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Mutação Gênica, Mutação Cromossômica e Reparo de Danos Prof. Edmo Montes Rodrigues Juiz de Fora-MG 2018 INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA BIO102 – Genética Básica Genética Básica – BIO102 Introdução • O que pode ser definido como mutação? Mutação é uma alteração na sequência de DNA de um gene A doença hereditária autossômica recessiva xeroderma pigmentoso é causada por deficiência em uma de diversas proteínas que auxiliam a corrigir o DNA danificado. Essa deficiência enzimática leva à formação de cânceres de pele com a exposição da pele aos raios ultravioleta da luz solar. Durante toda a sua vida, ela estará propensa ao desenvolvimento de cânceres pigmentados de pele. Diversos genes diferentes podem ser mutados para gerar esse fenótipo de doença. Em uma pessoa sem a doença, cada um desses genes contribui para processos bioquímicos na célula que respondem a dano químico no DNA e o reparam antes que ele leve à formação de novas mutações. P.S. Incluem mudanças, no número de cromossomos (euploidia e aneuploidia), na estrutura cromossômica (aberrações cromossômicas) e alterações nos genes individuais Genética Básica – BIO102 Introdução • Altas taxas de mutação em células germinativas Extinção da espécie; • Altas taxas de mutação em células somáticas Morte do indivíduo. A mutação é a base de toda a variabilidade genética, constituindo a matéria-prima para a evolução O que aproxima a mutação da recombinação gênica??? Genética Básica – BIO102 Natureza das Mutações • Mutação evento de ocorrência natural mutações espontâneas taxa varia de espécie para espécie (nível basal); • Agentes mutagênicos compostos que induzem mutações; • Mutações induzidas aquelas ocorridas em função da exposição a um agente mutagênico; Muitos agentes mutagênicos atuam diretamente no DNA, devido a sua capacidade de atuar como base nitrogenada ou de incorporar-se à cadeia polinucleotídica. O efeito de um agente mutagênico é mensurado pelo grau em que ele aumenta a frequência de mutação acima do nível basal. Genética Básica – BIO102 Natureza das Mutações • Mutação Pontual modificação de um ou poucos pares de bases do DNA • Pode ocorrer por: 1. Substituição; 2. Adição ou Inserção; 3. Deleção. • Resultado de: 1. Mau funcionamento do sistema de replicação do DNA; 2. Mau funcionamento do sistema de reparo de danos do DNA; 3. Interferência química sobre as bases do DNA. Genética Básica – BIO102 Transição é a substituição de uma base por outra base da mesma categoria química. Uma purina é substituída por uma purina (A por G ou G por A) ou uma pirimidina é substituída por uma pirimidina (C por T ou T por C). Transversão é o a substituição de uma base de uma categoria química por uma base da outra. Uma pirimidina é substituída por uma purina (C por A, C por G, T por A ou T por G) ou uma purina é substituída por uma pirimidina (A por C, A por T, G por C ou G por T). ou silenciosa Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 Lesões espontâneas • Além dos erros de replicação, lesões espontâneas, danos no DNA de ocorrência natural, podem gerar mutações. • Duas das lesões espontâneas mais frequentes resultam da depurinação e desaminação. 1. A depurinação, a mais comum das duas, é a perda de uma base purina. A depurinação consiste na interrupção da ligação glicosídica entre a base e a desoxirribose e a subsequente perda de uma guanina ou adenina do DNA. O arcabouço do DNA permanece intacto. Genética Básica – BIO102 Lesões espontâneas 2. A desaminação da citosina produz uracila. Uma célula de mamífero perde de modo espontâneo aproximadamente 10.000 purinas de seu DNA em um período de ciclo celular de 20 horas a 37°C. Se essas lesões persistissem, elas resultariam em um dano genético significativo, tendo em vista que, na replicação, os sítios apurínicos resultantes não conseguem especificar uma base complementar à purina original. Os resíduos de uracila não reparados irão parear-se com adenina na replicação, resultando na conversão de um par G · C em um par A · T (uma transição G · C → A · T). Genética Básica – BIO102 Espécies ativas de oxigênio, tais como radicais superóxido (O2 –), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radicais hidroxila (OH), são subprodutos do metabolismo aeróbico normal. Podem causar danos oxidativos ao DNA, bem como nos precursores do DNA (como GTP), resultando em mutação. Mutações por danos oxidativos foram implicadas em uma diversidade de doenças humanas. Lesões espontâneas 3. Bases danificadas de modo oxidativo O produto da 8-oxo-7-hidrodesoxiguanosina (8-oxo dG ou GO) com frequência induz pareamento errôneo com A, resultando em um alto nível de transversões G · T. O produto timidina glicol bloqueia a replicação do DNA, se não reparado. Genética Básica – BIO102 Mutações espontâneas em seres humanos | Doenças por repetições de trinucleotídios • Uma diversidade desses distúrbios humanos ocorre em virtude da duplicação de sequências curtas repetidas. • Um mecanismo comum responsável por uma diversidade de doenças genéticas é a expansão de uma repetição de três pares de bases. • Por esse motivo, elas são denominadas doenças por repetição de trinucleotídios. • Síndrome do X frágil: Essa doença é a forma mais comum de comprometimento mental hereditário, que ocorre em aproximadamente 1 de 1.500 homens e 1 de 2.500 mulheres. • Ela se manifesta citologicamente por um sítio frágil no cromossomo X, que resulta em quebras in vitro (mas isso não leva ao fenótipo da doença). • A síndrome do X frágil resulta de mudanças no número de uma repetição de (CGG)n em uma região do gene FMR-1 que é transcrita, mas não traduzida Genética Básica – BIO102 Ancestrais carreiam pré-mutações. As repetições nesses alelos pré-mutados não são suficientes para causar o fenótipo da doença, mas são muito mais instáveis (ou seja, facilmente expandidas) do que os alelos normais e, assim, levam a uma expansão ainda maior na sua descendência. (Em geral, quanto mais expandida a repetição, maior a instabilidade parece ser.) Genética Básica – BIO102 Mecanismo proposto em relação à geração dessas repetições é o deslize na replicação, que ocorre no período da síntese de DNA Genética Básica – BIO102 A doença de Huntington (morte de neurônios no cérebro), hereditária, autossômica dominante, causada por uma mutação genética no cromossomo 4 e a doença de Kennedy (também denominada atrofia muscular bulbar e espinal ligada ao X) resultam da amplificação de uma repetição de três pares de bases, CAG. Pessoas não afetadas apresentam uma média de 19 a 21 repetições CAG, enquanto os pacientes afetados apresentam uma média de aproximadamente 46. Na doença de Kennedy, que é caracterizada por fraqueza e atrofia muscular progressiva, a expansão da repetição de trinucleotídios está no gene que codifica o receptor de andrógeno. Genética Básica – BIO102 Base molecular das mutações induzidas • A produção de mutações em laboratório por meio da exposição a mutágenos é denominada mutagênese e diz-se que o organismo é mutagenizado. • Os mutágenos induzem mutações por meio de no mínimo três mecanismos diferentes: 1. Podem substituir uma base no DNA; 2. Alterar uma base de modo que ela realize especificamente o pareamento errôneo com outra base; ou3. Danificar uma base de modo que ela não consiga mais parear com qualquer base sob condições normais. Genética Básica – BIO102 Incorporação de análogos de bases • Alguns compostos químicos são suficientemente semelhantes às bases nitrogenadas normais do DNA, de modo que ocasionalmente eles são incorporados ao DNA em lugar das bases normais; os referidos compostos são denominados análogos de bases; • Após o seu posicionamento, esses análogos apresentam propriedades de pareamento diferentes àquelas das bases normais; portanto, eles podem produzir mutações ao causar a inserção de nucleotídios incorretos em oposição a eles na replicação; • O análogo de base original existe apenas em um único filamento, mas pode causar uma substituição de par de nucleotídios que é replicada em todas as cópias do DNA descendentes do filamento original; Genética Básica – BIO102 Incorporação de análogos de bases • Um análogo de base amplamente utilizado em pesquisas é a 2-aminopurina (2-AP). Esse análogo da adenina consegue se parear com a timina, mas também consegue realizar o pareamento errôneo com a citosina quando protonado, portanto, quando