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Caderno de Pesquisas Psicologia do Cotidiano

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Caderno de Pesquisas:
Psicologia do Cotidiano
V.2, ano.12.n.1- Jun. 2016
ISSN 1984-6762
® Universidade Presbiteriana Mackenzie
XXII Mostra de Psicologia do Cotidiano
Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais
do Cotidiano
CNPq/Mackenzie
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROFA. DRA. BERENICE CARPIGIANI
Diretora
PROF. DR. ERICH MONTANAR FRANCO
Coordenador do Curso de Psicologia
PROFA. DRA. PATRÍCIA FIORINO
Coordenadora de Programas, Projetos e Eventos de Extensão
PROF. DR. MARCOS VINÍCIUS DE ARAÚJO
Coordenador de Pesquisa e Extensão do CCBS
Organização
Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano
CNPqjMackenzie
Prof. Dr. Erich Montanar Franco
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Profa. Dr. Robson Jesus Rusche
3
sUMÁRIO
ARTE NA SAÚDE E NA COMUNIDADE
Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus Rusche
INSTITUTO ARTE NO DIQUE
Autores: Ana Flávia Costa, Ana Paula Fernandes, Cassiana Ruiz, Cristiane Aguiar, J aqueline
Ribeiro, Julia Mattos, Karina Braga, Katja Wirth, Mayara Matos, Mayara Miyahara, Sofia
Soares.
PSICODRAMA: O TEATRO COMO INSPIRAÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL
Autores: Beatriz Costa, Gabriela Senhorelli, Isabela Neves, Isabela Muraro, Jessica dos
Anjos, Juliana Ribeiro, Patricia Ferreira, Samyle de Carvalho, Thatiani Serpeloni, Thiago
Trafimovas.
JAMAC: A ARTE COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA E COMUNITÁRIA
Autores: Erica Pascoal, Gabriela Morin, Giovanna Albuquerque, Georgia Valente, Mariane
Andrijic, Noam Kremer, Thatiana Piccoli, Verônica Manuppela, Victoria Gaudioso,
Morgana Figueiredo.
MOBILIDADE URBANA, VIOLÊNCIA E PRECONCEITO
Orientador: Prof." Dr.": José Estevam Salgueiro
PRECONCEITO RACIAL: A PERSPECTIVA DA EMPREGADA DOMÉSTICA
Autores: Beatriz Saldanha, Bianca Silva, Bruna Naswaty, Carolina Caminha, Erica Yano,
Nathalia Petreche, Marciano da Silva
MOBILIDADE URBANA
Autores: Ana Carolina Robes, Carolina Mattar, Fernanda Nerguisian, Isabela Nasrallah,
Roberta Amadei.
UNIVERSIDADE, UM LUGAR DE VIOLÊNCIAS
Autores: César Alves Gabrielly Leite João Francisco Teixeira Neto Luiz Cardoso de Sá
Patrícia Fostes Rafael Cardoso de Brito Tatiana de Gusmão Feijó
MEMÓRIA E PERTENÇA
Orientador: Prof." Dr.": José Estevam Salgueiro
REFUGIADOS - PRESERVAÇÃO DA CULTURA E MEMÓRIA
Autores: Bruno Bueno da Castro Setti Diogo Amaral Evelyn Vanielly Maria de Oliveira
Leslie Meireles Renata Monteiro
TIRA, PÕE. .. VAMOS TROCAR
Autores: Beatriz Borges Moreira Raphael da Silva Martins Gabriela de Souza Rodrigues
Maria Inácia de Andrade Laerte Conceição Bezerra Mariana Ferreira Santini Gabriella
Moreira de Alcantara
4
5
EDUCAÇÃO
Prof. Ms. Susete Figueiredo Bacchereti.
INCLUSÃO SOB UMA PERSPECTIVA PESSOAL E FAMILIAR
Autores: Andrea Romero latterza Julia Scheuer Nilza Machado Trevisani Olga Miranda
Lopes Oliveira Thais Luana Michels Gimenez
COTAS: BENEFICIA A QUEM?
Autores: Jessica Thatiane Silva de Aquino Thais Tiemi Mirata Thais Reis Santos Jonatas
Santos Ferreira Bruno Fiuza Birnan Rafaela Cristina Curatolo
ARTE NA SAÚDE E NA COMUNIDADE
INSTITUTO ARTE NO DIQUE
Autores: Ana Flávia Costa, Ana Paula
Fernandes, Cassiana Ruiz, Cristiane
Aguiar, Jaqueline Ribeiro, Julia Mattos,
Karina Braga, Katja Wirth, Mayara
Matos, Mayara Miyahara, Sofia Soares.
Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus
Rusche
Introdução
No presente trabalho,
discutiremos a relação entre arte e
psicologia, utilizando a teoria de Lev
Vigotsky para analisarmos o trabalho que
está sendo realizado no Instituto Arte no
Dique, localizado em Santos. Como
exemplo de arte, a música proporciona
aos seus produtores uma nova forma de
enxergar o mundo e também de se
autoenxergar, não só pelo aprendizado de
um novo instrumento, mas pela
oportunidade de um novo convívio social
(Oliveira, 2006), sendo assim, a arte no
Dique pode proporcionar novas
trajetórias para jovens e crianças, criando
alternativas para a situação de
vulnerabilidade em que se encontram,
engendrando opções para o viver, agir e
compreender o mundo.
Instituto Arte no Dique
O Instituto Arte no Dique nasceu
em novembro de 2002, no bairro de
Santos, Litoral Sul de São Paulo. Fundada
por José Virgílio, natural de Salvador, tem
a missão de promover a transformação
social e o desenvolvimento sustentável
por meio da arte, da cultura e da
profissionalização de jovens e adultos,
possibilitando geração de trabalho e
renda sem agredir o meio ambiente. A
instituição Arte no Dique está localizada
numa região periférica, área de maior
precariedade e vulnerabilidade social da
Baixada Santista, na favela de Vila Gilda,
construída de palafitas à beira do mangue,
sobre o Rio Bugre, onde vivem cerca de
20 mil habitantes distribuídos numa área
de aproximadamente 4 km de extensão,
com 27% da população ativa composta
por pessoas desempregadas e renda
média de R$ 76,00 por mês, contrastando
com o município que orgulhosamente é
dono do maior (e mais belo) jardim da
orla do mundo. É uma das maiores
favelas de palafitas do Brasil e da América
Latina, quer dizer, é a grande favela
localizada na divisa de Santos com São
Vicente. José Virgílio escolhe exatamente
esta comunidade objetivando trazer a
dignidade que a arte e a cultura, capazes
de promover reflexão a respeito dos
preconceitos, podem chegar num lugar
desses e transformar vidas. O projeto
oferece oportunidades de transformação
e desenvolvimento humano e social aos
moradores da região, oferecendo
gratuitamente oficinas de dança,
percussão, violão, customização,
informática, capoeira e teatro, além de
atividades pontuais como sessões de
cinema e palestras. Arte no Dique é uma
escola de arte popular que tem um
formato pedagógico informal e que visa
através da arte e da cultura a inclusão
social, a formação de cidadãos, o trabalho
da autoestima e também a capacitação
para o mercado da arte e da cultura que é
bastante amplo. Atualmente atende cerca
de 600 pessoas.
Relato da Visita
Antes de chegarmos ao instituto
nos engajamos em uma preparação que
durou cerca de um mês. Durante a visita,
os integrantes se dividiram em subgrupos
que realizaram diferentes entrevistas e
abordaram distintos setores da
instituição.
A expectativa do grupo em
relação à estrutura do instituto não era
grande, uma vez que está localizado em
uma das regiões mais pobres do país.
Porém, ao chegar, nos surpreendemos
imensamente, aliás, o prédio conta com
uma arquitetura diferente de tudo o que
existe na região, é extremamente bem
construído e muito bonito.
As surpresas não pararam por aí.
Encontramos uma instituição repleta de
moradores e alunos da escola municipal
da região. Todos estavam organizados e
engajados em alguma atividade,
desenvolvendo assim novas experiências
individuais e de convívio em conjunto.
Os professores e a pedagoga pareciam
estar bastante alinhados quanto ao
objetivo do projeto e, os demais
funcionários exalavam sintonia, mesmo
porque todos vivem e trabalham na
comunidade. Por conta disto, o clima de
trabalho e aprendizagem que
encontramos foi de harmonia e
descontração.
O que mais chamou a atenção do
grupo foi o engajamento e o interesse que
os alunos, de todas as idades,
apresentavam em relação ao conteúdo
das oficinas. Desde crianças curiosas e
ansiosas em adentrar o mundo da arte,
pois é a ideia que Vigotsky nos apresenta,
a arte deixa o ser humano mais
complexo, provocando assim as crianças
a desenvolver as suas potencialidades e
capacidades de abstração, criatividade,
imaginação e percepção, até adolescentes
com sede de aprendizado e objetivos
profissionais extremamente sólidos,
proporcionando assim que sua história
seja transformadora e que seu psiquismo
alcance aspectos mais elevados da arte e
da cultura.
Arte e Psicologia: uma relação
delicada
Existe uma crítica que glra em
torno da relação entre arte e psicologia,
tanto considerando que a atividade
artística antecedea constituição do
discurso psicológico, como também
considerando que a Arte ultrapassa a
própria psicologia, isto é, não se limita à
análise psicológica, podendo e devendo
ser objeto da filosofia, das ciências sociais
e de outras disciplinas. Por conceitos pré-
fixados e que diz respeito aos
sentimentos e a novas formas de
conceber o real.
O fenômeno arusnco é, em
primeiro lugar, uma forma de fazer ou
uma construção de objetos simbólicos
estruturados de tal forma que se
transformam em significados. Em
segundo lugar, a Arte pode ser vista
como uma maneira de exptlffi1r
sentimentos e ideias, sobretudo emoções,
mas também concepções de mundo de
indivíduos e/ou de grupos sociais, sendo,
portanto, uma forma de conhecimento.
