Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 NUTRIÇÃO ANIMAL Este texto é só para orientação de iniciantes no estudo da nutrição animal, portanto aquilo que será apresentado em aula e a literatura indicada na disciplina é que deve nortear suas respostas. Isso faz parte do material para provas. O entendimento da nutrição animal vem evoluindo muito nos últimos anos em função do grande volume de pesquisas realizadas no conhecimento básico e no aplicado. Certamente é necessário que se continue buscando informações que visem o melhor conhecimento das necessidades nutricionais, do processamento dos alimentos e de suas combinações para buscar a melhor eficiência econômica na produção animal. 5.1. CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS EM NUTRIÇÃO Nutrição é um conjunto de processos químicos, físicos e biológicos que sofre o alimento da ingestão até a excreção, fazendo com que o organismo promova a digestão do alimento, permitindo a absorção dos nutrientes para atender as exigências de manutenção e produção. Alimentação é o estudo dos alimentos, engloba a escolha, o preparo e fornecimento. Na escolha dos alimentos, devem ser considerados a palatabilidade, a composição química, a disponibilidade e o preço, com o objetivo de que uma ração seja palatável, nutricionalmente balanceada e econômica. Observação: A alimentação e a nutrição animal tem por objetivo fornecer a um grupo de animais zootecnicamente explorados todos os nutrientes para torná-los economicamente produtivos. Ração é a quantidade de alimento consumido por dia capaz ou não de suprir as exigências dos animais. Ex. 10 kg de silagem mais 3 kg de concentrado. Ração balanceada é uma mistura de alimentos calculada de modo a suprir as exigências em todos os nutrientes (proteína, energia, minerais, vitaminas), de modo a atender a necessidade do animal em questã. Dieta é tudo aquilo que o animal consome por dia. Ex. silagem de milho, farelo de soja, farrelo de arroz e sal comum. Refeição é parte da ração fornecida cada vez ao animal. Concentrado é uma mistura rica em nutrientes para ser fornecida como complemento a alimentos de menor concentração nutricional. Ingredientes são as diferentes matérias primas utilizadas na confecção da ração. Ex. milho, farelo de soja etc. 2 Nutrientes são constituintes químicos dos ingredientes. Ex. proteína, energia, minerais, vitaminas e água. Normas de alimentação são tabelas que apresentam a composição dos alimentos e as necessidades nutricionais das diferentes categorias ou idades dos animais. Levam em consideração as necessidades de manutenção, crescimento, reprodução e produção. 5.2. CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS Os alimentos são classificados segundo um sistema internacional idealizado por pesquisadores, porém diferentes adaptações podem ser feitas sem que se perca o objetivo da classificação. O mais adequado é aquele que serve ao nutricionista frente à situação alimentar que se apresenta, portanto pode ser utilizada a que segue: a) Volumosos - São alimentos que contém mais que 18 % de FB na MS. - Úmidos - silagens, pastagens e capineiras. - Secos - fenos, palhas e especiais. b) Concentrados - Protéicos - têm mais que 20% PB na MS e menos que 18% de FB na MS podem ser de origem animal, origem vegetal e nitrogênio não protéico - Energéticos - têm menos de 20%PB na MS e menos de 18 % FB na MS podem ser de origem animal, origem vegetal e origem mineral c) Suplementos - Vitamínicos – hidrosolúveis e lipossolúveis podem ser naturais e sintéticos - Minerais – macrominerais e microminerais podem ser de origem animal e origem mineral d) Aditivos - são classificados em dois grupos: - Nutricionais – fornece no mínimo um nutriente essencial a vida - Não nutricionais – não fornece nutriente, mas de alguma forma melhoram o desempenho do animal 5.3. DESCRIÇÃO DOS GRUPOS DE ALIMENTOS 5.3.1 Volumosos 1ºPastagens(úmido) - as nativas tem média qualidade, as cultivadas geralmente são superiores, porém, o fator principal que determina a qualidade das pastagens é o estádio em que está a cultura e a época em que ocorre o pastejo. 2ºSilagens(úmido) - geralmente são alimentos de média ou boa qualidade, pois da mesma forma que os fenos, são confeccionadas a partir de culturas que são colhidas antes do amadurecimento. Pode ser feita com todas as culturas citadas para o feno, mas as principais culturas para silagem são o milho e o sorgo. 3ºCapineiras(úmido) - sua qualidade depende da espécie considerada e do estádio da planta. Várias culturas podem se adequar ao corte para serem levadas diretamente ao cocho, isto caracteriza uma cultura que está sendo usada como capineira. 3 As mais usuais são cana-de-açúcar, capim-elefante, sorgo, milho, alfafa e aveia. 4ºPalhas(seco) - são alimentos muito pobres, já que são oriundos de culturas maduras, após a colheita do grão. Nesta fase, o caule e a folha têm baixo teor de proteína e baixa digestibilidade por estarem muito fibrosos e com lignina alta. Ex. palha de arroz, de soja, de aveia e de milho, enfim, qualquer cultura que está no final do ciclo (pós colheita da semente). Apesar de que é melhor ter palha do que não ter nada para fornecer aos animais. 5ºFenos(seco) - geralmente são alimentos de média ou boa qualidade, pois são confeccionados a partir de culturas que são cortadas antes do amadurecimento, quando ainda tem bom valor proteico e boa digestibilidade. No caso do feno de alfafa deve-se cortá-la antes do florescimento pleno. As culturas que mais são enfenadas, além da alfafa, são os trevos, o cornichão, o azevém o capim de rhodes, o capim bermuda e o tifton. 6ºEspeciais(seco) – este grupo basicamente é para enquadrar a casquinha de soja ( é a película do grão, não é a vagem) e a polpa cítrica ( é o bagaço e casca da laranja desidratados, tratados com cal e peletizado). Você poderia pensar que eles são concentrados, mas só os coloco aqui porque tem alta pectina que um carboidrato de média velocidade de digestão. 5.3.2 Concentrados e Suplementos Concentrado protéico - de origem animal - apresentam-se em maior quantidade no mercado a farinha de carne, farinha de penas e a farinha de peixes. A farinha de carne de ruminantes está proibida de ser utilizada para alimentar ruminantes no Brasil. A farinha de penas, de carne e a de peixes não são muito utilizadas para ruminantes. Concentrado protéico - de origem vegetal - neste grupo o representante mais ilustre é o farelo de soja, por ser de maior qualidade e de que o Brasil ser o maior produtor mundial do grão. Outras fontes também são importantes como o farelo de caroço de algodão, farelo de girassol e leveduras. Concentrado protéico - de origem no nitrogênio não-protéico - a mais usual fonte de nitrogênio na alimentação dos ruminantes é a uréia, sendo largamente utilizada na alimentação de cocho inclusive em rações comerciais. Concentrado energético - de origem animal - são pouco usados em dietas de ruminantes. Trata-se da gordura animal, como o sebo bovino, a banha de porco e o óleo de frango. São energéticos de alta concentração calórica. Concentrado energético - de origem vegetal - este grupo de alimentos é bastante grande, incluindo os óleos vegetais como o de soja, que é mais usado em rações de monogástricos. No entanto, no grande grupo estão os cereais sendo o milho, o grande nome. Também aqui figuram o sorgo, o farelo de arroz, o farelo de trigo, a casquinha de soja o triticale, a polpa cítrica e outros normalmente menos cotados. 