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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS Fenômenos de Transferência III Adolf Eugen Fick Prof.a Dr.a Cíntia Soares Florianópolis – SC Agosto – 2017 PREFÁCIO Este documento foi escrito originalmente como notas de aula para a disciplina de Fenômenos de Transferência III dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina. Sem pretender ser uma contribuição original, este documento é, na maior parte, uma tradução informal de alguns capítulos do livro “Fundamentals of momentum, heat and mass transfer”1, com um capítulo do livro “Fundamentos de transferência de massa”2. Este material foi elaborado pela Profª. Drª. Cíntia Soares com o auxílio dos estagiários docentes do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química Natan Padoin e Priscilla Bisognin Corrêa. Mestres e Alunos Alocução a meninos e meninas É tarefa essencial do professor despertar a alegria de trabalhar e de conhecer. Caros meninos (e meninas), como estou feliz por vê-los hoje diante de mim, juventude alegre de um país ensolarado e fecundo. Pensem que todas as maravilhas, objetos de seus estudos, são a obra de muitas gerações, uma obra coletiva que exige de todos um esforço entusiasta e um labor difícil e impreterível. Tudo isso, nas mãos de vocês, se torna uma herança. Vocês a recebem, respeitam-na, aumentam-na e, mais tarde, irão transmiti-la fielmente à sua descendência. Desse modo somos mortais imortais, porque criamos juntos obras que nos sobrevivem. Se refletirem seriamente sobre isso, encontrarão um sentido para a vida e para seu progresso. E o julgamento que fizerem sobre os outros homens e as outras épocas será mais verdadeiro. Fonte: EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. 18. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. 213p. 1 WELTY, James R.; WICKS, Charles E.; WILSON, Robert E. (Robert Elliot); RORRER, Gregory L. Fundamentals of momentum, heat and mass transfer. 5th ed., New York : John Wiley, 2008. xxii, 803p. 2 CREMASCO, Marco Aurélio. Fundamentos de transferência de massa. Ed. da Unicamp, 1998. 741p. Sumário 1. Lei da Difusividade de Fick ............................................................................... 1 1.1 Concentrações ............................................................................................. 1 1.2 Velocidades ................................................................................................. 4 1.3 Fluxos ........................................................................................................... 5 1.4 O Coeficiente de Difusão .......................................................................... 10 1.5 Difusividade no Poro ................................................................................. 11 1.5.1 Difusão de Knudsen............................................................................ 12 1.5.2 Difusão de Solutos em Poros Preenchidos com Solvente ................ 15 2. Equação Diferencial da Transferência de Massa .......................................... 17 2.1 Equação da Conservação da Espécie Química ....................................... 17 2.2 Equação da Massa Total (Equação da Continuidade) ............................. 20 2.3 Formas Especiais das Equações Diferenciais de Transporte de Massa 22 2.4 Condições de Contorno e Concentrações Descontínuas na Interface .... 27 2.4.1 Evaporação e Sublimação .................................................................. 28 2.4.2 Solubilidade de Gases em Líquidos e Sólidos .................................. 29 2.4.3 Reação Química na Superfície Especificada..................................... 30 2.4.4 O Fluxo da Espécie é Nulo na Superfície ou em uma Linha de Simetria ........................................................................................................ 31 2.4.5 Fluxo de Transferência de Massa por Convecção Especificado na Fronteira ....................................................................................................... 31 3. Difusão Molecular no Estado Estacionário ..................................................... 32 3.1 Transferência de Massa Unidimensional Independente de Reação Química ............................................................................................................ 32 3.1.1 Difusão Unimolecular .......................................................................... 33 3.1.2 Difusão no Estado Pseudo-Estacionário ........................................... 42 3.1.3 Contradifusão equimolar..................................................................... 44 3.2 Sistema Unidimensional Associado com Reação Química ..................... 48 3.2.1 Difusão com Reação Química Homogênea de Primeira Ordem ...... 49 4. Transferência de Massa Transiente ............................................................... 54 4.1 Difusão em Regime Transiente com Resistência Externa Desprezível .. 55 4.1.1 Placa plana infinita .............................................................................. 55 4.1.2 Esfera .................................................................................................. 62 4.1.3 Cilindro infinito..................................................................................... 65 4.1.4 Método Gráfico.................................................................................... 66 4.2 Difusão em Regime Transiente em um meio Semi-Infinito ...................... 66 4.3 Difusão em Regime Transiente com Resistência Externa ....................... 70 4.3.1 Placa Plana Infinita ............................................................................. 71 4.3.2 Esfera .................................................................................................. 75 4.3.3 Cilindro infinito..................................................................................... 76 4.4 Método Gráfico para Difusão em Regime Transiente com Resistência Externa ............................................................................................................. 77 Referências Bibliográficas ................................................................................... 79 Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 1 1. Lei da Difusividade de Fick As leis da transferência de massa (TM) mostram uma relação entre: 1) fluxo difusivo de uma substância; 2) gradiente de concentração. Uma vez que a transferência de massa ou difusão ocorre somente em misturas, deve-se avaliar os efeitos de cada componente presente nesta mistura. Exemplo típico: conhecer a taxa de difusão de um componente específico relativa à velocidade da mistura (média das velocidades) na qual está se movendo. 1.1 Concentrações Em uma mistura multicomponente, a concentração de uma espécie molecular pode ser expressa de várias formas. A Figura 1 mostra um elemento de volume dV que contém uma mistura de componentes, incluindo a espécie A. Figura 1: Elemento de volume com mistura de espécies. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 2 Como cada molécula de cada espécie tem uma massa, uma concentraçãomássica para cada espécie, bem como para a mistura, pode ser definida. Para a espécie A, a concentração mássica, ρA, é definida como a massa de A por unidade de volume da mistura. A concentração mássica total ou massa específica, ρ, é a massa total da mistura contida em uma unidade de volume, isto é: (1) onde n é o número de espécies da mistura. A fração mássica, wa, é a concentração da espécie A dividida pela massa específica total: n i i ii Aw 1 (2) A soma da fração mássica, por definição, deve ser igual a 1. (3) A concentração molar da espécie A, cA, é definida como o número de mols da espécie A presente por unidade de volume da mistura. Por definição, 1 mol de qualquer espécie contém uma massa equivalente a sua massa molar (ver Tabela Periódica). A concentração mássica e a concentração molar estão relacionadas a partir das seguintes expressões: n i i 1 n i iw 1 1 Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 3 MM m n V n c AA VMM m c A A A A A A MM c (4) onde MMA é a massa molar da espécie A. Ao se tratar com a fase gasosa, as concentrações são frequentemente expressas em termos de pressões parciais. Em condições nas quais a lei dos gases ideais (pA∙V = nA∙R∙T) se aplica, a concentração molar é dada por: V n c AA RTnVp AA RT V n p AA RTcp AA , ou RT p c AA (5) A concentração molar total, C, é o número total de mols da mistura contida na unidade de volume, isto é: n i icC 1 (6) ou, para uma mistura gasosa que obedece a lei dos gases ideais: RT P V n C TOTAL onde P é a pressão total. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 4 A fração molar para a mistura líquida ou sólida, xA, e para a mistura gasosa, yA, são as respectivas concentrações molares da espécie A dividida pela concentração molar total: C c x A (líquidos e sólidos) (7) C c CRT RTc P p y AAAA (para gases) (8) A Equação (8) é uma representação da lei de Dalton para misturas gasosas. A soma das frações molares, por definição, deve ser igual a 1: n i ix 1 1 , n i iy 1 1 (9) 1.2 Velocidades Em um sistema multicomponente, as várias espécies presentes normalmente se movimentarão em velocidades diferentes; por consequência, a avaliação de uma velocidade para mistura gasosa requer o conhecimento da média das velocidades de cada espécie presente. A velocidade mássica média para uma mistura multicomponente é definida em termos das densidades mássicas e das velocidades de todos os componentes: n i ii n i i n i ii vv v 1 1 1 (10) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 5 onde vi denota a velocidade absoluta da espécie i com relação a um eixo de coordenadas estacionário. Esta é a velocidade que seria medida por um tubo de Pitot e é a velocidade encontrada nas equações de transferência de quantidade de movimento. A velocidade molar média para uma mistura multicomponente é definida em termos das concentrações molares médias de todos os componentes por: C vc c vc V n i ii n i i n i ii 1 1 1 (11) A velocidade de uma espécie particular relativa à velocidade mássica média ou velocidade molar média é denominada velocidade de difusão. Neste caso nós podemos definir duas velocidades diferentes de difusão: vi-v: velocidade de difusão da espécie i relativa à velocidade mássica média. vi-V: velocidade de difusão da espécie i relativa à velocidade molar média. 1.3 Fluxos Fluxo mássico (ou molar) de uma dada espécie é uma quantidade vetorial que denota a quantidade da espécie particular, em unidade mássica ou molar, que passa por um dado intervalo de tempo através de uma unidade de área. O fluxo pode ser definido com relação a coordenadas que são fixas no espaço, coordenadas que estão se movendo com a velocidade mássica média ou coordenadas que estão se movendo com a velocidade molar média. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 6 A relação básica para a difusão molecular define o fluxo molar relativo a velocidade molar média, JA3. Uma relação empírica para este fluxo molar, primeiramente postulada por Fick e referida como a 1ª Lei de Fick, define a difusão de um componente A em um sistema isotérmico e isobárico (concentração constante) como: AABA cDJ Para difusão ocorrendo somente na direção z, a equação torna-se: dz dc DJ AABzA , , (12) onde Ja,z é o fluxo molar na direção z relativo à velocidade molar média, dCa/dz é o gradiente de concentração na direção z e DAB, o fator de proporcionalidade, é a difusividade mássica ou coeficiente de difusão para o componente A difundindo-se através do componente B. Uma relação mais geral que não é restrita para sistemas isotérmicos e isobáricos foi proposta por Groot que escreveu: fluxo = (densidade global ou concentração)∙(coeficiente de difusão)∙(gradiente de concentração) ou, dz dy cDJ AABzA , (13) Como a concentração total c é constante em condições isotérmicas e isobáricas, a Equação (12) é uma forma especial da relação mais geral (Equação 13). 3 Caracteres em negrito no texto irão denotar vetores. Em equações, os vetores também serão denotados por uma flecha acima do caractere. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 7 Uma expressão equivalente para jA,z, o fluxo mássico na direção z relativo à velocidade mássica média, é: dz dw Dρj AABzA , , (14) onde dwA/dz é o gradiente de concentração em termos de fração mássica. Quando a massa específica for constante, essa relação se simplifica para: dz ρd Dj AABzA , . Investigações experimentais iniciais da difusão molecular foram incapazes de verificar a Lei de Fick da difusão. Isto aparentemente foi devido ao fato de que a massa é transferida frequentemente por dois meios possíveis: 1) como resultado da diferença de concentração, conforme postulado por Fick; e, 2) pela convecção induzida pela diferença de densidade que resultou da variação da concentração. Steffan (1872) e Maxwell (1877), usando a teoria cinética dos gases, provaram que o fluxo mássico relativo à coordenada fixa é o resultado de duas contribuições: a contribuição devido ao gradiente de concentração e a contribuição devido movimento do bulk. Para um sistema binário com uma velocidade média constante na direção z, o fluxo molar na direção z relativo à velocidade média molar pode ser expresso por: zzAAzA VvcJ ,, (15) Fenômenos de TransferênciaIII Profa. Dra. Cíntia Soares 8 Igualando as expressões (13) e (15): dz dy cDVvcJ aABZzAAzA ,, , e rearranjando tem-se: zA A ABzAA Vc dz dy cDvc , . Para um sistema binário, Vz pode ser avaliado pela Equação (11): zBAzAAz vcvc c V ,, 1 multiplicando por CA: zbBzAAAzA vcvcyVc ,, . Substituindo esta expressão, obtém-se: zBBzAAAAABzAA vcvcy dz dy cDvc ,,, (16) Como os componentes de velocidade vA,z e vB,z são relativos ao eixo de coordenadas fixo, as quantidades cAvA,z e cBvB,z são os fluxos dos componentes A e B relativos ao eixo de coordenada fixo. Este tipo de fluxo é simbolizado por: AAA vcN , e BBB vcN . Substituindo na Equação (16), obtém-se: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 9 zBzAAAABzA NNy dz dy cDN ,,, (17) Esta relação pode ser generalizada e escrita na forma vetorial como: BAAAABA NNyycDN . (18) Portanto, o fluxo molar, NA, é resultante de duas contribuições vetoriais: AAB ycD : o fluxo molar, JA, resultante do gradiente de concentração. Este termo é referido como contribuição devido ao gradiente de concentração. BAA NNy : o fluxo molar resultante do movimento do bulk. Este termo é designado de contribuição devido ao movimento do bulk. Se a espécie A está se difundindo em uma mistura/solução4 multicomponente, a expressão equivalente assume a seguinte forma: n i iAAAMA NyycDN 1 , onde DAM é o coeficiente de difusão de A na mistura. O fluxo mássico, nA, é definido para um sistema binário em termos de concentração mássica (ρ) e fração mássica: ,BAAAABA nnwwDρn (19) onde: nA = ρAvA e nB = ρBvB. Em condições isotérmicas e isobáricas, esta relação se simplifica para: 4 Mistura gasosa/solução líquida. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 10 BAAAABA nnwDn . De forma análoga ao fluxo molar, o fluxo mássico é resultante de duas contribuições vetoriais: AABD : contribuição resultante do gradiente de concentração (jA) BAA nnw : contribuição devido ao movimento do bulk oriundo do gradiente de concentração (densidade). 1.4 O Coeficiente de Difusão Esta proporcionalidade que aparece na lei de Fick, DAB, é conhecida como coeficiente de difusão. Sua dimensão fundamental, que pode ser obtida a partir da lei de Fick, é: dz dC DJ AABzA , t L LLMtL M dzdC J D A zA AB 2 32 , 1 1 e é idêntica às dimensões fundamentais de outras propriedades de transporte: → viscosidade cinemática: → difusividade térmica: (k/ρ∙Cp) cm²/s; no SI m²/s e ft²/h no sistema inglês. O coeficiente de difusão depende da pressão, da temperatura e da composição do sistema. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 11 Como é de se esperar, devido a mobilidade das moléculas, os coeficientes de difusão são geralmente maiores para gases (5∙10-6 a 1∙10-5 m²/s) do que para líquidos (10-10 a 10-9 m²/s), que por sua vez são maiores que os valores reportados para sólidos (10-14 a 10-10 m²/s). Na ausência de dados experimentais, expressões semi-teóricas foram desenvolvidas, as quais fornecem aproximações, às vezes com valores tão válidos quanto os valores experimentais devido às dificuldades encontradas na sua medida. 1.5 Difusividade no Poro Há muitos exemplos onde a difusão molecular ocorre dentro de poros de sólidos porosos. Por exemplo: muitos catalisadores são pellets de sólidos porosos e que contém sítios cataliticamente ativos nas paredes do poro. O catalisador/adsorvente possui uma alta área superficial interna para promover as reações químicas/adsorção na superfície. No fenômeno de adsorção, o soluto adere a uma parte da superfície sólida que é atrativa para o soluto. Muitos materiais adsorventes são porosos, de modo a fornecer uma alta área superficial interna para a adsorção do soluto. Em ambos os exemplos, as moléculas devem se difundir através de uma fase líquida ou gasosa que reside dentro dos poros. À medida que o diâmetro do poro se aproxima do diâmetro da molécula que está se difundindo, a molécula pode interagir com a parede do poro. A partir de agora nós iremos descrever dois tipos de difusão no poro: a difusão de Knudsen de gases em poros cilíndricos e a difusão "prejudicada" de solutos em poros cilíndricos preenchidos com solvente. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 12 1.5.1 Difusão de Knudsen Considere a difusão de moléculas de gás através de poros capilares muito pequenos. Se o diâmetro do poro é menor que o livre caminho médio das moléculas de gás que estão se difundindo e a densidade do gás é baixa, as moléculas irão colidir com a parede do poro mais frequentemente do que com outra molécula. Este processo é conhecido como escoamento de Knudsen ou difusão de Knudsen. O fluxo de gás é reduzido pelas colisões com a parede. O número de Knudsen, Kn, dado por: porod λ Kn onde é o comprimento do livre caminho médio da espécie se difundindo e dporo é diâmetro do poro. O número de Knudsen é uma boa medida da importância relativa da difusão de Knudsen. Se o número de Knudsen é muito maior que 1, a difusão de Knudsen passa a ser importante. Para um dado diâmetro de poro, o número de Knudsen aumenta à medida que a pressão do sistema, P, diminui e a temperatura, T, aumenta. Na prática, a difusão de Knudsen se aplica somente a gases porque o livre caminho médio para moléculas no estado líquido é muito pequeno, próximo ao diâmetro da molécula. Consequentemente, Kn para líquidos é pequeno. A difusividade para a difusão de Knudsen é obtida a partir do coeficiente de alta difusão, derivada da teoria cinética dos gases: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 13 A AA Mπ NTκλuλ D 8 33 * Para a difusão de Knudsen, substituímos o comprimento pelo diâmetro do poro, uma vez que a espécie A colide mais frequentemente com a parede do poro do que com outra molécula. Neste caso, a difusividade de Knudsen para a espécie A que está se difundindo, DKA, é: A poroporo KA Mπ NTκd u d D 8 33 , (20) A poroKA M T dD 4850 . (21) Obs.: esta equação simplificada requer que dporo tenha a unidade de cm, MA tenha unidade de g/mol e que a temperatura seja expressa em K. A difusividade de Knudsen é dependente do diâmetro do poro, da massa molar da espécie A e da temperatura. Podemos comparar DKA com o coeficiente de difusão binária na fase gás, DAB. Primeiro, ela não é função dapressão ou da presença da espécie B na mistura binária. Segundo, a dependência da temperatura na equação de Knudsen é DKA T1/2 vs. DAB T3/2. Geralmente a equação de Knudsen é significante somente a baixas pressões e pequenos diâmetros de poro. Entretanto, há situações onde a difusão de Knudsen e a difusão molecular podem ser importantes. A poro KA Mπ T mol moléc Ks cmg d D 23 2 6 10023,61038,18 3 Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 14 Se nós considerarmos que a difusão de Knudsen e a difusão molecular competem uma com a outra, então uma abordagem similar à resistência em série pode ser realizada. Ou seja: KAAB A Ae DD yα D 111 , (22) com B A N N α 1 Para casos onde = 0 (NA = -NB) ou quando yA é próximo de zero (sistema diluído), a Equação (22) reduz-se a: KAABAe DDD 111 . (23) A relação acima para o coeficiente de difusão efetivo está baseada na difusão dentro de poros retos e cilíndricos alinhados em um arranjo paralelo. Entretanto, em muitos materiais porosos, os poros de vários diâmetros são retorcidos e interconectados com outros poros, fazendo com que o caminho da difusão para a molécula do gás dentro do poro seja tortuoso. Para esses materiais, se um diâmetro médio do poro for assumido, uma aproximação razoável para o coeficiente de difusão efetivo em poros randômicos é: AeAB DD 2' , (24) onde é a razão entre o volume ocupado pelos poros dentro do sólido poroso e o volume total do sólido poroso (sólido + poro). é uma fração volumétrica e geralmente é determinada experimentalmente. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 15 1.5.2 Difusão de Solutos em Poros Preenchidos com Solvente Considere a difusão de uma molécula de soluto através de um capilar minúsculo preenchido com um solvente líquido. À medida que o diâmetro molecular do soluto se aproxima do diâmetro do poro, o transporte difusivo do soluto através do solvente é dificultado pela presença do poro e da parede do poro. Modelos gerais para o coeficiente de difusão que descrevem a "difusão dificultada" do soluto no poro preenchido com solvente assumem a forma: 2100 FFDD ABAe (25) O coeficiente de difusão molecular do soluto A no solvente B à diluição infinita, DºAB, é reduzido por dois fatores de correção, F1() e F2(), que variam de 0 a 1. Ambos são função do diâmetro do poro reduzido, , razão entre o diâmetro molecular do soluto e o diâmetro do poro: porod ds (26) Se > 1, então o soluto é muito grande para entrar no poro. Esse fenômeno é conhecido como exclusão do soluto e é usado para separar grandes biomoléculas, tais como proteínas, de misturas aquosas diluídas contendo solutos de diâmetro muito menor. O fator de correção F1() (coeficiente de partição estérico) está baseado em argumentos puramente geométricos para exclusão estérica, isto é: F1() = área disponível para o fluxo do soluto/área total Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 16 2 2 2 1 1 poro sporo d dd F (27) onde 0 ≤ F1 ≤ 1. O fator de correção F2() (fator de impedimento hidrodinâmico) está baseado nos cálculos hidrodinâmicos envolvendo o movimento browniano de um soluto dentro de um poro preenchido com solvente. As equações para F2() assumem a difusão de uma esfera rígida de soluto em um poro cilíndrico estreito. A equação mais comum, desenvolvida por Renkin, é razoável para 0 ≤ ≤ 0,6: 532 95,009,2104,21 F (28) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 17 2. Equação Diferencial da Transferência de Massa 2.1 Equação da Conservação da Espécie Química Figura 1: Volume de controle diferencial. TAXA DE MASSA DA ESPÉCIE QUÍMICA A QUE ENTRA NO VC - TAXA DE MASSA DA ESPÉCIE QUÍMICA A QUE SAI DO VC + TAXA DE MASSA DA ESPÉCIE QUÍMICA A QUE É TRANSFORMADA NO VC = TAXA DE MASSA DA ESPÉCIE QUÍMICA A QUE SE ACUMULA NO VC * VC = volume de controle Sabe-se que: An fluxo mássico total da espécie química A => (massa A/ L²∙t) = AAv taxa de massa da espécie química A = An ∙ área (massa/t) Taxa da espécie A que entra no volume de controle: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 18 yxnzxnzyn z AyAyx A zx ΔΔΔΔΔΔ Taxa da espécie A que sai do volume de controle: yxnzxnzyn zz AyyAyxx A zx ΔΔΔΔΔΔ ΔΔΔ Taxa da espécie A que é transformada: zyxr A ΔΔΔ''' r'''A = massa da espécie química A que é gerada no VC por unidade de volume e de tempo. [r'''A]=M/L³∙t Taxa de massa de A que se acumula no VC: zyx t ΔΔΔ tem-se então: zyx t zyxryxn yxnzxnzxnzynzyn AA zz A z A yy AyyAyxx A x A z zxx ΔΔΔΔΔΔ'''ΔΔ ΔΔΔΔΔΔΔΔΔΔ Δ ΔΔ (1) Dividindo todos os termos por ΔxΔyΔz (Δv) e rearranjando tem-se: AA zz A z A yy AyyAy xx A x A t r z yxnyxn y zxnzxn x zynzyn zz xx ''' Δ ΔΔΔΔ Δ ΔΔΔΔ Δ ΔΔΔΔ Δ ΔΔ (2) Tomando o limite quando Δx → 0, Δy → 0 e Δz → 0, tem-se: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 19 AA zz A z A z yy AyyAy y xx A x A x t r z yxnyxn y zxnzxn x zynzyn zz xx ''' Δ ΔΔΔΔ lim Δ ΔΔΔΔ lim Δ ΔΔΔΔ lim Δ 0Δ Δ 0Δ Δ 0Δ (3) Evocando o conceito de derivada tem-se: AA AzAyAx t r z n y n x n ''' (4) Aplicando o conceito de divergente, tem-se: zyx zyx ou AzAyAxA n z n y n x n Logo: AA A rn t ''' (5) A Equação (5) é chamada EQUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE QUÍMICA A (EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE DO COMPONENTE A). Em uma mistura binária: A + B, a equação da conservação da espécie química B pode ser escrita como: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 20 BB B rn t ''' (6) Logo, para a mistura: BABA BA rrnn tt '''''' (7) BABABA rrnn t '''''' (8) BA rrvt '''''' (9) Se considerarmos a seguinte reação: A -> B, então r'''A = r'''B e tem-se: 0 v t (10) 2.2 Equação da Massa Total (Equação da Continuidade) Voltando à Equação da Conservação da espécie A: AA A rn t ''' (5) vDn AAAmA AAAAmA rvD t ''' (11) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 21 AAAAmA rvD t ''' (12) AAAmAA rDv t ''' (13) Os termos da equação acima representam, respectivamente, o acúmulo, a contribuição convectiva, a contribuição difusiva e o termo de geração ou consumo. Em um mistura binária A + B, a equação de conservação das espécies químicas A e B podem ser escritas como: AA A RN t C ''' BB B RN t C ''' Logo, para a mistura: BABA BA RRNN t C t C '''''' ou BABABA RRNN t CC '''''' Nesse caso R'''A ≠ R'''B, portanto: 0 N t C , pois o número de mols não se conserva. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 22 2.3 Formas Especiais das Equações Diferenciais de Transporte de Massa Para usar as equações de transporte de massa desenvolvidas para a avaliação dos perfis de concentração é conveniente substituir os fluxos nA (total mássico) e NA (total molar) por expressões adequadas. Expressões para o fluxo molar total: (*) BAAAABA NNyycDN (**) VCycDN AAABA (*) e (**) são formas equivalentes Expressões para o fluxo mássico total: (***) BAAAABA nnwwDn (****) vwDn AAABA Relembrando a equação de conservação para a espécie A em termos mássicos: 0 A A A r t n temos, após substituição de (****): (14) 0 A A AAAB r t vwD Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 23 Da mesma forma, relembramos a equação de conservação da espécie A em termos molares: 0 A A A R t C N Temos, após substituição de (**): 0 A A AAAB R t C VCyCD (15) As Equações (14) e (15) são completamente gerais e podem ser usadas para descrever perfis de concentração. No entanto, são equações 'pesadas' e podem ser simplificadas: 1) se a massa específica, ρ, e o coeficiente de difusão, DAB, podem ser assumidos como constantes, tem-se: 0 A A AAAB r t vwD 02 A A AAAB r t vD sendo que o segundo termo da equação acima pode ser fatorado: 02 A A AAAAB r t vvD Da equação da continuidade da mistura: 0 v t , sendo que para ρ constante 0 v , logo 0 v Logo, voltando à Equação da Conservação da espécie A, temos: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 24 02 A A AAAAB r t vvD mas como 0 v : 02 A A AAAB r t vD (16) Tal equação pode ser dividida, termo a termo, pela massa molar de A e que, após rearranjada, torna-se: AAAB A A RCD t C Cv 2 (17) 2) se o termo de geração/consumo, RA, é igual a zero e se a concentração e o coeficiente de difusão podem ser assumidos constantes, a Equação (17) assume a forma: AABA A CDCv t C 2 (18) 3) em uma situação na qual não há movimento do fluido, v = 0, não há geração/consumo da espécie A, RA = 0, e não há variação da concentração e da difusividade, a Equação (18) pode ser reduzida a: AAB A CD t C 2 , (19) tal equação é geralmente designada como "Segunda Lei de Fick" da difusão. 02 A A AAAB R t C CvCD Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 25 A hipótese de que não há movimento do fluido restringe sua aplicabilidade à difusão em sólidos ou líquidos estacionários, ou sistemas binários de gases ou líquidos, onde NA tem a mesma magnitude, mas direção oposta a NB, ou seja, quando há contradifusão equimolar. Além disso, tal equação é análoga à segunda Lei de Fourier para condução de calor: T t T 2 4) se o processo ocorre no estado estacionário, se a concentração e o coeficiente de difusão são constantes, temos: AAABA RCDCv 2 (20) Se a concentração e o coeficiente de difusão são constantes e não há geração/consumo, RA=0, temos: AABA CDCv 2 (21) e, finalmente, se v = 0: 02 AAB CD . Dividindo por DAB, tem-se: 02 AC Equação de Laplace em termos de concentração molar (22) Deve-se considerar, ainda, que todas as equações obtidas estão escritas na forma vetorial e, portanto, são aplicáveis a qualquer sistema de coordenadas ortogonais. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 26 A transformação da equação para o sistema de coordenadas desejado pode ser obtida pela definição do operador laplaciano na forma apropriada. Nesse sentido, a segunda lei de Fick pode ser escrita: Em coordenadas retangulares: AAB A CD t C 2 2 2 2 2 2 2 z C y C x C D t C AAA AB A (23) Em coordenadas cilíndricas: 2 2 2 2 22 2 11 z CC rr C rr C D t C AAAA AB A (24) Em coordenadas esféricas: 2 2 222 2 2 111 AAAABA CsenrCsensenrrCrrrDtC (25) Da mesma forma, a equação genérica para o transporte da espécie A pode ser escrita: Em coordenadas retangulares: A AzAyAxA R z N y N x N t C (26) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 27 Em coordenadas cilíndricas: AAz A Ar A R z NN r rN rrt C 11 (27) Em coordenadas esféricas: AAAArA R N rsen senN rsen Nr rrt C 111 22 (28) 2.4 Condições de Contorno e Concentrações Descontínuas na Interface Para a superfície em x = 0, a condição de contorno da concentração constante da espécie é expressa por: sAA xtx ,,0 (29) Entretanto, a determinação de xA,s pode ser mais complicada. Considere uma poça de água que está exposta ao ar. Se nós estamos interessados em determinar a taxa com que o vapor d'água é transferido para o ar, precisaremos especificar a concentração do vapor d'água no ar na interface ar-água. Sabemos que a fração molar da água na poça é essencialmente um (negligenciando a pequena quantidade de oxigênio ou nitrogênio dissolvida na água). Porém, seria incorreto especificar xA,s = 1 para a fração molar do vapor d'água no ar na interface. A CONCENTRAÇÃO DA ÁGUA É DESCONTÍNUA ATRAVÉS DA INTERFACE. Em geral, a condição de contorno na forma de concentração na interface que separa dois materiais é descrita por uma relação entre as concentrações em ambos os lados da interface. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 28 Estas relações estão baseadas em teorias ou são deduzidas a partir de experimentos. Estas podem ser expressas em uma variedade de formas, as quais serão vistas a seguir. 2.4.1 Evaporação e Sublimação Um cenário de transferência de massa comum é a transferência de uma espécie A em uma corrente gasosa devido à EVAPORAÇÃO ou SUBLIMAÇÃO a partir de uma superfície líquida (Figura 2). Figura 2: Evaporação ou sublimação. Condições dentro da fase gasosa são de interesse e a concentração (ou pressão parcial) da espécie A na interface da fase gás (localizada em x = 0) pode ser determinada pela LEI DE RAOULT: satAAA pxp ,00 , (30) onde pA é a pressão parcial de A na fase gás, xA é a fração molar da espécie A no líquido ou no sólido e pA,sat é a pressão de saturação da espécie A na temperatura da superfície. A lei de Raoult se aplica se a fase gasosa pode ser aproximada de um gás ideal ou se a fase sólida tem uma alta concentração da espécie A. Se a espécie A é pura no líquido ou no sólidos (xA(0) = 1), então: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 29 A ,p 0 A satp (31) 2.4.2 Solubilidade de Gases em Líquidos e Sólidos Outro problema comum de transferência de massa é simular a evaporação ou sublimação, exceto que a transferência de massa para dentro do líquido e do sólido é de interesse. Considere a transferência da espécie A a partir de uma corrente gasosa para dentro de um líquido ou sólido (Figura 3). Figura 3: Espécie gasosa A se transfere para sólido ou líquido. Se a espécie A é fracamente solúvel (xA é pequena) em um líquido, a lei de Henry pode ser usada para relacionar a fração molar de A na fase líquida com a pressão parcial de A na fase gás: H p x AA 0 0 , (32) onde H é conhecido como CONSTANTE DE HENRY. Obs.: Embora H dependa da temperatura, sua dependência com a pressão pode ser negligenciada para valores de até 5 bars. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 30 Condições na interface gás-sólido podem ser determinadas se o gás, espécie A, dissolve-se em um sólido, espécie B, e uma solução é formada. Tratando-se o gás e o sólido como uma solução, podemos obter a concentração do gás no sólido na interface através do uso de uma propriedade conhecida como solubilidade. Ela é definida pela seguinte expressão: 00 AA pSc , (33) onde pA é a pressão parcial do gás na interface, cA é a concentração molar de A na interface do sólido e S é a solubilidade (kmol/m³∙bar). 2.4.3 Reação Química na Superfície Especificada Há três situações comuns: a) o fluxo de uma espécie pode ser relacionado ao fluxo das demais espécies pela estequiometria da reação química. Por exemplo: se considerarmos a reação química genérica na superfície A + 2B → 3C, onde os reagentes A e B difundem para a superfície e o produto C difunde a partir da superfície, sabe-se que os fluxos de A e B se movimentam em direção oposta ao fluxo de C. Consequentemente, o fluxo NA está relacionado ao fluxo das demais espécies. AB NN 2 AC NN 3 b) uma taxa de reação pode ser especificada na superfície, a qual se torna o fluxo na superfície. Por exemplo: se o componente A é consumido por uma reação de primeira ordem na superfície em z=0: A B C Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 31 AsszA CkN 0 , onde ks é a constante de reação na superfície com unidades de m/s. c) a reação pode ser tão rápida que CAs = 0 se a espécie A é o reagente limitante para a reação química. 2.4.4 O Fluxo da Espécie é Nulo na Superfície ou em uma Linha de Simetria Esta situação ocorre em fronteiras impermeáveis ou em linhas de simetria para o volume de controle, onde o fluxo líquido é igual à zero. Em ambos os casos, para um fluxo unidimensional ao longo de z, tem-se: 0 0, oz A ABzzA dz dC DN 0 oz A dz dC 2.4.5 Fluxo de Transferência de Massa por Convecção Especificado na Fronteira Quando um fluido escoa sobre a fronteira, o fluxo pode ser definido por convecção. Por exemplo: em algumas superfícies localizadas em z = 0, o fluxo convectivo de transferência de massa através da camada limite do fluido é: AAscozA CCkN , onde CA é a concentração de A no "bulk" do fluido escoando, CAs é a concentração de A na superfície em z = 0 e kc é o coeficiente de transferência de massa por convecção. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 32 3. Difusão Molecular no Estado Estacionário Direcionaremos nossa atenção na descrição da transferência de massa no estado estacionário a partir de um ponto de vista diferencial. Para realizar isto, a equação diferencial e as condições de contorno que descrevem a situação física devem ser estabelecidas. Durante nossa discussão da difusão no estado estacionário, duas abordagens serão usadas para simplificar as equações diferenciais de transferência de massa. Primeiro, a equação de Fick e a equação geral da transferência de massa podem ser simplificadas eliminando-se os termos que não se aplicam à situação física. Segundo, um balanço material pode ser realizado em um elemento diferencial de volume. Usando ambas as abordagens, obteremos: 0 A A A R t C N (1) Inicialmente trataremos do caso mais simples: a difusão no estado estacionário ocorrendo em uma única direção e sem reação química. Obteremos, então, soluções para as operações de transferência de massa mais complexas. 