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1 Curso Ênfase © 2018 DIREITO CONSTITUCIONAL – PAULO LÉPORE AULA2 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO E SUPREMACIA CONSTITUCIONAL 1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO E SUPREMACIA CONSTITUCIONAL (CONTINUAÇÃO) 1.1. SENTIDO CULTURALISTA O sentido culturalista da Constituição é de Michele Ainis. Aqui, a ideia é a de que os três posicionamentos anteriores (sentidos sociológicos, políticos e jurídicos) não podem ser adotados de forma isolada. A Constituição é produto da cultura de um povo, sendo elemento da cultura de um Estado. Assim, ela não deve atender apenas um sentido, antes deve levar em consideração todos os sentidos anteriores, observando elementos sociológicos, jurídicos, políticos, dentre outros. A Constituição deve ser total, sendo a soma de elementos da cultura de um povo. Somente assim ela se aproxima da sociedade e da lógica jurídica. 1.2. SENTIDO ABERTO O professor destaca que esse sentido ainda não foi cobrado nas provas para Tribunais, mas é uma aposta para as futuras provas do CESPE. Esse sentido é trabalhado pelo jurista português Gomes Canotilho e por Peter Häberle. A Constituição deve estar mais próxima possível das pessoas que irão usá-la, isto é, do povo. Peter Häberle possui um famoso livro que se chama “Sociedade aberta dos intérpretes”. Na obra, ele traz exatamente essa ideia de que a Constituição não deve ser interpretada apenas no âmbito dos processos, por conhecedores técnicos. A Constituição deve ser vivida e desvendada por toda a sociedade, pois somente assim ela terá efetividade social. A ideia é desburocratizar os elementos que envolvem a Constituição. Também de tornar o povo o seu intérprete, uma vez que ele é o seu destinatário. 2. PODER CONSTITUINTE Ao se falar em Poder Constituinte pensa-se na própria origem do Estado e na criação das Constituições. O Poder Constituinte é aquele que cria a Constituição e também se responsabiliza por suas mudanças posteriores. Direito Constitucional – Paulo Lépore AULA2 Conceito de Constituição e Supremacia Constitucional 2 Curso Ênfase © 2018 Em doutrina se diz que o Poder Constituinte é uma força ou energia que cria ou permite a criação das Constituições. 2.1. IDEIA OU TEORIA CLÁSSICA A teoria clássica foi concebida por Emmanuel Joseph Sieyés. A base dessa teoria remonta à época da Revolução Francesa. No final do século XVIII tínhamos na França e em grande parte da Europa os governos monárquicos. O monarca era responsável por editar e dirigir o Estado da forma que bem entendesse. Não havia uma democracia, pois, o povo não tinha a possibilidade de fazer a escolha daqueles que seriam os seus governantes e que iriam fazer a edição das normas de convívio social. Por essa razão, houve a Revolução Francesa, um levante frente ao poder real. Pouco antes de eclodir a Revolução Francesa, o abade Joseph Sieyés distribuiu um panfleto intitulado “o que é o terceiro estado”. Dizia-se, aqui, que além da Monarquia, das Famílias Reais e da Nobreza, existia uma terceira força, que era o povo (representado pela Burguesia). Existia, portanto, um Primeiro Estado, formado pela Monarquia e a Família Real. O Segundo Estado era composto pelos mais ricos, pelos representantes religiosos e pelos políticos. Por fim, tinha-se o Terceiro Estado, formado pelo povo, isto é, pelos burgueses. O povo compunha a parcela social mais numerosa, que agora passava a reivindicar poder. Com a eclosão da Revolução Francesa o povo tomou o poder. Com base na ideia do abade Sieyés se pode definir o Poder Constituinte. Se há uma revolução e uma mudança estrutural em um Estado, deve-se ter uma Constituição, um documento que vai organizar politicamente e juridicamente o Estado. Essa Constituição será o paradigma máximo de validade do ordenamento jurídico, pois é a norma mais importante. O que efetivamente cria ou permite a criação de uma Constituição é o Poder Constituinte, que é a força ou a energia que deriva do povo. Frise-se que naquela época o abade Sieyés ainda não utilizava a expressão “povo”, ele dizia que a titularidade do poder constituinte era da nação. A nação aqui é entendida como a soma dos nacionais do Estado. Posteriormente, os doutrinadores constitucionalistas aprimoraram a ideia do abade Sieyés e passaram a dizer que a titularidade do poder constituinte é do povo. Direito Constitucional – Paulo Lépore AULA2 Conceito de Constituição e Supremacia Constitucional 3 Curso Ênfase © 2018 O CESPE já cobrou isso em prova. Foi dito que a titularidade do Poder Constituinte, em sua gênese, foi atribuída à nação, e posteriormente, a doutrina constitucional aprimorou essa ideia para dizer que seu titular é o povo. Essa questão está correta. Esse povo, titular do Poder constituinte, cria ou permite a criação da Constituição, no caso do Brasil, com a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O povo permitiu que algumas pessoas, como suas representantes (congressistas), elaborassem a Constituição. No caso do Brasil, isto ocorreu após o fim da Ditadura Militar (1964 – 1985). A escolha de representantes foi uma alternativa à inviabilidade de buscar uma discussão direta entre todos os brasileiros. Os legítimos representantes do povo foram eleitos para ser os membros da Assembleia Nacional Constituinte e elaborar a Constituição. Essa representação não retira a titularidade do povo. A titularidade do poder se mantém com o povo; a Assembleia Nacional Constituinte apenas exerce esse poder como representante popular. 