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Anotações - Direito das Coisas I - João Marcelo Couto Conceição

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Direito das Coisas – 2019/2 – Profa. Tula 
João Marcelo Conceição 
Sumário 
1 Introdução ao Direito das Coisas ........................................................................ 4 
1.1 Conceitos ........................................................................................................... 4 
1.2 Distinção entre direitos reais e direitos pessoais .............................................. 4 
1.2.1 Teoria Realista .............................................................................................. 5 
1.2.2 Teoria Personalista ....................................................................................... 5 
1.3 Características dos Direitos Reais...................................................................... 6 
1.4 Classificação dos direitos reais .......................................................................... 7 
1.5 Constituição dos direitos reais .......................................................................... 8 
2 Posse ................................................................................................................ 8 
2.1 Conceito ............................................................................................................ 8 
2.2 Poderes inerentes à propriedade ...................................................................... 9 
2.3 Fundamento da posse ....................................................................................... 9 
2.4 Teorias da Posse .............................................................................................. 10 
2.4.1 Teoria Subjetiva .......................................................................................... 10 
2.4.2 Teoria Objetiva ........................................................................................... 11 
2.4.3 Teoria adotada no Brasil ............................................................................ 12 
2.5 Natureza Jurídica da posse .............................................................................. 13 
2.6 Objeto da posse ............................................................................................... 13 
2.7 Detenção ......................................................................................................... 14 
2.8 Composse ........................................................................................................ 15 
2.9 Classificação da posse ..................................................................................... 15 
2.9.1 Justa ou Injusta ........................................................................................... 15 
2.9.2 Posse viciada e sem vício ............................................................................ 16 
2.9.3 Posse de boa-fé e de má fé ........................................................................ 17 
2.9.4 Posse direta ou indireta ............................................................................. 18 
2.9.5 Posse nova e posse velha ........................................................................... 19 
2.9.6 Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem” ...................................... 19 
2.10 Aquisição e perda da posse ............................................................................. 20 
2.10.1 Modos de aquisição ................................................................................... 20 
2.10.2 Legitimidade para adquirir a posse ............................................................ 22 
2.10.3 Transmissão da posse ................................................................................. 23 
2.10.4 Presunção das coisas móveis ..................................................................... 24 
2.10.5 Perda da posse ........................................................................................... 24 
2.11 Efeitos da posse ............................................................................................... 25 
2.11.1 Direito aos interditos .................................................................................. 25 
2.11.2 Direito de desforço imediato ..................................................................... 26 
2.11.3 Direito à percepção dos frutos ................................................................... 26 
2.11.4 Perda ou deterioração da coisa .................................................................. 27 
2.11.5 Indenização das benfeitorias ...................................................................... 27 
2.11.6 Direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias ............................ 28 
2.11.7 Direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. ........ 29 
2.11.8 Direito de usucapir ..................................................................................... 29 
3 Ações possessórias .......................................................................................... 29 
3.1 Ações possessórias na técnica do CPC ............................................................ 30 
3.1.1 A fungibilidade dos interditos .................................................................... 30 
3.1.2 Natureza dúplice das ações possessórias ................................................... 30 
3.1.3 Natureza da ação possessória – a exceção de domínio ............................. 31 
3.1.4 Legitimação ativa e passiva ........................................................................ 32 
3.1.5 Cumulação de pedidos ............................................................................... 33 
3.1.6 Medida liminar nas ações possessórias ..................................................... 33 
3.2 Espécies de interditos possessórios ................................................................ 34 
3.2.1 Ação de manutenção da posse .................................................................. 34 
3.2.2 Ação de reintegração de posse .................................................................. 35 
3.2.3 Ação de interdito proibitório...................................................................... 36 
4 Propriedade .................................................................................................... 36 
4.1 Conceito .......................................................................................................... 36 
4.2 Característica do direito de propriedade ........................................................ 38 
4.3 Ação Reivindicatória ........................................................................................ 38 
4.4 Limitações ao direito de propriedade ............................................................. 38 
4.4.1 Função social .............................................................................................. 38 
4.4.2 Abuso do direito ......................................................................................... 42 
4.4.3 Desapropriação por ato do Poder Executivo ............................................. 42 
4.4.4 Desapropriação por ato do Poder Judiciário .............................................. 42 
5 Aquisição da propriedade ................................................................................ 43 
5.1 Descoberta ...................................................................................................... 43 
5.2 Sistemas de aquisição da propriedade ............................................................ 44 
5.2.1 Francês ....................................................................................................... 44 
5.2.2 Alemão ....................................................................................................... 45 
5.2.3 Brasil ........................................................................................................... 45 
5.3 Formas de aquisição da propriedade .............................................................. 46 
5.3.1 Aquisição origináriae derivada .................................................................. 46 
5.3.2 Aquisição a titulo singular ou universal ...................................................... 46 
5.4 Aquisição da propriedade imóvel pela transcrição ......................................... 46 
5.4.1 Nomeclaturas ............................................................................................. 47 
5.4.2 Processo de retificação .............................................................................. 47 
5.4.3 Aspecto formal do registro ou averbação .................................................. 49 
5.4.4 Procedimento de dúvida ............................................................................ 49 
5.5 Usucapião ........................................................................................................ 51 
5.5.1 Fundamento ............................................................................................... 51 
5.5.2 Requisitos ................................................................................................... 52 
5.5.3 Efeitos ......................................................................................................... 53 
5.5.4 Espécies ...................................................................................................... 53 
5.6 Acessão ............................................................................................................ 57 
5.6.1 Formação de ilhas ...................................................................................... 57 
5.6.2 Aluvião ........................................................................................................ 57 
5.6.3 Avulsão ....................................................................................................... 58 
5.6.4 Álveo abandonado ..................................................................................... 58 
5.6.5 Construções e Plantações .......................................................................... 58 
5.7 Aquisição de propriedade móvel .................................................................... 61 
5.7.2 Tradição ...................................................................................................... 61 
6 Perda da propriedade ...................................................................................... 62 
6.1 Modos.............................................................................................................. 62 
7 Direitos de Vizinhança ..................................................................................... 63 
7.1 Passagem forçada............................................................................................ 64 
7.2 Dos limites entre Prédios e do Direito de Tapagem........................................ 64 
7.3 Do direito de construir .................................................................................... 65 
8 Condomínio .................................................................................................... 66 
8.1 Condomínio Horizontal/Edilício ...................................................................... 67 
8.1.1 Elementos constitutivos do condomínio edilício ....................................... 68 
8.1.2 Direitos dos Condôminos ........................................................................... 69 
8.1.3 Deveres dos condôminos ........................................................................... 69 
8.1.4 Inadimplência das despesas condominais ................................................. 70 
8.1.5 Efetividade da cobrança no CPC/2015 ....................................................... 71 
8.1.6 Áreas comuns ............................................................................................. 71 
8.1.7 Realização de obras .................................................................................... 71 
8.2 Multipropriedade (Art. 1.358-B e seguintes) .................................................. 72 
8.2.1 Relação de consumo .................................................................................. 73 
8.2.2 Conceituação .............................................................................................. 73 
 
1 Introdução ao Direito das Coisas 
1.1 Conceitos 
Há conflitos de interesse cuja referência se esgota no plano imediato das condutas 
queridas por uns e não por outros; e há os que se referem a condutas relacionadas a bens ou 
ao seu aproveitamento. A superação destes últimos norteia-se por normas jurídicas agrupadas 
em torno da noção de direito das coisas. 
Conforme Arnaldo Rizzardo, direito das coisas diz respeito ao conjunto de normas, leis, 
regulamentações, estudos, usos e concepções positivadas em torno dos bens ou coisas 
materiais. Trata da regulação do poder do homem sobre os bens e das formas de disciplinar a 
sua utilização econômica. 
“Coisas”, no sentido largo, é gênero (tudo o que existe além dos sujeitos) do qual os 
bens são espécies (o que tem valor econômico); no sentido estreito, ao contrário, é espécie 
(corpóreos) do gênero bens. Em direito das coisas emprega-se a expressão no sentido estrito, 
isto é, de bens corpóreos. 
Não são aplicáveis os preceitos do Livro do Direito das Coisas do Código Civil a bens 
incorpóreos ou direitos, a não ser que a lei expressamente admita a aplicação. Por exemplo, as 
ações de emissão de sociedade anônima não são bens corpóreos. Elas só podem ser gravadas 
por penhor, usufrutos ou alienação fiduciária em garantia porque a lei contempla expressa 
menção nesse sentido (LSA, arts. 39 e 40); mas não podem ser adquiridas por usucapião ou ter 
a respectiva titularidade defendida por meio de ação possessória, exatamente por não existir 
norma expressa que lhes estenda tais institutos típicos dos bens corpóreos. 
