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Direito Civil Posse e Propriedade

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Direito Civil - Semestre
A posse se encontra disciplinada no CC nos arts. 1196 a 1224, e no NCPC nos arts. 554 e seguintes
Embora na prática a posse seja considerada direito real, dogmaticamente se constitui em direito especial
Origem histórica da posse
Enfoque em três autores: Saleilles, Savigny e Ihering
Para todos esses autores, a origem da posse vem do direto romano
Saleilles: a posse é anterior à propriedade, e sua origem é anterior a formação do Estado Romano. Para melhor compreender, devemos nos ater ao fato de que o Estado Romano se iniciou no séc. VIII a. C, antes desse período o que havia era uma coletividade de pessoas ocupando porções de terras, coordenadas pela figura do pater família (que detinha poder de vida e morte sobre seu grupo). A origem da posse, portanto, estaria ligada justamente à esses grupos que, a posteriori, deu origem ao próprio Estado Romano. Assim, a posse regulamentada pelo Estado Romano passou a se chamar propriedade
Savigny: estudou o direito romano no período clássico e pós-clássico. Juridicamente o direito romano é estudado em três períodos: pré-clássico ou arcaico (até o séc. XVIII a. C), clássico II a. C ao III d.C.) e pós-clássico (séc. III d.C. ao V d.C.)
Na concepção de Savigny, primeiro surge a propriedade e, depois, a posse. No período clássico o Estado Romano está em seu auge, entretanto, sofre com problemas logísticos justamente pelo seu vasto território. Passa a conceder bens aos particulares. Assim temos:
Propriedade pública: do próprio Estado Romano
Propriedade quiritária: titular é o próprio romano
Propriedade precária: concedida pelo Estado a particulares para exploração econômica
Emerge dessa situação um problema jurídico. No Estado Romano existiam remédios jurídicos próprios para resolver os problemas. Ações específicas para cada litígio jurídico. No caso de propriedade correta era a ação de reivindicatio. Contudo, a propriedade precária carecia de um tipo de ação própria. Havia, assim, uma lacuna jurídica. A fim de suprir tal lacuna os pretores criaram fórmula para a resolução do problema: ações possessórias. Criadas as ações possessórias, surge o direito de possuir. Nesse sentido, para Savigny, primeiro surge as ações, para então surgir o direito de posse
Ihering: estudou a posse tendo em vista o período arcaico do direito romano. Afirma que a posse é posterior ao direito de propriedade. A origem da posse reside em fato processual romano. Consubstanciada, portanto, em incidente procedimental. Isso devido ao fato de que nas ações reivindicatórias, era muito comum que, antes da decisão sobre a quem pertenceria o imóvel, o juiz verificasse quem de fato ocupava a coisa. Este incidente (verificação de quem de fato ocupava a coisa) se transformou posteriormente em ação própria
Elementos Constitutivos da Posse
Teoria subjetiva de Savigny
Teoria Objetiva de Ihering
Teorias sociais a respeito da posse
Perozzi
Saleilles
Antônio Hernandes Gil
Teoria subjetiva de Savigny
Publicada em 1803. Estudou o direito romano no período clássico. Para Savigny a posse é constituída por dois elementos denominados por ele como corpus e animus domini (animus rem sibbi habendi)
O corpus é o elemento físico material, trata-se de possibilidade de que tem a pessoa de apreender físicomaterialmente uma coisa. Esse contato físico material com a coisa recebe o nome de apreensio naturalis. O animus domini é o elemento volitivo, psicológico, intencional. É a intenção que tem a pessoa de apreender uma coisa como sendo sua ou na qualidade de proprietário.
Assim, a posse é a soma de corpus + animus domini. Para Savigny a posse é a possibilidade físico material que tem uma pessoa de apreender uma coisa com a intenção de tê-la como sua na qualidade de proprietário podendo defendê-la contra o ataque de terceiros.
Se presente o corpus, mas ausente o animus domini o indivíduo é mero detentor. A posse para Savigny é um direito. A detenção, por outro lado, é mera apreensão natural da coisa. 
De outro modo, se houver apenas o animus domini, sem o corpus, trata-se de um nada jurídico
Para Savigny são meros detentores:
Locatário
Comodatário
Depositário
Usufrutuário
Etc.
Locação: art. 565 a 578, CC tendo também relevância a Lei 8.245/91 (locação de móveis urbanos), assim como a Lei 5404/69
Comodato: arts. 579 a 585 CC: é o contrato de empréstimo a título gratuito de coisa infungível
Depósito: arts. 627 a 652: no depósito tem-se o depositante e o depositário. A finalidade é a de transferência de coisa infungível e inconsumível ao depositário para que este exerça a custódia (guarda e conservação da coisa) até a posterior restituição ao depositante
Usufrutuário: 1390 a 1411 do CC. Tem-se o titular de nua propriedade e usufrutuário. O usufrutuário tem o direito de usar e gozar da coisa concedida de forma vitalícia ou temporária
Teoria objetiva de Ihering
Teoria simplificada da posse. Para ele a teoria de Savigny só tem valor histórico.
Vislumbra dois elementos constitutivos da posse. Denominando-os: corpus e animus, com configurações jurídicas diferentes
O corpus seria a exteriorização do domínio. Em outras palavras, é a aparência do domínio, imagem da propriedade. A própria sociedade vai concluir se alguém é ou não proprietário.
O animus é a vontade que tem a pessoa de agir como dono e proceder como proprietário, encontra-se ínsito ao corpus. O corpus está para o animus, assim como a palavra está para o pensamento.
O animus é o agir como dono, proceder como proprietário. É dar a coisa o destino econômico que o proprietário daria. Destino econômico é entendido como dar a coisa o destino normal
Animus domini: intenção de ficar com a coisa, ter a coisa como sua
Animus: proceder como proprietário, agir como dono, dar a coisa o destino normal que o proprietário
A própria sociedade reconhece onde existe ou não a posse. Onde há a aparência de propriedade
Ex.: Alguém avista em um terreno onde está havendo uma obra, de um lado, materiais para construção e de outro uma carteira com dinheiro. Qualquer pessoa com conhecimento médio é capaz de identificar que a carteira não faz parte daquele contexto, pois não está sendo utilizada conforme o destino normal esperado à ela.
A condição é a conduta que gera a aparência da posse
A posse existe mesmo que o possuidor não esteja no local por conta da aparência
Ihering também vislumbra os dois fenômenos jurídicos: posse e detenção, com configurações jurídicas diferentes
Tanto a posse como detenção apresentam os mesmos elementos constitutivos, isto é, o corpus e o animus. Tanto isso é verdade que para Ihering o possuidor e detentor tem aparência de proprietário
A posse é a regra, a detenção é a exceção, cabendo a norma jurídica por meio de um elemento normativo objetivo, chamado de causa detentionis apontar as hipóteses de detenção e excluir as de posse. A detenção é uma posse degradada.
A lei sempre terá um elemento normativo objetivo que degradará a posse em detenção
O art. 1196, CC define o possuidor e obliquamente (indiretamente) a posse
Hipóteses de detenção segundo a teoria objetiva de Ihering apontadas no CC/02
Art. 1198: o elemento normativo objetivo que degrada a posse em detenção é a subordinação
Art. 1208, primeira parte: o elemento normativo objetivo que degrada a posse em detenção é a mera permissão ou tolerância
Art. 1208, segunda parte: o elemento normativo objetivo que degrada a posse em detenção é a violência ou clandestinidade quando não cessada
Art. 102, CC (quanto a natureza do objeto apreendido): o elemento normativo objetivo que degrada a posse em detenção é o fato de o bem apreendido se encontrar fora do comércio
Art. 1224, CC
Art. 1196, CC
O CC segue a teoria objetiva de Ihering
Em consonância com o art. 1196, CC se o indivíduo exerce de fato algum dos poderes que constituem a propriedade, esta pessoa tem a imagem, a aparência de proprietário, aplicando-se para a hipótese a teoria objetiva de Ihering
Poderes ou direitos que constituem a propriedade:
Art.1228
A propriedade é o direito de uso, gozo e disposição de uma coisa e a possibilidade de reavê-la onde ela estiver das mãos de quem injustamente a possuir ou detiver
A propriedade é constituída de 4 poderes ou direitos, a saber: direito de uso, direito de gozo, direito de disposição e direito de sequela
O indivíduo possuidor exerce algum desses poderes:
Direito de uso: é a prerrogativa que tem o titular da propriedade de utilizar algum dos serviços que o bem pode oferecer. Ex.: residir no imóvel, colocar quadro para ornamentação de ambiente
Direito de gozo: é a prerrogativa que tem o titular da propriedade de extrair da coisa objeto do domínio, os frutos ou rendimentos que a coisa pode oferecer. Ex.: extração de frutos das árvores, locação de imóvel
Direito de disposição: é a prerrogativa que tem o titular da propriedade de alienar a título gratuito ou oneroso a coisa objeto do domínio. Ex.: venda de imóvel, doação de um carro
Direito de sequela: é a prerrogativa que tem o titular da propriedade de reaver a coisa, onde ela estiver, das mãos de quem injustamente a possuir ou detiver. A sequela é um direito que adere a coisa e a persegue onde ela estiver
Detenção
1198, CC: a causa detentionis é a subordinação. É detentor todo aquele que cumpre ordem ou instrução de outrem. A pessoa tem aparência de proprietário, mas segue ordens. É também conhecido como fâmulo da posse. Ex.: caseiro, que procede como se dono fosse. Não obstante não é considerado proprietário pois cumpre ordens de outras pessoas.