4 Suplemento mineral - de origem animal - farinha de ossos, de casaca de ovos, farinha de carne com ossos, farinha de ostras Suplemento mineral - de origem mineral - existe um grande número de substâncias minerais que são utilizadas para atender as necessidades dos animais. Ex. Calcário calcítico, cloreto de sódio, sulfato de cobre, fosfato bicálcico,etc. Suplementos vitamínicos - podem ser naturais ou sintéticas Aditivos - os nutricionais são incluídos nas dietas para fornecer alguns nutrientes complementares como aminoácidos, por exemplo. São pouco utilizados em dietas de ruminantes, mas muito usados em dietasde monogástricos. Os não nutricionais tem o objetivo de melhorar a eficiência de utilização dos alimentos como o bicarbonato de sódio, ionóforos e outros. Alimentos concentrados mais usados Os teores nutricionais dos alimentos devem ser obtidos através de análise em laboratórios ou em tabelas de composição de alimentos que apresentam valores médios. Tem que se considerar que se tomar estes valores de tabelas pode ocasionar erros, pois alguns alimentos podem apresentar grandes variações. Ex.: casquinha de soja pode apresentar proteína bruta variando de 10 a 17%. Soja,grão Para ruminantes: ▪ Pode ser fornecida crua, mas triturada ▪ Pode causar enfastiamento devido ao alto nível de óleo ▪ Pode dificultar a digestão da celulose ▪ Quando crua não deve ser misturada com uréia Para monogástricos: ▪ Não pode ser fornecida crua ▪ Inibe enzimas proteolíticas (tripsina e eripsina) ▪ Interfere na absorção de aminoácidos sulfurados e na vitamina A ▪ Em suínos provoca descalcificação ▪ Princípio tóxico: sojina Polpa citrica ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Casquinha de soja ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Algodão Subprodutos: farelo de algodão Para ruminantes: ▪ Boa fonte protéica ▪ Produz gordura mais consistente ▪ Em vacas de leite produz manteiga mais consistente e mais pegajosa Para monogástricos: ▪ Proteína de médio valor biológico (pouca lisina e metionina) ▪ Produz ovos com gema esverdeada e de curta conservação ▪ Princípio tóxico: gossipol Amendoim Subprodutos: farelo de amendoim Para ruminantes: ▪ Boa fonte protéica Para monogástricos: ▪ Proteína de baixo valor biológico ▪ Produz gordura insaturada em suínos ▪ Deficiente em lisina, treonina, aminoácidos sulfurados e cálcio ▪ Rica em cálcio, arginina e vitamina D ▪ Possui uso limitado pois pode desenvolver fungo Aspergillus flavus ▪ Não é um problema do amendoim Girassol ▪ Subprodutos: farelo de girassol Para ruminantes: ▪ Boa palatabilidade ▪ Boa fonte protéica 6 ▪ Não deve ser usado para bovinos de trabalho ou equinos, pois possui efeito narcotizante Para monogástricos: ▪ Deficiente em lisina e metionina ▪ Limitado uso pelo alto teor de fibra bruta nos tegumentos da semente ▪ Manchas nos ovos das poedeiras quando usado em maiores quantidades ▪ Princípio tóxico: ácido clorogênico Linhaça Subproduto: Farelo de linhaça Para ruminantes. ▪ Boa palatabilidade ▪ Torna os pelos brilhantes ▪ Produz manteiga mole e rancificável ▪ Ligeiro efeito laxante Para monogástricos: ▪ Pobre em lisina, metionina, caroteno e vitamina D ▪ Rico em vitaminas B1 e B2, niacina e ácido pantotênico ▪ Anti-vitamina B6 ▪ Princípio tóxico: linamarina Colza Subproduto: Farelo de colza Para ruminantes: ▪ Baixa energia ▪ Pode diminuir a produção de leite Para monogástricos: ▪ Níveis superiores a 5% diminui a produção de ovos, em quantidade, tamanho e odor desagradável ▪ Diminui o crescimento ▪ Princípio tóxico: ácido erúcico e tanino Mamona Subproduto: Farinha de mamona Para ruminantes: 7 ▪ Toleram os princípios tóxicos se o produto não ultrapassar 10% da dieta Para monogástricos: ▪ Baixa digestibilidade, lisina e triptofano ▪ Níveis maiores que 5% da dieta de frangos causa diminuição no crescimento ▪ Princípio tóxico: ricina, ricinina Cevada Subprodutos: Brotos de malte, polpa de cervejaria, lúpulo e resíduos da destilação Para ruminantes: ▪ Alta palatabilidade Para monogástricos: ▪ Pouco caroteno, vitamina D e vitamina B2 ▪ Bons níveis de lisina, triptofano, metionina e cistina ▪ Baixa digestibilidade Centeio Subproduto: Farelo de centeio Para ruminantes: ▪ Palatabilidade e digestibilidade menor que o trigo ▪ Para vacas usar até 25% do concentrado ▪ Para bezerros (6 a 18 semanas) pode representar 60% do concentrado Para monogástricos: ▪ Não deve ser fornecido para aves, fator depressivo do crescimento ▪ Suínos pode substituir 80% do milho e 20% para aves ▪ Susceptível ao fungo Claviceps purpurea que produz ergotamina, ergolina e ergotoxina Arroz ▪ Subprodutos: farelo de arroz integral e desengordurado ▪ Farelo integral produz gordura insaturada ▪ Proteína com baixo valor biológico, deficiente em lisina e metionina ▪ Farelo desengordurado pode causar laminite Sorgo ▪ Para ruminantes precisa ser triturado 8 ▪ Boa fonte de energia ▪ Proteína de baixo valor biológico ▪ Pobre em vitaminas e minerais ▪ Princípios tóxicos: durrina e ácido cianídrico (forrageiro), tanino (grãos) Milho Subprodutos: rolão de milho, milho desintegrado com palha e sabugo, farelo de milho ▪ Melhor concentração energética dos cereais ▪ Alta palatabilidade ▪ Proteína de baixo valor biológico ▪ _________________________________________________ Farinha de carne ▪ Uso proibido para ruminantes ▪ Alto conteúdo de cinzas ▪ Palatabilidade ruim, mas de alto valor biológico ▪ proibido seu uso (vaca louca) Cama de aviário ▪ Uso para ruminantes ▪ Alto nível de nitrogênio não proteico ▪ Qualidade depende do número de lotes que passaram sobre ela ▪ proibido seu uso (vaca louca) Farelo de trigo ▪ Boa palatabilidade ▪ Baixa velocidade de digestão, o que é positivo ▪ Bom nível proteico, apesar de ser um energético 5.4. AVALIAÇÃO DOS ALIMENTOS Existem tabelas estrangeiras como as renomadas NRC, (1989) e ARC, (1996), que trazem a composição dos alimentos. Também existem tabelas nacionais como a do Andriguetto (1983) e Campos, (1988) são suficientes para se buscar dados do valor 9 nutritivo dos alimentos utilizados na dieta dos animais. Além disso existem inúmeroa teses, dissertações e artigos científicos que analisaram inúmeros alimentos, porém há que se considerar que existem grandes variações de composição de um mesmo alimento. Na bibliografia podem ser encontrados valores de PB para o feno de alfafa de 8 a 17 % e para a digestibilidade de 40 a 65 %. Da mesma forma para os resíduos de pré limpeza de soja de 8 a 28 % de PB e de 50 a 75 % de digestibilidade. Certamente em muitos casos é necessário que antes de compor uma dieta para um animal, deve-se antes fazer a análise laboratorial da composição dos alimentos a serem utilizados. Considerando-se que em nível de campo a nutrição de ruminantes e equinos não está ainda tão precisa, como é o caso da avicultura e suinocultura, obter valores relativamente precisos de proteína bruta e digestibilidade são suficientes para se formular dietas adequadas para os primeiros. Mais raramente, podem ser realizadas avaliações de minerais, especialmente Ca e P, e de qualidade da fibra (Fibra em detergente ácido e fibra em detergente neutro). 5.5. SISTEMA DIGESTORIO É o conjunto de órgãos responsáveis pela ingestão, digestão, absorção e eliminação dos resíduos alimentares. É composto por boca, esôfago, estômagos, intestinos e glândulas acessórias. 