O direito das coisas reúne as normas legais e institutos jurídicos que norteiam a 
superação de conflitos de interesses relacionados, em última instância, ao aproveitamento 
pelos seres humanos de bens valiosos para eles. Ou seja, tem caráter patrimonial. Aplicam-se 
as normas e institutos do direito das coisas aos bens corpóreos; e, só no caso de expressa 
previsão legal, aos incorpóreos e direitos. 
1.2 Distinção entre direitos reais e direitos pessoais 
Não há critério indiscutível para distingui o direito real do direito pessoal. Pode-se 
dizer que as divergências se reduzem fundamentalmente à contraposição da teoria realista à 
teoria personalista. 
1.2.1 Teoria Realista 
Os adeptos da teoria realista caracterizam o direito real como o poder imediato da 
pessoa sobre a coisa, que se exerce erga omnes. O direito pessoal, ao contrário, opõe-se 
unicamente a uma pessoa, de quem se exige determinado comportamento. 
Por sua vez, seu caráter absoluto decorre de ser um poder direto e imediato sobre a 
coisa. Perde o direito real de propriedade o sentido tradicional do absolutismo. O exercício 
deve, pois, estar informado pela utilidade ou comodidade. Na base dessa ordem de ideias está 
a função social da propriedade. Daí porque a oponibilidade erga omnes dos direitos reais não 
pode ser confundida com o sentido de uso, fruição e disposição “do modo mais absoluto”. 
Para esta teoria, o direito real cria entre a pessoa e a coisa uma relação direta e 
imediata, encontrando-se apenas dois elementos: a pessoa (sujeito ativo) e a coisa que é o 
objeto. Já o direito pessoal traz uma relação entre a pessoa a quem pertence o direito e a 
outra pessoa que está obrigada em relação àquele, em razão de uma coisa ou de um fato 
qualquer, apresentando-se três elementos: o sujeito ativo, o sujeito passivo e a coisa ou fato 
que é o objeto. 
1.2.2 Teoria Personalista 
Contra concepção da teoria realista, levantaram-se duas objeções principais: a 
primeira, a de que não pode haver relação jurídica senão entre pessoas; a segunda, a de que a 
oponibilidade a terceiros não é peculiaridadedos direitos reais, mas característica de todos os 
direitos absolutos. 
Para a teoria personalista o direito real se perfaz de relações jurídicas entre pessoas, 
assim como os direitos pessoais. A diferença esta no sujeito passivo. Enquanto no direito 
pessoal, esse sujeito passivo – o devedor – é pessoa certa e determinada, no direito real, seria 
indeterminada, havendo, neste caso, uma obrigação passiva universal, a de respeita o direito – 
obrigação que concretiza toda vez que alguém o viola. 
*** 
Com efeito, atualmente admite-se que a distinção entre os direitos reais e os direitos 
obrigacionais não é absoluta. Porém, algumas características podem ser observadas: 
 Direito real Direito pessoal 
Incidência Recai sobre a coisa Recai sobre a relação entre os 
sujeitos (sujeita o patrimônio do 
devedor) 
Objeto Necessariamente é uma Objeto da obrigação pode ser coisa 
coisa determinada. genérica, bastando que seja 
determinável. 
Violação Consiste sempre num fato 
positivo. 
Pode ser por um fato positivo ou 
negativo. 
Efeito Concede gozo e fruição de 
bens. 
Concede direito a uma ou mais 
prestações efetuados por uma 
pessoa. 
Tempo Caráter permanente, tende 
à perpetuidade. 
Eminentemente transitório, pois se 
extingue no momento em que a 
obrigação correlata é cumprida. 
Hipóteses Numerus cláusus. São 
criação exclusiva do 
legislador. 
Prevalece a autonomia privada. 
Direito Direito de sequela. Execução da obrigação. 
 
1.3 Características dos Direitos Reais 
As principais características do direito real são três, conforme Fábio Ulhoa: trata-se de 
direito absoluto e típico, que adere à coisa a que se refere. 
a) Direito absoluto O direito real é oponível erga omnes. Lembre que um direito 
absoluto não é ilimitado, deve respeitar a funcionalidade do bem, conforme art. 1.228, §1º, do 
CC1. Quando se classifica certo direito como absoluto, destaca-se unicamente sua 
oponibilidade pelo titular a qualquer um que o tenha lesado, mesmo que inexistente relação 
jurídica entre esses sujeitos. 
Uma das consequências do caráter absoluto do direito real é a sequela. O titular do 
direito real pode defende-lo onde quer que se encontre a coisa a que se refere. O proprietário, 
por força do direito de sequela, pode reivindicar o bem que lhe pertence de quem 
injustamente o possui. 
b) Direito típico. A tipicidade é característica ínsita aos direitos reais: só existem os 
disciplinados em norma legal. Bem entendida, a característica da tipicidade exige que o direito 
real esteja previsto m lei para que possa ser instituído com fundamento na vontade das partes. 
Não é indispensável que esteja especificamente relacionado no dispositivo que elenca as 
principais hipóteses de direito real. 
 
1
 § 1
o
 O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades 
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei 
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, 
bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
c) aderência à coisa. Esse direito afeta o bem no sentido de ligar-se a ele e não ao 
sujeito que o titula: quer dizer, continua a existir mesmo que mude o seu titular. 
Orlando Gomes elenca também a característica da preferência, onde, constituído uma 
garantia real sobre o bem, o detentor dessa garantia possui preferência na execução dos bens 
em relação aos demais credores. 
1.4 Classificação dos direitos reais 
O principal critério de classificação dos direitos reais distingue os sobre coisa própria 
(jus in re própria) e os incidentes sobre coisa alheia (jus in aliena). 
É direitos reais sobre coisa própria é a propriedade. A propriedade é o mais importante 
dos direitos reais, à qual correspondem os mais amplos poderes de sujeição da coisa ao ser 
humano. 
Por sua vez, os direitos reais sobre coisa alheia se subdividem em três categorias: 
direito de gozo, de garantia e à aquisição. 
Os direitos reais de gozo sobre a coisa alheia atribuem ao sujeito o poder de usar ou 
fruir bens de que não é o proprietário. Nessa categoria se encontra o usufruto, uso, habitação, 
servidão e superfície. Veja que o poder de usar ou fruir bens alheios pode derivar 
exclusivamente de vínculo obrigacional entre o proprietário e quem passa a titularizá-lo, como 
no caso dos contratos de locação e comodato. Quando o poder de usar ou fruir coisa alheia 
deriva também de direito real, ainda que originado de negócio jurídico, surge um vínculo real, 
afetado ao bem e independente de quem seja a pessoa que o titulariza. 
Os direitos reais de garantia tem a finalidade de assegurar o cumprimento eficiente da 
obrigação garantida. Por recaírem os direitos reais de garantia sobre coisa alheia, não 
importam a titularidade de propriedade sobre o bem onerado, nem mesmo a resolúvel. 
Por fim, o direito real à aquisição de coisa alheia confere ao seu titular a prerrogativa 
de reivindicar a propriedade de bem objeto de compromisso de compra e venda, após o 
integral pagamento do preço. Titula-o, pois, o promitente comprador. 
 
 
 
1.5 Constituição dos direitos reais 
Os direitos reais adquirem-se por efeito de fatos jurídicos lato sensu, que lhes servem 
de causa, como característicos de sua finalidade econômica. Esses fatos são denominados, na 
doutrina alemã, relação causal ou básica. Na aquisição da propriedade pela compra e venda, 
este contrato é a relação jurídica básica ou a causa do direito de propriedade adquirido sobre a 
coisa vendida. 
A eficácia do direito real depende da existência e validade de sua causa. Se esta é nula, 
a aquisição do direito real não vale. Quem adquire por efeito de contrato de compra e venda 
inválido não se torna legitimo proprietário. Numa palavra, o modo de aquisição é 
condicionado à validade do título que lhe serve de base. 
2 Posse 
2.1 Conceito 
Posse é o exercício de fato de um ou mais poderes característicos do direito de 
propriedade. Para Pontes de Miranda, posse é relação fática entre pessoa que possui e o alter, 
a comunidade. Posse é estado de fato, situação real, o poder fático sobre a coisa. 