a 2-AP é incorporada no DNA por meio do pareamento com timina, ela consegue gerar transições A · T → G · C por meio do pareamento errôneo com citosina nas replicações subsequentes. • Ou, se 2-AP for incorporada por meio do pareamento errôneo com citosina, então resultarão transições G · C → A · T quando ela parear com timina. Genética Básica – BIO102 Malpareamento específico • Alguns mutágenos não são incorporados ao DNA, mas, em vez disso, alteram uma base, de modo que ela formará um malpareamento específico; • Determinados agentes alquilantes, tais como o etilmetanossulfonato (EMS) e a amplamente utilizada nitrosoguanidina (NG), operam por meio dessa via. Genética Básica – BIO102 Agentes intercalares • Os agentes intercalares formam outra classe importante de modificadores de DNA. Esse grupo de compostos inclui a proflavina, a acridina laranja e uma classe de substâncias químicas denominadas compostos ICR; • Esses agentes são moléculas planares que mimetizam pares de bases e que conseguem inserir-se (intercalar-se) entre as bases nitrogenadas empilhadas no cerne da dupla-hélice de DNA; • Nessa posição intercalada, tal agente pode causar uma inserção ou uma deleção de um único par de nucleotídios. Genética Básica – BIO102 Danos às bases • Um grande número de mutágenos danifica uma ou mais bases e, assim, nenhum pareamento de bases específico é possível; • O resultado é um bloqueio de replicação, tendo em vista que a síntese de DNA não prosseguirá além de uma base que não consegue especificar seu parceiro complementar por meio de pontes de hidrogênio; • Os bloqueios de replicação podem causar mutações adicionais; • A radiação ionizante resulta na formação de moléculas ionizadas e excitadas, que podem danificar o DNA; • Tal radiação pode causar a quebra da ligação N-glicosídica, levando à formação de sítios apurínicos ou apirimidínicos, e pode causar quebras de filamentos. • As quebras de filamentos são responsáveis pela maior parte dos efeitos letais da radiação ionizante. Genética Básica – BIO102 • A luz ultravioleta normalmente causa danos às bases nucleotídicas na maior parte dos organismos, pois gera uma diversidade de tipos distintos de alterações no DNA, denominados fotoprodutos ; • Desses produtos, os que mais provavelmente levam a mutações são duas lesões diferentes que unem resíduos de pirimidina adjacentes no mesmo filamento. Esses fotoprodutos são o fotodímero pirimidina ciclobutano e o fotoproduto 6-4; Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 • A aflatoxina B1 é um poderoso carcinógeno que se une à guanina na posição N-7 ; • A formação desse produto de adição leva à quebra da ligação entre a base e o açúcar, liberando, assim, a base e gerando um sítio apurínico; • A aflatoxina B1 é um membro de uma classe de carcinógenos químicos conhecidos como produtos de adição volumosos quando eles se ligam de modo covalente ao DNA. Danos às bases Genética Básica – BIO102 Teste de Ames | Avaliação de mutágenos em nosso ambiente • A presença de diversos compostos utilizados por humanos levanta uma dúvida: Como responder tais questões??? Será que tais compostos são seguros para uso? Podem causar mutações? • Muitos compostos são possíveis agentes causadores de câncer (carcinógenos) e, assim, a apresentação de sistemas-modelo válidos, nos quais a carcinogênese dos compostos possa ser avaliada de modo eficiente e efetivo, é muito importante. • Entretanto, a utilização de um sistema-modelo de mamífero, tal como o camundongo, é muito lenta, consome muito tempo e é dispendiosa. Genética Básica – BIO102 Teste de Ames | Avaliação de mutágenos em nosso ambiente • 1970 – Bruce Ames reconheceu uma forte correlação entre a capacidade dos compostos de causarem câncer e mutações; • A medição de taxas de taxas de mutação em sistemas bacterianos seria, portanto, eficaz para a avaliação desses compostos como possíveis carcinógenos; • Entretanto, nem todos os carcinógenos são carcinógenos por si só, pois dependem de metabólitos produzidos no fígado para que sejam convertidos em carcinógenos bioativos. Qual a solução para tal questão levantada? Genética Básica – BIO102 Teste de Ames | Avaliação de mutágenos em nosso ambiente • Ames resolveu