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Caderno de Pesquisas: Psicologia do Cotidiano V.2, ano.12.n.1- Jun. 2016 ISSN 1984-6762 ® Universidade Presbiteriana Mackenzie XXII Mostra de Psicologia do Cotidiano Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano CNPq/Mackenzie CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROFA. DRA. BERENICE CARPIGIANI Diretora PROF. DR. ERICH MONTANAR FRANCO Coordenador do Curso de Psicologia PROFA. DRA. PATRÍCIA FIORINO Coordenadora de Programas, Projetos e Eventos de Extensão PROF. DR. MARCOS VINÍCIUS DE ARAÚJO Coordenador de Pesquisa e Extensão do CCBS Organização Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano CNPqjMackenzie Prof. Dr. Erich Montanar Franco Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho Profa. Dr. Robson Jesus Rusche 3 sUMÁRIO ARTE NA SAÚDE E NA COMUNIDADE Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus Rusche INSTITUTO ARTE NO DIQUE Autores: Ana Flávia Costa, Ana Paula Fernandes, Cassiana Ruiz, Cristiane Aguiar, J aqueline Ribeiro, Julia Mattos, Karina Braga, Katja Wirth, Mayara Matos, Mayara Miyahara, Sofia Soares. PSICODRAMA: O TEATRO COMO INSPIRAÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL Autores: Beatriz Costa, Gabriela Senhorelli, Isabela Neves, Isabela Muraro, Jessica dos Anjos, Juliana Ribeiro, Patricia Ferreira, Samyle de Carvalho, Thatiani Serpeloni, Thiago Trafimovas. JAMAC: A ARTE COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA E COMUNITÁRIA Autores: Erica Pascoal, Gabriela Morin, Giovanna Albuquerque, Georgia Valente, Mariane Andrijic, Noam Kremer, Thatiana Piccoli, Verônica Manuppela, Victoria Gaudioso, Morgana Figueiredo. MOBILIDADE URBANA, VIOLÊNCIA E PRECONCEITO Orientador: Prof." Dr.": José Estevam Salgueiro PRECONCEITO RACIAL: A PERSPECTIVA DA EMPREGADA DOMÉSTICA Autores: Beatriz Saldanha, Bianca Silva, Bruna Naswaty, Carolina Caminha, Erica Yano, Nathalia Petreche, Marciano da Silva MOBILIDADE URBANA Autores: Ana Carolina Robes, Carolina Mattar, Fernanda Nerguisian, Isabela Nasrallah, Roberta Amadei. UNIVERSIDADE, UM LUGAR DE VIOLÊNCIAS Autores: César Alves Gabrielly Leite João Francisco Teixeira Neto Luiz Cardoso de Sá Patrícia Fostes Rafael Cardoso de Brito Tatiana de Gusmão Feijó MEMÓRIA E PERTENÇA Orientador: Prof." Dr.": José Estevam Salgueiro REFUGIADOS - PRESERVAÇÃO DA CULTURA E MEMÓRIA Autores: Bruno Bueno da Castro Setti Diogo Amaral Evelyn Vanielly Maria de Oliveira Leslie Meireles Renata Monteiro TIRA, PÕE. .. VAMOS TROCAR Autores: Beatriz Borges Moreira Raphael da Silva Martins Gabriela de Souza Rodrigues Maria Inácia de Andrade Laerte Conceição Bezerra Mariana Ferreira Santini Gabriella Moreira de Alcantara 4 5 EDUCAÇÃO Prof. Ms. Susete Figueiredo Bacchereti. INCLUSÃO SOB UMA PERSPECTIVA PESSOAL E FAMILIAR Autores: Andrea Romero latterza Julia Scheuer Nilza Machado Trevisani Olga Miranda Lopes Oliveira Thais Luana Michels Gimenez COTAS: BENEFICIA A QUEM? Autores: Jessica Thatiane Silva de Aquino Thais Tiemi Mirata Thais Reis Santos Jonatas Santos Ferreira Bruno Fiuza Birnan Rafaela Cristina Curatolo ARTE NA SAÚDE E NA COMUNIDADE INSTITUTO ARTE NO DIQUE Autores: Ana Flávia Costa, Ana Paula Fernandes, Cassiana Ruiz, Cristiane Aguiar, Jaqueline Ribeiro, Julia Mattos, Karina Braga, Katja Wirth, Mayara Matos, Mayara Miyahara, Sofia Soares. Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus Rusche Introdução No presente trabalho, discutiremos a relação entre arte e psicologia, utilizando a teoria de Lev Vigotsky para analisarmos o trabalho que está sendo realizado no Instituto Arte no Dique, localizado em Santos. Como exemplo de arte, a música proporciona aos seus produtores uma nova forma de enxergar o mundo e também de se autoenxergar, não só pelo aprendizado de um novo instrumento, mas pela oportunidade de um novo convívio social (Oliveira, 2006), sendo assim, a arte no Dique pode proporcionar novas trajetórias para jovens e crianças, criando alternativas para a situação de vulnerabilidade em que se encontram, engendrando opções para o viver, agir e compreender o mundo. Instituto Arte no Dique O Instituto Arte no Dique nasceu em novembro de 2002, no bairro de Santos, Litoral Sul de São Paulo. Fundada por José Virgílio, natural de Salvador, tem a missão de promover a transformação social e o desenvolvimento sustentável por meio da arte, da cultura e da profissionalização de jovens e adultos, possibilitando geração de trabalho e renda sem agredir o meio ambiente. A instituição Arte no Dique está localizada numa região periférica, área de maior precariedade e vulnerabilidade social da Baixada Santista, na favela de Vila Gilda, construída de palafitas à beira do mangue, sobre o Rio Bugre, onde vivem cerca de 20 mil habitantes distribuídos numa área de aproximadamente 4 km de extensão, com 27% da população ativa composta por pessoas desempregadas e renda média de R$ 76,00 por mês, contrastando com o município que orgulhosamente é dono do maior (e mais belo) jardim da orla do mundo. É uma das maiores favelas de palafitas do Brasil e da América Latina, quer dizer, é a grande favela localizada na divisa de Santos com São Vicente. José Virgílio escolhe exatamente esta comunidade objetivando trazer a dignidade que a arte e a cultura, capazes de promover reflexão a respeito dos preconceitos, podem chegar num lugar desses e transformar vidas. O projeto oferece oportunidades de transformação e desenvolvimento humano e social aos moradores da região, oferecendo gratuitamente oficinas de dança, percussão, violão, customização, informática, capoeira e teatro, além de atividades pontuais como sessões de cinema e palestras. Arte no Dique é uma escola de arte popular que tem um formato pedagógico informal e que visa através da arte e da cultura a inclusão social, a formação de cidadãos, o trabalho da autoestima e também a capacitação para o mercado da arte e da cultura que é bastante amplo. Atualmente atende cerca de 600 pessoas. Relato da Visita Antes de chegarmos ao instituto nos engajamos em uma preparação que durou cerca de um mês. Durante a visita, os integrantes se dividiram em subgrupos que realizaram diferentes entrevistas e abordaram distintos setores da instituição. A expectativa do grupo em relação à estrutura do instituto não era grande, uma vez que está localizado em uma das regiões mais pobres do país. Porém, ao chegar, nos surpreendemos imensamente, aliás, o prédio conta com uma arquitetura diferente de tudo o que existe na região, é extremamente bem construído e muito bonito. As surpresas não pararam por aí. Encontramos uma instituição repleta de moradores e alunos da escola municipal da região. Todos estavam organizados e engajados em alguma atividade, desenvolvendo assim novas experiências individuais e de convívio em conjunto. Os professores e a pedagoga pareciam estar bastante alinhados quanto ao objetivo do projeto e, os demais funcionários exalavam sintonia, mesmo porque todos vivem e trabalham na comunidade. Por conta disto, o clima de trabalho e aprendizagem que encontramos foi de harmonia e descontração. O que mais chamou a atenção do grupo foi o engajamento e o interesse que os alunos, de todas as idades, apresentavam em relação ao conteúdo das oficinas. Desde crianças curiosas e ansiosas em adentrar o mundo da arte, pois é a ideia que Vigotsky nos apresenta, a arte deixa o ser humano mais complexo, provocando assim as crianças a desenvolver as suas potencialidades e capacidades de abstração, criatividade, imaginação e percepção, até adolescentes com sede de aprendizado e objetivos profissionais extremamente sólidos, proporcionando assim que sua história seja transformadora e que seu psiquismo alcance aspectos mais elevados da arte e da cultura. Arte e Psicologia: uma relação delicada Existe uma crítica que glra em torno da relação entre arte e psicologia, tanto considerando que a atividade artística antecedea constituição do discurso psicológico, como também considerando que a Arte ultrapassa a própria psicologia, isto é, não se limita à análise psicológica, podendo e devendo ser objeto da filosofia, das ciências sociais e de outras disciplinas. Por conceitos pré- fixados e que diz respeito aos sentimentos e a novas formas de conceber o real. O fenômeno arusnco é, em primeiro lugar, uma forma de fazer ou uma construção de objetos simbólicos estruturados de tal forma que se transformam em significados. Em segundo lugar, a Arte pode ser vista como uma maneira de exptlffi1r sentimentos e ideias, sobretudo emoções, mas também concepções de mundo de indivíduos e/ou de grupos sociais, sendo, portanto, uma forma de conhecimento. Uma obra de arte pode ser analisada em função do seu produtor, do seu receptor ou a partir das considerações de seus aspectos internos. Na experiência estética, o receptor se defronta com um tipo de linguagem que não é convencional ou utilitário; com efeito, trata-se de uma linguagem mais conotativa que denotativa, o que significa um trabalho de leitura que Vai além das regras estabelecidas para a linguagem para uma 7 r comunicação habitual. Esse tipo de linguagem constitui formas simbólicas que, como aponta Langer (2003), se apresentam à percepção humana como modos de expressão de sentimentos que, de outra maneira, não poderiam ser ditos. No instituto Arte no Dique foi realizada uma entrevista com a professora de dança, que relata que a arte é um modo de transmitir e de mostrar algo que não se consegue nomear e que é transformador. "A dança é um exercício que te traz para dentro de uma coisa muito divertida. Os exercícios são necessários pra gente, pra qualquer ser humano, e a dança, fora o exercício, trabalha com a emoção, ela trabalha com o que você está sentindo, trabalha com a alegria. A dança transforma o seu momento, transforma aquilo que você está sentindo, então com certeza a dança transforma vidas", diz ela. Vigotski, ao discutir a relação entre arte e psicologia, traz a ideia de que os instrumentos culturais e a arte estão a serviço dos homens e de seu desenvolvimento, proporcionando a humanização dos ClnCO sentidos biológicos, ou seja, contribuindo para o desenvolvimento humano. A partir desta discussão podemos entender que os trabalhos realizados na instituição "Arte no Dique" buscam alcançar o desenvolvimento dos sujeitos que ali frequentam, tanto na perspectiva psíquica e/ ou social quanto potencializar o desenvolvimento: melhorar o desempenho motor, o controle emocional, a expressão comportamental e corporal, entre outras, desta forma, a arte é a principal via, no projeto, que visa impactar de forma positrva os sujeitos, estimulando seu crescimento pessoal. Para o autor, as emoções são consideradas como um fenômeno psicológico, cultural, ativo e mutável, levando em conta o desenvolvimento histórico e cultural. Nesta perspectiva, entendemos que a instituição compreende os aspectos emocionais, culturais e os fenômenos psicológicos como pertinentes ao desenvolvimento humano. Todo o trabalho desenvolvido visa possibilitar uma mudança na vida dos sujeitos, esclarecendo que os limites biológicos devem ser respeitados, porém, não são suficientes para definir o sujeito. A psicologia tem como objetivo, analisar a estrutura da obra de arte, buscando apreender as funções psicológicas, tipicamente humanas, inclusive o sentimento que a obra traz. As percepções das obras de arte fazem parte da humanização dos cinco sentidos e a própria arte tem impacto direto sobre os sujeitos na transformação da consciência humana. A psicologia da arte revela algumas funções psicológicas colocadas na estrutura da obra, que são reveladas a partir de vivências que a obra de arte expressa, gerando transformações objetivas nos indivíduos. Para Vigotski, a arte está relacionada com a realidade, porém a obra de arte não é uma cópia fiel da realidade objetiva, mas sim algo que é fruto da criatividade e que tem capacidade de se transformar em produto cultural. A função da arte vai além de expressar sentimentos e mudar estágios de humor imediato como tristeza em felicidade, mas sim conseguir objetivar 8 sentimentos e outras potencialidades do ser humano, provocando alterações no psiquismo e proporcionando uma melhor organização para uma condição mais elevada do sujeito. Percebemos no decorrer das observações realizadas na instituição, que as obras e as expressões corporais construídas pelos sujeitos frequentadores não são a cópia fiel da realidade objetiva, mas Sim fruto da criatividade e espontaneidade dos mesmos, por isso, o objetivo não é apenas mudar ou transformar os estados de humor do criador, mas conseguir provocar alterações no seu psiquismo, proporcionando uma melhor organização deste para uma condição elevada. Ou seja, as mudanças de estados de humor que nos foram retratadas nas entrevistas, são apenas os primeiros sinais de possíveis transformações psíquicas do sujeito. A arte tem a capacidade de desenvolver funções psíquicas complexas e promover o contato com experiências de outros seres humano, fazendo com que cada vez mais este se torne mais complexo e consiga elevar suas forças humanas tais como: abstração, criatividade, percepção, imaginação e emoção. Portanto, podemos entender que a arte é um instrumento cultural mediado pelo indivíduo e o gênero humano e que tem como objetivo reproduzir características já realizadas ao longo da história para causar transformações no sujeito, auxiliando na formação das funções superiores do psiquismo. Esses aspectos foram evidenciados na.maioria dos diálogos que constituímos com os frequentadores do projeto, pois nos trabalhos realizados por eles existe o respeito pelas características históricas e culturais de cada integrante, visando o desenvolvimento estético de forma que se torna possível uma transformação no psiquismo como facilitadora da evolução de funções psicológicas superiores. Segundo Vigotsk:i, a emoção, a percepção, a criatividade e a imaginação estão diretamente relacionadas com a arte e sua produção e estudo podem levar a esse desenvolvimento. Nas entrevistas com os professores de percussão e de teatro, percebemos ideias que corroboram com as afirmações de Vigotski de que a arte potencializa o ser humano, proporcionando novas experiências e transformações no psiquismo. "A arte não só transforma, como cura. A música cura. A música é praticamente um milagre. Eu tenho alunos aqui especiais, que vem aqui, tocam assim, e tu fala: 'Meu Deus, mano. Como é que ele consegue fazer isso aí?' E, às vezes, os grandão aqui ficam olhando e eu falo: 'Gente, é uma coisa que vem do coração, as coisas que vêm do coração, a gente não explica, a gente simplesmente sente'. Música é isso" (professor de percussão). "[...] a arte eu acho que é uma vontade de transformação do ser. E é justamente aí, a partir do momento que ele se manifesta através da arte, que ele chega, que ele nasce. Tem gente que descobre o desenho, tem gente que descobre a música e tem gente que vai procurar a técnica ou fazer"(professor de teatro). Nas entrevistas, os professores dizem que a arte e especialmente a música 9 Uma definição upica de musicoterapia geralmente parte do ponto em que a mesma consiste numa profissão de tratamento onde o terapeuta usa a música como instrumento ou meio de expressão a fim de iniciar alguma mudança ou processo de crescimento direcionados ao bem-estar pessoal, adaptação social, crescimento adicional ou outros itens (EVEN, 1990,p.14) . é uma forma de tratamento para as pessoas, que ela nos proporciona sentimentos, sensações inexplicáveis, é uma descoberta de si mesmo, é transformadora. Com essa ideia, podemos associar com a musicoterapia: A arte terapia, a partir da música, proporcionajustamente o crescimento pessoal, promove mudanças psíquicas. Schopenhauer diz que: "A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende". Referências Bibliográficas BARROCO, Sônia Maria Shima; SUPERTI, Tatiane. Vigotski e o estudo da psicologia e da arte: Contribuições para o desenvolvimento humano. Universidade Estadual de Maringá. CARVALHO, A. Arte e Psicologia: uma relação delicada. In: Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano (Org.) Introdução a Psicologia do Cotidiano. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2007. RUUD, Even. Musicoterapia - profissão de saúde ou movimento cultural? In: RUUD, Even. Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990. Capo 1. p. 14. 10 PSICODRAMA: o TEATRO COMO INSPIRAÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL Autores: Beatriz Costa, Gabriela Senhorelli, Isabela Neves, Isabela Muraro, Jessica dos Anjos, Juliana Ribeiro, Patricia Ferreira, Samyle de Carvalho, Thatiani Serpeloni, Thiago Trafimovas. Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus Rusche INTRODUÇÃO A Arte como recurso terapêutico é um instrumento de tratamento para o desenvolvimento pessoal que pode ocorrer a partir de um contexto terapêutico e de mediadores artísticos. Através das criações coletivas, temos acesso a várias informações: o que é, para que serve e que sentimentos são transmitidos antes e após estas, proporcionando um valor estético e informativo para o orientador, facilitando, assim, o acesso ao imaginário dos sujeitos. Este último é fundamental tanto para a arte quanto para a psicologia, pois ele reflete pensamentos, sentimentos, memórias e aspectos da personalidade e do self, facilitando uma compreensão mais profunda dos sentimentos e das situações vividas, para que o coordenador do processo grupal possa desenvolver novas formas de atuação. Um dos recursos artísticos que podem ser utilizados para mediar o acesso ao imaginário dos indivíduos é a dramatização, modalidade explorada por Jacob Levy Moreno em suas pesquisas e intervenções, tema de nossa investigação no presente trabalho. MORENO E O PSICODRAMA Jacob Levy Moreno foi um psiquiatra Romeno que concebeu a teoria psicodramática a partir de seus estudos sobre teatro e de suas observações e vivências de brincadeiras infantis, fundando, em 1921, o Teatro Vienense da Espontaneidade, experiência que constituiu a base de suas ideias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama (SALLES et. al,1988). o período em que Moreno dedicou-se ao teatro foi uma fase de construção teórica bastante intensa, que representou uma transição de suas ideias religiosas para uma entrega à ciência. Aproveitou o conceito de "espontaneidade como natureza primordial, que é imortal e reaparece em cada nova geração" (MORENO apud SALLES, pago 13) e, neste momento de transiçao, rebelou-se contra o falseamento das instituições sociais (da Família e da Igreja) e contra a robotização do ser humano. Via no teatro a possibilidade de iniciar sua revolução a partir da investigação da espontaneidade no plano experimental. No entanto, foi apenas com o trabalho com pacientes psiquiátricos que Moreno descobriu a função terapêutica da dramaturgia: o teatro da espontaneidade passa a ter uma função terapêutica e transforma-se no Teatro Terapêutico e este no Psicodrama Terapêutico (SALLES et. al). Moreno descobriu que um processo catártico acontece no psicodrama, ou seja, um processo de "libertação psíquica" que o ser humano vivencia quando consegue superar algum trauma cujo princípio comum que rege tal fenômeno é o da espontaneidade. Por 11 isso, no Psicodrama, os conteúdos que estavam afastados da consciência vêm à tona e possibilitam a estudo de possibilidades existenciais para os participantes da sessão, tanto individual como em grupo. Sendo assim, a catarse é uma integração que possibilita a formação da identidade, que vem à tona no Psicodrama, no qual há a representação de papéis de maneira espontânea, fazendo com que o indivíduo possa expressar aquilo que está sentindo, dando sentido a isso, função do Psicodrama como um 'teatro terapêutico', o qual depende intrinsecamente da expansividade afetiva dos membros envolvidos na sessão psicodramática (SALLES et. al). A EXPANSIVIDADE AFETIVA NO PSICODRAMA A expansividade afetiva dos indivíduos é, segundo Moreno "a energia afetiva que permite que um sujeito 'retenha' o afeto de outros indivíduos durante um período de tempo dado" (MORENO, 1972, p.63). Percebe-se que . por trás deste conceito, está a concepção de vínculo, que no psicodrama é a unidade humana e, portanto, mais que uma relação, é uma inter-relação afetivo- perceptual. Para desenvolver seus estudos sobre expansividade afetiva, Moreno se baseou na tese de que a expressão quantitativa dos sentimentos de simpatia ou antipatia pode ser facilmente medida. Seus estudos apontaram que é possível chegar ao que se chama de processo vincular social dos indivíduos e de seus grupos e, a partir dele, possibilitar a superação dos seus conflitos, ou seja, permitir o resgate da espontaneidade, que conforme dito no psicodrama, é o caminho da saúde mental. Para Moreno, a expansividade afetiva é originada no início da vida: "a família é a instituição social que mais contribui para desenvolver a sociabilidade do homem e para dar forma própria à sua necessidade de expansividade afetiva. A influência do grupo familiar se exerce, não somente sobre a qualidade dos interesses afetivos, mas também sobre sua quantidade, quer dizer, sobre sua expansividade" (MORENO, 1972, p.72). Pode-se concluir, portanto, que o estudo da expansividade afetiva é um caminho para a investigação da consciência e da sociabilidade dos indivíduos que contribuiu para a construção de técnicas psicodramáticas que melhorassem a qualidade da vinculação e da comunicação intragrupal, promovendo reflexões que geram conhecimento acerca do outro e de si mesmo, elevando o pensamento do plano cotidiano para o plano contemplativo. O PSICODRAMA E A ESTRUTURA DA VIDA COTIDIANA Segundo Agnes Heller, no livro ° Cotidiano e a História (1970), a vida cotidiana possui algumas características, dentre elas, destacam-se: a espontaneidade (as ações se dão de forma automática, irrefletida e até mesmo repetitiva), o pragmatismo (o homem atua em termos de funcionalidade e probabilidade), economicismo (ação e pensamento se manifestam e funcionam apenas enquanto são indispensáveis à continuidade da vida cotidiana), e o imediatismo (as atividades diárias são realizadas em função da solução de questões urgentes, não se configurando 12 como práxis) (HELLER, 1970). Nesse contexto, o homem interage e se constitui a partir dessa estrutura social: a estrutura da vida cotidiana constitui a subjetividade dos indivíduos que se inserem nela, os quais, consequentemente, se tornam seres irreflexivos, automáticos, repetitivos, imediatistas, econômicos e pragmáticos. No entanto, não é apenas a partir da vida cotidiana que o humano se constitui, os âmbitos das artes, da moral, da política, da filosofia e das ciências também são partes constitutivas da identidade humana, partes que elevam o pensamento humano. Ao falar da elevação do pensamento acima da vida cotidiana, Heller (1970) afirma que a arte e as ciências são as únicas formas com capacidade de produção de objetivações duradouras. Isso porque ambas rompem a tendência irrefletida do pensamento cotidiano que leva a ações repetitivas e imediatistas. A arte faz a ruptura porque é autoconsciência e memória da humanidade, as ciências sociais porque são desantropocentrizadoras e a ciências da natureza porque são desantropomorfizadoras. Tais concepções Hellerianas vão de encontro aos conceitos Morenianos relacionados à produção teatral e a função transformadora das relações humanas. Segundo Gonçalves et ai (1988),o psicodrama e o sociodrama são os termos que designam as técnicas criadas por Jacob Levy Moreno a partir de seus estudos sobre a espontaneidade, que diferentemente de Heller, representa a capacidade de flexibilizar e criar novas respostas adaptativas de acordo com as situações vivenciadas, principalmente quando estudadas no âmbito das experiência psicodramática. Para Moreno, a criação teatral tem propriedades catárticas, que se manifestariam mais precisamente através do improviso: um recurso expressivo pelo qual o ator cria sua dramatização no momento em que a encena, tendo a possibilidade de transformá-Ia a todo o momento. Tal estratégia, segundo o autor, estimula o desenvolvimento da capacidade de agir espontânea e criativamente. Portanto, o objetivo central das técnicas criadas por Moreno é o resgate da autonomia dos indivíduos e grupos nas suas relações cotidianas através do desenvolvimento de dinâmicas de ação mais espontâneas e criativas, estimulando a capacidade de reflexão e auto-observação dos indivíduos e impedindo a cristalização de modelos rígidos de comportamento. Em termos Hellerianos, podemos da elevação do pensamento humano do âmbito cotidiano, das particularidades, das preocupações com a satisfação de necessidades imediatas, para o âmbito da genericidade humana, da preocupação com questões éticas e filosóficas, acerca do que significa ser humano. PSICODRAMA E COMUNIDADE Como exposto anteriormente, o Psicodrama como uma ação terapêutica que se utiliza da arte, da criatividade e da espontaneidade se propõe a romper com a realidade cristalizada do cotidiano (MORENO, 2003). Com uma proposta de colocar a psique em ação, o psicodrama, quando aplicado à comunidade, ou seja, o sociodrama, desenvolve um processo de desconstrução e ressignificação do indivíduo e do meio social. (FIRMO, 2009) 13 Por meio das ações reflexivas, de revivescimento de conflitos, possibilita-se ao sujeito reelaborar criativamente soluções e caminhos que ressignifiquem suas concepções de si e do mundo. Segundo Moreno (2003), a força do drama não está apenas no palco, mas especialmente na plateia, tendo em vista que o espectador transforma-se ao passo que a ação perpassa por seus conflitos, o indivíduo se identifica e se percebe compartilhando com o outro as mesmas opressões cotidianas. "Esse autoconhecimento é emancipatório, pois desenvolve um sentimento de alteridade e de corresponsabilidade social". (PEREIRA, e DIOGO, 2009) Ainda segundo estes autores, a alteridade e a corresponsabilidade fortalecem os membros do grupo, possibilitando novas configurações das problemáticas sociais. A práxis reinsere o indivíduo numa relação intersubjetiva e o acolhe como pertencente de um grupo, de uma comunidade, reafirmando e ressignificando sua identidade, seu papel e sua função no meio social. Segundo Firmo (2009) a prática psicodramática em especial em comunidades, toma corpo como ciência política que abre possibilidades para a atuação dos sujeitos de direitos que podem, e devem ter suas histórias expressas e escutadas. Relato do Psicodrama aplicado na Universidade Presbiteriana Mackenzie No dia 18 de março de 2016 o grupo organizou uma sessão de Psicodrama dirigida pela psicodramatista Stella Gorette e da qual participaram alunos do primeiro e sexto semestre do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. ° Psicodrama aconteceu em uma sala de aula da Universidade. A sessão se rmciou com um aquecimento inespecífico pelo qual os alunos andavam pela sala fazendo alongamento ao som de uma música relaxante. Ao término desse início de sessão se deu o aquecimento específico no qual a diretora pediu para os participantes deitassem ou sentassem no chão e lembrassem de um sonho. A partir de então a escolha do protagonista foi feita de acordo com os participantes que desejassem dramatizar o sonho, ao todo foram encenados três sonhos, cada um de um membro diferente. Na fase do compartilhamento evidenciou-se que o último sonho encenado mobilizou muitos membros da plateia fazendo com que estes manifestassem suas experiências rememoradas a partir da encenação do último protagonista. Após o compartilhamento, a diretora percebeu a necessidade de um encerramento mais catártico devido às mobilizações afetivas e intensas provocadas durante a sessão. Nesse encerramento, a diretora pediu para o grupo fazer uma grande roda e um alongamento no qual todos estendiam as mãos até os pés voltando gradualmente à postura ereta inicial culminando com um grito final. Considerações a respeito experiência e das entrevistas da 14 Como exposto anteriormente, o Psicodrama é uma prática terapêutica de ressignificação de conflitos intra e intersubjetivos que promove a transformação das realidades psíquicas e sociais, fortalecendo a ação coletiva ao mesmo tempo em que enfatiza as diferenças individuais pela integração dessas particularidades para a superação das dificuldades dos indivíduos e do grupo. No Psicodrama Aplicado na Universidade Presbiteriana Mackenzie pôde-se perceber tais princípios na fase do compartilhamento, em que os membros tocados pelos conflitos vividos pelo protagonista na dramatização chegaram a uma elaboração, ou catarse de integração, de seus conflitos pessoais ao mesmo em que se proporcionou ao protagonista novas reflexões e compreensões de seus dilemas. Tal evidência confirma a tese de Heller (1970), que afirma que o pensamento cotidiano, repetitivo, imediatista e cristalizado, pode ser superado pela arte: No caso do psicodrama vivenciado no dia 18 de março de 2016, conflitos co- inconscientes foram trazidos à luz pela técnica e puderam ser refletidos e contemplados, o que certamente mudou a atitude de cada membro em relação a seus pensamentos automáticos acerca de seus problemas cotidianamente enraizados. Referências Bibliográficas FIRMO, Yandra de Oliveira. O DRAMA, A NARRATIVA E A AÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR, UM OLHAR SOBRE O PRECONCEITO RACIAL. Universidade Federal de Mato Grosso <http://www.ie.ufmt.br/semiedu2009 / g ts/ gt15 / ComunicacaoOraljYANDRA % 20DE%200LIVEIRA %20FIRMO.pdf>. acesso em 15 de maio 2016. GONÇALVES C. S., WOLFF, J. R., ALMEIDA, W. C. de. Lições de psicodrama: introdução ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988 HELLER, Agnes. ESTRUTURA DA VIDA COTIDIANA. In: O Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e Terra, 2000. PEREIRA, Eleonora; DIOGO, Nara Maria Forte. Interfaces entre psicologia social comunitária e psicodrama. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 11, n. 2, p. 145-160, dez. 2009 Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?sc ript= sci_atttext&pid =S1516- 36872009000200011&lng=pt&nrm=iso> . acessos em 15 maio 2016. SCHAPUIZ, Júlia; HADLER, Oriana H .. Florescer: psicodrama em comunidades rurais.Rev. bras. psicodrama, São Paulo , v.21,n. 2,p. 107-115, 2013. lS JAMAC: A ARTE COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA E COMUNITÁRIA Autores: Erica Pascoal, Gabriela Morin, Giovanna Albuquerque, Georgia Valente, Mariane Andrijic, Noam Kremer, Thatiana Piccoli, Verônica Manuppela, Victoria Gaudioso, Morgana Figueiredo. Orientador: Prof. Dr.: Robson Jesus Rusche INTRODUÇÃO Esse trabalho tem como objetivo apresentar o projeto JAMAC, fundado por Monica Nador, e fazer uma análise com base nos referenciais teóricos apresentados pela disciplina de Psicologia do Cotidiano II. O tema em questão é a Arteterapia e sua relação com a saúde mental, em especial entre jovens de comunidades periféricas. De acordo com a Associação Brasileira de Arteterapia, esta se define como um modo de trabalhar terapeuticamente, utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência seria a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde mental. Com base no projetoque iremos abordar, encontramos outro projeto com objetivos similares em Fortaleza, mais precisamente no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da Secretaria Executiva Regional III órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza -, que funciona em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC). Esse processo de sujeito ativo e, portanto, transformador é evidente no projeto JAMAC e também nesse projeto similar realizado em Fortaleza, chamado Amigos da Arte, que se torna relevante a ser mencionado devido ao seu trabalho com arteterapia, uma vez que este - assim como explicaremos adiante sobre o JAMAC - se propõe a reunir indivíduos em um espaço específico para realizar uma troca de saberes e proporcionar vivências artísticas. Contato com o campo da experiência No JAMAC, o que se encontra é cultura viva, em cultivo permanente, em processo dinâmico, que envolve o reconhecimento e a interação com o entorno, valorizando conhecimentos, saberes e tradições. Vai além da cultura como formação, aprendizado e domínio de formas de expressões e técnicas. Determina-se como informação e difusão, ampliando repertórios e o domínio da análise simbólica. Designa-se por cultura toda criação e produção, instigando a inventividade e a habilidade na arte através da articulação das pessoas com seu meio e delas entre si, também como desafio realizado com arte, coragem e afeto, como expressão simbólica em plenitude, como potência e encantamento que se manifestam no Projeto 'Paredes Pinturas', expressando tudo aquilo que existe de importante para a formação de uma comunidade, sua ancestralidade e seus símbolos, seus desejos e suas aspirações, ou seja, um processo cultural que, ao se realizar na Arte, respeita e valoriza as pessoas e suas formas de viver, pois a cidadania só se realiza em ambientes de acolhimento, cuidado e respeito. "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção" (FRElRE, 1996, p. 21). No 16 ] amac, acredita-se que ensinar é mais do que a transferência de conhecimento descolada do diálogo. Educação se faz no contato com o outro, na abertura ao diálogo das partes envolvidas. Abre portas para a construção de novas ideias, pontos de vista, conhecimentos e também para a produção dos mesmos. Ensinar cabe em iniciar e compartilhar formas de conhecimento, estimular o raciocínio, a percepção, ajudar o individuo a se desenvolver como participante ativo do seu papel na sociedade, que é compartilhado. O trabalho da Mônica Nador e do JAMACinverte o próprio sentido da economia, que deixa de ser uma forma de administraçãode recursos a partir dos modos de produção e do fazer para se transformar numa administração de recursos a partir dos sonhos e da beleza, em que o centro vital está na vida, na Cultura e a Arte que se realizam em todas as suas dimensões, sendo na estética, ética e na economia e não nas coisas (NADOR,Monica- LivroJAMAC). Entretanto, foi preciso conhecer a vida do povo, como ele morava, suas necessidades e desejos para construir soluções coletivas com essas pessoas que, desde o início dos contatos com o Projeto, apresentavam características estéticas de funcionalidade e beleza. Toda uma divisão foi se organizando a partir das experiências artísticas que tinham como finalidade proporcionar que as subjetividades se aflorassem, promovendo a releitura e reinterpretação do mundo e permitindo que os integrantes se colocassem com todo encanto e consciência. Mônica afirma que procurava no contexto das vidas, a inserção da produção artística no fluxo destas, sendo que seu objetivo era promover uma transformação nas subjetividades. Ao analisar todo discurso da entrevistada, é notável seus esforços para evidenciar os processos de resistência dos jovens, já que é através da educação e da arte para todos que o ]AMAC se propõe a atuar. A partir da educação, os jovens envolvidos deixam o lugar de meros receptores, e passam a ter participação ativa nos processos grupais, como participantes e/ou instrutores e, através da arte - no que diz respeito à verdadeira violência angustiante que eles se encontram, nesse contexto, acredita-se que se possa ampliar as oportunidades para criar uma nova forma de existência que efetue embates com os modos de vida dominantes. Essa violência pode ser representada através da música "Cartão de Visita", do cantor Criolo: "O opressor é omisso e o sistema é cupim, e se eu não existo, porque cobras de mim?" Visto que as forças opressoras (muitas vezes figuradas pelo Estado) são disfarçadas, e aproveitam-se da carência em diversos fatores, desde condutas policiais opressoras, até valores impostos. Tendo em vista recentes experiências com a utilização de recursos artísticos como dispositivos terapêuticos na saúde mental, percebe-se empiricamente que a arteterapia, em qualquer das linguagens artísticas aplicadas, tem se configurado como importante instrumento para ajudar os grupos de pessoas com transtornos mentais, trazendo consigo visíveis resultados em espaço de tempo relativamente curto. Para compreender a importância dos projetos citados, sendo eles, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Amigos da Arte e o ]AMAC, é necessário ter claro o conceito de arteterapia, que 17 consiste em um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento, constituindo-se