Ora, trata-se portanto de alguém que carrega objeto, dando uso normal, porém cumprido instrução de outrem. O último exemplo dessa categoria pode ser o do manobrista do estacionamento, ou até mesmo um motorista em serviço, cumprindo instruções
1208, primeira parte: não induz em posse os atos de mera permissão ou tolerância. Os atos de mera permissão ou tolerância geram detenção, sendo essa permissão ou tolerância elementos normativo objetivo que degrada a posse em detenção. A mera permissão é dada por escrito, enquanto a tolerância é verbal. Existem situações no próprio dia-dia que são atos de mera permissão ou tolerância que autorizam o uso momentâneo e ocasional de uma coisa. Ex.: sujeito vai ao cinema, senta na poltrona por um determinado período de tempo. O uso da poltrona se configura em detenção, pois se trata de mera permissão ou tolerância de cinema. Ou até mesmo o uso de carteira em sala de aula (ora, a prestação de serviço é a aula, as carteiras são consequência obtida por permissão ou tolerância). Ainda, o uso de pratos, talheres, mesas e cadeiras de um restaurante caracterizam detenção pois advém de mera permissão ou tolerância por parte do restaurante que presta o serviço
Art. 1208, segunda parte: não autorizam a aquisição da posse os atos violentos ou clandestinos enquanto não cessada a violência ou clandestinidade. O elemento normativo objetivo que degrada a posse em detenção é a violência ou clandestinidade enquanto não cessada.
Para compreender melhor, faz-se necessário analisar o art. 1200, CC que determina que a posse é justa quando não for violenta, clandestina ou precária. A contrário senso, a posse é injusta quando for violenta, clandestina ou precária.
A posse violenta pode resultar em uma violência física (vis absoluta) ou de uma violência moral, psicológica (vis compulsiva). Na posse violenta ela pode ser empregada contra a coisa (indivíduo derruba a cerca e adentra a fazenda) ou contra o próprio possuidor (indivíduo agride o dono e adentra a fazenda). O roubo é exemplo de posse vis absoluta empregada contra o próprio possuidor. A vis compulsiva se dá sobre coação moral.
A posse clandestina é aquela que resulta de uma apreensão oculta, sorrateira, não pública. Ex.: indivíduo X percebe que Y saiu para viajar. X chama um chaveiro para que abra as portas e então X passa a ocupar o imóvel. O furto é um exemplo de posse clandestina
A posse precária é a resultante de um abuso de confiança. Posse precária NÃO gera detenção. Ex.: X firma com Y um contrato de comodato, disciplinado nos arts. 579 a 585, CC pelo prazo de 24 meses, tendo como objeto um empréstimo de bem imóvel a título gratuito. X é comodante (que empresta) e Y é comodatário (recebe a coisa para uso). Durante os 24 meses que Y ocupa a coisa, a posse é justa. Findo o prazo, não restituído o imóvel a posse se torna injusta.
O art. 1208, segunda parte não autoriza a aquisição da posse por atos violentos e clandestinos enquanto não cessados. Assim, ao invadir o imóvel de maneira oculta, X será mero detentor até que X conheça ou pelo menos tenha a possibilidade de conhecimento da invasão, até esse momento a clandestinidade não cessou. Cessada a clandestinidade, configurar-se-á a posse injusta. O mesmo critério para os atos violentos, ora se X invade junto ao seus capangas o imóvel de Y, mantendo seus capangas aos arredores a fim de impedir a retomada será mero detentor, entretanto quando cessada a violência e X passar a apreensão tranquila, sem vícios se configurará a posse injusta.
A quarta hipótese: estava prevista expressamente no CC/16 no art. 520, III que determinava a perda da posse quando o objeto da posse fosse destruído ou colocado fora do comércio. Entretanto esse dispositivo não foi reproduzido no atual código, em que pese esse impedimento restar ainda implícito. Como referência o art. 102, CC nos permite tal interpretação.
A apreensão de determinadas coisas, em razão de sua natureza não geram posse, mas sim detenção. Referindo-se aqui a apreensão de coisas que estão fora de comércio. Quando uma coisa fora de comercio é apreendida, esta gera mera detenção
Razões para que uma coisa fique fora do comércio juridicamente
Própria natureza da coisa: existem bens que pela própria natureza se apresentam inesgotáveis e que não podem, por conta disso, serem apreendidos pelo homem, não gerando interesse/utilidade para o mundo jurídico. Ex.: o sol, a lua, o oceano, o ar atmosférico, etc.
Própria lei: a lei ou o dispositivo legal pode retirar do comércio uma coisa. Ex.: bens públicos (bem de uso comum do povo, de uso especial da administração e dominicais). Quando apreendidos configuram mera detenção.
Respostas: 
a) Após ano e dia há a presunção relativa de cessação de clandestinidade. Então X passa a ser possuidor injusto. Y é possuidor porque todo proprietário é possuidor (mas a recíproca não é verdadeira). W, na qualidade de comodatário é possuidor (teoria de Ihering). Z é detentor, até que se cesse a violência e, depois, passará a ser possuidor injusto
b) X (locador) é possuidor porque é proprietário. Z é mero detentor, em razão de subordinação (art. 1198, CC). Y (locatário) é possuidor indireto. W é detentor até que a violência cesse e, depois, se tornará possuidor injusto (art. 1200 c/ 1208, segunda parte do Código Civil de 2002)
Teorias sociológicas
Perozzi
Saleilles
Antônio Hernandes Gil
Perozzi
Publicou o seu trabalho em 1905. Conclui que o que pode ser objeto de posse são as coisas que se encontrem livres na sociedade. A sociedade deve se abster de apreender coisa de outrem (pois já se encontra apreendida). Dever de abstenção (obrigação de não fazer), de não apreender a coisa já apreendida por outro.
Ex.:
Indivíduo de chapéu na cabeça
Savigny: a posse se configura pelo animus domini (intenção de ser dono da coisa) e corpus (apreensão físico material da coisa)
Ihering: a posse se configura pela imagem de proprietário (corpus) que se desenvolve pelo animus do possuidor (que dá a coisa o fim a esta esperado)
Perozzi: a posse se configura na apreensão livre da coisa, não é objeto da apreensão de outro
Saleilles
Publicou textos importantes. Vincula o exercício da posse ao interesse econômico. A apreensão tem valor econômico. Onde há apreensão e interesse econômico há posse. Por outro lado a apreensão sem interesse econômico configurará mera detenção. Ex.: apanhar a bicicleta para mero passeio é caso de detenção
Antônio Hernandes Gil
A posse é antes de ser uma realidade jurídica,um fato social. É fato natural, inerente à natureza humana. O indivíduo antes mesmo de conhecer as regras impostas pelo Estado pratica atos possessórios. Ex.: criança que apreende a mamadeira para se alimentar; silvícola que apreende terreno em que cultivou.
É fato social antes de ser fato jurídico. É, em verdade, um pressuposto social porque qualquer construção jurídica que se faça é precedida pela posse (a propriedade é uma regularização da posse). É fundamental para que a sociedade exista. Além disso é um fim social, porque a posse deve atender atos coordenados, cardinais, quais sejam, gerar a subsistência por meio do trabalho e alimentação
Questão
Tendo em vista as teorias sociais defina a posse segundo a concepção dos três autores abordados. - Tese de doutorado: Roberto Bolonhini - Uma nova concepção fático-social da posse (PUC - MAR/2013)
Desdobramento possessório, graduação possessória ou verticalização da posse
Fenômeno não conhecido no direito romano. Quem viabilizou esse tipo de fenômeno foi Ihering por meio de sua teoria objetiva
O desdobramento possessório é o fenômeno jurídico que se caracteriza pelo exercício da posse, por uma pluralidade de sujeitos que exercem posses paralelas de uma coisa graduando o exercício em posses direta e indireta em razão de uma relação jurídica de natureza obrigacional (ou real em que se tenha verticalização possessória). São exemplos: a locação, comodato, depósito, usufruto dentre outros
Ex.: o locador é possuidor indireto, enquanto o locatário é possuidor direto. Tendo isso em vista, se X loca a Y um imóvel pelo prazo de 30 meses, durante a locação X é possuidor indireto e Y é possuidor direto.