Uma obra de arte pode ser analisada em
função do seu produtor, do seu receptor
ou a partir das considerações de seus
aspectos internos.
Na experiência estética, o
receptor se defronta com um tipo de
linguagem que não é convencional ou
utilitário; com efeito, trata-se de uma
linguagem mais conotativa que
denotativa, o que significa um trabalho de
leitura que Vai além das regras
estabelecidas para a linguagem para uma
7
r
comunicação habitual. Esse tipo de
linguagem constitui formas simbólicas
que, como aponta Langer (2003), se
apresentam à percepção humana como
modos de expressão de sentimentos que,
de outra maneira, não poderiam ser
ditos.
No instituto Arte no Dique foi
realizada uma entrevista com a professora
de dança, que relata que a arte é um
modo de transmitir e de mostrar algo que
não se consegue nomear e que é
transformador. "A dança é um exercício
que te traz para dentro de uma coisa
muito divertida. Os exercícios são
necessários pra gente, pra qualquer ser
humano, e a dança, fora o exercício,
trabalha com a emoção, ela trabalha com
o que você está sentindo, trabalha com a
alegria. A dança transforma o seu
momento, transforma aquilo que você
está sentindo, então com certeza a dança
transforma vidas", diz ela.
Vigotski, ao discutir a relação
entre arte e psicologia, traz a ideia de que
os instrumentos culturais e a arte estão a
serviço dos homens e de seu
desenvolvimento, proporcionando a
humanização dos ClnCO sentidos
biológicos, ou seja, contribuindo para o
desenvolvimento humano. A partir desta
discussão podemos entender que os
trabalhos realizados na instituição "Arte
no Dique" buscam alcançar o
desenvolvimento dos sujeitos que ali
frequentam, tanto na perspectiva psíquica
e/ ou social quanto potencializar o
desenvolvimento: melhorar o
desempenho motor, o controle
emocional, a expressão comportamental e
corporal, entre outras, desta forma, a arte
é a principal via, no projeto, que visa
impactar de forma positrva os sujeitos,
estimulando seu crescimento pessoal.
Para o autor, as emoções são
consideradas como um fenômeno
psicológico, cultural, ativo e mutável,
levando em conta o desenvolvimento
histórico e cultural. Nesta perspectiva,
entendemos que a instituição
compreende os aspectos emocionais,
culturais e os fenômenos psicológicos
como pertinentes ao desenvolvimento
humano. Todo o trabalho desenvolvido
visa possibilitar uma mudança na vida dos
sujeitos, esclarecendo que os limites
biológicos devem ser respeitados, porém,
não são suficientes para definir o sujeito.
A psicologia tem como objetivo,
analisar a estrutura da obra de arte,
buscando apreender as funções
psicológicas, tipicamente humanas,
inclusive o sentimento que a obra traz. As
percepções das obras de arte fazem parte
da humanização dos cinco sentidos e a
própria arte tem impacto direto sobre os
sujeitos na transformação da
consciência humana.
A psicologia da arte revela
algumas funções psicológicas colocadas
na estrutura da obra, que são reveladas a
partir de vivências que a obra de arte
expressa, gerando transformações
objetivas nos indivíduos.
Para Vigotski, a arte está
relacionada com a realidade, porém a
obra de arte não é uma cópia fiel da
realidade objetiva, mas sim algo que é
fruto da criatividade e que tem
capacidade de se transformar em produto
cultural. A função da arte vai além de
expressar sentimentos e mudar estágios
de humor imediato como tristeza em
felicidade, mas sim conseguir objetivar
8
sentimentos e outras potencialidades do
ser humano, provocando alterações no
psiquismo e proporcionando uma melhor
organização para uma condição mais
elevada do sujeito.
Percebemos no decorrer das
observações realizadas na instituição, que
as obras e as expressões corporais
construídas pelos sujeitos frequentadores
não são a cópia fiel da realidade objetiva,
mas Sim fruto da criatividade e
espontaneidade dos mesmos, por isso, o
objetivo não é apenas mudar ou
transformar os estados de humor do
criador, mas conseguir provocar
alterações no seu psiquismo,
proporcionando uma melhor organização
deste para uma condição elevada. Ou
seja, as mudanças de estados de humor
que nos foram retratadas nas entrevistas,
são apenas os primeiros sinais de
possíveis transformações psíquicas do
sujeito.
A arte tem a capacidade de
desenvolver funções psíquicas complexas
e promover o contato com experiências
de outros seres humano, fazendo com
que cada vez mais este se torne mais
complexo e consiga elevar suas forças
humanas tais como: abstração,
criatividade, percepção, imaginação e
emoção. Portanto, podemos entender
que a arte é um instrumento cultural
mediado pelo indivíduo e o gênero
humano e que tem como objetivo
reproduzir características já realizadas ao
longo da história para causar
transformações no sujeito, auxiliando na
formação das funções superiores do
psiquismo. Esses aspectos foram
evidenciados na.maioria dos diálogos que
constituímos com os frequentadores do
projeto, pois nos trabalhos realizados por
eles existe o respeito pelas características
históricas e culturais de cada integrante,
visando o desenvolvimento estético de
forma que se torna possível uma
transformação no psiquismo como
facilitadora da evolução de funções
psicológicas superiores. Segundo
Vigotsk:i, a emoção, a percepção, a
criatividade e a imaginação estão
diretamente relacionadas com a arte e sua
produção e estudo podem levar a esse
desenvolvimento.
Nas entrevistas com os
professores de percussão e de teatro,
percebemos ideias que corroboram com
as afirmações de Vigotski de que a arte
potencializa o ser humano,
proporcionando novas experiências e
transformações no psiquismo.
"A arte não só transforma, como
cura. A música cura. A música é
praticamente um milagre. Eu tenho
alunos aqui especiais, que vem aqui,
tocam assim, e tu fala: 'Meu Deus, mano.
Como é que ele consegue fazer isso aí?'
E, às vezes, os grandão aqui ficam
olhando e eu falo: 'Gente, é uma coisa
que vem do coração, as coisas que vêm
do coração, a gente não explica, a gente
simplesmente sente'. Música é isso"
(professor de percussão).
"[...] a arte eu acho que é uma
vontade de transformação do ser. E é
justamente aí, a partir do momento que
ele se manifesta através da arte, que ele
chega, que ele nasce. Tem gente que
descobre o desenho, tem gente que
descobre a música e tem gente que vai
procurar a técnica ou fazer"(professor de
teatro).
Nas entrevistas, os professores
dizem que a arte e especialmente a música
9
Uma definição upica de
musicoterapia geralmente parte do
ponto em que a mesma consiste
numa profissão de tratamento onde
o terapeuta usa a música como
instrumento ou meio de expressão a
fim de iniciar alguma mudança ou
processo de crescimento
direcionados ao bem-estar pessoal,
adaptação social, crescimento
adicional ou outros itens (EVEN,
1990,p.14) .
é uma forma de tratamento para as
pessoas, que ela nos proporciona
sentimentos, sensações inexplicáveis, é
uma descoberta de si mesmo, é
transformadora. Com essa ideia,
podemos associar com a musicoterapia:
A arte terapia, a partir da música,
proporcionajustamente o crescimento
pessoal, promove mudanças psíquicas.
Schopenhauer diz que: "A música
exprime a mais alta filosofia numa
linguagem que a razão não compreende".
Referências Bibliográficas
BARROCO, Sônia Maria Shima;
SUPERTI, Tatiane. Vigotski e o estudo
da psicologia e da arte: Contribuições
para o desenvolvimento humano.
Universidade Estadual de Maringá.
CARVALHO, A. Arte e Psicologia: uma
relação delicada. In: Núcleo de Estudos e
Pesquisas Psicossociais do Cotidiano
(Org.) Introdução a Psicologia do
Cotidiano. São Paulo: Expressão e Arte
Editora, 2007.
RUUD, Even. Musicoterapia - profissão
de saúde ou movimento cultural? In:
RUUD, Even. Caminhos da
musicoterapia. São Paulo: Summus,
1990. Capo 1. p. 14.
10
PSICODRAMA:
o TEATRO COMO INSPIRAÇÃO
PARA A SAÚDE MENTAL
Autores: Beatriz Costa, Gabriela
Senhorelli, Isabela Neves, Isabela Muraro,
Jessica dos Anjos, Juliana Ribeiro, Patricia
Ferreira, Samyle de Carvalho, Thatiani
Serpeloni, Thiago Trafimovas.
Orientador: Prof. Dr.: RobsonJesus
Rusche
INTRODUÇÃO
A Arte como recurso terapêutico
é um instrumento de tratamento para o
desenvolvimento pessoal que pode
ocorrer a partir de um contexto
terapêutico e de mediadores artísticos.
Através das criações coletivas, temos
acesso a várias informações: o que é, para
que serve e que sentimentos são
transmitidos antes e após estas,
proporcionando um valor estético e
informativo para o orientador,
facilitando, assim, o acesso ao imaginário
dos sujeitos.
Este último é fundamental tanto
para a arte quanto para a psicologia, pois
ele reflete pensamentos, sentimentos,
memórias e aspectos da personalidade e
do self, facilitando uma compreensão
mais profunda dos sentimentos e das
situações vividas, para que o coordenador
do processo grupal possa desenvolver
novas formas de atuação.
Um dos recursos artísticos que
podem ser utilizados para mediar o
acesso ao imaginário dos indivíduos é a
dramatização, modalidade explorada por
Jacob Levy Moreno em suas pesquisas e
intervenções, tema de nossa investigação
no presente trabalho.
