Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ Coordenação do Curso de Direito DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL I. Professor: João Guilherme Lages Mendes. Assunto: Do Inquérito Policial. Noções Gerais. Características. Desenvolvimento e conclusão. Polícia Judiciária e controle externo pelo Ministério Público. Conceito: Procedimento administrativo preliminar, objetivando identificar o autor do ilícito e colher os elementos materiais da infração penal para fundamentar a opinio delicti do titular da ação penal. Para ANTÔNIO SCARANCE FERNANDES, o IP “É um conjunto de atos praticados por autoridade administrativa, não configuradores de um processo administrativo” (Processo Penal Constitucional. 5ª ed. São Paulo : RT, 2007, p. 70). O autor não vê o IP como procedimento administrativo por faltar-lhe a característica essencial do procedimento, ou seja, a formação por atos que devam obedecer a uma seqüência predeterminada pela lei, em que, após a prática de um ato, passa-se a do seguinte até o último da série, numa ordem a ser necessariamente observada Competência: Polícia Judiciária – Delegados de Polícia (art. 4º do CPP). Ressalvadas as situações do parágrafo único deste dispositivo A Polícia Administrativa Ostensiva/Preventiva não tem competência para investigar No Brasil o Ministério Público está autorizado a promover a investigação criminal? STF HC 84548 e HC 91661 STJ - APN 398 Notícias Conjur de 20/10/2009. Objetivo: Apurar um fato que configure infração penal e respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às providências cautelares. Importância: Serve para iniciar a ação penal; Primeiro contato com o fato criminoso; Coleta de provas que não mais se realizarão. Destinatários: a) Imediato: Promotor de Justiça ou Ofendido; b) Mediato: Juiz Valor Probatório: Seu valor como prova é relativo; não se pode condenar o réu com base apenas em suas conclusões (art. 155 do CPP) Pelo princípio do livre convencimento o Juiz buscará elementos no IP para fundamentar a sentença. Mas, deve sempre demonstrar pela análise conjunta de outros elementos probatórios que as diligências policiais foram idôneas a finalizar suas conclusões, não foram viciadas. Para que o IP tenha valor é preciso que as provas nele acostadas passem pelo crivo do contraditório e da ampla defesa. Vícios: Os vícios diminuem o valor do IP (não apreender todos os objetos relacionados com a infração ou não pregressar o indiciado, p. ex.), invalidam alguns atos (flagrante, p.ex.), mas nulidades a priori não existem, pois eventuais irregularidades poderão ser ratificadas na fase de instrução processual onde os atos praticados se submeterão ao crivo do contraditório Características: a) Procedimento discricionário: Conduzido por autoridade policial, que ordenará as diligências que julgar necessárias à apuração da infração penal. b) Procedimento escrito: Art. 9º. c) Procedimento inquisitivo: Não existe contraditório ou ampla defesa. Tendência do direito processual moderno é assegurar a ampla defesa e o contraditório (STF HC 36.813-MG, DJ 5/8/2004; HC 44.305-SP, DJ 4/6/2007, e HC 44.165-RS, DJ 23/4/2007. HC 69.405-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 23/10/2007) Inquérito policial e princípio do contraditório: Após o indiciamento não se pode negar que surge conflito de interesse com litigantes (CF, art. 5º, LV). “Por isto, se não houver contraditório, os elementos probatórios do inquérito não poderão ser aproveitados no processo, salvo quando se tratar de provas antecipadas, de natureza cautelar (como o exame de corpo de delito), em que o contraditório é diferido. Além disso, os direitos fundamentais do indiciado hão de ser plenamente tutelados no inquérito” (GRINOVER, Teoria Geral do Processo, p. 57). “Há, sem dúvida, necessidade de se admitir a atuação da defesa na investigação, ainda que não se exija o contraditório, ou seja, ainda que não se imponha a necessidade de prévia intimação dos atos a serem realizados. Não se trata de defesa ampla, mas limitada ao resguardo dos interesses mais relevantes do suspeito, como o requerimento de diligências, o pedido de liberdade provisória, de relaxamento de flagrante, a impetração de HC” (FERNANDES, Antônio Scarance. Processo Penal Constitucional. 5ª ed. São Paulo : RT, 2007, p. 70). FREITAS, Marcelo Eduardo. O direito do indiciado a uma investigação defensiva e contraditória no inquérito policial. Disponível em: www.ibccrim.org.br. Acesso em: 03 fev. de 2009. d) Procedimento sigiloso: Art. 20. O sigilo tem duplo aspecto: A) Externo: O inquérito policial deve assegurar o direito à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do investigado, e da vítima, nos termos do art. 5º, X, da CF/88 (e tb. do art. 201, § 6º do CPP), por que milita em favor de qualquer pessoa a presunção de inocência enquanto não sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (CF, art. 5º, LVII). Ademais, a divulgação da linha de investigação, dos fatos a serem investigados, das provas já reunidas etc. muito provavelmente atrapalharia sobremaneira o resultado final do inquérito. Sob este aspecto deve-se limitar o espetaculismo, a publicidade dos atos de