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Curso de Atenção Farmacêutica MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II Introdução à Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica Conforme Witzel, no livro Ciências Farmacêuticas Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica (2008), seguem abaixo as considerações referentes à introdução da Atenção Farmacêutica. Nos últimos anos e, especialmente ao longo do século XX, em todos os países, os sistemas de assistência sanitária passaram e ainda estão passando por transformações sem precedentes. Isso afetou tanto o próprio conceito de saúde, como a estrutura e organização colocada em prática pelos serviços de saúde em sua luta contra a enfermidade e suas conseqüências. Tanto os profissionais que prestam serviço de saúde quanto os indivíduos beneficiários diretos dos serviços prestados estão examinando de maneira crítica suas necessidades, expectativas, valores e critérios éticos. Concretamente, os profissionais da assistência sanitária põem em dúvida sua função e suas responsabilidades tradicionais, e os limites profissionais que estavam antes claramente delimitados estão cada vez mais obscuros. Além disso, os conhecimentos e as tecnologias médicas e farmacológicas disponíveis para atuar tanto na prevenção quanto na terapêutica e reabilitação das enfermidades têm evoluído substancialmente, de forma que se dispõe atualmente de amplas possibilidades para superar as enfermidades e suas conseqüências. O tratamento farmacológico constitui a forma mais freqüente de intervenção médica em assistência sanitária. Conforme Hepler; Graiger – Rousseaux (1995), cerca de dois terços das consultas médicas nos Estados Unidos resultam em renovação ou em nova prescrição de medicamentos. O uso do medicamento tem crescido dramaticamente com o aumento da vida média da população, o aumento da prevalência de doenças crônicas e a ampliação da variedade de medicamentos efetivos. 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Segundo Hepler; Graiger – Rosseaux (1995) “o propósito de toda terapia medicamentosa deve ser o de aperfeiçoar a duração e a qualidade de vida das pessoas. A disponibilidade de produtos farmacêuticos seguros e efetivos tem melhorado o gerenciamento tanto de doenças agudas quanto crônicas no alcance desses objetivos. [...] O medicamento é provavelmente a modalidade terapêutica mais estudada na atualidade [...] e a terapia medicamentosa tem uma forte base científica [...]. Contudo, apesar do extenso conhecimento científico, uma ampla literatura mostra que freqüentemente há falhas no controle dos riscos associados à farmacoterapia”. As funções do profissional farmacêutico na área assistencial estão passando por uma vigorosa e rápida expansão, em todas as dimensões, e a profissão está tentando reorientar-se para satisfazer as necessidades que têm sido introduzidas nos sistemas de saúde atuais. Na década de 1960, os farmacêuticos tinham três escolhas básicas a fazer ao optarem por atuar na área assistencial: farmácia comunitária, farmácia hospitalar e docência. Em 1990, as escolhas possíveis se ampliaram principalmente nos países desenvolvidos, incluindo atendimento domiciliar, cuidados geriátricos, gerenciamento, especialidades clínicas diversas, pesquisa, entre outras. Essa ampliação de opções esteve diretamente relacionada aos grandes movimentos ocorridos nesse século, que promoveram a redefinição do papel do profissional farmacêutico que, apesar de relacionado ao medicamento, vem passando por alterações significativas em diferentes locais. Há, atualmente, uma tendência mundial em se fortalecer as atividades do farmacêutico junto ao paciente, visando ao atendimento farmacêutico mais efetivo. As discussões, no âmbito internacional, sobre a definição da missão, do papel e funções do profissional farmacêutico se intensificaram nas últimas décadas do século XX, especialmente nos Estados Unidos e Europa, e mais recentemente têm produzido reflexões críticas na América Latina, que vem buscando também reorientar a prática farmacêutica, levando em consideração as características de cada país e dos sistemas de saúde vigentes. 