MORENO E O PSICODRAMA
Jacob Levy Moreno foi um
psiquiatra Romeno que concebeu a teoria
psicodramática a partir de seus estudos
sobre teatro e de suas observações e
vivências de brincadeiras infantis,
fundando, em 1921, o Teatro Vienense
da Espontaneidade, experiência que
constituiu a base de suas ideias da
Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama
(SALLES et. al,1988).
o período em que Moreno
dedicou-se ao teatro foi uma fase de
construção teórica bastante intensa, que
representou uma transição de suas ideias
religiosas para uma entrega à ciência.
Aproveitou o conceito de
"espontaneidade como natureza
primordial, que é imortal e reaparece em
cada nova geração" (MORENO apud
SALLES, pago 13) e, neste momento de
transiçao, rebelou-se contra o
falseamento das instituições sociais (da
Família e da Igreja) e contra a robotização
do ser humano. Via no teatro a
possibilidade de iniciar sua revolução a
partir da investigação da espontaneidade
no plano experimental. No entanto, foi
apenas com o trabalho com pacientes
psiquiátricos que Moreno descobriu a
função terapêutica da dramaturgia: o
teatro da espontaneidade passa a ter uma
função terapêutica e transforma-se no
Teatro Terapêutico e este no Psicodrama
Terapêutico (SALLES et. al).
Moreno descobriu que um
processo catártico acontece no
psicodrama, ou seja, um processo de
"libertação psíquica" que o ser humano
vivencia quando consegue superar algum
trauma cujo princípio comum que rege tal
fenômeno é o da espontaneidade. Por
11
isso, no Psicodrama, os conteúdos que
estavam afastados da consciência vêm à
tona e possibilitam a estudo de
possibilidades existenciais para os
participantes da sessão, tanto individual
como em grupo. Sendo assim, a catarse é
uma integração que possibilita a formação
da identidade, que vem à tona no
Psicodrama, no qual há a representação
de papéis de maneira espontânea,
fazendo com que o indivíduo possa
expressar aquilo que está sentindo, dando
sentido a isso, função do Psicodrama
como um 'teatro terapêutico', o qual
depende intrinsecamente da
expansividade afetiva dos membros
envolvidos na sessão psicodramática
(SALLES et. al).
A EXPANSIVIDADE AFETIVA NO
PSICODRAMA
A expansividade afetiva dos
indivíduos é, segundo Moreno "a energia
afetiva que permite que um sujeito
'retenha' o afeto de outros indivíduos
durante um período de tempo dado"
(MORENO, 1972, p.63). Percebe-se que
. por trás deste conceito, está a concepção
de vínculo, que no psicodrama é a
unidade humana e, portanto, mais que
uma relação, é uma inter-relação afetivo-
perceptual.
Para desenvolver seus estudos
sobre expansividade afetiva, Moreno se
baseou na tese de que a expressão
quantitativa dos sentimentos de simpatia
ou antipatia pode ser facilmente medida.
Seus estudos apontaram que é possível
chegar ao que se chama de processo
vincular social dos indivíduos e de seus
grupos e, a partir dele, possibilitar a
superação dos seus conflitos, ou seja,
permitir o resgate da espontaneidade, que
conforme dito no psicodrama, é o
caminho da saúde mental.
Para Moreno, a expansividade
afetiva é originada no início da vida: "a
família é a instituição social que mais
contribui para desenvolver a sociabilidade
do homem e para dar forma própria à sua
necessidade de expansividade afetiva. A
influência do grupo familiar se exerce,
não somente sobre a qualidade dos
interesses afetivos, mas também sobre
sua quantidade, quer dizer, sobre sua
expansividade" (MORENO, 1972, p.72).
Pode-se concluir, portanto, que o
estudo da expansividade afetiva é um
caminho para a investigação da
consciência e da sociabilidade dos
indivíduos que contribuiu para a
construção de técnicas psicodramáticas
que melhorassem a qualidade da
vinculação e da comunicação intragrupal,
promovendo reflexões que geram
conhecimento acerca do outro e de si
mesmo, elevando o pensamento do plano
cotidiano para o plano contemplativo.
O PSICODRAMA E A ESTRUTURA
DA VIDA COTIDIANA
Segundo Agnes Heller, no livro °
Cotidiano e a História (1970), a vida
cotidiana possui algumas características,
dentre elas, destacam-se: a
espontaneidade (as ações se dão de forma
automática, irrefletida e até mesmo
repetitiva), o pragmatismo (o homem
atua em termos de funcionalidade e
probabilidade), economicismo (ação e
pensamento se manifestam e funcionam
apenas enquanto são indispensáveis à
continuidade da vida cotidiana), e o
imediatismo (as atividades diárias são
realizadas em função da solução de
questões urgentes, não se configurando
12
como práxis) (HELLER, 1970). Nesse
contexto, o homem interage e se constitui
a partir dessa estrutura social: a estrutura
da vida cotidiana constitui a subjetividade
dos indivíduos que se inserem nela, os
quais, consequentemente, se tornam seres
irreflexivos, automáticos, repetitivos,
imediatistas, econômicos e pragmáticos.
No entanto, não é apenas a partir da vida
cotidiana que o humano se constitui, os
âmbitos das artes, da moral, da política,
da filosofia e das ciências também são
partes constitutivas da identidade
humana, partes que elevam o pensamento
humano.
Ao falar da elevação do
pensamento acima da vida cotidiana,
Heller (1970) afirma que a arte e as
ciências são as únicas formas com
capacidade de produção de objetivações
duradouras. Isso porque ambas rompem
a tendência irrefletida do pensamento
cotidiano que leva a ações repetitivas e
imediatistas. A arte faz a ruptura porque é
autoconsciência e memória da
humanidade, as ciências sociais porque
são desantropocentrizadoras e a ciências
da natureza porque são
desantropomorfizadoras. Tais
concepções Hellerianas vão de encontro
aos conceitos Morenianos relacionados à
produção teatral e a função
transformadora das relações humanas.
Segundo Gonçalves et ai (1988),o
psicodrama e o sociodrama são os
termos que designam as técnicas criadas
por Jacob Levy Moreno a partir de seus
estudos sobre a espontaneidade, que
diferentemente de Heller, representa a
capacidade de flexibilizar e criar novas
respostas adaptativas de acordo com as
situações vivenciadas, principalmente
quando estudadas no âmbito das
experiência psicodramática. Para Moreno,
a criação teatral tem propriedades
catárticas, que se manifestariam mais
precisamente através do improviso: um
recurso expressivo pelo qual o ator cria
sua dramatização no momento em que a
encena, tendo a possibilidade de
transformá-Ia a todo o momento. Tal
estratégia, segundo o autor, estimula o
desenvolvimento da capacidade de agir
espontânea e criativamente. Portanto, o
objetivo central das técnicas criadas por
Moreno é o resgate da autonomia dos
indivíduos e grupos nas suas relações
cotidianas através do desenvolvimento de
dinâmicas de ação mais espontâneas e
criativas, estimulando a capacidade de
reflexão e auto-observação dos
indivíduos e impedindo a cristalização de
modelos rígidos de comportamento. Em
termos Hellerianos, podemos da elevação
do pensamento humano do âmbito
cotidiano, das particularidades, das
preocupações com a satisfação de
necessidades imediatas, para o âmbito da
genericidade humana, da preocupação
com questões éticas e filosóficas, acerca
do que significa ser humano.
PSICODRAMA E COMUNIDADE
Como exposto anteriormente, o
Psicodrama como uma ação terapêutica
que se utiliza da arte, da criatividade e da
espontaneidade se propõe a romper com
a realidade cristalizada do cotidiano
(MORENO, 2003). Com uma proposta
de colocar a psique em ação, o
psicodrama, quando aplicado à
comunidade, ou seja, o sociodrama,
desenvolve um processo de
desconstrução e ressignificação do
indivíduo e do meio social. (FIRMO,
2009)
13
Por meio das ações reflexivas, de
revivescimento de conflitos, possibilita-se
ao sujeito reelaborar criativamente
soluções e caminhos que ressignifiquem
suas concepções de si e do mundo.
Segundo Moreno (2003), a força
do drama não está apenas no palco, mas
especialmente na plateia, tendo em vista
que o espectador transforma-se ao passo
que a ação perpassa por seus conflitos, o
indivíduo se identifica e se percebe
compartilhando com o outro as mesmas
opressões cotidianas. "Esse
autoconhecimento é emancipatório, pois
desenvolve um sentimento de alteridade e
de corresponsabilidade social".
(PEREIRA, e DIOGO, 2009)
Ainda segundo estes autores, a
alteridade e a corresponsabilidade
fortalecem os membros do grupo,
possibilitando novas configurações das
problemáticas sociais. A práxis reinsere o
indivíduo numa relação intersubjetiva e o
acolhe como pertencente de um grupo,
de uma comunidade, reafirmando e
ressignificando sua identidade, seu papel
e sua função no meio social.
Segundo Firmo (2009) a prática
psicodramática em especial em
comunidades, toma corpo como ciência
política que abre possibilidades para a
atuação dos sujeitos de direitos que
podem, e devem ter suas histórias
expressas e escutadas.
Relato do Psicodrama aplicado na
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
No dia 18 de março de 2016 o
grupo organizou uma sessão de
Psicodrama dirigida pela psicodramatista
Stella Gorette e da qual participaram
alunos do primeiro e sexto semestre do
curso de Psicologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. ° Psicodrama
aconteceu em uma sala de aula da
Universidade.
A sessão se rmciou com um
aquecimento inespecífico pelo qual os
alunos andavam pela sala fazendo
alongamento ao som de uma música
relaxante. Ao término desse início de
sessão se deu o aquecimento específico
no qual a diretora pediu para os
participantes deitassem ou sentassem no
chão e lembrassem de um sonho.
A partir de então a escolha do
protagonista foi feita de acordo com os
participantes que desejassem dramatizar o
sonho, ao todo foram encenados três
sonhos, cada um de um membro
diferente.
