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A JURISPRUDENCIA

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21
CENTRO UNIVERSITÁRIO MOACYR SREDER BASTOS.
FACULDADE DE DIREITO.
SOCIOLOGIA.
ALEX MARCOLINO DA SILVA. mAT.: 2018020801
HANNA THAINA B. DE ALBUQUERQUE. MAT.:2018029925
JANISsON t. brito. mat.: 2018024422
JÉSSICA FERNANDES CARVALHO. MAT.:2018028870
JULIANA MACEDO DE PAIVA. MAT.:2018026492
KÉDIMA BARBOSA DE SOUZA. MAT.:2018029265
THAURINO OLIVEIRA DA SILVA. MAT.:2018023689
a JURISPRUDÊNCIA.
TRABALHO EM GRUPO.
RIO DE JANEIRO
2018
a JURISPRUDÊNCIA.
Trabalho em grupo.
Professora: Ângela Castilho.
Resumo
A JURISPRUDÊNCIA. 24 folhas. Trabalho em grupo 
Na tentativa de solucionar antigos problemas relacionados à morosidade e à eficiência, o Judiciário brasileiro vem implantando medidas fundamentadas nos princípios da isonomia, da segurança jurídica e da garantia da razoável duração do processo. Expõe-se, então, a uniformização de jurisprudência como procedimento capaz de otimizar a atividade jurisdicional, destacando sua função de conferir igualdade a casos análogos entre si, além de tornar previsível o direito a ser aplicado aos jurisdicionados e mais célere a tramitação processual. Analisa-se, ainda, os fundamentos da uniformização e a influência dos sistemas jurídicos do common law e civil law no modo de aplicação da jurisprudência brasileira, demonstrando a atual convergência entre ambos os sistemas. Por fim, examina-se cada um dos mecanismos de uniformização de jurisprudência previstos no ordenamento jurídico pátrio, salientando a relevância dos mesmos para a busca da excelência na atividade jurisdicional no Brasil.
Palavras-chave: Conceito histórico. Uniformização de jurisprudência. Mecanismos de uniformização de jurisprudência.
	
	
	Nº
	01
	INTRODUÇÃO
	05
	02
	 A JURISPRUDENCIA COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO
	05
	03
	ORIGENS HISTÓRICAS DO TERMO "JURISPRUDENCIA"
	06
	04
	A EVOLUÇÃO DO INSTITUTO - "ASSENTO"
	10
	05
	O PRECEDENTE (DECISÃO ISOLADA)
	12
	06
	A JURISPRUDENCIA UNIFORME
	14
	07
	INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDENCIA
	16
	08
	AS SÚMULAS
	18
	09
	SÚMULA VINCULANTE
	19
 sumário
01 introdução.
É do conhecimento de todos que a justiça anda a passos lentos. Até mesmo os leigos, que nunca dela necessitaram, têm consciência da crônica morosidade do sistema processual.
A intenção do presente estudo é, pois, refletir sobre o instituto da jurisprudência. Meio de celeridade processual e efetivação da prestação jurisdicional, em uma conjuntura cada vez mais grave de morosidade do sistema.
De fato, o legislador processual optou por prestigiar a jurisprudência dominante e sumulada dos Tribunais pátrios inserindo e modificando diversos dispositivos do Código de Processo Civil para contemplar os entendimentos consolidados.
A jurisprudência merece sim ser utilizada em todo o seu potencial unificador de decisões. Todavia, é preciso tecer algumas considerações antes de aceitá-la como instrumento de celeridade processual.
02 A JURISPRUDENCIA COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO
Apesar de não ser assim consagrada pelo ordenamento processual, é crescente a analogia de fonte do direito que a jurisprudência toma para si. [1: Confirmando a ausência de previsão da jurisprudência como fonte formal, José de Albuquerque Rocha assimJustifica: “Esta exclusão, deve-se, provavelmente, a uma concepção estreita do legislador sobre a jurisdição,Qual seja, a de que um juiz é mero “aplicador” da lei.” (2006, p. 58.)]
É de conhecimento que os operadores do direito como os legisladores costumam recorrer à Jurisprudência para solucionar os julgados e os entraves processuais. Até mesmo onde há lei que regule, a jurisprudência é utilizada a contento. 
A busca pela motivação da atual ascensão valorativa da jurisprudência no sistema Processual constitucional, portanto, nos leva a pesquisar sua origem, significado e natureza em uma tentativa de encontrar em suas bases a razão da elevação de seu status.
03 ORIGENS HISTÓRICAS DO TERMO “JURISPRUDENCIA”
Com uma pesquisa aprofundada de alguns textos antigos comprovamos a existência de uma atividade similar ao que, conhecemos como entendimento jurisprudencial e é no período romano que se encontra a raiz desse instituto. [2: Nesse sentido, apontamos de Paulo Dourado Gusmão: “[...] antes de Roma, não se pode falar em jurisprudência, pois na Grécia, onde as idéias filosóficas e políticas se desenvolveram, a jurisprudência se confundia com a ética, com investigações sobre a República perfeita, a lei justa, a justiça considerada como virtude” (1925 apud MANCUSO, 2007, p. 11.)]
Em Roma a palavra jurisprudência estava atrelada ao trabalho de interpretação e esclarecimento dos textos jurídicos realizada pelos jurisconsultos, que nessa época utilizavam o conhecimento das coisas divinas e humanas, e da ciência do justo e do injusto para formular suas teses.[3: MANCUSO, 2007, p. 12.]