5.5.1. Anatomia do sistema digestorio Boca - a partir de movimentos das mandíbulas e com o auxílio da língua o animal apreende o alimento entre os incisivos (somente existem os inferiores) e o palato duro (almofadinha dental). Com movimento da cabeça rompe o pasto e logo o deglute sem mastigar. Normalmente os dentes incisivos se rasam ou começam a cair aos 7 - 9 anos de vida do animal, mas certamente existe grande variação individual. Com o rasamento ou a falha de dentes, que ocorre apenas nos oito incisivos, o animal tem grande dificuldade para coletar o alimento, pastejando campo nativo com baixo volume de pasto. Faringe e esôfago - são canos de condução do alimento da boca até o estômago e vice-versa. O esôfago é um tubo muscular lisosem atividade secretória, que pode eventualmente sofrer fechamento de sua luz por obstrução ou pressão de tumores ou traumatismos. Estômagos - os bovinos e ovinos são animais que apresentam os quatro compartimentos estomacais, por isso são chamados de poligástricos ou ruminantes. Possuem três estômagos aglandulares (pró-ventrículos) e um glandular (estômago verdadeiro) que tem funções similares as dos monogástricos. Quadro 1. Divisões do estômago dos ruminantes Retículo (barrete) Pró-ventrículos Rúmen (bucho) (pré-estômagos) Omaso (folhoso ou sessenta-folhas) Ventrículo (estômago verdadeiro) Abomaso (coagulador ou coalheira) 10 Nos pró-ventrículos ocorre a digestão microbiana, em pH 5,5 a 6,5 a partir de enzimas produzidas pelos microrganismos ruminais. No ventriculo ocorre a digestão química em pH 2 a 2,5, a partir do suco gástrico que contém enzimas. Rúmen - é o maior dos compartimentos, ocupando grande parte da cavidade abdominal, apresentando um volume ao redor de 180 litros no bovino adulto. É uma câmara única, porém apresenta quatro sacos divididos pelos pilares do rúmen que são os responsáveis pelas contrações cíclicas e fásicas que misturam o alimento recém chegado. Estes movimentos também estão envolvidos na eructação e regurgitação para posterior remastigação e redeglutição. Retículo - é o menor dos compartimentos. Internamente tem o aspecto de favos de mel (dobradinha). Apresenta um sulco conhecido como goteira esofágica, que é uma depressão da mucosa que se inicia no esôfago e vai até o orifício retículo-omasal. Quando o bezerro ingere leite, este passa pela goteira esofágica evitando o rúmen e o omaso. Omaso - tem forma arredondada nos bovinos e é ovóide nos ovinos e caprinos. Sua mucosa forma inúmeras pregas longitudinais delgados que são as lâminas do omaso (folhas do livro) e entre elas tem os espaços interlaminares. Encontra-se neste órgão o sulco omasal (goteira esofágica). Abomaso - tem forma de saco alongado. A mucosa é lisa e apresenta pregas no sentido longitudinal. Está dividido por uma constrição em duas porções, a fúndica, que é glandular e a pilórica, que não tem glândulas.Este é o estõmago verdadeiro. Intestino Delgado - compõe-se do duodeno, do jejuno e do íleo. São vulgarmente chamados de “tripas finas”- são delgados e longos para que o alimento transite demoradamente e sofra a ação dos sucos gástricos (duodenal, entérico, pancreático e biliar) que por suas enzimas digerem os alimentos e os nutrientes vão sendo absorvidos na parede intestinal, passam para a corrente sangüinea e ocorrerá a nutrição celular, o pH e em torno de 8,0 onde as enzimas atuam adequadamente. Intestino Grosso – compõem-se do ceco, do cólon e do reto, onde ocorre a absorção de água, sais orgânicos e poucos nutrientes. Os resíduos alimentares são eliminados com as fezes moldadas, segundo a anatomia do órgão. Capacidade do trato digestivo dos bovinos – a capacidade volumétrica do trato é dependente, principalmente do tamanho do animal. Para bovinos adultos de 450 kg de peso vivo teremos: Compartimento Volume (l) % Estômagos 250 70 Intestino Delgado 70 20 Intestino Grosso 40 10 TOTAL 360 100 Esta é a capacidade física total, no entanto, em situação normal esta capacidade está em 50% ocupada. 5.5.2. Desenvolvimento da capacidade dos estômagos 11 Ao nascimento o rúmen do bezerro é a funcional e muito pequeno. A medida que a idade vai avançando o crescimento dos diferentes estômagos vai ocorrendo em diferentes proporções, conforme o Quadro 2. Quadro 2. Desenvolvimento dos compartimentos gástricos dos ruminantes Idade (em meses) Rúmen e Retículo (%) Omaso e Abomaso (%) Nascimento 30 70 1 35 65 2 50 50 3 75 25 4 85 15 O desenvolvimento dos compartimentos ocorre em função do consumo de alimentos volumosos e concentrados. Então quanto mais leite o bezerro tem disponível menos ele vai buscar alimentos sólidos e mais lenta é o desenvolvimento dos estômagos. Em desmame precoce de bovinos de corte e leite, é necessário que se force o consumo de alimentos sólidos para se obter uma capacidade alta de ingestão o mais rápido possível. 5.5.3. O rúmen como câmara de fermentação O rúmen apresenta uma série de características que fazem dele uma câmara de fermentação com ambiente muito favorável ao desenvolvimento contínuo da população microbiana. 1-Temperatura - a temperatura normal do corpo dos bovinos é de 38o C, enquanto o rúmen tem uma temperatura um pouco superior (39o C) em função do calor produzido pela fermentação. 2-Anaerobiose - as vezes pode-se encontrar oxigênio no rúmen que entrou com a água ou o alimento. Gases da fermentação estão presentes, mas não oxigênio de forma significativa. 3-pH - o pH normal do rúmen varia de 5,5 a 7,0. Logo após o consumo de rações o pH está baixo, mas horas após ele sobe normalmente em função do aporte de saliva que tem bicarbonatos. Se o pH baixar mais que 5,5 começa a haver diminuição do trabalho bacteriano e conseqüentemente redução da digestão da fibra dos alimentos. 4-Umidade - a umidade é muito influenciada pela natureza dos alimentos, porém através do consumo de água o animal faz o equilíbrio. 5-Presença de microrganismos - devido as quatro condições já citadas, o rúmen é habitado pelos microrganismos (protozoários e bactérias) responsáveis pela fermentação dos alimentos antes de chegarem ao estômago propriamente dito (abomaso). O equilíbrio da população microbiana depende do substrato que entra no rúmen (alimento). ▪ Bactérias = 1010 bactéria por grama de conteúdo ruminal; ▪ Protozoários = 106 protozoários por grama de conteúdo ruminal. 12 6-Entrada constante de substrato - constantemente o animal se alimenta e coloca na câmara de fermentação (rúmen) novo substrato que é alimento para as bactérias. Ainda constantemente entra no rúmen a saliva que tem nitrogênio e bicarbonato (mantém o pH). 