Na fase do compartilhamento
evidenciou-se que o último sonho
encenado mobilizou muitos membros da
plateia fazendo com que estes
manifestassem suas experiências
rememoradas a partir da encenação do
último protagonista.
Após o compartilhamento, a
diretora percebeu a necessidade de um
encerramento mais catártico devido às
mobilizações afetivas e intensas
provocadas durante a sessão. Nesse
encerramento, a diretora pediu para o
grupo fazer uma grande roda e um
alongamento no qual todos estendiam as
mãos até os pés voltando gradualmente à
postura ereta inicial culminando com um
grito final.
Considerações a respeito
experiência e das entrevistas
da
14
Como exposto anteriormente, o
Psicodrama é uma prática terapêutica de
ressignificação de conflitos intra e
intersubjetivos que promove a
transformação das realidades psíquicas e
sociais, fortalecendo a ação coletiva ao
mesmo tempo em que enfatiza as
diferenças individuais pela integração
dessas particularidades para a superação
das dificuldades dos indivíduos e do
grupo.
No Psicodrama Aplicado na
Universidade Presbiteriana Mackenzie
pôde-se perceber tais princípios na fase
do compartilhamento, em que os
membros tocados pelos conflitos vividos
pelo protagonista na dramatização
chegaram a uma elaboração, ou catarse de
integração, de seus conflitos pessoais ao
mesmo em que se proporcionou ao
protagonista novas reflexões e
compreensões de seus dilemas.
Tal evidência confirma a tese de
Heller (1970), que afirma que o
pensamento cotidiano, repetitivo,
imediatista e cristalizado, pode ser
superado pela arte: No caso do
psicodrama vivenciado no dia 18 de
março de 2016, conflitos co-
inconscientes foram trazidos à luz pela
técnica e puderam ser refletidos e
contemplados, o que certamente mudou
a atitude de cada membro em relação a
seus pensamentos automáticos acerca de
seus problemas cotidianamente
enraizados.
Referências Bibliográficas
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DRAMA, A NARRATIVA E A AÇÃO
NO COTIDIANO ESCOLAR, UM
OLHAR SOBRE O PRECONCEITO
RACIAL. Universidade Federal de Mato
Grosso
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GONÇALVES C. S., WOLFF, J. R.,
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psicodrama: introdução ao pensamento
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HELLER, Agnes. ESTRUTURA DA
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a História. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
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. acessos em 15 maio 2016.
SCHAPUIZ, Júlia; HADLER, Oriana H ..
Florescer: psicodrama em comunidades
rurais.Rev. bras. psicodrama, São Paulo
, v.21,n. 2,p. 107-115, 2013.
lS
JAMAC: A ARTE COMO PROMOÇÃO
DA SAÚDE PÚBLICA E
COMUNITÁRIA
Autores: Erica Pascoal, Gabriela Morin,
Giovanna Albuquerque, Georgia Valente,
Mariane Andrijic, Noam Kremer,
Thatiana Piccoli, Verônica Manuppela,
Victoria Gaudioso, Morgana Figueiredo.
Orientador: Prof. Dr.: Robson Jesus
Rusche
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo
apresentar o projeto JAMAC, fundado
por Monica Nador, e fazer uma análise
com base nos referenciais teóricos
apresentados pela disciplina de Psicologia
do Cotidiano II.
O tema em questão é a
Arteterapia e sua relação com a saúde
mental, em especial entre jovens de
comunidades periféricas.
De acordo com a Associação Brasileira
de Arteterapia, esta se define como um
modo de trabalhar terapeuticamente,
utilizando a linguagem artística como
base da comunicação cliente-profissional.
Sua essência seria a criação estética e a
elaboração artística em prol da saúde
mental.
Com base no projetoque iremos
abordar, encontramos outro projeto com
objetivos similares em Fortaleza, mais
precisamente no Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) da Secretaria
Executiva Regional III órgão da
Prefeitura Municipal de Fortaleza -, que
funciona em parceria com a Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Esse processo de sujeito ativo e,
portanto, transformador é evidente no
projeto JAMAC e também nesse projeto
similar realizado em Fortaleza, chamado
Amigos da Arte, que se torna relevante a
ser mencionado devido ao seu trabalho
com arteterapia, uma vez que este - assim
como explicaremos adiante sobre o
JAMAC - se propõe a reunir indivíduos
em um espaço específico para realizar
uma troca de saberes e proporcionar
vivências artísticas.
Contato com o campo da experiência
No JAMAC, o que se encontra é
cultura viva, em cultivo permanente, em
processo dinâmico, que envolve o
reconhecimento e a interação com o
entorno, valorizando conhecimentos,
saberes e tradições. Vai além da cultura
como formação, aprendizado e domínio
de formas de expressões e técnicas.
Determina-se como informação e
difusão, ampliando repertórios e o
domínio da análise simbólica. Designa-se
por cultura toda criação e produção,
instigando a inventividade e a habilidade
na arte através da articulação das pessoas
com seu meio e delas entre si, também
como desafio realizado com arte,
coragem e afeto, como expressão
simbólica em plenitude, como potência e
encantamento que se manifestam no
Projeto 'Paredes Pinturas', expressando
tudo aquilo que existe de importante para
a formação de uma comunidade, sua
ancestralidade e seus símbolos, seus
desejos e suas aspirações, ou seja, um
processo cultural que, ao se realizar na
Arte, respeita e valoriza as pessoas e suas
formas de viver, pois a cidadania só se
realiza em ambientes de acolhimento,
cuidado e respeito.
"Ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades
para a sua própria produção ou sua
construção" (FRElRE, 1996, p. 21). No
16
] amac, acredita-se que ensinar é mais do
que a transferência de conhecimento
descolada do diálogo. Educação se faz no
contato com o outro, na abertura ao
diálogo das partes envolvidas. Abre
portas para a construção de novas ideias,
pontos de vista, conhecimentos e
também para a produção dos mesmos.
Ensinar cabe em iniciar e compartilhar
formas de conhecimento, estimular o
raciocínio, a percepção, ajudar o
individuo a se desenvolver como
participante ativo do seu papel na
sociedade, que é compartilhado.
O trabalho da Mônica Nador e do
JAMACinverte o próprio sentido da
economia, que deixa de ser uma
forma de administraçãode recursos a
partir dos modos de produção e do
fazer para se transformar numa
administração de recursos a partir
dos sonhos e da beleza, em que o
centro vital está na vida, na Cultura e
a Arte que se realizam em todas as
suas dimensões, sendo na estética,
ética e na economia e não nas coisas
(NADOR,Monica- LivroJAMAC).
Entretanto, foi preciso conhecer a
vida do povo, como ele morava, suas
necessidades e desejos para construir
soluções coletivas com essas pessoas que,
desde o início dos contatos com o
Projeto, apresentavam características
estéticas de funcionalidade e beleza. Toda
uma divisão foi se organizando a partir
das experiências artísticas que tinham
como finalidade proporcionar que as
subjetividades se aflorassem,
promovendo a releitura e reinterpretação
do mundo e permitindo que os
integrantes se colocassem com todo
encanto e consciência. Mônica afirma que
procurava no contexto das vidas, a
inserção da produção artística no fluxo
destas, sendo que seu objetivo era
promover uma transformação nas
subjetividades.
Ao analisar todo discurso da
entrevistada, é notável seus esforços para
evidenciar os processos de resistência dos
jovens, já que é através da educação e da
arte para todos que o ]AMAC se propõe
a atuar. A partir da educação, os jovens
envolvidos deixam o lugar de meros
receptores, e passam a ter participação
ativa nos processos grupais, como
participantes e/ou instrutores e, através
da arte - no que diz respeito à verdadeira
violência angustiante que eles se
encontram, nesse contexto, acredita-se
que se possa ampliar as oportunidades
para criar uma nova forma de existência
que efetue embates com os modos de
vida dominantes. Essa violência pode ser
representada através da música "Cartão
de Visita", do cantor Criolo: "O opressor
é omisso e o sistema é cupim, e se eu não
existo, porque cobras de mim?" Visto
que as forças opressoras (muitas vezes
figuradas pelo Estado) são disfarçadas, e
aproveitam-se da carência em diversos
fatores, desde condutas policiais
opressoras, até valores impostos.
Tendo em vista recentes
experiências com a utilização de recursos
artísticos como dispositivos terapêuticos
na saúde mental, percebe-se
empiricamente que a arteterapia, em
qualquer das linguagens artísticas
aplicadas, tem se configurado como
importante instrumento para ajudar os
grupos de pessoas com transtornos
mentais, trazendo consigo visíveis
resultados em espaço de tempo
relativamente curto.
Para compreender a importância
dos projetos citados, sendo eles, o Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS), Amigos
da Arte e o ]AMAC, é necessário ter
claro o conceito de arteterapia, que
17
consiste em um dispositivo terapêutico
que absorve saberes das diversas áreas do
conhecimento, constituindo-se como
uma pratica transdisciplinar, visando
resgatar o homem em sua integralidade
através de processos de
autoconhecimento e transformação. É
um trabalho predominantemente não
verbal que acolhe o ser humano com toda
sua complexidade e dinamicidade,
atuando com os diversos aspectos dos
integrantes: afetivos, culturais, cognitivos,
motores, sociais entre outros, tão
importantes na saúde mental.