Nessa época clássica, o direito deixou de ser objeto de meras reflexões filosóficas e éticas (Grécia) sobre o “justo” e se tornou uma ciência sistematizada, através de leis escritas, estudadas e aplicadas na práxis do dia-a-dia para solucionar os conflitos intersubjetivos dos cidadãos romanos. 
A etimologia da palavra jurisprudência é originário da aglutinação das palavras latinas – “JURE” (Direito) E “PRUDENTIA” (Prudência) – Os jurisconsultos gozavam de grande prestígio entre os romanos e eram também chamados de "prudentes", palavra que de per si traduz uma qualidade que deveria ser imanente a cada cidadão que laborasse na exegese das normas da época.[4: Id., 1989, p. 3.][5: Lei das XII Tábuas, Digesto, Code Jure Civilis]
Sintetizando, a jurisprudência em Roma consistia na interpretação das leis da época e elaboração de documentos (Digesto, Institutas, Editos) contendo essas interpretações para aplicação aos casos concretos.
Com a chegada da idade média e o contato da civilização romana com outros povos, a jurisprudência adquiriu feições distintas e finalidades diversas. Os ensinamentos dos jurisconsultos e as coleções de interpretações dadas por eles às normas escritas tornaram-se fontes para o processo de codificação. Evoluiu-se, assim, de uma mera atividade exegética auxiliar à aplicação das normas, para as interpretações que passaram a ter caráter obrigatório, impositivo, que, em consequência, tornaram-se leis codificadas.
Esse ordenamento jurídico, é o civil law dos países romano-germânico, agora citaremos o direito anglo-saxão, composto pelo sistema jurídico conhecido como common law.
A expressão jurisprudencia ganhou uma importância melhor no sistema common law inglês, que foi desenvolvido para ir contra os costumes locais que não eram comuns. Para combater isso, o rei enviava juízes que presidiam os júris e constituiu um sistema de regras e tribunais separados. O direito inglês apresenta-se como direito jurisprudencial, como um direito casuístico, ou case law, em que predomina a regra do precedente, temperada pela aplicação do princípio da equidade.
O sistema jurídico da common law, tem seus relatos de utilização nos tribunais de justiça da Inglaterra do século XIX, decorrente da experiência judiciária e consolidada nos reiterados julgamentos.
Atualmente, além da maior parte dos Estados Unidos e do Canadá, os países influenciados pelo direito anglo-saxão também adotam esse sistema. Destaque-se que, em cada país que foi adotado, o common law adquiriu diferentes peculiaridades, uma vez que, em cada um deles, sofreu diferentes influências históricas.
No common law, as decisões judiciais baseiam-se muito mais nos usos e costumes, concretamente apresentados através dos precedentes judiciais, do que na legislação positivada vigente no país. Segundo Miguel Reale, nesse sistema, “o direito é [...] coordenado e consolidado em precedentes judiciais isto é, segundo uma série de decisões baseadas em usos e costumes prévios”.
A característica que melhor define o common law é a vigência da doutrina do stare decisis,uma forma abreviada da expressão latina stare decisis et non quieta movere. Em tradução literal, o stare decisis significa permanecer como foi decidido e não mover o que está em repouso, que, em outras palavras, pode ser interpretado como cumprir os precedentes e não perturbar os pontos pacíficos. Essa doutrina confere status de “fonte de direito” ao precedente jurisprudencial, e, em alguns casos, caráter vinculante às decisões judiciais.
Mais do que o sistema jurídico civil law aqui tratado, o common law acompanha com mais eficiência as transformações na sociedade. Isso porque as decisões têm por fundamento outras decisões, que partiram de um caso concreto, fruto, por sua vez, de questões conflituosas na própria sociedade. Não se quer dizer aqui que o sistema da civil law estagna no direito, mantendo-o sem mutações. A verdade é que no civil law as mudanças se realizam primordialmente através do Poder Legislativo, por meio de mecanismos mais rígidos e burocráticos do que as transformações realizadas através do Poder Judiciário, cujos atos são mais imediatos.
Nesse sentido, discorre Mauro Cappelletti, in verbis:[6: CAPPELLETTI, MAURO. Juízes Legisladores? Tradução de Carlos Alberto de Oliveira. Porto Alegre>Sérgio Antonio Fabris Editor, 1999, p. 85.]
O direito jurisprudencial, de fato, pelo menos enquanto não cristalizado pela aplicação demasiadamente rígida da regra do stare decisis (como ocorreu em algumas épocas na Inglaterra e em outros lugares), tem certamente um potencial de flexibilidade, de concretude e de adaptabilidade às circunstâncias imprevisíveis do caso, maior em princípio do que o do direito legislativo. E como já foi verificado, essas qualidades assumem valor particularmente grande justamente naquelas épocas e domínios do direito em que transformações sociais são muito rápidas e profundas, como ocorre com intensidade sem precedentes nos nossos dias.
Essa flexibilidade da doutrina do stare decisis, além de tornar as decisões e as normas mais rapidamente adaptadas à realidade social, faz com que a isonomia se estenda por entre os jurisdicionados com mais efetividade do que o que ocorre no civil law. E mais: torna as decisões judiciais mais previsíveis inclusive do ponto de vista do jurisdicionado. 
