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Histórico das Políticas de Alimentação e Nutrição no Brasil Profª. Márcia Virgínia B. Ribeiro Nutricionista Sanitarista CRN 6 - 3956 Para começar... 1. Quais as principais ações públicas na área de alimentação e nutrição que você conhece? 2. A área de alimentação e nutrição tem sido prioridade nas políticas públicas governamentais nas últimas décadas? Fome e Segurança Alimentar no Brasil • Papel ativo no debate internacional sobre estratégias globais de combate à fome e à miséria; • Na década 1930 ocorreu a incorporação da assistência alimentar às populações mais pobres às políticas públicas governamentais; • Os estudos de Josué de Castro apontam os flagelos sociais que a fome desencadeava em todo território nacional, em especial na Região Nordeste. Josué de Castro • A fome como fenômeno social e não meramente natural; • Necessidade de ações afirmativas para reverter esse cenário, com definição de políticas públicas; Josué de Castro A FOME E SUAS FACETAS: • Falta de renda – afeta a capacidade das famílias em suprir suas necessidades alimentares; • “Fome oculta” - a fome não está restrita ao número de proteínas e calorias, mas à carência de micronutrientes; • Reforma agrária – estratégia necessária para democratizar as terras e garantir à família soberania alimentar e integrá-las ao circuito econômico. Ações no governo Vargas: • 1939 – Criação do Serviço Central de Alimentação (SCA), no âmbito do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPi) ; • 1940 – Criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), ligado ao Ministério do Trabalho em substituição ao SCA; • A nova estrutura da SAPS entrou em crise a partir da destituição de Getúlio Vargas em 1945, até ser extinta em 1962; • 1945 – constituída a Comissão Nacional de Alimentação (CNA), que elaborou o I Plano Nacional de Alimentação e Nutrição em 1952, a partir de diagnóstico realizado pela própria comissão. Estruturas relacionadas à produção armazenagem e abastecimento de alimentos do Governo Federal: Sistema Nacional de Abastecimento Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL) Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem) Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) Ações no governo Militar: • 1972 – Criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), a partir da extinção da CNA, e foi considerado um dos “projetos de impacto” do governo militar – instituiu um conjunto de programas voltados para a população em situação de vulnerabilidade social; • 1973 – Lançamento do Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan), que devido a dificuldades de operação e irregularidades constatadas, durou até 1974; • 1976 – Lançamento do II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (II Pronan), com o objetivo de ser uma ação integrada entre os diversos organismos do estado; II Pronan 1975 -1979 • Marco na política de alimentação e nutrição do país - o primeiro a enfatizar a importância de se utilizar alimentos básicos nos programas alimentares, em detrimento dos produtos industrializados; • Apontou a necessidade de apoiar “pequenos produtores rurais, com vistas a elevação de renda do setor agrícola e ao aumento da produtividade da agricultura familiar”; • Para atendimento de algumas das suas diretrizes foi criado em 1976 o Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT; II PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT • Permite às empresas realizarem programas de alimentação de seus trabalhadores e deduzirem o dobro dos gastos efetuados no lucro tributável; • Tem como objetivo central melhorar as condições nutricionais dos trabalhadores, em especial os de baixa renda, evitando doenças e acidentes de trabalho, propiciando aumento da produtividade; Programa de educação alimentar (processo permanente) Resgate de mudanças desejáveis e aspectos positivos do atual padrão de consumo alimentar Melhoria do estado nutricional do trabalhador O INAN e a agricultura familiar: • Programa de Abastecimento de Alimentos Básicos em áreas de Baixa Renda (PROAB); • Projeto de Aquisição de Alimentos em áreas Rurais de Baixa Renda (PROCAB); • Criação de polos de compras para escoamento da produção em áreas rurais com a concentração de pequenos agricultores nos estados do Nordeste; • Como o INAN era ligado ao Ministério da Saúde, teve dificuldades na articulação institucional para integração de políticas do governo federal, e devido a diversos desgastes foi instinto em 1997; Ações nos governos Sarney e Collor: • 1986 – Lançamento do Programa Nacional de Leite para Crianças Carentes (PNLCC), distribuía tíquetes para que família carentes pudessem adquirir 30 litros de leite mensais no comércio local, programa desativado em 1992; • 1990 - ocorreu a unificação da Companhia de Financiamento da Produção (CFP), Cobal e Cibrazem na Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB); • Collor nomeou para presidente do INAN um representante da Associação de Indústria e Nutrição (Abin), o qual passou a priorizar os interesses dos produtores de alimentos industrializados nos programas do governo. Consolidação do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional • A década de 1980 e o início dos anos 1990 também marcaram a consolidação do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; • O termo surgiu oficialmente em 1985 com a elaboração da proposta de Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan) “que visava atender às necessidades alimentares da população e atingir a autossuficiência na produção de alimentos”; • O tema ganhou apelo popular com a realização da Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição (1986), que ocorreu em conjunto com a VIII Conferência Nacional de Saúde. 