então, tratar linhagens especiais de Salmonella typhimurium com extratos de fígado de rato contendo enzimas metabólicas; • Tais linhagens apresentavam um dos vários alelos mutantes de um gene responsável pela síntese de histidina que sabidamente são conhecidos por “reverter” apenas por meio de determinados tipos de eventos mutacionais adicionais; • Exemplos: 1. Alelo TA100 revertido para o tipo selvagem (sintetiza histidina) apenas por mutação de substituição de base; 2. Alelos TA1538 e TA1535 revertidos apenas por mutações de adição ou deleção que resultam na mudança da fase de leitura da proteína; Genética Básica – BIO102 • A ausência desse nutriente assegurou que apenas os indivíduos revertentes contendo a substituição de base apropriada ou mudança de matriz de leitura cresceriam. • Ele ainda está em uso atualmente como uma importante ferramenta para a avaliação da segurança de compostos químicos. Genética Básica – BIO102 TA100, TA1538 e TA1535 são linhagens de Salmonella que contêm diferentes mutações auxotróficas de histidina. A linhagem TA100 é altamente sensível à reversão por meio da substituição de par de bases. As linhagens TA1535 e TA1538 são sensíveis à reversão por meio da mudança de matriz de leitura. Os resultados do teste demonstram que a aflatoxina B1 é um mutágeno potente que causa substituições de pares de bases, mas não mudanças de matriz de leitura. Genética Básica – BIO102 Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV • Cerca de 180 sorotipos identificados expressam um tropismo característico. 1, 4, 5, 8, 41, 48, 60, 63 e 65 são alguns dos sorotipos cutaneotrópicos, encontrados frequentemente em verrugas e lesões cutâneas; • Os sorotipos 6, 11, 13, 16, 18, 26, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 39, 42, 44, 45, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 58, 59, 64, 66, 67, 68, 69, 70 e 73 são alguns dos que apresentam tropismo pela mucosa. Eles são encontrados em lesões neoplásicas e cancerosas não só do colo uterino, mas também da vagina, vulva, ânus e pênis e, ocasionalmente, também provocam lesões malignas na cavidadeoral, orofaringe, laringe e esôfago; • O grupo dos sorotipos 2, 3, 7, 10, 27, 28, 29, 40, 43, 57, 61, 62 e 72 são encontrados indistintamente em lesões cutâneas ou mucosas e a associação com lesões malignas está menos estabelecida • Vírus da família Papillomaviridae; • Icosaédrico sem envelope (~55 nm) • 8.000 pares de base • DNA circular de fita dupla, com oito regiões de leitura aberta e uma região regulatória Genética Básica – BIO102 • 45 genótipos envolvidos em DST 27 genótipos de baixo risco (não oncogênicos) -> verrugas genitais 12 genótipos de alto risco (oncogênicos): HPV 16,18,31,33,35,45,58... Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 • A infecção do trato genital pelo HPV está entre as DSTs mais comuns do mundo: grande impacto em saúde pública • 30 milhões de casos de verruga genital / ano. • 500.000 casos de câncer de colo de útero / ano • Infecções assintomáticas: 300 milhões de infectados. Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 • 99% dos casos de câncer de cólon estão associados à infecção pelo HPV • Segunda causa de morte por câncer em mulheres • Incidência: 500.000 casos por ano / 250.000 óbitos (50% mortalidade) • 80% desses casos ocorrem em países pobres (India, México...) • Brasil: 15.000 casos / ano 4.000 mortes / ano (INCA, 2014) • Doença totalmente prevenível: detecção precoce = 100% cura Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 Transmissão por solução de continuidade (microlesões) Célula-alvo: células epiteliais basais da pele e mucosas Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genes iniciais E6 e E7 Genes L1 e L2 Induzem a célula a entrar em mitose Ptnas de capsídeo: montagem e liberação das particulas virais Genética Básica – BIO102 Colo Uterino Normal Infecção pelo HPV Câncer Cervical DNA viral não se incorpora ao DNA celular Genética Básica – BIO102 Integração do genoma viral • Papilomavírus de alto risco: integração do genoma viral ao DNA celular • Ruptura próxima ao gene E2: perda da função de E2 E2 E6 E6 E6 E6 E7 E7 E7 E7 Divisão celular descontrolada Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 