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FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 1 ] CIRURGIA DA OBESIDADE LUCAS MA GALH ÃES DE OLIVEIRA – FAG OC – 2018/2 DEFINIÇÃO ® Doença na qual o excesso de gordura corporal se acumulou a tal ponto que a saúde pode ser afetada. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE ® Diversas teorias tentam explicar a patogênese da obesidade primária. Alguns genes, como o FTO (Fat Mass and Obesity-related) e o MC4R (Melanocortin 4 Receptor) podem estar envolvidos. ® A Grelina, um hormônio orexígeno (que induz o apetite) produzido pelas células oxínticas do fundo e corpo gástrico, eleva-se naturalmente antes das refeições e se reduz de maneira expressiva após a alimentação. Atua aumentando a ingesta alimentar pela fome, além de reduzir o metabolismo e catabolismo das gorduras. Quando seus níveis estão reduzidos no período pós- prandial, ocorre uma diminuição da sensação de fome. - Em alguns indivíduos obesos, essa redução pós- prandial acaba não sendo tão significativa quando a observada nos não obesos, o que pode ser uma explicação para o apetite exacerbado que encontramos nessa população. - Sabemos que a redução dos níveis de grelina é obtida após algumas cirurgias que realizam a excisão do fundo e parte do corpo gástrico. ® A Leptina, a mais famosa representante das adipocinas, tem efeito contrario ao da grelina. É um hormônio anorexígeno produzido pelos adipócitos sempre que estão abarrotados de lipídeos (como no período pós- prandial). A leptina age no hipotálamo bloqueando a liberação do neuropeptídio Y (maior estimulante central do apetite), inibindo o apetite, e ao mesmo tempo estimulando a secreção de alfa-MSH (promotor da saciedade). Existe relação direta entre o peso e os níveis de leptina → Quanto maior o peso, maiores os níveis de leptina. ® O GLP-1 (Glucagon Like Peptide 1) e o PYY (Peptídeo YY) são produzidos pelas células da mucosa intestinal do íleo após a chegada do alimento, estando ambos aumentados no período pós-prandial, reduzindo a ingesta de alimentos. Tal resposta pode estar diminuída em obesos, em especial nos com DM tipo 2 associado. ® Outros hormônios associados com o mecanismo de ganho e perda de peso incluem o GIP (Polipeptídio Inibitório Gástrico), a acil grelina e a colecistocinina (hormônio anorexígeno). ® Efeitos de Hormônios: - Orexígeno: Grelina. - Anorexígenos: Leptina, GLP-1, PYY, GIP e Colecistocinina (CCK). ® Fatores ambientais também estão envolvidos. Alimentos hipercalóricos somados a inatividade física, são uns dos principais determinantes da epidemia de obesidade. CLASSIFICAÇÃO ® A obesidade é classificada em diversos graus, o que permite uma correlação mais precisa com os riscos que o indivíduo obeso está propenso. IMC – ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA CATEGORIA IMC Abaixo do Peso < 18,5 Peso Normal 18,5 a 24,9 Sobrepeso 25 a 29,9 Obesidade Grau I (LEVE) 30 a 34,9 Obesidade Grau II (MODERADA) 35 a 39,9 Obesidade Grau III (MÓRBIDA) ≥ 40 ® Comorbidades: A obesidade leve/moderada e, em particular, a obesidade de maior gravidade, estão relacionadas com uma série de comorbidades. As comorbidades podem ser facilmente tratadas (ou eventualmente curadas) com a redução ponderal. - As mais comuns incluem hipertensão arterial, DM tipo 2, cardiomiopatia relacionada à obesidade, artropatias degenerativas e apneia do sono. INDICAÇÕES CIRÚRGICAS E CRITÉRIOS ® A cirurgia para obesidade mórbida (ou bariátrica) emprega métodos que reduzem a ingesta alimentar e/ou impedem a sua absorção. A indicação cirúrgica tem como base o IMC, a presença de comorbidades, o tempo de doença e a idade do paciente. CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO CIRÚRGICA DA OBESIDADE I – PESO CORPORAL 1. IMC > 40 2. IMC > 35 com pelo menos uma comorbidades. → Comorbidades: DM, HAS, Apneia do Sono, Dislipidemia, Doenças cardiovasculares (DAC, IAM, ICC, FA, AVC), Cor Pulmonale, Síndrome de Hipoventilação, Asma Grave não controlada, Osteoartrose, Hérnias Discais, DRGE (com indicação cirúrgica), Colecistopatia Calculosa, Pancreatites de Repetição, Incontinência Urinária de Esforço (Mulheres), Infertilidade, Disfunção Erétil, SOP, Veia Varicosas e Hemorroidas, Pseusdotumor Cerebral e Depressão. 