7-Saída constante de produtos finais - os ácidos graxos voláteis produzidos pela fermentação do alimento saem do rúmen para o sistema sanguíneo por livre difusão. As bactérias e protozoários que evoluem com a digesta vão passando gradativamente para os próximos compartimentos. Os gases da fermentação (H2S, CO2, CH4) são eliminados através da eructação (eliminação de gases pela boca). Ruminação – o alimento ingerido chega ao rúmen-retículo habitados por microorganismos (bactérias e protozoários) anaeróbicos e aeróbicos facultativos com pH 5,5 a 7,0 e temperatura de 39°C e umidade de 85%.Nestes compartimentos ocorrem contrações que vão continuamente misturando os alimentos com o conteúdo ruminal, fazendo com que haja ataque dos microorganismos. Também em função das contrações ocorre uma separação do alimento conforme a densidade e, principalmente, o tamanho da partícula. As partículas mais grosseiras são conduzidas até a válvula que liga o esôfago ao rúmen, chamada de cárdia. Ocorre uma contração do retículo e esforço inspiratório formando uma pressão negativa, o cárdia se abre e o alimento é regurgitado. Chegando a boca, o animal engole novamente com um excesso de líquido, remastiga o bolo alimentar por aproximadamente 60 vezes em 60 segundos e redeglute novamente, assim sucessivamente. Quanto maior o número de bolos ruminados durante o dia, maior é a produção de saliva → bicarbonato → tampão → não acidose. Daí a importância do tamanho de partícula adequado = fibra longa = fibra efetiva, que significa que efetivamente vai provocar a ruminação. Este entendimento é muito importante na nutrição de vacas leiteiras, de alta produção que são submetidas a altos níveis de concentrado. Eructação – trata-se da expulsão pela boca dos gases da fermentação produzidos no rúmen. A quantidade produzida pode chegar a 100L/ dia dependendo do tipo de alimento. Ocorre como na regurgitação, através dos movimentos do rúmen, onde a sua não eliminação causa o timpanismo. Ciclo da mistura – são contrações cíclicas e sequenciais dos 4 sacos do rúmen que fazem a movimentação e mistura do bolo alimentar, também possibilitam a eructação e regurgitação. A cada 3 minutosse completam 2 ciclos que podem ser diagnosticados pelo exame clínico através da observação da região do vazio que se movimenta ao completar cada ciclo. Caso este ciclo não ocorra, não ocorrerá eructação, que evoluirá para timpanismo e morte por dificuldade respiratória e circulatória. 5.5.4. Microbiologia do rúmen Compõe-se basicamente de bactérias e protozoários. Fungos, micoplasmas e bacteriófagos em baixa proporção. 5.5.4.1. Classificação das bactérias A classificação das bactérias é feita basicamente pelo substrato que elas utilizam e parcialmente pelo que elas produzem. 13 Amilolíticas: possuem amilase para degradar o amido (dietas ricas em grãos); Proteolíticas: utilizam os aminoácidos como fonte de energia primária; Hemicelulolíticas: degradam a hemicelulose e também as pectinas; Celulolíticas: responsáveis pela degradação da celulose até glucose; Produtoras de amônia: produzem amônia pela hidrólise da uréia; Utilizadoras de açúcares simples: não produzem enzimas e trabalham nos produtos das outras bactérias (açúcares simples); Lipolíticas: sintetizam lipases que atuam na hidrólise de glicerídeos e lipídeos e também são responsáveis pela hidrogenação de ácidos graxos de cadeia longa; Outras bactérias: produtoras de metano, ureolíticas, sintetizadoras de vitaminas. 5.5.4.2. Classificação dos protozoários Existem muitas espécies de protozoários são encontradas no rúmen, no entanto os ciliados são os mais significativos. Nestes a classificação é pela morfologia das células. 5.5.5. Sucos digestivos Os sucos digestivos contém enzimas e podem ser considerados como seis, se incluirmos a saliva. Salivar - boca Gástrico- estômago Pancreático - intestino delgado Intestinal - intestino delgado Duodenal - intestino delgado Biliar - intestino delgado 5.5.5.1. Saliva Podemos chamá-la de suco salivar uma vez que ajuda na digestão, principalmente por conter o tampão bicarbonato. Funções: - Facilita a mastigação e deglutição (mucina); - Atividade enzimática (lipase salivar, gorduras); - Serve como solvente de moléculas; - Faz o contato com os botões gustativos; - Possui capacidade tampão; - Atividade antibacteriana, devido sua alcalinidade (pH ± 8,0); - Contém nutrientes para microorganismos (Na, P, N, Uréia); - Tem propriedade antitimpanismo, pois, diminui a tensão superficial evitando a formação de espuma, que dificulta na eliminação de gases. 5.5.5.2. Suco gástrico Secretado pela região glandular do estômago (abomaso) apresenta o ácido clorídrico e enzimas. Ácido clorídrico - ativa a pepsina que é secretada na forma de pró enzima, o pepsinogenio. - Acidificação do meio - condição indispensável para que a pepsina hidrólise as proteínas pH 1,5 a 2,0. - Funciona como antiséptico contra microorganismos ingeridos acidentalmente. - Ativa a secreção de secretina que envia mensagem hormonal até o pâncreas para produção do suco pancreático. 14 Pepsina - atua hidrolizando as proteínas, degradando-as a polipeptideos (pH 1,5 a 2,0). Renina - Presente nos lactentes, ruminantes principalmente. Atua sobre a degradação da proteína do leite (caseína) com função de coagular. Mucina - Bastante viscosa, é produzida pelas células mucoides, adere-se ao epitélio estomacal. Função: - Protege contra a corrosão do HCl, as paredes do estômago (epitélio); - Absorve a pepsina; - Neutraliza o Ph Lipase gástrica - Tem pouca ação sobre as gorduras e atua somente sobre gordura de baixo ponto de fusão. 5.5.5.3. Suco pancreático Tripsina - ph 8,0 a 9,0 - hidroliza praticamente todas as proteínas. Amilase - ph 6,5 a 7,2 - hidroliza o amido. Lipase - ph 7,8 a 8,0 - degrada gordura auxiliada pela bile. 5.5.5.4. Suco biliar Produzido pelo fígado, armazenado na vesícula biliar com pH= 8,0. Funções: - Ativa a lipase pancreática; - Emulsiona as gorduras (gotículas), facilitando a lipase; - Ação hidrotópica (aumenta a solubilidade dos ácidos graxos em água). - Neutraliza o quimo-gástrico; - Estimula ligeiramente o peristaltismo; - Funciona como antiséptico, com ph = 8,0. 5.5.5.5. Suco entérico Secretado pelas glândulas de Liberking. Possui como principais enzimas: micina, maltase, sacaroses, lactases, fosfatases, nucleases, peptidases, etc. 5.5.5.6. Suco duodenal Secretado pelas glândulas de Brunner, ph = 8,2 a 9,3 - rico em Mucina - protege o epitélio intestinal, possui uma enteroquinase que é ativadora da tripsina. 5.6. NUTRIENTES São cinco os grupos de nutrientes que são necessários para bem nutrir os ruminantes: Água, proteína, fonte de energia, minerais e vitaminas. 5.6.1. Água e seu metabolismo É um nutriente essencial que não entra nas formulações de dietas dos animais porque eles regulam a ingestão conforme a necessidade que o organismo apresenta a cada momento. Isto ocorre sempre que a água é disponível em livre acesso e de boa qualidade. O animal pode perder 100% da gordura, mais da metade da proteína e sobreviver, mas se perder mais de 20% da água ele morre, após uma desidratação severa. 15 5.6.1.1. Funções da água É o solvente universal (transporte de nutrientes no organismo, separação de minerais (NaCl),baixa viscosidade - menor que qualquer outro líquido); - Regulação de temperatura do corpo; - Participa da digestão dos nutrientes; - Proteção mecânica de órgãos (almofada- cérebro- feto); - Excelente lubrificante para órgãos submetidos a fricções; - Intervêm na visão como constituinte do meio transparente do olho; - Participa na audição; - Eliminação de resíduos metabólicos; - Equilíbrio hidroeletrolítico. 5.6.1.2. Origem da água no organismo - Bebida; - Presente nos alimentos; - Metabólica 5.6.1.3. Fatores que afetam a necessidade e o consumo de H2O - Espécie animal; - Tipo de fezes (quantidade em água); - Temperatura ambiente; -Umidade relativa ; - Exercício; - Produção de leite; - Tipo de dieta - ↑ em minerais, ↑ consumo de água - ↑ em fibra bruta, ↑ consumo de água - ↑ excesso de proteína, ↑ consumo de água Um bovino bebe na média do ano em campo nativo, cerca de 5% do seu peso pordia, em confinamento pode subir para 10%. Uma boa produtora de leite pode chegar a 20%. 