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Textos adaptados de: Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde. Infecção Hospitalar – Controle. ANVISA Ministério da Saúde. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf. Acesso em: 05 ago. 2014. Micoses superficiais Introdução: Para o diagnóstico das tinhas, lançamos mão do exame direto, cultura do material parasitado e, eventualmente, pesquisa da hipersensibilidade, usando tricofitina como antígeno. Exame direto É realizado com material coletado das bordas das lesões circinadas, dos espaços interdigitais, de fragmentos de unhas, ou melhor, da massa que se coleta sob a tábua da unha, de pêlos e cabelos. O material é colocado entre lâmina e lamínula, misturado com um líquido apropriado que pode ser uma solução de potassa (hidróxido de potássio) em diversas diluições de 10 a 40%, de acordo com a dureza do material examinado, ou soda (hidróxido de sódio) 20%. O exame feito com a potassa tem que ser observado logo após a mistura do material com ela , em vista do ressecamento rápido. Além disso, com a potassa, formam-se, não raro, artefatos filamentosos que induzem a um diagnóstico errado. Mas a potassa tem suas vantagens: amolece mais a substância queratinosa, principalmente quando se trata de unha, bem como tem poder clarificante maior que o outro líquido: o lactofenol. Este, além de não possuir as desvantagens acima mencionadas, tem um grande poder de conservação do material, o que facilita observação posterior do material quantas vezes se queira, de grande utilidade, portanto, para o ensino. Para o caso da tinea corporis de todas as localizações, o exame direto não dá a menor indicação do parasito, nem mesmo genérica. Isto é, não diz se o agente é Trichophyton Microsporum ou Epidermophyton. Hifas em raquete. Aparecem longas hifas septadas, hialinas, ramificadas. Muitas dessas hifas se apresentam totalmente artrosporadas, a ponto de se desmembrarem em artroconídios. Na região, o exame direto tem que reconhecer cinco micoses superficiais diferentes: 1. Eritrasma – pela presença de elementos difteroides, gram positivos, do Corynebacterium minutissimum (Nocardia minutissima); Corynebacterium minutissimum 2. Pitiríase versicolor – pelos aglomerados de blastoconídios em mosaico, de mistura com hifas curtas e curvas; Pitiríase versicolor 3. Candidíase – pela presença de blastoconídios e pseudohifas (hifas-gemulantes); 4. Manifestações cutâneas – de Piedra branca genital (Jayme Carneiro e Glyne Rocha, 1970); 5. Tinea cruris – ou dermatofitose da coxa. Outro material que precisa ser observado com muito cuidado é aquele retirado da unha, pois o diagnóstico de onicomicose dermatofítica deve ser baseado unicamente no achado do parasito no exame direto ou na cultura, e nunca pelo simples aspecto clínico da lesão, pois o tratamento com griseofulvin ou imidazólicos é muito dispendioso e demorado, principalmente quando se trata de unhas dos pés. O exame de material do couro cabeludo elimina o gênero Epidermophyton, pois este não ataca esta região e orienta o diagnóstico para os outros dois gêneros. O cabelo com parasitismo endotrix é sempre causado por Trichophyton e quase sempre antropofílico: T. tonsurans, no Rio de Janeiro; T. violaceum, em São Paulo. O cabelo com parasitismo endo-ectotrix é quase sempre por Microsporum, geralmente zoofílico por M. canis; às vezes, geofílico, por M. gypseum. Mas o tipo endo-ectotrix também pode ser produzido por Trichophyton, e, neste caso, para separar do Microsporum, recorreremos ao tamanho das placas de tinhas do couro cabeludo: grandes, na tinha microspórica; pequenas e numerosas na tricofítica. As tinhas tricofíticas endo-ectótrix do couro cabeludo são geralmente produzidas por tricófitos zoofílicos como o T. mentagrophytes e o T. verrucosum, e também pelo antropofílico T. rubrum. O exame das crostas fávicas revelam facilmente um denso emaranhado de hifas septadas, e os cabelos respectivos mostram-se pouco parasitados, com raras