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores No Brasil a discussão acerca dos termos Farmácia Clínica, Assistência e Atenção Farmacêutica estão ocorrendo com grande intensidade. Este movimento vem ganhando o centro das discussões entre pesquisadores, formuladores de políticas e profissionais. Contudo, o entendimento conceitual de cada um desses termos e sua inter-relação ainda parece obscuro para a grande maioria dos agentes envolvidos. Por este motivo faz-se necessário entender os aspectos conceituais e filosóficos que foram construídos ao longo da própria profissão farmacêutica e que não podem ser compreendidos sem uma breve retrospectiva histórica. Panorama Histórico da Profissão Farmacêutica a partir do Século XX Segundo Hepler; Strand (1990), a profissão farmacêutica experimentou significante crescimento e desenvolvimento nos últimos anos. No século XX, a farmácia passou por três grandes períodos: o tradicional, o de transição e o de cuidado do paciente, que está atualmente em desenvolvimento. Nestes três estágios podem-se identificar diferentes conceitos relativos à função e deveres do farmacêutico. Etapa Tradicional A farmácia no início do século XX estava associada à figura do Boticário, que preparava e comercializava produtos medicinais. Segundo Hepler; Strand (1990): “[...] Durante esta fase tradicional as principais funções do farmacêutico eram a obtenção, o preparo e a avaliação dos produtos medicamentosos. Seu dever primário era garantir que os fármacos que ele comercializava fossem puros, não adulterados, e preparados segundo a arte, embora ele apresentasse um dever secundário de prover recomendações aos indivíduos que o procuravam em busca de fármacos de não prescrição [...].” Este papel começou a ser adulterado quando a preparação de medicamentos passou a ser desempenhada gradualmente pela indústria farmacêutica. Conforme relatou Alvarez (1993) “[...] Os grandes avanços científicos e 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores tecnológicos que permitiram a elaboração industrial de medicamentos produziram uma dissociação entre a preparação universitária do farmacêutico e suas ações, especialmente nas farmácias comunitárias. Os farmacêuticos começaram a sentir-se frustrados porque grandes partes dos conhecimentos adquiridos na graduação acabavam sendo perdidos, pois já não eram aplicados de forma permanente. A literatura norte-americana começou a mencionar que os farmacêuticos estavam se convertendo em meros dispensadores de produtos pré-fabricados, além de se distanciar da equipe da saúde e do paciente [...].” Apartir dessas inquietudes nasceu um movimento profissional que, questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os problemas que estavam sendo detectados. Assim, ao final da década de 1960, começa a se falar de uma nova disciplina, a Farmácia Clínica, que permitia novamente aos farmacêuticos, participar da equipe de saúde, contribuindo com seus conhecimentos para melhorar o cuidado dos pacientes (Alvarez, 1993). Nesse momento, portanto, iniciava-se o período de transição profissional. Etapa de Transição Este período de transição foi de rápida expansão das funções do farmacêutico e do aumento da diversidade profissional. Os farmacêuticos passaram não somente a exercer novas funções, mas também começaram a inovar funções, trazendo contribuições inéditas à literatura. Definições da Farmácia Clínica Conforme Witzel (2008), inicialmente foram propostas diferentes definições para a Farmácia Clínica, como, por exemplo, farmácia orientada de forma equivalente ao medicamento e ao indivíduo que a recebe; farmácia realizada ao lado do paciente. O conceito de Farmácia Clínica está imbuído pela filosofia de que o farmacêutico deve utilizar seu conhecimento profissional para promover o uso 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores seguro e apropriado de medicamentos nos e pelos pacientes, em trabalho conjunto com outros profissionais da área da saúde. Este conceito é confirmado pela literatura desde a década de 1960, com ampla documentação de diversos tipos de serviços e atividades clínicas. Os primeiros relatos descreviam o papel do farmacêutico na resolução de erros de medicação ou reações adversas a medicamentos, detecção de interações entre medicamentos ou entre medicamentos e exames laboratoriais, detecção de incompatibilidade entre misturas intravenosas e doenças induzidas por medicamentos. O termo “Farmácia Clínica” adquiriu popularidade a partir da segunda metade da década de 1960. Entretanto, em 1921, J.C. Krantz já afirmava que os farmacêuticos deveriam