Manter as futuras decisões embasadas em precedentes implica em decisões previsíveis e, consequentemente, em um ordenamento jurídico seguro, onde é minimizada a possibilidade da existência de decisões judiciais conflitantes em casos análogos. Nesses casos, o cidadão jurisdicionado pode prever, em um razoável nível de certeza, as consequências de seus atos.
O direito romano foi a fonte de influência do direito português. Esse vigeu no Brasil da colonização até um estreito período após a independência quando em 1824 o imperador outorgou a Constituição Política do Império, decorrendo daí uma nova ordem jurídica e o surgimento de novas normas (Código Criminal de 1830, Código de Processo Criminal de Primeira Instância de 1832, etc.).[7: LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva . 2008. p.39]
No Brasil predominou o sistema de codificação (civil law) e a jurisprudência foi construída a partir da interpretação dos diversos textos legais que vigoraram em cada época, tendo mais ou menos importância de acordo com o sistema de governo vigente, servindo ora como meio de legitimação do arbítrio do governante, ora como ferramenta de atualização e humanização da letra fria da lei.
Hodiernamente, o termo "jurisprudência" é aplicado sob três acepções distintas, quais sejam: o sentido epistemológico ou clássico, em sentido lato e, por último, na acepção restrita ou técnico jurídica.
No sentido epistemológico ou clássico, o termo "jurisprudência" é usado para definir um ramo de conhecimento com metodologia e objeto próprios que estuda as normas escritas postas pelo Estado, ou seja, a Ciência do Direito. [8: REALE, 2002, p. 16]
Já no sentido lato, usa-se "jurisprudência" para referir-se ao conjunto de todas as respostas (sentenças e acórdãos) proferidos pelo poder judiciário brasileiro, sejam uniformes ou contraditórias.[9: NADER, 2006, p. 172.]
Por último, em sentido restrito ou técnico jurídico, traduz-se o termo "jurisprudência" como sendo um conjunto uniforme e reiterado de acórdãos de um determinado Tribunal.[10: NADER, 2006, p. 172.]
Como fora dito anteriormente, a jurisprudência é resultante de situações muito diferentes das utilizadas no período romano, ganhando outros ares e crescendo de forma exponencial até se transformar em fonte do direito.
Num conceito popular podemos dizer que a jurisprudência indica a “Ciência da legislação e do Direito”. Nessa linha o doutrinador Rodolfo de Camargo Mancuso apresenta a seguinte definição: a jurisprudência “representa a somatória indiscriminada do produto judiciário, isto é, a grande massa de decisões, de mérito ou não, consonantes ou discrepantes, terminativas ou finais, prolatadas por órgão similares ou colegiados, em todo o país e em todas as Justiças”.[11: MANCUSO, 1989, p. 1][12: Id., 2007, p. 130.]
Em termos técnicos, trata-se de um conjunto ordenado de decisões congruentes sobre uma mesma matéria, proferidas em determinado Tribunal. Essa definição, contudo, não apresenta os moldes da jurisprudência que nos sobressalta. Contudo, é pelo entendimento prático que verificamos todo o poder conferido às jurisprudências. 
Quando uma decisão se destaca de forma reiterada, projetando efeitos em face de outras demandas, sua inteligência passa a ser considerada jurisprudencial e, logo, paradigmática.
Jurisprudência é, o conjunto uniforme e constante das decisões judiciais sobre casos semelhantes, mostrando a interpretação correta da norma para ser aplicada ao caso in concreto.
04 A EVOLUÇÃO DO INSTITUTO JURIDICO – “ASSENTO”
O direito português, que muito influenciou a constituição das leis brasileiras, apresentava, em seu antigo sistema normativo, a previsão do instituto dos ‘assentos’, segundo o qual um colegiado de julgadores fixava o entendimento que deveria ser dado à determinada ordenação. Caso um magistrado deixasse de aplicar o entendimento assentado sujeitava-se até a ser suspenso.[13: MOREIRA, 2005, p. 21.]
O ‘assento’, portanto, era ato do Poder Judiciário que objetivava conferir à lei interpretação exata. Por ele, não se julgava um caso in concreto, apenas determinava-se o entendimento que deveria ser conferido à lei, quando a seu respeito sobrevinham divergências nas sentenças.[14: STRECK, 1995, p. 100.]
Os assentos foram, em verdade, a semente dos atuais entendimentos
Jurisprudenciais. Já no Brasil imperial o Supremo Tribunal tinha competência para tomar assentos sobre as leis civil, comercias, e criminais, quando houvesse julgamentos divergentes. Desde então, a utilização de mecanismos uniformizadores dos julgados só cresceu.[15: Ibid., p. 85.]
Quando a República foi constituída, seu sistema normativo não adotou a previsão dos assentos, mas continuou buscando formas de uniformização da jurisprudência. O atual recurso extraordinário é resultante dessa conjuntura.
A Constituição de 1891 instituiu o recurso, sem nomeá-lo, permitindo sua
Interposição quando houvesse divergência doutrinária. Entretanto, somente com a Constituição de 1926 foi expressamente conferida ao Supremo Tribunal Federal a função unificadora de julgar recurso extraordinário nos casos em que dois ou mais tribunais estaduais interpretassem de forma divergente a mesma lei federal.
Ainda no espírito unificador, em 1963, por orientação do Supremo Tribunal Federal, foi criada a ‘Súmula da Jurisprudência Predominante’, que tinha por objetivo atenuar o problema, que ainda hoje persegue os tribunais pátrios, da sobrecarga dos órgão jurisdicionais.[16: STRECK, 1995 p. 101/102.]