Existem, portanto, parâmetros diferentes de exercício possessório. O possuidor direto é quem de fato apreende o bem. O possuidor indireto é quem tem algum dos poderes de propriedade perante a coisa. Aquele que de fato usufrui da coisa é possuidor direto. E aquele que usufrui da coisa mediatamente é possuidor indireto. 
Locação: arts. 565 a 578, CC. Regularização do imóvel urbano: Lei 82.045/91. Locação de imóvel rural: Estatuto da Terra, Lei 4.504/64. O locador é possuidor indireto, o locatário é possuidor direto. A relação que determina este desdobramento possessório é de natureza obrigacional
Comodato: arts. 579 a 585, CC. O comodante é o possuidor indireto, o comodatário é o possuidor direto. A relação que determina este desdobramento possessório é de natureza obrigacional 
Depósito: arts. 527 a 652, CC. O depositante (que cede a coisa) é possuidor indireto. O depositário (que recebe a coisa para exercer custódia - guarda e conservação - do bem) é possuidor direto. A relação jurídica que determina este desdobramento é de natureza obrigacional
Usufruto: arts. 1390 a 1411, CC. O titular da nua propriedade é possuidor indireto. O usufrutuário é o possuidor direto. A relação jurídica que gera esse desdobramento é de natureza real. Ex.: X é pai de Y, e é proprietário de um único imóvel. Para evitar o processo de inventário após sua morte, decide, em vida, doar o imóvel a Y com cláusula de reserva de usufruto vitalício. X, possuidor direto (usufrutuário). Y possuidor indireto (titular da nua propriedade). X mantém consigo o direito de uso, gozo e sequela. Y manterá, por sua vez, poder de disposição e sequela. A relação é de direito real pois é oponível erga omnes. Somente a teoria de Ihering permite o desdobramento possessório (aparência de propriedade não exige o contato físico material da coisa)
Desdobramento possessório sucessivo
Neste caso existe um possuidor direto e dois ou mais possuidores indiretos, ocorrendo a verticalização sucessiva da posse em razão de uma relação jurídica de natureza obrigacional ou real. Ex.: X (locador) transfere a Y (locatário) um imóvel. Por sua vez, Y transfere a W (sublocatário) o imóvel que lhe foi transferido. W é possuidor direto. Y e X são possuidores indiretos
Questão
X e Y firmaram um contrato de locação que tem como objeto um bem móvel, no caso, um automóvel pelo prazo de 24 meses. X é locador, Y é locatário. No 18º mês de vigência do contrato, X resolve retomar o automóvel, para tanto, utiliza uma chave reserva, abre o automóvel que se encontra parado, estacionado na porta da residência de Y, liga o veículo, e vai embora. Diante o exposto, responda as indagações abaixo arroladas, fundamentando as respostas
Pode X assim proceder? Por que?
O fenômeno locatício caracteriza que espécie de fenômeno possessório? Explique
Qual a medida jurídica que Y pode tomar se a ação for ilegal?
Composse
Prevista no CC/16 no art. 488. Encontra-se no atual CC/02, no art. 1199. Os romanos conheceram o fenômeno da composse e as legislações civis de modo geral também a conheceram (ex.: BGB). A composse também é denominada compossessão ou exercício horizontal da posse
A composse é fenômeno jurídico que se caracteriza pelo exercício comum da posse de uma coisa por uma pluralidade de sujeitos, tendo cada co-titular a possibilidade de exercer a posse da coisa como um todo sem que isso possa impedir que os demais co-titulares também exerçam suas posses. Ex.: piscina em condomínio é objeto da composse; o fato de um condômino utilizar a piscina como um todo não inviabiliza o uso dos demais condôminos.
A composse pode ser de duas espécies:
Pro diviso
Pro indiviso
Composse: duas ou mais pessoas simultaneamente exercem a posse
Pro diviso: a coisa objeto da posse comum é divisível de fato e indivisível de direito. Ex.: X, Y e Z adquirem a posse de um terreno pertencente a W por meio de um contrato de concessão possessória, o terreno tem 1000 m², X constrói uma casa utilizando 300 m² da parte frontal do terreno, Y utiliza a parte central em 400 m² e Z utiliza os fundos do terreno. Neste caso, todos os móveis são independentes entre si tendo suas saídas próprias, a coisa está dividida, mas é indivisível no direito.
Pro indiviso: o objeto da posse comum é indivisível de fato e indivisível de direito. Ex.: X, Y e Z adquirem a posse de um cavalo, este é indivisível, podendo-se dividir o tempo de uso, por exemplo, mas não o objeto. Poderia também X utilizar o cavalo sozinho e pagar aluguel aos demais.
Classificação política da posse
Objetivamente
Subjetivamente 
Objetiva-subjetivamente
Objetivamente (art. 1200, CC)
Posse justa ou injusta
Posse justa: quando não resultar de violência, clandestinidade ou precariedade.
Posse injusta: quando resultar de violência, clandestinidade ou precariedade
Violência pode ser vis compulsiva (psicológica, moral) ou vis absoluta (física, corporal)
Clandestinidade, situação de apreensão oculta, sorrateira, não pública
Precariedade, hipótese em que há abuso de confiança (ou direito)
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Subjetivamente (arts. 1201 e 1202)
Posse de boa ou má-fé
Boa fé: titular da apreensão desconhece ou ignora qualquer vício que macule seu exercício possessório
Má fé: titular da apreensão conhece ou não ignora o vício objetivo que macula ser exercício possessório
Todo aquele que apreende determinada coisa fundamentado em justo título é presumido de boa-fé, esta presunção é relativa (juris tantum), admitindo prova em contrário.
Quanto ao justo título temos que os arts. 1201 e 1242, em que pesem tratar da mesma expressão (justo título) os compreendem com sentidos diferentes. É assim que:
O justo título do art. 1242, CC comporta sentido documental, definindo-o como todo documento hábil, capaz, idôneo. Trata-se de ato jurídico eficaz para a transferência da propriedade, mas que efetivamente não a transfere por conta de vício intrínseco, formal. Em função deste vício a transferência resta inviável.
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previstoneste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
Ex.: 
X pretende alienar imóvel, sendo casado a 10 anos (desde 2007) pelo regime de CPB. Antes de casar, X adquiriu imóvel e, agora, em 2017 resolve vendê-lo. O regime de CPB determina que apenas os bens adquiridos na constância do casamento a título oneroso pertencem a ambos os cônjuges. X efetua a venda para W, mas se declara solteiro na escritura que é levada à registro. A venda é válida?
Vejamos:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
(...)
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária, tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.
Obs.: Com base no art. 1242 W pode alegar usucapião quando passado o tempo para a possibilidade de incidência de tal instituto.
Ex². Indivíduo absolutamente incapaz que aliena coisa (imóvel, por exemplo) sem a devida representação. Com a escritura pública e registro do imóvel se constitui o justo título. Mesmo que haja nulidade absoluta no negócio, se esta não for alegada em 10 anos o adquirente poderá alegar usucapião.
O justo título do art. 1201, CC por sua vez incorpora um sentido de fato gerador da boa-fé. Não necessariamente um documento. 
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Ex.: X e Y convivem na forma de união estável a 10 anos. Todos os bens agregados durante essa união presumem-se ter sido adquiridos de boa-fé pelos conviventes. Trata-se de justo título configurado pela união estável (que é o fato gerador da boa-fé). A boa-fé neste caso é relativa. 
Sentido amplo do justo título para fins de posse é extraído ainda do Enunciado nº 303 do Conselho de Justiça Federal: “Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse”.
Síntese: No nosso ordenamento civil, o justo título recebe duplo significado: (a) no art. 1.201 do Código Civil, a expressão colhe acepção ampla, significando qualquer causa que justifique uma posse; (b) no art. 1.242, o justo título é interpretado restritivamente como um título apto em tese para transferir propriedade e outros direitos reais usucapíveis. 
