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História da Legítima Defesa (parte de um trabalho)

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HISTÓRIA.
Não há um consenso plenamente formado, sem dúbia, da origem do termo, nem da aplicação criminal, como espécie de exclusão da ilicitude. Muitos doutrinadores debruçam-se na concepção de que a legítima defesa é inerente, natural, instintiva, um caráter intrínseco à conduta humana. Alguns desses juristas, como Geib, inclusive afirmam que a ideia de impunidade do agente praticante do fato em defesa própria é remota, reconhecida praticamente em toda a história humana, inclusive dentre os bárbaros.[1: PÉREZ, L. C., Tratado de derecho penal, Ed. Temis, Bogotá, 1967, p. 159.]
Entretanto, em uma abordagem filosófica sobre o surgimento do Estado, pode-se observar o surgimento do instituto na medida em que o Estado reclamou para si a responsabilidade de punir sujeitos de direito por condutas, públicas ou privadas, consideradas socialmente repudiáveis. Foi a partir do momento que o ente estatal tomou as rédeas das punições que os cidadãos comuns à sociedade começaram a verificar a necessidade de uma previsão legal para a salvaguarda dos seus bens jurídicos por mãos particulares, diante, até certo ponto, da impossibilidade do público zelar por todos os seus contribuintes de maneira igualitária e justa .[2: JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal .São Paulo: Saraiva, 1999, p. 381.]
Para a análise histórica do instituto, faz-se necessário o compulsar os primeiros registros das mais notórias doutrinas históricas de direito (Direito Romano, Direito Germânico e Direito Canônico). 
Direito Romano
Sob uma perspectiva concreta e exata, a origem escrita, tratada em lei, veio no direito romano, que admitia o instituto sobretudo para a preservação e conservação do status quo. Como trata Teles:[3: GAIO: “adversuspericulimnaturalisratiopermittit se defendere”.ULPIANO: “vim vi repellerelicet que ius natura comparatur”.PAOLO: “vim vi repellerelicet omnes legesomniaqueiurapermittunt”][4: TELES, Moura Ney. Direito Penal. São Paulo: Atlas, 1998, p. 236	.]
 "No direito Romano, verifica-se a presença da legítima defesa, autorizada para a proteção da vida, da integridade física e da liberdade sexual, diante, em certos casos, até mesmo do justo receio de ataque" 
Naquela atmosfera jurídica, haviam distinções entre a legítima defesa preventiva e a reativa. A primeira delas era tratada visando o dano iminente, aquele que estava por vir, porém não se concretizou, portanto não é atual, já a segunda situa-se como uma consequência imediata da ofensa. O adágio “é permitido repelir força pela força”, aplicável até os dias de hoje, datava dos tempos de direito romano, com Justiniano. O conceito foi se especializando com o andar das eras jurídicas.
Além disso, o direito romano se preocupou em limitar a legitima defesa em muitos casos, punindo expressamente a vingança privada, que considerada ilícita. No entanto tolerava a morte, por exemplo, de ladrões noturnos (já que não era sabido o tamanho da ofensa potencial que eles poderiam causar), quando em zonas rurais (já que entende-se a impotência do Estado de manejar as demandas individuais em lugares distantes dos centros), de escravos para salvaguardar a própria vida e nos demais casos em que era evidente o risco à perda da vida.[5:  LINHARES, Marcelo J. Legítima Defesa. São Paulo: Saraiva, 1975, p.18]
Nesse direito também há tolerância à defesa de terceiros, sendo indispensável a incidência do vínculo entre defensor e defendido.
Direito Germânico 
No direito germânico, há a descaracterização legislativa da legítima defesa. Com isso, os aspectos da defesa legitimada tangenciaram a vingança privada, com a possibilidade de perseguição a criminosos e eventual assassinato dos mesmos (pelo ofendido ou seus famíliares) sem sanções estatais.[6: FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. História do direito penal: Crime Natural e crime de plástico. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 40.]
Pode-se afirmar, portanto, que o direito germânico negligenciou o instituto em relação aos romanos, que além de prever em seu ordenamento, amparavam limites à conduta. 
Constata-se que houve uma supervalorização do quesito religioso no período em tela, consoante ao fato de que a justiça era vista “aos olhos de Deus”. Para tal, entendia-se que a maneira ideal de comprovação de inocência de um sujeito era a sobrevivência em batalha. Por esse motivo, o assassinato de infratores não era considerado errado se fosse consumado pelas vítimas e seus parentes (ainda que sem nexo temporal), pois supostamente Deus tinha escolhido tal destino para o criminoso.
A Lei de talião norteou o estigma vingativo no tempo. No direito germânico, a máxima “olho por olho, dente por dente” era válida para fins de legítima defesa inclusive para a morte, por familiares do sujeito vítima de assassinato, de familiares do assassino. A reparação de dano sob véus privados tomou imensa força, transformando a punição social de infratores absolutamente elástica e absurda.
Entretanto, há de ser mencionado que o direito germânico punia assassinos e fazia seus próprios juízos de valores (com base na cultura vigente) acerca da diferenciação de delinquentes e exequentes do próprio direito à defesa.[7: LINHARES, Marcelo J. Legítima Defesa. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 24 e ss.]
Direito Canônico
O direito canônico foi marcado, por intensa força da Igreja Católica, como um período de valência à moral, bons costumes, a paz e justiça. Algumas das contribuições para o direito dos dias de hoje está no sistema carcerário e composição pecuniária com caráter de pena, com o fim de atingir o escopo da lei penal. O instituto da legítima defesa foi tipificado, limitado e enrijecido, com tolerância à morte do infrator apenas em casos extremos. 
Apesar de colidir com as máximas da igreja de perdão e caridade, a legítima defesa era admitida em casos de escassa tutela social da autoridade e quando a defesa pessoal se projetasse como direito natural do ofendido. 
O decreto graciano, definidor de secção dessa era legislativa, tipificou o preceito como “reação violenta individual para defender-se e defender os direitos próprios contra um agressor que, ao menos materialmente, é injusto”. Depreende-se do trecho supra que, diferentemente do direito romano e germânico, não era permitido a defesa de terceiros contra direitos próprios.[8: REGATILLO apud LINHARES, Marcelo J. Legítima Defesa. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 29.]
Ainda que tipificado, compulsa-se que o direito, à época, pautava-se sobretudo nas normas religiosas, prevalecendo, no sopesar, o Juízo moral e religioso ao subscrito no diploma legal. Observa-se que o ideário canônico objetivou premiar a resposta proporcional, com o conceito de meios necessários e o excesso. No caso, ressalta-se que era preferível a fuga à resposta. [9: VERGARA, Pedro. Da Legítima defesa subjetiva, 3. ed.São Paulo: Freitas Bastos, 1961, p. 93.]
Por fim, informa-se que o direito canônico não contemplava o direito à defesa da honra, de pais contra filhos, de alunos contra professores, de condenados contra os executores da justiça e, em alguns casos, sequer vislumbrava a defesa do patrimônio, admitindo apenas quando atinente à bens insubstituíveis, de relevante valor e irrecuperáveis .[10: ALMADA, Celio de Melo. Legitima defesa: legislação, doutrina, jurisprudência e processo. São Paulo: José Bushatsky, 1958, p.39.]
Colocar essas fontes tbm (não sei colocar padrão abnt)
http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/1691/legitima_defesa_propria_e_de_terceiros
http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16252#_ftn31

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