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Curso de Farmácia Disciplina: FARMACOGNOSIA Prof. Maria Solange Francos Agradecimento especial às colaborações da Profa. Me.Patricia Nancy Iser-Bem AULAS 24, 25, 26 e 27 Parte 1 - GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS GLICOSÍDEOS Compostos orgânicos, geralmente de origem vegetal, constituídos por uma porção de açúcar ligada a um agrupamento não-açúcar. O açúcar é chamado porção glicona, enquanto que a porção não-açúcar é chamada aglicona ou genina. Esta é a responsável pela ação terapêutica. • Têm gosto amargo. • Há vários tipos de glicosídeos na natureza: cardioativos, alcoólicos, cianogenéticos, antraquinônicos, flavonóides, saponínicos, cumarínicos, dentre outros. GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Grupo químico perfeitamente individualizado e de grande homogeneidade estrutural e farmacológica (SIMÕES, 2003). • Ocorrem como glicosídeos esteroidais e, devido à ação sobre o músculo cardíaco, são denominados glicosídeos cardioativos ou cardíacos. • O termo digitálicos também é atribuído a estas substâncias devido aos mais importantes representantes da classe serem extraídos de espécies do gênero Digitalis sp. ORIGEM • Séculos antes da Era Cristã vários povos já conheciam extratos de diversas plantas que continham glicosídeos cardioativos, utilizando-as pelos efeitos DIURÉTICO, TÔNICO CARDÍACO e EMÉTICO. • 1799 Ferriar atribuiu, de forma pioneira, a ação cardiotônica às substâncias extraídas da planta dedadeira (Digitalis purpurea). • Ásia e África utilizados como base de venenos de flexas para guerra e caça devido aos efeitos tóxicos sobre animais. • Início do Século XX elucidação estrutural e perfil farmacológico dos glicosídeos digitálicos e, nos últimos 70 anos, definição de seu emprego no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. DISTRIBUIÇÃO NA NATUREZA • No Reino Vegetal glicosídeos cardioativos restritos às angiospermas (plantas com flores e frutos). • Distribuição restrita e esporádica (ocorre em dezenas de gêneros e concentram-se nas famílias Scrophulariaceae, Asclepiadaceae, Apocynaceae, Liliaceae, Ranunculaceae, Moraceae e Tiliaceae). • Todos os órgãos dessas plantas podem conter glicosídeos cardioativos, com porcentagens inferiores a 1%. • No Reino Animal encontrados excepcionalmente, em algumas espécies de anfíbios (Bufos spp.) e lepidópteros (lagartas). • Geralmente atuam como toxinas na proteção contra predadores. Nos lepidópteros, os glicosídeos cardioativos são derivados de plantas da família Asclepiadaceae, fonte de alimentação desses animais. EXEMPLOS DE PLANTAS QUE CONTÊM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS Digitalis purpurea (dedaleira) Scrophulariaceae Asclepias curassavica (oficial-de-sala) Asclepiadaceae Nerium oleander (espirradeira) Apocynaceae Thevetia peruviana (chapéu-de- Napoleão) Apocynaceae Urginea maritima (cila) Asphodelaceae Helleborus sp. (heléboro) Ranunculaceae EXEMPLOS DE ANIMAIS ONDE SÃO ENCONTRADOS GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS Phyllomedusa camba , conhecida como rã-verde. Presença de glicosídeos cardioativos. Estudo por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí. http://www.leg.ufpi.br/noticia.php?id=30338 Lagarta de Danaus plexippus, conhecida como borboleta-monarca em uma planta da família Asclepiadaceae. https://borboletasbr.blogspot.com.br/2011/02/monarca- em-asclepias-physocarpa.html ESTRUTURA QUÍMICA Os glicosídeos cardioativos são substâncias esteroidais com um característico esqueleto carbônico de 17 átomos, conhecido como ciclopentanoperidrofenantreno, unidades de açúcares a ele ligadas e um anel lactônico. Assim sendo, a estrutura química dos glicosídeos cardioativos é constituída