 Quem titula a posse de algum bem age, assim, tal como o seu proprietário. O 
possuidor pode ser, e muitas vezes é, também o titular do direito de propriedade. Mas, 
mesmo não sendo o proprietário, o possuidor tem certos direitos tutelados pela ordem 
jurídica. Aliás, ele está protegido, em alguns casos, até mesmo contra o proprietário. Ou seja, 
Classificação 
Sobre coisa 
alheia 
Direito de 
gozo 
Servidão, 
Usufruto, Uso e 
Habitação 
Direito de 
garantia 
Penhor, hipoteca 
e anticrese 
Direito de 
aquisição 
Promitente 
comprador 
Sobre coisa 
própria 
Propriedade 
posse e propriedade são conceitos jurídicos distintos. É na qualificação jurídica da conduta 
deles, feita pela lei, que residem as diferenças entre um e outro instituto. 
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em 
relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome 
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor 
da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que 
injustamente a possua ou detenha. 
2.2 Poderes inerentes à propriedade 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o 
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à 
propriedade. 
Suscintamente, são os poderes inerentes à propriedade 
Usar: retirar as utilidades próprias da coisa. Esse poder significa o de desfrutar dos 
proveitos diretamente proporcionados pelo bem. 
Gozar/fruir: corresponde ao poder de explorar economicamente o bem, isto é, extrair 
dele frutos. Gozar é obter renda ou lucro da coisa. Os frutos podem ser: 
 Naturais: que vem da própria coisa; 
 Industriais: depende de uma ação humana (ex: lavoura); Civis: juros e aluguéis; 
Dispor: poder de definir o que vai ser feito no bem. Abrange tanto, de um lado, o 
poder de destruir, total ou parcialmente, o bem objeto de propriedade, reforma-lo, fundi-lo ou 
em qualquer medida alterar-lhe a substância (disposição material) como, de outro, o de 
abandoná-lo, aliená-lo ou dá-lo em garantia (disposição jurídica). A função social da 
propriedade alcança igualmente o poder de dispor. 
Reaver a coisa: o proprietário pode reivindicar o bem das mãos de quem injustamente 
o possui ou detém. 
2.3 Fundamento da posse 
Se alguém instala-se em um imóvel e nele se mantém, mansa e pacificamente, por 
mais de ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe proporciona direito a proteção. Tal 
direito é chamado jus possessionis ou posse formal, derivado de uma posse autônoma, 
independentemente de qualquer título. É tão somente o direito fundado no fato da posse que 
é protegido contra terceiros e até mesmo o proprietário. O possuidor só perderá o imóvel para 
este, futuramente, nas vias ordinárias. Enquanto isso, aquela situação será mantida. E será 
sempre mantida contra terceiros que não possuam nenhum título nem melhor posse. 
Já o direito à posse, conferido ao portador do título devidamente transcrito, bem 
como ao titular de outros direitos reais, é denominado jus possidendi ou posse causal. Nesses 
exemplos, a posse não tem qualquer autonomia, constituindo-se em conteúdo do direito real. 
Tanto no caso do jus possidendi (posse causal, titulada) como no do jus possessionis (posse 
autônoma ou formal, sem título) é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos 
de violência, para garantia da social. 
Em suma, no jus possidendi se perquire o direito, ou qual o fato em que se estriba o 
direito que se arguiu; e no jus possessionis não se atende senão à posse; somente essa 
situação de fato é que se considera, para que logre os efeitos jurídicos que a lei lhe confere. 
Não se indaga então da correspondência da expressão externa com a substância, isto é, com a 
existência do direito. A lei socorre a posse enquanto o direito do proprietário não desfizer esse 
estado de coisa e se sobrerevele como dominante. O jus possessionis persevera até que o jus 
possidendi o extinga. 
2.4 Teorias da Posse 
As teorias do estudo da posse podem ser divididas em dois grupos: o das teorias 
subjetivas, no qual se integra a de Friederich Karl von Savigny, que foi quem primeiro tratou da 
questão nos tempos modernos; e o das teorias objetivas, cujo principal propugnador foi Rudolf 
von Ihering. 
O Brasil adota a teoria objetiva. 
2.4.1 Teoria Subjetiva 
O mérito de Savigny foi ter descoberto, quando procurava reconstruir a dogmática da 
posse no direito romano, a posição autônoma da posse, afirmando categoricamente a 
existência de direitos exclusiva e estritamente resultantes da posse – o ius possessionis; e, 
neste sentido, sustentou que só este ius possessionis constituía o núcleo próprio da teoria 
possessória. 
Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos: o corpus, 
elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa, e o animus, elemento subjetivo, 
que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e de 
defende-la contra a intervenção de outrem. Não é propriamente a convicção de ser dono, mas 
a vontade de tê-la como sua, de exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular. 
Os dois citados elementos são indispensáveis, pois, se faltar o corpus, inexiste posse, e, 
se faltar o animus, não existe posse, mas mera detenção. A teoria se diz subjetiva em razão 
deste último elemento. Para Savigny adquire-se a posse quando, ao elemento material, vem 
juntar-se o elemento espiritual, anímico. Não constituem relações possessórias, portanto, na 
aludida teoria, aquelas em que a pessoa tem a coisa em seu poder, ainda que juridicamente 
fundada (ex: comodato, locação). 
Nesse ponto, a teoria não encontrou sustentáculo. O direito moderno não pode negar 
proteção possessória ao arrendatário, ao locatário e ao usufrutuário, que têm a faculdade de 
ajuizar as medidas competentes enquanto exercem a posse, sob alegação de que detêm a 
coisa, sob a alegação de que detém a coisa animo nomine alieno. 
Savigny procurou uma solução tangencial, criando uma terceira categoria além da 
posse e da mera detenção, a que denominou posse derivada, reconhecida na transferência dos 
direitos possessórios, e não do direito de propriedade, e aplicável ao credo pignoratício, ao 
precarista e ao depositário de coisa litigiosa, para que pudessem conservar a coisa que lhes 
fora confiada. Assim, contrariando a própria tese, isto é, admitindo a posse sem a intenção de 
dono, Savigny mostrou a fragilidade de seu pensamento, embora tenha procurado fazer a 
distinção entre o ânimo exigido para a posse e o ânimo do proprietário propriamente dito. No 
primeiro caso, o ânimo é mais que representação (animus repraesenandi). No outro, o 
arrendatário, o locatário e o usufrutuário estariam representando o arrendante, o locado ou o 
nu-proprietário, situação, no entanto, diferente daquela que a realidade apresenta. 
2.4.2 Teoria Objetiva 
Jhering bateu vivamente contra posição de Savigny. Jhering nega que o corpus seja a 
possibilidade material de dispor a coisa, porque nem sempre o possuidor tem a possibilidade 
física dessa disposição. Por outro lado, por vezes será impossível provar o animus, porque se 
trata de elemento subjetivo. Em razão disso, a teoria de Jhering é dita objetiva. 
Para ele, o conceito de animus não é nem a apreensão física, nem a possibilidade 
material de apreensão. O importante é fixar o destino econômico da coisa. O possuidor 
comporta-se como faria o proprietário. O animus está integrado no conceito de corpus. É o 
ordenamento jurídico que discrimina a seu arbítrio, sobre as relações possessórias, criando, 
assim, artificialmente a separação da chamada detenção jurídica relevante de outras situações 
não protegidas. De qualquer modo, após Jhering um ponto ficou definitivamente claro na 
doutrina da posse, qual seja, de que a distinção entre esta e a detenção não pode depender 
exclusivamente do arbítrio do sujeito. 
Há que se examinar em cada caso se ordenamento protege a relação com a coisa. 
Quando não houver proteção, o que existe é mera detenção. Como consequência, a posse 
deve ser a regra. Sempre que alguém tiver uma coisa sob seu poder, deve ter direito à 
proteção. Ou seja, em cada caso deve ser examinado se a pessoa comporta-se como dono, 
existindo corpus e animus. Quando no caso concreto prova-se que existe degradação nessa 
posse, e o ordenamento a exclui, ocorre uma causa detentionis. 
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em 
relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome 
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo 
como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, 
presume-se detentor, até que prove o contrário. 
Traz-se o critério do interesse econômico sobre o bem. Para se configurar a posse 
basta, portanto, atentar no procedimento externo, uma vez que o corpus constitui o único 
elemento visível e suscetível de comprovação. Para Jhering, a visibilidade da posse tem uma 
influencia decisiva sobre sua segurança, e toda a teoria da aquisição da posse deve referir-se a 
essa visibilidade. Portanto, a posse não é o poder físico, e sim a exteriorização da propriedade. 
Protege-se a posse, aduz, não certamente para dar ao possuidor a elevada satisfação de ter o 
poder físico sobre a coisa, mas para tornar possível o uso econômico da mesma em relação às 
suas necessidades. 