E2 • O gene E2 regula a expressão dos oncogenes virais E6 e E7: E2 E2 E2 E2 E6 E6 E7 E2 E2 E6 E6 E6 E6 E7 E7 E7 E7 • Os oncogenes virais (E6 e E7) interagem com proteínas do ciclo celular e induzem a célula a entrar em mitose – ligação e degradação da p53 e pRB... Lesão benigna Carcinoma DNA epissomal DNA integrado Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 Mecanismo de ação das oncoproteínas virais dos HPV Célula normal: pRb se liga a E2F E2F pRb pRb E7 E2F Progressão da divisão celular (indiscriminada) p53 p53 E6 E6 Proteossoma p53 Apoptose Supressores Tumorais p53: induz a apoptose pRb: proteína retinoblastoma que atua na parada do ciclo celular E2F: fator de transcrição que induz a progressão da fase G1 para a fase S quando desligada de pRb Mecanismos Genéticos Associados à Infecção por HPV Genética Básica – BIO102 Mutação Cromossômica • Muitas mutações cromossômicas podem ser detectadas por microscopia, por análise genética ou molecular, ou por uma combinação de todas as técnicas; • Tais mutações estão mais bem caracterizadas em eucariotos (nosso foco); • As mutações cromossômicas são importantes a partir de diversas perspectivas biológicas: 1º podem ser fontes de percepção sobre o modo como os genes atuam em conjunto em uma escala genômica; 2º revelam diversas características importantes da meiose e da arquitetura cromossômica; 3º constituem ferramentas úteis para a manipulação genômica experimental; 4º são fontes de percepção a respeito dos processos evolutivos; 5º são observadas regularmente em seres humanos e algumas dessas mutações causam doenças genéticas. Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 • A maior parte das anormalidades tem origem em alterações no número ou na posição dos genes; • Em alguns casos, uma mutação cromossômica resulta da quebra do cromossomo. Se a quebra ocorre dentro de um gene, o resultado é a ruptura funcional daquele gene; • As alterações no número de cromossomos não estão associadas a alterações estruturais de quaisquer das moléculas de DNA da célula. Em vez disso, é o número dessas moléculas de DNA que está alterado e essa alteração no número é a base dos seus efeitos genéticos. • As alterações na estrutura cromossômica, por outro lado, resultam em novos arranjos de sequência em uma ou mais duplas-hélices de DNA. Mutação Cromossômica Genética Básica – BIO102 Mutação Cromossômica Genética Básica – BIO102 Euploidia aberrante • Os organismos com múltiplos do conjunto cromossômico básico (genoma) são denominados euploides; • Os organismos que apresentam mais ou menos do que o número normal do conjunto cromossômico são euploides aberrantes; • Os poliploides são organismos que apresentam mais de dois conjuntos de cromossomos, como os representados por 3n (triploide), 4n (tetraploide), 5n (pentaploide), 6n (hexaploide) e assim por diante; • Um membro de uma espécie normalmente diploide que apresenta apenas um conjunto de cromossomos (n) é denominado monoploide, para que seja distinguido de um membro de uma espécie normalmente haploide (também n). Machos de abelhas, vespas e formigas são monoploides. A poliploidia é muito comum em plantas, porém é mais rara em animais. Genética Básica – BIO102 Aneuploidia • A aneuploidia é a segunda maior categoria de aberrações cromossômicas na qual o número de cromossomos é anormal; • Um aneuploide é um organismo cujo número de cromossomos difere daquele do tipo selvagem em parte de um conjunto cromossômico; • A causa da maior parte das aneuploidias é a não disjunção no curso da meiose ou da mitose; • Disjunção é uma palavra para definir a segregação normal de cromossomos ou cromátides homólogas para polos opostos nas divisões meióticas ou mitóticas. • A não disjunção ocorre espontaneamente. Assim como a maior parte das mutações gênicas, ela é um exemplo de uma falha ao acaso de um processo celular básico. Genética Básica – BIO102 Monossômicos (2n — 1) Aneuploidia • Ausência de uma cópia de um cromossomo; • Na maior parte dos organismos diploides, a ausência de uma cópia de um cromossomo de um par é deletéria; • Em seres humanos, os monossômicos em relação a qualquer dos autossomos morrem in útero; • Muitos monossômicos