Embora não houvesse disposição legal no sentido de conferir efeito vinculante aos entendimentos fixados pela Súmula, ela exerceu enorme influência nos julgamentos dos tribunais e dos juízes de primeirograu. Poucas sentenças e acórdãos tentavam inovar, adotando tese destoante dos entendimentos constantes da Súmula. Comumente, os julgados não faziam qualquer referência à legislação, aplicando a Súmula da Jurisprudência Dominante como seu único fundamento - ainda hoje, há juízes que utilizam essa prática indiscriminadamente.[17: MOREIRA, 2005, p.22.]
O anteprojeto do Código de Processo Civil, de autoria de Alfredo Buzaid, até tentou, sem sucesso, ressuscitar o mecanismo dos antigos assentos. A intenção do anteprojeto era de que a tese jurídica tomada pela maioria absoluta dos membros de cada Corte Suprema seria obrigatória enquanto não modificado por outro acórdão proferido em sentido diverso. Caberia, então, ao Presidente do respectivo Tribunal baixar assento, que passaria a ter força de lei. O projeto, contudo, abandonou a ideia dos assentos, atribuindo à matéria novo aspecto inspirado nas súmulas do Supremo Tribunal Federal.[18: Ibid, p. 23.]
Os assentos portugueses, portanto, foram responsáveis pela introdução da ideia de uniformização dos julgados no direito brasileiro, que passou a ser uma obsessão buscada pelo legislador e pelo intérprete.
Atualmente a jurisprudência encontra-se em ascensão exponencial. Não bastasse a sua utilização para a uniformização dos julgados, sua eficácia gradativamente potencializada pelas inúmeras reformas processuais e constitucionais resultou na criação de institutos como a súmula vinculante e a súmula impeditiva que, por vezes, impedem a criação de novos julgados, cerceando o livre convencimento do magistrado, conforme veremos adiante.
05 – O PRECEDENTE (DECISÃO ISOLADA)
A exegese, toda decisão judicial é vinculante, pois produz uma determinação a ser obrigatoriamente observada. Entretanto, há algumas decisões que vinculam apenas as partes (eficácia inter partes) e outras que vinculam também terceiros que não são partes (eficácia erga omnes). Não podemos deixar de citar, as expressões - Ex tunc (retroatividade da lei) do ponto de vista temporal, tem efeitos que retroagem no tempo desde a data da publicação da lei ou ato normativo inconstitucional. Excepcionalmente porém com base nos princípios da segurança jurídica e boa-fé poderá a declaração conter efeitos Ex Nunc, ou seja não retroativos, desde que razões de ordem social ou pública exijam.[19: Inter Partes, ou seja o controle difuso só produz efeito entre as partes do processo (autor e réu)][20: Erga omnes (do Latim, contra, relativamente a, frente a todos) é uma expressão usada principalmente no meio jurídico, para indicar que os efeitos de algum ato ou lei atingem todos os indivíduos de uma determinada população ou membros de uma organização, para o direito nacional.]
 O Direito funciona por uma mecânica impositiva. Dizer isso significa que ele não se limita apenas a ordenar e prescrever comportamentos, mas utiliza-se também de sanções no caso de descumprimento da norma. Desta mesma maneira impositiva são solucionados os conflitos de Direito levados ao Poder Judiciário. Assim, afirma-se que os tribunais resolvem as controvérsias jurídicas a eles encaminhadas de forma definitiva; ou seja, possuem a “última palavra”. Caso um ordenamento jurídico não funcionasse dessa maneira, a aplicação do Direito seria impossível.
Quando essa decisão judicial - que representa a “última palavra” - não pode mais ser derrubada via instrumento jurídico recursal, passa a ser considerada e a possuir força de coisa julgada.
Nesse diapasão, é inegável que a causalidade judicial é endêmica no Brasil. Por isso, um regime legal voltado ao respeito a precedentes judiciais deve ocupar um lugar de honra no nosso sistema jurídico.
O precedente tem como característica essencial é ser de observância obrigatória pelos órgãos judiciais que proferiram o entendimento e pelos órgãos judiciais inferiores.
O Doutrinador José Rogério Cruz e Tucci afirma: “Na atualidade, o direito brasileiro adota um modelo misto quanto à eficácia dos precedentes judiciais, a saber: 
Precedentes com eficácia meramente persuasiva; 
Precedentes com relativa eficácia vinculante; e 
Precedentes com eficácia vinculante”.
Os precedentes com eficácia vinculante podem ser: 
As súmulas do STF; 
Decisões proferidas pelo STF e pelos Tribunais de Justiça no âmbito de controle concentrado de constitucionalidade; e 
As decisões proferidas no incidente de processos repetitivos.
Em síntese, esse é o arcabouço jurídico existente no Brasil para aplicação do precedente ao caso concreto, com força tanto vertical como horizontal.
Todavia, a falta de coerência entre as decisões judiciais produzidas por um mesmo tribunal, órgão colegiado e magistrado, além de gerar insegurança nos jurisdicionados, que ficam sem saber como se comportar, impede a advocacia de exercer a sua missão, que é de orientar o comportamento dos seus clientes.