Observa-se que a arteterapia tem
possibilitado aos usuários a vivência
de suas dificuldades, conflitos,
medos e angústias de um modo
menos sofrido. Configura-se como
um eficaz meio para canalizar, de
\maneira positiva, as variáveis do
adoecimento mental em si, assim
como os conflitos pessoais e com
familiares. Nota-se que há uma
minimizaçãodos fatoresnegativosde
ordem afetiva e emocional que
naturalmente surgem com a doença,
tais como: angústia, estresse, medo,
agressividade, isolamento social,
apatia, entre outros. [...] A pessoa vai
se apropriando dos seus próprios
conteúdos, conhecendo a si mesma e
se tornando assim sujeito ativo do
processo terapêutica. (Coqueiro,
Neusa; VIElRA, Francisco;
FREITAS, Marta. (2010)
Arteterapia como dispositivo
terapêutica em saúdemental)
Aspectos Metodológicos
o Projeto ]AMAC fundado em
2003, atualmente conta com oficinas
periódicas de estêncil em sua sede, além
da realização destas em outros locais -
periferias e cidades do interior em sua
maioria. Os alunos das oficinas têm a
oportunidade de aprender e reproduzir
todo o processo do desenho inicial como
a transposição deste para diversos
suportes. Há também, O ]AMAC Cinema
Digital, que oferece desde 2009, oficinas
gratuitas de cinema, animação,
workshops com técnicos e teóricos da
área. O Café ]AMAC, o qual é um dos
alicerces do Ponto de Cultura Arte Clube,
que é uma referência importante em
formação popular, porque aborda de
maneira diferenciada, em termos de
espaço e interlocução, os problemas e
posições discutidos na universidade. A
Rádio Poste, que faz parte de uma noção
de cultura que constrói relações diretas
entre objetos, pessoas e o espaço que
estas ocupam. O Parque para Brincar e
Pensar, que é um projeto de pesquisa e
intervenção urbana que atua na forma de
habitar e pensar os espaços comuns na
sociedade, trazendo à luz a necessidade
das relações entre diferentes gerações e
classes sociais. Por fim, a Estamparia que
atualmente está sendo implementada no
]AMAC, como uma tentativa de criar
uma fonte de subsídiospara a
comunidade do ] ardim Miriam - tanto
como uma forma de adquirir autonomia
para que o Clube continue suas atividades
na região quanto para gerar renda para
seus frequentadores. A Estamparia está
diretamente ligada às oficinas de estêncil,
na qual os desenhos criados ali são
transportados para os tecidos que serão
comercializados para confecções de moda
e outros possíveis clientes, difundindo os
desenhos realizados na comunidade.
Há décadas, grandes figuras da
Psicologia e de outras áreas já traziam a
importância da Arte como forma de
expressão inconsciente, como Freud, que
define que o artista pode simbolizar
concretamente o inconsciente em sua
produção, retratando conteúdos do
18
psiquismo. Já Jung, foi além, constatando
que as imagens representam a
simbolização do inconsciente coletivo da
humanidade. Paulo Freire propôs que o
papel do trabalhador social em um
processo de mudança tem uma atuação
destacada na desmitificação da realidade
destorcida, sendo que, através deste fato é
possível descobrir a verdadeira dimensão
na qual está imerso o trabalhador, que
pode ser obtida através da percepção
crítica da realidade. Por esse motivo,
entende-se que o trabalhador social
cumprirá um papel de agente de
mudança. Segundo Freire, a estrutura
social em que esse trabalhador está
inserido apresenta um jogo dialético de
mudança-estabilidade, na qual ambas
resultam da ação que o homem exerce
sobre o mundo e, falar do papel do
trabalhador social implica na análise dessa
mudanca e da estabilidade/instabilidade
das expressões da forma de ser nas
estruturas sociais.
Sendo assim, o papel do
trabalhador social que optou pela
mudança é de atuar e refletir com os
indivíduos com quem trabalha para
conscientizar-se junto com eles das reais
dificuldades de sua comunidade. Este
trabalhador deve ampliar seus
conhecimentos. e o ímpeto de mudar para
ser mais,
Um dos fatores que saltou à nossa
a atenção no Jamac, foi o fato de ser um
grupo que tem caráter semiaberto, pois os
membros tendem a se afastar em algum
momento, devido ao retorno de doenças
mentais ou problemas pessoais no geral,
contudo, depois retomam ao projeto.
Acredita-se que esse dado possa indicar
um vínculo afetivo com o grupo, que é
crucial para o sucesso de um trabalho
coletivo. No Caps, trata-se de grupos
terapêuticas que visam a aplicação da
arteterapia na pratica cotidiana. Esse
grupo também se utiliza dos processos de
criação artística e de ações culturais como
meios de promover a saúde mental.
Considerações finais sobre a
experiência
A arteterapia vem ganhando
espaço cada vez maior na área da saúde e,
sobretudo, no campo da saúde mental,
visto que vem colaborando para amenizar
os efeitos negativos da doença mental. É
central a promoção do bem-estar da
pessoa com sofrimento psíquico, uma vez
que a arteterapia propicia mudanças nos
campos afetivo, interpessoal e relacional,
melhorando o equilíbrio emocional ao
término de cada sessão.
Observa-se que ela tem
possibilitado aos usuários a vivência de
suas dificuldades, conflitos, medos e
angústias. Configura-se como um eficaz
meio para canalizar, de maneira positiva,
as variáveis do adoecimento mental em si,
assim como os conflitos pessoais e com
familiares. Nota-se que há uma
minimização dos fatores negativos de
ordem afetiva e emocional que
naturalmente surgem com a doença, tais
como: angústia, estresse, medo,
agressividade, isolamento social, apatia,
entre outros.
Consideramos que, mediante a
interpretação e a reflexão das vivências na
relação terapêutica, a pessoa vai se
apropriando dos seus próprios
conteúdos, conhecendo a si mesma e se
tornando assim sujeito ativo do processo
terapêutico. Percebemos em nossas
entrevistas, que há grandes benefícios que
podem ser acrescentados à vida dos
sujeitos, tais como: benefícios
emocionais, pois a arteterapia auxilia
ativamente os envolvidos na expressão de
suas emoções; socialilzação, pois ajuda a
19
20
eliminar a sensação de isolamento;
benefícios cognitivos, pois oferece meio
de comunicação entre os dois hemisférios
do cérebro; e benefícios físicos, pois
auxilia na redução do estresse e no
aumento geral dos sentidos das
atividades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
COQUEIRO, Neusa; VIEIRA,
Francisco; FREITAS, Marta. (2010)
Arteterapia como dispositivo
terapêutico em saúde mental.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s
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social no processo de mudança". Acesso
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da
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prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996 - Coleção Leitura
LACAZ, Alessandra; LIMA, Silvana;
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Contemporâneo.
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NADOR, Monica (2013); Livro Jamac-
Jardim Miriam Arte Clube.
https:/lissuu.com/jamac-arte-
clube/docs/livro-jamac, Acesso em 7 de
março de 2016.
PRECONCEITO RACIAL:A
PERSPECTIVA DE UMA
EMPREGADA DOMÉSTICA
MOBILIDADE URBANA ,
VIOLÊNCIA E PRECONCEITO
Autores: Beatriz Saldanha, Bianca Jatobá,
Bruna Naswaty, Carolina Caminha, Erica
Yano e Nathalia Petreche.
Orientadora: Prof. Dr.: José Estevam
Salgueiro
INTRODUÇÃO
A força de trabalho escolhido no
âmbito do trabalho doméstico são as
mulheres, na qual, geralmente provêm
das camadas mais pobres e com índices
menores de escolaridade. Entre as
trabalhadoras domésticas brasileiras 62%,
são negras e recebem salários 15,6%
inferiores aos das brancas, conforme
Pinheiro, Fontoura e Pedrosa (2011).
É importante ressaltar que em um
passado histórico não tão distante os,
negros eram escravizados e obrigados a
servir aos brancos, vivendo de maneiras
deploráveis e prejudiciais a qualquer ser
humano, segundo o artigo "A mobilidade
social dos negros Brasileiros" de Rafael
Osório (2004, p. 13):
o Brasil era uma sociedade de
classes em rápida formação e
expansão, na qual tinha inserção
desfavorável em decorrência da sua
condição de escravo no passado
colonial, mas também do racismo
elemento arcaico que é preservado ~
remodelado, interferindo nos
processos de modernização,
instalação das classes. Essa
interferência verificar-se-ia na
lentidão com que negros e mulatos
foram integrados à sociedade de
classes, organizada para os
seguimentos privilegiados dos
brancos, como fora a sociedade
escravocrata.
Por conta deste fato, hoje em dia,
esta classe tende a ser mais desfavorecida
tanto em relação aos menores salários
quanto na dificuldade em conseguir
emprego formal, como diz o Ministério
do Trabalho (1998), sendo alvo de muita
discriminação e preconceito. De acordo
com Camino e colaboradores (2001), a
representação das relações raciais no
trabalho é formada pela crença de que os
negros se engajam em atividades
desqualificadas ou ligadas ao esporte,
enquanto os brancos se engajam mais em
atividades qualificadas e vinculadas ao
poder. Assim, Telles (1994) acrescenta
que a discriminação, expressa na
representação do tipo de emprego que o
negro deve ter e na sua admissão de um
emprego, é a partir da sua cor da pele.
o trabalho irá levantar as
perspectivas, o olhar histórico a respeito
do preconceito e suas consequências na
sociedade a partir de dois teóricos, Agnes
Heller e Gordan Allport, tomando como
base os respectivos textos "O Cotidiano e
a História" (2008) e "A natureza do
preconceito" (1977).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em seu texto "O Cotidiano e a
História" (2008), Agnes Heller diz que o
preconceito é uma categoria do
pensamento e do comportamento
cotidiano, assim, para se aproximar da
compreensão dos preconceitos, deve-se
partir da esfera da cotidianidade.Para a
autora, existem duas formas de atingir a
ultrageneralização vistas nos
comportamentos e pensamentos
cotidianos dos seres humanos: no
primeiro, as pessoas assumem
estereótipos, analogias e esquemas já
21
elaborados no segundo, eles são
inseridos nos indivíduos pelo meio em
que crescem, podendo demorar um certo
tempo para que se analise com atitude
crítica estes esquemas recebidos. Ao se
falar desta ultrageneralização nas relações
sociais, as pessoas costumam se orientar
em um complexo social dado através de
normas e estereótipos.