ser capacitados para fornecer serviços clínicos. A Farmácia Clínica, conforme já mencionado no módulo anterior, surgiu no ambiente hospitalar, onde existe supervisão contínua do paciente. Até a época da Segunda Guerra Mundial, o farmacêutico hospitalar era o profissional especializado na produção de medicamentos necessários ao atendimento dos pacientes. O desenvolvimento da indústria farmacêutica, a partir das décadas de 1940 e 50, levou a uma transformação da profissão farmacêutica no hospital, e a ênfase do trabalho do farmacêutico hospitalar passou da manipulação e produção de medicamentos ao fornecimento de informações sobre os mesmos. Ainda, como conseqüência do desenvolvimento da indústria farmacêutica, que trouxe um grande aumento do número de fármacos sintéticos disponíveis no mercado, verificou-se um aumento na freqüência de problemas relacionados ao uso de medicamentos. A Farmácia Clínica surgiu com a finalidade de reduzir a ocorrência de tais problemas, por meio do acompanhamento dos pacientes. Diversas definições foram elaboradas com o objetivo de caracterizar a Farmácia Clínica. A definição a seguir foi estruturada por Robert Miller, em 1968: “A Farmácia Clínica é a área do currículo farmacêutico que lida com a atenção ao paciente com ênfase na farmacoterapia. A Farmácia Clínica procura desenvolver uma atitude orientada ao paciente. A aquisição de novos conhecimentos é conseqüência do desenvolvimento de habilidades de comunicação interprofissional e com o paciente”. 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Segundo a ASHP (American Society of Hospital Pharmacists – Sociedade Americana de Farmacêuticos de Hospitais), a Farmácia Clínica pode ser definida como “a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes, que o uso de medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação especializada e treinamento estruturado, além da coleta e interpretação de dados, da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais”. Embora tenham sido formulados vários conceitos sobre Farmácia Clínica, em essência sempre houve mais similaridade do que diferenças entre eles. Assim, a Sociedade Americana de Farmacêuticos de Hospital, resume: [...] O exercício da farmácia clínica implica a aplicação de conhecimentos em nome do paciente, quando são considerados os processos de sua enfermidade e sua necessidade de compreender o tratamento medicamentoso. A prática requer uma estreita relação entre a farmácia e o paciente, o médico e os profissionais de saúde. A farmácia clínica está orientada ao paciente, à enfermidade e ao medicamento, e a prática tem uma orientação interdisciplinar (SOCIEDADE AMERICANA DE FARMACÊUTICOS DE HOSPITAL, 1991, p.6) Segundo Holland & Nimmo, 1999 a farmácia clínica é uma prática que aprimora a habilidade do médico para fazer boas decisões sobre medicamentos. Ao médico cabe a responsabilidade pelos resultados da farmacoterapia e ao farmacêutico fornecer serviços de suporte adequados e conhecimentos especializados sobre a utilização do medicamento. É possível verificar que todas as definições enfatizam o caráter multiprofissional da Farmácia Clínica e colocam o paciente como objeto principal das atividades do farmacêutico clínico. O medicamento passa a ser um instrumento utilizado em benefício do paciente. A Farmácia Clínica pressupõe que o farmacêutico garanta resultados clinicamente apropriados para a farmacoterapia, estabeleça relacionamento interprofissional ativo com médicos e enfermeiros e exerça atividades em ambiente clínico, junto ao paciente. Os serviços farmacêuticos tradicionais concentram-se na dispensação e na aquisição, armazenamento e controle de estoque de medicamentos. As demandas 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores referentes a estes serviços são relativas ao controle da aquisição e do estoque de medicamentos, às políticas e aos procedimentos para os sistemas de distribuição de medicamentos, ao controle dos medicamentos existentes fora da área física da farmácia e ao trabalho conjunto com a equipe de enfermagem para solucionar os problemas inerentes ao sistema, entre outras. Nessa situação, os relacionamentos interprofissionais dos farmacêuticos nos hospitais são limitados pela localização física da prática profissional: as áreas de atendimento ao paciente, para médicos e enfermeiros, e a farmácia hospitalar, para farmacêuticos. A