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MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca OBESIDADE “Alteração da composição corporal, com determinantes genéticos e ambientais, definida por um excesso das reservas corporais de gordura, que ocorre quando, cronicamente, a oferta de calorias é maior que o gasto de energia corporal, que resulta em prejuízos para a saúde”. É uma condição complexa, de dimensões socais, biológicas e psicossociais consideráveis. Pode afetar todas as idades, de qualquer grupo socioeconômico, em quase todas as regiões do planeta: o Epidemiologia: Grande aumento de incidência no Brasil e no mundo: Cerca de 20% da população brasileira está em sobrepeso ou obesidade (Fonte 2019). =; o Problema de saúde pública. ETIOLOGIA A obesidade endógena, responsável por 99% dos casos, é caracterizada por fatores externos ao organismo do paciente, ambiental e comportamental, ex.: dieta ocidentalizada hipercalórica, hipergordurosa, superprocessada associada a um hábito de vida sedentário. A obesidade endógena é relacionada a fatores genéticos (ex.: MC4R – marcador da melanocortina – e FTO – gene associado a gordura abdominal) e hormonais (ex.: grelina – produzida por células do trato gastrointestinal, estimula a alimentação: orexígeno – e leptina – produzida pelo tecido adiposo braço responsável pela saciedade: anorexígeno). O fator genético não é um fator determinante para a obesidade, e sim fator condicionante. CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS A obesidade é uma patologia grave e complexa por envolver diversos órgãos do corpo humano. Depressão, apneia obstrutiva do sono, doenças cardíacas (ex.: IAM), hipertensão (consequência e não causa), diabetes tipo 2, hiperlipidemia, neoplasias, asma, insuficiência venosa, doença articular, doenças metabólicas e etc. DIAGNÓSTICO O IMC (Índice de massa corpórea) é a referência para diagnóstico e classificação da obesidade – mesmo não sendo o melhor marcador biológico. 𝐼𝑀𝐶 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 (𝑘𝑔) 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑚)2 Figura 1: Valores de IMC e classificação da Obesidade. IMC acima de 50kg/m2 é pode ser classificado em superobesidade. A distribuição da gordura (a gordura abdominal determina risco cardiovasculares) é medida pela circunferência abdominal: Em homens é considerado como fator de risco >102cm. Pela Federação Internacional de Diabetes é considerado fator de risco >90-94cm; Em mulheres é considerado como fator de risco >88cm. Pela Federação Internacional de Diabetes é considerado fator de risco > 80cm. TRATAMENTO CLÍN ICO Todo paciente portador de obesidade deve ser submetido a um tratamento clínico, que consiste na promoção de um déficit calórico, ou seja, uma balança energética negativa. Não farmacológico + Farmacológico. Tratamento não-farmacológico: Tem o objetivo de prevenir, tratar ou reverter as complicações da obesidade e melhorar a qualidade de vida, com perda ponderal de 5% do peso em 3-6 meses: o Mudança no estilo de vida: Mudança dietética, exercício físico e modificação comportamental. Tratamento farmacológico: Indicado para pacientes com IMC maior ou igual a 30kg/m2 ou IMC entre 27-29,9kg/m2 + comorbidades, que não responderam atingiram a meta do tratamento não farmacológico: o Terapia combinada: Anorexígenos catecolaminérgicos (ex.: Liraglutide, análogo ao GLP1 – proteína de saciedade), sacietógenos adrenérgicos (ex.: Fentermina, age no SNC levando a saciedade) e redutores da absorção de gordura (ex.: Orlistat, análogo da lipstatina e inibe lipases gastrointestinais) ou outros medicamentos. Obesidade mórbida e cirurgia bariátrica Clínica Cirúrgica MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Essa etapa do tratamento é feita por uma equipe multidisciplinar: Endocrinologista (com tratamento cínico e medicamentoso), nutricionista (planejamento dietético e nutricional), psicólogo (terapia cognitivo comportamental) e educador físico (planejamento de exercício físico). CÍRURGICO DA OBESIDADE OU BAR IÁTRICA Conjunto de técnicas cirúrgicas, com respaldo cientifico, com ou sem uso de órteses, destinadas a promoção de redução ponderal e ao tratamento de doenças que estão associadas e/ou que são agravadas pela obesidade. Essa etapa também conta com a decisão e apoio de equipes multidisciplinar: Cirurgião, anestesista, clínico, psiquiatra, psicólogo, nutricionista, endoscopista, assistente social (mesmo não sendo uma realidade), professor de educação física e fisioterapeuta. Pré-requisitos para se indicar a cirurgia: Tratamento clinico adequado prévio por 2 anos, sem sucesso, e/ou não ser etilista ou dependente químico e/ou não possuir doença psiquiátrica grave ativa; Indicações: 1. IMC maior ou igual a 40kg/m2; 2. IMC maior ou igual a 35kg/m2 + comorbidades; 3. IMC maior ou igual a 30kg/m2 + comorbidades graves (e.: comorbidades não controladas). Quais comorbidades são essas? HAS, DM, apneia do sono, doenças cardiovasculares, cor pulmonale, asma, osteoartrose, hérnias discais, DRGE com indicação cirúrgica, colescistopatia calculosa, anatomia patologia do fígado (ex.: pâncreas divisium), pancreatites de repetição, esteatose hepática, infertilidade, incontinência urinaria de esforço na mulher, veias varicosas e hemorroidas., estigmatização social e depressão. 4. Associada a falha terapêutica, estabilidade psiquiátrica e ausência de dependência química, ausência de problemas clínicos que se opunham a sobrevida da cirurgia, e idade acima de 16 anos (pelo SUS). Contraindicações: Risco anestésico-cirúrgico (ex.: ASA IV), hipertensão portal com varizes esofágicas, causas endócrinas tratáveis de obesidade, limitação intelectual significativa em pacientes sem suporte familiar adequado, quadro de transtorno atual não controlado, incluindo0se álcool e/ou drogas. Cuidados pré-operatórios: 1. Anamnese + exame físico + exames complementares (laboratório, ECG, raio-X do tórax, endoscopia – essa para afastar lesões); 2. Interrupção do tabagismo de 8-12 semanas antes da cirurgia; 3. Suspensão do anticoncepcional oral combinado 1 mês antes da cirurgia; 4. Redução do risco de TEV; 5. Avaliação multidisciplinar. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS BARIÁTRICOS Mecanismo de perda ponderal: o Procedimentos restritivos: Redução da capacidade gástrica, limitando assim a quantidade final de ingesta/volume alimentar: Obtida por uma banda gástrica ajustável laparoscópica ou gastrectomia Sleeve/vertical/em manga. o Alteração absortiva: Redução da absorção do material ingerido, sem alteração do volume: Obtida por um Bypass jejunoileal ou desvio biliopancreático com Switch duodenal. Bypass significa nova passagem/desvio. o Alteração hormonal intestinal/Enterormônios: Leva a perda ponderal. Existem 3 enterormônios importantes: 1. Grelina: Hormônio produzido no fundo gástrico e está relacionado a promoção de apetite. Ela é reduzida nas cirurgias bariátricas ao se ressecar o fundo gástrico ou torná-lo desfuncionalizado/atrófico; 2. O GLP1 é um hormônio produzido no íleo terminal e está relacionado à saciedade central. Sua produção é aumentada ao se acelerar a chegada do material ingerido no íleo terminal; 3. O PYY tem função semelhante ao GLP1 e é produzido no cólon proximal. Também está aumentado ao se acelerar a chegada do material ingerido nesse território. Os efeitos dos enterormônios são capazes de alterar taxa metabólica e, importante para o controle diabético, reduzem a resistência insulínica. Tal mecanismo metabólico é responsável pelo sucesso da cirurgia no tratamento da diabetes melito associada à obesidade. Existem a cirurgia mista obtida por Bypass gástrico em Y de Roux. O balão intra-gástrico é colocado via endoscópica (balão inflamado no interior da câmera gástrica, causando redução do volume), e consiste em um método auxiliar paraperda de peso no pré-operatório, apesar de ter uma alta incidência de reganho de peso após retirada – que costuma durar até 6 meses: o Balão não é um método permanente, e sim intermitente. Figura 2: Balão intra-gástrico. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca GASTRECTOMIA VERTICAL (SLEEVE) Método restritivo de técnica mecânica e endócrina, muito utilizada; Resseca cerca de 80% do estômago, da grande curvatura da transição corpo-antro ao ângulo de Treitz: o Forma-se um estômago tubular – preservando uma pequena curvatura –, através de grampeadores laparoscópicos desde a incisura angular (2 a 5cm acima do piloro no sentido vertical) até a transição esofagogástrica, não necessitando de anastomose (vantagem) – Figura 3. Importante efeito enterormonal: Ao ressecar-se o fundo gástrico, resseca-se o setor produtor de grelina - hormônio indutor da fome, além de fazer o controle glicêmico; Em dois anos espera-se uma perda ponderal de 60%; É uma cirurgia relativamente segura: o Uma grande complicação é que a linha de grampos pode gerar deiscências, sangramentos, fístulas (principalmente no ângulo de His, devido a alta zona de pressão nesse local durante a alimentação), estenose e trombose venosa portal ou mesentérica; Sua principal desvantagem é a alta pressão nas extremidades, o