 10 nm, compostas de elementos dos grupos II-VI ou III-V, que foram criadas no início dos anos 80. Sua principal característica é o fato de serem fluorescentes, emitindo luz de diferentes cores em função do tamanho das partículas. Micrografia de quantum dots em forma de pirâmide, de índio, gálio e arsênio. Cada ponto mede cerca 20 nm de largura e 8 nm de altura. 18 O material preferido para sua construção é o seleneto de cádmio (CdSe). Pontos quânticos de seleneto de cádmio absorvem fótons de luz ultravioleta e os re-emitem como fótons de luz visível. A cor do seu brilho varia dependendo do seu tamanho, passando do vermelho para o azul à medida em que se tornam menores. Os pontos quânticos são capazes de absorver luz de uma larga faixa de comprimentos de onda (desde o IV até o UV, passando pelo visível), emitindo luz praticamente monocromática (largura do pico de emissão ~ 25 nm, contra 40-70 nm dos corantes orgânicos). Os nanocristais conseguem atingir rendimentos quânticos de até 90%. 19 Essas nanopartículas semicondutoras atuam como um poço de potencial energético, possibilitando o confinamento de elétrons, com níveis de energia discretos; por isso são também chamados de átomos artificiais. Mas ao contrário dos átomos, o confinamento dos elétrons nos pontos quânticos não apresenta necessariamente simetria esférica. E os elétrons confinados não se movem no espaço livre mas na rede cristalina do semicondutor. Como os níveis de energia são discretos, a adição ou subtração de poucos átomos de um quantum dot irá afetar grandemente a energia do seu band gap. Ou seja, temos um material cujo band gap é ajustável! Os nanocristais são sintetizados por métodos de química coloidal, no qual os precursores do semicondutor são dissolvidos num solvente aquecido contendo surfactantes que atuam como agentes quelantes. Os precursores se dissociam no solvente e coalescem formando cristais. Os quelantes se ligam a superfície do nanocristal controlando o seu crescimento. Quando os nanocristais atingem o tamanho desejado, um rápido resfriamento interrompe a reação. Os precursores são geralmente organometálicos e o agente ligante é o óxido de trioctilfosfina (TOPO). Os pontos quânticos obtidos por síntese coloidal podem ser combinados com polímeros ou sol-gels para produção de filmes finos por spin ou dip casting. Técnicas de produção: 20 Os pontos quânticos são muito caros. Seu preço está ao redor de U$ 2.000,00 o grama, o que os torna um dos materiais mais caros do mundo, mais caros até do que os nanotubos de carbono. A principal razão desse custo astronômico é o solvente octadeceno responsável por cerca de 90% do preço final dos pontos quânticos. Os nanocristais podem ser recobertos por uma fina camada de um semicondutor com maior bandgap, com os seguintes objetivos: - prevenir sua degradação em solventes aquosos pois atua como uma barreira de oxidação - aumentar o rendimento quântico pois os átomos da camada ocupam as ligações erráticas da superfície do nanocristal, que podem levar a recombinações não-radioativas. 21 São muito utilizados na área biomédica como sinalizadores de regiões específicas do organismo e imageamento de processos biológicos. Ao contrário dos corantes usados atualmente, que tem tempo de atividade de alguns minutos, os pontos quânticos persistem por mais tempo no organismo, possibilitando monitorar as transformações que ocorrem na região afetada. Além disso, devido ao maior brilho (maior rendimento quântico), é possível detectar uma célula carregando um único nanocristal. Aplicações: O uso de nanocristais abre perspectivas interessantes no diagnóstico da metástase do câncer, visto que as células tendem a ingerir as partículas luminosas nas proximidades. Modificando as nanopartículas com anticorpos capazes de reconhecer uma célula cancerosa específica, é possível fazer o mapeamento destemal. Os pontos quânticos, no entanto, podem apresentar problemas de solubilização, sendo necessária a funcionalização da sua superfície, e podem sofrer foto-oxidação superficial, causando a sua aglomeração e toxicidade no caso de liberação de íons cádmio do CdSe. 22 Os pontos quânticos são também interessantes em aplicações de ótico-eletrônica, tais como lasers, LEDs e células solares, por serem emissores de banda estreita e absorvedores de banda larga, com altos rendimentos quânticos. OLEDS contendo pontos quânticos: aumento da eficiência de conversão da carga em luz e aumento da estabilidade em relação aos corantes orgânicos. 23 Células solares contendo pontos quânticos: aumento da eficiência de conversão da energia solar em energia elétrica.
Compartilhar