3. IMC entre 30 e 35 com comorbidade classificada como grave por especialista, somada a falência de tratamento clínico por um endocrinologista. II – FALÊNCIA DE TERAPIA CLÍNICA PARA PERDA PONDERAL III – AUSÊNCIA DE DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS QUE JUSTIFIQUEM A OBESIDADE (CAUSAS SECUNDÁRIAS) IV – ESTABILIDADE PSICOLÓGICA 1. Não uso de drogas ilícitas ou alcoolismo 2. Entendimento da proposta cirúrgica e suas consequências 3. Percepção de que somente a cirurgia não garantirá bons resultados 4. Avaliação psicológica pré-operatória para a seleção de pacientes Além dessas indicações, de acordo com o CFM é importante que exista falência de tratamento clínico da obesidade por, pelo menos, dois anos. ® A faixa etária ideal para os candidatos situa-se entre 18 e 65 anos. ® As principais contraindicações absolutas incluem doenças cardíacas e pulmonares em estágio terminal (risco ASA IV) e hipertensão porta com varizes esofágicas. ® Precauções para a realização da cirurgia: - (1) Não uso de drogas ilícitas ou alcoolismo - (2) Ausência de transtorno de humor grave, quadros psicóticos ou quadros demenciais FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 2 ] - (3) Compreensão por parte dos pacientes e familiares, dos riscos e mudanças de hábitos inerentes a uma cirurgia de grande porte sobre o tubo digestivo e da necessidade de acompanhamento pós-operatório com a equipe multidisciplinar, em longo prazo. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA ® Os candidatos à cirurgia bariátrica passam por uma avaliação multidisciplinar composta por cirurgião, psiquiatra/psicólogo, anestesista, cardiologista e pneumologista. TÉCNICAS CIRÚRGICAS ® A cirurgia pode ser realizada por via aberta ou laparoscópica. - A via laparoscópica é muito mais empregada atualmente, uma vez que diminui a incidência de hérnias incisionais e reduz o tempo de internação hospitalar. ® A perda de peso provocada pela cirurgia é consequência principalmente de dois fatores: restrição alimentar e má absorção ou disabsorção. Em alguns procedimentos a redução dos níveis de grelina parece contribuir também. CIRURGIAS RESTRITIVAS ® O mecanismo básico é a diminuição da capacidade de armazenamento do estômago, fazendo com que o paciente coma menos. ® O grande problema dos procedimentos restritivos reside na ingestão de substâncias líquidas altamente calóricas; O líquido passa com facilidade pelo estomago e, por distende-lo menos, não deflagra os mecanismos de saciedade com a mesma intensidade. ® Gastroplastia Mason (Banda Gástrica): Praticamente abandonada por promover pouca perda de peso em longo prazo. Além disso estava relacionada à estenose gástrica e facilitava o consumo de dieta líquida hipercalórica. - Procedimento consistia na confecção de um tubo gástrico vertical, que formava um reservatório pequeno (30mL), sendo posicionado um anel na via de saída desse reservatório para retardar o esvaziamento gástrico. ® Gastrectomia em Manga Laparoscópica (Gastrectomia Vertical): Foi criada com a primeira etapa de uma cirurgia predominantemente disabsortiva em pacientes superobesos. Posteriormente foi visto que em pacientes com graus menores de obesidade a gastrectomia vertical poderia ser utilizada, tendo em vista a perda de peso inicial que era obtida nos superobesos. - Consiste na confecção de um tubo vertical através da retirada da grande curvatura e do fundogástrico. Essa ressecção é realizada a partir de 7 cm do piloro até o ângulo de His, deixando um estomago com volume entre 150 e 200 mL. - Há redução evidente dos níveis de grelina. Por conta disso, esse é o procedimento de primeira escolha para a obesidade mórbida. - As principais vantagens desse procedimento incluem: (1) Maior simplicidade de