do cromossomo X também morrem in utero, mas alguns são viáveis; • Um complemento cromossômico humano de 44 autossomos mais um único X produz uma condição conhecida como síndrome de Turner, representada como XO; • As pessoas afetadas apresentam um fenótipo característico: elas são mulheres estéreis, de estatura baixa e com frequência apresentam uma frouxidão da pele que se estende entre o pescoço e os ombros; algumas de suas funções cognitivas específicas são defeituosas; • Aproximadamente 1 em 5.000 nascimentos do sexo feminino demonstraa síndrome de Turner. Genética Básica – BIO102 Aneuploidia Trissômicos (2n + 1) • Os trissômicos contêm uma cópia extra de um cromossomo; • Em organismos diploides em geral, o desequilíbrio cromossômico da condição trissômica pode resultar em anormalidade ou morte; • Entretanto, existem muitos exemplos de trissômicos viáveis. Além disso, os trissômicos podem ser férteis. Genética Básica – BIO102 Aneuploidia Trissômicos (2n + 1) XXY síndrome de Klinefelter; Pessoas com essa síndrome são homens que apresentam constituições magras, um QI levemente comprometido e são estéreis. XYY homens férteis; As meioses demonstram pareamento normal do X com um dos Y; o outro Y não pareia e não é transmitido para os gametas. Portanto, os gametas contêm X ou Y, nunca YY ou XY. XXX são mulheres fenotipicamente normais e férteis. A meiose demonstra o pareamento de apenas dois cromossomos X; o terceiro não pareia. Portanto, os ovócitos apresentam apenas um X e, assim como aquela de homens XYY, a condição não é transmitida para a progênie. Genética Básica – BIO102 Aneuploidia Trissômicos (2n + 1) • Das trissomias humanas, o tipo mais familiar é a síndrome de Down; • A frequência da síndrome de Down é de aproximadamente 0,15% de todos os nascimentos vivos. A maioria das pessoas afetadas apresenta uma cópia extra do cromossomo 21, causada pela não disjunção do cromossomo 21 em um genitor cromossomicamente normal; • Alguns tipos mais raros de síndrome de Down surgem a partir de translocações, que podem ser transmitidas do genitor para o filho; • A expectativa de vida média é de aproximadamente 17 anos e apenas 8% das pessoas com síndrome de Down sobrevivem até depois dos 40 anos de idade. Genética Básica – BIO102 Aneuploidia Trissômicos (2n + 1) • A incidência da síndrome de Down está relacionada com a idade materna: mães mais velhas apresentam um risco muito elevado de ter um filho com síndrome de Down; • Com a idade, possivelmente o cromossomo homólogo apresenta menos probabilidade de permanecer unido durante a prófase I da meiose; • A parada meiótica dos ovócitos (meiócitos femininos) no final da prófase I é um fenômeno comum em muitos animais. Em mulheres, todos os ovócitos param no diplóteno antes do nascimento; • A meiose é retomada a cada período menstrual, o que significa que os cromossomos bivalentes (homólogos) devem permanecer adequadamente associados por até cinco ou mais décadas; • Essas associações apresentam uma probabilidade crescente de ruptura por acidente na medida em que o tempo passa, podendo aumentar a não disjunção materna com a idade. • Consistente com essa especulação, a maior parte das não disjunções relacionadas com o efeito da idade materna ocorre em virtude da não disjunção na anáfase I, não na anáfase II. Genética Básica – BIO102 Os únicos outros trissômicos autossômicos humanos que sobrevivem até o nascimento são aqueles com a trissomia do cromossomo: • 13 (síndrome de Patau): expectativa de 130 dias de vida; • 18 (síndrome de Edwards): expectativa de vida de poucas semanas. Genética Básica – BIO102 Alterações na estrutura dos cromossomos Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 Reparação de Danos Genética Básica – BIO102 Reparação do DNA • Evolução da Vida Dependência dos sistemas de reparo; • Ao menos 100 proteínas estão relacionadas no reparo do DNA desde bactérias até seres humanos; • Tanto DNA polimerases I quanto a III tem a função de exonuclease para remover bases malpareadas; • Uma célula tem vários mecanismos de reparo que podem ser atuantes em um mesmo momento. Genética Básica – BIO102 Reversão direta de DNA danificado • O modo mais direto de reparar uma lesão é revertê-la