Objetiva-subjetivamente
Injusta de boa-fé
Injusta de má-fé
Justa de boa-fé
Justa de má-fé
Injusta de boa-fé
Possuidor exerce posse de coisa ou direito desconhecendo ou ignorando um vício objetivo que macula seu exercício possessório. Ex.: Em 2003 X e seus capangas invadiram o imóvel de Y de forma violenta, passando a ocupá-lo. Em 2008 X falece deixando um único filho X¹, herdeiro dessa posse, que desconhece a forma que seu pai a adquiriu. 
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Injusta de má fé
Possuidor exerce posse de coisa ou direito conhecendo (não ignorando) o vício objetivo que macula o exercício possessório. Ex.: X¹ herda a posse conhecendo o modo em que esta foi efetivada (com violência, segundo o exemplo)
Justa de boa-fé
Possuidor exerce posse de coisa ou direito sem presença de vícios objetivos que maculam o exercício possessório e também ignorando qualquer vício objetivo que tenha maculado seu exercício. Ex.: X adquire posse de um imóvel junto a Y por meio de um contrato de cessão possessória (em 2002). Posteriormente X falece e X¹ ingressa no exercício da posse. 
Justa de má-fé
Possuidor exerce posse de coisa ou direito sem a presença de vícios objetivos, em que pese conheça (não ignore) eventual vício que maculou o exercício. Ex.: Y invade e ocupa imóvel de W mediante violência em 2002. Depois de 3 anos Y transfere a posse desse imóvel para X por meio de contrato de cessão possessória. Em 2008 X falece e transmite a posse desse imóvel para seu único filho X¹. Caso X¹ saiba do trâmite possessório anterior restará configurada tal hipótese
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
1 - Discorra a respeito do fenômeno jurídico qualificado do acessio possessionis, exemplificando.
2 - X te forma violenta em 2005 invade e ocupa o imóvel da propriedade de Y, permanecendo no local por 3 anos. Posteriormente, X falece e transmite a apreensão a seu único filho X¹ que passa a apreender a coisa. Após 5 anos de apreensão W de forma sorrateira passa a ocupar o imóvel nomeando no local um empregado como caseiro.
Analise as apreensões de X, X¹, Y, W e Z (caseiro), apontando se estamos diante de posse ou detenção e o porquê.
Analise se as apreensões referidas são justas ou injustas, de boa ou má fé.
Na hipótese de o imóvel ser invadido por Alpha, qual a medida judicial que pode tomar W para defender sua apreensão?
Qual a medida judicial que pode tomar X¹ para recuperar a apreensão perdida?
Que medida judicial pode tomar Y para defender seus interesses? 
Respostas: 
1 - A acessio possessionis é um fenômeno jurídico que se caracteriza pela soma do exercício possessório, isto é, o adquirente da posse vai somar o seu tempo de exercício possessório ao do alienante
Ex.: Se X exerce a posse à 10 anos e transmite a posse para Y, ingressará no exercício da posse com 10 anos
A acessio possessionis poderá ocorrer via sucessão à título universal por ato causa mortis ou via união à título singular por ato inter vivos.
Quando via sucessão, a soma dos exercícios possessórios é obrigatória e o caráter da posse não muda. Ex.: X invade imóvel de Y e de forma violenta passa a exercer a posse, permanecendo no local por 10 anos (posse injusta). Com o falecimento de X, X¹ recebe a posse desse imóvel contando 10 anos de exercício possessório, sendo a soma obrigatório e o caráter imutável
A acessio possessionis à título singular, por seu turno, traz a faculdade do adquirente somar ou não ao seu tempo de exercício possessório o tempo de exercício possessório de seu antecessor. Se somado o tempo, o caráter da posse não se modifica. Caso contrário, isto é, não se somando o tempo o caráter da posse é modificado. Ex.: X exerce a posse de um imóvel há 5 anos (posse injusta). X resolve transferir a posse ao Y mediante contrato de cessão possessória. Y tem a opção de somar os 5 anos ou, se preferir, pode desprezar o período e com isso iniciar um novo, modificando, por conseguinte, o caráter possessório (para justo).
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
A aquisição de propriedade imóvel pode ser
Derivada: dá-se por registro
Originária: dá-se por acessão ou usucapião
Há várias espécies de usucapião em nosso ordenamento, dentro os quais estão:
Usucapião originário (art. 1238, CC)
Usucapião ordinário (art. 1242, CC)
Usucapião pro labore (arts. 191, CF e 1239, CC)
Usucapião urbano individual (arts. 183, CF; 1240, CC e art. 9º da Lei 10.257/2001)
Usucapião urbano coletivo (arts. 10 e seguintes da Lei 10.257/2001)Usucapião urbano familiar (1240, a, CC)
Usucapião silvícola (art. 33 da Lei 6001/73)
Usucapião extrajudicial (art. 216, a, da Lei 6015/73)
Todas essas espécies dependem de dois requisitos
Posse ad usucapionem: posse com características próprias sendo esta mansa, pacífica, pública, contínua, ininterrupta e com animus domini
Prazo legal de exercício possessório
2
a) Y é possuidor porque a propriedade pressupõe a posse (Ihering). X é detentor enquanto não cessada a violência e, depois de cessada se tornará em possuidor (art. 1208, segunda parte do CC). Há presunção de cessação de violência quando passado ano e dia (esta presunção é relativa). X¹ é possuidor, pois lhe é transmitida a posse com o mesmo caráter (1203, 1206, 1207 e 1784, CC). W é mero detentor, quanto não cessada a clandestinidade, passando depois a exercer a posse injusta sobre o bem (art. 1208, segunda parte do CC). Z é detentor, haja vista a relação de subordinação.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
b) X, cessada a violência se torna possuidor injusto perante Y, mas justo perante a sociedade (que não sofreu o ato violento), haja vista o caráter relativo da posse. Isto ocorre porque X agiu de má-fé praticando e conhecendo da violência. 
Y tem posse justa e de boa fé, se baseado em título de dono
X¹ tem posse injusta, porque neste caso o caráter da posse não se modifica com a transmissão. A boa ou má fé dependerá do conhecimento ou não de X¹ sobre o vício que macula a posse.
W tem posse injusta em relação à X¹ e Y (porque viciada), mas justa contra a sociedade. A hipótese é de má-fé por conta do conhecimento de W quanto ao vício que macula sua posse.
Z é mero detentor, como estipula o art. 1198, CC
c) A posse de W é defensável frente esbulho de terceiros, cuja medida será a reintegração de posse (arts. 1210, CC e 554, CPC)
d) X¹ poderá ingressar com a reintegração de posse em face de W pelo esbulho contra ele empregado. Mais uma situação onde se percebe a relatividade da posse.
e) Poderá este ingressar com reintegração de posse contra qualquer que seja (erga omnes), porque é o possuidor justo da coisa.
Princípio da fungibilidade: diante de mudanças fáticas quanto à agressão ao direito de posse o juiz poderá amoldar a ação sem necessidade de propositura de uma nova.
Transformação da posse de má-fé em posse de boa-fé
As situações do caso, doutrina e jurisprudência apontam o que seriam as circunstâncias.