5.6.1.4. Perda de água pelo organismo - Renal (urina) - Cutânea (suor) - Respiração (evaporação) - Intestino (fezes) - Produção (leite, ovos etc.) - 5.6.2. Proteína São substâncias quaternárias formadas por: C - 53,0 (+-2,0) % H - 7,0 (+-0,5) % O - 22,0 (+-1,5) % N - 17,0 (+-1,5) % S - 1,0 (+-0,5) % P - 1,0 (+-1,0) % São formadas por aminoácidos que se unem através de ligações peptídicas com no mínimo 24 aminoácidos. 5.6.2.1 . Principais funções 16 - Participam na síntese de proteínas das produções (carne, leite, ovos, lã); - Utilizadas na síntese de substâncias celulares e outros compostos que contém nitrogênio; - Participam na síntese de enzimas e hormônios ex. fenilalanina – síntese de adrenalina tirosina – síntese da tiroxina - Participam no mecanismo de desintoxicação do organismo ex. glicina + ácido benzóico→ ácido hipúrico que sai pela urina, acontece mais em aves (ácido úrico) - Participam no mecanismo da transmissão dos caracteres hereditários, pois fazem parte dos ácidos nucleicos. - Produção de ácidos para defesa e proteção do organismo. - Participam na regulação do metabolismo da água através da pressão oncótica, regulam o metabolismo da água levando o líquido para dentro ou fora do leito vascular. - Participam no transporte de alguns nutrientes. Ceruloplasmina - Transporte de Cu no sangue; Globulinas - Transporte de esteróides e alguns minerais . - Produção de energia. Os aminoácidos em excesso vão ser desaminados e os carbonados vão fornecer energia, mas em ± 60% de eficiência com relação aos carboidratos e lipídios. Perdas - 20% na forma de urina Perdas - 20% na forma de digestão incompleta e o organismo não reserva aminoácidos. 5.6.2.2. Aminoácidos É a menor unidade da proteína, são divididos em essenciais e não-essenciais. Aminoácidos essenciais - são todos aqueles que o organismo não consegue sintetizar em velocidade suficiente para atingir as necessidades na síntese protéica celular,sendo necessária sua adição na dieta através de alimentos que contenham estes aminoácidos ou através de aminoácidos sintéticos. H - Histidina Fe - Fenilalanina I - Isoleucina Tri - Triptofano L - Lisina Tre - Treonina L - Leucina Va – Valina M - Metionina A - Arginina HILLMA FeTriTreVa Aminoácidos não essenciais - o próprio organismo sintetiza em velocidade suficiente para atender as necessidades do animal. Nutricionalmente, os essenciais e não essenciais tem a mesma importância. - Glicina - Cistina - Ac. Aspártico - Hidroxiprolina - Alanina - Cisteína - Ac. Glutâmico - Citrolina - Cerina - Tironina 17 - Prolina Aminoácidos limitantes - os aminoácidos mais limitantes nos grãos de cereais que são muito utilizados na alimentação de monogástricos são: - Lisina - Metionina - Triptofano - Treonina Aminoácidos sulfurosos - também chamados de aminoácidos enxofrados porque tem enxofre na sua composição. Por este motivo é que se usa enxofre nas dietas que contém uréia. - Metionina - Cistina - Cisteína Aminoácidos sintéticos - são produzidos sinteticamente para suprir a carências encontradas nos cereais, sendo raramente utilizados em ruminantes. - Metionina - Lisina - Triptofanio - Treonina 5.6.2.3. Digestão das proteínas Para os ruminantes, a qualidade da proteína não é tão importante como para os monogástricos. Nos ruminantes a situação é diferente em função de que as proteínas estão sujeitas ao ataque dos microrganismos e podem sofrer intensa degradação no rúmen. Então, se ela tiver alta qualidade e for degradada no rúmen ela fará o mesmo efeito nutricional do que se fosse de má qualidade, ou ainda, se fosse nitrogênio não protéico (uréia). O metabolismo do nitrogênio nos ruminantes é uma situação bastante complexa, por que envolve o nitrogênio da saliva, o nitrogênio que está ligado a proteína verdadeira do alimento e o nitrogênio alimentar que não é protéico. Ainda, dentro do rúmen, o metabolismo do nitrogênio depende da oferta de matéria orgânica fermentesível, conforme demonstra o esquema da Figura 1. Fontes dietéticas Fontes salivares NNP e Nucleoproteína Uréia e Mucoproteína Hidrólise NH3 Esqueletos de carbono Sali va Uréia Mucoproteína ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇑ SO4 R-S-H S Peptídeos, amidas | ⇓ ⇓ Aminoácidos ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ AGV Glicose San gue Uréia Proteína Rúmen Proteína (bactérias, protozoários) ⇑ 18 Proteina by pass ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ Fíg ado Uréia ⇑ Amônia ⇑ Aminoácidos ⇓ ⇑ Abomaso e intestinos Proteína Nucleoproteína Ácidos nucléicos e Aminoácidos San gue port al NH3 Aminoácido ⇓ ⇓ Fezes Proteína indigerível N fecal metabólico Metabolismo dos Tecidos Fonte: Adaptado de Church, 1975 Figura 1 . Metabolismo do nitrogênio Observa-se que a necessidade de se ajustar o consumo de nitrogênio para satisfazer os microrganismos do rúmen, se este for em excesso, esse nitrogênio será perdido pela urina, se ele estiver em falta, irá limitar o crescimento microbiano. Pode-se dizer que a síntese de proteína no rúmen pode ser resumida na figura 2. Proteína Pro teín a mic rob ian a Peptídeos Aminoácidos Amônia Ácidos graxos Figura 2. Esquema da síntese proteica no rúmen. 5.6.2.4. Absorção das proteínas A proteína microbiana (é o corpo das bactérias e dos protozoários) e a proteína do alimento que não foi degradada no rúmen quando chegam ao abomaso junto com a digesta, recebem o ácido clorídrico que mata os microrganismos, entra em ação a pepsina (enzima que desdobra a proteína em peptídeos). A digesta é movida para o intestino delgado, onde estão os sucos digestivos (suco duodenal, suco pancreático, suco intestinal e suco biliar), que contém enzimas que desdobram os peptídeos em aminoácidos. Os aminoácidos são então absorvidos pela mucosa intestinal, vão para o sangue e o fígado os encaminha para síntese de tecidos corporais ou para formar o leite ou a lã. 5.6.3. Energia A energia fornecida através dos carboidratos e dos lipídios. Também a proteína, quando em excesso, pode fornecer energia através do esqueleto carbonado da proteína desaminada. Esquema de aproveitamento de energia pelo organismo - Energia bruta (EB) 19 É a energia total do alimento. Obtida a partir da queima completa através de uma bomba calorimétrica. - Energia digestível (ED) Energia calculada pela diferença entre energia bruta e energia das fezes. - Energia metabolizável (EM) Energia calculada pela diferença entre energia digestível e as energias eliminadas através da urina e gases. - Energia líquida (EL) Energia calculada pela diferença entre energia metabolizável e o incremento calórico, que significa a energia despendida para a manutenção da temperatura corporal e nos trabalhos de digestão. A energia líquida pode ser classificada em energia líquida de manutenção e energia líquida para produção. - Energia líquida de manutenção Energia despendida para o metabolismo basal, funcionamento do corpo, homeotermia e atividades voluntárias (ruminação, caminhadas, etc.) - Energia líquida de produção Energia despendida para realizar o crescimento, produção de leite, lã, reprodução, trabalho, etc. Formas de expressar as exigências energéticas Unidade padrão = caloria (cal), quilocaloria (Kcal) e megacaloria (Mcal). Relação entre as unidades: 1 Mcal = 1.000 Kcal = 1.000.000 cal e, conseqüentemente, 1 Kcal = 1.000 cal. 5.6.3.1. Carboidratos, sua digestão, absorção e metabolismo De uma maneira geral 75% da matéria seca das forragens é composta de carboidratos, que são a principal fonte de energia para os ruminantes. Tanto