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1 Incerteza - Incerteza: parâmetro associado ao resultado de uma medição, que caracteriza a dispersão de valores que poderiam ser razoavelmente atribuídas ao mensurando, com um dado nível de confiança. - Todas as peças e produtos utilizados na indústria devem atender, individualmente ou em conjunto, a certas especificações – tolerâncias geométricas, dimensionais, rugosidade, etc. - Logo, se faz necessário adotar Sistemas de Medição (SM) confiáveis. “Mas como assegurar, através de medições, que os componentes e produtos comercializados atendam as tolerâncias de projeto, se todo SM apresenta incertezas?”. - Através do Controle de Qualidade, que tem como função medir e comparar a peça produzida com as especificações do projeto. E, a partir disso, classificar se a peça será: APROVADA ou REPROVADA. Exemplo: Num sistema de medição, uma balança é utilizada para medir pacotes de café com 500 ±10g. Adotando uma incerteza igual a ±5g, para o SM, e caso um dos pacotes indique 493g, é possível afirmar que este pacote atende a tolerância? LIT = Limite inferior de tolerância; LST = Limite superior de tolerância. O resultado da medição (RM) será: RM = 493 ±5g logo, não é possível assegurar que o pacote atende a tolerância especificada, pois o sistema de medição é inadequado, já que apresenta incerteza que excede os valores toleráveis. Incerteza confiabilidade e custo Sendo assim, deve-se buscar um ponto de equilíbrio técnico-econômico entre a incerteza e a confiabilidade requerida. Na prática, um razoável valor da incerteza de medição (IM) é obtido quando: 1010 LITLSTTolerIM −== Aplicando no exemplo: gLITLSTTolerIM 2 10 20 10 490510 1010 == − = − == Ou seja, para o mesmo pacote de café teríamos: RM = 493 ±2g , sendo possível afirmar c/ segurança que a tolerância foi obedecida. 2 Obs.: Mas, e se durante as medições surgisse um pacote c/ 491 ±2g, novamente apresentaria falta de confiabilidade devido às “zonas de dúvida” ou “faixas de incertezas”, representadas abaixo: Exemplo: Um eixo deve apresentar 22 ±0,3mm. Especifique um sistema de medição apropriado. mm LITLSTTolerIM ideal 06,010 6,0 10 7,213,22 1010 == − = − == A máxima incerteza para o processo de medição deverá ser 0,06mm. Nesse sentido, e considerando apenas o erro de indicação dada pela resolução de um paquímetro digital (desconsiderando qualquer outra fonte de incerteza), seria possível utilizar um paquímetro com resolução de 0,05mm, logo: mmIM processo 05,0= , o que resultaria em: LIA = 21,75mm LSA = 22,25mm Ou seja, para ser aprovada, e considerando apenas a fonte de incerteza resultante da resolução do equipamento, a peça medida deverá apresentar como indicação (I) valores dentro do intervalo: 21,75 ≤ I ≤ 22,25mm. - Mas, logicamente, existem diversas fontes e tipos de incertezas, que devem ser consideradas na estimativa da incerteza de um sistema de medição. 3 Estimativa das incertezas e suas fontes - Toda medição envolve: ensaios, ajustes, condicionamento e registro de indicações de instrumentos e/ou conjunto destes, manipulação de instrumentos, condições ambientais, etc. - Logo, o valor de saída (Y) de uma grandeza (mensurando) é obtido a partir de diversas grandezas de entrada influentes (X1, X2, X3, ..., Xn), e através de uma função/modelo matemático (f), ou seja: Y = f (X1, X2, X3,..... Xn). - Alguns fatores que tem influência sobre a incerteza são apresentados abaixo. - As regras e definições para estimativa da incerteza e suas fontes, visando seu uso em normalizações, calibrações, aceitação de laboratórios e serviços de metrologia, se encontra no Guia para a Expressão da Incerteza de Medição (ou Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement - GUM) publicado