2.2. ESPÉCIES Temos basicamente dois grandes poderes, para estudo, para fins de provas de Tribunais: Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado. Dentro do Poder Constituinte Derivado temos o poder constituinte reformador e o Poder Constituinte Decorrente. 2.2.1. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO O Poder Constituinte Originário é aquele que cria ou permite a criação da primeira Constituição de um Estado ou de uma nova Constituição para um Estado que já teve uma. O Brasil quando se declarou independente de Portugal precisou criar sua Constituição, pois, enquanto colônia, utilizou as normas jurídicas portuguesas. A partir da independência se fazia necessária uma Constituição própria; um documento jurídico supremo que trouxesse as normas de organização jurídica e política do país. Agiu, aqui, o Poder Constituinte Originário, sendo criada a nossa primeira Constituição, em 1824. Essa Constituição durou até 1891, quando foi Proclamada a República no Brasil. O Poder Constituinte Originário também é chamado de genuíno, primário ou de primeiro grau. Direito Constitucional – Paulo Lépore AULA2 Conceito de Constituição e Supremacia Constitucional 4 Curso Ênfase © 2018 Sobre o Poder Constituinte Originário, as provas costumam cobrar as suas características. Ele é inicial, pois não existe poder anterior ou superior a ele. Também é um poder autônomo, possuindo autonomia para se desenvolver do modo como se entender razoável. Por exemplo, a Assembleia Nacional Constituinte passou a funcionar da forma que entender ser mais conveniente. O Poder Constituinte Originário é juridicamente ilimitado, pois não precisa respeitar nenhuma norma jurídica anterior. Ele pode dispor sobre um direito da forma que bem entender. Ele cria ou recria um Estado política e juridicamente. Essa ideia hoje recebe algumas críticas, pois se argumenta que ele não é ilimitado, já que além do ordenamento jurídico nacional existem ordenamentos jurídicos internacionais que devem ser respeitados. As normas internacionais de direitos humanos são historicamente protegidase não podem ser desrespeitadas nem mesmo Poder Constituinte Originário. Também se critica, a ideia de o Poder Constituinte Originário ser ilimitado em face da vedação do retrocesso social. Existem direitos que uma vez garantidos se incorporam ao patrimônio dos seres humanos, razão pela qual não poderão deixar de ser garantidos, a exemplo dos direitos de ordem social, como a saúde e a educação. ATENÇÃO! Apesar das críticas, nas provas do CESPE e da FCC pode-se continuar marcando que o Poder Constituinte Originário é juridicamente ilimitado. O Poder Constituinte Originário é incondicionado, pois não há nenhuma condição para o exercício desse poder. Como é uma força ou energia, ele não se extingue; ele é do povo. Se necessário, após uma ruptura institucional, ele novamente entra em ação. Por isso é um poder permanente estando sempre em estado de latência. 2.2.2. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR O Poder Constituinte Derivado é aquele que deriva/desdobra-se do Originário. O Poder Constituinte Derivado Reformador ou De Reforma é aquele responsável pela reforma das Constituições. Não se pode ter a pretensão de que uma Constituição seja eterna. A sociedade, o povo e a realidade mudam, exigindo adaptações da Constituição. Se essas mudanças forem muito drásticas, o Poder Constituinte Originário é acionado e uma nova Constituição é feita. Se não for esse o caso, reformas podem ser feitas pelo Poder Constituinte Derivado Reformador. Esse poder apresenta limitações, as quais são bastante cobradas em provas. Direito Constitucional – Paulo Lépore AULA2 Conceito de Constituição e Supremacia Constitucional 5 Curso Ênfase © 2018 Existem limitações temporais, que são aquelas que impedem a reforma da Constituição por um determinado tempo. Atualmente, nossa Constituição não prevê imitações temporais; aliás, nem quando de sua promulgação em 1988. Uma limitação temporal seria verificada se, por exemplo, existisse uma norma que afirmasse que a Constituição Federal de 1988 somente poderia ser alterada após o dia 5 outubro de 2008. A limitação circunstancial impede a alteração constitucional quando presentes circunstâncias que exprimem momentos de instabilidade do Estado brasileiro. Não se pode reformar a Constituição durante Estado de Defesa, Estado de Sítio e Intervenção Federal[1]. O professor pede cuidado aos alunos, para não confundirem as imitações circunstanciais com as limitações temporais. [1] Nota do Monitor: Nesse sentido é o art. 60, §1º, da CF/88, que diz o seguinte: “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio”..
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