técnica; (2) Preservação do piloro; (3) Redução dos níveis de Grelina; (4) Não há necessidade de ajustes periódicos; (5) Redução na incidência de hérnias internas; (6) Não há componente disabsortivo; e (7) Possibilidade de se acrescentar um segundo procedimento com o tempo, caso o primeiro seja malsucedido. ® Banda Gástrica Ajustável: O mecanismo consiste em limitar a quantidade de ingesta de alimento no estômago proximal. A vantagem sobre a bandagem vertical é a ajustabilidade do anel colocado na parte superior do estômago. - Outras vantagens incluem baixa morbidade, reversibilidade e possibilidade de ajuste gradua, o que permite uma adaptação mais paulatina a dieta. - Esse procedimento ocasiona uma elevação significativa nos níveis de grelina, fator que aumenta a probabilidade de falência terapêutica. CIRURGIAS MISTAS ® O componente restritivo é obtido pela criação de uma bolsa gástrica com via de saída de pequeno calibre (12- 15 mm). - Para confeccionar este estreitamento, o cirurgião utiliza um anel de silicone chamado silastic (Fobi- Capella) ou a própria sutura no local da anastomose gastrojejunal (Wittgrove). ® O componente disabsortivo é obtido pelo comprimento das alças do by-pass, em geral com a alça biliopancreática medindo 50 cm a partir do ângulo de Treitz (formado ao nível da junção do duodeno com o íleo), e a alimentar medindo entre 120-150 cm. By-Pass Gástrico em Y de Roux: É o procedimento ainda mais utilizado nos EUA e no Brasil para o tratamento da obesidade. - Da mesma maneira que na banda gástrica, o componente principal é restritivo, diminuindo o volume de ingestão para algo em torno de 20 a 30 mL, e um componente disabsortivo, resultado de uma alça de jejuno em Y de Roux de, no mínimo, 75 cm de comprimento, anastomosada com o neoestômago. ® Na cirurgia de Fobi-Capella é confeccionado um novo reservatório gástrico de cerca de 20mL utilizando o estômago proximal, sendo que a maior parte do órgão não é ressecado. A restrição imposta por este neoestômago impede uma ingesta alimentar importante. Na outra extremidade, o cirurgião faz uma secção do jejuno proximal a cerca de 40cm do ângulo de Treitz. Em seguida, o pequeno reservatório gástrico é anastomosado com o jejuno que sobrou, este último tendo continuidade com o trato alimentar. O jejuno proximal, o duodeno e o estômago que não participou da formação do novo reservatório gástrico ficam, então, excluídos do trânsito alimentar. FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 3 ] ® A cirurgia de Wittgrove é uma variante, onde ao invés do cirurgião ajustar uma banda por sobre o novo reservatório gástrico, faz uma sutura no local, estreitando ainda mais a entrada do alimento neste local. ® A cirurgia de By-Pass Gástrico em Y de Roux é considerada o procedimento de escolha no obeso mórbido portador de DM tipo 2. Nesses pacientes, níveis de grelina se encontram suprimidos no pós-operatório, com uma redução considerada no apetite somada a uma perda ponderal importante em 12-18 meses de acompanhamento. CIRURGIAS DISABSORTIVAS ® Seu mecanismo principal é fazer com que o alimento encontre o suco biliopancreático apenas na alça comum, que mede cerca de 50cm na cirurgia de Scopinaro e entre 80 e 100 cm no switch duodenal, diminuindo o tempo de atuação das enzimas digestivas no bolo alimentar para criar uma síndrome disabsortiva proposital. ® Derivação Biliopancreática (Cirurgia de Scopinaro): A derivação biliopancreática tem na má absorção o principal fator na perda de peso. Essa técnica também possui um componente restritivo, porem de menor intensidade quando comparada ao By-Pass gástrico em Y de Roux. - RESTRITIVO: É obtido através de uma hemigastrectomia distal horizontal. O estômago proximal é anastomosado ao íleo (gastroileostomia). O coto duodenal e todo o jejuno que foram excluídos do trânsito alimentar após a gastrectomia drenam a bile e o suco pancreático e “derramam” essa secreção em um segmento terminal do íleo. Assim, essa secreção atinge o tubo digestivo em