monogástricos como ruminantes não tem condições de digerir a fibra dos alimentos por não secretarem enzimas para este fim, no entanto, as bactérias que existem dentro do rúmen secretam essas enzimas. Classificação: a) Monossacarideos a.1) Pentoses - Aralcinose - Xilose - Ribose a.2) Hexoses - Glicose - Frutose - Manose - Galactose b) Dissacarídeos 20 - Sacarose (glicose + frutose) - Lactose (glicose + galactose) - Maltose (glicose + glicose) - Celobiose (glicose + manose) c) Trissacarídeos - Rafinose (glicose + galactose + frutose).Ex. beterraba. d) Polissacarideos - Amido - Dextrina - Celulose - Hemicelulose Funções dos Carboidratos: a) Energética - é a principal e a mais econômica. - Não ruminante - amido - Ruminante- fibra bruta (celulose e hemicelulose e lignina) 1g de carboidrato = 4 kcal 1g de proteina = 4 kcal 1g de lipídio = 9 kcal b) Formação de gordura de reserva Excesso de carboidrato, acima da capacidade do fígado e músculo em armazenar glicogênio é depositado sob forma de gordura. Gordura para ruminante - ocorre hidrogenização - depositada sob forma saturada, independente da gordura de origem. Os suínos depositam a gordura no mesmo estado que é oferecida na dieta, excesso de gordura insaturada causa toucinho mole. c) Síntese do açúcar do leite: Lactose d) Atua na desintoxicação do organismo: e) Função de economia de proteina d) Função lastro (FB): Estimula o peristaltismo dos intestinos ocorrendo o bom funcionamento . Regulação do metabolismo dos carboidratos Glicemia - Praticamente constante em condições normais. Fatores que regulam a glicemia: - Hormônios: Insulina - Adrenalina - Glucagon; - Fígado: excesso de glicose, a insulina tira do sangue→ vai ao fígado→ transforma glicogênio, que em excesso, vai dar gordura de reserva. A glicemia normal nos animais domésticos, em mg/100ml de sangue: Bovinos: 40 – 70 Eqüinos: 60 – 110 21 Aves: 130 – 260 Coelho: 110 – 150 Fração de fibra bruta Ruminantes: Maior aproveitamento e conseguem retirar melhor os nutrientes. Não ruminantes: Maior importância na função física. Tabela 1 .Digestão da FB de forrageiras de regular valor nutricional para as diferentes espécies: Espécie % Digestão Ruminante 60→ rúmen - retículo Eqüino 50 Coelho 40 Suíno 30 ceco - intestino grosso Ave 20 Homem 10 Principais fatores que influenciam na utilização da fibra bruta: a) Espécie animal: ruminantes aproveitam melhor a fibra ( anatomia e fisiologia). b) Individualidade:dentro de uma mesma raça existe diferença individual. c) Diferença entre raças: zebuinas tem maior aproveitamento do que européias. d) Hábito alimentar: a digestibilidade de um alimento aumenta à medida que aumenta o consumo do mesmo em relação aos outros alimentos da dieta. e) Composição nutricional do alimento: até 3% de carboidrato solúvel aumenta a digestibilidade da fibra bruta. f) Efeito associativo dos alimentos: fornecemos os alimentos A e B. No alimento A temos digestibilidade X e no alimento B temos digestibilidade Y, se fornecer A + B vai ser = ax + y. g) Moagem fina da fibra: Favorece mais os não ruminantes. No ruminante aumenta a velocidade de passagem pelo trato. h) Complexidade da celulose: À medida que a forrageira envelhece aumenta a % de lignina, em conseqüência disto, diminui a digestibilidade. Porcentagem de fibra nas rações de diferentes espécies: a) Ruminantes: 25% (sem limite superior) b) Aves: 22 10% (máximo) - Frango de Corte: 4% - Poedeira recria: 10% - Poedeira postura: 8% c) Suínos: 10% (máximo) – Suinos jovens: 4% - Fêmeas em recria: 10% - Femeas gestando: 8% d) Peixes: 4% (varia muito se herbívoros ou carnívoros) Na Figura 3 apresenta-se um esquema geral da degradação ruminal dos diferentes carboidratos chegando a um mesmo produto final que é o piruvato. Amido Celulose Pectina Hemicelulose ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ Maltose Celobiose Ácido péctico Xilo-oligossacarídeo ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇒ ⇒ Glicose Á. Galacturônico Xilobiose ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇒ ⇒ Xilose ⇓ ⇓ Frutose 6P ⇐ ⇐ ⇐ ⇐ ⇓ Glicerato ⇓ Piruvato Figura 3. Fermentação dos principais carboidratos da dieta de ruminantes Absorção dos carboidratos A partir do momento que os carboidratos são fermentados no rúmen e produzem ácidos graxos voláteis, aumentam o gradiente de concentração destes e eles são absorvidos por livre difusão através da parede do rúmen, pela circulação portal vão até o fígado que metaboliza esses ácidos. 5.6.3.2. Lipídios, sua digestão, absorção e metabolismo Principais funções: a) Energética: 2,25 vezes mais energética de que os carboidratos e proteínas. As gorduras (óleos) são um recurso que o nutricionista dispõe para balancear rações (aumenta o nível energético). Rações com mais de 3.000 kcal de EM/kg, somente utilizando gordura. 1 kg de óleo → 9.000 kcal de EM/kg. b) Participam da absorção de vitaminas lipossolúveis - ADEK c) Participam da síntese de hormônios: - Estrógenos - Progesterona 23 - Corticóides Ácidos graxos essenciais: É aquele que o organismo não consegue sintetizar, tendo que ser fornecido na dieta. O único essencial é o Linoléico, sendo que sua ausência na dieta pode causar: - Necrose da cauda; - Ressecamento da pele; - Descamação da pele; - Crescimento retardado; - Problemas de reprodução; Sintomas semelhantes foram verificados em suínos e aves. Como fontes de ácidos graxos essenciais temos os óleos de milho, soja, arroz, linho, oliva, linhaça, gema de ovo, vegetais verdes, farinha de peixe. Dietas com 2,5 a 3% de gordura supre as necessidades de ácidos graxos essenciais. Tabela 2. Ácidos graxos comumente encontrados nos lipídios: Ácidos Saturados Ácidos Insaturados Butírico Palmitoleico Capróico Oleico Caprinico Linoleico Caprilo Linolênico Laurístico Aracdônico Mirístico Clupanodônico Esteárico Araquídico Lignolênico Palmítico Qualidades organolépticas da gordura de reserva do animal: O odor e o sabor da gordura de reserva são influenciados pela composição do alimento. Ex. derivados do peixe transmitem seu odor à gordura então deve-se suspender 30 dias antes do abate. Usar peixe até 5% da ração. - Digestão e absorção - assim que os lipídios chegam ao rúmen, sofrem ação das lipases produzidas pelos microrganismos ruminais, resultando em ácidos graxos e glicerol ou ácidos graxos e galactose. Porém a capacidade do rúmen suportar gordura é limitada (em torno de 5 a 7% da dieta total), pois a medida que o nível de gordura exceda esse valor há um prejuízo da digestão da fibra. O grau de hidrólise dos lipídios que chegam ao rúmen depende da origem da gordura, sendo que se for de óleo de linhaça apresenta um grau de hidrólise de 95%, sendo muito superior aos óleos de origem animal. A digestão pós ruminal dos lipídios parece ser semelhante a que ocorre nos monogástricos, onde a segunda porção do intestino delgado (jejuno) é considerado o principal local de absorção, chegando a 80% do total. Produtos finais da digestão: (a partir do abomaso) Carboidratos→ monossacarídeos Proteinas→ aminoácidos Pró- vitaminas→ vitaminas Gorduras → ácidos graxos Minerais e H2O → Não sofrem transformações sendo absorvidos como são ingeridos. 