1ª Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição 1986 “A garantia, a todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna.” Proposições: -A cesta básica não deveria ultrapassar 20% do valor do SM; - Criação de subsídios para alimentação básica com a inclusão de alimentos regionais (fubá, farinha de mandioca, arroz e feijão); - Criação de um Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição e de um Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. Ações no governo Itamar Franco: • 1993 – Lançamento do Plano de Combate à Fome e à Miséria (PCFM), no intuito de articular as três instâncias de governo e a sociedade civil para auxiliar no redesenho de uma estratégia emergencial de governo para o combate à fome; • 1993 – Foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), ligado à Presidência da República, que subsidiou a elaboração do Plano Nacional de Combate à Fome e à Miséria, com propostas inovadoras: [...] a criação do Programa de Distribuição Emergencial de Alimentos (PRODEA). Seu fundamento era a distribuição de alimentos às populações carentes, sendo operacionalizado pela CONAB com participação dos governos estaduais e municipais e da sociedade civil, representada pelas comissões municipais de alimentação. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA • O CONSEA auxiliou no redesenho da estratégiagovernamental de atuação nessa área, tendo como principais avanços: - retorno do programa de distribuição de leite (crianças e gestantes em risco nutricional); - distribuição descentralizada da merenda escolar; - fornecimento de estoques de alimentos do governo para mais de 2 milhões de famílias atingidas pela seca. • Destaca-se também neste período o aumento dos recursos financeiros destinados aos programas, que em 1994 dobraram em relação ao ano anterior, alcançando valores próximos a US$ 0,5 bilhão. Organizações Sociais e Segurança Alimentar e Nutricional • Todas essas ações foram fortemente influenciadas pela atuação das organizações sociais , com destaque à época para o Movimento Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, sob liderança do sociólogo Herbert de Souza. Ações no governo Itamar Franco: • 1994 – Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que definia as diretrizes para atuação do estado em seu dever de garantir o atendimento adequado às necessidades básicas dos indivíduos; • Em julho de 1994 foi realizada a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar (I CNSA), cujo tema central foi Fome, questão nacional. • Dentre as deliberações expostas no relatório final da Conferência, exprimia-se “a preocupação com a concentração de renda e de terra, vista como um dos principais determinantes da fome e da miséria no país”. Ações no governo Fernando Henrique: • 1995 – Lançamento do Programa Comunidade Solidária (PCS), criado para ser a principal estratégia no campo do combate à pobreza e à fome; • A criação do PCS resultou na extinção de uma série de estruturas de governo ligadas à temática alimentar e nutricional, entre elas o CONSEA, em seu lugar foi criado o Conselho da Comunidade Solidária; • O PCS foi concebido sob as diretrizes da focalização e da busca pela eficiência da ação do Estado e desoneração do orçamento público – extinção de órgãos do governo e serviços sociais transferidos para o “terceiro setor”. Ações no governo Fernando Henrique: • As ações desencadeadas pelo PCS se mostraram de cunho emergencial e preventivo às causas da perpetuação da pobreza, sem apresentar uma ação essencialmente estruturante; • 1999 – Lançados o Programa Comunidade Ativa (PCA), considerado uma nova roupagem do PCS e o Programa de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável (DLIS), que consistia em planejamento participativo local, em que as potencialidades específicas dos municípios fossem mobilizadas com apoio de parceiros; Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN 1999 • Uma das ações dignas de destaque foi a aprovação da PNAN em 1999, fruto do esforço de um pequeno grupo de técnicos remanescentes do INAN, aproveitando-se do momento de preparação da Conferência Mundial de Alimentação, em 1996; • No final de 1997, o tema alimentação e nutrição foi escolhido para integrar um processo de formulação de políticas inseridas no Sistema Único de Saúde, que montou um grupo técnico para elaboração da PNAN; • A versão preliminar foi discutida com vários atores da sociedade civil, diferentes órgão do governo e organismos internacionais, como a OPAS. Programas de Transferência de Renda - 2000 • O novo cenário de estabilização monetária advindo do Plano Real, permitiu que o governo adotasse uma série de programas de transferência direta de renda, como uma estratégia de fazer chegar recursos, de forma emergencial, à população extremamente pobre; Foram implementados: -Programa Bolsa Alimentação, pelo Ministério da Saúde, que visava ao atendimento de crianças menores de 6 anos e gestantes de baixa renda; - Vale gás, pelo Ministério das Minas e Energia; - Bolsa Escola, pelo Ministério da Educação. Ações no governo Lula: • Em 2003, uma nova “janela de oportunidades” se abriu para as políticas de SAN com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva; • Início da construção de um novo referencial que legitimasse uma atuação governamental mais