3.1 Transferência de Massa Unidimensional Independente de Reação Química Nesta seção, a transferência de massa molecular no estado estacionário através de sistemas simples, na qual a concentração e o fluxo mássico são funçõesde uma única coordenada espacial, será considerada. Embora todos os 4 fluxos (NA, nA, JA e jA) possam ser usados para descrever operações de transferência de massa, somente o fluxo molar relativo a uma série de eixos fixos no espaço, NA, será usado na discussão a seguir. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 33 Em um sistema binário, o componente z deste fluxo é expresso por: zBzAAAABzA NNy dz dy cDN ,,, (2) 3.1.1 Difusão Unimolecular O coeficiente de difusão ou difusividade mássica para um gás pode ser medido experimentalmente em uma célula de difusão de Arnold. A célula é ilustrada esquematicamente na Figura 1: Figura 1: Célula de Arnold. O tubo estreito, que é parcialmente preenchido com um líquido puro A, é mantido a pressão e temperatura constantes. O gás B, que flui através da extremidade aberta do tubo, possui uma solubilidade insignificante no líquido A e também é quimicamente inerte em relação a A. O componente A vaporiza e se difunde na fase gás; a taxa de vaporização pode ser fisicamente medida e pode também ser matematicamente expressa em termos do fluxo molar. Relembre que a equação diferencial geral para a transferência de massa é dada por: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 34 0 A A A R t C N (1) Em coordenadas retangulares esta equação torna-se: 0 A AAzAyAx R t C z N y N x N (3) Assuma que: • o processo de transferência de massa encontra-se no estado estacionário; • não há produção de A por reação química no caminho da difusão; • a difusão ocorre apenas na direção z, de modo que estamos apenas interessados na componente 3 do vetor de fluxo de massa. Para esta situação física, a Equação (1) reduz-se a: 0 dz dNAz (4) Nós podemos gerar esta equação diferencial governante considerando que a transferência de massa está ocorrendo no volume de controle diferencial SΔz, onde S é a área da seção transversal uniforme do volume de controle e Δz é a profundidade do volume de controle. Um balanço de massa ao longo deste volume para uma operação no estado estacionário, livre de qualquer produção de A por reação química, fornece: 0 Δ zAzzzAz SNSN Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 35 Dividindo pelo volume de controle, SΔz, e tomando o limite à medida que Δz aproxima-se de zero, obtemos novamente a Equação (4). Uma equação diferencial similar pode também ser gerada para o componente B: 0 dz dNBz (5) e, consequentemente, o fluxo molar de B também é constante ao longo de todo o caminho de difusão de z1 a z2. Considerando apenas o plano em z1 e a restrição de que o gás B é insolúvel no líquido A, percebemos que NB,z, o fluxo líquido de B, é zero através do caminho da difusão; consequentemente, o componente B é um gás estagnado. O fluxo molar constante de A foi descrito pela equação: BzAzAAABAz NNy dz dy cDN (6) Esta equação reduz-se a: dz dy y cD N A A AB Az 1 (7) quando NBz = 0. Esta equação pode ser integrada entre as 2 condições de contorno: em z = z1, yA = yA1 e, Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 36 em z = z2, yA = yA2 Assumindo que o coeficiente de difusão é independente da concentração e percebendo a partir da Equação (4) que NAz é constante ao longo do caminho de difusão, obtemos, por integração: 2 1 2 1 !1 z z A AB z z Az y dy cDdzN (8) Resolvendo para NAz, obtemos: 1 2 12 1 1 ln A AAB Az y y zz cD N (9) A concentração média logarítmica do componente B é definida como: 12 12 . ln BB BB lmB yy yy y No caso de uma mistura binária, esta equação pode ser expressa em termos do componente A, como segue: 12 21 12 12 . 11ln11ln 11 AA AA AA AA lmB yy yy yy yy y (10) Inserindo a Equação (10) na Equação (9), obtemos: lmB AAAB Az y yy zz cD N . 21 12 (11) A Equação (11) também pode ser escrita em termos de pressão. Para um gás ideal: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 37 RT p v n c e P p y AA lmB AAAB zA P pp zzRT PD N , 21 12 (12) As Equações (11) e (12) são comumente referidas como equações no estado estacionário de um gás se difundindo através de um segundo gás estagnado. Muitas operações de transferência de massa envolvem a difusão de um componente gasoso através de outro componente que não se difunde; absorção e umidificação são operações definidas por estas duas equações. A Equação (12) também tem sido utilizada para descrever os coeficientes convectivos de transferência de massa pelo conceito do filme ou teoria do filme. Na Figura 2 o escoamento do gás sobre a superfície de um líquido é ilustrada. Figura 2: Escoamento da espécie B sobre um filme líquido de A. O conceito do filme está baseado em um modelo em que toda a resistência para difusão a partir da superfície do líquido para a corrente gasosa principal ocorre em um filme estagnado de espessura constante . Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 38 Em outras palavras: para este modelo, é um comprimento fictício que representa a espessura de uma camada de fluido que oferece a mesma resistência à difusão molecular. Se este modelo é preciso, o coeficiente de transferência de massa convectivo pode ser expresso em termos do coeficiente de difusão do gás. Se z2 - z1 é definido como , a Eq. (12) torna-se: 21 , , AA lmB AB zA pp RTP PD N Além disto, sabe-se que: 21, AAczA CCkN 21, AA c zA pp RT k N Uma comparação revela que o coeficiente no filme é expresso por: lmB AB c P PD k , (13) quando o componente que está se difundindo é transportado através de um gás estagnado. Obs.: Embora este modelo seja fisicamente irrealista, o conceito tem um valor educacional, uma vez que ele apresenta uma solução simples para um processo complicado. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 39 De modo a completar a descrição da operação física em que a massa está sendo transportada, é necessário expressar o perfil de concentração. Relembrando da Equação (4): 0, dz dN zA (4) e da Equação (7): dz dy y cD N AA AB zA 1 , (7) podemos obter a equação diferencial que descreve a variação da concentração ao longo do caminho da difusão. Esta equação é: 0 1 dz dy y cD dz d A A AB (14) Como c e DAB são constantes sob condições isotérmicas e adiabáticas, a equação reduz-se a: 0 1 1 dz dy ydz d A A 0 1 2 2 dz yyd AA (15) 0 1 2 2 dz yyd AA 1 1 C dz ydy AA Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 40 dzC y dy A A 1 1 211ln CzCyA (16) Condições de contorno: Em: z = z1 yA = yA1 e em: z = z2 yA = yA2 21111ln CzCyA 22121ln CzCyA 1 2 21 1 21121 1 1 ln 1 1ln1ln A A AA y y zz C zzCyy 211 2 1 1 1 1 ln zzy y C A A Para a determinação de C2, faz-se: 221 1 1 2 1 1 1 ln1ln C zz z y y y A A A 21 1 1 2 12 1 1 ln1ln zz z y y yC A A A Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 41 Substituindo-se C1 e C2 na equação geral, obtém-se: 21 1 1 2 1 211 2 1 1 ln1ln 1 1 ln1ln zz z y y y zz z y y y A A A A A A 21 1 1 2 211 2 1 1 1 ln 1 1 ln1ln1ln zz z y y zz z y y yy A A A A AA 21 1 1 21 1 1 ln 1 1 ln zz zz A A A A y y y y Multiplicando ambos os lados por (-1), obtém-se: 12 1 11 1 ln 11 1 ln 2 zz zz A A A A y y y y 12 1 1 2 1 1 1 1 1 zz zz A A A A y y y y (17) Como yA + yB = 1, tem-se: 12 1 1 2 1 zz zz B B B B y y y y (18) As Equações (17) e (18) descrevem os perfis logarítmicos de concentração para ambas as espécies. A concentração média de uma das espécies ao longo do caminho da difusão pode ser avaliada para a espécie B, por exemplo, por: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 42 2 1 2 1 z z z z B B dz dzy y (19) Após a substituição da Equação (18) na Equação (19), obtém-se: 12 1 2 1 2 1 12 1 zz dz y y y y z z zz zz B B B B 1212 1212 ln zzyy zzyy y BB BB B lmBBB BB B y yy yy y , 12 12 ln (20) 3.1.2 Difusão no Estado Pseudo-Estacionário Figura 3: Célula de Arnold com movimento da superfície líquida. Em muitas operações de transferência de massa, uma das fronteiras pode mover-se com o tempo. Se o comprimento do caminho da difusão varia pouco em um longo período de tempo, um estado pseudo-estacionário pode ser assumido. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 43 Considere a Figura 3, com uma superfície líquida variando com o tempo. Dois níveis são mostrados: um no tempo t0 e outro no tempo t1. Se a diferença no nível do líquido ao longo do intervalo de tempo considerado é apenas uma pequena fração do caminho total da difusão e t1 - t0 representa um longo período de tempo, em qualquer instante naquele período o fluxo molar na fase gás pode ser avaliado por: lmB AAAB zA yz yycD N , 21 , , (21) onde z é o caminho da difusão em qualquer t. O fluxo molar NA,z está relacionado com a quantidade da espécie A que deixa a superfície do líquido. dt dz M N A A zA , Então: dt dz Myz yyDC A A lmB AAAB , 21 zdz yyDCM y dt AAABA lmBLA 21 ,, (22) Integrando a Equação (22) de t = 0 até t = t e de z = z(t0) até z = z(t), tem-se: t ot z zAAABA lmBLA t t zdz yyDCM y dt 0 21 ,, Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 44 2 2 0 2 21 ,, tt AAABA lmBLA zz yyCDM y t (23) ou 2 2 0 2 21 ,, tt AAA lmBLA AB zz tyyCM y D (24) 3.1.3 Contradifusão equimolar Uma situação física que é encontrada na destilação de dois constituintes, cujos calores latente de vaporização são essencialmente iguais, estipula que o fluxo de um componente é igual ao do outro componente, em direção contrária, isto é: NA,z = -NB,z. Partindo da seguinte equação: 0 A A A R t C N (25) para o caso de transferência de massa no estado estacionário e sem reação qímica, tem-se: 0 AN (26) Para a transferência de massa na direção z, esta equação reduz-se a: 0, dz dN zA (27) Esta relação estabelece que NA,z é constante ao longo do caminho da difusão. O fluxo molar NA,z, para um sistema binário à T e P constantes é descrito pela equação de Fick. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 45 zBzAAAABzA NNy dz dC DN ,,, (28) A substituição da restrição (Na,z = -NB,z) fornece uma equação que descreve o fluxo de A quando a contradifusão equimolar existe. dz dC DN AABzA , (29) A Equação (29) pode ser integrada usando as seguintes condições de contorno: z = z1 → CA = CA1 z = z2 → CA = CA2 2 1 2 1 , A A C C AAB z z zA dCDdzN 1212, AAABzA CCDzzN 12 21 , zz CC DN AAABzA (30) Quando a lei dos gases ideais é válida, a concentração molar de A pode ser relacionada com a pressão parcial de A por: RT p V n C AA Substituindo esta expressão na Equação (30), tem-se: 1221 , zz pp RT D N AAABzA (31) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 46 As Equações (30) e (31) são conhecidas como EQUAÇÕES PARA A CONTRADIFUSÃO EQUIMOLAR UNIDIMENSIONAL NO ESTADO ESTACIONÁRIO. O perfil de concentração para o processo de contradifusão equimolar pode ser obtido substituindo-se a Equação (29) na equação diferencial que descreve a transferência na direção z: 0 dz dC D dz d A AB a pressão e a temperatura são constantes, logo, DAB é constante. 0 2 2 dz Cd D AAB 0 2 2 dz Cd A Esta equação diferencial de 2ª ordem pode se integrada em relação à z: dzCdCCdz dC dz Cd A AA 112 2 0 21)( CzCC zA As duas constantes de integração são avaliadas usando-se as duas condições de contorno: z = z1 → CA = CA1 z = z2 → CA = CA2 Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 47 2111 CzCCA 2212 CzCCA 21121 zzCCC AA 21 21 1 zz CC C AA 2121 21 1 Cz zz CC C AAA 121 21 12 z zz CC CC AAA Voltando à solução geral e substituindo as constantes C1 e C2, obtém- se: 121 21 1 21 21 )( z zz CC Cz zz CC C AAA AA zA 1 21 21 1)( zz zz CC CC AAAzA 21 1 21 1)( zz zz CC CC AA AzA (32) A Equação (32) é uma solução específica. As Equações (30) e (32) podem ser usadas para descrever qualquer processo onde o termo referente à contribuição do bulk é nulo. Além do fenômeno da contradifusão equimolar, a negligência da contribuição do termo Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 48 bulk também é encontrada quando um soluto se difunde para dentro ou através de um sólido, uma vez que a fração molar, yA, e o fluxo da espécie que está se difundindo, NA,z, são muito pequenos. É importante notar que quando nós consideramos o conceito do filme para a transferência de massa com a contradifusão equimolar, a definição do coeficiente de transferência de massa convectivo é diferente daquele para a difusão em um filme de gás estagnado. No caso da contradifusão equimolar: ABDk 0 (33) O superescrito º é usado para designar que não há transferência molar global no filme devido à contradifusão equimolar. Comparando a Equação (33) com a Equação (13) percebemos que estas duas equações fornecem os mesmos resultados quando a concentração de A é muito pequena e Pb,lm é igual a P. 3.2 Sistema Unidimensional Associado com Reação Química Muitas operações envolvem a difusão de uma espécie molecular e a formação ou consumo da espécie através de uma reação química (ou bioquímica) dentro ou no limite de interesse. Podemos distinguir dois tipos de reações químicas (ou bioquímicas): a que define a reação que ocorre de forma uniforme ao longo de uma dada fase como uma reação homogênea e a que tem lugar em uma região restrita dentro ou em um limite de fase como uma reação heterogênea. A taxa de formação da espécie A por reação homogênea aparece na equação diferencial geral de transferência de massa como o termo fonte RA: Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 49 0 A A A R t C N Exemplos de termo fonte (RA): - reação de 1ª ordem: 1 1 AA CkR , onde k1 é a constante da taxa de reação de 1ª ordem (1/s); - reação de 2ª ordem: BAA CCkR 2 , onde k2 é a constante da taxa de reação de 2ª ordem (cm³/mol∙s). OBS.: A TAXA DE CONSUMO DE UMA DADA ESPÉCIE A POR REAÇÃO HETEROGÊNEA SOBRE UMA SUPERFÍCIE OU INTERFACE NÃO APARECE NA EQUAÇÃO DIFERENCIAL GERAL COMO RA, UMA VEZ QUE ESTE RA ENVOLVE APENAS REAÇÕES DENTRO DO VOLUME. A reação heterogênea entra na análise como uma condição de contorno e fornece informação sobre os fluxos das espécies envolvidas na reação. Por exemplo: se a reação na superfície é: O2g) + C(s) → CO2(g) o fluxo de CO2 será igual ao fluxo de O2, em direção oposta. 3.2.1 Difusão com Reação Química Homogênea de Primeira Ordem Na operação unitária de absorção, um dos constituintes de uma mistura gasosa está preferencialmente dissolvida em uma fase líquida. Dependendo da natureza química das moléculas envolvidas, a absorção pode ou não envolver reações químicas. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 50 Figura 4: Absorção com reação química homogênea. Considere um meio conforme ilustrado na Figura 4. Na superfície líquida, a composição de A é CA0. A espessura do filme, , é definida de modo que através desde filme a concentração de A é sempre zero, isto é: CA = 0. Se a concentração de A no filme é muito pequena e não há movimento da fase fluida, o fluxo molar dentro do filme é descrito por: dz dC DN AABzA , (34) Para a transferência de massa unidimensional e no estado estacionário, a equação diferencial geral reduz-se a: 0, A zA R dz dN (35) A reação é descrita por uma expressão de 1 ª ordem: AA kCR (36) Substituindo as Equações (34) e (36) na Equação (35), obtém-se: A kC dz dC D dz d A AB Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 51 Para DAB constante: 012 2 A A AB Ck dz Cd D (37) Solução geral: zDksenhCzDkCC ABABA 1211 cosh condições de contorno: z = 0 → CA = CA0 e z = → CA = 0 00cosh 12110 ABABA DksenhCDkCC 00cosh 210 senhCCCA 10 CCA ABABA DksenhCDkC 1210 cosh0 ABAAB DkCDksenhC 1012 cosh AB ABA Dksenh DkC C 1 10 2 cosh AB ABA ABAAA Dk zDksenhC zDkCCC 1 10 100 tanh cosh (38) Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 52 O fluxo molar na superfície do líquido pode ser determinado diferenciando-se a Equação (38) e avaliando-se a derivada, dCA/dz em z = 0: AB ABABA ABABA A Dk zDkDkC zDksenhDkC dz dC 1 110 110 tanh cosh AB ABABAABABAozA Dk DkDkC DksenhDkC dz dC 1 110 110 tanh 0cosh 0 AB ABA oz A Dk DkC dz dC 1 10 tanh 0 Assim, a equação do fluxo na superfície assume a forma:ozAABzzA dzdCDN 0, AB ABA ABozzA Dk DkC DN 1 10 , tanh AB ABAAB ozzA Dk DkCD N 1 10 , tanh (39) OBSERVAÇÕES: é interessante considerar a operação de transferência de massa mais simples envolvendo a absorção de A no líquido B sem reação química. Neste caso: 0 , AAB zA CD N (40) dz dC DN AABzA , Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 53 0 0 , 0AC AABzA dCDdzN 0 , AAB zA CD N A comparação das Equações (39) e (40) mostra a influência da reação química no termo ABAB DkDk 11 tanh . Este termo é uma quantidade adimensional denominada NÚMERO DE HATTA. À medida que a taxa de reação aumenta, a constante da taxa de reação aumenta e a tangente hiperbólica ABDk1tanh aproxima-se de 1. A Equação (39) reduz-se a: 001, AABozzA CkDN (41) A comparação desta equação com a equação 21, AAczA CCkN revela que o coeficiente kc é proporcional ao coeficiente de difusão elevado a potência 1/2 1kDk ABc . Com uma reação química relativamente rápida, o componente A irá desaparecer após penetrar apenas uma pequena distância no meio onde está ocorrendo a reação química. Assim, um segundo modelo para a transferência de massa convectiva foi proposta, conhecido como TEORIA DA PENETRAÇÃO, na qual kc é considerado uma função de DAB elevado a 1/2. 0, 0 AABzA CDN Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 54 4. Transferência de Massa Transiente Processos no estado estacionário são muito comuns na indústria quando se trata de operações contínuas. Porém, ao se iniciar um processo suas variáveis irão apresentar variações com o tempo antes de atingirem estabilidade. Além disso, há processos industriais realizados em batelada, nos quais as variáveis variam com o tempo. Uma maneira comum de trabalhar com processos transientes é através da variação da média espacial ao longo do tempo, visto que uma análise pontual seria muito complexa. Figura 1: Concentração no regime transiente. O fluxo difusivo no estado transiente será dado pela 1ª Lei de Fick: AefA CDN Quando a região difusiva está envolta por um meio externo no qual ocorre a convecção, é dito que a difusão ocorre com a presença da resistência externa. Um importante parâmetro que permite avaliar a contribuição da resistência externa à transferência de massa é o número de Biot mássico: CA CAm t CA z t1 t2 Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 55 pef m m kD ks Bi , (1) onde km é o coeficiente convectivo de transferência de massa no meio externo, kp é o coeficiente de distribuição ou constante de equilíbrio (CA* = kpCA∞) e s é o comprimento característico do sólido analisado. Quando Bim → ∞, a resistência externa ao fenômeno de transferência de massa é desprezível em face do fenômeno difusivo. Na prática, a convecção externa é desprezada quando Bim > 50. Quando Bim → 0, a transferência de massa é regida pelo processo externo, sendo a resistência interna desprezível, ou seja, o coeficiente de difusão é alto, fazendo com que a etapa difusiva seja muito rápida e a convecção domine o processo. A equação da continuidade para um caso transiente, sem reação química é dada por: Aef A CD t C 2 4.1 Difusão em Regime Transiente com Resistência Externa Desprezível 4.1.1 Placa plana infinita Um meio infinito é aquele cuja dimensão na qual ocorre o fenômeno é muito menor que as outras, podendo o processo ser descrito como unidirecional. Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 56 Figura 2: Placa infinita. Para a extração de um óleo vegetal, sementes foram descascadas e fatiadas em lâminas que podem ser consideradas como placas infinitas, conforme a Figura 2. A equação da continuidade que descreve a difusão do óleo nas lâminas é: 2 2 z C D t C A ef A (2) As condições de contorno e inicial para este caso são dadas por: C.I.: Em t = 0, CA = CA0 C.C. 1: Em z = 0, 0 0 z A z C (condição de simetria) C.C. 2: para z = a, CA = CA* = kpCA CA* é uma concentração em equilíbrio com a concentração do óleo no solvente. O tempo para que isso ocorra é desprezível se comparado ao da operação de extração. Definindo-se a concentração adimensional de A como: * * Θ 0 AA AA CC CC 2a w L Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 57 A equação da continuidade será dada por: 2 2ΘΘ z D t ef (3) E as condições inicial e de contorno ficarão: C.I.: em t = 0, = 1 C.C.1: em z = 0, 0 Θ 0 zz C.C.2.: em z = a, Θa = 0 A solução da Equação (44) é obtida por separação de variáveis. Supõe- se que o resultado da Equação (44) tenha a seguinte forma: tztz ,Θ Introduzindo essa função na Equação (44), obtém-se: 2 2 dz d D dt d ef Efetuando a separação de variáveis, tem-se: 2 2 211 dz d dt d Def Como cada lado da equação acima é função de uma variável diferente, os dois lados só podem ser iguais quando ambos forem iguais a uma constante Fenômenos de Transferência III Profa. Dra. Cíntia Soares 58 –². O sinal negativo da constante escolhida deve-se ao fato de que a concentração de A irá diminuir ao longo do tempo, já que a operação tem como objetivo a retirada do óleo do interior da semente. Dessa análise, surgem duas equações diferenciais ordinárias: 02 2 2 dz d As soluções dessas equações diferenciais ordinárias são, respectivamente: tDCt ef 21 exp zCzCz cossin 32 Assim, tem-se: zBzAtDtz ef sincosexp),(ΘΘ 2 Para obtermos as constantes A e B, devemos aplicar as condições de contorno, lembrando que a primeira condição de contorno é 0 Θ 0 zz . Por esta razão, devemos derivar a expressão obtida: 0sincosexp,Θ 2 zAzBtDtz z ef Como a equação acima está sendo avaliada em z = 0: BtDtz z ef 2exp,Θ 02 efD dt d Fenômenos de Transferência III
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