como uma pratica transdisciplinar, visando resgatar o homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação. É um trabalho predominantemente não verbal que acolhe o ser humano com toda sua complexidade e dinamicidade, atuando com os diversos aspectos dos integrantes: afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, tão importantes na saúde mental. Observa-se que a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido. Configura-se como um eficaz meio para canalizar, de \maneira positiva, as variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares. Nota-se que há uma minimizaçãodos fatoresnegativosde ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros. [...] A pessoa vai se apropriando dos seus próprios conteúdos, conhecendo a si mesma e se tornando assim sujeito ativo do processo terapêutica. (Coqueiro, Neusa; VIElRA, Francisco; FREITAS, Marta. (2010) Arteterapia como dispositivo terapêutica em saúdemental) Aspectos Metodológicos o Projeto ]AMAC fundado em 2003, atualmente conta com oficinas periódicas de estêncil em sua sede, além da realização destas em outros locais - periferias e cidades do interior em sua maioria. Os alunos das oficinas têm a oportunidade de aprender e reproduzir todo o processo do desenho inicial como a transposição deste para diversos suportes. Há também, O ]AMAC Cinema Digital, que oferece desde 2009, oficinas gratuitas de cinema, animação, workshops com técnicos e teóricos da área. O Café ]AMAC, o qual é um dos alicerces do Ponto de Cultura Arte Clube, que é uma referência importante em formação popular, porque aborda de maneira diferenciada, em termos de espaço e interlocução, os problemas e posições discutidos na universidade. A Rádio Poste, que faz parte de uma noção de cultura que constrói relações diretas entre objetos, pessoas e o espaço que estas ocupam. O Parque para Brincar e Pensar, que é um projeto de pesquisa e intervenção urbana que atua na forma de habitar e pensar os espaços comuns na sociedade, trazendo à luz a necessidade das relações entre diferentes gerações e classes sociais. Por fim, a Estamparia que atualmente está sendo implementada no ]AMAC, como uma tentativa de criar uma fonte de subsídiospara a comunidade do ] ardim Miriam - tanto como uma forma de adquirir autonomia para que o Clube continue suas atividades na região quanto para gerar renda para seus frequentadores. A Estamparia está diretamente ligada às oficinas de estêncil, na qual os desenhos criados ali são transportados para os tecidos que serão comercializados para confecções de moda e outros possíveis clientes, difundindo os desenhos realizados na comunidade. Há décadas, grandes figuras da Psicologia e de outras áreas já traziam a importância da Arte como forma de expressão inconsciente, como Freud, que define que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente em sua produção, retratando conteúdos do 18 psiquismo. Já Jung, foi além, constatando que as imagens representam a simbolização do inconsciente coletivo da humanidade. Paulo Freire propôs que o papel do trabalhador social em um processo de mudança tem uma atuação destacada na desmitificação da realidade destorcida, sendo que, através deste fato é possível descobrir a verdadeira dimensão na qual está imerso o trabalhador, que pode ser obtida através da percepção crítica da realidade. Por esse motivo, entende-se que o trabalhador social cumprirá um papel de agente de mudança. Segundo Freire, a estrutura social em que esse trabalhador está inserido apresenta um jogo dialético de mudança-estabilidade, na qual ambas resultam da ação que o homem exerce sobre o mundo e, falar do papel do trabalhador social implica na análise dessa mudanca e da estabilidade/instabilidade das expressões da forma de ser nas estruturas sociais. Sendo assim, o papel do trabalhador social que optou pela mudança é de atuar e refletir com os indivíduos com quem trabalha para conscientizar-se junto com eles das reais dificuldades de sua comunidade. Este trabalhador deve ampliar seus conhecimentos. e o ímpeto de mudar para ser mais, Um dos fatores que saltou à nossa a atenção no Jamac, foi o fato de ser um grupo que tem caráter semiaberto, pois os membros tendem a se afastar em algum momento, devido ao retorno de doenças mentais ou problemas pessoais no geral, contudo, depois retomam ao projeto. Acredita-se que esse dado possa indicar um vínculo afetivo com o grupo, que é crucial para o sucesso de um trabalho coletivo. No Caps, trata-se de grupos terapêuticas que visam a aplicação da arteterapia na pratica cotidiana. Esse grupo também se utiliza dos processos de criação artística e de ações culturais como meios de promover a saúde mental. Considerações finais sobre a experiência A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior na área da saúde e, sobretudo, no campo da saúde mental, visto que vem colaborando para amenizar os efeitos negativos da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de cada sessão. Observa-se que ela tem possibilitado aos usuários a vivência de suas dificuldades, conflitos, medos e angústias. Configura-se como um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares. Nota-se que há uma minimização dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros. Consideramos que, mediante a interpretação e a reflexão das vivências na relação terapêutica, a pessoa vai se apropriando dos seus próprios conteúdos, conhecendo a si mesma e se tornando assim sujeito ativo do processo terapêutico. Percebemos em nossas entrevistas, que há grandes benefícios que podem ser acrescentados à vida dos sujeitos, tais como: benefícios emocionais, pois a arteterapia auxilia ativamente os envolvidos na expressão de suas emoções; socialilzação, pois ajuda a 19 20 eliminar a sensação de isolamento; benefícios cognitivos, pois oferece meio de comunicação entre os dois hemisférios do cérebro; e benefícios físicos, pois auxilia na redução do estresse e no aumento geral dos sentidos das atividades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS COQUEIRO, Neusa; VIEIRA, Francisco; FREITAS, Marta. (2010) Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental. http://www.scielo.br/scielo.php?script=s ci arttext&pid=S0103- 21002010000600022, Acesso em 11 de maio de 2016. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade, capo "O papel do trabalhador social no processo de mudança". Acesso em 9 de maio de 2016. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 - Coleção Leitura LACAZ, Alessandra; LIMA, Silvana; HECKER, Ana Lúcia (2015) Juventudes periféricas: Arte e Resistências no Contemporâneo. http://www.scielo.br/scielo.php?script=s ci arttext&pid=S0102- 71822015000100058&lng=pt&nrm=iso& tlng=en, Acesso em 11 de maio de 2016. NADOR, Monica (2013); Livro Jamac- Jardim Miriam Arte Clube. https:/lissuu.com/jamac-arte- clube/docs/livro-jamac, Acesso em 7 de março de 2016. PRECONCEITO RACIAL:A PERSPECTIVA DE UMA EMPREGADA DOMÉSTICA MOBILIDADE URBANA , VIOLÊNCIA E PRECONCEITO Autores: Beatriz Saldanha, Bianca Jatobá, Bruna Naswaty, Carolina Caminha, Erica Yano e Nathalia Petreche. Orientadora: Prof. Dr.: José Estevam Salgueiro INTRODUÇÃO A força de trabalho escolhido no âmbito do trabalho doméstico são as mulheres, na qual, geralmente provêm das camadas mais pobres e com índices menores de escolaridade. Entre as trabalhadoras domésticas brasileiras 62%, são negras e recebem salários 15,6% inferiores aos das brancas, conforme Pinheiro, Fontoura e Pedrosa (2011). É importante ressaltar que em um passado histórico não tão distante os, negros eram escravizados e obrigados a servir aos brancos, vivendo de maneiras deploráveis e prejudiciais a qualquer ser humano, segundo o artigo "A mobilidade social dos negros Brasileiros" de Rafael Osório (2004, p. 13): o Brasil era uma sociedade de classes em rápida formação e expansão, na qual tinha inserção desfavorável em decorrência da sua condição de escravo no passado colonial, mas também do racismo elemento arcaico que é preservado ~ remodelado, interferindo nos processos de modernização, instalação das classes. Essa interferência verificar-se-ia na lentidão com que negros e mulatos foram integrados à sociedade de classes, organizada para os seguimentos privilegiados dos brancos, como fora a sociedade escravocrata. Por conta deste fato, hoje em dia, esta classe tende a ser mais desfavorecida tanto em relação aos menores salários quanto na dificuldade em conseguir emprego formal, como diz o Ministério do Trabalho (1998), sendo alvo de muita discriminação e preconceito. De acordo com Camino e colaboradores (2001), a representação das relações raciais no trabalho é formada pela crença de que os negros se engajam em atividades desqualificadas ou ligadas ao esporte, enquanto os brancos se engajam mais em atividades qualificadas e vinculadas ao poder. Assim, Telles (1994) acrescenta que a discriminação, expressa na representação do tipo de emprego que o negro deve ter e na sua admissão de um emprego, é a partir da sua cor da pele. o trabalho irá levantar as perspectivas, o olhar histórico a respeito do preconceito e suas consequências na sociedade a partir de dois teóricos, Agnes Heller e Gordan Allport, tomando como base os respectivos textos "O Cotidiano e a História" (2008) e "A natureza do preconceito" (1977). FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Em seu texto "O Cotidiano e a História" (2008), Agnes Heller diz que o preconceito é uma categoria do pensamento e do comportamento cotidiano, assim, para se aproximar da compreensão dos preconceitos, deve-se partir da esfera da cotidianidade.Para a autora, existem duas formas de atingir a ultrageneralização vistas nos comportamentos e pensamentos cotidianos dos seres humanos: no primeiro, as pessoas assumem estereótipos, analogias e esquemas já 21 elaborados no segundo, eles são inseridos nos indivíduos pelo meio em que crescem, podendo demorar um certo tempo para que se analise com atitude crítica estes esquemas recebidos. Ao se falar desta ultrageneralização nas relações sociais, as pessoas costumam se orientar em um complexo social dado através de normas e estereótipos. Segundo Heller (2008), os sistemas de preconceitos são provocados pelas integrações sociais nas quais os homens Vivem e, dentro dessas integrações, sobretudo pelas classes sociais. A maioria dos preconceitos são produtos das classes dominantes, mesmo que para-si contenham uma imagem isenta de preconceitos. A autora acrescenta que todo sujeito, em certa medida e sob alguns aspectos, tem preconceitos e estes impedem a autonomia deste sujeito. A partir do texto "A natureza do preconceito", Gordon Allport (1977) argumenta que o preconceito se ongma na generalização errônea e hostilitária, apresentando duas dimensões essenciais que devem estar presentes em qualquer definição de preconceito: atitude e crença. A adequada definição do preconceito contém dois ingredientes essenciais, uma atitude favorável e outra desfavorável e deve estar vinculada a uma crença excessivamente generalizada (e portanto errônea). As declarações preconceituosas expressam às vezes o fator atitude, às vezes o fator crença e para o autor, quando encontramos um desses aspectos, no geral, encontramos também o outro. De acordo com Allport (1977), o sistema de crenças tem a propriedade de modificar-se plasticamente para justificar a atitude mais permanente. Ele separa o processo de categorização para a construção das categorias para a base do pré-conceito normal em 5 fases: 1- Constrói classes e agrupamentos amplos para guiar nossos ajustes diários, isso quer dizer que nossa experiência na vida tende a conformar-se em agrupamentos, e se bem podemos equivocamos de categoria ou de ocasião a recorrer a eles, é inegável, não obstante, que esse processo domina toda nossa vida mentaLNão podemos levar toda experiêncianova como sendo absoluta, uma nova experiência deve se encaixar em categorias antigas, porque se não, de que serviriam nossas experiências passadas? 2- A categorização se assimila o máximo possível no agrupamento. Gostamos de resolver os problemas com facilidade, portanto é muito mais fácil encaixar as pessoas em grandes grupos do que e atentar a individualidadede cada uma. 3- A categoria nos permite identificar rapidamente um oijeto por suas lágrimas comuns. Cada acontecimento tem certas lagrimas que servem para colocar em ação as categoriasdo pré- julgamento. É assim que as categorias tem uma vinculo estreito e imediato com o que vemos, com o modo como julgamos o que vemos e o que fazemos. 4- A categoria satura tudo o que contém com iguais conotações ideacionais e emocionais. Algumas categorias são puramente intelectuais. Essas nomeamos conceitos. Porém, muitos de nossos conceitos são carregados de um sentimento característico.Por exemplo, sabemos o que é uma arvore, porém sabemos também que gostamos de arvores. 5- As categoriaspodem ser mais ou menos racionais. Para estabelecer um pré- julgamento racional acerca de membros de um determinado grupo, é preciso que tenha-se um conhecimento razoável acerca deste grupo. Uma categoria irracional é aquela que se forma sem uma 22 evidenciaadequada.Agarrar-se a um pré- julgamento quando sabemos que é errado é umas das formas mais estranhas em que se apresenta o preconceito. o texto original do espanhol foi traduzido pelo grupo. METODOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Para coletar as informações necessanas para a pesquisa, foi realizada uma entrevista, na qual, o grupo elaborou um roteiro de perguntas para direcionar a entrevistada para o foco da pesquisa. A colaboradora foi a doméstica Ana Maria, de 58 anos, a qual trabalha neste ramo há 20 anos. A ideia principal é tentar saber como esta funcionária se vê em meio à sociedade e quais pensamentos a cercam sobre o preconceito racial no âmbito de seu trabalho. Segue abaixo as perguntas abordadas: 1. Comovocê define sua cor? 2. O que é racismopara você? 3. Você já sofreu algum tipo de preconceito racial?Comente. 4. Como você se sentiu? 5. Você acredita que existe alguma diferença no tratamento entre brancos e negros? E na questão do trabalho? Além da entrevista, foram utilizados recursos audiovisuais para gravar a entrevista, na qual a sujeita concordou com a gravação, procurando preservar a imagem da sujeita. ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA Através dos relatos, pode-se perceber que a entrevistada passa por agressões diárias que podem prejudicá-Ia de uma certa forma pois são maneiras diversas de preconceito. Isso prova que sua esfera cotidiana ilustra seus preconceitos, tanto pessoais quanto praticados por terceiros em relação a ela. Essas atitudes, vivenciadas por ela, se encaixam em alguns apontamentos que Allport (1977) discorreu sobre o preconceito, como por exemplo, o conceito de que a categorização se assimila o máximo possível no agrupamento. Assim, no relato sobre a recusa de uma mulher moradora branca em entrar no mesmo elevador que ela, só pelo simples fato de ela ser negra e doméstica, de certa forma, a exclui, delimitando o espaço "dos proprietários" e dos "empregados", além disso é apresentada a questão do preconceito racial. Pode-se ver na fala "eu nunca sofri preconceito, a não ser essas bobeirinhas" que este tipo de discriminação é vivido pela colaboradora de forma muito naturalizada e ultrageneralizada, uma vez que, apesar de ela dizer que não havia passado por nenhum tipo de situação assim, relata o episódio sem consciência alguma de que aquilo que estava vivendo era uma atitude racista. Logo, percebe-se uma contrariedade em seu discurso, pois ao mesmo tempo em que ela acredita que não tenha sofrido nenhum tipo de violência relacionada ao racismo, ela consegue contar casos que já vivenciou e que não foram agradáveis, mostrando nitidamente formas de agressão de viés racial. Sendo assim, pode-se dizer que como ela viveu todas essas experiências em seu cotidiano, estas situações encontram-se tão enraizadas nela que ela não consegue enxerga-Ias como situações 23 extremamente preconceituosas. Mas isto não significa que elas não existam ou que ela nunca tenha passado por esse tipo de agressão É interessante pensar no discurso discorrido por Allport (1977) sobre a origem do preconceito estar ligada a conceitos de hostilidade e generalização errônea, apresentados claramente na entrevista da doméstica que ela também se agrupa para fora dos negros, que como ela diz têm "nariz esborrachado, bem preto e de cabelo duro". A atitude de dizer "eu sou negra", se contrapõe na crença de que ela não é uma "negra comum". Heller (2008),Para os pensamentos e comportamentos cotidianos levam ao preconceito. A doméstica sabe que o preconceito existe, mas para ela isso se naturalizou, podendo se perceber na fala: "preto não pode nada, preto não pode ter cabelo bom. Mas normal, né? Eu encaro de boa. Desde que a pessoa não ofenda a minha pessoa em palavras, pra mim normal, eu respeito ela", ou seja, isso se dá pelo fato da esfera da . cotidianidade ter naturalizado esse conceito como normal e que apesar dos elementos históricos que isso traz, ainda assim, episódios como esse são vistos por ela naturalmente. Ou seja, o preconceito racial é visto pela doméstica de forma muito naturalizada, não fazendo a própria enxergar que ela mesma carrega em si a origem deste preconceito. Ela acredita que o preconceito é algo normal,pois este conceito de alguma forma se naturaliza em seu discurso e em sua vida e acredita que as coisas funcionam assim porque "desde que o mundo é mundo funciona assim né?", como ela diz. Isto se deve às normas SOCla1S que foram ensinadas e vividas por ela e que carregam um peso cultural muito intenso. Ela tem consciência de seus direitos e argumenta que o respeito tem que partir das duas partes, do patrão e da doméstica, mas ao mesmo tempo, se coloca numa posição contrária ao que argumenta, como por exemplo, o episódio do elevador. É importante aprofundar um pouco este tema no âmbito do trabalho doméstico, pois há várias questões de desigualdade legitimadas e naturalizadas pelo tempo e pela cultura, sendo aspectos importantes para o reconhecimento social destes trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, é importante para se construir diálogos de forma menos desigual e mais digna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT, G. La naturaleza del prejuicio. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1977. CAMINO, L; SILVA, P.; MACHADO, A. & PEREIRA, C. A face oculta do racismo no Brasil: Uma análise psicossociológica. Revista de Psicologia Política, 2001, p. 13-36. HELLER, A. O Cotidiano e a História. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. OSORIO, R. A mobilidade social dos negros brasileiros. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Brasil, 2004. PEREIRA, C.; TORRES, A. & ALMEIDA, S. Um estudo do preconceito na perspectiva das representações sociais: análise da influência de um discurso justificador da discriminação no preconceito racial. Psicol. Reflex. Crit. vol.16 no.1 Porto Alegre, 2003. 24 PINHEIRO, L; FONTOURA, N; PEDROSA, C. Situação atual das trabalhadoras domésticas no país. In: MOR!, Natalia et. al, (Org.). Tensões e experiências: um retrato das trabalhadoras domésticas de Brasília e Salvador. Brasília: Centro de Estudos Feministas e Assessoria, 2011. p. 33-69. TELLES, E. E. Industrialização e desigualdade racial no emprego: O exemplo brasileiro. ' Estudos Afro- Asiáticos, 1994, p. 26, 21-52. 25 MOBILIDADE URBANA - METRÔ DE SÃO PAULO Autores: Isabela Nasrallah, Ana Carolina Robles, Fernanda Nerguisian, Roberta Amadei e Carolina Mattar. Orientador: Prof. Dr. José Estevam Salgueiro. INTRODUÇÃO o transporte público cada vez mais aparece em nosso cenário cotidiano como uma problemática na vida de seus usuanos, Sua estrutura deficitária em conjunto com o desgaste e a fadiga causados pelo tempo de utilização dos vagões prejudicam a qualidade de vida dos que o utilizam. Grande parte dos trabalhadores necessitam do metrô para sua locomoção, enfrentando diversas dificuldades, principalmente a superlotação dos vagões, causando prejuízos em seu desempenho diário. O desgaste físico e psicológico causado pelo trajeto de muitos brasileiros no transporte público influencia suas atividades ao longo do dia, podendo comprometê-ias de forma expressiva. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A mobilidade urbana é um sistema que consiste em satisfazer necessidades dos indivíduos, referindo-se às condições de deslocamento da população no espaço geográfico das cidades. Esse deslocamento de pessoas tem como finalidade a busca de bens e serviços de qualidade, oportunidades de qualificação e empregos, o que compreende as regiões metropolitanas e capitais como grandes localidades de concentração populacional. O termo engloba meios de locomoção como veículos, carros e motos sendo estes transportes individuais ou coletivos, como o ônibus e o metrô. O trânsito de pedestres também está dentro desse sistema. Um dos problemas enfrentados na mobilidade urbana é que a maior parte das grandes cidades do país encontram dificuldades em desenvolver meios para diminuir a quantidade de congestionamentos e o excesso de pedestres em áreas centrais dos espaços urbanos. No Brasil, a principal causa dos problemas está relacionada ao uso de transportes individuais em detrimento da utilização de transportes coletivos, ainda que esses também tenham dificuldades com a superlotação. O metrô é um sistema de transporte subterrâneo de passageiros em área urbana, localizado em túneis ou viadutos e segmentado em linhas designadas entre estações. O primeiro metrô foi construído em Londres, em 1863. O trecho inaugural tinha 6 quilômetros de extensão, que foram abertos seguindo o traçado das ruas do centro da capital inglesa. Em 1900, já eram sete linhas e 84 estações. Em 24 de abril de 1968 foi formada oficialmente a Companhia do Metropolitano de São Paulo. Testes foram realizados e a primeira vez que um trem trafegou pelo subterrâneo paulistano foi em 6 de setembro de 1972, sendo uma das obras viabilizadas na gestão do prefeito Faria Lima - essa primeira viagem de trem foi realizada entre as estações Jabaquara e Saúde. Em 1974, o trecho Jabaquara - Vila Mariana começou a operar comercialmente, nesse mesmo ano a companhia registrou média diária de apenas 2.858 passageiros. A operação era manual. Os profissionais usavam uma lousa de metal com o sistema dos trens e imãs, representando veículos para 26 ,...... •. controlar todo o movimento da linha. Em novembro 1982, o Metrô contratou as primeiras mulheres condutoras de trens. O Metrô paulistano é o maior e mais movimentado sistema de transporte metroviário do Brasil, com uma extensão de 78,4 quilômetros de linhas ferroviárias distribuídas em seis linhas, que possuem um total de 67 estações. Transporta cerca de 4,7 milhões de passageiros diariamente. Em 2014 o Metrô de São Paulo ultrapassou a marca de 24,5 bilhões de passageiros transportados desde a sua inauguração em 1974. A estação mais movimentada é a Sé, no centro, recebendo diariamente 603 mil pessoas em dias úteis. Tem a capacidade de 100.000 passageiros. Sete milhões de passageiros dependem do transporte sobre trilhos na região metropolitana da Capital. A superlotação é um fator agravante no trajeto do passageiro. Grande parte dos trabalhadores necessita de um meio de locomoção para realizar o percurso de suas tarefas diárias, porém durante esse deslocamento muitas dificuldades são encontradas, causando prejuízos e mudanças no comportamento e no desempenho destes sujeitos. Essa rotina diária nos meios de transporte público não é uma tarefa fácil, muito pelo contrário; a pessoa que frequenta o metrô enfrenta diversos transtornos em seu dia- a-dia, como por exemplo a sua infraestrutura precária, principalmente pelo fato de ter um número muito grande de usuários para pouco crescimento da frota, não atendendo a demanda. As dificuldades enfrentadas por esses passageiros acarretam em um grande desgaste físico e psicológico contribuindo para o prejuízo do desempenho no trabalho devido aos seus comportamentos desagradáveis, inesperados e insatisfatórios na realização de tarefas, devido à falta de motivação e energia pelo estresse excessivo que eles passam durante o trajeto. Esses comportamentos na maioria deles são inconscientes que atuam de forma negativa para o estilo de vida do indivíduo. Em decorrência disto, fatores como insatisfação e frustração são constantes na vida do usuário. O desempenho do sujeito visa o seu comprometimento e a realização de seus objetivos expressos através da sua responsabilidade assumida a partir de seu trabalho ao realizar tarefas. Conectada com o desempenho, a motivação é um comportamento próprio do indivíduo, que determina sua conduta servindo de motivos internos que constroem as situações e os ambientes externos. Isto é, as consequências das alterações no seu desempenho profissional são influenciadas por fatores motivacionais. Fadiga, cansaço, desconforto, insegurança e estresse são fatores notórios dos resultados principais da alteração do comportamento do trabalhador. METODOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Para a realizaçãoda experiência de estágio, utilizou-se como instrumento metodológico a entrevista semiestruturada, além de recursos audiovisuais na gravação das entrevistas com usuários do metrô e sociólogos. ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA Pensar em qualidade de vida sem pensar em mobilidade e acessibilidade é impossível, pois são elas que garantem a autonomia ao cidadão. São também elas que se tornam presentes no momento de ir e vir, seja ao deslocar-se para o 27 emprego ou na busca de uma forma alternativa de entretenimento fora de seu bairro. É indispensável promovê-ias com autonomia e segurança. Melhorando, consequentemente, a qualidade de vida de todos os usuários do espaço urbano e garantindo o exercício de uma real cidadania (MINISTÉRIOS DAS CIDADES, 2014). Com Base nos dados coletados pelas entrevistas dos usuários, pode-se perceber que o tempo em que os usuários passam no metrô causa-lhes desgaste físico e emocional, principalmente por conta do número de pessoas nos vagões. A infraestrutura foi apontada pelos entrevistados como boa em alguns aspectos, porém um dos problemas relatados nas entrevistas é que em certos casos o próprio usuário danifica a infraestrutura do metrô, como por exemplo, quando grudam chiclete nos assentos. Entre as principais sugestões de melhoria apresentadas pelos entrevistados, estão presentes a necessidade de um número maior de metrôs em circulação, a retirada de metrôs antigos, já que esses problemas apontados são considerados pelos usuários como comprometedores no trajeto das pessoas. Os sociólogos apontaram como principal problema a superlotação do metrô o que prejudica o trajeto das pessoas, causando desgaste e estresse. Para eles é necessário melhorar toda a rede de transporte público, expandir o metrô de SP, melhorar os benefícios aos idosos e deficientes que frequentam o metrô e a tarifa deve ser cobrada de acordo com a infraestrutura que é oferecida aos usuários. Eles consideram que o transporte público deve ser prioridade do governo, já que a mobilidade interfere de várias maneiras no dia-a-dia das pessoas. A acessibilidade a destinos é uma forma de superar um obstáculo espacial (que pode ser medida pelo tempo e/ ou distância) e que é uma característica inerente a um determinado local. A facilidade dos usuários alcançarem os destinos pretendidos -traduzida pela consciência dos itinerários dos meios de transporte publico coletivo com os desejos dos usuários- pode ser expressa através da redução do tempo necessário para se efetuarem os deslocamentos através da rede de linhas (CARDOSO, 2008). A superlotação do metrô foi o principal problema apontado pelos usuários e pelos sociólogos, sendo fator determinante para a fadiga e estresse apresentados pelos usuários em seu dia-a- dia. O aumento da frota melhoraria seu trajeto e lhes proporcionaria melhores condições de locomoção, assim como saúde física e mental. A acessibilidade pode ser interpretada, portanto, como uma relação entre pessoas e espaço, e que, independentemente da realização de viagens, mede o potencial ou oportunidade para deslocamentos a atividades selecionadas. Sendo assim, a acessibilidade estaria diretamente relacionada à qualidade de vida dos cidadãos e traduziria a possibilidade de as pessoas participarem de atividades de seu interesse (CARDOSO, 2008). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, Orlindo Gouveia. Fundamentos de comportamento organizacional. 2a ed. 28 Iisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 9a ed. Tradução de Reynaldo Cavalheiro Marcondes. São Paulo: Prentice Hall, 2002. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 22a ed.rev. e ampl. Petrópolis: Vozes, 1998. SEGET J. A influência do transporte público no stress e no desempenho dos trabalhadores,2008 ARAUJO M. et aloTransporte público coletivo: discutindo acessibilidade, mobilidade e qualidade de vida, 2009 REDE GLOBO TELEVISÃO. http://acervo.oglobo.globo.com/ em- destaque / metrodesaopauloinaugurado_ em19 7412730229 GOVERNO DE SÃO PAULO. http://www.metro.sp.gov.br/metro / insti tucional/ quemsomos/ index.aspx REVISTA MUNDO ESTRANHO. http://mundoestranho.abril.com. br/ mate ria/ comofoiconstruidooprimeirometro_ domundo INFO ESCOLA. http://www.infoescola.com/transporte/ metro/ BRASIL ESCOLA. http://brasilescola. uol.com. br/ geografia/ mobilidadeurbananobrasil.htm REDE GLOBO TELEVISÃO. http://educacao.globo.com/ geografia/ as sunto / atualidades/ mobilidade- urbana.html 29 UNIVERSIDADE, UM ESPAÇO DE VIOLÊNCIAS: O NÃO-LUGAR E O SENTIMENTO DE NÃO PERTENCIMENTO Autores: César Lacerda, Gabrielly Leite, João Neto, Luiz Cardoso, Patrícia Tostes, Rafael Brito e Tatiana Gusmão. Orientador: Prof. Dr. José Estevam Salgueiro. INTRODUÇÃO A história do nosso país é marcada por profundas desigualdades que ocasionaram na marginalização de grande parte da população em detrimento do acúmulo de benefícios de outros. Essa parcela marginalizada foi e ainda é impedida de efetivar a sua cidadania acessando direitos básicos como, por exemplo, educação de qualidade, moradia digna, alimentação adequada e direito à cidade. Esta camada segregada, em sua grande maioria, ocupa as periferias de regiões precarizadas que muito frequentemente são utilizadas apenas como bairros dormitórios, uma vez que existem poucos recursos culturais e de lazer e esta população passa a maior parte do tempo no centro e/ou em bairros elitizados da cidade, trabalhando em serviços precários para garantir a sua sobrevivência. Ocupando esses espaços, que foram historicamente destinados à elite, essa classe marginalizada encontra-se sempre em uma posição de submissão, como prestadores de serviços. Quando essa lógica se inverte e estar ali se constitui como um direito, estas minorias políticas não se sentem pertencentes a estes lugares. Na medida em que direitos desse tipo foram transformados em privilégios de uma pequena parcela da população, a cidade e seus mecarusmos passaram a se constituir como uma violência simbólica para quem não consegue acessá-la, violência esta que diz respeito à manutenção das estruturas sociais e de dominação. No campo educacional, podemos perceber a reprodução deste modelo de sociedade desigual. Vivemos um grande sucateamento das escolas públicas, que são destinadas às classes populares, enquanto a classe média e alta paga e recebe desta instância educacional um serviço diferenciado, de qualidade, solapando das camadas SOCiaiSmais baixas o direito a uma formação integral. Já no ensino superior há uma inversão nas modalidades, mas não na lógica: estudantes advindos do ensino privado acessam as universidades públicas (consideradas de melhor qualidade) ou universidades privadas de primeira linha com mensalidades exorbitantes, enquanto as (os) estudantes de ensino público não têm .perspec~va de. acessar o I.ensino supenor, pOlS preClsam garantilr seu sustento e de sua farrúlia. -rbdavia, quando o acessam o fazem através de instituições privadas consideradas de baixa qualidade. Dessa maneira, percebe- se que no mundo contemporâneo, o pobre ainda não tem direito à educação. Historicamente, o espaço universitário é um sistema que promove a reprodução e perpetuação das desigualdades sociais. Este espaço nasceu para ser usufruído pelas classes dominantes. A presença de estudantes de classes populares em universidades reconhecidas como "de primeira linha" ainda é pouco expressiva, porém esse cenário vem aos poucos se modificando graças às políticas afirmativas como o Programa Universidade para Todos (proUni) , o 30 Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e as leis de cotas sociais e raciais. Estas políticas públicas foram pensadas para possibilitar a permanência de alunas (os) debaixa renda e/ou negras (os) nesses espaços que foram, por toda a história, destinados à burguesia. Sendo assim, essas políticas são de democratização e correção histórica do acesso ao ensino supenor e são extremamente necessárias, pOlS são mecamsmos fundamentais para a diminuição das desigualdades SOClalS. Agora, esta mudança no acesso à educação superior gera como um de seus reflexos a confrontação de classes sociais, na qual as pessoas pobres não se sentem reconhecidas e representadas nesses espaços, pois estão muito longe de sua realidade como evidência Bell Hooks: [...] a evocação constante das experiências das classes materialmente privilegiadas (geralmenteas da classemédia) como norma universal que não só afastava as pessoas da classe trabalhadora como também excluía os desprivilegiadosdas discussões e das atividades sociais (Hooks, 1994, p. 240). Esses conflitos gerados pelas diferentes origens de classe reverberam como um ato de violência, desdobrando- se em diversos conflitos para a (o) oprimida (o) que se vê pressionada (o) a abandonar as suas origens, valores, forma de se expressar e o modo de compreender a realidade. "A exigência de que os indivíduos cujas origens de classe são consideradas indesejáveisabram mão de todos os vestígios de seu passado cria turbulências psíquicas" (Hooks, 1994,p. 241). Com o intuito de ilustrar as questões supracitadas, entrevistamos duas estudantes oriundas de classes populares que estudam na Pontífica Universidade Católica de São Paulo (puc-SP) e na Universidade de São Paulo (USP) para que pudessem falar sobre a sua história, resistência e sentimentos envolvidos no espaço universitário. A partir dessas entrevistas foi confeccionado um vídeo de 12 minutos em que as entrevistadas expõem, de forma autônoma, seus conteúdos a respeito do estar, do conviver e do resistir na universidade. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para tratarmos do sentimento de pertença na universidade, e, além disso, sob uma perspectiva de classes, é notório que um dos temas circundantes de mbior relevância para a análise dos dados lé o preconceito. No seu livro "O CotidiaÁo e a História", Agnes Heller conceitua o preconceito como uma categoria do pensamento e do comportamento cotidiano, ou seja, apesar de ter a capacidade de influenciar pensamentos mais complexos como o científico oii o artístico, sua essência se encontra na esfera da cotidianidade. [...] devemos nos aproXlIllat da compreensão dos preconce tos partindo da esfera da cotidianid·de. São traços característicos da fida cotidiana: o caráter momentâneo 8, os efeitos, a natureza efêmera das motivações, a fixação repetitiva do ritmo, a rigidez do modo de da. (Heller, 1985,p.43). 