comunicação entre médicos e farmacêuticos ou entre enfermeiros e farmacêuticos restringe-se a situações do processo de distribuição de medicamentos; as oportunidades de cooperação interprofissional na atenção ao paciente são mínimas. Como conseqüências destes tipos de serviços farmacêuticos e de relações interprofissionais citam-se: 1. Alta incidência de erros de medicação; 2. Alta incidência de reações adversas a medicamentos; 3. Alta incidência de interações medicamentosas (medicamento- medicamento, medicamento-alimento e medicamentos-exames laboratoriais); 4. Incompatibilidades em misturas intravenosas; 5. Iatrogenias 6. Subutilização dos recursos humanos; 7. Desperdício de medicamentos; 8. Altos custos de medicamentos nohospital. A implementação de serviços farmacêuticos clínicos no hospital possibilita aumento da segurança e da qualidade da atenção ao paciente, redução de custos e aumento da eficiência hospitalar. Segundo Alvarez (1993), a Farmácia Clínica nasceu como disciplina aplicável às ações do farmacêutico na área assistencial, mas reconheceu-se, no decorrer de seu desenvolvimento, que seus objetivos eram válidos em praticamente todos os âmbitos do exercício profissional. Dessa forma, podem-se identificar ações que compartilham do propósito do uso adequado de medicamentos em: • Farmácias hospitalares e de ambulatórios de serviços públicos; 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Farmácias comunitárias privadas; • Indústria Farmacêutica; • Agências reguladoras de medicamentos; • Docência e investigação Os conceitos de Farmácia Clínica foram sendo paulatinamente difundidos e incorporados pela profissão farmacêutica no mundo todo. Na América Latina, o Chile, em 1972, incorporou a Farmácia Clínica no programa de graduação de farmacêuticos da Universidade do Chile e, desde 1977, tem realizado cursos de capacitação para farmacêuticos latino-americanos. No Brasil, o grande interesse pelo desenvolvimento da farmácia clínica se deu na década de 1980. Análise do Período de Transição Pode-se observar que o farmacêutico clínico, em qualquer ambiente em que estivesse inserido, participava assessorando, aconselhando e educando sobre o uso correto dos medicamentos, ajudando os pacientes a utilizar os medicamentos mais adequados ao seu problema de saúde, de acordo com sua necessidade, na dose, via e freqüência de administração correta, pelos períodos apropriados, a um custo razoável e evitando o desenvolvimento de problemas associados, como reações adversas e interações. A farmácia Clínica representou a introdução da orientação da prática farmacêutica ao paciente por meio dos serviços que passaram a ser prestados, havendo uma grande evolução neste sentido. Contudo, apesar de orientada ao paciente, a prática farmacêutica neste período acabou tendo significados diversos e de grande amplitude. Além disso, algumas definições propostas de prática de Farmácia Clínica colocaram os medicamentos como elemento principal e somente mencionavam o paciente. Como exemplo de tais definições, cita-se o conceito de Farmácia Clínica do American College of Clinical Pharmacy: “É uma especialidade das ciências da saúde que compreende a aplicação, pelo farmacêutico, dos 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores princípios científicos da farmacologia, toxicologia, farmacocinética e terapêutica para o cuidado ao paciente”. A análise dessa nova situação fez com que fossem geradas novas inquietudes em alguns farmacêuticos, que passaram a questionar como reorientar a prática farmacêutica, deslocando as preocupações profissionais do medicamento para o usuário. Estas inquietudes surgiram precocemente na literatura norte- americana, conforme relatam Hepler; Strand (1990): “[...] Brodie já alertava, em 1967, para a necessidade de correção deste foco, contudo suas idéias em termos de responsabilidade social com o cuidado ao paciente parecem ter sido negligenciadas na época. Muitos dos novos serviços farmacêuticos clínicos desenvolvidos e implementados nesse período de transição embora aproximassem o farmacêutico do paciente, continuavam com o foco no medicamento e na sua dispensação, estando estes processos muito mais direcionados ao sistema biológico envolvido que ao paciente individual.” Ainda analisando esse estágio de transição, Hepler; Strand (1990) relatam: “[...] Este estágio de transição introspectivo, no qual a farmácia buscou sua identidade profissional e a legitimação da mesma, foi talvez tanto uma resposta inevitável ao desaparecimento do papel do boticário quanto uma antecipação necessária da maturidade profissional. Infelizmente, esta atualização das funções do farmacêutico penetrou de forma muito lenta na profissão. Embora muitos farmacêuticos tenham se envolvido com entusiasmo nesta evolução, outros preferiram manter o status quo. Da mesma forma, algumas organizações farmacêuticas apoiaram esta ampliação das funções, enquanto outras se opuseram a ela [...]