2.4.3 Teoria adotada no Brasil 
A teoria objetiva de Ihering foi a adotada pelo Código Civil de 2002. Isso se depreende 
da definição de possuidor constante. No art. 1.196, que assim considera aquele quese 
comporta como proprietário, exercendo algum dos poderes que lhe são inerentes. 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o 
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à 
propriedade. 
Por vezes, no entanto, torna-se imperioso o exame do animus como ocorre no 
usucapião, em que do usucapiente examina-se a intenção de possuir como dono. O art. 1.238 
dispõe sobre aquele que “possui como seu um imóvel”. Indubitavelmente, aqui existe ponto 
de contato com a teoria subjetiva, que leva sempre em consideração o animus. 
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem 
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, 
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz 
que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o 
registro no Cartório de Registro de Imóveis. 
2.5 Natureza Jurídica da posse 
Consiste em saber se a posse é um fato ou um direito. 
Sustentava Savigny que a posse é, ao mesmo tempo, um fato e um direito. 
Considerada em si mesma, é um fato. Considerada nos efeitos que produz – usucapião e os 
interditos – é um direito. 
Ensina Ihering que a posse é um direito. A essa conclusão chega, coerentemente, em 
face do seu famoso conceito de direito, formulado no Espírito do Direito Romano. Para ele, 
direito é o interesse juridicamente protegido. Admitida, essa definição, não pode haver dúvida 
de que a posse seja um direito. Nela se reúnem os dois elementos – substancial e formal – que 
se exigem para a existência de um direito. O elemento substancial consiste no interesse. A 
posse corporifica, porque constitui a condição para a utilização da coisa. Como simples de fato, 
oferece, pois, interesse. A esse elemento substancial, o Direito acrescenta, na posse, um 
elemento formal: a proteção jurídica. Reveste, portanto, o caráter da relação jurídica, o que 
equivale a direito. 
Em suma, a expressão posse é ambígua e designa tanto o fato jurídico que, na norma, 
é descrito como antecedente do direito aos interditos ou à aquisição por usucapião como a 
faculdade de agir em defesa de seus interesses, quando ameaçados ou lesionados. 
Quando empregada a expressão no sentido de direito, posse é direito real, por reunir 
todas as características dessa categoria, não podendo ser considerada a posse direito pessoal. 
Quer dizer, as ações possessórias devem ser consideradas como tendo por objeto direito real, 
não podendo ser ajuizadas, quando versarem sobre bem imóvel, por pessoas casadas senão 
com autorização do cônjuge (CPC, art. 10). 
2.6 Objeto da posse 
Só bens corpóreos podem ser objeto de posse; os incorpóreos, não. Nem todos os 
bens sobre os quais pode recair a propriedade são, portanto, suscetíveis de posse. 
Os bens intelectuais, como a patente de invenção, o registro de marca ou a obra 
literária, são objetos do direito de propriedade titulado pelo inventor, empresário ou autor, 
respectivamente. Mas não cabe falar em posse nesses casos, em razão da imaterialidade do 
bem em referência. 
Súmula 228 do STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a 
proteção do direito autoral. 
2.7 Detenção 
A posse distingue-se da detenção em função da dependência entre o detentor 
(servidor ou fâmulo da posse) da coisa e outra pessoa (senhor da posse) em nome da qual 
submete a coisa ao seu poder. O detentor não usufrui do sentido econômico da posse, que 
pertence a outrem. 
O exame será do caso concreto, sendo por vezes tênue na prova e na intenção das 
partes a linha divisória entre atos de mera tolerância e posse efetiva. Nesse aspecto, torna=se 
inevitável o exame do animus dos sujeitos pelo juiz. Por tais razões, no exame da posse no 
processo judicial, grande é a importância dos aspectos de fato circundantes da relação do 
sujeito com a coisa. Há um fator importante na posição do detentor, que foi ressaltado pelo 
parágrafo único do art. 1.198 do mais recente diploma, aqui transcrito. 
 Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em 
relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome 
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo 
como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, 
presume-se detentor, até que prove o contrário. 
A ideia básica é no sentido de que quem inicia a detenção como mero fâmulo ou 
detentor não pode alterar por vontade própria essa situação e tornar-se possuidor. Para que o 
detentor seja considerado possuidor, há necessidade de um ato ou negócio jurídico que altere 
a situação de fato. Isso porque o fato da detenção da coisa é diverso do fato da posse. Essa 
modificação do animus não depende unicamente da vontade unilateral do detentor. 
Além do art. 1.198 do CC, importante analisar o 1.208. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou 
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos 
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
Os aludidos atos (permissão, tolerância ou atos violentos) impedem o surgimento da 
posse, sendo aquele que os pratica considerado mero detentor, sem qualquer relação de 
dependência com o possuidor. O dispositivo em apreço, aliás, trata de hipótese de detenção 
sem dependência do detentor para com o possuidor, denominada detenção independente. 
Todavia, cessada a violência ou a clandestinidade, continuam os mencionados atos a produzir 
o efeito de qualificar, como injusta e com os efeitos daí resultantes, a posse que a partir de 
então surge. Em suma, enquanto perdurar a violência ou a clandestinidade não haverá posse. 
Cessada a prática de tais ilícitos, surge a posse injusta , viciada, assim considerada em relação 
ao precedente possuidor. 
2.8 Composse 
Composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, 
poderes possessórios sobre a mesma coisa. É o que sucede com adquirentes de coisa comum, 
com marido e mulher em regime de comunhão de bens. 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, 
poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que 
não excluam os dos outros compossuidores. 
Não cabe interpretação literal ao artigo. Cada qual possuirá uma parte abstrata, assim 
como, no condomínio, cada comproprietário é dono de uma parte ideal da coisa. Isso não 
significa que cada compossuidor esteja impedido de exercer o seu direito sobre toda a coisa. 
Dado lhe é praticar todos os atos possessórios que não excluam a posse dos outros 
compossuidores. Cada qual, per se, pode invocar a proteção possessória para defesa do objeto 
comum. 
Podem os compossuidores, também, estabelecer uma divisão de fato para a utilização 
pacífica do direito de cada um, surgindo, assim, a composse pro diviso. Permanecerá pro 
indiviso se todos exercerem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de 
fato (utilização ou exploração comum do bem). 
2.9 Classificação da posse 
A classificação da posse tem importância na definição dos direitos titulados pelo 
possuidor: o prazo da usucapião, por exemplo, será diferente segundo a posse seja de boa é 
ou má-fé; o possuidor indireto não tem acesso aos interditos contra o direito, mas este o tem 
contra aquele, e assim por diante. 
2.9.1 Justa ou Injusta 
Posse justa é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito. Para ter essa qualidade, o 
que importa é a forma da aquisição. Se foi adquirida por um dos modos admitidos na lei, a 
posse terá esse predicado. Justa é, por conseguinte, toda posse cuja aquisição for conforme ao 
direito – mansa, pacífica e induvidosa. 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou 
precária. 
A posse injusta define-se como a violenta, clandestina ou precária. 
Violenta é a posse obtida mediante o uso indevido da força. O novo possuidor 
desapossa o antigo usando de força física. Entendem alguns civilistas, que a posse também é 
violentaquando alguém é desapossado por ivis compulsiva (ex: ameaça). 
Clandestina é a posse que se adquire às ocultas. O possuidor a obtém usando de 
artifícios para iludir o que tem a posse, ou agindo às escondidas. Assim, aquele que, à noite, 
muda a cerca divisória de seu terreno, apropriando-se de parte do prédio vizinho. 
Precária é posse que se adquire por abuso de confiança. Resulta, comumente, da 
retenção indevida de coisa que deve ser restituída. A posse precária configura delito penal, no 
caso do depositário infiel. 
Os três vícios mencionados correspondem às figuras definidas no Código Penal como 
roubo (violência), furto (clandestinidade) e apropriação indébita (precariedade). O aludido art. 
1.200 do Código Civil não esgota, porém, as hipóteses em que a posse é viciosa. Aquele que, 
pacificamente, ingressa em terreno alheio, sem procurar ocultar a invasão, também pratica 
esbulho, malgrado a sua conduta não se identifique com nenhum dos três vícios apontados. 
Quando a posse é injusta, o possuidor não tem direito aos interditos contra quem 
titulava posse justa sobre a coisa, mas somente contra terceiros que pretendam toma-la de 
modo igualmente injusto. 
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o 
mesmo caráter com que foi adquirida. 
Cessadas a violência e a clandestinidade, a mera detenção, que então estava 
caracterizada, transforma-se em posse injusta em relação ao esbulhado, que permite ao novo 
possuidor ser mantido provisoriamente, contra os que não tiverem melhor posse. Havendo 
comportamento omissivo do proprietário, tem-se o supressio de seus direitos, convolando a 
posse injusta em justa. 
