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Paulo Mendes

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Considerado o mais importante do mundo, o Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2006 teve como vencedor um brasileiro, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Nascido em Vitória (ES), em 1928, ele vive em São Paulo, onde também está a maior parte de sua obra. De sua prancheta saíram, entre muitos outros projetos, a reforma da Pinacoteca do Estado e o pórtico da Praça do Patriarca, ambos na capital paulista. Mendes da Rocha é o segundo brasileiro a ganhar o Pritzker, depois de Oscar Niemeyer, premiado em 1988. Criado há 27 anos pela Fundação Hyatt, com sede em Chicago, o Pritzker tem como objetivo homenagear os grandes nomes da arquitetura em vida. Da galeria de vencedores fazem parte estrelas como o americano Frank O. Gehry e o holandês Rem Koolhaas. A cerimônia de entrega do prêmio, marcada para 30 de maio, será em Istambul, na Turquia. Nessa entrevista, concedida em abril, em seu escritório, no centro de São Paulo, o arquiteto falou sobre a relação entre a arquitetura e a cidade.
A cidade para todos. Na visão de Paulo Mendes da Rocha, esse é o grande ideal da arquitetura. Ao longo de sua carreira, que despontou em 1958, quando venceu o concurso para o ginásio do Clube Atlético Paulistano, a questão do direito à cidade sempre se fez presente. "Para Mendes da Rocha, o significado da arquitetura não é criar prédios isolados, mas responder à eterna questão da habitação humana", apontou um dos jurados do Prêmio Pritzker, o suíço Rolf Fehlbaum, presidente da fábrica de móveis Vitra. Aos 77 anos, autor de vários projetos aclamados e um ainda polêmico - o pórtico da Praça do Patriarca -, Mendes da Rocha vê a arquitetura como um discurso.
"Quando a arquitetura consegue exibir que 'eu sei fazer uma casa', ela quer dizer 'por que não fazemos para todos?'. É isso a base da arquitetura.
""O grande ideal dos arquitetos, da própria arquitetura como forma de conhecimento, é a realização plena da cidade contemporânea. Plena quer dizer feliz para todos, fácil para todos."
"O crescimento das cidades no Brasil particularmente se deu dessa forma vertiginosa porque não é uma população que dobrou e voltou a dobrar. É o camponês, o desamparado que vem à cidade reconhecendo que lá estão as virtudes da vida contemporânea: água encanada, escola, hospitais, etc. Convivência: talvez a virtude mais bela, mais interessante, mais sedutora da cidade é a possibilidade da conversa."
"O [Vilanova] Artigas, esse meu professor e professor de todos nós ilustríssimos, outro arquiteto que tem uma obra que o mundo inteiro hoje admira e conhece, dizia: 'a cidade como a casa e a casa como a cidade'."
"Se você cultiva o conhecimento humano, o fruto é a cidade. A cidade é um caju, doce caju. A cidade é uma manga. A cidade é produto do nosso trabalho, único supremo e praticamente aquele que se pretende."
"É mais fácil você imaginar uma cidade para todos do que só para alguns. Como você faria para alguns? Alguns quem, cara pálida? Já pra todos fica muito fácil: o chão livre, comércio, diversões, cinemas, teatros, as habitações mais em cima, alguns prédios para exercer as atividades de escritórios, como se diz. Fábricas, isso e aquilo. O trem - a fábrica não existe sem o trem, o operário precisa de transporte -, você sabe como desenhar o metrô, etc. etc. Água podre mata todo mundo, tem que preservar os rios. Se há casas e esgoto temos que fazer estações de tratamento de esgoto. Já se sabe tudo. Portanto tudo o que nos falta é porque maliciosamente foi negado."
A São Paulo do futuro em cima dos seus escombros. Para Paulo Mendes da Rocha, esse é o nosso desafio: reerguer a cidade corrigindo os erros do passado por meio de técnicas adequadas. Esse mesmo pensamento parece ter norteado o projeto de reforma da Pinacoteca do Estado (1993), um de seus trabalhos mais reconhecidos pelo público. "O que eu fiz na Pinacoteca? Nada. Só fiz ver o que já estava lá." Numa analogia com seu pensamento sobre a cidade, poderíamos dizer que essa obra de Mendes da Rocha nos mostra que não é preciso um terreno virgem para sonhar um museu. Talvez mais interessante seja um prédio que corrige o erro já feito. Na segunda parte da entrevista, o arquiteto critica o modo como se mora hoje em São Paulo e a maneira como nossas crianças estão sendo educadas.