. [A profissão farmacêutica ficou exposta a esta disputa entre facções e às fragmentações delas decorrentes] e, em função destes fatos, continuava a ser uma profissão em busca de seu papel, incapaz de escolher entre uma desorientada variedade de funções e de transpor uma variedade de barreiras para exercer a prática clínica [...].” Este era o cenário da profissão farmacêutica na década de 1980 e as discussões críticas levantadas nesse período foram responsáveis pela construção de um novo conceito de prática profissional: a Atenção Farmacêutica. 50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Etapa de Cuidado ao Paciente O elemento que ficou esquecido quando o papel do farmacêutico foi definido na etapa de transição foi à concepção de responsabilidade do farmacêutico para com o paciente. Alguns farmacêuticos não identificaram as responsabilidades relacionadas ao cuidado do paciente que surgiam proporcionalmente à expansão de suas funções profissionais, e a profissão em seu conjunto não estava conseguindo refletir na sociedade o compromisso de sua atividade clínica. Muitos farmacêuticos permaneceram se espelhando na etapa adolescente de transição, quando muitos outros atravessaram esta barreira e seguiram em direção à etapa mais madura de cuidado do paciente. Em contrapartida, neste cenário foi introduzido um componente que começou a despertar maior interesse de investigação, de grande impacto na área médica, que requeria atenção especializada urgente, denominado morbidade e mortalidade relacionadas a medicamentos. Atenção Farmacêutica – Principais Conceitos Segundo Lyra Jr, a Atenção Farmacêutica surgiu nos Estados Unidos, como um método de aprofundamento da prática da Farmácia Clínica, com a inserção de componentes de forte caráter humanístico. Nas publicações de ciências farmacêuticas a primeira definição de atenção farmacêutica apareceu em 1980 em um artigo publicado por Brodie et al: “em um sistema de saúde, o componente medicamento é estruturado para fornecer um padrão aceitável de atenção farmacêutica para pacientes ambulatoriais e internados. Atenção Farmacêutica inclui a definição das necessidades farmacoterápicas do indivíduo e o fornecimento não apenas dos medicamentos necessários, mas também os serviços para garantir uma terapia segura e efetiva. Incluindo mecanismos de controle que facilitem a continuidade da assistência”. 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Hepler; Strand (1990, p.539), no trabalho Opportunities and responsabilities in pharmaceutical care, realizaram uma abordagem abrangente discutindo a oportunidade que se apresentava aos farmacêuticos de reprofissionalização através da aceitação da responsabilidade de garantir a segurança e a efetividade da terapia medicamentosa do paciente individualmente. Este trabalho deu origem ao conceito clássico de atenção farmacêutica “a provisão responsável da farmacoterapiacom o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”. Esta definição engloba a visão filosófica de Strand sobre a prática farmacêutica e o pensamento de Hepler sobre a responsabilidade do farmacêutico no cuidado ao paciente. Os resultados concretos são: 1) Cura de uma doença; 2) Eliminação ou redução dos sintomas do paciente; 3) Interrupção ou retardamento do processo patológico, ou prevenção de uma enfermidade ou de um sintoma. Esse novo conceito de prática profissional se reafirmou em 1993 com a Declaração de Tóquio (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993), que afirmou que: “Atenção Farmacêutica é um conceito de prática profissional, no qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. É o compêndio de atitudes, comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e destrezas do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e qualidade de vida do paciente”. Esse conceito