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EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE PEIXES INTRODUÇÃO A produção de peixes vem se desenvolvendo em diversos países como a China, Índia, Equador, Chile e outros. Visto que a piscicultura possui uma taxa de crescimento de cerca de 10% ao ano, é de suma importância que esta cadeia seja evidenciada e estudada (FIPERJ, 2018). Assim, é válido ressaltar a importância do estudo das exigências nutricionais desses animais, pois assim é possível minimizar o impacto gerado pelo custo gerado pela alimentação, que em alguns estudos chega a representar cerca de 80% dentro da produção. Para a compreensão da dieta a ser fornecida para os peixes é essencial ter o conhecimento dos hábitos alimentares dos peixes, pois existem herbívoros, carnívoros e onívoros, fazendo com que existam diferenças significativas em sua alimentação (BALDISSEROTO, 2002). De acordo com Baldisseroto (2002), os animais herbívoros apresentam flora bacteriana intestinal abundante, sendo capazes de ingerir e digerir de 3 a 4% do seu peso vivo em fibras, já os onívoros consomem ração e, frequentemente, aproveitam pequenos invertebrados, plantas, frutos e matéria orgânica em decomposição. Além disso, existem os carnívoros, que consomem preferencialmente alimentos de origem animal, incluindo invertebrados e outros peixes podendo ser treinados para consumirem ração artificial. Além dos hábitos alimentares, é importante conhecer a anatomia do aparelho digestivo, visto que o mesmo é composto por intestino cefálico (boca, anexos e a faringe), intestino anterior (esôfago e estômago), intestino médio (intestino propriamente dito) e o intestino posterior (ânus). Características como o posicionamento da boca, aparelho branquial, tipo de dente e formato do ceco, são particularidades de cada espécie (LOGATO, 2001; ROTTA, 2003). Assim, o objetivo do presente trabalho é evidenciar as principais exigências nutricionais dos peixes. DESENVOLVIMENTO Energia Diferente de outros animais, os peixes não utilizam energia para a manutenção da temperatura corporal, mas exigem para a manutenção e realização de outras atividades. Assim, sua exigência de energia é menor, quando comparada aos demais animais (RIBEIRO et al., 2012). A regulação de consumo é feita com eficiência por esses animais. Logo, a utilização de dietas deficientes ou com excesso de energia pode alterar a alimentação. Dietas pobres em energia podem aumentar a ingestão de alimentos e pode fazer com que as proteínas sejam utilizadas como energia, prejudicando seu crescimento, já o excesso pode levar a uma limitação do consumo de proteínas e vitaminas e auxiliar no acumulo de gordura corporal. A relação de energia/proteína é de 6 a 8 kcal/g proteína (RIBEIRO et al., 2012). Carboidratos Existem diversas fontes de carboidratos que podem ser utilizadas na alimentação de peixes, dando destaque ao milho, sorgo e ao trigo (BARROS, 2002). A digestão de carboidratos é relativamente rápida, mesmo não apresentando atividade da alfa amilase na cavidade bucal, ficando restrita sua produção ao pâncreas e ao intestino. Grande parte de sua digestão ocorre no intestino e no ceco, devido às secreções intestinais estarem presentes, como as proteases, lipases e carboxilases. Porém, devido aos seus hábitos alimentares, já mencionados anteriormente, a concentração de tais substâncias pode se diferir, como as carboxilases, que estão em abundância em espécies herbívoras, diferentemente dos carnívoros (CYRINO, 2000). Uma das enzimas encontradas no TGI em quantidades semelhantes é a celulase, tendo sua produção originária de bactérias simbióticas. Na maioria das espécies, grande parte das enzimas liberadas