investigação, vedando o acesso a qualquer do povo aos elementos colhidos no IP; B) Interno: Que impossibilita o indiciado tomar ciência das diligências pendentes de realização. Neste aspecto importante as observações acerca do conflito entre o sigilo do IP e o direito de o Advogado ter acesso aos autos (Art. 7º, inciso XIV da Lei nº 8.906/94). Cabe à autoridade policial assegurar o sigilo necessário para a elucidação do fato sem perder de vista que é preciso conciliar os interesses da investigação com o direito de informação do investigado e, consequentemente, de seu advogado de ter acesso ao inquérito, para que sejam preservadas suas garantias constitucionais (STJ - STJ - HC 66.304-SP) Decretando-se o segredo de justiça o sigilo será absoluto (Ex.: interceptação de comunicação telefônica (Lei nº 9296/96)); combate a organizações criminosas (Lei nº 9034/95). O sigilo não será absoluto para juízes, promotores e advogados que terão acesso ao IP (art. 7º, XIII a XV, e § 1º do EOAB). Súmula vinculante nº 14 STF em favor da prerrogativa do Advogado HC nº 88.190, HC 95.009, etc Nesse caso - dilema: Necessidade do sigilo X Garantia do Contraditório = Contraditório diferido ou postergado. e) Obrigatoriedade: Sempre que receber a notitia criminis a autoridade policial deverá instaurar o IP para sua investigação Exceções: quando o fato não for crime; quando estiver extinta a punibilidade; quando a autoridade policial for incompetente ou por insuficiência de dados. Deve prevalecer o bom senso da autoridade policial Causas de exclusão da antijuridicidade devem ser apreciadas pelo juiz natural f) Indisponibilidade: A autoridade policial não pode mandar arquivar o IP (art. 17). g) Indispensabilidade/Dispensabilidade: O IP tem apenas caráter informativo. É indispensável se servir de base à denúncia ou à queixa. Fora dessas situações é dispensável (Ex.: IPM’s; Inquérito Parlamentares; Inquéritos Civis, etc) h) Oficialidade ou autoridade: Os Delegados de Polícia são as autoridades que devem presidir o IP (CF, art. 144, § 4º). Ainda quando a titularidade da ação penal é atribuída ao particular ofendido (ação penal privada), não cabe a este a efetuação dos procedimentos investigatórios. O MP pode realizar e/ou presidir diretamente investigação criminal? (STF- Inquérito 1968; STF - HC 84.548). Controle externo da atividade policial pelo MP: função institucional do Ministério Público:Art. 129, VII, da CF. i) Oficiosidade: De regra, ocorrida a infração a autoridade policial não precisará de autorização para começar a investigar. Só precisará de autorização do ofendido ou da vítima nas ações públicas condicionadas e nas privadas. Início do IP: Art. 5º do CPP Notitia Criminis – Notícia do crime. AÇÃO PENAL PÚBLICA: artigos correspondentes - 5º, §§ 1º, 2º, 3º e 4º. De ofício (art. 5º, I): BO1: O Delegado toma conhecimento e baixa a Portaria sem qualquer provocação Requisição (ordem): Do Juiz ou do M.P (art. 5º, II, primeira parte) Do Ministro da Justiça (Ex.: crimes contra a honra do Presidente ou chefes de governo estrangeiro e delitos praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil) Requerimento do ofendido ou seu representante: Art. 5º, II, segunda parte Exs.: crimes contra os costumes; perigo de contágio venério; ameaça Comunicação de qualquer pessoa: (verbalmente ou por escrito) - § 3º Denúncia anônima Representação, nos crimes de Ação pública condicionada: (§ 5º) Flagrante delito: art. 8º do CPP AÇÃO PENAL PRIVADA: Artigo correspondente - 5º, § 5º do C.P.P. ATENÇÃO: NOS CASOS DE CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO E CRIMES DE AÇÃO PRIVADA, O FLAGRANTE E O INÍCIO DO IP DEPENDEM NECESSARIAMENTE DA MANIFESTAÇÃO DO OFENDIDO OU SEU REPRESENTANTE LEGAL. SEM ESTA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE NÃO SE PODE LAVRAR FLAGRANTE NEM INSTAURAR INQUÉRITO POLICIAL (art. 5º, §§ 4º e 5º). Ex.: Grafite do São Paulo IGUAL RACIOCÍNIO PARA OS CASOS DE AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA A REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA, CASO EM QUE O IP SÓ PODE INICIAR DEPOIS DESTA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE QUE É A REQUISIÇÃO MINISTERIAL. Desenvolvimento do IP: Diligências que o delegado deve fazer ao instaurar o IP: Art. 6º Reprodução Simulada dos Fatos: Art. 7º Incomunicabilidade do indiciado Art. 21 Não se admite mais a incomunicabilidade em face da garantia do art. 5º, LXIII, da CF. 1 - Cf. § 3º. Incomunicabilidade e Estado de Defesa: CF, art. 136, § 3º, IV Outras atribuições do Delegado de Polícia: Arts. 13, 22 Encerramento do IP: Relatório: Art. 10, § 1º Prazo: Art. 10, caput. Há prazos especiais (Ex.: Tóxicos – 30+30 ou 90+90 – art. 51) CF, art. 5º, LXXVIII – Duração razoável do processo Remessa ao juiz ou ao MP Nas ações privadas, aguardará em cartório a iniciativa do ofendido: Art. 19. Pedido de dilação de prazo: Art. 10, § 3º - só em caso de réu solto CPP projetado: TÍTULO II - DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II - DO JUIZ DAS GARANTIAS Art. 15. Responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais, competindo-lhe I – receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do art. 5º da