Enunciado 237 CJF “É cabível a modificação do título da posse - 
interversio possessionis - na hipótese em que o até então possuidor 
direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo 
possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus 
domini.” 
– Enunciado 301 CNJ “É possível a conversão da detenção em posse, 
desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em 
nome próprio dos atos possessórios.” 
2.9.2 Posse viciada e sem vício 
A posse viciada é a injusta ou de má-fé; a sem vício, a justa ou de boa-fé. Os vícios da 
posse podem ser objetivos ou subjetivos. Os primeiros são chamados de objetivos porque 
afetam o vínculo entre possuidor e coisa (justa ou injusta). Já os vícios subjetivos se relacionam 
à crença do possuidor acerca da qualidade de seus direitos sobre a coisa (boa-fé ou má-fé). 
Em princípio, a posse mantém sua natureza viciada ou não viciada. O surgimento ou 
desaparecimento do vício deve ser provado por quem dele se beneficia, em vista da presunção 
legal. 
Os vícios objetivos dizem respeito ao modo pelo qual se originou o vínculo entre 
possuidor e coisa. Desaparecendo a mácula, podem ser sanados, tornando a posse injusta em 
justa. 
A seu turno, o vício subjetivo relaciona-se com a crença do possuidor. Se ele ignora a 
existência de obstáculos à aquisição da propriedade da coisa, sua posse é de boa-fé; se os 
conhece, de má-fé. Uma vez ciente o possuidor de sua rela e precária situação jurídica, não há 
mais volta. Para fins jurídicos, não é possível em princípio retornar ao estado de ignorância – 
exceto se o possuidor resolve adquirir a propriedade, sanando o vício da origem. 
2.9.3 Posse de boa-fé e de má fé 
No âmbito do direito das coisas, a posse de boa-fé, aliada a outros elementos 
relevantes, cria o domínio, premiando a constância e abençoando o trabalho. Confere ao 
possuidor, não proprietário, os frutos provenientes da coisa possuída; exime-o de indenizar a 
perda ou deterioração do bem em sua posse, regulamenta a hipótese de quem, com material 
próprio, edifica ou planta em terreno alheio; e, ainda, outorga direito de ressarcimento ao 
possuidor pelos melhoramentos realizados. 
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o 
obstáculo que impede a aquisição da coisa. 
É de boa fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que lhe impede a 
aquisição da coisa, ou do direito possuído. Para que alguém seja possuidor de um bem, preciso 
é que esteja convencido de que, possuindo-o, a ninguém prejudica. Se tem consciência de que 
há obstáculo, ou se sabe da existência do vício que impede a aquisição da coisa, e, não 
obstante, a adquire, torna-se possuidor de má-fé. Na posse de boa-fé, inexiste o vício 
subjetivo; na de má-fé, ao contrário, o que a caracteriza é exatamente o conhecimento do 
mesmo vício subjetivo. 
Há boa-fé real quando o possuidor se apoia em elementos objetivos tão evidentes que 
nenhuma dúvida pode ser suscitada quanto à legitimidade de sua aquisição. Nesses casos, não 
se cogita seque da qualidade da posse, tão desenganado é o direito do possuidor. 
Há boa-fé presumida quando o possuidor tem justo título. A presunção juris tantum da 
boa-fé quando o possuidor tem justo título encontra abrigo no parágrafo único do art. 1.201: 
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a 
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei 
expressamente não admite esta presunção. 
Note-se que a posse de boa-fé pode ser injusta, assim como pode ser justa a de má-fé. 
Se o proprietário nunca teve em suas mãos a posse do bem que lhe pertence e resolveu toma-
lo violentamente do possuidor, ela passou a titular posse de boa-fé (não há obstáculo à 
aquisição da propriedade, que, aliás, já é dele), porém injusta (em razão da violência 
perpetrada). De outro lado, se alguém encontra na rua um envelope com dinheiro, cujo dono 
não é possível identificar, e, em vez de o levar à autoridade policial, resolve apropriar-se do 
bem, exerce posse de má-fé (tem plena consciência de que aquele dinheiro não é dele), mas 
justa (mansa, pública e induvidosa). 
2.9.4 Posse direta ou indireta 
A clássica distinção entre posse direta e indireta surge do desdobramento da posse 
plena, podendo haver desdobramentos sucessivos. A concepção do aludido desdobramento é 
peculiar à teoria de Ihering. Na aludida teoria o corpus, diversamente do que sucede na 
defendida por Savigny, engloba a possibilidade de utilização econômica da coisa, o exercício de 
fato de alguns dos direitos inerentes à propriedade. Quem se comporta como se tivesse tais 
direitos sobre a coisa é possuidor dela, ainda que não a tenha sob sua dominação direta. É 
possível, assim, distinguir entre as espécies de posse, a direta da indireta. 
A posse direta é a titulada pelo não proprietário que, por força de contrato ou direito 
real, passa a possuir legitimamente algum bem. O exemplo típico de sobreposição de posse 
encontra-se na locação. Enquanto dura o contrato de locação, o bem locado se encontra 
legitimamente sob a posse do locatário. Ele tem a posse direta (também chamada de imediata 
ou subordinada). O locador – que é, em geral, o proprietário do bem, mas não 
necessariamente – não perde por completo a posse do bem locado, mas sua posse, por óbvio, 
é diferente da do locatário. Diz-se que titula posse indireta. 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, 
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula 
a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto 
defender a sua posse contra o indireto. 
A relação possessória, no caso, desdobra-se. O proprietário exerce a posse indireta, 
como consequência de seu domínio. O locatário, por exemplo, exerce a posse direta por 
concessão do locador. Uma não anula a outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são 
posses jurídicas (jus possidendi), não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito 
sobre a coisa. 
Podem coexistir, portanto, sem se anularem, duas posses sobre a mesma coisa. A 
situação não é a que resulta da existência de uma pluralidade de possuidores possuindo em 
comum a mesma coisa pro indiviso. Neste caso, há composse. Mas, no outro, há posses 
paralelas. 
A coexistênciadecorre da possibilidade do desdobramento da relação possessória. 
Temporariamente, alguém passa a possuir coisa havida de outrem, que, por essa forma, a 
utiliza economicamente. A utilização indireta revela que o proprietário conserva a posse. 
A vantagem dessa divisão é que o possuidor direto e o indireto podem invocar a 
proteção possessória contra terceiro, mas só o segundo pode adquirir a propriedade em 
virtude da usucapião. O possuidor direto jamais poderá adquiri-la por esse meio, por faltar-lhe 
o ânimo de dono. 
2.9.5 Posse nova e posse velha 
Posse nova é a de menos de ano e dia. Posse velha é a de ano e dia ou mais. O decurso 
do aludido prazo tem condão de consolidar a situação de fato, permitindo que a posse seja 
considerada purgada dos defeitos da violência e da clandestinidade, malgrado tal purgação 
possa ocorrer antes. 
Contudo, essa classificação perdeu sua relevância. O art. 558 do CPC possibilita a 
concessão de liminar initio littis ao possuidor que intentar a ação possessória “dentro de ano e 
dia da turbação ou do esbulho”. Passado esse prazo, o procedimento será ordinário, não 
perdendo, contudo, o caráter possessório. 
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração 
de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for 
proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado 
na petição inicial. 
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput , será comum o 
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. 
Para o aludido artigo o que importa é o tempo que leva para agir, e não o tempo da 
posse. Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse velha com ação 
de força velha. Classifica-se a posse em nova ou velha quanto à sua idade. Todavia, para saber 
se a ação é de força nova ou velha, leva-se em conta o tempo decorrido desde a ocorrência da 
turbação ou do esbulho. 
2.9.6 Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem” 
Posse ad interdicta é a que pode ser defendida pelos interditos, isto é, pelas ações 
possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião. O possuidor, como locatário, 
por exemplo, vítima de ameaça ou de efetiva turbação ou esbulho, tem a faculdade de 
defendê-la ou de recuperá-la pela ação possessória adequada até mesmo contra o 
proprietário. Para ser protegida pelos interditos basta que a posse seja justa, isto é, que não 
contenha vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade. 
Posse ad usucapionem é a que se prolonga por determinado lapso de tempo 
estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio. É, em suma, aquela capaz 
de gerar o direito de propriedade. 
2.10 Aquisição e perda da posse 
O Código Civil de 1916 elencava os modos de aquisição da propriedade, dispondo no 
art. 493, que a posse podia ser adquirida: “I – pela apreensão da coisa; II – pelo fato de se 
dispor da coisa, ou do direito; III – por qualquer dos modos de aquisição em geral”. 