de 3 partes fundamentais, sendo também denominados heterosídeos: • Núcleo esteroidal • Anel lactônico • Resíduos de açúcar ESTRUTURA QUÍMICA Para que os glicosídeos cardioativos apresentem sua atividade, é necessária, obrigatoriamente, a presença dos seguintes grupos no núcleo esteroidal: • Duas metilas (CH3) em C-10 e C-13. • Duas hidroxilas (OH) em C-3 e C-14. • Um hidrogênio (H) ou uma hidroxila (OH) em C-5. • Um anel lactônico insaturado em C-17, que pode conter 4 ou 5 átomos de carbono. • Uma a três moléculas de açúcar ligadas ao C-3. ESTRUTURA QUÍMICA CLASSIFICAÇÃO DOS GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS EM RELAÇÃO ÀS AGLICONAS (GENINAS) Todas as geninas têm em comum o esqueleto tetracíclico dos esteróides. As geninas são divididas em dois grupos, de acordo com o anel lactônico insaturado ligado ao C-17: Cardenólido com anel lactônico de 4 carbonos. Bufadienólido com anel lactônico formado por 5 carbonos. Encontrado no gênero Bufos (anfíbio). Os glicosídeos do grupo cardenólido são os mais importantes na Medicina. Mais comuns nos vegetais. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DOS GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Solubilidade em água depende do número de hidroxilas presentes na parte glicídica. • Ligeiramente solúveis em etanol e clorofórmio. • Insolúveis em solventes orgânicos apolares (benzeno, éter). • Agliconas (geninas) livres insolúveis em água e solúveis em álcool e clorofórmio. • Anel lactona confere sabor amargo e instabilidade em meio alcalino. • Polaridade da molécula depende da presença ou ausência de hidroxilas suplementares, que determinam o grau de lipofilia e definem sua farmacocinética. EXEMPLOS • Digitoxina (possui genina com somente uma hidroxila livre) muito mais solúvel em clorofórmio do que a Digoxina. • Digoxina (possui genina com duas hidroxilas livres) bastante solúvel em etanol diluído e mistura etanol-clorofórmio. Pouco solúvel em acetato de etila. IDENTIFICAÇÃO DE GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS Para caracterização desses compostos, usam-se reações que evidenciam isoladamente partes da molécula do glicosídeo, como: Reações de caracterização dos esteroides (Pesez e Liebermann). Reações relacionadas com o anel lactônico pentacíclico (Baljet e Raymond). Reações relacionadas com desoxiaçúcares (Keller-Kiliani e xantidrol). CARACTERIZAÇÃO MICROSCÓPICA DE DROGAS VEGETAIS QUE CONTÊM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS Dedaleira (digitalis): folhas de Digitalis purpurea L. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS E EXTRAÇÃO • Devido ao baixo conteúdo de glicosídeos cardioativos presentes nas plantas, os extratos devem ser purificados e concentrados. • São geralmente utilizadas plantas frescas ou submetidas a reações de estabilização (como congelamento). • Inativação enzimática promove a conservação da cadeia de açúcares. • Secagem ocasiona perda da molécula de açúcar terminal. Técnica habitual para extração: • Extração a quente, com misturas hidroalcoólicas, precipitação de macromoléculas interferentes com acetato de chumbo e partição com solventes de média polaridade, como o clorofórmio (BRITISH PHARMACOPEIA, 1988 apud SIMÕES, 2003). • Tais reações, em geral, consistem em técnicas colorimétricas, direcionadas a cada componente da molécula, dependendo de sua natureza química (núcleo esteroidal, anel lactônico ou açúcares). AÇÕES FARMACOLÓGICAS E MECANISMOS DE AÇÃO • A atividade inata reside nas agliconas (geninas), mas os açúcares conferem maior solubilidade e aumentam o poder de fixação dos glicosídeos ao músculo cardíaco. • Por superdosagem esses compostos são muito tóxicos, o que torna necessário rigoroso controle da posologia dos princípios