Circunstâncias do caso que fazem presumir a transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé:
A posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé quando o autor de uma ação possessória protocola sua petição inicial
A posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé quando o réu é citado numa ação possessória – Corrente majoritária
A posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé quando o réu apresenta sua contestação no processo possessória
À depender da posição adotada os efeitos serão diversos, haja vista que a decisão retroagirá ao momento da transformação.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Aquisição e perda da posse
Aquisição:
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Perda da posse: 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
No CC/16 havia um rol exemplificativo de perda e aquisição
Com a teoria de Ihering basta a aparência/ imagem de proprietário para adquirir a posse. O art. 1.196 considera possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Perde-se a posse no instante, no memento em que se deixa de ter a imagem (aparência) de propriedade
Formas de aquisição de posse
Divididas em:
Originárias
Derivadas
Distinção entre apreensão originária e apreensão derivada
O que diferencia a apreensão originária da apreensão derivada é a transmissibilidade da coisa que existe na aquisição derivada e não exercida na originária. Essa intransmissibilidade se caracteriza pela entrega efetiva do bem das mãos do possuidor alienante para as mãos do possuidor adquirente
Formas originárias
Apreensão material de uma coisa
Exercício de um direito
Possibilidade de disposição de uma coisa
Formas derivadas
Transferência real da coisa
Transferência simbólica da coisa
Transferência ficta da coisa (consenso)
Taditio brevi manu
Constituto possessório
FORMAS ORIGINÁRIAS
Apreensão material
Existem duas espécies de coisa que se encontram na natureza. Chamadas de res delicta e res nullius. Res delicta é coisa que se encontra na natureza que já foi objeto da posse e ou propriedade de alguém, encontrando-se abandonada ou perdido. Ex.: caneta caída no chão, cavalo solto no posto. Res Nullius são coisas encontradas na natureza que nunca foram objeto da posse ou propriedade de alguém. Ex.: peixe em rio público. Quando o ser humano apreende essa res (delicta ou nullius) passa a exercer a posse mediante apreensão material. As coisas perdidas devem ser devolvidas, já a coisa abandonada não (isto é, podem integrar o patrimônio de quem a possui)
Exercício do direito
Quando o indivíduo passa a exercer um direito sem que lhe tenha sido transmitido. Adquire a posse do direito de forma originária. Ex.: X usa continuamente o imóvel de Y para encurtar seu caminho e chagar à rua mais rápido, sem que haja a oposição de Y (o que poderia ter sido feito contratualmente mediante servidão predial de trânsito – 1.378 a 1389). Com isso X passa a adquirir a posse do direito de servidão de trânsito de forma originária
Possibilidade de disposição de uma coisa 
Aquele que pode dispor de uma coisa é aquele que detém a posse originária do bem
FORMAS DERIVADAS
Transmissão real da coisa
Significa transmissão efetiva, material, a passagem da coisa das mãos de um titular para as mãos de outro. Ex.: X vende um relógio para Y e ao receber o preço e entregar o relógio diretamente à Y
Transmissão simbólica
Não existe entrega material, efetiva das coisas por parte de um possuidor ao outro. Há uma situação simbólica que demonstra a transmissão da posse. Ex.: X vende o apartamento para Y e Y ingressana posse do imóvel a partir da entrega das chaves do mesmo. A entrega das chaves é forma simbólica de se transmitir a posse, não sendo necessário que Y ingresse efetivamente no apartamento
Consenso (transmissão ficta)
Tanto na traditio como no constituto há uma inversão de possuir a coisa sem que o possuidor deixe de apreender a coisa. Na traditio o indivíduo que apreende em nome alheio passa a aprendê-la em nome próprio sem deixar de apreender a coisa de fato, em nenhum instante. Ex.: X locador. Y locatário. Vigência do contrato: 30 meses. Objeto: bem imóvel. No vigésimo mês, Y, o locatário compra o imóvel locado. Y, nos primeiros 20 meses de vigência contratual exerceu a posse em nome alheio (X) e a partir do vigésimo mês, quando comprou o imóvel, passou a exercer a posse em nome próprio sem deixar de apreender a coisa. Na traditio, portanto, o indivíduo que apreende uma coisa em nome alheio, passa a aprendê-la em nome próprio sem deixar de apreender a coisa
No constituto possessório, o indivíduo apreende uma coisa em nome próprio e passa a apreender a coisa em nome alheio, sem deixar de fato de apreender a coisa. Ex.: X, mediante escritura pública de compra e venda, vende a Y imóvel ficando acordado na escritura que X permanecerá no local por mais 6 meses após a assinatura do contrato de forma gratuita (mas poderia ser onerosa)
Modos de perda de posse 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
A perda da posse acontece quando uma pessoa tem a aparência de proprietário, mas deixa de tê-la.
Perde-se a posse:
Por abandono
Pela coisa perdida
Pela destruição do objeto
Por ser colocada a coisa fora do comércio
Pela impossibilidade do exercício de direito
Todos os modos de aquisição aplicáveis a propriedade também são aplicados à posse
Todos os modos de perda implicam também a aquisição:
Alienante: ocorre a perda da posse
Adquirente: aquisição da posse
Abandono
Forma de perda da posse, no abandono o titular da coisa abre mão de seu direito, abdicando deste, deixando de exercê-lo e, por conta disso, ocorre a perda da posse
Ex.: X é possuidor de uma corrente de ouro apanha essa corrente e atira no mar, ocorrendo a perda da posse. Alienante: abre a mão do bem; se alguém encontrar se torna possuidor
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
(...)
III - por abandono;
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
Acontece o abandono do bem imóvel quando o possuidor deixa de praticar atos possessórios por 3 anos e deixa de pagar imposto da coisa (se urbano pode ser arrecadado por Município, se rural pode ser arrecadado pela União – coisa vaga)
O abandono se dá tanto em relação a bem móveis, quanto em relação a bem imóveis
Coisa perdida
Ocorre o fenômeno quando o titular da posse de uma coisa deixa de exercê-la em razão de força alheia à vontade do titular
Ex.: indivíduo nada no rio, e sua corrente se desprende de seu corpo sem sua percepção ou vontade. O indivíduo, nesta hipótese, deve restituir a coisa achada, seja ao proprietário seja a autoridade competente
Destruição da coisa objeto da posse
Quando o objeto de um direito perece, o direito também perece. Não existe direito possessório sem objeto. Perecer tem um sentido de destruição total da coisa (diferente de deterioração que é destruição parcial da coisa)
Só a coisa objeto da posse perece o direito de possuir também perece
Existe perecimento material e econômico. O perecimento material é a destruição física da coisa. Ex.: imóvel destruído por furacão, automóvel destruído por incêndio, etc. O perecimento econômico também gera perda do direito de possuir. Ex.: terreno próximo à região ribeirinha, que em determinados períodos do ano é encoberto, voltando depois. Aqui o perecimento econômico inutiliza o imóvel. Exemplo mais palpável é a das enchentes reiteradas que atinjam determinadas áreas frequentemente.
Bens fora do comércio
Quando uma coisa se encontra fora do comércio, sua apreensão não gera posse, mas sim detenção. Portanto, se uma coisa é objeto da posse e é colocada fora do comércio, o que temos é a perda da posse que se transforma em detenção
Três são as razões que colocam bem fora de comércio
A própria natureza da coisa
A determinação normativa (lei)
A própria vontade do titular da coisa
Natureza da coisa
Há bens que pela própria natureza estão fora do comércio, por serem bens inexauríveis e inesgotáveis que, por conta disso, não podem ser objetos de apreensão humana, não gerando nenhum interesse ou utilidade para o mundo jurídico. Ex.: sol, lua, ar atmosférico, oceano etc.
Determinação normativa
A lei retira o bem do comércio. É o caso dos bens que integram o patrimônio público (que são bens que desde os tempos de Roma não fazem parte do comércio). Podem ser de uso comum do povo; uso especial da administração e bens dominicais.
Bens de uso comum: podem ser utilizados a título gratuito ou oneroso. É o caso de rodovias, parques, praças, etc.
Bens de uso especial: voltados para finalidade específica. Ex.: prédios utilizados pela administração 
Os bens de uso comum e de uso especial são inalienáveis, imprescritíveis, impenhoráveis não podendo recair sobre eles nenhuma espécie de ônus real. 
Bens dominicais: bens públicos que se submetem a regime privado.
Os bens podem ser desafetados e convertidos em bens dominicais. São alienáveis, imprescritíveis, impenhoráveis e não podem ser objeto de ônus real
Com a vigência da CF/88 restou claro que os bens públicos não podem sofrer usucapião
Própria vontade do titular
Primeira hipótese é a do bem gravado com cláusula de inalienabilidade jurídica. As regras de inalienabilidade estão previstas no art. 1911, CC sendo aplicadas do testamento (que é um ato causa mortis) e analogicamente aplicável ao contrato de doação (ato inter vivos). Três são os requisitos para que ocorra a cláusula de inalienabilidade jurídica
Que haja a transferência da coisa de um titular para outro de forma gratuita
Que exista no título de transferência, expressamente a cláusula de inalienabilidade jurídica
Que haja uma razão que justifique a cláusula de inalienabilidade jurídica
Ex.: indivíduo X é pai de Y. X sabe que Y tem desvio de personalidade (é pródigo), mas não interdita. Preocupado com Y, X resolve doar um dos imóveis para Y com cláusula de inalienabilidade jurídica vitalícia. Y aceita, podendo usar e gozar do imóvel enquanto tenha vida. A princípio não poderia alienar o imóvel, em que pese haja decisões em que o juiz permita a alienação. Ex.: necessidade econômica, parte do dinheiro é utilizada para sanar os débitos e outra parte para compra de outro imóvel, que por sub-rogação é gravado com cláusula de inalienabilidade
Quanto a discussão se se trata de bem gora de comércio temos:
1: É bem fora de comércio, não sendo possível o exercício da posse, pois os defeitos da cláusula alcança o titular de direito e da sociedade
2: Não é bem fora de comércio, podendo ser objeto de posse por terceiro, haja vista que os efeitos da cláusula só alcançam o titular da coisa e não a sociedade
Impossibilidade do exercício possessório
Hipótese em que o direito de possuir que era passível de ser exercido, deixa de sê-lo.