O legislador, esquecendo-se do fato de haver adotado a teoria de Ihering, admitiu a 
aquisição da posse pela apreensão da coisa, bem como a sua perda pelo abandono e pela 
tradição, modos este que melhor se coadunam com a teoria da Savigny, baseada na 
coexistência de corpus e do animus. 
O Código Civil de 2002, coerente com a teoria objetiva, não fez descriminação dos 
modos de aquisição da posse, limitando-se a proclamar, no art. 1.204: 
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna 
possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes 
inerentes à propriedade. 
A sua aquisição pode concretizar-se, portanto, por qualquer dos modos de aquisição 
em geral. 
2.10.1 Modos de aquisição 
Os modos de aquisição da posse costumam ser classificados em originários e 
derivados. No primeiro caso, não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. É 
o que acontece quando há esbulho, e o vício, posteriormente, convalesce. Adquire-se a posse 
por modo originário quando não há consentimento de possuidor precedente. 
Por outro lado, diz-se que a posse é derivada quando há anuência do anterior 
possuidor, como na tradição precedida de negócio jurídico. Neste caso ocorre a transmissão da 
posse ao adquirente, pelo alienante. 
Se o modo de aquisição é originário, a posse apresenta-se livre dos vícios que 
anteriormente a contaminavam. Assim, se o antigo possuidor era titular de uma posse de má-
fé, por havê-la adquirido clandestinamente ou a non domino, por exemplo, tais vícios 
desaparecem ao ser ele esbulhado. Embora injusta perante o esbulhado, essa nova posse se 
apresentará, perante a sociedade, despida dos vícios de que era portador nas mãos do 
esbulhado, depois do seu convalescimento. Quando o modo é originário, surge uma nova 
situação de fato, que pode ter outros defeitos, mas nãos os vícios anteriores. 
Já o mesmo não acontece com a posse adquirida por meios derivados. O adquirente a 
recebe com todos os vícios que a inquinavam nas mãos do alienante. Assim, se este desfrutava 
de uma posse violenta, clandestina ou precária, aquele a adquire com os mesmos defeitos. 
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o 
mesmo caráter com que foi adquirida. 
A tradição é o modo derivado de aquisição da posse. Há três modalidades de tradição: 
a) efetiva ou real; 
b) simbólica ou ficta 
c) consensual 
Diz-se efetiva a tradição que se consuma com a entrega real da coisa, como ocorre 
quando o vendedor passa ao comprador, ato continuo, a coisa vendida. 
A ficta traditio é a forma espiritualizada da tradição. Na tradição ficta, a entrega 
material da coisa é substiuida por atitudes, gestos, ou mesmo atos, indicativos do propósito de 
transmitir a posse, como se verifica com a entrega das chaves na aquisição de uma casa. 
Da tradição simbólica, deve ser separada uma forma que, por seus aspectos 
interessantes, merece tratamento à parte. Na falta de melhor denominação, pode-se designá-
la tradição consensual. Obviamente, não se verifica nessa modalidade de tradição a entrega 
real da coisa. 
A tradição consensual assume duas formas: a) a traditio breve manu e b) o constitutum 
possessorium. 
A tradição consensual se resumirá numa variação do animus. Quem possui em nome 
alheio passa a possuir em nome próprio, ou quem possui em nome próprio passa a possuir em 
nome alheio. 
Na traditio brevi manu, o possuidor de uma coisa em nome alheio passa a possuí-la 
como própria. Assim acontece quando alguém, possuindo um bem, na qualidade, por 
exemplo, de arrendatário, o adquire, tornando-se proprietário. 
No constitutum possessorium, o possuidor de uma coisa em nome próprio passa a 
possui-la em nome alheio. Na posse anterior, o animus era domini, o qual se substitui pelo 
animus nomine alieno. É o que se verifica quando alguém, possuindo um bem, na qualidade de 
proprietário, o aliena, mas continua a possui-lo, seja, por exemplo, como arrendatário ou 
como comodatário seja como depositário, enfim, com a intenção de ter a coisa não mais em 
nome próprio. 
O constituto possessório é o inverso da traditio brevi manu. Nestes dois modos de 
aquisição da posse, não é preciso renovar a entrega da coisa. Desaparece no art. 1.205 do CC 
agora vigente a referência expressa ao constituto possessório como modo de aquisição, o que 
não significa sua exclusão, em face especialmente, do teor do parágrafo único do art. 1.267 do 
CC 2002. 
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios 
jurídicos antes da tradição. 
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente 
continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao 
adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em 
poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da 
coisa, por ocasião do negócio jurídico. 
2.10.2 Legitimidade para adquirir a posse 
A posse pode ser adquirida: 
a) pela própria pessoa que a pretende; 
b) por seu representante, ou procurador;c) por terceiro, sem procuração. 
Na (a) aquisição pessoal, aquele que pretende deve ser capaz. As pessoas 
absolutamente incapazes não podem adquirir a posse senão por intermédio de seus 
representantes legais. 
A aquisição por outrem se dá através de representante, de mandatário, ou de terceiro, 
sem procuração. 
A (b) aquisição da posse pelo representante, ou procurador, exige concorrência das 
duas vontades – do representante e do representado. É preciso que o representante tenha o 
animus de adquirir a posse da coisa, ou do direito, para o representado, e que este tenha a 
intenção de possuir o que o outro detém. Na representação legal e na procuração geral, é 
implícita a vontade do representado. 
A posse pode ser adquirida ainda (c) corpore alieno por terceiro, que não seja 
representante. Mas, nesse caso, a aquisição fica na dependência da ratificação daquele em 
cujo interesse foi praticado o ato. A ratificação, na espécie retroage ao dia do ato praticado 
pelo terceiro, e produz os efeitos do mandato. Para aquisição da posse por terceiro sem 
procuração é indeclinável a ratificação porque, embora seja mais importante a intenção de 
quem apreende a coisa, não pode ser dispensada a vontade daquele em cujo proveito foi 
adquirida. 
Quanto aos entes despersonalizados, é possível adquirirem a posse. Destaca-se dois 
enunciados: 
Enunciado 236. Considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, 
também a coletividade desprovida de personalidade jurídica. 
Enunciado 596. O condomínio edilício pode adquirir imóvel por 
usucapião. 
2.10.3 Transmissão da posse 
Pode a posse ser continuada pela soma do atual possuidor com o de seus 
antecessores. A conjunção de posses denomina-se acessão. Há duas espécies de acessão de 
posses: 
a) a sucessão; 
b) a união. 
A primeira ocorre na sucessão universal. O sucessor universal continua de direito a 
posse do seu antecessor. Assim, por morte de alguém, seus herdeiros continuam a posse dos 
bens da herança. 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do 
possuidor com os mesmos caracteres. 
A segunda verifica-se na sucessão singular. O sucessor singular pode unir sua posse à 
do antecessor. É o que se dá quando alguém compra alguma coisa. Entre o segundo e o 
primeiro possuidor deve haver uma relação jurídica, não operando a accessio, por exemplo, se 
o possuidor atual como tal se tornou por ocupação de imóvel abandonado pelo possuidor 
precedente. A hipótese tem previsão na segunda parte do art. 1.207 do CC. 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu 
antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do 
antecessor, para os efeitos legais. 
Pela acessão, reduzem-se as diferentes posses a uma só posse. 
O que distingue a sucessão da união é o modo de transmissão da posse; sendo a título 
universal, há sucessão; sendo a título singular, há união. Não importa que a sucessão seja inter 
vivos ou mortis causa. Na sucessão causa mortis a título singular, a acessão se objetiva pela 
forma da união. 
A sucessão de posses é imperativa; a união, facultativa. Enquanto o sucessor universal 
continua de direito a posse do seu antecessor, ao sucessor singular é facultado unir sua posse 
à precedente. Sendo, nesta última hipótese, uma faculdade, o possuidor atual só a usará se lhe 
convier, limitando-se à sua posse quando do seu interesse. 
Comumente, o direito de somar posses é exercido para o fim de se adquirir a 
propriedade pela usucapião. Para contar o tempo exigido na lei, como uma das condições 
necessárias à configuração desse modo de aquisição do domínio, pode o possuidor acrescentar 
à sua posse a do seu antecessor. E indispensável, no entanto, que as posses somadas sejam 
contínuas e pacíficas, isto é, sem interrupção, nem oposição. 
Enunciado. 494. A faculdade conferida ao sucessor singular de 
somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não significa 
que, ao optar por nova contagem, estará livre do vício objetivo que 
maculava a posse anterior. 