diretamente; • Um caso é um fotodímero mutagênico causado pela luz UV O dímero de pirimidina ciclobutano (CPD) pode ser reparado por uma enzima denominada CPD fotoliase; • A enzima se liga ao fotodímero e o divide para regenerar as bases originais; • Esse mecanismo de reparo é denominado fotorreativação, tendo em vista que a enzima necessita de luz para atuar; • São necessárias outras vias de reparo para remover danos de UV na ausência de luz do comprimento de onda apropriado (> 300 nm); Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 • Alquiltransferases podem remover grupos alquila da guanina e transferí-lo para seu próprio resíduo de cisteína, o que inativa a enzima, portanto, esse tipo de reparo pode se tornar saturado caso existe alto nível de alquilação no DNA. Reversão direta de DNA danificado Genética Básica – BIO102 Reparo por excisão de base • Uma base ou um segmento mais longo de uma cadeia de DNA é removido e substituído por um segmento de nucleotídios recém- sintetizado complementar ao filamento-molde oposto; • É realizado por DNA glicosilases que clivam as ligações base-açúcar, liberando, assim, as bases alteradas e gerando sítios apurínicos ou apirimidínicos (AP); • Uma endonuclease AP corta o filamento danificado upstream do sítio AP; • Uma desoxirribofosfodiesterase remove resíduos açúcar-fosfatovizinhos; • Uma DNA polimerase complemente o filamento e a DNA ligase sela o novo nucleotídeo. Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 Reparo por excisão de nucleotídeo (NER) • O mecanismo de excisão de base não consegue corrigir adições volumosas que distorcem a hélice do DNA, adições tais como os dímeros de pirimidina ciclobutano causados pela luz UV, nem corrigir dano a mais de uma base; • A DNA polimerase não consegue continuar a síntese de DNA após tais lesões e a RNA polimerase não consegue prosseguir com a transcrição; • Uma forquilha de replicação parada ou um complexo de transcrição parado podem causar a morte celular; • Duas doenças autossômicas recessivas em seres humanos, o xeroderma pigmentoso (XP) e a síndrome de Cockayne, são causadas por defeitos no reparo por excisão de nucleotídeo; • O xeroderma pigmentoso é caracterizado pelo desenvolvimento precoce de cânceres, especialmente câncer de pele e, em alguns casos, defeitos neurológicos; • Os pacientes com síndrome de Cockayne apresentam uma diversidade de distúrbios do desenvolvimento, incluindo nanismo, surdez e retardo. Por que uma via única de reparo defeituosa causa doenças com sintomas tão distintos?? Genética Básica – BIO102 O processo de reparo pode ser dividido em quatro fases: 1.Reconhecimento da(s) base(s) danificada(s). 2.Montagem de um complexo multiproteico no sítio. 3.Corte do filamento danificado diversos nucleotídios upstream e downstream do sítio danificado e remoção dos nucleotídios (aproximadamente 30) entre os cortes. 4.Utilização do filamento não danificado como molde para a DNA polimerase, seguida pela ligação do filamento. Reparo por excisão de nucleotídeo (NER) Atualmente sabemos que um tipo de mecanismo de reparo, denominado reparo por excisão de nucleotídio genômico global (GG-NER), corrige lesões em qualquer local do genoma e é ativado por forquilhas de replicação paradas. Um segundo tipo repara as regiões a serem transcritas do DNA após a parada da RNA pol e é denominado, reparo por excisão de nucleotídio acoplado à transcrição (TC-NER). Genética Básica – BIO102 E se as diferenças nos sintomas das doenças XP e síndrome de Cockayne ocorressem em virtude de mutações em diferentes classes de proteínas de reconhecimento? Pacientes com XP estão contidos em oitogrupos de complementação, que carreiam mutações em um dos oito genes que codificam as proteínas XPA a XPG; Pacientes com síndrome de Cockayne apresentam uma mutação em uma de duas proteínas denominadas CSA e CSB, que se acredita reconhecerem complexos de transcrição parados. Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 Pacientes com XP cânceres precoces. Pacientes com Cockayne envelhecimento prematuro. Como não conseguem reparar o dano original em virtude de mutações em uma de suas proteínas XP, as mutações serão acumuladas nas células de pacientes com XP e, aumenta o risco de desenvolvimento de muitos tipos de câncer. Em uma pessoa saudável, a morte celular com frequência é preferível à propagação de uma célula que tenha sofrido dano persistente no DNA. O sistema de reparo dos pacientes com síndrome de Cockayne não consegue reconhecer complexos de transcrição parados. Uma consequência desse defeito é que a célula apresenta maior probabilidade de ativar a via suicida da apoptose. Pacientes com XP podem reconhecer os complexos de transcrição parados (eles apresentam proteínas CSA e CSB normais) e evitar a morte celular quando a transcrição é reiniciada. Genética Básica – BIO102 Reparo pós-replicação | Reparo de malpareamento • Durante a replicação do DNA, a taxa de erro é de aproximadamente 10–5. A correção por meio da função de revisão 3′ para 5′ da polimerase replicativa reduz a taxa de erro para menos de 10–7; • A principal via que corrige os erros replicativos remanescentes é denominada reparo de malpareamento. • Essa via de reparo reduz a taxa de erro para menos de 10–9 ao reconhecer e reparar as bases malpareadas e as pequenas alças causadas pela inserção e pela deleção de nucleotídios (indels) no período da replicação. Ou seja, mutações que levam à perda da via de reparo de malpareamento poderiam aumentar a frequência de mutações em 100 vezes Genética Básica – BIO102 Genética Básica – BIO102 • A perda do reparo de malpareamento também está associada a formas hereditárias de câncer de cólon; • Os sistemas de reparo de malpareamento devem realizar no mínimo três coisas: 1.Reconhecer pares de bases malpareados. 2.Determinar qual base é a incorreta no malpareamento. 3.Excisar a base incorreta e realizar a síntese de reparo. • O sistema de reparo de malpareamento humano já foi reconstituído em tubo de ensaio. A capacidade de estudar os detalhes da reação estimulará futuros estudos sobre a via humana; • Para estudar essa via, é melhor focar no sistema muito bem-caracterizado de E. coli Reparo pós-replicação | Reparo de malpareamento Genética Básica – BIO102 Reparo pós-replicação | Reparo de malpareamento A primeira etapa no reparo de malpareamento é o reconhecimento do dano no DNA recém- replicado pela proteína MutS; A ligação dessa proteína às distorções na dupla-hélice de DNA causadas por bases incompatíveis inicia a via de reparo de malpareamento ao atrair as proteínas MutL, MutH e UvrD; A MutH realiza a função crucial de cortar o filamento que contém a base incorreta; Em mamíferos as bases citosina com frequência são metiladas em eucariotos e essa marca epigenética é propagada do filamento parental para o filho logo após a replicação. O DNA de E. coli também é metilado, mas os grupos metil relevantes para o reparo de malpareamento são adicionados às bases adenina. Para distinguir o filamento-molde antigo do filamento recém- sintetizado, o sistema de reparo bacteriano se aproveita de um atraso na metilação. No caso de um malpareamento, como o reparo de malpareamento distingue o filamento recém- sintetizado do antigo? Genética Básica – BIO102 Em organismos sem a maior parte da metilação do DNA, ou completamente desprovidos dela, tais como leveduras, Drosophila e C. elegans, um modelo popular propõe que a discriminação tenha por base o reconhecimento de extremidades livres 3′ que caracterizam os filamentos de replicação contínua e descontínua recém- sintetizados. Genética Básica – BIO102 • O câncer colorretal não polipose hereditário (HNPCC), apesar de sua denominação, não é propriamente um câncer, mas aumenta o risco de câncer. • A doença afeta uma em 200 pessoas no mundo ocidental. • Estudos demonstraram que o HNPCC resulta da perda do sistema de reparo de malpareamento, em grande parte em virtude de mutações herdadas em genes que codificam as contrapartes (e homólogas) humanas das proteínas MutS e MutL bacterianas. • A herança do HNPCC é autossômica dominante. • As células com uma cópia funcional dos genes de reparo de malpareamento apresentam atividade de reparo de malpareamento normal, mas as linhagens celulares tumorais têm origem em células que perderam uma cópia funcional e que, portanto, são deficientes do sistema de correção. Reparo pós-replicação | Reparo de malpareamento