Torna-se latente a relevância da Jurisprudência enquanto elemento de constituição do Direito e de condição precípua para a sua aplicação/fruição. Extrai-se também que as decisões dos Tribunais possuem caráter vinculativo para as partes litigantes; e mediante seu poderio decisório terminam por criar normas jurídicas individuais aplicáveis a casos concretos.[21: Dimoulis explora a distinção entre leis em sentido material e as decisões do Poder Judiciário. Analisando o ordenamento jurídico brasileiro termina por elencar dois pontos principais de distinção. O primeiro diz respeito ao grau vinculativo desses instrumentos jurídicos: no caso das decisões judiciais abrange somente as partes do processo. O segundo decorre do fato de que a atividade legislativa possui um poder discricionário muito mais amplo que a atividade judicial, pois o Magistrado – em consonância com os ditâmes da lei - possui o dever de aplicar o Direito em vigor (art. 35, I, da Lei Orgânica da Magistratura).]
06 A JURISPRUDÊNCIA UNIFORME
A Jurisprudência possui, na atualidade, três funções muito nítidas, que se desenvolveram lentamente: uma função um tanto automática de aplicar a lei; uma função de adaptação, consistente em pôr a lei em harmonia com as ideias contemporâneas e as necessidades modernas; e uma função criadora, destinada a preencher as lacunas da lei.[22: Maximiliano, Carlos. “Hermenêutica e aplicação do Direito”. 20 ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011. Pág. 146.]
Conquanto haja uma forte tendência do legislador e dos órgãos jurisdicionais em dotar as súmulas e a jurisprudência de força cada vez mais expressiva, não se percebe, na jurisprudência e nos julgamentos, intenção equivalente, no sentido de buscar uma uniformidade jurisprudencial.[23: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2006, p. 227.]
Os entendimentos jurisprudenciais são, em verdade, volúveis; e as súmulas, instrumentos que deveriam transcender os entendimentos dos tribunais, nem sempre são pautadas em juízos consolidados. Ao contrário, já é prática comum o abandono de súmulas e, até mesmo, a edição de novo enunciado, tratando a matéria de forma completamente diversa.[24: Ibid., p. 229.]
Dada a relevante função Constitucional dos órgãos jurisdicionais superiores, espera-se que quando um de seus tribunais enuncia uma decisão, desta se possa extrair um adequado modelo de julgamento a ser utilizado como padrão para as decisões futuras proferidas pelos demais órgãos judiciais. Mais relevante, espera-se que os julgamentos dos próprios Tribunais Superiores sigam a mesma orientação anteriormente adotada, de forma a consolidá-la.[25: Ibid., p. 231.]
As constantes divergências jurisprudências internas, tanto do Supremo Tribunal Federal, como do Superior Tribunal de justiça, comprometem sua função constitucional de uniformização e acarretam insegurança na interpretação correta de normas constitucionais e federais.
Caso, perfeitamente pontuado por Medina, Wambier e Wambier, que demonstra o impacto negativo das divergências nos entendimentos jurisprudências dos Tribunais Superiores ocorreu quando o Supremo Tribunal Federal manifestou-se sobre a constitucionalidade da penhora do bemde família de fiador em contrato de locação.[26: Ibid., p. 232/235.]
Em 2005, a Corte máxima considerou inconstitucional a penhora daqueles bens.[27: STF, RE 352940/SP, rel, Min. Carlos Velloso, j. 25.04.2005.]
Diante disso, como não poderia deixar de ser, diversos tribunais do País passaram a adotar o mesmo entendimento. Inúmeras penhoras foram canceladas e decisões reformadas com fundamento no arranjo proferido pelo Supremo Tribunal Federal.
O posicionamento da Corte Suprema, todavia, não se manteve por muito tempo. Em 2006, apenas um ano depois, o Supremo Tribunal Federal, novamente, emitiu juízo sobre o mesmo tema, dessa vez apontando a constitucionalidade da penhora do bem de família de fiador em contrato de locação.[28: STF, Pleno, RE 407.688/SP, rel. Min. Cezar Peluso, j. 08.02.2006.]
Mais uma vez decisões foram reformadas com base no novo entendimento propagando a insegurança jurídica e a insatisfação das partes.
Situações como essa, apesar de ordinariamente serem toleradas pelo sistema, devem sempre ser evitadas, principalmente pelos Tribunais Superiores, responsáveis, implícita e explicitamente, pela uniformização das decisões do Poder Judiciário.
A uniformização dos entendimentos jurisprudenciais é atitude que se faz
Imperiosa, principalmente no que diz respeito às questões constitucionais e federais.
Embora a uniformidade jurisprudencial seja desejável, fato é: o processo civil brasileiro convive com a prestação jurisdicional desigual para casos idênticos. Justamente por essa oposição não ser desejada é que o sistema busca criar mecanismos de prevenção da contradição de julgados, como a súmula vinculante.
Quando essas situações de julgamento desiguais para casos iguais acontecem, princípios constitucionais, como o da legalidade e da isonomia, são ofendidos. Se a lei comporta diversas interpretações, e não há meios legítimos e eficazes para uniformizá-las, fatalmente o jurisdicionado terá tantas decisões quantas interpretações houver.
O princípio da isonomia, insculpido no caput do artigo 5º da Constituição
Federal, afirma que todos são iguais perante a lei, logo, a lei deve tratar a todos de modo uniforme. E é na aplicação dessa uniformidade que entra o trabalho dos tribunais de tentar respeitar o entendimento tido por correto e decidir de forma idêntica em casos iguais.[29: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]” Constituição Federal]
O trabalho de uniformização jurisprudencial, portanto, deve ter como base o princípio da isonomia, pelo qual todos devem ser tratados de forma congruente, inclusive, e principalmente, aqueles que procuram a guarida jurisdicional.