A posse transmite-se com os mesmos caracteres aos herdeiros do possuidor. Portanto, 
não podem desligar seu direito do direito do antecessor. Se este não possuía justo título, seu 
óbito não o confere ao herdeiro, que, apenas, continua a posse anterior. 
2.10.4 Presunção das coisas móveis 
Preceitua o art. 1.209: 
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a 
das coisas móveis que nele estiverem. 
Trata-se de mais uma aplicação do princípio o qual accessorium sequitur suum 
principale (acessório segue o principal). A presunção é juris tantum e estabelece a inversão do 
ônus da prova: o possuidor do imóvel não necessita provar a posse dos objetos nele 
encontrados, mas o terceiro terá de provas os direitos que alega ter sobre eles. 
2.10.5 Perda da posse 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a 
vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 
1.196. 
Não há, em diploma que acolhe a teoria objetiva, a necessidade de especificar, 
casuisticamente, os casos e os modos de perda da posse. Exemplificativamente, perde-se a 
posse das coisas: 
a) Pelo abandono, que se dá quando o possuidor renuncia à posse, manifestando, 
voluntariamente, a intenção de largar o que lhe pertence, como quando atira à rua um objeto 
seu, A perda definitiva, entretanto, dependerá da posse de outrem, que tenha apreendido a 
coisa abandonada. 
b) Pela tradição, quando envolve a intenção definitiva de transferi-la a outrem, como 
acontece na venda do objeto, com transmissão da posse plena ao adquirente. Não há perda da 
posse na entrega da cosa a um representante, para que a administre. A entrega da coisa como 
o ânimo de efetuar a tradição, gera a demissão da posse e sua consequente perda. 
c) Pela perda propriamente dita da coisa. Recaindo a posse em bem determinado, se 
este desaparece, torna-se impossível exercer o poder físico em que se concretiza. O caso típico 
de perda da posse por impossibilidade de detenção é o do pássaro que foge da gaiola. Com a 
perda da coisa, o possuidor vê-se provado da posse sem querer. Na hipótese de abandono, ao 
contrário, a privação se dá por ato intencional, deliberado. 
d) pela destruição da coisa, uma vez que, perecendo o objeto, extingue-se o direito. 
Pode resultar de acontecimento natural ou fortuito, como a morte de um animal em 
consequência de idade avançada ou de um raio: de fato do próprio possuidor, ao provocar, por 
exemplo, a perda total do veículo por direção perigosa ou imprudente; ou ainda de fato de 
terceiro, em ato atentatório à propriedade. 
e) pela colocação da coisa fora do comércio, porque se tornou inaproveitável ou 
inalienável. Pode alguém possuir bem que, por razões de ordem pública, de moralidade, de 
higiene e de segurança coletiva, passe à categoria de coisa extra commercium, verificando-se, 
então, a perda da posse pela impossibilidade, dai por diante, de ter o possuidor poder físico 
sore o objeto da posse. Tal consequência, todavia é limitada, às coisas tornadas insuscetíveis 
de apropriação, uma vez que a só inalienabilidade é frequentemente compatível com a cessão 
de uso ou posse alheia. 
f) pela posse de outrem, ainda que a nova posse se tenha firmado contra a vontade do 
primitivo possuidor, se este não foi mantido ou reintegrado em tempo oportuno. O 
desapossamento violento ou clandestino por ato de terceiro dá origem à detenção, viciada 
pela violência e clandestinidade exercida. 
2.11 Efeitos da posse 
Alguns efeitos, ainda que decorram da presunção de propriedade e se produzem com 
o concurso de outras causas, reclamam disciplina legal, para maior clareza da exposição e 
segurança do comércio jurídico. São os principais efeitos: 
2.11.1 Direito aos interditos 
O direito aos interditos é efeito que se produz independentemente da qualidade da 
posse. A proteção possessória pode ser invocada tanto pelo que tem posse justa como injusta,de boa-fé ou de má-fé, direta ou indireta. Todo possuidor tem direito a ser mantido na posse, 
em caso de turbação, e restituído, no de esbulho. 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso 
de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência 
iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
Turbação significa perturbação ao exercício da posse. O sujeito mantem a posse, com 
diminuição do seu exercício. Para tanto, possível interpor uma ação de manutenção da posse. 
Esbulho implica na perda forçada da posse. Para este, exerce-se a ação de reintegração de 
posse. Para o justo receio, requer-se uma ação de interdito probatório. 
2.11.2 Direito de desforço imediato 
Diante do esbulho da coisa que detinha posse, o ordenamento jurídico brasileiro 
permite a autotutela para defender a posse ou a retomada do bem. Parágrafo primeiro do art. 
1.210. 
§ 1
o
 O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou 
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos 
de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à 
manutenção, ou restituição da posse. 
O termo “faça logo” dependerá da análise do caso concreto. Assim como o equilíbrio 
entre o ato de desforço para a proteção do bem e a violência sofrida. 
2.11.3 Direito à percepção dos frutos 
Denomina-se percepção o ato material por meio do qual o possuidor se torna 
proprietário dos frutos. Pertencem os frutos da coisa a seu dono ou a quem ele transferiu o 
direito de fruí-la. Quando a coisa se acha em poder de alguém que carece do direito de gozo, o 
proprietário, que a reivindica, faz jus à restituição dos frutos percebidos. Esse princípio sofre 
exceção em favor do possuidor de boa fé. 
Dividem-se os frutos em naturais, industriais e cíveis. A aquisição dos frutos pelo 
possuidor está subordinada a três condições: 
1. Que se trate de frutos propriamente ditos; 
2. Que tenham sido separados; 
3. Que a percepção tenha ocorrido antes de cessar a boa-fé. 
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e 
percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos 
dia por dia. 
O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos e às despesas da produção e 
custeio dos frutos pendentes e às despesas da produção e custeio dos frutos pendentes e 
colhidos, mas não tem direito aos frutos pendentes, aos frutos antecipadamente colhidos e 
aos produtos. O possuidor de má-fé apenas tem direito às despesas de produção e custeio dos 
frutos colhidos e percebidos, mas não tem direito a quaisquer frutos. 
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, 
aos frutos percebidos. 
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a 
boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da 
produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos 
colhidos com antecipação. 
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos 
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou 
de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem 
direito às despesas da produção e custeio. 
2.11.4 Perda ou deterioração da coisa 
Outra implicação da posse diz respeito à perda ou deterioração da coisa enquanto se 
encontrava em mãos do possuidor. Também aqui a ignorância dos vícios é fundamental na 
definição da existência e extensão da obrigação de indenizar o proprietário. 
Se a perda ou deterioração deriva de culpa do possuidor, ele é responsável pela 
indenização ao proprietário, independentemente da natureza da posse. Será o caso de ilícito 
civil e a responsabilidade incidirá nos termos do art. 927 do CC. Quando, porém, a 
deterioração ou perda deriva de ato de terceiros ou caso fortuito, o antigo possuidor não é 
responsável por indenizar o novo se exercia posse de boa fé. 
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou 
deterioração da coisa, a que não der causa. 
Já o titular de posse de má-fé responde pelos sucessos negativos da coisa, ainda que 
proveniente de caso fortuito ou de culpa de terceiros. Deixará de ter responsabilidade 
somente se provar que a perda ou deterioração aconteceria mesmo se o novo possuidor 
estivesse na posse do bem. Tem-se um caso de mitigação da força maior. 
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou 
deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de 
igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
2.11.5 Indenização das benfeitorias 
As benfeitorias, via de regra, aderem à coisa principal por forma que se torna 
impossível ou extremamente dificultoso separá-las. Nestas condições, o direito do possuidor 
aos melhoramentos introduzidos na coisa muda qualitativamente de conteúdo, quando 
obrigado a restitui-la. 
Não assiste, porém, a todo possuidor, nem se exerce sobre toda espécie de 
benfeitoria. 
As benfeitorias necessárias devem ser ressarcidas, quer a posse seja de boa-fé, quer 
não. 
As benfeitorias voluptuárias não comportam qualquer indenização, seja a posse de 
boa-fé ou não seja. 
Relativamente às benfeitorias, os direitos do possuidor, assim se distribuem: 
 Possuidor de boa-fé tem direito: 
o À indenização das benfeitorias necessárias; 
o À indenização das benfeitorias úteis; 
o Ao levantamento das benfeitorias voluptuárias; 
o A exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias 
ou úteis. 
 O possuidor de má-fé tem direito exclusivamente à indenização das 
benfeitorias necessárias. 
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das 
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, 
se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem 
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo 
valor das benfeitorias necessárias e úteis. 
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as 
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela 
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. 