Segundo Heller (2008), os
sistemas de preconceitos são provocados
pelas integrações sociais nas quais os
homens Vivem e, dentro dessas
integrações, sobretudo pelas classes
sociais. A maioria dos preconceitos são
produtos das classes dominantes, mesmo
que para-si contenham uma imagem
isenta de preconceitos. A autora
acrescenta que todo sujeito, em certa
medida e sob alguns aspectos, tem
preconceitos e estes impedem a
autonomia deste sujeito.
A partir do texto "A natureza do
preconceito", Gordon Allport (1977)
argumenta que o preconceito se ongma
na generalização errônea e hostilitária,
apresentando duas dimensões essenciais
que devem estar presentes em qualquer
definição de preconceito: atitude e
crença. A adequada definição do
preconceito contém dois ingredientes
essenciais, uma atitude favorável e outra
desfavorável e deve estar vinculada a uma
crença excessivamente generalizada (e
portanto errônea). As declarações
preconceituosas expressam às vezes o
fator atitude, às vezes o fator crença e
para o autor, quando encontramos um
desses aspectos, no geral, encontramos
também o outro.
De acordo com Allport (1977), o
sistema de crenças tem a propriedade de
modificar-se plasticamente para justificar
a atitude mais permanente. Ele separa o
processo de categorização para a
construção das categorias para a base do
pré-conceito normal em 5 fases:
1- Constrói classes e agrupamentos amplos
para guiar nossos ajustes diários, isso
quer dizer que nossa experiência na
vida tende a conformar-se em
agrupamentos, e se bem podemos
equivocamos de categoria ou de
ocasião a recorrer a eles, é inegável,
não obstante, que esse processo
domina toda nossa vida mentaLNão
podemos levar toda experiêncianova
como sendo absoluta, uma nova
experiência deve se encaixar em
categorias antigas, porque se não, de
que serviriam nossas experiências
passadas?
2- A categorização se assimila o máximo
possível no agrupamento. Gostamos de
resolver os problemas com
facilidade, portanto é muito mais
fácil encaixar as pessoas em grandes
grupos do que e atentar a
individualidadede cada uma.
3- A categoria nos permite identificar
rapidamente um oijeto por suas lágrimas
comuns. Cada acontecimento tem
certas lagrimas que servem para
colocar em ação as categoriasdo pré-
julgamento. É assim que as
categorias tem uma vinculo estreito e
imediato com o que vemos, com o
modo como julgamos o que vemos e
o que fazemos.
4- A categoria satura tudo o que contém
com iguais conotações ideacionais e
emocionais. Algumas categorias são
puramente intelectuais. Essas
nomeamos conceitos. Porém, muitos
de nossos conceitos são carregados
de um sentimento característico.Por
exemplo, sabemos o que é uma
arvore, porém sabemos também que
gostamos de arvores.
5- As categoriaspodem ser mais ou menos
racionais. Para estabelecer um pré-
julgamento racional acerca de
membros de um determinado grupo,
é preciso que tenha-se um
conhecimento razoável acerca deste
grupo. Uma categoria irracional é
aquela que se forma sem uma
22
evidenciaadequada.Agarrar-se a um
pré- julgamento quando sabemos
que é errado é umas das formas mais
estranhas em que se apresenta o
preconceito.
o texto original do espanhol foi
traduzido pelo grupo.
METODOLOGIA DA
EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Para coletar as informações
necessanas para a pesquisa, foi realizada
uma entrevista, na qual, o grupo elaborou
um roteiro de perguntas para direcionar a
entrevistada para o foco da pesquisa. A
colaboradora foi a doméstica Ana Maria,
de 58 anos, a qual trabalha neste ramo há
20 anos.
A ideia principal é tentar saber como
esta funcionária se vê em meio à
sociedade e quais pensamentos a cercam
sobre o preconceito racial no âmbito de
seu trabalho. Segue abaixo as perguntas
abordadas:
1. Comovocê define sua cor?
2. O que é racismopara você?
3. Você já sofreu algum tipo de
preconceito racial?Comente.
4. Como você se sentiu?
5. Você acredita que existe alguma
diferença no tratamento entre
brancos e negros? E na questão do
trabalho?
Além da entrevista, foram utilizados
recursos audiovisuais para gravar a
entrevista, na qual a sujeita concordou
com a gravação, procurando preservar a
imagem da sujeita.
ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES
SOBRE A EXPERIÊNCIA
Através dos relatos, pode-se
perceber que a entrevistada passa por
agressões diárias que podem prejudicá-Ia
de uma certa forma pois são maneiras
diversas de preconceito. Isso prova que
sua esfera cotidiana ilustra seus
preconceitos, tanto pessoais quanto
praticados por terceiros em relação a ela.
Essas atitudes, vivenciadas por ela, se
encaixam em alguns apontamentos que
Allport (1977) discorreu sobre o
preconceito, como por exemplo, o
conceito de que a categorização se
assimila o máximo possível no
agrupamento. Assim, no relato sobre a
recusa de uma mulher moradora branca
em entrar no mesmo elevador que ela, só
pelo simples fato de ela ser negra e
doméstica, de certa forma, a exclui,
delimitando o espaço "dos proprietários"
e dos "empregados", além disso é
apresentada a questão do preconceito
racial.
Pode-se ver na fala "eu nunca
sofri preconceito, a não ser essas
bobeirinhas" que este tipo de
discriminação é vivido pela colaboradora
de forma muito naturalizada e
ultrageneralizada, uma vez que, apesar de
ela dizer que não havia passado por
nenhum tipo de situação assim, relata o
episódio sem consciência alguma de que
aquilo que estava vivendo era uma atitude
racista. Logo, percebe-se uma
contrariedade em seu discurso, pois ao
mesmo tempo em que ela acredita que
não tenha sofrido nenhum tipo de
violência relacionada ao racismo, ela
consegue contar casos que já vivenciou e
que não foram agradáveis, mostrando
nitidamente formas de agressão de viés
racial. Sendo assim, pode-se dizer que
como ela viveu todas essas experiências
em seu cotidiano, estas situações
encontram-se tão enraizadas nela que ela
não consegue enxerga-Ias como situações
23
extremamente preconceituosas. Mas isto
não significa que elas não existam ou que
ela nunca tenha passado por esse tipo de
agressão
É interessante pensar no discurso
discorrido por Allport (1977) sobre a
origem do preconceito estar ligada a
conceitos de hostilidade e generalização
errônea, apresentados claramente na
entrevista da doméstica que ela também
se agrupa para fora dos negros, que como
ela diz têm "nariz esborrachado, bem
preto e de cabelo duro". A atitude de
dizer "eu sou negra", se contrapõe na
crença de que ela não é uma "negra
comum".
Heller (2008),Para os
pensamentos e comportamentos
cotidianos levam ao preconceito. A
doméstica sabe que o preconceito existe,
mas para ela isso se naturalizou, podendo
se perceber na fala: "preto não pode
nada, preto não pode ter cabelo bom.
Mas normal, né? Eu encaro de boa.
Desde que a pessoa não ofenda a minha
pessoa em palavras, pra mim normal, eu
respeito ela", ou seja, isso se dá pelo fato
da esfera da . cotidianidade ter
naturalizado esse conceito como normal e
que apesar dos elementos históricos que
isso traz, ainda assim, episódios como
esse são vistos por ela naturalmente.
Ou seja, o preconceito racial é
visto pela doméstica de forma muito
naturalizada, não fazendo a própria
enxergar que ela mesma carrega em si a
origem deste preconceito. Ela acredita
que o preconceito é algo normal,pois
este conceito de alguma forma se
naturaliza em seu discurso e em sua vida
e acredita que as coisas funcionam assim
porque "desde que o mundo é mundo
funciona assim né?", como ela diz. Isto se
deve às normas SOCla1S que foram
ensinadas e vividas por ela e que
carregam um peso cultural muito intenso.
Ela tem consciência de seus direitos e
argumenta que o respeito tem que partir
das duas partes, do patrão e da doméstica,
mas ao mesmo tempo, se coloca numa
posição contrária ao que argumenta,
como por exemplo, o episódio do
elevador.
É importante aprofundar um
pouco este tema no âmbito do trabalho
doméstico, pois há várias questões de
desigualdade legitimadas e naturalizadas
pelo tempo e pela cultura, sendo aspectos
importantes para o reconhecimento social
destes trabalhadores e trabalhadoras.
Além disso, é importante para se
construir diálogos de forma menos
desigual e mais digna.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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prejuicio. Buenos Aires: Editorial
Universitaria de Buenos Aires, 1977.
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Asiáticos, 1994, p. 26, 21-52.
25
MOBILIDADE URBANA - METRÔ
DE SÃO PAULO
Autores: Isabela Nasrallah, Ana Carolina
Robles, Fernanda Nerguisian, Roberta
Amadei e Carolina Mattar.
Orientador: Prof. Dr. José Estevam
Salgueiro.
INTRODUÇÃO
o transporte público cada vez mais
aparece em nosso cenário cotidiano como
uma problemática na vida de seus
usuanos, Sua estrutura deficitária em
conjunto com o desgaste e a fadiga
causados pelo tempo de utilização dos
vagões prejudicam a qualidade de vida
dos que o utilizam. Grande parte dos
trabalhadores necessitam do metrô para
sua locomoção, enfrentando diversas
dificuldades, principalmente a
superlotação dos vagões, causando
prejuízos em seu desempenho diário. O
desgaste físico e psicológico causado pelo
trajeto de muitos brasileiros no transporte
público influencia suas atividades ao
longo do dia, podendo comprometê-ias
de forma expressiva.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A mobilidade urbana é um sistema
que consiste em satisfazer necessidades
dos indivíduos, referindo-se às condições
de deslocamento da população no espaço
geográfico das cidades. Esse
deslocamento de pessoas tem como
finalidade a busca de bens e serviços de
qualidade, oportunidades de qualificação
e empregos, o que compreende as regiões
metropolitanas e capitais como grandes
localidades de concentração populacional.