Exemplo é o da servidão predial de trânsito em que o serviente impede o exercício da servidão predial, impossibilitando-o.
Quem pode possuir?
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - porterceiro sem mandato, dependendo de ratificação.
Pela pessoa natural, por si própria
O indivíduo que quer obter a posse deve ter capacidade civil (embora posição minoritária sustentada por Venosa que destitui a necessidade da capacidade civil atribuindo o caráter determinante da posse ao estado de aparência do direito)
Por representação
Pode ser legal ou voluntária (contrato ou procuração)
Contrato de mandato: art. 653 a 692 do CC
Procuração: sem mandato, negócio jurídico unilateral
Por terceiro, sem mandato, com posterior ratificação
Ex.: entrega de mercadoria á vizinho ciente com posterior confirmação do gerente da loja
Natureza jurídica da posse
Três correntes:
Fato divorciado do ordenamento jurídico, ou seja, não é passível de ser protegida pelo ordenamento legal – aqui melhor seria dizer que é um fato antes mesmo e independentemente de ser regulado pelo direito
Para Savigny, é um fato na origem e direito nas consequências. Todo direito é antecipado pela existência de um fato, a posse é um direito, mas antes existe como um fato, aplicando-se em todos os fenômenos jurídicos
Para Ihering, trata-se de um direito, interesse juridicamente protegido, um direito subjetivo. Ora, em sendo protegida pelo próprio Estado, é um direito subjetivo
Posse, direito pessoal, real ou sui generis?
Para Savigny a posse é direito pessoal. Isto é, quando esta é violada, quem sofre a violação é o possuidor. Protegendo-se a pessoa do possuidor, estar-se-á protegendo a sociedade, alcançando a paz e segurança social
No Brasil, o CC/16, vigoravam as Ordenações Filipinas. Rui Barbosa, visando a proteção de professores da escola politécnica que foram demitidos. Utilizou-se do direito canônico, onde encontrou a solução na reintegração da posse, baseada na reintegração dos eclesiásticos. Com as constituições que foram sendo promulgadas, surgiram outros instrumentos de proteção do indivíduo, perdendo o sentido a solução de Rui
Para Ihering, a posse é direito real, pois é a primeira linha de defesa da propriedade, tratando-se de instituto de socorro do domínio da propriedade. Assim, o que está se ofendendo diretamente é a coisa e, indiretamente, a pessoa do possuidor e a sociedade.
Relevância prática: atuação do cônjuge na ação possessória
Outra corrente defende que a posse não é, nem direito pessoal e nem direito real, mas sim direito especial, sui generis
Moreira Alves diz que para que um fenômeno integre a categoria de um dogma jurídico, é necessário que tenha todas as características exigidas para tal, faltando uma, o fenômeno não integra a categoria de dogma. Uma das características fundamentais do direito real é a oponibilidade erga omnes, mas a posse nem sempre é erga omnes. Assim, a posse não integre a categoria de direitos reais, mas tem a posição de um direito real
Ex.: X invade e ocupa o imóvel de Y e passa a exercer a posse, posteriormente W tenta invadir o imóvel ocupado por X. X propõe contra W ação de reintegração de posse. Vê-se que a posse é relativa
Função Social
Tudo que se aplica à propriedade como função social, também se aplica à posse, ao menos em um primeiro plano. Abrindo um segundo plano para função social específica.
No direito romano a propriedade era individualista, assim como na Idade Média, prevalecendo com a Revolução Francesa e a consequente promulgação do Código Civil francês. Estas são as fases individualistas do direito, em que o centro está na propriedade e na igualdade formal.
Já na segunda metade do século XIX, com a revolução industrial na Europa, e a produção em escala incentivando o consumo em massa vários abusos surgiram, indicando um problema a ser resolvido pelo direito. Estes fenômenos acarretaram uma modificação na maneira de pensar o direito, voltando-se a proteção jurídica à sociedade e dignidade humana, transformando a igualdade outrora meramente formal em material. O Estado passa, então, a ser social. Ex.: constituição mexicana, alemã. Aqui, muda-se a relação jurídica entre as pessoas e, sobretudo, as relações de poder, o exercício do direito passa a ter caráter social
A CF/88 trouxe robustez à função social
Função social: finalidade para efeito da propriedade
No campo é atingida quando a propriedade é produtiva, respeitando o meio ambiente, as relações trabalhistas, a economia planejada etc. (arts. 185 e 186, CF)
Na área urbana a função social é comprida quando se obedece ao plano diretor de cada cidade. O Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001 apresenta mecanismos para sancionar as hipóteses em que não são cumpridas a função social
É necessário o respeito à habitação dos imóveis, o respeito à vizinhança, ao meio ambiente, à questão cultural histórico-paisagista etc.
Sanções:
Notificação para que o imóvel seja utilizado com construções ou plantações
Tributações progressivas (prazo de 5 anos)
Expropriação do imóvel
Arts. 2º a 8º do Estatuto da Cidade
Exemplos: 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
Expropriação privada (usucapião trabalho)
Art. 1228 (...)
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Usucapião urbano – Constituição Federal
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Usucapião urbano coletivo
Visa áreas de favelas e cortiços
Art. 10.  Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. 
Acessão: forma originária de aquisição da propriedade advinda da união ou agrupamento de coisa acessória a principal que faz surgir uma coisa nova, diferente das que se uniram, autônoma e inseparável. Ex.: prédio
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Movimentos populares
Desobediência civil: ato pacífico de descumprimento da lei
Resistência civil: revolução armada
Base: princípio da cidadania
Cabem quando o Estado é tirânico ou corrupto
Omovimento popular dos sem-terra invade e ocupa área de 1000m² na zona urbana da cidade de São Paulo. A área ocupada é de propriedade do indivíduo X, devidamente registrada no registro imobiliário competente. O movimento popular referido permanece no local por 15 anos, quando é surpreendido por uma ação de reintegração de posse promovida pelo indivíduo X. Diante do exposto, indaga-se:
O movimento popular exerce posse ou detenção? Por quê?
A apreensão do movimento popular é justa ou injusta? De boa ou de má fé?
O movimento popular ou o indivíduo X cumpre a função social da propriedade? Por que?
Qual a matéria de defesa que pode ser arguida pelo movimento popular?
Resposta:
Detenção se houver violência ou clandestinidade
Posse de força nova: exercida dentro da prazo de ano e dia, a contar do último esbulho ou turbação
Posse de força velha: exercida após a data de ano e dia a contar do esbulho ou turbação
Após o ano e dia, presume-se convalidada a posse, que passa a ser exercida sem vícios. Trata-se, entretanto, de presunção relativa
Efeitos jurídicos da posse
Savigny observa dois efeitos: o ad usucapionem e o ad interdicta. Há autores que visualizam 72 efeitos possíveis da posse. Como se pode observar, é tema controverso na doutrina. A posição a ser adotada aqui se refletirá no pensamento Bevilaqua, que é a adotada no Código Civil de 2002, sendo tomado como efeitos o número de sete, quais sejam:
Posse ad interdicta (diz respeito às ações possessórias)
Percepção dos frutos
Indenização em razão das benfeitorias realizadas e o direito de retenção
Do perecimento ou da deterioração da coisa possuída e a responsabilidade civil
Do ônus probatório para quem contesta a posse
Da posse como primeira linha de defesa da propriedade ou instituto de socorro do domínio
Efeito jurídico: consequência resultante do fenômeno
Posse ad usucapionem
Usucapião é o modo originário de aquisição da propriedade e de outros direitos reais por meio do exercício prolongado da posse e quando necessário, com o preenchimento de determinados requisitos legais
Há quem entenda o usucapião ser modo derivado, ou ainda, especial de aquisição da propriedade. Derivado pelo fato do usucapiente ser responsável pelos tributos incidentes do imóvel (transmissão desta responsabilidade)
Há duvida também quanto ao usucapião ser um modo prescricional de aquisição (tese adotada pela linha francesa, na medida em que o direito francês toma por certa essa distinção) ou um modo de aquisição (posição majoritária brasileira). Essa discussão é apimentada por conta das previsões dos arts. 1243 e 1244 que indicam a aplicação das regras de prescrição ao usucapião
Fundamentos jurídicos do usucapião
Fundamento jurídico significa a razão da existência do fenômeno. No usucapião o fundamento é a consolidação da propriedade (ou domínio) por meio do exercício fático da posse, isto é, juridicização da posse
Há um brocardo romano que preceitua que o direito não socorre aquele que dorme
Há proteção da posse daquele que trabalha, que realiza a função social
Requisitos para a ocorrência do usucapião
De natureza:
Pessoal
Real 
Formal
Da natureza pessoal
Diz respeito às partes envolvidas no usucapião, mais precisamente o usucapiente e o proprietário do imóvel que se pretende usucapir. Em relação ao usucapiente, não se deve olvidar que este exercerá o ato possessório, que constitui ato jurídico e consequentemente necessita de capacidade civil para ser perfeito. A pessoa jurídica pode usucapir, mas sua apreensão deve ser exercida no seu representante legal.