31 A autora argumenta, ainda quí. o preconceito nasça de juízos provisórios da realidade, ou como ela gosta de chamar, ultrageneralizaçães, e que o indivíduo as assimila através da assunção própria de estereótipos e analogias já elaboradas ou da reprodução destas por uma "implantação" do meio cultural em que convive. Agora, ultrageneralizações são necessárias para a manutenção da nossa vida cotidiana, afinal, não podemos desprender um raciocínio filosófico, científico ou artístico a cada pensamento que tivermos. O preconceito então, se instaura, quando este juízo provisório é falso, ou seja, é refutado pela experiência, pelo conhecimento ou pela decisão moral individual. Nas palavras da autora: "Os juízos provisórios refutados pela ciência e por uma experiência cuidadosamente analisada, mas que se conservam inabalados contra todos os argumentos da razão, são preconceitos." (Heller, 1985, p.47). Para Heller, a maiona dos preconceitos é produto das classes dominantes, pois desejam manter a coesão de uma estrutura social que lhes beneficia. Em outras palavras, o preconceito é uma artimanha utilizada pela classe hegemônica em favor da manutenção de seus privilégios. Deve-se observar ainda, nesse contexto, que a classe burguesa produz preconceitos em muito maior medida que todas as classes sociais conhecidas até hoje. Isso não é apenas consequência de suas maiores possibilidades técnicas, mas também de seus esforços ideológicos hegemônicos: a classe burguesa aspira universalizar sua ideologia. (Heller, 1985, p.54). Dentro desse contexto, fica fácil notar como a universidade foi pensada para a manutenção do status quo social: primeiro, limita-se o acesso ao ensino de qualidade apenas àqueles pertencentes a determinada classe e segundo, estrutura- se ideologicamente, materialmente e arquitetonicamente o espaço universitário numa lógica classista e meritocrática, obrigando as (os) pertencentes das classes mais baixas a abrir mão de seus valores, suas referências e seus modos de ser em detrimento da aceitação dos valores da classe média que são tidos como referência universal na sala de aula. Bell Hooks evidencia que a classe é mais do que a condição econômica e nos alerta para as suas dimensões simbólica e determinante de interesses e valores. O que predomina na sala de aula são os valores e modos de vida das classes privilegiadas, desde a escolha dos assuntos, passando por suas perspectivas até às formas como o conhecimento é partilhado. A estrutura da sala de aula segue uma lógica racista, sexista e elitista, criando uma realidade de silenciamento das classes marginalizadas (Hooks, 1994). E isso gera um problema para a casa do saber, pois a limitação da expressão do seu modo de ser também é limitadora do pensamento. Esse silenciamento se constitui como uma negação do conhecimento (que muito frequentemente advém da experiência cotidiana) e consequentemente, do lugar de fala destes estudantes "não-pertencentes" ao espaço universitário da elite. Nesta perspectiva: Como ele a comunicará? Se tentar expô-ia, não será ouvido; pois os outros não conhecendo essaverdade, não a reconhecerão como tal; não saberão que o que ele está dizendo é verdade;não lhe prestaram atenção o suficientepara se aperceberemdisso; pois não terão nenhum motivo para realizar esse esforço de atenção. (Weil,2001.p 187). Simone Weil (2001) defende que a necessidade mais importante da alma é a 32 necessidade de enraizamento, sendo assim todos os seres humanos precisam criar raízes para que eles possam manter as memórias do seu passado, olhar para o futuro e conseguir manter sua coletividade, não reproduzindo assim pensamentos que não estejam atrelados a sua própria história e desta forma, preservando o importante papel da coletividade para vida humana. A participação natural, automaticamente, surge do lugar, do nascimento, da profissão, do ambiente. O ser humano precisa sempre ter múltiplas raízes, para que dessa forma ele saiba da sua totalidade da sua vida moral, intelectual, espiritual. Assim, como uma universitária (o) advinda (o) de classes marginalizadas pode enraizar-se em um ambiente que não é o dela (e), que não é ocupado pelos dela (e) e nem pensado, historicamente, para ela (e)? As violências vividas no meto universitário promovem um desenraizamento do indivíduo, anulando suas singularidades e promovendo uma homogeneização do espaço da sala de aula, onde todas as pessoas residentes do espaço são entendidas como iguais. Destaca-se o desenraizamento geográfico como um conceito que denota a falta de pertencimento a um determinado território, o não usufruir da coletividade em um determinado espaço (Weil, 2001). A autora evidencia a missão da nação em unir os indivíduos e conseguir assegurar uma ponte entre o passado e o futuro, direcionando-os e integrando-os aos espaços comuns a todos. A dificuldade reside no fato de que na atualidade, há uma falta de contextualização histórica. A historicidade, se não considerada, pode ser um fator agravante para o reconhecimento da coletividade e do sentimento de pertença aos espaços, nosentido de que os locais de construção de conhecimento como, por exemplo, as universidades, não pertencem somente a um grupo específico. Ela é supostamente destinada a todos os cidadãos e abrange a diversidade de público independente das condições socioeconômicas. O rompimento com a dominação histórica gera novas práticas e só acontece quando há uma visão crítica através de uma perspectiva histórica dos mecanismos de opressão, sobretudo quando advinda daqueles sujeitos que pelos fatores já enumerados, não se sentem pertencentes do espaço. A conquista de um direito ou de um território reforça a ideia de que a luta em grupo pode ter maiores proporções e maiores chances de sucesso (Weil, 2001). Nesse sentido os indivíduos que por vários fatores não se sentem pertencentes ou representados em determinado espaço, como nos contextos universitários, se juntam em organizações como os Coletivos, que são grupos abertos que privilegiam o pensamento crítico a ideias que se perpetuam como verdade dentro do contexto acadêmico. Nos casos em que há formação de grupos que - se articulam em prol de causas históricas de dominação em um determinado espaço, há o rompimento com o pensamento padrão dominante que vem de ideologias, por parte dos integrantes do grupo, nota-se aí um sentimento de pertencimento àquele ambiente, um estreitamento dos laços que reforça a luta e a ocupação do espaço. 33 Os Coletivos buscam visibilidade dentro desses espaços em prol de suas causas, e por sua vez podem causar mudanças nas práticas habituais de determinadas instituições, o que reforça o pensamento de quebra de ideias padrões do passado e proporciona a aproximação entre indivíduos que partilham de sofrimentos parecidos, criando identificação. METODOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Para a realização deste projeto (e entenda projeto como a confecção tanto do vídeo quanto deste artigo) utilizou-se como pressuposto de que existe, entre as (os) alunas (os) de classes marginalizadas presentes nas universidades consideradas da elite paulistana, um forte sentimento de não-pertencimento ao espaço. Esse pressuposto nos foi primordial, pois, todas (os) as (os) integrantes do grupo se identificam com esse sentimento em algum termo. O primeiro passo foi realizado um trabalho de revisão bibliográfica, visando o entendimento do que está por trás desse sentimento em nível estrutural. Dessa maneira, a leitura de Agnes Heller, Bell Hooks e Simone Weil foi imprescindível para a total compreensão do panorama opressor em que o sentimento de não-pertencimento conota intrinsecamente. Preconceito, opressão de classes e enraizamento são três conceitos-chave para este estudo, tendo em vista que sem eles a análise de dados sena definitivamente comprometida. Importante destacar que nesta etapa priorizamos a utilização apenas de autoras, entendendo que as mulheres compartilham de modo geral esse sentimento de não pertencimento ao ambiente acadêmico, de produção teórica, que é resultado de um processo histórico secular que as exclui deste espaço. O segundo passo foi, a partir dos conceitos teóricos levantados, elaborar um questionário semiestruturado que basearia nossas entrevistas com alunas (os) dessas universidades. Ainda dentro desse ponto, realizamos também a procura de um perfil de "entrevistada- alvo" para nosso estudo: Aluna (o) de uma das quatro melhores universidades de São Paulo (USP, Unifesp, PUC e Mackenzie), pobre, periférica (o), beneficiária (o) de algum programa de acesso ou de permanência na educação superior. A princípio, a ideia era realizar três entrevistas, porém, pelo tempo limite do vídeo, o projeto final ficou com apenas duas: Rebeca e Carina. O terceiro passo: a totalidade do processo de confecção do vídeo, desde a efetuação e gravação das entrevistas; com a escolha dos enquadramentos, ângulos e cenários; até o processo de edição final, com a escolha dos cortes, a formulação da montagem e a construção da narração "fílmica". Por fim, o último passo foi a elaboração deste artigo que demonstra todo o movimento de pensamento por trás desse projeto e traz análises dos dados colhidos à luz da teoria contida na bibliografia levantada e as conclusões obtidas nesse processo. ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA As questões de classe no ambiente educacional quase nunca são levadas em consideração ou discutidas, pois parte-se do pressuposto de que todos compartilham da mesma origem de classe, da mesma realidade, e os assuntos relacionados à pobreza são sempre extraclasse, sobre realidades externas julgando-se estar 34 distante da vida dos integrantes do espaço da sala de aula. Quando o conflito de classes é exposto, acredita-se na ilusão de que a sala de aula dilui qualquer diferença, ignorando as disparidades existentes na distribuição do saber e na absorção do conteúdo. Esse é o discurso meritocrático. A universidade constitui-se como um espaço de grande violência, sobretudo simbólica, para aquelas (es) que não partilham dos valores e privilégios da classe dominante. Pouco se discute - se é que se discute - o modo com que as atitudes e os valores das classes materialmente privilegiadas são impostas a todos por meio de estratégiaspedagógicas tendenciosas. Essas parcialidades, refletidas na escolha dos assuntos e na maneira como as ideiassão partilhadas, não precisam ser declaradas abertamente. Em seu ensaio, Karl Anderson afirma que a imposição do silêncioé 'o aspecto mais opressivo da vida da classe média'. (Hooks, 1994,p.238). A arquitetura, o conhecimento partilhado, a forma como esse conhecimento é transmitido, a maneira como as pessoas se portam, falam, e diversos outros aspectos constituem nesses espaços um cenário onde as pessoas pobres não se reconhecem. Não há figuras de referência, e todo conhecimento, seu modo de ser e sua história, é negado e ridicularizado. Piadas sobre a sua origem são constantes, e são raros, quando não inexistentes, espaços no qual a sua voz pode ser ouvida. A carência nas medidas de permanência estudantil é um dos principais aspectos que constitui e legitima o sentimento de não pertencimento, afinal, chegar à universidade, mas não conseguir se manter -e muitas vezes ter de abrir mão dela por questões materiais- demonstra que a dedicação aos estudos constitui um privilégio de poucos. Dentro desse aspecto, a universidade oprime, violenta e silencia classes marginalizadas através de uma estrutura que as obriga a abrir mão de seus valores, suas referências, suas expenencias e seus modos de ser em detrimento da aceitação dos valores em curso. Segundo Simone Weil, todos os sujeitos têm necessidade de criar raizes para que possam manter as memórias do passado, olhar para o futuro e manter sua coletividade. Podemos entender então o desenraizamento das classes populares como uma violência, que interfere na relação que estas (es) estudantes estabelecem com o espaço, o aprendizado e as relações sociais, que sempre vem acompanhado de uma corrente oculta de tensão. No vídeo podemos perceber dois movimentos nas falas, tanto da Carina quanto da Rebeca, que comprovam essas formulações teóricas. O primeiro deles é como elas lidam com questões de permanência estudantil, evidenciando a complexidade de responsabilidades no modo de vida da classe trabalhadora, que dificultam a dedicação aos estudos e a uma formação integral. E a necessidade de políticas afirmativas que busquem suportar aspectos dessa complexidade e garantir que elas possam, tanto quanto as (os) demais estudantes, permanecer na universidade e dedicar-se aos estudos. Desde já, fica evidente que estar na universidade e conseguir excelência acadêmica implica em levar um determinado estilo de vida que é antagônico ao da classe trabalhadora, sendo essa uma das formas de afirmação 35 simbólica quesubsidiam o sentimento de não pertencimento. Eu estou me formando em uma universidade, mas eu não estou me formando a historiadora que eu queria ser porque eu não tive tempo de me formar essa historiadora ... Porque eu trabalho 10 horas por dia e eu vou fazer o trabalho quando eu chegar da faculdade entre 1 e 4 horas da manhã. [...] hoje é o balanço do que eu não tive: do tempo que eu não tive, do dinheiro que eu não tive, da condição financeira que eu não tive. (Carina). o segundo movimento é exatamente o sentimento de pertença ao espaço universitário, muito bem resumido por Rebeca durante a entrevista quando ela afirma que "a gente é o não- lugar da universidade". As violências simbólicas e diretas, sejam elas expressadas pelos olhares, relações afetivas, estrutura da instituição, valores pregados e até mesmo verbalizadas, são uma constante afirmação de que a universidade não foi e não é construida e gestada para receber e manter estudantes das classes populares, de modo que elas (es) não conseguem criar raizes nesses espaços, e estabelecer relações de identidade e representação. A universidade não está preparada para lidar com o pobre e com o nosso pensamento. Não me sinto representada com a Universidade de São Paulo porque ela é uma faculdade elitizada, ela não foi construída pra mim, não foi feita pra mim. (Rebeca). Para essa parcela da população, estar na universidade é por si só um ato de resistência. Configura uma tripla jornada, baseada em: estar nesse espaço; forjar formas de luta e resistência para permanecer e se afirmar nele; e ainda, buscar efetivar formas para a transformação dessa realidade. Nesta medida, o movimento que as (os) estudantes pobres fazem dentro das universidades que sempre foram destinadas às classes privilegiadas é um ato contra-hegenômico, de subversão à ordem existente. A recusa em ser conivente com atos de silenciamento e apagamento das suas origens, história e iguais, tem a potencialidade de transformar a sala de aula e outros ambientes educacionais em espaços de questionamento e de desenvolvimento de um pensamento crítico. Mas aqueles entre nós que vêm da classe trabalhadora não podem deixar que o antagonismo de classe nos impeça de adquirir conhecimento, progredir na hierarquia acadêmica e gozar os aspectos satisfatórios do ensino superior. (Hooks, 1994, p. 243) A resistência não se dá apenas de modo individual, mas na organização coletiva das pessoas que partilham da mesma realidade, sendo esses espaços formas de fortalecimento e de escuta, para que esses sujeitos possam dar vazão a esses sentimentos oriundos das contradições da nossa sociedade, canalizando-os em uma forma de luta política e forjando modos e alternativas de enfrentar as dificuldades e o sofrimento ético-político que emergem dessas violências. Mas tem uma coisa na PUC que é muito legal, que é uma aproximação entre prounistas, a gente se ajuda muito, porque é quem eu reconheço e quem eu consigo olhar e falar: Cara, eu posso respirar perto de você. Em contrapartida, não é só responsabilidade das (os) estudantes operar a mudança, as (os) professoras (es) 36 ainda apresentam muita resistência ao questionamento e à transformação desse espaço de monólogo (no qual só as (os) professoras (es) falam) para um diálogo. É preciso que as (os) professoras (es) se reconheçam dentro deste processo. Reconheçam que também partilham de origens sociais e realidade diferentes, mas sempre comprometida (o) em construir uma sala de aula democrática, criar espaços em que essas vozes sejam ouvidas e estabelecer um diálogo entre as diferentes realidades, não para simplesmente aceitá-ias, mas para que haja um comprometimento em mudá-ias, superando esse panorama de supressão de direitos. É importante que a professora (o) se atente em romper com as naturalizações. Esse é um passo fundamental para que se cne a possibilidade de pertencimento das pessoas pobres na universidade. Nesse sentido, Hooks afirma: Mas não pode haver intervenção que desafie o status quo se não estivermos dispostos a questionar o modo como não só nosso processo pedagógico, mas também nossa autoapresentação cos tumam ser moldadas pelas normas da classe média. (Hooks, 1994, p.245). Por fim, precisam-se avançar também políticas de afirmação que possibilitem a modificação dessa realidade, não só por meio de garantia do ingresso, mas uma real inclusão visando a permanência, o que implica em uma luta pela efetivação de políticas públicas, sejam elas novas ou aprimoramento das políticas Ja existentes. O ambiente universitário de forma geral precisa se reinventar. E reinventa-se no processo dialético que se dá na dinâmica cotidiana de todos esses fatores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HELLER, Agnes. Sobre os Preconceitos. ln: HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Paz e Terra, p. 43- 63, 1985. HOOKS, Bell. Confrontação da Classe Social na Sala de Aula. In: HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: A Educação Como Prática da Liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. WElL, Simone. O Enraizamento. São Paulo: EDUSC, 2001. 