O termo engloba meios de
locomoção como veículos, carros e
motos sendo estes transportes
individuais ou coletivos, como o ônibus e
o metrô. O trânsito de pedestres também
está dentro desse sistema. Um dos
problemas enfrentados na mobilidade
urbana é que a maior parte das grandes
cidades do país encontram dificuldades
em desenvolver meios para diminuir a
quantidade de congestionamentos e o
excesso de pedestres em áreas centrais
dos espaços urbanos. No Brasil, a
principal causa dos problemas está
relacionada ao uso de transportes
individuais em detrimento da utilização
de transportes coletivos, ainda que esses
também tenham dificuldades com a
superlotação.
O metrô é um sistema de
transporte subterrâneo de passageiros em
área urbana, localizado em túneis ou
viadutos e segmentado em linhas
designadas entre estações. O primeiro
metrô foi construído em Londres, em
1863. O trecho inaugural tinha 6
quilômetros de extensão, que foram
abertos seguindo o traçado das ruas do
centro da capital inglesa. Em 1900, já
eram sete linhas e 84 estações. Em 24 de
abril de 1968 foi formada oficialmente a
Companhia do Metropolitano de São
Paulo.
Testes foram realizados e a
primeira vez que um trem trafegou pelo
subterrâneo paulistano foi em 6 de
setembro de 1972, sendo uma das obras
viabilizadas na gestão do prefeito Faria
Lima - essa primeira viagem de trem foi
realizada entre as estações Jabaquara e
Saúde. Em 1974, o trecho Jabaquara -
Vila Mariana começou a operar
comercialmente, nesse mesmo ano a
companhia registrou média diária de
apenas 2.858 passageiros. A operação era
manual. Os profissionais usavam uma
lousa de metal com o sistema dos trens e
imãs, representando veículos para
26
,...... •.
controlar todo o movimento da linha.
Em novembro 1982, o Metrô contratou
as primeiras mulheres condutoras de
trens. O Metrô paulistano é o maior e
mais movimentado sistema de transporte
metroviário do Brasil, com uma extensão
de 78,4 quilômetros de linhas ferroviárias
distribuídas em seis linhas, que possuem
um total de 67 estações. Transporta cerca
de 4,7 milhões de passageiros
diariamente. Em 2014 o Metrô de São
Paulo ultrapassou a marca de 24,5 bilhões
de passageiros transportados desde a sua
inauguração em 1974. A estação mais
movimentada é a Sé, no centro,
recebendo diariamente 603 mil pessoas
em dias úteis. Tem a capacidade de
100.000 passageiros. Sete milhões de
passageiros dependem do transporte
sobre trilhos na região metropolitana da
Capital. A superlotação é um fator
agravante no trajeto do passageiro.
Grande parte dos trabalhadores
necessita de um meio de locomoção para
realizar o percurso de suas tarefas diárias,
porém durante esse deslocamento muitas
dificuldades são encontradas, causando
prejuízos e mudanças no comportamento
e no desempenho destes sujeitos. Essa
rotina diária nos meios de transporte
público não é uma tarefa fácil, muito pelo
contrário; a pessoa que frequenta o metrô
enfrenta diversos transtornos em seu dia-
a-dia, como por exemplo a sua
infraestrutura precária, principalmente
pelo fato de ter um número muito grande
de usuários para pouco crescimento da
frota, não atendendo a demanda. As
dificuldades enfrentadas por esses
passageiros acarretam em um grande
desgaste físico e psicológico contribuindo
para o prejuízo do desempenho no
trabalho devido aos seus
comportamentos desagradáveis,
inesperados e insatisfatórios na realização
de tarefas, devido à falta de motivação e
energia pelo estresse excessivo que eles
passam durante o trajeto. Esses
comportamentos na maioria deles são
inconscientes que atuam de forma
negativa para o estilo de vida do
indivíduo. Em decorrência disto, fatores
como insatisfação e frustração são
constantes na vida do usuário.
O desempenho do sujeito visa o
seu comprometimento e a realização de
seus objetivos expressos através da sua
responsabilidade assumida a partir de seu
trabalho ao realizar tarefas. Conectada
com o desempenho, a motivação é um
comportamento próprio do indivíduo,
que determina sua conduta servindo de
motivos internos que constroem as
situações e os ambientes externos. Isto é,
as consequências das alterações no seu
desempenho profissional são
influenciadas por fatores motivacionais.
Fadiga, cansaço, desconforto, insegurança
e estresse são fatores notórios dos
resultados principais da alteração do
comportamento do trabalhador.
METODOLOGIA DA
EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Para a realizaçãoda experiência
de estágio, utilizou-se como instrumento
metodológico a entrevista
semiestruturada, além de recursos
audiovisuais na gravação das entrevistas
com usuários do metrô e sociólogos.
ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES
SOBRE A EXPERIÊNCIA
Pensar em qualidade de vida sem
pensar em mobilidade e acessibilidade é
impossível, pois são elas que garantem a
autonomia ao cidadão. São também elas
que se tornam presentes no momento de
ir e vir, seja ao deslocar-se para o
27
emprego ou na busca de uma forma
alternativa de entretenimento fora de seu
bairro. É indispensável promovê-ias com
autonomia e segurança. Melhorando,
consequentemente, a qualidade de vida de
todos os usuários do espaço urbano e
garantindo o exercício de uma real
cidadania (MINISTÉRIOS DAS
CIDADES, 2014).
Com Base nos dados coletados
pelas entrevistas dos usuários, pode-se
perceber que o tempo em que os usuários
passam no metrô causa-lhes desgaste
físico e emocional, principalmente por
conta do número de pessoas nos vagões.
A infraestrutura foi apontada
pelos entrevistados como boa em alguns
aspectos, porém um dos problemas
relatados nas entrevistas é que em certos
casos o próprio usuário danifica a
infraestrutura do metrô, como por
exemplo, quando grudam chiclete nos
assentos. Entre as principais sugestões
de melhoria apresentadas pelos
entrevistados, estão presentes a
necessidade de um número maior de
metrôs em circulação, a retirada de
metrôs antigos, já que esses problemas
apontados são considerados pelos
usuários como comprometedores no
trajeto das pessoas.
Os sociólogos apontaram como
principal problema a superlotação do
metrô o que prejudica o trajeto das
pessoas, causando desgaste e estresse.
Para eles é necessário melhorar toda a
rede de transporte público, expandir o
metrô de SP, melhorar os benefícios aos
idosos e deficientes que frequentam o
metrô e a tarifa deve ser cobrada de
acordo com a infraestrutura que é
oferecida aos usuários. Eles consideram
que o transporte público deve ser
prioridade do governo, já que a
mobilidade interfere de várias maneiras
no dia-a-dia das pessoas.
A acessibilidade a destinos é uma
forma de superar um obstáculo espacial
(que pode ser medida pelo tempo e/ ou
distância) e que é uma característica
inerente a um determinado local. A
facilidade dos usuários alcançarem os
destinos pretendidos -traduzida pela
consciência dos itinerários dos meios de
transporte publico coletivo com os
desejos dos usuários- pode ser expressa
através da redução do tempo necessário
para se efetuarem os deslocamentos
através da rede de linhas (CARDOSO,
2008).
A superlotação do metrô foi o
principal problema apontado pelos
usuários e pelos sociólogos, sendo fator
determinante para a fadiga e estresse
apresentados pelos usuários em seu dia-a-
dia. O aumento da frota melhoraria seu
trajeto e lhes proporcionaria melhores
condições de locomoção, assim como
saúde física e mental.
A acessibilidade pode ser
interpretada, portanto, como uma relação
entre pessoas e espaço, e que,
independentemente da realização de
viagens, mede o potencial ou
oportunidade para deslocamentos a
atividades selecionadas. Sendo assim, a
acessibilidade estaria diretamente
relacionada à qualidade de vida dos
cidadãos e traduziria a possibilidade de as
pessoas participarem de atividades de seu
interesse (CARDOSO, 2008).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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29
UNIVERSIDADE, UM ESPAÇO DE
VIOLÊNCIAS: O NÃO-LUGAR E O
SENTIMENTO DE NÃO
PERTENCIMENTO
Autores:
César Lacerda, Gabrielly Leite, João
Neto, Luiz Cardoso, Patrícia Tostes,
Rafael Brito e Tatiana Gusmão.
Orientador: Prof. Dr. José Estevam
Salgueiro.
INTRODUÇÃO
A história do nosso país é
marcada por profundas desigualdades que
ocasionaram na marginalização de grande
parte da população em detrimento do
acúmulo de benefícios de outros. Essa
parcela marginalizada foi e ainda é
impedida de efetivar a sua cidadania
acessando direitos básicos como, por
exemplo, educação de qualidade, moradia
digna, alimentação adequada e direito à
cidade. Esta camada segregada, em sua
grande maioria, ocupa as periferias de
regiões precarizadas que muito
frequentemente são utilizadas apenas
como bairros dormitórios, uma vez que
existem poucos recursos culturais e de
lazer e esta população passa a maior parte
do tempo no centro e/ou em bairros
elitizados da cidade, trabalhando em
serviços precários para garantir a sua
sobrevivência.