Como visto, o direito à indenização das benfeitorias necessárias é comum ao possuidor 
de boa ou de má-fé. É que prevalece o princípio segundo o qual ninguém pode enriquecer sem 
causa. Uma vez que as benfeitorias necessárias são melhoramentos introduzidos na coisa para 
conservá-la ou evitar que se deteriore, o proprietário seria forçado a fazê-las, se estivesse na 
posse da coisa. 
2.11.6 Direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias 
O possuidor de boa-fé tem o direito de levantá-las (jus tollendi) se lhe não forem 
pagas. O possuidor de má-fé não pode retirá-las, perdendo-as, consequentemente, em 
proveito do proprietário. 
O direito do possuidor de boa-fé tem seu exercício condicionado. Pode levantar as 
benfeitorias suntuárias, “se com a sua extração a coisa não sofre dano”. Do contrário, é 
obrigado a deixá-las. 
Do mesmo modo, não pode exercer o jus tollendi, se o proprietário prefere pagar o 
valor das benfeitorias. Cabe a este, portanto, o direito de opor-se a que o possuidor de boa-fé 
faça o levantamento. Não é obrigado, porém, a efetuar o pagamento, ainda que a benfeitoria 
não possa ser levantada. Assegura-se-lhe uma faculdade; não se lhe impõe uma obrigação. 
2.11.7 Direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. 
O direito do possuidor de boa-fé à indenização das benfeitorias necessárias e úteis é 
reforçado com o jus retentionis, que consiste na faculdade de não restituir a coisa enquanto 
não for indenizado do seu valor. 
2.11.8 Direito de usucapir 
Um dos efeitos mais importantes da posse é o direito a usucapir, direito que, embora 
não se funde exclusivamente na posse, tem-na como seu elemento básico. Usucapir é adquirir 
a propriedade pela posse continuada durante certo tempo. A usucapião, com efeito, constitui 
um dos modos de aquisição do domínio. 
3 Ações possessórias 
Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos (art. 560 do CPC), 
mesmo que nãotenha título. O detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade. Não 
basta ser proprietário ou titular de outro direito real. Se somente tem o direito, mas não a 
posse correspondente, o agente terá de valer-se da via petitória, não da possessória, a não ser 
que se trate de sucessor de quem detinha a posse e foi molestado. 
Possuidores diretos e indiretos tem ação possessória contra terceiros, e também um 
contra o outro. 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, 
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula 
a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto 
defender a sua posse contra o indireto. 
Distinguem-se as ações possessórias das ações petitórias. As ações possessórias 
objetivam a proteção da posse, ainda que sem vinculação ao domínio. Procura apoio na 
situação da posse. As ações petitórias procuram a proteção do direito de propriedade, 
destacando-se a ação reivindicatória e a imissão na posse. O proprietário não exercia a posse 
nem a exerce, por isso, se impõe o ajuizamento da petitória para receber a posse. Funda-se no 
direito de propriedade. 
O sistema de defesa da posse costuma ser organizado, em suas linhas gerais, 
juntamente com os preceitos que lhe definem a eficácia. Afirma-se que um dos principais 
efeitos da posse é o direito aos interditos. O CC disciplina a proteção da posse, por meio dos 
interditos, no artigo 1.210: 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso 
de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência 
iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
As pretensões possessórias consistem fundamentalmente, com efeito, no direito do 
possuidor a ser mantido na posse, em caso de turbação, e restituído no de esbulho. Contra 
quem ameaça o possuidor de molestá-lo na posse, tem este pretensão possessória negativa. 
Faculta-lhe a lei o uso do interdito proibitório, para exigir que o outro se abstenha de praticar 
os atos turbativos, ou espoliativos. Assim, divide-se as ações possessórias em: a) manutenção 
da posse; b) reintegração da posse; e c) interdito proibitório. 
3.1 Ações possessórias na técnica do CPC 
3.1.1 A fungibilidade dos interditos 
O princípio da fungibilidade das ações possessórias está regulamentado no art. 554 do 
CPC de 2015: 
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra 
não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção 
legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. 
Desse modo, se ação cabível for a de manutenção de posse e o autor ingressar com 
ação de reintegração, ou vice-versa, o juiz conhecerá do pedido da mesma forma e 
determinará a expedição do mandado adequado aos requisitos provados. 
A justificação para a regra encontra-se na própria natureza da tutela possessória. O 
possuidor que se dirige ao juiz em busca de amparo contra o ato ofensivo de sua posse 
pretende, em realidade, que a prestação jurisdicional paralise a ação hostil, quaisquer que 
tenham sido as consequências já produzidas, e as faça cessar. 
3.1.2 Natureza dúplice das ações possessórias 
Em alguns casos do direito, inexiste predeterminação das legitimações ativas e 
passivas na ação. A situação jurídica se apresenta de tal modo que qualquer dos sujeitos pode 
ajuizar a ação contra o outro. Quando isso acontece diz-se que a ação é de natureza dúplice. 
É o que se dá, por exemplo, nas ações demarcatória e de divisão, em que não há 
rigorosamente autores e réus, uma vez que qualquer dos confiantes ou consortes poderia ter 
tomado a iniciativa. A característica da actio duplex reside em que, tomando um dos 
interessados a iniciativa do ajuizamento da ação, o outro ou outros, ainda que julguem que o 
resultado lhes será favorável, ficam impedidos de deduzir pedido reconvencional. A peculiar 
feição da ação dúplice parte do princípio de que as pretensões dos interessados são 
convergentes e não divergentes, nenhum deles tendo interesse na manutenção ad eternum da 
situação duvidosa, que pode vir a ser resolvida tanto a favor de um como a favor do outro 
indistintamente. 
O legislador tornou dúplice a ação possessória, permitindo que o juiz, 
independentemente de reconvenção do réu, confira-lhe a proteção possessória, se a requerer 
na contestação e provar ser o legítimo possuidor. Dispõe, com efeito, o art. 556 do CPC: 
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o 
ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a 
indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho 
cometido pelo autor. 
Desse modo, tendo a lei conferido caráter dúplice às ações possessórias, não se faz 
necessário pedido reconvencional. 
3.1.3 Natureza da ação possessória – a exceção de domínio 
As ações possessórias possuem natureza real, pois a posse advém da coisa. Na ação 
possessória não cabe discutir o domínio da coisa objeto do litígio. Protege-se o possuidor 
simplesmente porque é possuidor, situação que lhe assegura mais direito que o não possuidor, 
sem em princípio firmar-se na força do domínio. O conflito de interesses a ser decidido pelo 
juiz, nessa ação, circunscreve-se à questão da posse (art. 1.210, §2º, CC). Quer dizer, ele vai 
decidir o conflito em favor do litigante que titular a melhor posse, seja ou não o proprietário do 
bem. 
§ 2
o
 Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação 
de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 
Com o advento do CC 02 ficou evidenciada, de modo irrefragável, a extinção da 
exceção do domínio em nosso sistema, pois este diploma não contempla a possibilidade de se 
arguir a expceptio propretatis, como fazia o CC de 1916. Enquanto estiver tramitando a ação 
possessória, nem o réu nem o autor podem ajuizar, paralelamente, a ação petitória para obter 
a declaração do seu direito à posse. A consequência prática da proibição é que poderá o 
possuidor não proprietário, desde que ajuíze ação possessória, impedir a recuperação da coisa 
pelo seu legítimo dono, pois este ficará impedido de recorrer à reivindicatória até que a 
possessória seja definitivamente julgada. 
Pretendendo evitar abusos, a doutrina e a jurisprudência têm restringindo a sua 
aplicação aos casos em que, na possessória, a posse é disputada com base nos títulos de 
domínio, não, portanto, àqueles em que as partes alegam apenas posse de fato baseada em 
atos concretos. O art. 557 do CPC só se refere a ações possessórias em que a posse seja 
disputada a título de domínio. 
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao 
autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, 
exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. 
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de 
posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. 
3.1.4 Legitimação ativa e passiva 
Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos, mesmo que não 
tenha título. O detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade. 
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação e reintegrado em caso de esbulho. 
Não basta ser proprietário ou titular de outro direito real. Se somente tem o direito, 
mas não tem posse correspondente, o agente terá de valer-se da via petitória, não da 
possessória. 
Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros, e também um 
contra o outro. A jurisprudência já vinha admitindo que cada possuidor, o direto e o indireto, 
recorresse aos interditos possessório contra o outro, para defender a sua posse, quando se 
encontrasse por ele ameaçado. Tal possibilidade encontra-se expressa no art. 1.197 do CC: 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, 
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula 
a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto 
defender a sua posse contra o indireto. 
A legitimidade

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