ativos. • A droga exibecomo efeito a soma da ação dos vários constituintes ativos que são de difícil separação. MECANISMO DE AÇÃO DOS GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Indicados no tratamento da Insuficiência Cardíaca Crônica (congestiva) = ICC (doença de progressão lenta, caracterizada pela incapacidade dos ventrículos em bombear quantidades adequadas de sangue para manter as necessidades periféricas do organismo). Acompanhada de sintomas de cansaço aos esforços, retenção hídrica e redução da expectativa de vida. • Na tentativa de aumentar o débito cardíaco surgem mecanismos compensatórios, como o aumento da frequência cardíaca, da pressão diastólica final e da massa ventricular. Principal causa de hospitalização do idoso e de mortalidade cardiovascular. MECANISMO DE AÇÃO Inibição da enzima Na+K+ ATPase Estímulo da troca Na+/Ca++ Aumento da força de contração do músculo cardíaco K+ Na+ Na+ Ca++ célula interstício MECANISMO DE AÇÃO Aumento no influxo de Ca++ intracelular Estímulo da ligação entre actina e miosina Aumento da força de contração do músculo cardíaco miosina actina troponina C tropomiosina Ca++ Ca++ • aumento da força de contração miocárdica (efeito inotrópico positivo); • aumento do débito cardíaco (esvaziamento mais completo do coração); • diminuição do tamanho do coração; • diminuição da pressão venosa; • diminuição do volume sanguíneo; • diminuição da frequência cardíaca; • aumento da diurese (efeito indireto) alívio do edema. EFEITOS SOBRE O ORGANISMO Vídeo que mostra o mecanismo de ação dos glicosídeos cardioativos sobre a contração do músculo cardíaco. https://www.youtube.com/watch?v=2OpZuXup mhc TOXICIDADE E EFEITOS ADVERSOS • A toxicidade e os efeitos adversos associados ao uso de glicosídeos cardioativos na terapêutica advêm geralmente do seu baixo índice terapêutico. A concentração capaz de causar efeitos tóxicos é apenas 2 x superior à concentração terapêutica (1 a 2 x 10-9 M). • A dosagem deve ser experimentalmente avaliada para cada paciente, em particular. Intoxicações são comuns (20% pacientes). • Níveis plasmáticos de digoxina acima de 2,5 ng/mL podem produzir sintomas de toxicidade. MAIORES RISCOS DE INTOXICAÇÃO A maioria das intoxicações ocorre em pacientes com: • Uso crônico do fármaco; • Excesso de impregnação ocorrida com dosagens consideradas terapêuticas; • Presença de fatores predisponentes à intoxicação. EFEITOS ADVERSOS São efeitos secundários e/ou sinais de intoxicação: • ritmo cardíaco anormal que produz tontura, palpitação, falta de ar, sudorese ou desmaio; • alucinações confusão e alterações mentais (ex. depressão); • cansaço ou debilidade anormais; • problemas de vista: visão borrada, dupla, percepção de auréolas amarelas, verdes ou brancas; • perda de apetite ou náuseas. MEDIDAS PREVENTIVAS À INTOXICAÇÃO • Utilizar glicosídeos cardioativos de ação curta e de rápida eliminação. • Analisar atentamente os fatores de predisposição de cada paciente: idade avançada, infarto, cirurgia cardíaca recente, insuficiência renal, hipotireoidismo, dentre outras. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS • A toxicidade também pode ser decorrente de interações medicamentosas. Dentre as mais importantes, estão as interações com beta-bloqueadores (por causarem bradicardia excessiva) e substâncias que alteram o equilíbrio hidroeletrolítico dos pacientes. • Pacientes que fazem tratamento com fármacos depletores de K+ (diuréticos tiazina e mineralocorticóides) . • Não se deve recomendar a ingestão excessiva de alimentos que contenham Ca+ (leite, fosfato de cálcio), pois poderão provocar hipercalcemia (potencializa os efeitos cardíacos). OUTRAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS • certos antibióticos e antifúngicos; • certos