contundente sobre a segurança alimentar e o combate à extrema pobreza no país; • O resultado foi um série de articulações institucionais que se materializaram em novas políticas públicas, na constituição de novas estruturas e garantia de orçamento próprio; O Programa Fome Zero e a nova estratégia integrada de governo • Nos primeiros dia de governo, o presidente Lula lançou o Programa Fome Zero (PFZ), como uma inciativa de articulação interministerial de ações de curto, médio e longo prazo, voltadas à garantia de segurança alimentar e ao combate a pobreza; Principais mudanças institucionais do PFZ: a) A recriação do CONSEA, como órgão de assessoramento da Presidência da República; b) A criação de uma assessoria especial da Presidência da República para cuidar do processo de mobilização popular para o combate à fome; c) A criação de um Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (Mesa), para formular e implantar políticas de segurança alimentar. PROGRAMA FOME ZERO - PFZ O Programa Fome Zero parte do pressuposto que o acesso à alimentação adequada é um direito inalienável do ser humano. O objetivo principal deste programa foi propor um conjunto integrado de políticas com o objetivo de garantir a segurança alimentar. Uma outra premissa relevante é que tais políticas devem articular necessariamente ações de natureza emergencial com ações estruturais. O Programa Fome Zero e as políticas emergenciais As políticas emergenciais concretizam-se em programas e ações públicos dirigidos a grupos populacionais específicos, com o objetivo de enfrentar carências alimentares e nutricionais, qualificadas como medidas assistenciais de natureza compensatória. Atualmente as políticas emergenciais de segurança alimentar são indispensáveis para o enfrentamento de problemas que não podem esperar o tempo de resposta das medidas estruturais. O Programa Fome Zero e as políticas emergenciais As medidas emergenciais devem trazer obrigatoriamente componentes ligados a uma transformação estrutural das condições geradoras das situações que as produzem e justificam. Ou seja, políticas dessa natureza devem ser: a) educativas, em relação aos hábitos e práticas alimentares; b) organizativas, para a defesa dos direitos de cidadania; c) emancipadoras, visando a promover a autonomia e não a dependência dos beneficiários. Ações no governo Lula: A atuação do governo federal na gestão do presidente Lula no campo da SAN, pode ser apresentada por uma estratégia operacional baseada em seis linhas de atuação governamental: Transferência de Renda Compras Públicas Programas de apoio Participação popular Articulação territorial Consolidação institucional Programas de transferência de renda Reestruturação e fortalecimento dos programas de transferência de renda às famílias em situação de pobreza • Programa Nacional de Acesso à Alimentação – Cartão alimentação: Objetivo: gerar uma ampla demanda por alimentos e, em decorrência disto, aumentar a geração de emprego e renda por meio da maior circulação de moeda e da produção local de alimentos. Execução: criação de Comitês Gestores para seleção das famílias beneficiadas. Essas família recebiam R$ 50,00 (Caixa Econômica Federal) para aquisição de alimentos, valor estimado na época pela CONAB como necessário para aquisição de uma cesta básica. Programas de transferência de renda Em outubro de 2003 o Governo Federal modifica a estratégia com o lançamento do Programa de Transferência Diretade Renda com Condicionalidades, conhecido como Programa Bolsa Família. Para sua gestão foi criado o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que surgiu da fusão do Mesa, do Ministério da Ação Social (MAS) e da Secretaria Executiva do PBF. Programa Bolsa Família (PBF) Desde a sua implantação o PBF se consolidou como principal ação do governo para o combate à fome e à miséria no país, englobando todos os programas de transferência de renda em curso até então: Bolsa Escola, Auxílio Gás e Cartão Alimentação. A migração dos beneficiários desses programas para o PBF ocorreu de forma progressiva a partir de 2004, sendo cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). Programa Bolsa Família (PBF) Decreto n° 5.209 de 17/09/2004 Art. 4° Os objetivos básicos do Programa Bolsa Família em relação aos seus beneficiários são: I – promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, de saúde, educação e assistência social; II – combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; III – estimular a emancipação sustentada das famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza; IV – combater a pobreza; e V - promover a intersetorialidade, a complementariedade e a sinergia das ações sociais do Poder Público. Referências ARRURA, Bertoldo Kruse Grande de; ARRUDA, Ilma Kruse Grande de. Marcos referenciais da trajetória das políticas de alimentação e nutrição no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, n. 3, 2007. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Textos para discussão. A Trajetória Histórica da Segurança Alimentar e Nutricional na Agenda Política Nacional: projetos, descontinuidades e consolidação. Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, 2014. Para refletir... 1. Ao longo dos períodos da história do país, diversas ações na área de alimentação e nutrição foram adotadas. Quais as principais características dessas ações? 2. Descreva quais os principais avanços e os desafios para as políticas na área de alimentação de nutrição na atualidade.
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