pela ISO em 1993 (c/ versão brasileira a partir de 1997). - As fontes da incerteza podem ser agrupadas em duas categorias, de acordo com o método de avaliação utilizado para estimar seu valor numérico: Avaliação do TIPO A: que considera a distribuição estatística do resultado de uma série de medições, caracterizando desvios padrões experimentais, através da repetitividade de um processo de medição. Avaliação TIPO B: qualquer método que não seja o estatístico. O julgamento científico pode ter como referência a experiência adquirida, informações e especificações de fabricantes, certificados de calibração e ensaio, etc. 4 Etapas para o Cálculo da Incerteza de Medição 1º) Modelagem matemática, descritivo da relação entre o mensurando definido como grandeza de saída (Y), e todas as outras grandezas envolvidas, que são conhecidas como grandezas de entradas ou de influência (Xi, ...., Xn); 2º) Avaliação das grandezas de entrada ou outros dados, através da busca de informações sobre o processo de medição e das condições de medição; 3º) Avaliação do resultado da medição e das incertezas padrão, obtido a partir das medições e da relação matemática entre as grandezas de influência (considerando avaliação Tipo A e B); 4°) Calcular a incerteza combinada (uc(y)) a partir das contribuições das incertezas padronizadas e seus respectivos coeficientes de sensibilidade (Cs); 5°) Calcular a incerteza expandida (U(y)) por meio da multiplicação da incerteza combinada (uc(y)), associada à grandeza de saída, por um fator de abrangência (K); 6º) O resultado final da medição (RM) é expresso a partir do valor verdadeiro convencional (VVC) do mensurando, que para fins estatísticos consiste na média dos resultados das medições ( X ). Também, se faz necessário, aplicar a correção combinada dos erros sistêmicos (Cc), obtendo portanto: Y= X +Cc , além da incerteza expandida (U(y)) associada a este valor. Sugere-se, conforme GUM, a elaboração de uma tabela do balanço de incertezas, com o memorial de cálculo e o registro de todas as decisões e considerações realizadas ao SM. 5 - A estatística mostra que a qualquer grandeza medida ou estimada pode ser associada uma distribuição de probabilidade, o que permite calcular a dispersão e a expectativa de seu valor. Obs.: Quando não há informação disponível sobre a distribuição de probabilidade utiliza-se a distribuição retangular. Esta distribuição, quando aplicada para a resolução dos instrumentos possui outro valor de divisor. - Incerteza padronizada (u(y)): seu valor é obtido através de fórmulas e definições que são decorrentes da distribuição de probabilidade escolhida para uma dada grandeza de entrada, que interfere na medição (ex.: temperatura, histerese, erros geométricos, etc). - Coeficiente de sensibilidade (Cs): descreve quanto o valor de saída depende dos valores de entrada. Logo, seu valor é atribuído às grandezas de entrada, sendo multiplicado em cada incerteza padronizada já calculada. Para medições diretas considerar Cs = 1. - Incerteza combinada (uc(y)): consiste na relação de todas as incertezas padronizadas calculadas juntamente com seus coeficientes de sensibilidade, a partir da fórmula: nnyc CsuCsuCsuu ⋅++⋅+⋅= 2 2 2 21 2 1)( )(....)