nos processos digestivos é reabsorvida na região posterior do intestino médio (RIBEIRO et al., 2012). Peixes carnívoros e de águas frias possuem dificuldade na digestão desses nutrientes, devido ao fato da atividade e secreção de amilase ser limitada, e possuem o TGI bastante curto, impossibilitando a digestão de carboidratos mais complexos. Já os onívoros e herbívoros possuem a capacidade de alterar a estrutura e as propriedades absortivas de seu sistema digestivo, de acordo com a dieta, sendo substratos dependentes. Altas quantidades de glicídios podem provocar o aumento do comprimento do intestino e na absorção de glicose (CYRINO, 2000). Outro fator que contribui para o aproveitamento de carboidratos é o processamento pelo qual o alimento passa. A amilase pode ser inativada quando o amido se encontra cru, o pré-cozimento ou extrusão de grãos e cereais promove a gelatinização do amido, destrói a albumina, fazendo com que a digestibilidade seja melhorada, principalmente para espécies carnívoras (CEMIG, 2000). A principal via de absorção de glicose em animais carnívoros é a gliconeogênica. Assim, os altos teores de proteína na dieta dessas espécies podem ser explicados, pois os aminoácidos catabolizados são utilizados como energia. Lipídios Os primeiros estudos sobre a importância dos lipídios na nutrição de animais aquáticos foram realizados na década de 1960, mas hoje já se sabe que estes compostos são bem metabolizados pelos peixes e que suas exigências nutricionais são bem definidas (RIBEIRO et al., 2012). A digestão e absorção de ácidos graxos saturados e monoinsaturados é menor do que a de ácidos graxos poli-insaturados. Uma vez absorvidas as gorduras na dieta, a energia proveniente da quebra de triglicerídeos em ácidos graxos de diferentes graus de instauração é igualmente utilizada em processos metabólico, assim, a energia digerível dessas gorduras é um bom indicador de biodisponibilidade de energia (KUBITZA, 1998). Os peixes, assim como os demais animais são incapazes de produzir endogenamente as famílias ômega-9, ômega-6 e ômega-3 que, devem ser supridas pela alimentação. Dessa forma, os ácidos oléico, linoléico e alfa-linolênico, precursores destas famílias, são essenciais para estes animais, sendo sintetizados somente pelas plantas (RIBEIRO et al., 2012). Outro fator a ser levado em consideração, é que os peixes marinhos não possuem a capacidade de elongamento e dessaturação de ácidos graxos, já os peixes de água doce possuem uma série de enzimas capazes de modificar o perfil da dieta e dos ácidos graxos, bem como os produtos da sua biossíntese. Assim, permitem a inclusão em sua alimentação, de óleos vegetais, contendo uma quantidade adequada de ácido alfa-linolênico. Uma estratégia eficiente é adicionar plânctons na dieta de peixes, pois são uma fonte em potencial de produção do ácido alfa-linolênico (RIBEIRO et al., 2012). Em seus estudos, Martino (2003) demonstrou as exigências de ácidos graxos essenciais em peixes, conforme tabela 1. Tabela 1. Exigências de ácidos graxos essenciais em peixes Espécie Ácido graxo Exigência Bagre americano (Ictalaturus punctatus) C18:2 n-6 e n-3 HUFA 1-2% Truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) C18:3 n-3 1,0% Salmão chum (Oncorhynchus keta) C18:3 n-3 e C18:2 n-6 1,0% Carpa comum (Cyprinus carpio) C18:3 n-3 e C18:2 n-6 0,8% Carpa capim (Ctenopharyngodon idella) C18:3 n-3 e C18:2 n-6 0,5% Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) C18:2 n-6 0,5% Besugo (Chrysophrys major) C20:5 n-3 0,50% Fonte: Martino (2003). In: Ribeiro et al. (2012). No que se diz respeito ao método de enriquecimento da alimentação dos peixes, Ribeiro et al. (2012, p. 34) afirmam: “Uma maneira