É certo que sem a capacidade civil não se pode usucapir. É notório também que o prazo de usucapião não corre contra o absolutamente incapaz (só corre a favor), na medida em que se aplica ao usucapião as regras dos prazos prescricionais. Em se tratando de relativamente capaz, o prazo flui normalmente, cabendo ao assistente do relativamente capaz os atos de proteção e oposição da propriedade/posse.
Situações há em que se impedem ou suspendem o usucapião (legitimação ou capacidade especial para usucapir) haja vista a obediência aos preceitos prescricionais impostos ao usucapião, é o caso, por exemplo, da suspensão/impedimento do prazo de usucapião quanto às pessoas casadas
Da natureza real
Diz respeito à coisa que pode ser usucapida. Podem ser objeto de usucapião todas as coisas que se encontram no comércio jurídico (res habilis, coisa habilitada), podendo ser móvel ou imóvel, corpórea ou incorpórea (que se desdobrem de direitos reais)
Três razões retiram uma coisa do comércio: lei, vontade das partes e natureza do bem
A lei contém um papel importante, retira por exemplo o patrimônio público do comércio. A CF e o CC expressamente proíbem o usucapião do bem público
Bem público:
Uso comum do povo
Uso especial da administração
Dominical
Quanto aos bens gravados com cláusula de inalienabilidade jurídica, em que pela vontade do próprio titular se retira o bem do comércio
Aplicado ao testamento e por analogia aos atos entre vivos
Há discussão a respeito da possibilidade de usucapião desses bens
Duas posições
O bem gravado está fora do comércio, não podendo ser usucapido por que a cláusula atinge tanto o destinatário quanto à sociedade (posição majoritária)
O bem gravado pode ser usucapido porque a cláusula só tem o condão de atingir o destinatário, mas não a sociedade
Requisito formal
Subdivide-se em:
Requisito formal necessário: está presente em toda e qualquer espécie de usucapião
Requisito formal especial: está presente em alguma(s) espécie(s) de usucapião
Necessários
Dizem respeito à posse ad usucapionem e prazo legal de exercício possessório
Especiais
Tem como exemplos:
Justo título
Boa-fé
Dimensão do imóvel
Localização do imóvel
Finalidade de moradia
Condição financeira do usucapiente
Espécies de usucapião de bem imóvel
Usucapião extraordinário (art. 1238, CC)
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Tem como requisitos formais:
Posse ad usucapionem
15 anos de exercício possessório, podendo este prazo ser reduzido para 10 anos se o usucapiente estabelecer no local sua moradia habitual ou realizar obra/serviço de caráter produtivo
Exige mais tempo de exercício produtivo e menor número de requisitos formais 
Usucapião ordinário (art. 1242, CC)
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
Tem como requisitos formais:
Posse ad usucapionem
10 anos de exercício possessório, podendo este prazo ser reduzido para 5 anos se o imóvel foi adquirido de forma onerosa, com registro de título aquisitivo e posterior cancelamento, desde que o usucapiente estabelecer no local sua moradia ou realizar obras ou serviços de interesse social
Justo título: sentido documental
Boa fé: usucapiente ignora, desconhece o vício intrínseco do justo titulo
Obs.: não tem a propriedade por conta do vício que macula o justo título
Usucapião constitucional - Usucapião urbano individual (art. 183, CF, art. 1242, CC e art. 9º do Estatuto da Cidade – Lei 10.257/01)
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamentee sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
São requisitos formais
Posse ad usucapionem
5 anos de exercício possessório
Dimensão do imóvel – até 250 m²
Localização do imóvel em área urbana
Usucapiente não seja proprietário de outro imóvel urbano e/ou rural
Usucapiente estabeleça no local moradia, sua ou de sua família
Obs.: a dimensão do imóvel se refere a área construída e a área do terreno (útil)
O usucapião constitucional busca atender a função social da propriedade
Usucapião constitucional rural ou especial pro labore (art. 191, CF e art. 1239, CC)
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Tem como requisitos formais
Posse ad usucapionem
5 anos de exercício possessório
Domínio de imóvel até 50 hectares
Localização do imóvel em área rural
Usucapiente não seja proprietário de outro imóvel urbano e/ou rural
Usucapiente estabeleça no local sua moradia e/ou de sua família, tornando o imóvel produtivo para sua subsistência
Busca fixar o homem no campo para atender a função social da propriedade
Usucapião urbano coletivo (art. 10 e ss. do Estatuto da Cidade – Lei 10.257/01)
Art. 10.  Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.    
Tem como requisitos formais:
Posse ad usucapionem
5 anos de exercício possessório
Dimensão de imóvel inferior a 250 m² por possuidor
Localização do imóvel em área urbana
Posse exercida por coletividade de pessoas de baixa renda
Coletividade não seja proprietária de imóveis urbanos e/ou rurais
Coletividade estabeleça no local sua moradia e/ou de sua família
Usucapião indígena/silvícola (art. 33 da Lei 6001/76 – Estatuto do índio)
Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.
Requisitos formais
Posse ad usucapionem
10 anos de exercício possessório
Área inferior a 50 hectares
Posse exercida por indígena
Usucapião familiar (art. 1240-A, CC)
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.     
Requisitos formais:
Posse ad usucapionem
2 anos de exercício possessório
Dimensão do imóvel até 250m²
Localização do imóvel em área urbana
Usucapiente não proprietário de outro imóvel urbano/rural
Usucapiente estabeleça no local sua moradia e/ou de sua família
Um dos cônjuges ou companheiro estável, que residia no imóvel tenha abandonado o lar/família
Sentença do usucapião
Vara de registros públicos
Ação demorada
Existem duas teses sobre a natureza da sentença
A tese majoritária entende que a sentença é declaratória (efeito ex tunc)
O posicionamento minoritário entende a sentença ser constitutiva 
Sentença declaratória: é requisito para regularização do registro imobiliário, declara direito já existente e, portanto, não é requisito para que o usucapião ocorra
Sentença constitutiva: existe como requisito para que se configure o usucapião
Usucapião extrajudicial (NCPC e art. 206-A da Le 6015/73 – Lei de Registros Públicos)
Pedido feito diretamente no registro imobiliário em que o oficial de registro declara a existência da usucapião. Existe para desafogar o judiciário
 Percepção dos frutos
Percepção é o ato material de possuir, colher os frutos
Fruto: é o bem acessório que consiste numa utilidade extraída periodicamente de uma coisa principal. Sem que a extração implique em diminuição da fonte ou alteração de sua essência ou substância. Ex.: laranjas extraídas de laranjeira, a laranja é fruto natural e a extração desta não implica alteração da laranjeira
Produto: é o bem acessório que consiste em toda utilidade extraída de uma coisa principal, implicando em alteração de sua fonte, de sua essência ou substancia, levando ao esgotamento/exaurimento da fonte. Ex.: pedras extraídas de pedreira, petróleo
Obs.: se o produto for explorado economicamente, aplica-se a ele as regras concernentes aos frutos
Classificação dos frutos
Quanto à origem
Naturais: são aqueles que resultam da ação exclusiva da natureza. Ex.: laranjas, bezerro
Industriais: são frutos que resultam da ação humana. Ex.: pneus fabricados, escultura
Civis: rendimentos. Ex.: juros (do capital), aluguéis (locação)
Quanto ao estado
Percebidos: são os colhidos, isto é, separados da coisa principal
Pendentes: são os que se encontram na coisa principal, que não foram, ainda, extraídos. Ex.: laranja no pé de laranjeira, bezerro não nascido
Estantes: são aos acondicionados, armazenados. Ex.: laranjas encaixotadas para exportação
Percipiendo: extemporâneos, que deveriam ter sido colhidos, mas não o foram. Ex.: laranjas que deveriam ter sido colhidas na safra, mas não foram
Consumidos: alienados ou os que em razão do uso apresentam uma alteração em sua essência ou substância. Ex.: laranja colocada à venda
Os possuidores de boa-fé tem direito aos frutos percebidos, devendo restituir os frutos pendentes e colhidos antecipadamente, cessada a boa-fé. Tendo, no entanto direito às despesas de custeio e produção dos frutos restituídos, evitando-se assim o enriquecimento sem causa
O possuidor de má-fé deve restituir os frutos colhidos, pendentes, antecipadamente percebidos, respondendo ainda pelos frutos que deixou de colher, tendo no entanto o direito ao ressarcimento das despesas de custeio e produção dos frutos restituídos, evitando-se assim o enriquecimento sem causa
Distinção entre acessão e benfeitorias
A diferença está no fato de que a acessão cria coisa nova pela união ou incorporação de uma coisa acessória à outra principal. Na benfeitoria, por outro lado, não se cria coisa nova, mas conserva, melhora ou ainda embeleza coisa já existente. A espécie de benfeitoria é auferida pela análise da finalidade da obra e não da obra “per si”.