ansiolíticos; • medicamentos para o estômago ou úlceras; antiácidos; laxantes (inibem a absorção dos cardioativos). • medicamentos para diarreia (que contenham difenoxilato); • certos medicamentos contra o câncer; • medicamentos para a colite; • certos redutores do colesterol, especialmente a colestiramina. DROGAS VEGETAIS CLÁSSICAS QUE POSSUEM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS As principais drogas vegetais que abastecem o mercado dos glicosídeos cardioativos cardenólidos são: • Digitalis purpurea L. (digitoxina) • Digitalis lanata Ehrh. (digitoxina e digoxina) Essas espécies cobrem cerca de 90% da produção total de glicosídeos cardioativos obtidos de fontes naturais. Glicosídeo mais prescrito pelos médicos devido à disponibilidade de monitoramento sérico nos pacientes. Digitalis purpurea L. http://powo.science.kew.org/taxon/urn:lsi d:ipni.org:names:802077-1 Digitalis lanata Ehrh. http://www.uniprot.org/taxonomy/49450 OUTRAS DROGAS VEGETAIS QUE POSSUEM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • A cila é uma planta bulbosa originária da flora mediterrânea. • Existem duas variedades: bulbo branco e bulbo vermelho, com composição química diferente. • A droga vegetal é constituída pela variedade branca. • A variedade vermelha é RATICIDA. • O bulbo da cila é composto de glicosídeos cardioativos com até 4% de bufadienolídeos (CILARINA A), que compreende 2/3 dos glicosídeos totais. Por hidrólise enzimática, se produz a PROSCILARIDINA A (ativo por via oral e de eliminação rápida). CILA - bulbos de Urginea maritima (L.) Baker (Drimia maritima), LILIACEAE OUTRAS DROGAS VEGETAIS QUE POSSUEM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Nerium oleander L. (Apocynaceae) • Vegetal ornamental originária do Mediterrâneo. • No Brasil é conhecida popularmente como espirradeira. • Planta secreta látex amargo e muito tóxico • Folhas contendo 1,5% de glicosídeos cardioativos cardenolídeos. • Constituinte químico majoritário: OLEANDRINA. Nerium oleander L. (Apocynaceae) fonte de oleandrina . http://www.garden.ie/albumUpdate.aspx?id=2489&idalbum=12453 OUTRAS DROGAS VEGETAIS QUE POSSUEM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum. (Apocynaceae) • Conhecida popularmente como tevétia, louro-amarelo, noz-da-sorte, oleando-amarelo, chapéu-de-Napoleão... • Originária da América Tropical • Sementes contendo glicosídeos cardioativos cardenolídeos ativos como TEVETOSÍDEOS, GENTIOBIOSIL-TEVETOSÍDEOS (Tevetina B). • Folhas contêm TEVETOSÍDEOS C-nor-D-homo-cardenolídeos. • Látex da planta empregado como veneno em flexas, inseticida e bactericida. Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum. (Apocynaceae), conhecida popularmente como chapéu-de-Napoleão. https://plantas-ornamentais.blogspot.com.br/2011/04/chapeu-de-napoleao-thevetia- peruviana.html OUTRAS DROGAS VEGETAIS QUE POSSUEM GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS • Helleborus niger L. (Ranunculaceae) • Planta conhecida popularmente como rosa-de-natal, heléboro-negro. • Utilizada na Antiguidade como terapêutica para problemas mentais (causa de muitos acidentes fatais). • Partes utilizadas: rizomas ricos em glicosídeos cardioativos (HELEBORINA). Helleborus niger L. (Ranunculaceae) – conhecida como rosa-de-Natal. https://carolynsshadegardens.com/tag/helleborus-niger-double- fantasy/ http://pt.aliexpress.com/w/wholesale-hellebore.html Parte 2 - GLICOSÍDEOS SAPONÍNICOS OU SAPONINAS SAPONINAS • Constituem um amplo grupo de glicosídeos de esteróides ou de terpenos policíclicos. • São caracterizados pelas suas propriedades tensoativas: reduzem a tensão superficial da água e apresentam ações detergentes e emulsificantes: molécula = parte lipofílica(triterpeno ou esteróide) + parte hidrofílica (açúcar) do latim : sapo = sabão CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS • De acordo com a genina (sapogenina), são classificadas em: Saponinas esteroidais ou Saponinas triterpênicas. IMPORTÂNCIA DAS SAPONINAS PARA AS PLANTAS • As saponinas são substâncias derivadas do metabolismo secundário das plantas, relacionadas, principalmente, com o SISTEMA DE DEFESA. São encontradas nos tecidos que são mais vulneráveis ao ataque fúngico, bacteriano ou predatório dos insetos (WINA et al., 2005), considerando-se parte do sistema da defesa das plantas e indicadas como “fitoprotetoras” (PIZARRO, 1999). • Essa atividade seria devido a interação com os esteróis da membrana (FRANCIS et al., 2002) DISTRIBUIÇÃO NA NATUREZA • As saponinas esteroidais e triterpênicas apresentam distribuição diferenciada no Reino Vegetal. • As saponinas esteroidais neutras são encontradas quase que exclusivamente em monocotiledôneas, principalmente nas famílias Liliaceae, Dioscoreaceae e Agavaceae. • Os gêneros Smilax, Dioscorea, Agave, Yucca são especialmente ricos nessas saponinas. https://delange.org/AgaveAngustifolia/Ag aveAngustifolia.htm DISTRIBUIÇÃO NA NATUREZA • As saponinas triterpênicas encontram-se predominantemente em eudicotiledôneas, principalmente nas famílias Sapindaceae, Hippocastanaceae, Sapotaceae, Polygalaceae, Caryophylaceae, Primulaceae e Araliaceae. • Têm sido detectadas em muitas leguminosas, como a soja, feijões, ervilhas; e também na acelga, chás, açúcar, alcaçuz, quinoa, girassol e ginseng. • Quillaja saponaria, uma árvore nativa da região dos Andes, no Chile muito estudada. http://pfaf.org/User/Plant.aspx?Lat inName=Quillaja+saponaria CARACTERÍSTICAS DAS SAPONINAS • As saponinas possuem elevada massa molecular (600 a 2000). • Ocorrem em misturas complexas devido à presença de estruturas com número variado de açúcares ou devido à presença de diversas agliconas. • A cadeia de açúcares pode ser linear ou ramificada. • Elucidação estrutural muito difícil. • Grande interesse farmacêutico (adjuvante em formulações, componentes ativos em drogas vegetais ou como matéria-prima para a síntese de esteroides). PROPRIEDADES GERAIS • Em solução aquosa formam espuma persistente e abundante; • Possuem elevada solubilidade; • Atuam sobre membranas, causando a desorganização das mesmas; • Complexam com esteróides; • São geralmente irritantes para as mucosas (provocam espirros); têm sabor amargo; • Tóxicas para animais de sangue frio, insetos e moluscos. https://temciencianoteucha.com/2013/ 09/20/os-beneficios-da-erva-mate/ CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS •Há outras classificações, menos utilizadas: – pelo caráter ácido, básico ou neutro: • ácidas: presença de carboxila na genina ou glicona; • básicas: presença de N (amina 2aria ou 3aria = glicosídeos nitrogenados esteroidais). - pela parte açucarada (glicona): • monodesmosídicas: 1 cadeia de açúcar (C-3); • bidesmosídicas: 2 cadeias de açúcar (C-3 e outro). Em geral, a glicona é formada por um oligosídeo linear com 5 oses: normalmente apresenta glicose, galactose, arabinose, xilose, fucose, ácido glucorônico e galacturônico. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS • SAPONINAS ESTEROIDAIS: • possuem esqueleto com 27 C, num sistema tetracíclico; • são menos distribuídas na natureza que as triterpênicas; • principalmente nas Monocotiledôneas (Dioscoriáceas, Amarilidáceas, Liliáceas); são também encontradas nas Eudicotiledôneas (Solanáceas - alcalóides esteroidais) e nos gêneros Strophantus e Digitalis (glicosídeos cardioativos); • apresentam grande importância farmacêutica: precursores para a síntese de compostos esteroidais (hormônios, contraceptivos, diuréticos); • apresentam diversas variações estruturais (furostano, espirostano...). CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS • SAPONINAS TRITERPÊNICAS: • possuem esqueleto com 30 C, num sistema pentacíclico; • são raras nas Monocotiledôneas, sendo abundantes em Cariofiláceas, Sapindáceas, Poligaláceas, Sapotáceas e Hipocastanaceas, ocorrendo em grandes quantidades nas plantas. • Podem ser divididas em 3 grupos principais: PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS • •Apresentam-se como substâncias sólidas, brancas ou amareladas, geralmente amorfas, porém, cristalizáveis; • Dissolvem-se em soluções alcalinas mas precipitam pelos ácidos; • Solúveis em água e insolúveis em solventes orgânicos apolares; • Normalmente encontram-se no vegetal como misturas complexas de difícil separação, pela pequena diferença entre os glicosídeos. MÉTODOS LABORATORIAIS • Extração com água ou soluções hidroalcoólicas; Identificação: • Formação de espuma persistente após agitação do extrato aquoso; • Por reações colorimétricas (ex.: com anidrido acético em meio sulfúrico = reação de Liebermann); • Doseamento: índice de espuma e poder hemolítico, e mais recentemente, colorimetria, espectroscopia UV, CG e HPLC. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS E FARMACOLÓGICAS As saponinas são importantes para a ação de drogas vegetais, destacando-se as tradicionalmente utilizadas como EXPECTORANTES E DIURÉTICAS (SIEDENTOPP, 2008). O mecanismo de ação dessas drogas não está bem elucidado. Alguns autores argumentam que a irritação no trato respiratório aumentaria o volume do fluido respiratório e reduziria sua viscosidade. Outra possibilidade seria relacionada a sua tensão superficial originando, menor viscosidade e maior facilidade de expulsão do muco. • A atividade diurética é atribuída à irritação do epitélio renal causada pelas saponinas (SCHENKEL et al., 2001). • Pesquisa realizada por Diniz (2006), as saponinas triterpênicas reduziram o fluxo urinário em ratos. O mecanismo provável seria a aumento da reabsorção de água nos túbulos renais, já que foi verificado aumento na atividade das ATPases renais. PROPRIEDADES BIOLÓGICAS E FARMACOLÓGICAS • Outros empregos destacados são: • Como adjuvantes para aumentar a absorção de medicamentos pelo aumento da solubilidade ou interferência nos mecanismos de absorção e, como adjuvante para aumentar a resposta imunológica. • As saponinas mais utilizadas como adjuvantes são Quil A e seus derivados QS-21, isolados da casca de Quillaja saponaria. • São capazes de estimular o sistema imune e as torna ideais para uso em vacinas de subunidades, vacinas contra patógenos intracelulares, e vacinas terapêuticas (Ex: câncer). Saponinas extraídas da quilaia têm inconvenientes graves, como alta toxicidade, efeito hemolítico indesejável e instabilidade na fase aquosa, o que limita seu uso como adjuvante na vacinação (SUN et al., 2009). EFEITOS ADVERSOS PRINCIPAIS UTILIZAÇÕES • antinflamatórios: alcaçuz (Glycirrhiza glabra L., FABACEAE), castanha-da- índia (Aesculus hippocastanum L., HIPPOCASTANACEAE). • em flebologia e proctologia: gilbarbeira (Ruscus aculeatus L., LILIACEAE); • na tosse: polígala (Polygala senega L., POLYGALACEAE), hera (Hedera helix L., ARALIACEAE), prímula (Primula veris L., PRIMULACEAE); • na dermatologia: centela (Centella asiatica (L.) Urban., APIACEAE, calêndula (Calendula officinalis L., ASTERACEAE); • drogas adaptógenas: ginseng (Panax ginseng C.A. Meyer e outras ARALIACEAE); • drogas detergentes: quilaia (Quillaja saponaria Mol., ROSACEAE). APLICAÇÃO INDUSTRIAL Grande aplicação na indústria: Por suas propriedades surfactantes, são usadas na indústria na preparação de emulsões para filmes fotográficos e na indústria de cosméticos, em batons e xampus (CHEEKE, 1999). São usadas