37 MEMÓRIA E PERTENÇA REFUGIADOS: PRESERVAÇÃO DA CULTURA E MEMÓRIA Autores: Bruno Setti, Diogo Amaral, Oliveira, Leslie Meireles e Renata Monteiro. Orientador: Prof. Dr. José Estevam Salgueiro. INTRODUÇÃO Observa-se em relação aos tempos hodiernos que o número de imigrantes no Brasil tem aumentado de forma exponencial. Variadas são as razões apontadas pelo fluxo migratório, embora bastantes diversas do século anterior em seu período de pós-guerras. Alguns iniciam no país para estudar, melhorar de vida ao adquirir um ofício remunerado, criar um negócio próprio, entre outras. Famílias são deixadas para trás assim como suas histórias e culturas., E por aqui, em grande parte das vezes, permanecem para sempre. Saem de seus países movidos pela transferência temporária de um empregador com experimento de uma vida melhor no exterior, evitando áreas de desordens ou de desgraças ambientais. O presente trabalho visa abordar como população um grupo específico, que embora também se desloque de seu natural país, tem como objetivo escapar de conflitos armados ou perseguições: o refugiado. Que, pela definição da Organização das nações Unidas, é aquele que foge de sua pátria por medo, por real ameaça ou por consequência de uma situação de violência, física ou psicológica. Sabe-se que o direito internacional concebe e protege os refugiados, dando acesso aos procedimentos de abrigo justos e eficientes, garantindo respeito e cumprimento de seus direitos básicos. Sendo assim, os Estados possuem a responsabilidade primordial desta proteção. Evetyl1 Sabendo que a globalização e industrialização se dão em praticamente em todos os lugares, os refugiados ao entrarem no país se deparam com uma acentuada condição ocidental do mercado de trabalho, no sentido de que os horários de labuta são mais longos, assim como a mistura corriqueira de grandes metrópoles. A autora Ecléa Bosi em O tempo vivo da memória (2003, p.24) irá afirmar que há um "embotamento cognitivo" provocado pela sociedade industrial que multiplica horas mortas como tempos vagos de filas, bancos, burocracias. Afastando de exercer a simples observação do mundo e do conhecimento do outro. E para preservarem a memória de seus antigos lares, muitos refugiados guardam objetos como uma forma de lembrar seu pertencimento inicial. Tais objetos são mais do que uma simples sensação estética, são formadores de identidade, carregam sentimentos de suas almas, sobretudo, os objetos que sempre estiveram ao longo de suas vidas. São objetos biográficos que envelhecem com o ser humano. Na medida em que quanto mais voltado para o cotidiano, mais expressivos serão: O relógio de família, o álbum de fotografias, entre outros. Possibilitamuma pacífica sensação de continuidade (BOSI, 2003). Em contrapartida, os refugiados vão contraindo objetos que existem apenas com função de status, que não envelhecem com o dono, apenas se desgastam. Nesse sentido, a autora vai 38 dizer que o sistema econômico é condição da condenação e deterioração dos objetos significativos e biográficos. Dessa forma, o sentimento de pertença à sua pátria anterior não necessita da presença atual de seus componentes, de modo que os objetos carregam marcas assim como a relação com seus pares, antigos companheiros que reconstroem o passado através da memória coletiva. Ainda em se tratando da memória coletiva e tendo em vista o fato de que os refugiados quase sempre procuram relacionamento com seus iguais, pode-se supor que seu apoio social se dá através de situações em que o passado de um homem pode ser vivido mais intensamente como o passado do grupo par. Carece de uma participação enraizada dos homens no coletivo. Simone Weil (1943) tecerá algumas considerações importantes sobre esse enraizamento: o enraizamento é talvez a necessidademais importante e mais desconhecida da alma humana. É uma das mais difíceis de definir. O ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro (Weil,1943,p. 411). De acordo com a autora, o enraizamento é difundir e preservar a cultura por meios materiais ou imateriais, valorizar a memória coletiva e assim, ser um individuo completo, com passado e real em várias esferas. Ele implica a colaboração de um homem entre outros, em situações e contextos bastante determinados, participando de grupos que cultivam legados do passado. Tais heranças podem ser transferidas por meio de ensinamentos, normas e práticas de mais velhos. Os bens materiais dizem respeito aos objetos biográficos, à paisagem de uma cidade, à terra de um ancestral. Cabe ressaltar que é por meio do surgir diante do outro que os homens constroem sua identidade pessoal. A pluralidade é condição para a ação e para o discurso, o que permite dizer que o enraizamento não está fechado a um isolamento geográfico (WEIL, 1943). Em contrapartida, Simone Weil (1943), fará considerações acerca do conceito de desenraizamento. Sendo este o ato de assassinar o passado, ignorar a cultura, a herança, as lembranças. Pode ser ferramenta da ideologia dominante. O individuo despersonifica-se, não mais reconhecendo suas origens. Perde-se a base: Quando o conquistador permanece estrangeiro ao território de que se tornou possuidor, o desenraizamento é uma doença quase mortal para as populações submetidas. Atinge o grau mais agudo quando há deportações maciças, como na Europa ocupada pela Alemanha ou nos meandros do Niger, ou quando há supressão brutal de todas as tradições locais, como nas possessões francesas da Oceania... (WEIL, 1943,p.44). Os tempos atuais que fazem tecer formulações acerca do conceito de desenraizamento não são acidentais e aleatórios. Na medida em que em os contextos que ameaçam as raízes da participação de refugiados, enquanto homens, na vida comunitária são condições que danificam a memória social. 39 Diante deste contexto, este projeto teve por objetivo relacionar, tendo em vista a importância dada à psicologia como uma área do conhecimento que abrange o desenvolvimento, comportamento, crenças e sentimentos do ser humano as, vivências dos refugiados no território brasileiro a partir dos relatos de memória verbal com o conceito de memória de Simone Weil e Ecléa Bosi, a fim de compreender os processos psíquicos envolvidos. DESENVOLVIMENTO Observa-se que nos últimos anos o número de pessoas que precisaram sair de seus países de origem aumentou signiflcativamente. Seja para fugir da guerra, da fome da pobreza, das divergências políticas ou para buscar melhores condições de vida. No entanto, ao chegar ao novo país, ao invés de receberem ajuda, passam por uma série de preconceitos relacionados tanto à questão da etnia quanto à financeira: Eu sofri vanos preconceitos: preconceito por eu ser preto, depois por eu ser estrangeiro e também por ser africano. Então... É uma coisa que prevalecemuito, que prevaleceu muito quando eu cheguei. Porque quando você chega, as pessoas não querem saber quem você é ou que você é. A primeira aparência que as pessoas têm já uma definição do que você é. E ainda quando eu cheguei aqui, de roupa rasgada e tal, as pessoas ainda achavam que eu era mendigo... E dormi fora... Fiquei dormindo num abrigo, num quarto cheio de gente... Então ... Foi pesado. (S.B.) Enraizamento para Simone Weil é o indivíduo que se reconhece inserido em sua cultura e portanto também é atuante dentro da mesma. Já o individuo desenraizado não transmite e não se sente como transmissor: O sentimento de pertença à sua pátria anterior não necessita da presença atual de seus componentes, de modo que os objetos carregam marcas assim como a relação com seus pares, antigos companheiros que reconstroem o passado através da memória coletiva. A questão de roupa já é muita coisa... porque os haitianos se vestem mais ou menos como americanos. (S.A.) A roupa eles me veem como capitalista, tem uma visão tipo americana sabe... Então quando eu cheguei aqui foi quase a mesma coisa. (S.B.) A utilização de roupas ditas como comum ao americano, pode signiflcar o quanto uma ideologia dominante está infiltrada no discurso, nos modos de agir e se vestir. No entanto, como nos relatos abaixo, há uma preservação da cultura pela lembrança e a linguagem oral permite o acesso às sensibilidades que na história formal não se mostrariam. O relato é carregado de paixões e emoções. Os documentos oficiais, orientados por ideologia não poderiam transmitir a dinâmica que é a realidade. Comida, eu senti falta das ervas, porque a gente come muita erva, folha de mandioca, folha de batata doce. Muita coisa assim que aqui não é presente. (S.B). Em questão da comida, tem muito isso lá no Glicério, que todo domingo de manhã eles fazem uma sopa. É uma lembrança isso, de quando os haitianos quebraram a época de escravidão.Todo mundo se juntava e fazia uma sopa e cada um pegavauma sopa pra comer. (S.A.) Eu escuto músicas de lá. Escuto Rap, Guetto Zouk, que é o Zouk de lá; 40 Afrohouse que é de lá; o Kuduro que é de lá. As músicas daqui eu sempre fui Ia, desde muito pequeno eu fui fã de Zezé Di camargo e Luciano e também o Leonardo. (S. B.) Eu voltei lá na missão da paz, de novo. Eu vi um monte de haitiano lá, que tem piano. Tem zuma banda haitiana. Eu falei "Mas é uma banda haitiana daqui?" Porque eu toco bateria. Teve uma pessoa que falou ''Você é músico" Eu falei "não" "Mas eu não gostei dessa banda, eles não tocam muito bem". (S. A.) A subjetividade existe para permitir que todos relatem suas vivências, dentro de um tempo e espaço definidos, mesmo partilhando algumas variáveis entre si. Ouvir fragmentos ajuda a recriar continuamente a história formal, de forma mais livre e fluida. O tecnicismo atual não permite que sejamos nostálgicos, mas este é um sentimento humano e, portanto, um direito. A globalização não consegue explicar tudo o que aconteceu em todos territórios culturas e épocas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nós, do grupo, chegamos a um conhecimento privilegiado através deste trabalho. Juntando-se ao conhecimento de Simone Weil e Ecléa Bosi, vimos o quanto um refugiado pode deixar pra trás, e o quanto espera saindo de seu país. Os entrevistados nos mostraram dois lados antagônicos: um que tem cultura, que a valorizam e transmitem, e outro que não dá muita importância à cultura, e já tinha conhecimento prévio do Brasil. A partir disso pode-se ver claramente os conceitos de desenraizamento e enraizamento,criados por Simone Weil, sendo estes ligados ou não à cultura. Pudemos nos colocar de certo modo no lugar deles, conhecendo parte de suas histórias e empatizando com eles, vendo a importância da memória para a subjetividade do sujeito e como um refugiado pode passar por situações difíceis onde ele fica sujeito ao outro, e abrindo mão de suas convicções, por estar em uma situação vulnerável. Portanto, há de se ir atrás de conhecimento, sempre preparado para o que está por vir, estando disposto a mudar a partir da experiência que se tem, sendo empático com o outro. Tiramos desse trabalho uma lição de ter outra visão para com os refugiados, e com isso talvez tentar passar esse conhecimento aos outros em nossa volta. Vimos o quanto eles gostam daqui e isso nos fez sentir bem, com um sentimento de pertencimento a isso que eles agradecem existir. Mesmo tendo inúmeros' problemas também, os entrevistados apenas nos mostraram as partes mais importantes de suas histórias. Não sabendo como foi a experiência em si para eles, nós propomos aqui um lugar de empatia para com os refugiados, visto que para eles nossa pátria agora é, de certo modo, deles também. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOSI, Ecléa. A Pesquisa Em Memória Social. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1993. BOSI, Ecléa. O Tempo Vivo da Memória. São Paulo, Ateliê, 2003. WEIL, Simone. O Enraizamento. EDUSC, 2001, 10 edição. 41 r- I FEIRA DE TROCAS! TIRA, PÕE, DEIXA FICAR Autores: Beatriz Borges, Gabriela Rodrigues, Gabriella Moreira, Laerte Bezerra, Maria lnácia, Mariana Santini e Raphael Martins. Orientador: Prof" Dr. José Estevam Salgueiro INTRODUÇÃO Os violentos impactos ambientais, econômicos, psicológicos, políticos e SOCla1S, causados pelo selvagem capitalismo são campos de estudos a serem problematizados e discutidos academicamente a fIm de encontrar respostas e propor reflexões sobre os temas. A crescente degradação ambiental coloca a humanidade diante de um conjunto de problemáticas que impactam, direta e indiretamente, nas condições de reprodução planetária. No campo das ciências sociais e da psicologia, que é o nosso objeto de atuação, são estudados os comportamentos e impactos destes fenômenos na vida humana e na psique dos sujeitos. Para tanto, é necessário compreender historicamente como se deu esse processo, pOlS nem sempre os homens viveram em sociedade, passando por fases primitivas, agrícolas e de aperfeiçoamento de ferramentas mediadoras que facilitaram a vida em sociedade, gerando um sistema no qual trabalhavam para a manutenção dela. Além disso, essas novas configurações fizeram com que os homens deixassem o nomadismo - fixando-se e tornando-se sedentários, capazes de transformar a natureza para a sobrevivência. Essa nova configuração fez com que o homem trabalhasse para manter a comunidade e a vida de seus membros comuns produzindo aquilo que consumiam. Nessa nova organização de homens estabelecidos, o trabalho foi dividido de acordo com aptidões e formas físicas, aumentando a produtividade e gerando excedentes, propiciando o surgimento do comércio. Segundo Smith (1996) o homem buscou aumentar os excedentes de suas propriedades privadas com o objetivo de lucrar, ainda que não monetariamente, o maior rendimento possível e assim, as primeiras trocas surgiram como um sistema de comércio de produtos por produtos, ou seja, excedentes por excedentes e com ISSO surgiram as primeiras problemáticas que se estendem até os dias atuais. como a falta de coincidência ou equiparação dando origem ao valor da troca, divisibilidade, confiabilidade e a excessiva valoração do valor de uso pelo valor de troca e suas representações Como valores-de-uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de qualidade diferente; como valores-de-troca, só podem diferir na quantidade, não contendo, portanto, nenhum átomo de valor-de-uso QVU\RJ{, 2002, p. 59) Com isso, tornou-se necessário mediar as negociações e facilitar o processo, surgindo as primeiras moedas de troca e mercadorias. Esse breve resgate histórico torna-se importante para compreender algumas práticas ainda presentes na contemporaneidade. O escambo não voltou, o escambo sempre existiu, mas ao longo dos anos ganhou características 42 diferentes, organizou-se em novas plataformas como as comunidades online na internet ou as feiras presenciais de trocas fixas, originou estudos e novas formas de consumo - e hoje é peça participante do amplo conceito de economia solidária, que será trabalhado a seguir. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A sociedade vive dentro da lógica capitalista, valorizando produções em larga escala para atingir o maior número de consumidores, visando sempre o lucro sem se preocupar com os danos que são causados ao meio ambiente, a falta de condições trabalhistas, as crueldades cometidas durante os processos de produção que afetam tanto animais como seres humanos. Em contrapartida, a economia solidaria vem com a proposta de ser uma alternativa a esta lógica, sendo assim mais humanizada. Focada na socialização de pose e uso e na produção e distribuição desses meios, a economia solidária é segundo a definição do fórum brasileiro de economia social, em seu sentido econômico, um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação: a autogestão. Em casos de cooperativas e associações comunitárias de produção, essa autogestão promove autonomia sobre as vidas dos sujeitos e como administram seu capital. Por não existir hierarquia fixa as pessoas podem participar de vários tipos de atividades, aprendendo diversas profissões, além disso o fato de não existir empregador nem empregado não cria um regime opressor e aproxima a comunidade através das feiras de trocas organizadas por ongs, iniciativas dos próprios participantes ou agências regulamentadoras para comercialização dos produtos produzidos. Essas configurações propiciam que as pessoas se relacionem e desenvolvam capacidades de pensar coletivamente, seja através da produção e autonomia de si, ou através do produto final, as trocas de serviços, produtos ou experiências essenciais para o crescimento pessoal de cada sujeito. É um termo recente que se mostra como uma alternativa não apenas para os excluídos do sistema capitalista, mas também para aqueles que optam por uma mudança de modelo. o conceito se refere a organizações de produtores, consumidores, poupadores, etc., que se distinguem por duas especificidades: (1) estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da autogestão e (2) praticam a solidariedadepara com a população trabalhadora em geral,com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos (SINGER,2002). Com caráter sustentável, beneficiando os envolvidos e propondo repensar a utilidade de determinados produtos, ela vai contra a obsolescência programada de bens supostamente duráveis e preza uma real durabilidade. Ela também pode ser pensada no âmbito social, pois é uma forma de economia que pode gerar empregabilidade para comunidades, mudando a forma dos sujeitos se relacionarem com o dinheiro e com o trabalho. As atividades da econorrua solidária incluem a produção, consumo e o crédito, representadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, 43 feiras solidárias e demais empreendimentos auto gestionários que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. O SENAES- Secretaria Nacional de Economia Solidária- foi criado no governo do ex-presidente Luis lnácio "Lula" da Silva em 2003 no Brasil ajudando a criar mais destaques dessa prática. O escambo ou feira de trocas, é uma das atividades da economia solidária que têm como característica a solidariedade,uma vez que não é necessário que algum dos participantes busque tirar vantagem ou sair ganhando nas trocas envolvidas, já que o ganhar é o fim de ambas as partes. Porém, podem existir barreiras para que isso aconteça: o capitalismo se tomou dominante há tanto tempo que tendemos a tomá-Ia como normal ou natural. O que significa que a economia de mercado deve ser competitiva em todos os sentidos (SINGER, 2002). E esta dificuldade aumenta: A troca em espécie pressupunha, além disso, que o valor das duas mercadorias fosse o mesmo, ou que uma delas, pelo menos, fosse facilmente divisível (SCHMIDT JR., 1935). Assim, precisando de uma coincidência de valor para o produto, o chamado valor-de-uso que se dá pela utilidade desse produto para aquela pessoa e não o preço que ele tem nas lojas. Relacionando com Hanna Arendt e seu texto sobre trabalho, obra e ação como condição humana, pensamos que o trabalho vem do nosso corpo, ao plantar, cozinhar, capinar, movimento que exige esforço, concentração e repetição física completando a obra (work) de nossas mãos. Na linguagem Aristotélica: "Trabalhadores são aqueles que com seus corpos atendem a necessidade da vida". A atividade do trabalho nunca chega a um fim enquanto durar a vida, é infinitamente repetitivo. É atingido quando o objeto está terminado. Pronto para entrar no mundo comum das coisas e dos objetos. A potência de trabalho do homem em produzir bens de