Ocupando esses espaços, que
foram historicamente destinados à elite,
essa classe marginalizada encontra-se
sempre em uma posição de submissão,
como prestadores de serviços. Quando
essa lógica se inverte e estar ali se
constitui como um direito, estas minorias
políticas não se sentem pertencentes a
estes lugares. Na medida em que direitos
desse tipo foram transformados em
privilégios de uma pequena parcela da
população, a cidade e seus mecarusmos
passaram a se constituir como uma
violência simbólica para quem não
consegue acessá-la, violência esta que diz
respeito à manutenção das estruturas
sociais e de dominação.
No campo educacional, podemos
perceber a reprodução deste modelo de
sociedade desigual. Vivemos um grande
sucateamento das escolas públicas, que
são destinadas às classes populares,
enquanto a classe média e alta paga e
recebe desta instância educacional um
serviço diferenciado, de qualidade,
solapando das camadas SOCiaiSmais
baixas o direito a uma formação integral.
Já no ensino superior há uma inversão
nas modalidades, mas não na lógica:
estudantes advindos do ensino privado
acessam as universidades públicas
(consideradas de melhor qualidade) ou
universidades privadas de primeira linha
com mensalidades exorbitantes, enquanto
as (os) estudantes de ensino público não
têm .perspec~va de. acessar o I.ensino
supenor, pOlS preClsam garantilr seu
sustento e de sua farrúlia. -rbdavia,
quando o acessam o fazem através de
instituições privadas consideradas de
baixa qualidade. Dessa maneira, percebe-
se que no mundo contemporâneo, o
pobre ainda não tem direito à educação.
Historicamente, o espaço universitário é
um sistema que promove a reprodução e
perpetuação das desigualdades sociais.
Este espaço nasceu para ser usufruído
pelas classes dominantes. A presença de
estudantes de classes populares em
universidades reconhecidas como "de
primeira linha" ainda é pouco expressiva,
porém esse cenário vem aos poucos se
modificando graças às políticas
afirmativas como o Programa
Universidade para Todos (proUni) , o
30
Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies) e as leis de cotas sociais e raciais.
Estas políticas públicas foram pensadas
para possibilitar a permanência de alunas
(os) debaixa renda e/ou negras (os)
nesses espaços que foram, por toda a
história, destinados à burguesia. Sendo
assim, essas políticas são de
democratização e correção histórica do
acesso ao ensino supenor e são
extremamente necessárias, pOlS são
mecamsmos fundamentais para a
diminuição das desigualdades SOClalS.
Agora, esta mudança no acesso à
educação superior gera como um de seus
reflexos a confrontação de classes sociais,
na qual as pessoas pobres não se sentem
reconhecidas e representadas nesses
espaços, pois estão muito longe de sua
realidade como evidência Bell Hooks:
[...] a evocação constante das
experiências das classes
materialmente privilegiadas
(geralmenteas da classemédia) como
norma universal que não só afastava
as pessoas da classe trabalhadora
como também excluía os
desprivilegiadosdas discussões e das
atividades sociais (Hooks, 1994, p.
240).
Esses conflitos gerados pelas
diferentes origens de classe reverberam
como um ato de violência, desdobrando-
se em diversos conflitos para a (o)
oprimida (o) que se vê pressionada (o) a
abandonar as suas origens, valores, forma
de se expressar e o modo de
compreender a realidade.
"A exigência de que os indivíduos
cujas origens de classe são
consideradas indesejáveisabram mão
de todos os vestígios de seu passado
cria turbulências psíquicas" (Hooks,
1994,p. 241).
Com o intuito de ilustrar as
questões supracitadas, entrevistamos duas
estudantes oriundas de classes populares
que estudam na Pontífica Universidade
Católica de São Paulo (puc-SP) e na
Universidade de São Paulo (USP) para
que pudessem falar sobre a sua história,
resistência e sentimentos envolvidos no
espaço universitário. A partir dessas
entrevistas foi confeccionado um vídeo
de 12 minutos em que as entrevistadas
expõem, de forma autônoma, seus
conteúdos a respeito do estar, do
conviver e do resistir na universidade.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para tratarmos do sentimento de
pertença na universidade, e, além disso,
sob uma perspectiva de classes, é notório
que um dos temas circundantes de mbior
relevância para a análise dos dados lé o
preconceito. No seu livro "O CotidiaÁo e
a História", Agnes Heller conceitua o
preconceito como uma categoria do
pensamento e do comportamento
cotidiano, ou seja, apesar de ter a
capacidade de influenciar pensamentos
mais complexos como o científico oii o
artístico, sua essência se encontra na
esfera da cotidianidade.
[...] devemos nos aproXlIllat da
compreensão dos preconce tos
partindo da esfera da cotidianid·de.
São traços característicos da fida
cotidiana: o caráter momentâneo 8, os
efeitos, a natureza efêmera das
motivações, a fixação repetitiva do
ritmo, a rigidez do modo de da.
(Heller, 1985,p.43).
31
A autora argumenta, ainda quí. o
preconceito nasça de juízos provisórios
da realidade, ou como ela gosta de
chamar, ultrageneralizaçães, e que o
indivíduo as assimila através da assunção
própria de estereótipos e analogias já
elaboradas ou da reprodução destas por
uma "implantação" do meio cultural em
que convive. Agora, ultrageneralizações
são necessárias para a manutenção da
nossa vida cotidiana, afinal, não podemos
desprender um raciocínio filosófico,
científico ou artístico a cada pensamento
que tivermos. O preconceito então, se
instaura, quando este juízo provisório é
falso, ou seja, é refutado pela experiência,
pelo conhecimento ou pela decisão moral
individual. Nas palavras da autora: "Os
juízos provisórios refutados pela ciência e
por uma experiência cuidadosamente
analisada, mas que se conservam
inabalados contra todos os argumentos
da razão, são preconceitos." (Heller,
1985, p.47).
Para Heller, a maiona dos
preconceitos é produto das classes
dominantes, pois desejam manter a
coesão de uma estrutura social que lhes
beneficia. Em outras palavras, o
preconceito é uma artimanha utilizada
pela classe hegemônica em favor da
manutenção de seus privilégios.
Deve-se observar ainda, nesse
contexto, que a classe burguesa
produz preconceitos em muito
maior medida que todas as classes
sociais conhecidas até hoje. Isso
não é apenas consequência de
suas maiores possibilidades
técnicas, mas também de seus
esforços ideológicos
hegemônicos: a classe burguesa
aspira universalizar sua ideologia.
(Heller, 1985, p.54).
Dentro desse contexto, fica fácil
notar como a universidade foi pensada
para a manutenção do status quo social:
primeiro, limita-se o acesso ao ensino de
qualidade apenas àqueles pertencentes a
determinada classe e segundo, estrutura-
se ideologicamente, materialmente e
arquitetonicamente o espaço universitário
numa lógica classista e meritocrática,
obrigando as (os) pertencentes das classes
mais baixas a abrir mão de seus valores,
suas referências e seus modos de ser em
detrimento da aceitação dos valores da
classe média que são tidos como
referência universal na sala de aula.
Bell Hooks evidencia que a classe
é mais do que a condição econômica e
nos alerta para as suas dimensões
simbólica e determinante de interesses e
valores. O que predomina na sala de aula
são os valores e modos de vida das
classes privilegiadas, desde a escolha dos
assuntos, passando por suas perspectivas
até às formas como o conhecimento é
partilhado. A estrutura da sala de aula
segue uma lógica racista, sexista e elitista,
criando uma realidade de silenciamento
das classes marginalizadas (Hooks, 1994).
E isso gera um problema para a casa do
saber, pois a limitação da expressão do
seu modo de ser também é limitadora do
pensamento.
Esse silenciamento se constitui
como uma negação do conhecimento
(que muito frequentemente advém da
experiência cotidiana) e
consequentemente, do lugar de fala
destes estudantes "não-pertencentes" ao
espaço universitário da elite. Nesta
perspectiva:
Como ele a comunicará? Se tentar
expô-ia, não será ouvido; pois os
outros não conhecendo essaverdade,
não a reconhecerão como tal; não
saberão que o que ele está dizendo é
verdade;não lhe prestaram atenção o
suficientepara se aperceberemdisso;
pois não terão nenhum motivo para
realizar esse esforço de atenção.
(Weil,2001.p 187).
Simone Weil (2001) defende que a
necessidade mais importante da alma é a
32
necessidade de enraizamento, sendo
assim todos os seres humanos precisam
criar raízes para que eles possam manter
as memórias do seu passado, olhar para o
futuro e conseguir manter sua
coletividade, não reproduzindo assim
pensamentos que não estejam atrelados a
sua própria história e desta forma,
preservando o importante papel da
coletividade para vida humana. A
participação natural, automaticamente,
surge do lugar, do nascimento, da
profissão, do ambiente. O ser humano
precisa sempre ter múltiplas raízes, para
que dessa forma ele saiba da sua
totalidade da sua vida moral, intelectual,
espiritual. Assim, como uma universitária
(o) advinda (o) de classes marginalizadas
pode enraizar-se em um ambiente que
não é o dela (e), que não é ocupado pelos
dela (e) e nem pensado, historicamente,
para ela (e)? As violências vividas no
meto universitário promovem um
desenraizamento do indivíduo, anulando
suas singularidades e promovendo uma
homogeneização do espaço da sala de
aula, onde todas as pessoas residentes do
espaço são entendidas como iguais.
Destaca-se o desenraizamento
geográfico como um conceito que denota
a falta de pertencimento a um
determinado território, o não usufruir da
coletividade em um determinado espaço
(Weil, 2001). A autora evidencia a missão
da nação em unir os indivíduos e
conseguir assegurar uma ponte entre o
passado e o futuro, direcionando-os e
integrando-os aos espaços comuns a
todos. A dificuldade reside no fato de que
na atualidade, há uma falta de
contextualização histórica. A
historicidade, se não considerada, pode
ser um fator agravante para o
reconhecimento da coletividade e do
sentimento de pertença aos espaços, no

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