na indústria alimentíciacomo flavorizante e agente espumante. Atualmente, algumas empresas utilizam saponinas como aditivos em rações para animais, principalmente nas linhas pet, porém o uso em aves e suínos é crescente. DROGAS VEGETAIS CLÁSSICAS QUE CONTÊM SAPONINAS • Alcaçuz • Castanha-da-Índia • Centelha asiática • Polígala • Quilaia • Ginseng ALCAÇUZ do grego, glycirrhiza = significa raiz doce; possui glicirrizina, que é 50 vezes mais doce que a sacarose; Raízes e rizomas tradicionalmente utilizados como antitussígeno e nos transtornos digestivos; o extrato tem atividade antiulcerosa gástrica; a genina (ácido glicirrético) é utilizada como antinflamatória por via tópica: eczemas, dermatites, eritemas, picaduras, inflamações da cavidade bucal. usada como aromatizante e edulcorante, mascara sabor amargo de medicamentos; na indústria de balas e bebidas; aumenta a retenção de líquido e sódio e provoca a depleção de potássio evitar em pacientes cardíacos e hipertensos. audeemalta.net.br/alcacuz- beneficios-proporcionados/ https://www.oficinadeervas.com.br/informativo.php?id=2 85&t=alcacuz,-combate-alergias-no-inverno. Glycyrrhiza glabra L. (Fabaceae) CASTANHA-DA-ÍNDIA 10% da massa da droga vegetal corresponde às saponinas. Sementes usadas na terapêutica. Possui uma mistura de saponosídeos totais denominados “escina”; Extrato apresenta propriedades antinflamatórias, antiedematosas e antiexudativas: aumenta o tônus venoso, aumenta a resistência e diminui a permeabilidade; Indicada na insuficiência venolinfática dos membros inferiores (pernas pesadas, dores, edemas), principalmente em preparações tópicas; Também indicada em formulações antinflamatórias e anestésicas locais no tratamento de aftas e ulcerações bucais. http://www.plantasquecuram.com.br/ervas/castanha- da-india.html#.WaM2rD6GPDc http://seuguiadesaude.com.br/castanha-da- india-emagrece/ Aesculus hippocastanum L. Hippocastanaceae CENTELA ASIÁTICA • Originária da Ásia, é amplamente encontrada no Brasil, do Rio Grande do Sul até Minas Gerais; • Possui como principal componente o saponídeo asiaticosídeo; • Historicamente utilizada na medicina ayurvédica para enfermidades da pele e transtornos nervosos. Uso das folhas e raízes. • Acelera a cicatrização de feridas superficiais; utilizada em preparações tópicas no tratamento de úlceras de pernas de origem venosa, em feridas cirúrgicas e queimaduras de pequena extensão; em hemorróidas, como antipruriginoso de afeccções dermatológicas; em rachaduras e excoriações; por via oral na insuficiência venolinfática (pernas pesadas). Centella asiatica (L.) Urban. (Apiaceae) http://www.mundoboaforma.com.br/centella- asiatica-emagrece-para-que-serve/ http://like3za.pt/centelha-asiatica-infusao- emagrecer-dormir-melhor/ POLIGALA Possui 5 a 10% de saponinas triterpênicas nas raízes secas. O xarope de polígala aumenta o volume da secreção bronquial; Xarope é utilizado no tratamento de tosse não produtiva, normalmente em associação com outros componentes (codeína, bálsamo de Tolú, tinturas vegetais). Na Alemanha é indicada para o tratamento de catarro das vias respiratórias; Há uma possibilidade de irritação gastrointestinal com o uso prolongado. https://www.remedio-caseiro.com/propriedades- e-beneficios-da-bela-planta-poligala/ http://www.ppmac.org/?q=content/poligala Poligala senega L. (Polygalaceae) QUILAIA Encontrada no Chile, Peru e Bolívia; Possui mais de 50 saponinas nas flores e cascas do caule. Uma das principais fontes de saponinas industrializadas, sendo utilizada como estabilizante de suspensões na indústria farmacêutica e como agente espumante na indústria alimentícia; Tem apresentado interessantes resultados em pesquisas in vivo e in vitro: ação hipocolesterolêmica, imunopotenciadora