A lei é uma só para todos e sua interpretação também deve ser. Todavia, na prática, é comum haver duas ou mais decisões completamente diferentes a respeito do mesmo dispositivo aplicado a casos similares.
Visando evitar essas situações é que foram criados institutos como o incidente de uniformização da jurisprudência, a súmula vinculante e até mesmo os recursos extraordinários, que se prestam, em certa medida e exercer função uniformizadora.
07 INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
Dentro da vastidão de julgados desiguais para casos iguais surge o incidente de uniformização de jurisprudência, com sentido corretivo, para os casos em andamento, e preventivo, para os casos futuros.
A função do incidente de uniformização é, portanto, tentar manter a unidade da jurisprudência interna de determinado tribunal, buscando em cada caso concreto a inteligência correta a ser aplicada.
Conforme delineado, é comum existir em uma corte julgamentos conflitantes para uma mesma tese jurídica. Essa prática, embora tolerada pelo sistema, deve ser abolida e uma das possibilidades para sua extinção encontra-se regulada exatamente no incidente de uniformização jurisprudencial.
Com efeito, ao constatar-se a utilização de diversos entendimentos para uma única situação, é cabível suscitar o incidente a fim que o pleno do tribunal se manifeste sobre o tema. Fixada a premissa, o tribunal deverá aplicá-la ao caso concreto que gerou o incidente de uniformização.
Enquanto o pleno não resolver o incidente, o julgamento do caso, seja originário do tribunal ou decorrente de recurso, deverá permanecer sobrestado. Depois de fixada a tese jurídica a ser adotada, o resultado da deliberação será obrigatoriamente aplicado e o processo poderá prosseguir.
A natureza do instituto – como o próprio nome indica – é incidental. Os legitimados suscitam a divergência e o pleno, de forma incidente, apresenta manifestação.
Não se trata, portanto, de recurso, ação autônoma e nem outro meio de impugnação qualquer.[30: GRECO FILHO, 2009, p. 394.]
Com efeito, a manifestação do pleno não é decisão, é apenas uma afirmação da tese jurídica a ser aplicada ao caso que deu origem ao incidente de uniformização. Quem julga, em verdade, é a câmara, que irá utilizar a inteligência do pleno para decidir.
Assim sendo, a parte que se sentir prejudicada deverá interpor recurso contra a decisão da turma ou câmara que julgou o feito. Não cabe recurso contra a manifestação do plenário exatamente por não se tratar de uma decisão in concreto.
O incidente pode ser suscitado por qualquer juiz que vote no julgamento ou pela parte.
Tanto o recorrido como o recorrente, cientes da existência de controvérsia no Tribunal, poderão provocar o incidente em suas razões recursais ou por meio de petição avulsa enquanto pendente o recurso. Ao juiz compete, mesmo que as parte não o provoquem, de ofício, suscitar o pronunciamento prévio do plenário do Tribunal acerca da tese aplicável ao caso sub judici, que apresente questão controvertida e relevante.
Há quem defenda a possibilidade de o Ministério Público também suscitar o incidente de uniformização jurisprudencial. Em verdade, se o parquet atuar na qualidade de parte ou, na condição de custus legis, recorrer da sentença será legitimado a invocar o incidente de uniformização, exatamente pela qualidade de sujeito processual que lhe é conferida nesses casos.[31: Nesse sentido apontamos Nelson Nery Junior: “Como a matéria envolvida é de interesse público (unidade dajurisprudência), intervém obrigatoriamente o Ministério Público, por força do CPC 478, par. ún. Da mesmaforma o órgão parquet poderá por si suscitar o incidente” (2007, p 666).]
O incidente de uniformização processual é, portanto, medida legítima de uniformização dos julgados, que infelizmente não possui o destaque e o prestígio que merece dos tribunais e do legislador.
8 AS SÚMULAS
A súmula é um enunciado editado pelos Tribunais que contém um resumo de entendimento jurisprudencial majoritário destinado à orientação dos demais julgamentos que lhe sucedem. Elas encerram um posicionamento sobre determinada matéria recorrente do Tribunal a que pertence.[32: Nelson Nery Júnior resume, com propriedade o conceito de súmula assim dispondo: “A Súmula é o conjunto das teses jurídicas reveladoras da jurisprudência reiterada e predominante no tribunal e vem trazida em forma de verbetes sintéticos e editados.” (2007, p 667).]
Destarte, a finalidade das súmulas é conferir estabilidade à jurisprudência, prestigiando a segurança jurídica na identidade de julgamentos para casos iguais, bem como facilitar o trabalho dos operadores e intérpretes do Direito.
Conforme disposição do artigo 926 do NCPC, no julgamento do incidente de uniformização da jurisprudência, mostra onde fincou suas bases, ao impor às Cortes o dever de uniformizar sua jurisprudência e de mantê-la coerente, estável e íntegra: 
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
Dessa forma, as súmulas expressam a refinada interpretação da jurisprudência dominante de um Tribunal, produzindo, enquanto vigentes, efeitos processuais em relação a casos idênticos levados à apreciação dos respectivos tribunais.[33: STRECK, 1995, p. 125.]