prática de enriquecer a alimentação de peixes criados em cativeiro é através do uso de alimento natural, que pode ser obtido pela fertilização dos tanques com adubo orgânico e/ou químico. O plâncton constitui um item obrigatório na dieta de quase todos os alevinos e de muitas espécies de peixes filtradores. O zooplâncton acumula suas reservas energéticas predominantemente sob a forma de lipídeos.” Proteínas A proteína é o nutriente de maior expressão dentro da ração de peixes, pois é bem maior do que os níveis proteicos em rações de outros animais. Possui custo elevado de inclusão, mas o objetivo da nutrição é maximizar o aproveitamentoda proteína na dieta, possibilitando alto crescimento e desempenho. Cerca de 65 a 75% do peso corporal dos peixes é composto por proteína (FURUYA et al., 2000). Visto que as unidades formadoras de proteínas são os aminoácidos, esses componentes são fundamentais na formação de tecido muscular, e a falta de aminoácidos essenciais (ou proteínas) causa atraso no crescimento, piora a conversão alimentar, reduz o apetite, causa deforminades na coluna e catarata (RIBEIRO et al., 2012). Em geral, os peixes requerem os seguintes aminoácidos para o crescimento: arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina (FURUYA & FURUYA, 2003). De acordo com Furuya et al. (2000), apesar disso, a absorção de peptídeos é mais rápida do que a absorção de aminoácidos livres, assim, a suplementação com aminoácidos livres pode não ser a melhor maneira de aumentar a absorção de proteínas. A quantidade de proteína exigida é definida basicamente por sua digestibilidade e conteúdo em aminoácidos essenciais. Mas existem outros fatores que podem alterar os níveis de requerimento como: hábito alimentar, sendo a exigência para carnívoros maior que para onívoros e herbívoros; tamanho do peixe; conteúdo de energia da dieta; freqüência de alimentação; estado fisiológico dos animais, sendo a exigência maior para o crescimento em relação à mantença; temperatura (a exigência tende a aumentar de acordo com a elevação da temperatura da água); salinidade; interações com outros nutrientes, processamento da ração (RIBEIRO et al., 2012). Assim, as exigências de espécies com diferentes hábitos alimentares são demonstrados na tabela 2. Tabela 2. Exigências de proteínas para peixes Espécie Exigência Referência Bagre americano (Ictalaturus punctatus) 35% Gaylord & Gatlin (2001) Truta arco-íris (Oncorhyncus mykiss) 40% Zimmermann et al. (2001) Salmão do Atlântico (Salmo salar) 45% Zimmermann et al. (2001) Trairão (Hoplias lacerdae) 42% Luz et al. (2001) Carpa comum (Cyprinus carpio) 32% Zimmermann et al. (2001) Piracanjuba (Brycon orbignyanus) 28% Macedo-Viegas et al. (2000) Matrinxã (Brycon cephalus) 28% Macedo-Viegas et al. (2000) Piaba (Leporinus friderici) 32% Zimmermann et al. (2001) Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) 32% Furuya et al. (2000) Fonte: Ribeiro et al. (2012). É de suma importância que seja utilizado o conceito de proteína ideal para que seja produzida uma dieta balanceada e com proteínas de alto valor biológico, não sendo afetado com alterações de combinação e proporção de ingredientes na dieta. Vitaminas e minerais Tendo ampla participação no metabolismo, o conhecimento das vitaminas e mineiras deve ter a devida atenção, levando em consideração suas inter-relações e biodisponibilidade (RIBEIRO et al., 2012). A suplementação vitamínica é necessária em sistemas intensivos, uma vez que sua carência dietética resulta em queda no desempenho em todas as fases de criação. As vitaminas essenciais são: Lipossolúveis – A (retinol), D (D3-colecalciferol), E (tocoferol) e K (menadiona); Hidrossolúveis – B1 (tiamina), B2 (riboflavina), ácido pantotênico (B3), niacina (ácido nicotínico ou B5), B6 (piridoxina), B12 (cianocobalamina), colina, biotina, ácido fólico (folacina), inositol (mioinositol) e C (ácido ascórbico) (BARROS, 2002). Em seus estudos, Barros (2002) buscou determinar as exigências vitamínicas para bagres do canal, carpa comum, tilápia nilótica, truca arco-íris e salmão do artigo, devidamente demonstradas na tabela 3. Tabela 3. Exigência vitamínica para algumas espécies de peixe (kg/MS) Espécie Vitamina Bagre do Canal Carpa Comum Tilápia nilótica Truta arco-íris Salmão do Atlântico Hidrossolúvel B1 (tiamina) 1mg 0,5mg 1mg 1mg 15mg B2 (riboflavina) 9mg 15mg 6mg 4mg 30mg B6 (piridoxina) 3mg 6mg 3mg 3mg 20mg B12 (cianocobalamina) nd nd nd 0,01mg 0,02mg Ácido pantotênico 15mg 50mg 15mg 20mg 50mg Niacina 14mg 28mg 14mg 10mg 200mg Biotina 1mg 1mg nd 0,15mg 1,5mg Ácido fólico 1,5mg nd nd 1mg 10mg Colina 400mg 4000mg 400mg 1000mg 3000mg Inositol 440mg 440mg nd 300mg 400mg C (ácido ascórbico) 60mg 50mg 50mg 50mg 200mg Lipossolúvel vit. A 2000 UI 10000 UI 2000 UI 2500 UI 2500 UI vit. D 500 UI 2400 UI 500 UI 2400 UI nd vit. E 50mg 100mg 50mg 50mg 50mg vit. K nd nd nd nd 10mg Fonte: Barros (2002). In: Ribeiro et al. (2012). Nos dias atuais, uma das maiores preocupações relacionadas à utilização dos níveis adequados de vitaminas e minerais é com a poluição ambiental, visto que quantidades ideias desses componentes fazem com que sua excreção seja reduzida, consequentemente diminuindo as chances de ocorrer processos com a eutofrização (BARROS, 2002). Além de encontrar as exigências de vitaminas, Barros (2002) também determinou os valores de exigência de minerais para as mesmas espécies mencionadas anteriormente, demonstrado na tabela 4. Tabela 4. Exigências de minerais para algumas espécies de peixes Espécie Vitamina Bagre do Canal Carpa Comum Tilápia nilótica Truta arco-íris Salmão do Atlântico Macrominerais Cálcio (Ca) 0,45% nd 0,70% 0,30% 0,30% Fósforo (P) 0,45% 0,60% 0,50% 0,60% 0,60% Sódio (Na) nd nd nd nd nd Potássio (K) nd nd nd 0,70% nd Cloro (Cl) nd nd nd nd nd Magnésio (Mg) 400mg/Kg 500mg/Kg 600mg/Kg 500mg/Kg 500mg/Kg Microminerais Manganês (Mn) 2,4mg/Kg 13mg/Kg 12mg/Kg 13mg/Kg 16mg/Kg Zinco (Zn) 20mg/Kg 30mg/Kg 20mg/Kg 30mg/Kg 30mg/Kg Ferro (Fe) 30mg/Kg 150mg/Kg nd 60mg/Kg 60mg/Kg Cobre (Cu) 5mg/Kg 3mg/Kg 4mg/Kg 3mg/Kg 3mg/Kg Selênio (Se) 0,25mg/Kg nd nd 0,3mg/Kg 0,3mg/Kg Iodo (I) 1,1mg/Kg nd nd 1,1mg/Kg 1,1mg/Kg Fonte: Barros (2002). In: Ribeiro et al. (2012). É válido ressaltar que os peixes mostram-se altamente sensíveis a dietas deficientes em vitamina C, principalmente em estágios iniciais de crescimento. Animais que passam por este problema tem crescimento reduzido, perda de apetite, conversão alimentar prejudicadas, deformidades esqueléticas (lordose, escoliose e cifose), deformidades no opérculo e nas cartilagens das brânquias, anemia, hemorragia de vários órgãos, demora ou diminuição da cicatrização de feridas, coloração escura, redução do desempenho reprodutivo e diminuição da eclodibilidade (RIBEIRO et al., 2012). Assim, é de suma importância que sejam utilizadas formas protegidas, pois são mais estáveis e resistentes ao processo de industrialização e armazenamento, além de serem utilizadas em menores quantidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS É válido ressaltar que o manejo alimentar e nutricional correto asseguram o crescimento dos animais, além de permitir que os mesmos resistam a condições de confinamento. È essencial que o técnico responsável tenha conhecimento das exigências nutricionais, para orientar corretamente o produtor. REFERÊNCIAS BALDISSEROTTO, B. Digestão. 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