para vacinas antirábicas orais, imunoestimuladora por via oral e intradérmica, adjuvante em vacinas antiparasitárias, estimuladora da absorção de antibióticos e peptídeos por via nasal e ocular em ratos. Quillaja saponaria Molina (Rosaceae) http://www.tricofort.com.br/linha/id/20/S HAMPOO-ANTIQUEDA-250-ML https://www.beneficiosdasplantas.com.br/quilaia/ GINSENG Utilizada na China há mais de 3000 anos como planta estimulante, reconstituinte, geradora de vitalidade; Aspecto antropomórfico das raízes: ginseng = imagem do homem; Até o momento foram descritas 28 saponinas; os japoneses denominaram de ginsenosídeos, e os russos de panaxosídeos; Uso: rizomas e raízes secas. Os extratos são conhecidos como adaptógenos ou agentes antiestresse: aumentam a resistência não-específica do organismo às influências externas, como infecções e estresse; A síndrome de abuso apresenta insônia, nervosismo, euforia, diarreia matinal, erupções cutâneas; Contraindicado na gravidez e lactação, diabetes, hipertensão; pode interagir com fármacos hormonais, estimulantes, hipoglicemiantes e anticoagulantes. Panax ginseng C. A. Mey. (Araliaceae) EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1) Os glicosídeos cardioativos são substâncias esteroidais que possuem um característico esqueleto de: a) 12 carbonos b) 10 carbonos c) 15 carbonos d) 17 carbonos e) 20 carbonos 2) Analise com atenção as afirmações abaixo e assinale V para Verdadeiro e F para Falso: I - A ação farmacológica dos glicosídeos cardioativos reside na atividade inata das agliconas (geninas). No entanto, os açúcares conferem maior solubilidade e aumentam o poder de fixação dos glicosídeos ao músculo cardíaco. V II – Como mecanismo de ação dos glicosídeos cardioativos ocorre uma redução nos níveis de Ca+ intracelular. F III – Sementes da planta conhecida como chapéu-de-Napoleão contêm glicosídeos cardioativos cardenolídeos ativos como TEVETOSÍDEOS. V 3) As saponinas são importantes para a ação de drogas vegetais,destacando-se as tradicionalmente utilizadas como: ______________________________. Resposta: Expectorantes e Diuréticas. QUESTÕES DISSERTATIVAS DE FIXAÇÃO 4) Quais são as partes fundamentais formadoras da estrutura de um glicosídeo cardioativo? 5) Explique detalhadamente o mecanismo de ação dos glicosídeos cardioativos sobre o músculo cardíaco. 6) Por que não podemos utilizar a variedade vermelha da planta conhecida populamente como cila para fins terapêuticos? 7) Quais as principais diferenças entre as saponinas esteroidais e as triterpênicas? 8) Explique as principais aplicações e partes da planta utilizadas no uso terapêutico da centella asiática e do ginseng. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEEKE, P. R. Actual and potential applications of Yucca schidigera and Quillaja saponaria saponins in human and animal nutrition. In: American Society of Animal Science, Proceedings...Indianapolis: ASAS, p.1-10, 1999. DINIZ, L.R. Efeito das saponinas triterpênicas isoladas de raízes da Ampelozizyphus amazonicus Ducke sobre a função renal. 2006.116 f.Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas – Fisiologia e Farmacologia) – Departamento de Fisiologia e Biofísica, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. FRANCIS, G.;KEREM, Z.; MAKKAR,H.P.S.; BECKER,K. The biological action of saponins in animal systems: a review. British Journal of Nutrition [online], v.88, p. 587–605, 2002. Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FBJN%2FBJN88_ 06%2FS0007114502002349a.pdf&code=731524a7844a5fdf5eecd4610 67b11c3Acesso em 1 set.2011. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PIZARRO, A. P. B.; FILHO, A. M. O.; PARENTE, J. P.; MELO, M. T. V.; SANTOS, C. 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