Constituição da República; II – receber o auto da prisão em flagrante, para efeito do disposto no art. 543; III – zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido a sua presença; IV – ser informado da abertura de qualquer inquérito policial; V – decidir sobre o pedido de prisão provisória ou outra medida cautelar; VI – prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las; VII – decidir sobre o pedido de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa; VIII – prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em atenção às razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no parágrafo único deste artigo; IX – determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento; X – requisitar documentos, laudos e informações da autoridade policial sobre o andamento da investigação; XII – decidir sobre os pedidos de: a) interceptação telefônica ou do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática; b) quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico; c) busca e apreensão domiciliar; d) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado. XIII – julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia; XIV – outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo. Parágrafo único. Estando o investigado preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar a duração do inquérito por período único de 10 (dez) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será revogada. Art. 16. Competência que abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo e cessa com a propositura da ação penal, cujas decisões não vinculam o juiz do processo que, após o oferecimento da denúncia, poderá reexaminar a necessidade das medidas CAPÍTULO III - DO INQUÉRITO POLICIAL Seção I - Disposição preliminar Seção II - Da abertura Art. 23. Havendo indícios de que a infração penal foi praticada por policial, ou tendo a sua participação, a autoridade comunicará imediatamente a ocorrência à respectiva corregedoria- geral de polícia, para as providências disciplinares cabíveis, e ao Ministério Público. Seção III - Das diligências investigativas Art. 26. Incumbirá ainda à autoridade policial: I – informar a vítima de seus direitos e encaminhá-la, caso seja necessário, aos serviços de saúde e programas assistenciais disponíveis; Art. 27. A vítima, ou seu representante legal, e o investigado poderão requerer a realização de qualquer diligência, que será efetuada, quando reconhecida a sua necessidade (despacho fundametnado), cabendo recurso em caso de indeferimento. §2º A autoridade policial comunicará a vítima dos atos relativos à prisão, soltura do investigado e conclusão do inquérito. Art. 30. §1º Registro da prova oral por escrito ou mediante gravação de áudio ou vídeo Seção IV - Do indiciamento Seção V - Prazos de conclusão 90 (noventa) dias, estando o investigado solto. 10 (dez) dias, se o investigado estiver preso. Caso a investigação não seja encerrada neste prazo a prisão será revogada, exceto na hipótese de prorrogação autorizada pelo juiz das garantias. Seção VI - Do relatório e remessa dos autos ao Ministério Público Art. 35. Ao receber os autos do inquérito, o Ministério Público poderá determinar o arquivamento da investigação, seja por insuficiência de elementos de convicção ou por outras razões de direito, seja, ainda, com fundamento na provável superveniência de prescrição que torne inviável a aplicação da lei penal no caso concreto, tendo em vista as circunstâncias objetivas e subjetivas que orientarão a fixação da pena. Recurso para o próprio MP. Seção VII - Do arquivamento CAPÍTULO IV - DA IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL Bibliografia recomendada: Artigo “O exame do IP pelo advogado, de LUIZ FLÁVIO BORGES DÚRSO, in Boletim do IBCCRIM, nº 67, jun. 1998. Artigo do Boletim IBCCRIM nº 49 - Dezembro / 1996. O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL. LIMONGI, Mário de Magalhães Papaterra. O controle externo da atividade policial. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.49, p. 06-07, dez. 1996. Promotor de justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais de São Paulo. AZKOUL, Marco Antonio. O controle externo da atividade policial. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.8, n.89, p. 13-14, abril 2000. Delegado de Polícia em São Paulo, mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP, professor de TGE (Ciências Políticas) da UNIB e jornalista, com tese de doutoramento, aprovado peloEstado do Vaticano em Roma. FÓRUM IBCCRIM - O Delegado de Polícia e o Sistema de Justiça Criminal, Edson Luís Baldan - Delegado de Polícia em exercício na Academia de Polícia Civil de São Paulo, Mestre e Doutorando em Direto Penal pela PUC/SP, Especialista em Direito Penal pela Escola do Ministério Público de São Paulo e Pós-graduado em Direito Penal pelas Universidades de Salamanca e Toledo/Espanha MARCOCHI, Marcelo Amaral Colpaert. Breve escólio histórico acerca do inquérito policial Disponível na internet: www.ibccrim.org.br, 19.04.2004. “O trancamento do IP pela falta de razoabilidade no prazo de sua duração”, por Délio Lins e Silva Júnior, em Boletim do IBCCrim 160, março/06, p. 4/5.
Compartilhar