consumo a mais do que necessita para sua sobrevivência e de sua família. Esta abundância de consumo permite ao homem escravizar ou explorar seus semelhantes, mas à medida que somos criaturas vivas, é através do trabalho que podemos permanecer no círculo prescrito pela natureza, afadigando-se e descansando, trabalhando e consumindo regularmente feliz onde cada um contribui de sua maneira para o propósito de que dia e noite, na vida ou na morte venham suceder um ao outro. A Obra constitui o artifício humano, o lugar onde vivemos, objetos de uso, e se usado adequadamente não desaparece, mas dá ao mundo estabilidade - sem a qual não poderíamos abrigar a criatura humana, que é tão instável. As coisas que consumimos não duram para sempre, não são absolutas, elas se degradam, desaparecem e retornam ao processo natural. Nos dias de hoje, o ser humano vem buscando alternativas para compensar este excesso de objetos acumulados que tomaram espaços e perderam suas funções. Uma alternativa para o descarte com a finalidade de poder ser utilizado por outras pessoas é o 44 escambo, que prop1Cia o descarte adequado e aqulSlçao de novas mercadorias sem o uso de moeda. Esta oportunidade está satisfazendo e colaborando para um equilíbrio nos hábitos de consumo e conscientizando o indivíduo da superficialidade de suas práticas consumistas. Por fim, a ação contempla a pluralidade do ser humano, característica que tem o poder de fazer com que o ele se integre à esfera pública, de fazer com que ele revele quem ele é e inicie novos processos de identificação. As relações no escambo, ou feira de trocas, colocam o ser humano em contato com o outro e consigo mesmo, estreitando relações, possibilitando entender que ação, trabalho e obra se completam quando caminham juntos. Sem a ação, e sem a capacidade de iniciar algo novo, a vida do homem se resumiria entre nascer e morrer. A ação com suas incertezas, é sempre um lembrete para o homem iniciar algo novo. Apenas um modo de dizer que com a criação do homem o princípio de liberdade surgiu sobre a terra. A ação é o campo libertador do ser, pois é através dela que a alteridade se manifesta e com isso além do valor-de- uso podemos ter também o valor de relação, a possibilidade de se relacionar e de reconhecer o outro ao fazer uma troca, não só do produto, mas de experiências através de objetos e serviços. Pensando na feira de trocas como um grupo, pode-se pensar que ela funciona como uma oficina em dinâmica de grupo. Segundo AFONSO (2006), oficina é um termo designado a um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros e possuindo como foco uma questão central na qual o grupo se propõe a elaborar. Essa elaboração não ocorre necessariamente de uma forma racional, mas sempre envolve sujeitos integralmente, elaborando suas maneiras de pensar, agir e sentir. Isso é observado na feira quando muitas vezes, os sujeitos ali presentes estão contribuindo com algumas questões sociais envolvendo problemáticas que são enfrentadas atualmente, como o consumo irresponsável, questões ambientais, etc., mesmo que de maneira irracional. Essas problemáticas relacionadas ao consumo e que são colocadas em prática na feira, são discutidas e colocadas em pauta na entrevista que foi realizada com as organizadoras da feira de trocas do Espaço Crisantempo, Gorda Azevedo e Danila Bustamante. Nesse caso, a oficina acaba envolvendo uma ação comunitária. Vale ressaltar que a feira de trocas é uma atividade prática do espaço que é um espaço de educação e promove o esclarecimento sobre a sustentabilidade exibindo filmes, palestras e mostras culturais desde 2008. Durante o evento do escambo, pôde ser observado a figura de uma pessoa que realizava o papel de coordenador da oficina, no caso Gorda Azevedo, uma das idealizadoras do evento. Sua função durante a feira era a de facilitar para o grupo a realização de sua tarefa (no caso, as trocas), sem assumir o lugar de alguém que detém a verdade ou decidir pelo grupo. Ela possuía um papel ativo sem ser intrusiva, sempre conduzia as atividades, mas nunca fazia nenhuma imposição. Era visível o caráter de acolhimento e incentivo que a coordenadora possuía no evento, sempre incentivando as pessoas a participarem das atividades e convidando 45 principalmente aqueles que eram novos ali, pessoas que estavam lá pela primeira vez, acolhendo a todos, inclusive ao grupo que foi realizar a pesquisa no dia do evento. o conhecimento resultante daquele momento de trocas (como já citado anteriormente, mesmo que produzido de maneira "irracional"), relacionado as praticas de consumo sustentável, era uma construção grupal. A pessoa que realizava o papel de coordenadora fazia com que a palavra circulasse por todos, utilizando um microfone como instrumento e não deixando que o mesmo se tornasse um tipo de "detentor de poder". Assim, sempre que alguém queria dizer algo para todos durante a realização das trocas, ia até o local onde se encontrava a coordenadora com o microfone e pedia para que seu recado fosse anunciado. O papel que a Gorda realizava ali no grupo era de coordenadora e não de diretora, procurando sempre facilitar a realização das trocas entre os participantes da feira. As trocas realizadas no encontro, se forem analisadas de maneira mais profunda, não eram apenas dos objetos propriamente ditos, mas também de experiências e conhecimentos (muitas pessoas trocavam serviços como palestras sobre determinados assuntos, atividades manuais, etc., por outro tipo de serviços ou produtos materiais) entre as pessoas que ali se encontravam. A partir dos relatos coletados durante as entrevistas, foi possível constatar a presença de laços afetivos que foram formados durante os encontros nas feiras, as quais acontecem todo primeiro domingo do mês. METODOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Para a realização da experiência de estágio, utilizou-se como instrumento metodológico a entrevista semiestruturada, recursos de audiovisual para gravar as entrevistas e observação participante, sendo que o grupo levou produtos para troca e alimentos para contribuir com o lanche colaborativo. ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA O trabalho atende as necessidades da vida e através dele vem a remuneração que oferece a oportunidade de realizar desejos. O corpo do homem é um instrumento de trabalho, sendo utilizado para satisfazer a necessidadesaté então não conhecidas. Utilizando a natureza e sua matéria prima para realizar a obra, que ligada ao trabalho mostra e expõe ao indivíduo o objeto fabricado. Porém o intenso consumo desse objeto torna o homem escravo dessa obra, podendo ele se ordenar um acumulador e detentor da destruição da própria natureza, que cedeu a matéria pnma. A potência do trabalho em produzir bens de consumo tende a buscar alternativas para se livrar desse acúmulo, sendo através do escambo a maneira mais apropriada e a partir disso compreende-se sua superficialidade, abrindo espaço para se relacionar novamente com o outro. Dentro deste conceito de econOillla solidária e escambo, percebemos que as relações estabelecidas pelos indivíduos ultrapassam os princípios econômicos, sendo estes a ideia de um consumo consciente, voltado contra as práticas capitalistas, aprofundando as relações humanas por 46 meio das trocas, em que passamos a ter mais consciência do que precisamos. A visita ao Espaço Crisantempo proporcionou uma nova forma de olhar para como estabelecemos as relações sociais com o dinheiro e com as pessoas, na feira são realizadas trocas de todos os tipos de objetos, serviços e por meio do contato informal trocam-se experiências e histórias, compartilhando sentimentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GALBRAITH, J. K. Moeda: de onde veio, para onde foi. 2' Ed. São Paulo: Pioneira, 1997. MARX, K. Formações Econômicas Pré- Capitalistas. 6' Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1991. ___ o O Capital: crítica da economia política. Livro 1. 20' Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. SCHMIDT JÚNIOR, A. Moedas e Systemas Monetários. Primeira Parte. São Paulo: Revista dos Tribunaes, 1935. Ministério do Trabalho. O que é Economia Solidária? Disponível em: http://www.mtps.gov.br/trabalhador- economia-solidaria/o-que-e SINGER, Paul (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. SCHMIDT JÚNIOR, A. Moedas e Systemas Monetários. Primeira Parte. São Paulo: Revista dos Tribunaes, 1935. AFONSO, Maria Lúcia (Org.) Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde: Um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. I ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo; revisão técnica: Adriano Correia. 8' ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. 47 EDUCAÇÃO INCLUSÃO SOB UMA PERSPECTIVA PESSOAL E FAMILIAR Autores: Andréa Latterza, Julia Scheuer, Nilza Trevisani, Olga Oliveira, Thais Gimenez. Oritentadora: Prof" Figueiredo Bacchereti. Ms. Susete INTRODUÇÃO A dinâmica familiar sofre mudanças diversas, em virtude das adversidades que a deficiência impõe e que a sociedade desconhece ou não quer reconhecer. Considerando-se que a principal função da família é assegurar as necessidades dos seus membros, os conceitos de integração e inclusão desde cedo começam a fazer sentido no contexto de uma família que enfrenta a deficiência de uma criança. Perante as novas exigências que surgem, as famílias têm de se adaptar aos problemas decorrentes de cada etapa de desenvolvimento e reformular as suas funções no seio familiar. No entanto, é quando a criança com deficiência entra no sistema de ensino, que os mesmos conceitos ganham mais relevância, pelo maior contato com a sociedade. Para além da deficiência há um sujeito com desejos, vitórias, medos, limitações, com concepções, fazeres, gostos, vontades que não devem ser negligenciados em generalizações. Acredita-se que como consequência do interesse e da busca pelo conhecimento mais aprofundado desta problemática, e com o apoio da legislação, poderão conceber-se novas estratégias de apoio e intervenção positiva junto às famílias das pessoas com deficiência. REFERENCIAL TEÓRICO A construção da família é estabelecida por relações de parentesco, aliança ou afinidade que podem acontecer através do casamento, ou ainda de uniões consensuais sem o vínculo legal, e assim os ascendentes e dependentes irão estabelecer as relações de dependência. (ABADE, 2014, p. 17). É importante ressaltar que não importa a configuração familiar, mas ela se constitui indispensável à criança em desenvolvimento, local de proteção, agente da primeira socialização, e aprendizado das relações do comportamento em sociedade. (OLIVEIRA, 2009, p. 83). Ao longo da história a criança não tinha esse espaço afetivo e prioritário dentro das relações familiares. Sua importância foi construída no percurso suceSSIVO das gerações, conforme pesquisa do historiador francês Philippe Ariês (1981), que realizou estudos da iconografia da era medieval à modernidade, observando Imagens e concepções da infância através dos tempos. Ele aponta que a infância é o resultado das modificações da estrutura social, sendo assim a ela é o produto da vida moderna. (ANDRADE, 2010 p. 48). Comenius (1592-1670) é um dos primeiros educadores que propõem uma educação adequada a cada etapa do desenvolvimento humano, e vai mais longe quando admite que até os "debéis mentais" podem ser educados. Sua proposta era o ensino de tudo a todos; crianças, adultos, deficientes, normais, qualquer categoria social, todos podiam e 48 deviam ser educados. (CAUVILLA, 1999, p.74-76) o desenvolvimento da educação especial no Brasil sofreu mudanças e progressos desde os tempos coloniais, quando, num contexto social isento de instrução, os deficientes e suas necessidades passavam despercebidos pela sociedade, e a educação do deficiente se concentrava basicamente no ensino de trabalhos manuais aos mesmos. A aceitação e a valorização da diversidade, a cooperação entre diferentes e a aprendizagem da multiplicidade são valores que norteiam a inclusão social, entendida como o processo pelo qual a sociedade se adapta de forma a poder incluir, em todos os seus sistemas, pessoas com necessidades especiais e, em simultâneo, estas se preparam para assunur o seu papel na sociedade. (SILVA, 2009, p. 144). o tema da inclusão social pode ser definido tendo como ponto de partida seu oposto, a exclusão social. Ao falar da inclusão, falamos de um conflito histórico e pertencente a certo funcionamento social, determinado pela exclusão social; o sistema em que vivemos é excludente em sua raiz. Dessa forma, falar em inclusão é perceber as práticas exclusivas constitutivas de nossa sociedade, uma sociedade de desiguais. (MACHADO, ALMEIDA, SARAIVA, 2009 p. 21). Vigotski nos deixou um importante legado referente às formas como as aprendizagens ocorrem, as quais devem contribuir para o desenvolvimento do sujeito, através das relações sociais. Entre tantos estudos voltados ao conhecimento do desenvolvimento humano, ele dedicou também a investigar = o desenvolvimento da criança deficiente. (fOLEDO, 2009, P 4131) A Defectologia Vygotskiana caracteriza-se pela busca de um entendimento qualitativo da deficiência, compreendendo o "funcionamento" das pessoas com deficiência, isto é, como se constitui o seu pensamento, como interagem com o meio, de que modo enfrentam as dificuldades, que alternativas buscam. (VIGOTSKI, 1989) Garcia (1999, p. 42) afirma que para Vigotski o desenvolvimento se apresenta em dois níveis, o real e o potencial; o primeiro representa aquilo que a criança pode realizar sozinha, e o segundo o que ela só conseguirá com a ajuda de outra pessoa mais capacitada ou realizará através da imitação. A Zona de Desenvolvimento Proximal se caracteriza, assim, como a ponte existente entre esses dois níveis de desenvolvimento, o percurso que fará o indivíduo para alcançar a maturação dos processos de aprendizado. (MEDEIROS, 2013, P.119) Um dos valores inestimáveis da obra de Vigotski é que, além da preocupação em buscar novos paradigmas para a compreensão da psique humana, propõe novas propostas de intervenção apartir deles. Assim é que, ao mesmo tempo em que nos propõe um novo olhar sobre a deficiência, nos dá pistas de como agir para superá-ia. (COSTA, 2006, p. 237- 238) Considerando-se que a principal função da família é assegurar as necessidades dos seus membros, quer a nível individual, quer a nível coletivo, os papéis da família acabam por ter como 49 principal finalidade sustentar essas mesmas necessidades, que podem ser agrupadas em necessidades econômicas, cuidados diários, recreativas, de socialização, de auto-identidade, de afeto, e necessidades de atendimento educativo. (DUARTE, 2010, p. 47 -50). Nesse percurso, quando chega o momento de proporcionar educação à criança com necessidades educativas especiais e há necessidade de encarar as possibilidades escolares, há um pico de tensão na família (DUARTE, 2010, p. 35) Esse período também apresenta peculiaridades para o próprio aluno. Até então acostumado com o contexto familiar, com número restrito de pessoas e nível de atenção peculiar, quando inserido na escola este é exposto a inúmeras situações novas, como: relações entre pares, amizade, competição, aprendizagem, ausência da proteção constante de familiares, entre tantas outras. (MATURANA, 2015, p.351) Considerando então a família e a escola ambientes de desenvolvimento e aprendizagem humana, estudar as relações entre farrúlia-escola constitui fonte importante de informação, pois permite identificar aspectos ou condições que influenciam na comunicação, padrões de colaboração e conflitos entre essas duas instituições. De fato, o sucesso na relação entre farrúlia-escola tem sido apontado na literatura como um dos principais fatores facilitadores da inclusão escolar. (MATURANA, 2015, p.351) o movimento a favor da inclusão foi fortemente impulsionado pela Declaração de Salamanca, aprovada pelos representantes de vários países e crianças independentemente das suas condições organizações internacionais, em 1994 (UNESCO, 1994: 6). Este documento contribuiu decisivamente para perspectivar a educação de todos os alunos em termos das suas potencialidades e capacidades, para o que, currículos, estratégias pedagógicas e recursos a utilizar adequados, organização escolar facilitadora destas medidas e da cooperação entre docentes e comunidade, são condições fundamentais a ter em conta. (SILVA, 2009, p. 146) No Brasil, em 2015 foi sancionada a LEI 13.146/2015 06/07/2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). METODOLOGIA o trabalho foi realizado a partir de entrevistas semi-estruturadas gravadas por mero de recursos audiovisuais, contando no final com quatro colaboradores, sendo conduzidas no sentido de se obter as perspectivas pessoais e familiares relacionadas com a inclusão escolar. Os colaboradores foram: uma professora de design de Universidade particular de São Paulo, uma pedagoga e assessora da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida do Município de São Paulo, um professor da ciência da computação e proprietário de uma empresa de tecnologia da informação e uma comunicóloga. Sendo duas mães de crianças com deficiência e dois adultos deficientes. Todos os entrevistados são maiores de 18 anos, assinaram o TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e cederam seus direitos de imagem para uso no presente trabalho. 