"É preciso saber já que também nós achamos que não é necessário um paraíso terrestre, uma natureza virgem para você sonhar a cidade. Talvez mais interessante dentro dessa consciência de hoje é imaginar uma cidade que corrige o erro já feito. A São Paulo do futuro em cima dos seus escombros corrigidos com técnicas adequadas, como a poluição dos rios, a reversão do sistema de transporte, entre um sistema individual - o automóvel, que não anda nada - e um transporte eficiente, seja o metrô ou seja o que for, é um desafio interessantíssimo."
"Você vê, um projeto que eu gosto muito, que eu gosto muito depois, não é porque eu fiz. Eu vi que teve sucesso. A população gostou. A Pinacoteca. O que eu fiz na Pinacoteca? Nada. Eu só fiz ver o que já estava lá. Limpei o lixo. Tem dois pátios fechados, três que chove dentro, não vale a pena. Nossa faculdade tem um teto de vidro, eu mandei pôr um teto de vidro, arranca as janelas e fica mais transparente. Mas você não passa naquele buraco. Tem que dar a volta. Eu pus a pontezinha. Não parece óbvio? Mas você não passou no viaduto do chá? Você em criança nunca atravessou uma pinguela? Você não sabe o valor de uma ponte num vazio? Agora tem duas varandas maravilhosas, não é? Mas a entrada é pela rua de cá, numa escada em pé, passando ônibus, chegam as crianças, dois ônibus de crianças, que se leva muito em museu, como é que elas vão descer do ônibus, naquela escada, se está chovendo? Não é melhor correr tudo para a varanda? Então muda a entrada para a varanda. Mas entrando por ali, topa com o buraco, que eu já cobri de cristal. Era bom fluir o trânsito: põe a pinguela que eu vi o meu avô fazer na fazenda lá para atravessar um córrego."
Mora-se bem em São Paulo hoje?
"Acho que não, porque você não quer ver que a casa primordial, por exemplo, você ia encontrar no Copan. Se você quer fazer uma casinha no arrabalde, você já não vive bem porque você não chega lá, não volta etc. Então alimentar como se fosse ideal do homem, com propaganda, que cada um de nós deseja um palácio para si é uma bobagem porque não é verdade. O que se deseja é aquela folga que eu te falei pra escolher em que metrô você vai, ficando largado, embebido nos prazeres da cidade depois que cessa, digamos, o seu horário de trabalho. Teatro, cinema, cafés, nada - andar pra lá e pra cá - freqüentar livrarias etc. O que nos adiante construir teatros? Se a população que podia ser mais estimulante, exemplar nas suas ações, mora nos arrabaldes. Hoje fala-se em periferia, mas quem está mais na periferia são os ricos."
Centro
"Eu, por exemplo, não estou fazendo nenhuma campanha para coisa nenhuma. Nunca saí do centro. Porque eu fui formado muito bem. Meu pai era engenheiro, minha mãe professora. O meu sonho ao estudar é andar no centro, abrir uma conta no Banco Comércio e Indústria, comprar um terno nas lojas Garbo, usar gravata e passear na 15 de Novembro, no Largo do Café, tomando um cafezinho, como eu aprendi com o meu pai."
"E o que está se vendo é que as crianças estão sendo educadas desatentas. Só de você ir para a escola de automóvel com chofer, você já está frito para o futuro. E quem vai a pé vê tudo. As estações do ano, a época mais difícil com chuva, como é que passa o bonde ou não passa o bonde, do que é feito o bonde..."
A virtude mais interessante e sedutora da cidade na visão de Paulo Mendes da Rocha é a possibilidade da conversa. Mas para que essa possibilidade possa se concretizar é preciso que os moradores da cidade possam contar com um meio de transporte como o metrô. Que assegura ao trabalhador a tranqüilidade de poder voltar para casa mais tarde, deixando-se levar pelos prazeres da cidade. As imagens são do Poupatempo de Itaquera, construção que fica ao lado da estaçãode metrô e foi projetada por Mendes da Rocha em 1998.
"Agora você diz assim: a possibilidade da conversa. Sim, trocar idéias. O jornalista, o arquiteto, o operário tomando juntos a mesma cerveja. Mas isso depende do metrô porque se tiverem aflitos pra voltar para casa não vão ter coragem de perder aquele tempo. Perder aparentemente: ganhar. Se eu não estou aflito, passa o metrô de três em três minutos, eu fico com os meus amigos no bar até tarde."
"Esse é o discurso da arquitetura. Não é se é branco, azul, se está na moda ou não está na moda. Vamos ver o que é fora de moda: é você ficar sentado dentro de uma máquina de 700 quilos sem conseguir andar na marginal convencido de que é um privilegiado."
"Portanto o metrô não é como transportar laranja em fábrica de suco, não é que ele transporta multidões com eficiência. Ele assegura a tranqüilidade de quem mora ali."

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