Quanto à acessão, faz-se por bem saber que estas podem ser classificadas em espécies:
Imóvel para imóvel:
Aluvião
Avulsão
Formação de ilhas
Abandono de álveo
Móvel para imóvel
Construções
Plantações
Semeaduras
Indenização pelas benfeitorias realizadas e o direito de retenção (arts. 1219 e 1220, CC)
O possuidor de boa-fé tem o direito à indenização pela realização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo levantar, quando possível, as benfeitorias voluptuárias, ou não sendo possível, a receber indenização, cabendo o exercício do direito de retenção
O possuidor de má-fé somente tem direito à indenização em razão das benfeitorias necessárias, não podendo exigi-la nas hipóteses de realização de benfeitorias úteisou voluptuárias, não tendo ainda o direito a retenção da coisa
Retenção: é a não restituição legítima da coisa. Trata-se de prerrogativa, fundamentada em direito real, de que tem o titular de um crédito, no sentido de não restituir a coisa que lhe foi transmitida até que seja paga a indenização correspondente (ao crédito)
Perecimento ou deterioração da coisa possuída e a responsabilidade civil
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Perecimento: diz respeito à destruição total da coisa, com alteração de sua essência ou substância. Ex.: soterramento de imóvel
Deterioração: destruição parcial de uma coisa. Ex.: batida na lateral de veículo
O art. 1217, CC privilegia o possuidor de boa-fé e sanciona aquele possuidor que tenha atuado culposamente
O possuidor de boa-fé não responde pelo perecimento ou deterioração da coisa possuída, salvo se der a isto causa, ou seja, se agir culposamente (dolo ou culpa). Ex.: X furta veículo de Y, alterando os documentos deste e vendendo-o para W, que desconhece do furto e do respectivo documento falso, incidindo então em posse de boa-fé. Duas situações:
Veículo se encontra na garagem do imóvel de W, e acaba sendo atingido por um raio, fazendo que o veículo pereça. W, nesta hipótese não será obrigado a indenizar Y caso este ingresse com ação, pois a posse que W exercia era de boa-fé e o perecimento da coisa se deu por caso fortuito ou força maior
W vai para uma balada, alcoolizado dirige o veículo e acaba por bater num poste. Nesse caso, em que pese a posse de W fosse de boa-fé, deverá este indenizar Y em caso de eventual ação, haja vista que incidiu em culpa quando na posse do bem, devendo indenizar qualquer perdas e danos provenientes do fato que causou.
O art. 1218, confere ao possuidor de má-fé a responsabilidade pelo perecimento ou deterioração da coisa possuída ainda que por via acidental, sendo que se exonerará de tal responsabilidade com a prova de que o perecimento ou deterioração ocorreria mesmo que o bem estivesse nas mãos do legítimo dono. Ex.: W ao comprar o veículo, tinha conhecimento de que X o tinha furtado, sabendo portanto que a posse era injusta e sendo, assim, possuidor de má-fé. Duas situações:
O automóvel está estacionado na frente do imóvel de W e um veículo em alta velocidade acaba batendo naquele. Em que pese W não tenha dado causa ao perecimento ou deterioração do veículo, a má-fé que exerce sobre este acarreta a responsabilidade pelas eventuais perdas e danos decorrentes do fato
W dirigindo o automóvel rompe a barra de direção, perdendo o controle do veículo que cai no rio e perece. A princípio W responderia perante Y, entretanto, se conseguir provar que o rompimento da barra se deu por defeito de fábrica e que teria acontecido mesmo que na posse do legítimo possuidor restará isento de responsabilidade
Ações possessórias (tutelas possessórias ou posse ad interdicta)
Disciplinada nos arts. 1210 a 1213, CC e arts. 554 e ss. do CPC
O art. 1210 contempla a forma de jurisdição privada, forma de autotutela da posse.
A autotutela era comum no período arcaico, no direito romano em que não se valia a força do direito, mas o direito da força. Era modelo primitivo de justiça que perdeu força no decorrer dos tempos e desenvolvimento da sociedade, em que o Estado passou à avocar (trazer para si) a violência legítima. Hodiernamente, em que pese o Estado figure como detentor da jurisdição, ainda temos alguns resquícios da justiça pretérita onde se afigura a possibilidade de exercício da autotutela, sendo esta permitida somente nos casos expressos na lei
A autotutela concernente à posse, cinde-se em:
Autodefesa da posse
Desforço imediato
Para que estes ocorram se faz necessário imediatidade da reação e proporcionalidade desta em relação à ação e contexto em que se encontra
Art. 1.210 (...)
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
Autodefesa da posse
Ocorre quando a posse está sendo esbulhada ou turbada e o possuidor reage por força própria, impedindo o esbulho ou turbação. Esta autodefesa é legítima. O possuidor pode evitar a ação do esbulhador com auxílio de pessoas e emprego de armas, inclusive. Não há que se olvidar também do caráter imediato que esta reação deve carregar, sob pena de se afigurar exercício arbitrário das próprias razões
Desforço imediato
Aplica-se quando a posse da coisa já foi esbulhada ou turbada, tendo o legítimo possuidor tomado conhecimento após este, e com imediatidade (assim que toma o conhecimento) reage, recuperando a posse em face do terceiro. Esta reação deve carregar, sempre, proporcionalidade
Lesão possessória
A lesão possessória é uma só, variando-se os graus. Há, deste modo, três possíveis graus de variação lesiva
Grau maior: esbulho
Grau médio: turbação
Grau brando: ameaça de esbulho ou turbação
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Esbulho possessório
É o grau mais elevado de ofensa à posse, caracterizando-se pela privação absoluta da posse de uma pessoa pela atuação de outrem. O possuidor se vê completamente privado do exercício da coisa que possuía, em face de atuação de terceiro esbulhador. A ação que deve ser proposta nesses casos é a REINTEGRAÇÃO NA POSSE
Turbação
É o grau médio de lesão à posse, no qual o possuidor tem o seu exercício possessório embaraçado, perturbado, pela ação de outrem que não o priva do exercício, mas o dificulta. Parte da doutrina divide a turbação em: turbação de fato, que cabe no campo fático-material; e turbação de direito: ocorre por conta de medidas judiciais empregadas. A turbação é situação em que o possuidor não consegue exercer a posse em sua integralidade por conta de exercício de terceiro que o dificulta. A ação que deve ser proposta nesses casos é a MANUTENÇÃO DA POSSE
Ameaça de esbulho ou turbação
Caracteriza-se por uma conduta praticada por quem pretende ofender a posse, que gera um justo receio de esbulho ou turbação no possuidor da coisa. Este justo receito resulta de uma conduta (concreta-material ou até mesmo expressões verbais ou escritas). Ex.: indivíduo para o trator em frente à fazenda de outrem ameaçando a qualquer momento invadi-la. A ação que deve ser proposta nesses casos é o INTERDITO PROIBITÓRIO
Há possibilidade aqui de se requere, inclusive pena cominatória, medida judicial em espécie de multa diária que se prestará a desencorajar, isto é, coibir o indivíduo de realizar o esbulho ou turbação
O art. 554 do CPC contempla o princípio da fungibilidade, que é atinente das ações possessórias. Assim sendo, havendo a priori determinado grau de lesão a posse, sendo atacado por ação correspondente e, a posteriori, este grau se modificar não será necessário propositura de nova ação, mas tão somente a informação ao juiz da modificação do grau lesivo, que converterá e tomará as posturas necessárias para a nova situação fática
Art. 554.  A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§ 2ºPara fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará

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