hifas septadas no seu interior. Cabelo com parasitismo endotrix Cultura O mesmo material coletado para exame direto será utilizado para o cultivo. Os meios utilizados são: 1. Sabouraud (glicosado ou maltosado); 2. Mycobiotic ou Mycosel, que contém actidiona contra fungos saprófitos (sapróbios) e cloromicetina, contra bactérias; 3. Para material muito infectado de bactérias, deve-se usar um meio com penicilina e estreptomicina. O cultivo deve ser feito, geralmente, em cinco tubos ou, pelo menos, em três. Quando, no exame direto, o material infectado apresenta riqueza de parasitos, basta semear três tubos. Ao contrário, se os parasitos são achados com dificuldade, utilizaremos os cinco tubos, inoculando- se em três pontos diferentes para aumentar a chance de isolarmos o parasito em cultura. O crescimento destes faz-se muito lentamente, raramente nunca antes de uma semana; às vezes, leva mais de 30 dias para mostrar um pequeno ponto de desenvolvimento. Crescem mais rapidamente os agentes zoofílicos e geofílicos; os de desenvolvimento demorado são antropofílicos. Reconhecem-se três grandes aspectos macroscópicos das colônias, ao primeiro isolamento: 1. Colônias granulosas – refletem riqueza microscópica de elementos morfológicos reprodutores: macroconídios, microconídios, hifas espiraladas, clamidoconídios. São, geralmente, de origem zoofílica e geofílica, tais como Microsporum canis, M. gypseum, o Trichophyton mentagrophytes, variedade zoofílica. Mas o Epidermophyton floccosum, antropofílico, também costuma apresentar-se granuloso ao primeiro isolamento, todavia, este nunca apresenta microconídios. 2. Colônias cotonosas ou algodoadas – é assim que se apresentam, normalmente, os antropofílicos Trichophyton mentagrophytes, variedade interdigitale (cotonosa) e o Trichophyton rubrum, embora este mostre-se, às vezes, um tanto granuloso; este aspecto corresponde a uma morfologia microscópica menos rica, aparecendo poucos macroconídios, podendo, entretanto, surgir uma quantidade razoável de microconídios. O Trichophyton tonsurans apresenta um aspecto intermediário entre os dois primeiros, com bastante microconídios e macroconídios difíceis de se achar. 3. Colônias glabras – conhecidas como tendo aspecto faviforme, por ser este o aspecto do Trichophyton schoenleini, agente do favo. Entram, neste grupo, além deste último, o Trichophyton concentricum, causador da tinea imbricata, o T. violaceum, agente freqüente de tinha tricofítica em alguns lugares: são os mais pobres de elementos morfológicos microscópicos, que podem, entretanto, aparecer quando estimulados por certos fatores (nutrilitos). A classificação adotada para os dermatófitos é uma simplificação de Sabouraud, feita por Emmons, em 1934. É constituída pelos três gêneros que vimos. A identificação desses gêneros é feita pela morfologia do closterosporo ou macroconídio plurisseptado, que caracteriza a microscopia dos agentes das dermatofitoses. Como não dá para, evidentemente, num compêndio destinado a estudantes, estudar cada uma das numerosas espécies causadoras das dermatofitoses, vamos apenas enumerá-las, mencionando os principais sinônimos e chamando a atenção para esta ou aquela particularidade de cada uma: 1. Epidermophyton floccosum (E. inguinale, E.cruris). Espécie única do gênero. Não ataca o couro cabeludo. Antropofílico . Epidermophyton floccosum 2. Microsporum audouinii Antropofílico. Agente de tinhas tonsurantes microspóricas em alguns países.No Brasil, praticamente não existe. 3. Microsporum canis (M. felineum, M. lanousum) Zoofílico. Agente de tinhas tonsurantes no Brasil e em muitos outros países. Microsporum canis 4. Microsporum gypseum (Achorion gypseum, M. fulvum) Geofílico, isolado em todas as partes do mundo. Agente de tinhas muitas vezes inflamatórias. Também produz lesões fávicas da pele. Deste parasito foi descrita a forma assexuada perfeita, por Stockdale, em 1961, sob o nome de Arthroderma (Nannizzia) incurvata. Microsporum gypseum 5/6. Dois outros microsporos de pouca importância clínica, mas interessantes por serem conhecidas as formas sexuadas correspondentes. São eles: Microsporum cookei e sua forma sexuada Arthroderma (Nannizzia) cajetana, e Microsporum nanum com sua forma sexuada Arthroderma (Nannizzia) obtusa, ambos de descoberta recente (1961).São geofílicos. 