estabelece uma relação recíproca de compromisso e de responsabilidade, tanto por parte do farmacêutico, quanto por parte do paciente. Em 1997, Linda Strand afirmou que conceito de atenção farmacêutica estava incompleto passando a defender a seguinte definição: “prática na qual o profissional assume a responsabilidade pela definição das necessidades farmacoterápicas do paciente e o compromisso de resolvê-las”. Ela enfatiza que a atenção farmacêutica é uma prática como as demais da área de saúde. Possui uma filosofia, um processo de cuidado ao paciente e um sistema de manejo. É diferente do conceito de 1990 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores que foca os resultados. Mas, para Strand, resultados não têm significados fora do contexto de uma prática assistencial (PHARMACEUTICAL, 1997). Uma divisão clara é identificada a partir do momento que Strand preconiza uma atenção farmacêutica global com aplicação sistemática em todos os tipos de situações e Hepler uma atenção farmacêutica orientada para doenças crônicas como asma, diabetes, hipertensão e outras. (CIPOLLE et al 2000, HEPLER et al 1995). Cipolle; Strand; Morley (2000, p.13) definem: “Atenção Farmacêutica é um exercício no qual o profissional assume a responsabilidade das necessidades de um paciente em relação aos medicamentos e adquire um compromisso a esse respeito”. Em entrevista concedida ao Jornal do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Minas Gerais, disponível no site do CRFMG, a farmacêutica norte- americana Linda Strand conceituou: “Atenção Farmacêutica é simplesmente lidar com toda a farmacoterapia do paciente. Verifica-se se a medicação indicada é apropriada à sua condição médica, se é efetiva, segura, qual a dose correta, se o paciente tem condições de seguir as instruções médicas. A definição é “tenho responsabilidade com meu paciente, lido com toda a sua farmacoterapia e incluo este cuidado no processo”. Parte da definição, ainda, detalha os problemas específicos com a farmacoterapia”. Quando questionada sobre a diferença entre Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica, Strand responde que: “a Farmácia Clínica, tradicionalmente, refere-se a serviços que provemos ao médico. Passamos a ele os medicamentos com as respectivas informações. Fazemos a farmácia clínica somente quando o médico nos permite, e da maneira que ele quer. Diferentemente, a Atenção Farmacêutica é um serviço oferecido ao paciente, individualmente. É um serviço exclusivo para o paciente, em que não trabalhamos para o médico, mas com ele”. Nesse modelo, os farmacêuticos em cooperação com os pacientes melhoram os resultados da farmacoterapia ao prevenir, detectar e resolver os problemas de saúde relacionados com medicamentos, antes que estes dêem lugar à morbidade e mortalidade relacionadas com medicamentos. 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ao analisar as funções do farmacêutico no sistema de atenção a saúde a Organização Mundial de Saúde - OMS estende o benefício da atenção farmacêutica para toda comunidade reconhecendo a relevância da participação do farmacêutico junto com a equipe de saúde na prevenção de doenças e promoção da saúde. Na ótica da OMS a atenção farmacêutica é “um conceito de prática profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, os comportamentos, os compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os conhecimentos, as responsabilidades e as habilidades dos farmacêuticos na prestação da farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente” (OMS, 1993). Os objetivos fundamentais, processos e relações da atenção farmacêutica existem independentemente do lugar que seja praticada (HEPLER & STRAND, 1990). É importante ressaltar que o conceito de Atenção Farmacêutica de Hepler e Strand formulado em 1990, difundiu-se pelo mundo, e os diferentes países têm promovido discussões aprofundadas com o objetivo de adotar este novo modelo de prática farmacêutica, adaptando-o às suas particularidades específicas. Estas discussões têm sido responsáveis pela construção de uma série de definições diferentes para a mesma prática profissional, mas que mantém a idéia filosófica original de Hepler e Strand. Apesar disso, Strand relata a falta de uma definição universal de atenção farmacêutica. Enfatiza a necessidade de na prática profissional aplicar a mesma uniformidade de definições como ocorre com a terminologia clínico-farmacológica (Apha, 2002). Os seguidores mais puristas da Atenção Farmacêutica entendem que sua definição não deve afastar-se de seu conceito original. Ao longo da última década a atenção farmacêutica propagou dos Estados Unidos para diversos países. 