A súmula funciona como meio de dinamização dos julgamentos e instrumentode uniformização jurisprudencial, de forma que seu deve apenas refletir a exegese da lei, sem criar nova regra jurídica, ou seja, a súmula não faz papel de lei, mas sim de orientação da interpretação da lei.[34: Nesse sentido colacionamos o entendimento de Medina, Wambier e Wambier “[...]a lei e a súmula não se encontram num mesmo plano. Na verdade, a súmula deve se subordinar à lei, já é interpretação desta.” (2006,p. 229).]
Com efeito, a norma jurídica, por ser geral e abstrata, pode apresentar interpretações diversas em um mesmo contexto. A interpretação de lei que seja comumente aplicada por um Tribunal a reiterados casos pode resultar na criação de súmulas, que encerram a dubiedade da norma jurídica a que se referem.[35: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2006, p. 229.]
A súmula desempenha, desse modo, papel relevante, registrando qual interpretação da norma se faz correta, devendo prevalecer nos julgamentos futuros sobre o mesmo objeto.[36: Ibid., p. 229.]
O crescente prestígio processual que o legislador vem atribuindo às súmulas demanda um maior cuidado na edição de seus enunciados. Não é admissível que um instituto gerado de um incidente de uniformização jurisprudencial apresente entendimento dúbio e inconsistente.
O descrédito que súmulas mal elaboradoras incutem no sistema, pode ser facilmente atalhado pelo Tribunal que toma cautelas em sua edição.
Segundo Medina, Wambier e Wambier, uma das maneiras de evitar que a súmula gere problemas de interpretação é que esta não contenha, em seu enunciado, conceitos vagos e indeterminados. Ademais, por seu caráter paradigmático conclui-se que a matéria por elas versada deve ser atemporal, capaz de se repetir ao longo do tempo de modo efetivo.[37: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2009, p. 34.]
Esses cuidados na edição das súmulas evitam a tão comum prática de abandono de entendimento sumulado ou de modificação de seu enunciado. Todo cuidado é pouco quando um Tribunal for editar súmula, principalmente quando tratar-se de súmulas dos tribunais superiores.
09 SÚMULA VINCULANTE
A sucessivas reformas processuais decorrentes da insatisfação com o desempenho do sistema judiciário não se limitaram às reformas infraconstitucionais anteriormente apontadas, foi além alterando a própria Constituição.
Com efeito, o artigo 103-A da Constituição Federal introduziu a súmula vinculante no ordenamento jurídico tornando-a a concepção processual mais expressiva e ambiciosa da Emenda Constitucional nº 45 que hoje se apresenta como um instrumento legítimo, embora não ideal, de uniformização dos entendimentos do Supremo Tribunal Federal.[38: “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.” Constituição Federal.]
O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas decisões sobre a Matéria constitucional, editar enunciado de súmula, que a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação ao demais órgão do Poder Judiciário e à Administração Pública em geral.
A competência para edição da súmula vinculante é atribuída exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal. Outros Tribunais - incluindo o Superior Tribunal de Justiça – somente poderão editar súmulas comuns, sem caráter vinculante, utilizadas para impedir o julgamento de ação ou definir o sentido de determinada norma.[39: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2009, p. 32.]
Para evitar o engessamento da interpretação constitucional sumulada, o constituinte optou, ainda, por conferir ao Supremo Tribunal Federal a possibilidade de revisão ou cancelamento do enunciado sumulado.
A proposta para a edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante pode ser realizada pelos próprios integrantes do Supremo Tribunal Federal ou pelos legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade. Esse rol, todavia, conforme redação do §2º do artigo 103–A da Constituição, não é exaustivo, pois é possível que lei ordinária apresente outros legitimados. É o caso da Lei 11.417/2006 que, em seu artigo 3º, estende a legitimidade para edição revisão ou cancelamento de súmula vinculante ao Defensor Público-Geral da União e aos Tribunais. Também o Município poderá propor a edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula de forma incidental ao curso de processo em que seja parte, conforme redação do §1º do mesmo artigo.[40: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.” Constituição Federal.][41: “103-A, § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.” Constituição Federal.]
A súmula vinculante, assim como a súmula comum, tem como objeto a validade, a interpretação e a eficácia de normas constitucionais. Embora o artigo 103-A da Carta Magna faça referência expressa à “matéria constitucional”, é possível que a súmula vinculante regule matéria infraconstitucional ao dispor, por exemplo, sobre a compatibilidade de lei com o texto constitucional.[42: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, op. cit., p. 33.]
Embora, em regra, a súmula vinculante produza efeitos de forma imediata, o Supremo Tribunal Federal pode, por maioria de dois terços de seus membros, “restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público”. Trata-se aqui de uma brecha que o legislador abriu no sentido de ser possível a modulação dos efeitos da súmula.[43: Art. 4º da Lei 11.417/2006.]
É possível, ainda, que, além da modulação temporal, haja restrição no alcance dos efeitos vinculantes da súmula nas situações de excepcional interesse público. É o que acontece nos casos de reserva de eficácia vinculativa da súmula a pessoas ou regiões. Pode o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, editar súmula vinculante que só produza efeitos no âmbito da União, excluindo os Estados e os Municípios.
Esses permissivos buscam adaptar a súmula vinculante ao meio a que se destina, evitando o seu impacto abrupto de forma a resguardar a segurança jurídica e o interesse público.