uma posição muito distal, o que torna sua ação muito pouco eficaz, sobretudo pelo reduzido tempo de contato com o alimento que ali passa (Esse é o fenômeno que leva a uma intensa síndrome disabsortiva). Além da disabsorção intensa, outra grave complicação da cirurgia de Scopinaro é o crescimento bacteriano na alça biliopancreática longa. ® Switch Duodenal (Hess-Marceau): É uma evolução da cirurgia de Scopinaro, com reduzida incidência de ulceras anastomóticas, uma vez que o piloro é preservado. Os mecanismos de perda de peso são similares em ambos os procedimentos. - Em vez da hemigastrectomia distal da cirurgia de Scopinaro, é realizada uma gastrectomia em manga laparoscópica (Gastrectomia Vertical) como procedimento inicial. A cirurgia definitiva, que vai induzir intensa má absorção, costuma ser feita em um segundo momento, principalmente em indivíduos com IMC muito elevado ou que tenham alto risco cirúrgico. O principal objetivo é a perda ponderal inicial, que facilitará o segundo procedimento e reduzirá a possibilidade de complicações. FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 4 ] - O procedimento disabsortivo consiste em deixar o piloro e um seguimento de 2 cm de duodeno (primeira porção), excluindo do trânsito alimentar o restante do duodeno e todo o jejuno, seguimentos vitais para a absorção de nutrientes calóricos e não calóricos. - A continuidade do trato alimentar é realizada através de uma anastomose entre o íleo e a primeira porção do duodeno (alça alimentar – por onde só passa alimento). - Para que a bile e o suco pancreático alcancem o alimento é necessária uma anastomose entre o jejuno e o íleo. O canal comum corresponde ao trecho do íleo que contem tanto o bolo alimentar quanto as secreções biliopancreáticas que ali foram derramadas e mede cerca de 100cm. QUAL TÉCNICA ESCOLHER? ® Gastrectomia em Manga Laparoscópica: - Doença Intestinal Inflamatória - Anemia Crônica - Osteoporose - História de Deficiência de B12 - Risco Cirúrgico Elevado - Superobesos - Portadores de Doenças Graves ® By-Pass Gástrico em Y de Roux (Fobi-Capella): - DM tipo 2 - Síndrome Metabólica - DRGE CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS ® Pacientes submetidos a By-Pass Gástrico em Y de Roux ou a cirurgias predominantemente disabsortivas são acompanhados em unidades intensivas, enquanto aqueles submetidos à GML podem ser admitidos em enfermarias ou quartos. ® A reposição volêmica durante a cirurgia é um ponto muito importante. Pacientes com peso elevado necessitam de um volume maior de líquidos para manter o balanço hídrico adequado. ® A profilaxia para trombose profunda e TEP é fundamental, com mecanismos de compressão intermitente e uso de drogas como a heparina de baixo peso molecular, sendo empregados em combinações variadas. COMPLICAÇÕES ® A complicação mais temida da cirurgia bariátrica é a deiscência de anastomose com extravasamento de conteúdo gastrointestinal para dentro da cavidade peritoneal, levando a uma grave peritonite e sepse abdominal. ® Em muitos doentes, os sinais clássicos de peritonite podem não estar presentes devido à analgesia regular,sendo a taquicardia e a taquipneia as únicas manifestações encontradas. Cada tipo de procedimento acarreta graus e variedades de complicações: MORBIDADE E MORTALIDADE MORBIDADE MORTALIDADE Banda Gástrica 5% 0,1% Gastroplastia 5% 0,1% G. Y de Roux 5% 0,5% Scopinaro/Switch 5% 1% PERDA DO PESO PERDA DO EXCESSO DE PESO IMC Banda Gástrica 50% 25% Gastroplastia 50 a 60% 25 a 30% G. Y de Roux 65 a 70% 35% Scopinaro/Switch 70% 35% EXCESSO DE PESO = PESO ATUAL – PESO IDEAL (PI) CONSIDERAÇÕES FINAIS ® A cirurgia bariátrica é a ÚNICA terapia efetiva para obesidade mórbida. ® Os benefícios da cirurgia, embora não universais, garantem adequado controle do excesso de peso, melhorando as morbidades, diminuindo o risco de morte prematura. ® A cirurgia é somente parte da abordagem multidisciplinar de um planejado e longo acompanhamento.
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