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na Espanha a Atenção Farmacêutica desenvolveu-se intensamente. O Consenso de Granada definiu atenção farmacêutica como: “a participação ativa do farmacêutico na assistência ao paciente na dispensação e seguimento do tratamento farmacoterápico, cooperando com o médico e outros profissionais de saúde, a fim de conseguir resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Também prevê a participação do farmacêutico em atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças” (CONSENSO 2001). Atenção Farmacêutica no Brasil Segundo Witzel (2008) ao final da década de 1990 começaram a ser observadas as primeiras iniciativas brasileiras no sentido de colocar em prática a Atenção Farmacêutica, partindo dos modelos propostos nos trabalhos americanos e espanhóis, além do intercâmbio de experiências que estavam sendo implementados em países latino-americanos, como o Chile e a Argentina. Em 2002 foi publicado um relatório intitulado Atenção Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos, que representa o registro do caminho trilhado até o momento para a promoção da Atenção Farmacêutica no Brasil, proposto pelo grupo coordenado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) e com a participação de profissionais de várias partes do país, a finalidade de divulgar os trabalhos realizados até a presente data,com um instrumento para a ampliação da participação de entidades e profissionais interessados. O grupo de trabalho que elaborou o relatório teve o objetivo geral de promover a Atenção Farmacêutica no Brasil e os objetivos específicos de elaborar uma proposta de pré-consenso para a promoção da Atenção Farmacêutica no Brasil, de propor a harmonização dos conceitos inerentes as práticas farmacêuticas relacionadas à promoção da Atenção Farmacêutica, de elaborar e implementar recomendações e estratégias de ação e de incentivar a criação de mecanismos de cooperação e fórum permanente. 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nas discussões foram utilizados documentos produzidos pela Organização Mundial da Saúde - OMS e pela Organização Pan-americana de Saúde – OPAS. Um dos conceitos utilizados na discussão trata da missão da prática farmacêutica, que é definida como “prover medicamentos e outros produtos e serviços para a saúde e ajudar as pessoas e a sociedade a utilizá-los da melhor forma possível.” Existe uma série de recomendações internacionais com o propósito de promover a qualidade, o acesso, a efetividade e o uso racional de medicamentos. No encerramento da Conferência sobre Uso Racional de Medicamentos realizada em 1985, o diretor geral da OMS chamou a atenção para as responsabilidades dos governos, da indústria farmacêutica, dos prescritores e farmacêuticos, das universidades e de outras instituições de ensino, das organizações profissionais não-governamentais, do público, dos usuários e das associações de consumidores, dos meios de comunicação e da própria OMS para a promoção do uso racional de medicamentos. Entre as estratégias e recomendações propostas estão àquelas voltadas para a formulação de políticas nacionais de medicamentos e o repensar do papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde, ilustrado pelos informes das reuniões promovidas pela OMS em Nova Deli, Tóquio, Vancouver e Haia, além do Fórum Farmacêutico das Américas. Utilizando referenciais internacionais, análise do contexto sanitário e buscando a promoção da prática da Atenção Farmacêutica de forma articulada com a Assistência Farmacêutica, no marco da Política Nacional de Medicamentos foi definido pelo Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, no relatório “Atenção Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos” que: “atenção farmacêutica é modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitada as suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde” (OPAS 2002). O conceito brasileiro destaca por considerar a promoção da saúde, incluindo a educação em saúde, como componente da atenção farmacêutica, o que constitui um diferencial marcante em relação