50 DISCUSSÃO No depoimento de M.A.M., percebe-se que a discriminação ocorria até mesmo entre os educadores e os profissionais da saúde, que viam somente as limitações pelas quais passavam os deficientes e não as suas potencialidades. A coragem de M.A.M. de lutar pelo seu espaço na sociedade numa época em que nem legislação adequada se tinha, ultrapassa os limites da deficiência e mostra sua capacidade de resiliência e superação. "(...) durante o magistério tinha dificuldades também na escrita e as professoras falavam pra mim ir mais depressa, que eu era muito lenta; eu tive uma professora que falou que jamais eu poderia ser professora porque minha letra não era pedagógica e me obrigava a fazer caderno de caligrafia (...)" M.A.Mpassou em um concurso público na rede municipal de ensino de São Paulo, e o departamento médico questionou-a sobre como ela poderia ser professora em uma cadeira de rodas. Então ela recorreu aos meios de comunicação. "Saí em jornal e saí em televisão, dizendo que eu era uma professora que estava sendo discriminada( ...) o prefeito deu uma autorização para que eu fosse enquadrada" . É importante observar que a inclusão escolar ultrapassa o âmbito da instituição, e relaciona-se com algo muito mais amplo. É o acesso à educação que permite ao indivíduo descobrir seus direitos como cidadão, ter acesso à cultura e vivências sociais. O ambiente escolar representa o exercício da cidadania plena. Podemos dizer então que "a inclusão escolar traz com ela a inclusão social". (KIBRIT, 2013). Observa-se pelos depoimentos dos entrevistados que eles tiveram que lutar para estarem hoje, graduados. G.L.e., ressalta que estar na educação convencional era muito difícil, "não tinha nada voltado para esta área de inclusão, era tudo no peito e na raça. Quer estudar numa escola convencional? Então adapte- se". Não havia ambiente preparado para os deficientes. Hoje existem carros adaptados, uma legislação vigente, mas as barreiras têm que ser ultrapassadas sempre. G.L.e. fala sobre a acessibilidade ser precária: "a gente vai rompendo essas barreiras, passando por cima delas, pra poder conseguir algo bacana nessa vida". Transpor os limites da escola atual, onde por conta da legislação, a inclusão tem se tornado cada vez mais presente, é uma tarefa que envolve seriamente todos os envolvidos. Os professores necessitam estar mais do que nunca com um olhar acurado para as necessidades individuais de cada aluno. A.P .M. mostra o despreparo dos docentes com o depoimento: "levei uma maçã inteira e tinha uma dentada; no dia seguinte, perguntei: tinha uma dentada na maçã da M., ela não quis comer? Não, ela não me pediu (respondeu a professora). M. não falava!M. não fala, ainda". Os familiares necessitam muitas vezes buscar apoio fora da escola, pois a mesma não oferece todo o suporte necessário. "(...) a gente tem o apoio de psicopedagogo fora da escola, eu não escapei de ter um apoio fora, até pra levar estas informações que eu senti que a escola não tinha" (D.e.e.].). Vigostsk:i, 2011, já reforçava que toda a nossa cultura é calculada para a pessoa dotada de certos órgãos - mão, olho, ouvido - e de certas funções 51 cerebrais. Todos os nossos instrumentos, toda a técnica, todos os signos e símbolos são calculados para um tipo normal de pessoa. E daqui surge aquela ilusão de convergência, de passagem natural das formas naturais às culturais, que, de fato, não é possível pela própria natureza das coisas e a qual tentamos revelar em seu verdadeiro conteúdo. o estudo do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal reforça o fato de que o professor precisa conhecer seus alunos individualmente para ser capaz de mudar e melhor direcionar sua prática, a fim de garantir êxito no processo não só por parte de quem ensina, mas principalmente por parte de quem aprende (MEDEIROS, 2013, P.119). Os pais enfrentam uma série de contextos de stress, nomeadamente quando se deparam com as diferenças entre o seu filho com deficiência e os restantes colegas sem deficiência, quando partilham o estigma da deficiência do seu filho com o receio de não serem compreendidos, respeitados e aceites pelos outros pais, quando se confrontam com a dificuldade de adaptação social do filho com deficiência, quando receiam que a integração no ensino regular implique a perda dos serviços e apoios prestados em outros programas escolares. Na realidade, esta integração poderá ser uma dasmedidas mais certas, mas também uma das mais impulsionadoras do stress dos pais (GÓNGORA, 1996, citado por COSTA, 2004, p. 94). No entanto da perspectiva dos próprios pais: "inclusão é a escola poder receber qualquer tipo de deficiência e atender aquele ser, aquele indivíduo dentro das necessidades dele" (A.P.M.). Em contraponto, a entrevista de D. C C J. integra a perspectiva da família e dos professores em relação a inclusão: "( ...) para nós (professores da Universidade), é uma grande oportunidade; ninguém passa por nenhum deles sem se tornar melhor, (...) tem situações que a gente não consegue dar conta nem com aluno regular; ou você se torna tecnicista ou você não é nada, este não é o professor que muda uma vida, que faz a pessoa entender o lugar dele no mundo. " A.P.M. fala sobre a realidade brasileira acerca dos abortos de pessoas com deficiência, que apesar de ilegal, é praticado rotineiramente. "O que eu vou fazer? Eu perguntei assim pra médica, ela me respondeu que 90% das pessoas abortam. Aonde? Ela respondeu: No Brasil. Eu fiquei pasma". Em relação à descoberta da deficiência das crianças, as mães entrevistadas relataram sobre o impacto da notícia, como elaboraram-na e como foi construída a rotina a partir da notícia. A. P. M. conta que primeiramente se sentiu aprisionada, e posteriormente experimentou uma liberdade com maturidade. D.CC.]. relata: "O R. foi diagnosticado com 1 ano e meio, ele tem síndrome de Down mas é mosaico, então mescla cromos somos comprometidos com cromossomos saudáveis (...), a gente levou um susto de um dia; a gente sempre buscou lidar com iSSO com muita naturalidade" . No momento do diagnóstico, o papel do psicólogo também seria de enorme importância, e não foi relatado pelas famílias entrevistadas. O psicólogo poderia trabalhar no acolhimento e suporte emocional da família, verificando potencialidades para resolver problemas, apontando e desenvolvendo capacidades. 52 Também oferecendo um espaço de escuta para a emergência de conflitos internos, sentimentos reprimidos ou mal elaborados para que possam vivenciá-los de modo mais integrado e positivo, assim como torná-los propulsores de mudança para a melhor adaptação de todos (pADUA; RODRlGUES, 2013, p. 2324). No entanto, ambas as famílias reconhecem o papel do psicólogo no cotidiano com seus filhos, Como ressaltado no depoimento de D.C.C].: "Às vezes este profissional não tem noção de como ele é tão fundamental assim nessas relações, tem situações que o pai, a mãe, a família e a escola não sabem lidar, até quando eu quero colocar um limite nele, mas ele não consegue entender o limite que eu quero impor, então a palavra de um especialista que entende, o auxilio, são fundamentais". E o que os estudantes de psicologia e futuro profissionais devem fazer com relação às pessoas com deficiência? Nada de diferente, aquilo que o psicólogo sempre soube fazer de melhor, olhar o ser humano em todos os seus aspectos singulares, olhar o ser humano único que se apresenta à nossa frente, porque como ressalta A.P.M.: "Independente da deficiência, cada indivíduo é um indivíduo, isso pra tudo e para todos, então vocês podem ter várias pesquisas, dados, que mostram uma amostra X, dá um norte, mas nunca devem deixar de olhar o indivíduo como indivíduo" . CONSIDERAÇÕES FINAIS o Conselho Federal de Psicologia (2013) enfatiza que a atuação crítica do psicólogo na educação inclusiva é de promover uma discussao sobre a inclusão 1 e o respeito a diversidade; obter uma compreensão hist~rico-social do significado da deficiencia, do preconceito e das praticas excludentes. Buscando focalizar a forca que o ser humano possui para o enfrentamento de sua deficiência e expansao dos seus limites, objetivando uma posicao social mais valorizada no mundo ao seu redor. o processo de inclusão é por excelência multifacetado, e o presente trabalho explorou apenas uma parte desse processo, sob a ótica dos seus principais atores: a família e o próprio deficiente. Pesquisas mais amplas poderão contribuir para o desenvolvimento deste importante campo do conhecimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABADE, Flavia. Famílias patrifocais: paternagem e socialização dos filhos. 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2014. ANDRADE, Lucirnary Bernabé Pedrosa de. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais [online]. São Paulo:Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 193 p. ISBN 978-85-7983- 085-3. ARTES, P. 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Autores: Bruno Fiuza Birman, Jéssica Thatiane Silva De Aquino, Jonatas Santos Ferreira, Rafaella Cristina Curatolo, Thais Reis Santos e Thais Tiemi Hirata. Orientador: Prof. Ms. Susete Figueiredo Bacchereti. INTRODUÇÃO o Brasil foi submetido ao regime de escravidão por cerca de 350 anos levando a consequências sociais que perduram até os dias atuais. Como uma medida, o sistema de cotas foi criado na tentativa de amenizar as desigualdades sociais existentes. Segundo Sobrinho (2010), a formação social de sujeitos históricos se concretiza por meio de uma diversidade de instituições sociais e práticas culturais, onde a educação constrói um indivíduo capaz de pensar, refletir e mudar o mundo à sua volta - interligando as ideias de Paulo Freire sobre educação e a construção de homem político de Hannah Arendt. REFERENCIAL TEÓRICO Segundo Galvanin,(2005), a segunda metade do século XIX foi marcada por um cenário de extrema importância e de mudança social que resultou em uma transformação política no Brasil, em busca da abolição da escravatura que só aconteceu em 1888. Após este ato de libertação, pessoas afrodescendentes teriam os mesmos direitos da população branca, incluindo trabalhos assalariados. A propagação dos mesmos direitos de pessoas brancas e negras remeteu a questões econômicas, pois neste período a economia brasileira se , baseava na agricultura, a qual era sustentada pelos escravos negros que "trabalhavam" nas lavouras. Frente a este novo momento, imposto pela libertação dos escravos, houve um acordo no qual os imigrantes europeus substituiriam os escravos. No entanto, um homem considerado um ex escravo, não seria inserido no contexto social da época, pois não se enquadrava no ideal do homem nacional. Em 1996, cria-se o programa nacional dos direitos humanos que propõe, entre outras coisas, "desenvolver ações afirmativas para o acesso dos negros aos cursos profissionalizantes, à universidade e às áreas de tecnologia de ponta; formular políticas compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade negra e apoiar as ações da iniciativa privada que realizem discriminação positiva" (Brasil, 1996, p.30 apud Moehlecke, 2002). No âmbito do ensino superior, em 2002/2003 foi aprovada a primeira lei estadual no estado do Rio de Janeiro, onde foi estabelecido que: "50% das vagas dos cursos de graduação das universidades estaduais devem ser destinadas a alunos oriundos de escolas públicas selecionadospor meio do Sistemade Acompanhamento do Desempenho dos Estudantes do Ensino Médio Sade. Esta medida deverá ser aplicada em conjunto com outra, decorrente de LEI N° 10.558 aprovada em 2002, a qual estabelece que as mesmas universidades destinem 40% de suas vagas a candidatos negros e pardos. Moehlecke,(2002). A Universidade de Brasília (UNB) foi a primeira instituição de ensino superior federal a adotar um sistema de cotas raciais para ingresso na 55 •.....•.------------------------------------------------------------------- universidade através do vestibular, a partir do segundo semestre de 2004. A repercussão gerada pelo tema se tornou uma problemática, já que desde sua primeira implantação em 2002, na Universidade Estadual Carioca do Rio De Janeiro (UER]), vem separando opiniões em dois grandes grupos, aqueles que concordam e aqueles que discordam desta medida. De acordo com Sobrinho (2010) a formação social de sujeitos se concretiza por meio de uma diversidade de instituições sociais e práticas culturais que junto da produção das condições materiais de existência, moldam os sujeitos em seus hábitos, em seus laços de parentesco, ao mero ambiente, às instituições sociais, às normas, regras e leis e a um conjunto de práticas culturais singulares. A educação é o principal meio, que a instituição contemporânea tem de auxiliar o ser humano a construir sua personalidade. Desde a infância até a vida adulta, a educação tem um caráter essencial de construção do indivíduo como pessoa, possibilitando a formação de pensadores que vão além do seu próprio eu e olham a necessidade a seu redor. Atualmente, observamos uma supervalorização das profissões que eXigem ensino supenor e uma desvalorização das atividades que não possuem formação supenor. Em contrapartida, é comum verificar que apenas uma pequena parcela da população consegue efetivamente mgressar em universidades, se restringindo principalmente àqueles que tiveram maior privilégio como: Ensino Privado, Cursos preparatórios para o vestibular, entre outros. Segundo Arendt (2007), inúmeros acontecimentos atuais confirmam essas questões. ] avens adolescentes prestes a iniciar a vida adulta questionam e protestam contra o sistema de cotas por se sentirem desvalorizados e injustiçados. ] avens que tentam ingressar na faculdade ou no primeiro emprego questionam a validade desses programas. Apesar de ser um acontecimento recente, é necessário rever todo o processo de implantação das cotas. Para compreender a história, deve- se encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, especialmente diante do "racismo que hierarquiza, desumaniza e justifica a discriminação existente". ]á Bezerra e Gurgel (2012, apud Campos et al.,2015) afirmam: "As leis de cotas, por exemplo, que regulamentaram as políticas públicas de cotas universitárias para alunos oriundos de escolas públicas, para negros, dentre outras categorias, representam mecanismos sociais de políticas públicas que procuram promover condições de igualdade de oportunidades em relação ao ensino superiorbrasileiro". Leite e Oliveira (2011), apontam que a pedagogia de Paulo Freire visa à libertação no sentido de transformar aquele jovem estudante em um indivíduo politizado e capaz de problematizar questões para que a transformação ocorra na sociedade em que ele está inserido. A educação deve ser vista, portanto, como um ato público e político, que valorize a diversidade cultural e o sujeito sócio- histórico, sendo a escola um lugar de construção do conhecimento que deve ser coletivo e democrático e deve estar ligado à problematização das questões para que haja uma tomada de consciência da própria condição existencial. Costa, (2011) diz que essa pedagogia de inclusão, 56 trata-se, de uma pedagogia baseada na ética, no respeito e na criação autônoma do sujeito e tem como objetivo a quebra da homogeneização nas escolas e promover a inclusão de todos na educação sem nenhum tipo de preconceito ou discriminação. Dois grandes autores que ilustram a importância da educacão e a relacionam com a sociedade são Paulo Freire e Hannah Arendt. As cotas entram como uma tentativa de seguir os ideais desses autores para incluir o máximo de pessoas na educação para atingir a sua ação e conseguir a sua libertação se tornando um homem politizado. Arendt (2007), afirma que existe um desencontro entre a escola e a sociedade que gera e fortalece os processos de exclusão, sobretudo, considerando uma sociedade cujo conhecimento é distribuido de forma desigual. Esse aspecto social se apresenta como um expressivo desafio da educação nos dias atuais, na medida em que algumas pessoas são privilegiadas e outras não conseguem ter acesso aoconhecimento. Um dos maiores desafios enfrentados pela educação é inserir esses jovens que muitas vezes são excluidos pela sua etnia, de ingressarem em uma universidade com os mesmos direitos que os outros. MÉTODO Para o presente trabalho, foram realizadas entrevista semi-dirigidas com alunos universitários de universidades particulares e públicas. Foram entrevistados cerca de trinta alunos: doze de uma universidade , pública e dezoito de uma universidade particular. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A partir das entrevistas realizadas nas universidades, nota-se um conhecimento popular sobre a política de cotas, em que dos vinte entrevistados , dezoito afirmaram conhecer o sistema e dois desconhecem. Um tema recorrente na fala dos entrevistados é o contexto histórico envolvendo a escravidão. Afirmam que foi um período de grande impacto social e cultural, e que o sistema de cotas veio como uma tentativa de reparar os danos históricos: "(...) programa paliativos de remediação de um histórico e segregação racial no Brasil". Outro ponto recorrente é a desigualdade na educação entre escolas públicas e privadas. Apresentam que as cotas são necessárias até que a educação se torne igualitária entre público e privado "Temporariamente a cota é muito justa, até que a gente tenha uma sociedade mais igualitária". Assim como Paulo Freire afirma em suas teorias segundo Leite e Oliveira (2011). De acordo com a Lei n° 12.711/2012 as cotas são direcionadas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas ou estudantes oriundos de famílias com renda igualou inferior a meio salário rrurumo e que autodeclarados pretos, pardos e indígenas que cursaram integralmente o ensino médio em escola pública. Ao analisar os discursos dos entrevistados observa-se um desconhecimento sobre o funcionamento do sistema de cotas raciais, pois para muitos é necessano apenas se declarar negro para ter acesso 57 às cotas sem levar em conta a necessidade de ter estudado em escola pública. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisarmos o material pesquisado sobre o sistema de cotas, do ponto de vista de autores sobre a importância da educação, e as entrevistas foi considerado que existe ainda um grande misticismo e desconhecimento sobre o sistema de cotas e isso causa um estranhamento e até negação ao programa, também mostrando como o sistema é uma grande ajuda a quem usa - em vista que aproxima as pessoas a seus pares e à educação, os tornando indivíduos politizados e transformadores. Para a educação atual do Brasil, um sistema de cotas se faz necessário para diminuir as desigualdades sociais e modificar a educação. Com o ingresso de maior número das minorias sociais nas universidades, as cotas podem deixar de existir, tendo assim um sistema mais equilibrado e inclusivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, V. Natalidade e educação: reflexões sobre o milagre do novo na obra de Hannah Arendt. Pro-Posições [online]. 2013, vol.24, n.2, pp.221-237. 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