()( - Correção combinada dos erros sistêmicos (Cc): considera os possíveis erros sistêmicos de todas as incertezas consideradas. Seu valor consiste no somatório dos erros, e pode ser + ou - . - Fator de abrangência (K): número que ao ser multiplicado pela incerteza combinada fornece um intervalo maior (a incerteza expandida “U(y)”). Neste intervalo existiráalta probabilidade do valor verdadeiro convencional do mensurando estar contido, logo, a escolha deste fator depende do nível de confiança requerido. O valor de “K” deve ser escolhido da tabela de “t” de Student conforme o nível de confiança desejado (adotar 95,45%), e em função dos graus de liberdade efetivos (νeff), a partir da fórmula abaixo. Caso o valor de “νeff ” não coincida com os valores tabelados, deve- se interpolar ou escolher o valor inteiro inferior mais próximo. Onde: cu = valor da incerteza combinada; iu = valor de cada incerteza padronizada; iν = graus de liberdade de cada incerteza (caso a distribuição seja conhecida o grau de liberdade desta é infinito). 6 Coeficiente “t” de Student para probabilidade = 95,45% (valores arredondados). ν = νeff 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 t = K 13,97 4,53 3,31 2,87 2,65 2,52 2,43 2,37 2,32 2,28 2,25 ν = νeff 12 13 14 15 20 25 30 40 50 100 ∞ t = K 2,23 2,21 2,19 2,18 2,13 2,10 2,09 2,06 2,05 2,02 2,00 Outra maneira de definir o valor de “K”, com uma aproximação razoável, e considerando uma distribuição normal com 95,45% de confiança, é adotar K=2. Para situações mais críticas em que se exijam 99,73% de confiança, adota-se K=3. Algumas fórmulas para as incertezas padronizadas (u(y)) conforme sua fonte - Para padrões de referência e instrumentação: Distribuição: normal Fórmula: Ke Ueyu =)( - Para resolução dos instrumentos: a) Instrumentos digitais Distribuição: retangular (possui exceção no divisor de sua fórmula). Fórmula: 32 Re)( syu = b) Instrumentos analógicos Distribuição: triangular Fórmula: 6 10 Re )( s yu = - Para calibração dos instrumentos: a) Instrumentos que tenham calibração direta (ex. paquímetros, micrômetros, etc.) Distribuição: retangular Fórmula: 3 Re)( syu = b) Instrumentos que tenham calibração indireta (ex. relógios, manômetros, etc.) Distribuição: triangular Fórmula: 6 10 Re )( s yu = Sendo: Ue = incerteza expandida herdada do padrão de referência. Ke = fator de abrangência herdado do padrão de referência. Sendo: Res = valor da resolução do instrumento de medição. Sendo: Res = valor da resolução do instrumento de medição. Sendo: Res = valor da resolução do instrumento de medição. Sendo: Res = valor da resolução do instrumento de medição. 7 - Para erros sistemáticos (Es): - Para desvio padrão experimental de “n” medições: Distribuição: retangular Distribuição: normal (c/ exceção no divisor) Fórmula: 3 )( Esyu = Fórmula: n s yu x)()( = - Para linearidade de uma curva de correção: quando se utiliza uma equação de curva ideal e não a real: Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( Lyu = - Para histerese: Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( hyu = - Para deformação elástica: Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( Lyu ∆= - Para temperatura: Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( Lyu ∆= - Para erro de cosseno (ou do alinhamento): verificação do alinhamento entre o mensurando e o sistema de medição. Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( Ecyu = - Para erro geométrico: Distribuição: retangular Fórmula: 3 )( Egyu = Sendo: Es = valor dos erros sistemáticos. Sendo: L = valor da linearidade, dada pelo desvio entre a equação real e a ideal. Sendo: h = valor da histerese. Sendo: ∆L = variação da dimensão devido à deformação elástica. Sendo: ∆L = variação da dimensão devido à temperatura. ∆L = L . ∆α . ∆T Sendo: Ec = valor do desalinhamento. Sendo: Eg = valor do erro geométrico. Sendo: Es = valor dos erros sistemáticos. Sendo: s(x) = desvio padrão das “n” medições. 