O efeito vinculante da súmula é resultante do quorum de dois terços dos membros do Tribunal Federal que votam a favor de sua edição. Esse quorum também é necessário para o caso de cancelamento ou revisão da súmula.
Não só os órgãos do Poder Judiciário, mas também a Administração Pública está vinculada ao enunciado da súmula editada pelo STF. Todos os juízes, tribunais, bem como os agentes da Administração, ao se depararem com situações concretas, devem adotar o entendimento sumulado nos exatos limites de sua edição. O desrespeito ao entendimento sumulado de forma vinculante pode resultar em reclamação dirigida ao STF.
Desse modo, nos casos em que a súmula não for aplicada quando obrigatoriamente deveria ser consagrada, quando for aplicada em situação que não condiz com o enunciado sumulado ou quando sua redação for distorcida caberá reclamação ao STF, “sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação”.[44: Art. 7º da Lei 11.417/2006.]Em verdade, como o recurso e a reclamação possuem finalidades e pressupostos distintos, não poderia haver óbice algum na interposição concomitante dos dois meios. A parte lesionada pela má aplicação da súmula pode, inclusive, interpor reclamação e Recurso Extraordinário, quando cabível, ambos para o Supremo Tribunal Federal.
Na seara administrativa, contudo, para que a parte possa utilizar-se da reclamação ao STF faz-se imperioso o esgotamento das vias administrativas. Dessa forma, o administrado que sentir-se prejudicado pela aplicação de súmula vinculante deverá, inicialmente, recorrer da decisão através do processo administrativo requerendo a reconsideração da decisão da autoridade, para, então, poder socorrer-se da reclamação.[45: Art. 7º, §1º da Lei 11.417/2006.]
O objetivo desse óbice é evitar a necessidade de ajuizamento da reclamação, de forma que o problema seja solucionado na seara local e administrativa. Sem a interposição do recurso administrativo cabível não será caracterizado o interesse processual e a reclamação poderá ser indeferida pela ausência desta condição da ação.
Ressalta-se que o Poder Legislativo, no exercício de sua função normativa, não fica vinculado à súmula, podendo, inclusive, editar Leis em sentido contrário à sua redação.[46: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2009, p. 45.]
Nesses casos, cabe ao Supremo Tribunal Federal rever a súmula vinculante, optando pelo reajuste de seu entendimento à nova Lei ou pelo cancelamento do enunciado.
Com efeito, “revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o Supremo Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.” [47: Art. 5º da Lei 11.417/2006.]
As considerações que fizemos sobre a atemporalidade das súmulas se aplicam de forma potencializada à edição das súmulas vinculantes. O caráter obrigatório e vinculante das súmulas vinculantes obsta o livre convencimento do juiz e da Administração tolhendo a capacidade de análise do caso concreto, o que impõe uma cautela na edição de seu enunciado. 
As súmulas vinculantes, por sua natureza, devem ser elaboradas criteriosamente de forma a não gerar problemas de interpretação maiores do que os gerados pela própria norma de que derivam.[48: Nesse sentido colacionamos lição de Juvêncio Vasconcelos Viana: “Dever haver certo cuidado com a redação da súmula. Impõe-se objetividade e clareza em seu texto, tudo para que essa não venha criar mais dúvidas ou questões interpretativas do que a própria lei (afinal, tais súmulas já vem ao mundo exatamente com o fim de por termo a essas).” (2006b, p. 87).]
A Corte Suprema, ao editar uma súmula vinculante, deve, portanto, privilegiar a segurança jurídica e optar por regular, exclusivamente, casos que não sofram modificações constantes. Para as situações passíveis de sofrer alterações com frequência mostra-se salutar permitir a diversidade de decisões e a modificação dos entendimentos dos tribunais até mesmo como forma de acompanhar os costumes e os anseios da sociedade.[49: MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, op. cit., p. 35.]
Por mais que a edição da súmula vinculante seja cautelosa e revestida especificidades e limitações, a imposição de seu enunciado não é salutar. Em verdade, o efeito vinculante da súmula é um resultado exacerbado da busca desesperada pela uniformização da jurisprudência.
Para José Afonso da Silva nem mesmo as súmulas vinculantes, revestidas de inúmeras formalidades, são suficientes para diminuir a quantidade de recursos e o trabalho dos tribunais. Segundo o articulista se o ato administrativo ou a decisão judicial contrariar a súmula aplicável, ainda restará à parte se socorrer de reclamação para o Supremo Tribunal Federal, que, julgando-o procedente, anulará o ato impugnado e determinará que outro seja efetuado em seu lugar. Haverá, portanto, uma mera troca de meios de impugnação.[50: SILVA, 2007, p. 566.]
Não obstante, talvez a súmula vinculante seja um passo necessário para a conscientização da sociedade e dos operadores do direito pela necessidade de decisões mais uniformes. Seu caráter vinculante e paradigmático proporciona o sentimento de segurança jurídica e ameniza a situação de descrédito em que se encontra o Poder Judiciário, situação favorável à harmonização dos julgados.
Se os potenciais litigantes estiverem convencidos de que não é possível contornar o enunciado sumulado que lhe é contrário muitas ações deixarão de ser propostas e outros tantos recursos não serão interpostos. O trabalho do tribunal por consequência iria diminuir e o sistema poderia fluir de forma mais célere.[51: MOREIRA, 2006a, p. 189.]

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