24 5.7. COMO PROCEDER PARA CALCULAR UMA DIETA O que devemos saber para formular rações? ▪ Espécie animal do considerado (bovino, suíno, ave, equino) ▪ Categoria (terneiro, gestando, aleitando, trabalhando, postura) ▪ Necessidades nutricionais (normas de alimentação = tabelas) ▪ Tipo de alimento a utilizar ▪ Composição bromatológica (laboratório ou tabela) Fatores que restringem a utilização dos alimentos ▪ Princípios tóxicos - sojina, tanino, gossipol e outros específicos ▪ Palatabilidade - farinha de sangue é ruim ▪ Natureza do alimento - uréia ▪ Quantidade de fibra bruta - diminui a digestibilidade em monogástricos ▪ Conservação - excesso de umidade, rancificação ▪ Promover gosto na carne ou leite - farinha de peixe ou de carne ▪ Promover gordura branda (mole) ▪ Excesso de mineral - resíduos de incubatório Fabricação de ração ▪ Moagem da matéria-prima ▪ Pesagem da matéria-prima ▪ Mistura Ordem 1) Alimento de maior volume 2) Alimento protéico 3) Micronutrientes 4) Gordura Tempo de mistura - vai depender do misturador, exemplo, rosca sem fim = 15 minutos, misturador horizontal = 3 minutos, etc. Formas de apresentação de uma ração - peletizada, farelada, estrusada. 5.7.1. Etapas do cálculo de dietas O balanceamento de dietas para animais de exploração zootécnica sempre deve buscar a eficiência econômica e técnica. A dieta calculada para ser utilizada para ruminantes geralmente é composta de uma parte volumosa e outra parte concentrada. O 25 concentrado é sem dúvida o item mais oneroso e cabe a ele, após o consumo do volumoso, completar as necessidades de nutrientes do animal para se obter o ganho de peso desejado. Assim quanto melhor a qualidade do volumoso, menor será o investimento necessário para complementá-lo. Balancear dietas para monogástricos também pode requerer uso de volumosos como é o caso dos eqüinos e coelhos, e em alguns casos até para suínos e aves. Outro fator de importância além da qualidade do volumoso é a quantidade disponível deste, pois caso este for limitante teremos que utilizar mais concentrado e assim onerando a dieta. Para calcularmos o concentrado precisamos levantar algumas informações, relacionadas ao animal, a quantidade e tipo de nutrientes necessários, a composição disponibilidade e custo dos alimentos e da quantia de consumo de matéria seca de alimento por parte dos animais. 5.7.1.1. Fatores a considerar Quanto ao animal Devemos determinar qual o seu peso vivo, idade, porte, condição corporal, sexo, inteiro ou castrado e qual o ganho de peso desejado durante o período, pois todas estas características são determinantes de alterações nas necessidades nutricionais dos animais. Quantidade e tipo de nutrientes necessários Geralmente estes valores são baseados nas normas de alimentação do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA conhecidos como tabela do NRC. Estas normas são as mais utilizadas no Brasil por representarem verdadeiros tratados de necessidades nutritivas de bovinos de corte, de leite, de suínos, de eqüinos e de aves. Estão embasadas na pesquisa científica criteriosa, ainda que não sejam adequadas com precisão as particularidades do nosso sistema criatório. A energia e a proteína são os nutrientes quantitativamente mais importantes e conseqüentemente mais onerosos, mas do ponto de vista nutricional, outros nutrientes são igualmente necessários. No caso de ruminantes, minerais não é o maispreocupante nas formulações de dietas para bovinos, uma vez que se corrigem seus desníveis com facilidade e a baixo custo. No caso das vitaminas, embora muitos autores as recomendem, não tem um retorno econômico, pois vamos utilizar animais sadios e que estejam razoavelmente bem nutridos. Já a água, nutriente mais importante que todos, os animais regulam seu consumo voluntariamente. Tabela 3. Necessidades de proteína para bovinos de corte em gramas/dia segundo o NRC (1984): Peso vivo - kg 200 300 400 GMD - kg Novilhos jovens de porte médio 0,4 460 550 630 0,8 574 640 700 1,2 - - - Novilhos de porte médio em ganho compensatório 0,4 500 603 697 0,8 650 743 828 1,2 782 860 930 26 A Tabela 3 comprova a necessidade da caracterização do animal que é determinante de diferenças nos requerimentos nutricionais de proteína. Observamos que para um animal de 300 kg de peso vivo, com ganho de peso de 0,8 kg/dia, há uma diferença na necessidade de proteína de 11,61% (743 menos 640) por ter mudado de classificação. Tabela 4. Necessidades energéticas para bovinos de corte, em Mcal em energia líquida de manutenção e ganho segundo o NRC (1984). Peso vivo - kg 200 300 400 Elm - Mcal 4,10 5,55 6,89 Novilhos jovens de porte médio 0,4 1,31 1,77 2,20 0,8 2,84 3,85 4,78 1,2 - - - Novilhos de porte médio em ganho compensatório 0,4 0,96 1,30 1,61 0,8 2,06 2,78 3,45 1,2 3,20 4,34 4,77 Com respeito a energia, na Tabela 4 observa-se o contrário do ocorrido com a PB, onde um animal de 300 kg de peso vivo, com ganho de 0,8 kg/dia, dependendo da categoria que se enquadra há uma diferença de 11,28% [(5,55 + 3,85) / (5,55 + 2,78)]. Importa-nos aqui esclarecer que cada tipo de animal, em cada fase de sua vida, tem uma relação energia vs proteína diferente. Tudo isso é explicado pela composição do ganho de peso que cada tipo de animal tem em determinada fase de sua vida, dependendo do histórico nutricional de criação do animal considerado. A composição dos alimentos Esta pode ser obtida através de tabelas de composição de alimentos que são muitas. O correto, porém, é obtê-la através de análise de laboratório que oferece a composição com melhor fidelidade. Disponibilidade e custo dos alimentos Deve-se fazer um levantamento quantitativo dos alimentos disponíveis na propriedade e região. A tomada de preço deve ser feita considerando o custo total do alimento fornecido no cocho incluindo-se o frete, eventual processamento e também mão-de-obra adicional. Consumo máximo de matéria seca Apesar de ser encontrado em tabelas sabe-se que pode variar em função da palatabilidade do alimento, do teor e composição da fibra bruta, etc. O conhecimento prático e o bom senso são ferramentas usuais para se prever a capacidade de consumo da dieta. Isto é importante para determinar a base inicial de cálculo da dieta onde se decide a concentração de princípios nutritivos. Caso os animais não consumam o estimado, a dieta precisa ser balanceada novamente, se quisermos a possibilidade de ganho de peso conforme a previsão inicial. Por que uma dieta pode ser menos ou mais consumida que outra? De que isso depende? Fatores ligados ao animal: 27 ▪ Peso vivo (2,5% do peso vivo, como média) ▪ Estado fisiológico do animal (gestante inicial come mais) ▪ Sanidade (qualquer indisposição diminui) ▪ Clima (calor diminui o consumo) ▪ Estresse (presença de pessoas, excesso de movimento nos arredores) ▪ Genética (seleção em testes de performance) Fatores ligados ao alimento: ▪ Palatabilidade ▪ Processamento ▪ Fibra (quantidade e qualidade) ▪ Velocidade de passagem ▪ Nível de concentrado ▪ Teor de umidade ▪ Estado de conservação ▪ Peletização 5.7.1.2. Cálculo das dietas Faz-se com base normas de alimentação (NRC 1984). Para tanto é necessário que este cálculo seja realizado por um profissional capacitado, com conhecimentos técnicos para compor uma fórmula que vai atender as necessidades específicas daquela categoria animal e do objetivo que se busca. O técnico que vai fazer o cálculo do concentrado a ser utilizado deve sempre procurar fazer este visando o mínimo custo. Além disto, deve-se levar em consideração as possibilidades de ganho com dois custo diferentes, qual é o mais eficiente, estudando o custo do capital, necessidade de giro rápido, mão-de-obra, possibilidade de venda em época