8 - Principais fontes de incertezas para alguns tipos de análise a) análise dimensional: • Incerteza do sistema de calibração ou padrão; • Estabilidade temporal do mensurando e/ou padrão; • Resolução do mensurando e/ou padrão; • Efeito da temperatura no mensurando e/ou padrão; • Erros de alinhamento (erro de cosseno); • Erros geométricos e matemáticos (arredondamento, ajuste de curva, tabelas de interpolação, etc.); • Incerteza do coeficiente de expansão do mensurando e/ou do padrão; • Incerteza das grandezas de influência que afetam a medição; • Sistema de fixação, vibração, etc. b) análise envolvendo pressão: • Incerteza do sistema de calibração ou padrão; • Incerteza do sistema de calibração e/ou do padrão; • Estabilidade temporal do sistema de calibração ou do padrão; • Resolução do sistema de calibração e/ou do padrão; • Efeito da temperatura no mensurando e/ou padrão; • Histerese do mensurando e/ou do padrão; • Erros matemáticos (arredondamento, ajuste de curva, tabelas de interpolação, etc.); • Incerteza na coluna líquida; • Simplificação do procedimento de medição, etc. c) análise envolvendo temperatura: • Incerteza do sistema de calibração e/ou do padrão; • Estabilidade temporal do mensurando e/ou do padrão; • Resolução do sistema de calibração e/ou do padrão; • Aquecimento (termoresistores); • Cabos de compensação e juntas de referência; • Estabilidade e uniformidade térmica do mensurando e/ou padrão; • Imersão parcial ou efeito da coluna emergente; • Erros matemáticos (arredondamento, ajuste de curva, tabelas de interpolação, etc.); • Interpolação matemática (curvas de ajuste, tabelas de referência), etc. d) análise envolvendo eletricidade: • Incerteza do sistema de calibração e/ou do padrão; • Estabilidade temporal do sistema de calibração e/ou do padrão; • Resolução do sistema de calibração e/ou do padrão; • Estabilidade do sistema de calibração em função das condições de operação; • Interconexão dos módulos do sistema de calibração; • Voltagens termo-elétricas; • Repetitividade devido aos conectores elétricos; • Erros matemáticos (arredondamento, ajuste de curva, tabelas de interpolação, truncamento); • Efeitos da impedância, etc. 9 Exercícios resolvidos: 1- Obtenha o resultado da medição (RM) e a incerteza expandida ( )( yU ) para um processo onde foram consideradas apenas 3 fontes de incertezas, que não apresentavam erros sistemáticos, e cujas respectivas incertezas padrão e número de graus de liberdade estão especificados abaixo. A média dos resultados das medições é igual a 120mm: Fonte de incerteza 1: u1 = 0,012mm e ν1 = 12 Fonte de incerteza 2: u2 = 0,006mm e ν2 = ∞ Fonte de incerteza 3: u3 = 0,008mm e ν3 = ∞ 1°) 2°) 3°) 4°) 5°) 2- Complete a tabela obtendo, a partir das fontes de incertezas listadas, o resultado da medição (RM) e a incerteza expandida ( )( yU ), para o seguinte processo: Medição de um padrão com comprimento de 75mm (parâmetros de calibração: Ke=2, Ue=0,025mm e ν=4), utilizando um paquímetro digital cuja resolução é igual a 0,001mm (histórico de calibração: Ke=2, Ue=0,001mm e ν=9). Foram realizadas 15 medições, resultando numa média de 75,170mm para o valor do mensurando. mmU U uKU y y ycy 033,0 0156,009,2 )( )( )(%45,95)( = ⋅= ⋅= 09,227,34 008,0006,0 12 012,00156,0 %45,95 4444 =→= ∞ + ∞ += Keff eff ν ν mmu u CsuCsuCsuu yc yc yc 0156,0 1)008,0(1)006,0(1)012,0( )()()( )( 222 )( 3 2 32 2 21 2 1)( = ⋅+⋅+⋅= ⋅+⋅+⋅= mmRM UYRM y 033,0120 )( ±= ±= mmY CcXY 120= ±= Resolução do paquímetro Incerteza herdada do paquímetro 0,001 Ue=0,001 Erro do paquímetro(toler.) 0,001 Diferença de temp. refer./meio Diferença de temp. padrão/paquím. Incerteza herdada do padrão Desvio padrão da média normal retang. retang. retang. normal Ke=2 retang. normal Ke=2 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 infinito infinito infinito infinito ν=14 ν =4 ν=9 Ue=0,025 0,005 0,003 0,02 3 32 15 3 3 mm mm 0,0003 0,0005 0,0006 0,0125 0,0029 0,0017 0,0052 0,014 NÃO ESPEC. 6,24 ≈ 6 2,52 0,035 mmRM UYRM y 035,0170,75 )( ±= ±=
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