7. Trichophyton mentagrophytes. Apresenta um grande número de sinônimos. Daremos alguns deles. São muitas vezes mencionados como espécies autônomas: Achorion quinckeanum Blanchard, 1896. Trichophyton gypseum Bodin, 1902. T. lacticolor Sabouraud, 1910. T. granulosum Sabouraud, 1909. T. radiolatum Sabouraud,1910 T. niveum Sabouraud, 1910 T. asteroides Sabouraud, 1910 T. interdigitale Pristley, 1917 T. kaufmann-wolfi Ota, 1922 T. pedis Ota, 1922 Há uma variedade granulosa (T. mentagrophyles var. mentagrophyles), zoofílica, que costuma produzir tinhas inflamatórias na pele e no couro cabeludo. A outra variedade é antropofílica, de cultura com aspecto algodoado (T. mentagrophyles var. interdigitale). Talvez estas duas variedades devam constituir espécies diferentes. No couro cabeludo o parasitismo é do tipo endo-ectotrix . 8. Trichophyton rubrum (Epidermophyton rubrum, Trichophyton purpureum) Caracteriza-se pela belíssima pigmentação vermelha que difunde no meio de cultura. Antropofílico. Talvez seja o mais universal dos dermatófitos. É o agente mais comum da foliculite dermatofítica das pernas femininas. No couro cabeludo, produz tinha tonsurante do tipo endo- ectotrix. Juntamente com o T. mentagrophytes, é o agente mais comum da tinea pedis. Trichophyton rubrum 9. Trichophyton tonsurans.Também tem uma sinonímia respeitável. Mencionaremos as seguintes: Trichophyton epilans Boucher & Megnin, 1887. T. sabouraudi Blanchard, 1896. T. crateriforme Sabouraud, 1902. T. acuminatum Bodin, 1902. T. sulfureum Sabouraud, 1910. Juntamente com o T.violaceum constituem os agentes das tinhas tricofíticas tipo endotrix. Ambos antropofílicos. Tinha tricofítica 10. Tricophyton violaceum. É um dos dermatófitos do grupo faviforme, isto é, de colônias glabras, de morfologia microscópica pobre. Antropofílico. Agente de tinha endotrix em muitos países. 11. Trichophyton schoenleinii (Achorion schoenleini). Pertence ao grupo faviforme acima mencionado. Agente habitual da tinha fávica, embora compartilhe sua etiologia com o T. violaceum e com o T. verrucosum, e, menos vezes, com o M. gypseum. Juntamente com o T. concentricum, agente do Toquelau, apresenta uma morfologia microcópica das mais pobres. Todavia, o agente do favo tem uma característica cultural interessante: o candelabro fávico, ou seja, hifas ramificadas em forma de candelabro. 12. Trichophyton verrucosum (T. album, T. discóides T. ochraceum). Espécie zoofílica, de colônia faviforme, ataca o homem através do gado vacum. Nos meios com tiamina aparecem microconídios. 13. Trichophyton megninii (T. rosaceum, T. roseum).Espécie de incidência limitada a alguns países. No Brasil, é rara. Em Portugal, é freqüente. Produz macroconídios muito alongados, quando semeada no meio ágar tripticase glicosada. Espécie antropofílica muito parecida com a espécie mencionada a seguir, da qual se diferencia pela assimilação da histidina. Produz tinha tonsurante tipo endoectotrix. 14. Trichophyton gallinae (atualmente M. gallinae). Difere da anterior pelo zoofilismo, por não assimilar a histidina. 15. Trichophyton equinum. Zoofílico. Pede ácido nicotínico para seu desenvolvimento. 16.Trichophyton ferrugineum (Microsporum ferrugineum, M. japonicum). Incidência maior no Japão e em alguns países da África. Pertence ao grupo faviforme, portanto, de morfologia pobre. Atualmente considerado Microsporum ferrugineum. 17. Trichophyton concentricum (Sinonímia: as espécies do antigo gênero Endodermophyton). Agente da tinea imbricata. Colônia faviforme, de morfologia microscópica paupérrima. 18/20. Trichophyton gourvillii, T. soudanense e T. yaoundei são três espécies próprias de países africanos. Todas antropofílicas.