mais favorável, enfim, outros custos fixos que afetam o balanço econômico à medida que o tempo vai passando. Métodos para cálculo 1ºQuadrado de "Pearson" É um modelo matemático que permite a formulação de uma ração observando apenas um nutriente com o uso de dois ingredientes. Exemplo: Calcular uma ração com 15% de proteína bruta (PB) a partir de dois alimentos: milho (9% de PB) e farelo de soja (45% de PB). Observa-se que só um nutriente foi citado, proteína bruta (PB). Farelo de soja = 45% 15 - 9 = 6 28 Precisa 15% + Milho = 9% 45 - 15 = 30 Total = 36 Milho Farelo de soja 36 100 36 100 6 X 30 X X = 16,7% X = 83,3% Resultado: Uma ração com 15% de PB, obtida a partir de um milho com 9% de PB e um farelo de soja com 45% de PB, deve conter: ▪ 83,3% de milho ▪ 16,7% de farelo de soja Outras formas de realizar cálculos de ração incluem o modelo algébrico, método em planilhas de Excel por tentativas e cálculo por softwares específicos para este fim. 2ºAtravés de cálculos algébricos É mais adequado que o Pearson, mas também não é satisfatório e é demorado 3ºAtravés de simples planilhas de excel Este possibilita uma maior interação do nutricionista com os alimentos permitindo que conheça melhor suas limitações e potencialidades, mas é trabalhado na forma de tentativas 4ºAtravés de softwares específicos Os cálculos de ração feitos através de softwares desenvolvidos especialmente para esse fim, ou mesmo os que podem ser desenvolvidos através de uma planilha eletrônica, possuem a vantagem de realizar várias hipóteses simultaneamente, na busca do objetivo que o técnico propõe, que geralmente reside em calcular a ração mais barata a partir dos ingredientes disponíveis. São vários os softwares que hoje estão disponíveis no mercado, mas todos eles necessitam que o operador possua um conhecimento mínimo de nutrição animal, caso contrário corre-se risco de oferecer dietas que, mesmo que bem balanceadas pelo programa, são passíveis de acarretarem intoxicações aos animais ou resultarem em consumo aquém do desejado. Basicamente, os passos para realizar um cálculo de ração através de softwares são semelhantes aos seguidos no cálculo feito manualmente, ou em planilhas de Excel, ou seja: 29 - Fornecer as necessidades nutricionais do animal (ou lote) a ser alimentado. Essas necessidades podem ser totais ou representarem a fração da dieta a ser suplementada; - Fornecer a composição dos alimentos disponíveis; - Realizar o processamento; - Analisar o output para ver a coerência dos resultados. - Se for necessário deve-se reajustar algum ingrediente e realizar novo processamento. 5.8. DOENÇAS NUTRICIONAIS São muitas as doenças de origem nutricional que acometem os bovinos, porém as mais importantes são basicamente o timpanismo, a acidose, a laminite e a intoxicação por uréia. Estas enfermidades podem ocorrer de forma individualizada ou associadas. Também devemos considerar que estes males podem ter etiologias diferentes que não o erro de balanceamento e ou manejo nutricional. Todas as enfermidades que serão citadas têm como causa principal o mau manejo da alimentação no período de adaptação. 5.8.1. Timpanismo Também denominado de empanzinamento. É caracterizado pelo acúmulo de gases no rúmen com distensão da parede, podendo evoluir até causar parada ruminal e sérias dificuldades respiratórias. Em confinamento, pode ser causado por troca brusca de alimentação, não dando tempo para a população se adaptar ao novo substrato. O tratamento é feito segundo o quadro de severidade que apresente o animal. Vai desde simples movimentação, passando por medicação oral até punção ruminal com trocater. Os trevos são grandes causadores de timpanismo e merecematenção especial ao se manejar animais nestas pastagens. 5.8.2. Acidose Ocorre quando da ingestão rápida de grandes quantidades de carboidratos facilmente fermentáveis, amido principalmente, o que determina uma queda no pH abaixo de 5,0, prejudicando os microrganismos ruminais e também o animal. Como tratamento indica-se fornecer, via oral, entre 50 e 80 g de bicarbonato de sódio por 100 kg de peso vivo no período de 24 horas, dividido em duas aplicações. Salientamos que a opção de dosagens faz-se conforme indicação do Veterinário que deverá avaliar a severidade do quadro. Outra opção e de maior confiabilidade e de rápida resposta em quadros agudos seria a medicação endovenosa ou subcutânea de soluções a base de cloreto de sódio associado ao bicarbonato de sódio. Nos primeiros fornecimentos de concentrado para um ruminante, especialmente quando se quer utilizar altos níveis de grãos e fazer adaptação rápida forçando a inclusão do concentrado, pode-se, e deve-se, usar produtos alcalinizantes como medida preventiva. Aceita-se como média, o uso de 10 g de bicarbonato de sódio para cada kg de concentrado, como preventivo da Acidose. 5.8.3. Laminite Esta normalmente é conseqüência de distúrbios alimentares e pode decorrer da Acidose e Timpanismo que propiciam o desenvolvimento de bactérias em nível de rúmen onde produzem toxinas. O quadro é a alteração da lâmina sensitiva do casco provocada pelas toxinas tendo agravamento em animais pesados que estão em piso duro e abrasivo, como é o caso do cimento que é constantemente lavado com água esguichada. 30 Em casos severos o tratamento é feito com compressas quentes ou frias, antiinflamatório, antibacterianos, detoxicantes e outros a critério do veterinário. 5.8.4. Intoxicação por uréia O mau manejo no fornecimento deste ingrediente pode levar o animal desde intoxicação desde pouco significativa até a morte. A sintomatologia é similar a outras intoxicações, portanto o diagnóstico de campo é feito baseado no histórico nutricional. O tratamento é efetivo com o uso de ácido acético, desde que o animal não esteja na fase de tetania, quando o quadro é irreversível. Indica-se para tratamento, o vinagre na proporção de um litro para cada dois litros de água, administrado por via oral. Repetir a dose três horas após a primeira. 31 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ANDRIGUETTO, J. M.; et al. Nutrição Animal. Ed. Nobel – 5ª Edição, São Paulo – SP, v. 1, 1981. ANDRIGUETTO, J. M.; et al. Nutrição Animal. Ed. Nobel – 3ª Edição, São Paulo – SP, v. 2, 1983. A.R.C. AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL. The nutrient requeriments of ruinants livestock. Technical Review by on Agricultural Research Council working Patry, London, 1980, 351p. CAVALHEIRO, A. C. L., TRINDADE, D. S. Os Minerais para Bovinos e Ovinos Criados em Pastejo. Sagra: Luzatto. Porto Alegre – RS, 1992. CRAMOTON, E. W.; HARRIS, L. E. Nutricion Animal Aplicada . Ed. Acribia – 2ª edição, Zaragoza – Espanha, 1979. CHURCH, D. C. Fisiologia da Digecion y Nutricion del Ruminantes. Nutricion Prática. Ed. Acribia, Zaragoza, 1974. COELHO DA SILVA, J.F. & LEÃO, M.I. Fundamentos de Nutrição dos Ruminantes. Editora Livoceres. Piracicaba (SP), 1979. HAFEZ, E. S. E., DYER, Jª. Dezarrolo y nutrición animal. 2ª ed. Acribia: Zaagoza, 1972, 472p. LUCCI, C. de SOUSA. Nutrição e Manejo de Bovinos Leiteiros. 1ª ed., São Paulo – SP, Ed. Manoele Ltda, 1997. MAYNARD, L. A. & LOOSLI, J. K. Nutrição Animal. Rio de Janeiro – RJ, Ed. USAID, 1966. MORRISON, F. B. Animais e Alimentação dos Animais . Ed. USAID – 2ª edição, São Paulo – SP, 1966. N.R.C. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requeriment of beef cattle. 6ª ed., Washington, D.C., 1984, 90p.
Compartilhar