que torna uma contraindicação relativa para pacientes portadores de DRGE. BYPASS GÁSTRICO EM Y DE ROUX Método misto, muito utilizada atualmente: o O componente restritivo é a gastrectomia e o componente desabsortivo é a exclusão do duodeno e porção proximal do jejuno: 1. Nessa cirurgia, confecciona-se um pouch gástrico (pequena bolsa gástrica de 60-100ml) junto ao esôfago de 15ml, e faz-se um desvio do trânsito com derivação intestinal ao jejuno: 1ª anastomose: o O estômago excluso, fica excluso do transito gastrointestinal, mas não dos hormônios e bile. 2. Secção do intestino delgado de 50-150cm do Treitz no íleo proximal e jejuno distal: 2ª anastomose; 3. Criação da alça alimentar (onde passa o bolo alimentar) e alça biliopancreática (onde passa bile, enzimas e hormônios) juntas formam o Y de Roux; 4. Como há uma derivação/um Bypass gastrojejunal, há um interessante efeito disabsortivo também: o O comprimento da alça de Roux determina o grau da diabsorção alimentar: Quanto mais baixo for a anastomose, maior será o trajeto que a comida percorrerá para ser absorvida, logo maior perda ponderal. De toda forma, seu principal efeito é metabólico: No estômago excluso remanescente o fundo gástrico se atrofia e deixa de produzir grelina. Além disso, o trânsito se acelera pelo Bypass e mais precocemente atinge íleo e ceco, aumentando GLP 1 e PYY; Essa cirurgia promove boa perda ponderal, maior que na gastrectomia vertical: Em dois anos espera-se uma perda ponderal de 70%; Boa indicação para pacientes com doenças metabólicas (DM2) ou DRGE associados. Figura 4: Método do Bypass gástrico em y de Roux. A principal complicação são as hérnias internas: O paciente submetido a essa cirurgia terá a alça intestinal subindo ao estômago e por trás dessa, outras alças podem passar, herniando-se ao outro lado. o Corresponde 0-5% das cirurgias gástricas laparoscópicas; o É definido como um defeito mesentérico da enterro-entero (região do Y de Roux): O principal sítio é o defeito entre o mesocolon transverso e o mesentérico posterior da alça jejunal que subiu e é conhecida como Espaço de Petersen. Figura 5: O diagnóstico é realizado pela tomografia de abdome (pode ser usado uso de contraste oral associado) com sinal do redemoinho: Possui especificidade de 80-90% e sensibilidade de 78-100%. OUTRAS CIRURGIAS Banda gástrica ajustável: o Método restritivo, reversível e pouco utilizado atualmente; o Altas taxas de revisão e reincidência de peso. 1. (Figura 6). Coloca-se uma banda/anel de silicone ajustável, ligado a um controle da pressão – esse externalizado na pele –, posicionado abaixo da transição esofagogástrica que tem como objetivo controlar o esvaziamento a partir da introdução de soro. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Bypass jejunoileal: o Método disabsortivo, uma das primeiras cirurgias bariátricas do mundo (1969) mas não utilizada atualmente. 1. Conecta a alça intestinal perto da válvula ileocecal. o Procedimento obsoleto com muitas complicações e alta mortalidade: insuficiência hepática, DHE, desnutrição. Figura 7: Método do Bypass jejunoileal. Desvio biliopancreático com Switch (parada) duodenal: o Método misto, pouco utilizada atualmente devido as complicações; o Espera-se perda ponderal de até 80% em 2 anos (com maior risco de reganho ponderal devido a dificuldade de adaptação). 1. Realiza-se uma gastrectomia vertical (diferente da Y de Roux) com redução do volume estômago; 2. Desvio direto para jejuno (formando a alça alimentar) com preservação do piloro, e alça biliopancreática sem alteração. o Principal complicação é a diabsorção. Figura 8: Método do Desvio biliopancreático com Switch (parada) duodenal. Figura 9: Complicações de alguns métodos cirúrgicos. CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIO Controle dietéticos: o Principalmente em cirurgias disabsortivas; o A evolução da dieta ocorre de liquido (geralmente 30-60 dias) para sólidos. Vigilância de desidratação: Beber água com frequência; Avaliação e reposição de deficiências vitamínicas: Realizar exames laboratoriais (preferencialmente de 3 em 3 meses); Suplementação nutricional: Ferro, cálcio, vitamina D, zinco e complexo B: o Pacientes que realizam Bypass precisam repor ferro para o resto da vida. Vigilância e estimulo a manutenção de um estilo de vida, comportamento e hábitos saudáveis. O sucesso cirúrgico é garantido quando a perda de 50% do excesso de peso e IMC < 40kg/m2, além da estabilização dessa perda em 18-24 meses. Pode haver reganho ponderal entre 2-5 anos.
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