às definições adotadas em outros países (OPAS, 2002). Também é importante ressaltar que, segundo o conceito brasileiro, assistência e atenção farmacêutica são distintas. Esta última refere-se a um modelo de prática e as atividades específicas do farmacêutico no âmbito da atenção à saúde, enquanto o primeiro envolve um conjunto mais amplo de ações, com características multiprofissionais (OPAS, 2002). Esse entendimento que esclarece as diferenças entre os dois termos e ao mesmo tempo contextualiza a Atenção Farmacêutica como uma atividade especializada da Assistência Farmacêutica é fundamental para que se possa desenvolver um projeto de Atenção Farmacêutica para o país. Assim, a Assistência Farmacêutica tem sido concebida como um conjunto de ações com características multiprofissionais, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade, sendo, portanto, responsabilidade de todos e de cada um dos membros da equipe de profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o uso de medicamentos pela sociedade. A Assistência Farmacêutica é, portanto, uma atividade essencial que possibilita que os vários processos que envolvem o fármaco, desde sua pesquisa até sua utilização, ocorram de forma segura e racional beneficiando individual e coletivamente os usuários de medicamentos no país. Enquanto que o conceito de Atenção Farmacêutica direciona o exercício profissional do farmacêutico para o atendimento das necessidades farmacoterapêuticas do paciente e este passa a ser seu foco principal de atenção. Desta forma, o farmacêutico assume a responsabilidade de buscar que o medicamento esteja produzindo no paciente o efeito desejado pelo médico que o 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores prescreveu e, ao mesmo tempo, que, ao longo do tratamento, não apareçam, ou apareçam de modo mínimo, problemas indesejados possíveis e, em caso de manifestação destes problemas, que eles sejam solucionados. Portanto, a atividade de atenção farmacêutica faz também parte do conceito de assistência farmacêutica, enquanto atividade especializada, realizada pelo farmacêutico, que passa a compartilhar os resultados de seu exercício profissional clínico com os demais profissionais envolvidos no atendimento ao paciente. A proposta de Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica é um elemento de grande significância para a promoção e implantação deste novo modelo de prática profissional. O consenso é resultado do Grupo de Trabalho “Atenção Farmacêutica no Brasil” nucleado pela Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS com apoio de diversas instituições farmacêuticas. Segundo Witzel (2008), embora a Atenção Farmacêutica esteja sendo muito discutida no Brasil, especialmente nos últimos cinco anos, e seja tema presente em praticamente todos os eventos científicos farmacêuticos promovidos no país, ainda há muita controvérsia, entre os próprios farmacêuticos, a cerca da conceituação desta nova atividade profissional, o que tem atrasado seu processo de implantação. Os termos Assistência e Atenção Farmacêutica são freqüentemente confundidos, gerando falhas na interpretação e dificuldades de comunicação da atividade para os demais profissionais da saúde, organismos governamentais e entidades prestadoras de assistência à saúde. Neste sentido, com o objetivo de demonstrar à sociedade e aos gestores públicos e privados que a ação do farmacêutico tem um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, no uso racional do medicamento e nos gastos sanitários, foi estruturado o Projeto-piloto de Atenção Farmacêutica em Hipertensão Arterial, uma iniciativa envolvendo o Fórum farmacêutico das Américas (FFA), o Conselho Federal de Farmácia, o Programa de Doenças não Transmissíveis da Organização Pan-Americana de Saúde e a Escola de Farmácia de Ouro Preto, contando com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto. O projeto foi desenhado com a intenção de ser desenvolvido em vários países das Américas, de 58 Este materialdeve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores forma coordenada e multicêntrica. A cidade de Ouro Preto no Brasil foi escolhida para sediar a fase piloto desse projeto que foi levado adiante no ano de 2002, e, a partir, desta primeira experiência, estão sendo feitas reuniões para definir as estratégias de expansão dessa experiência no Brasil (PROJETO, 2003). Paralelamente, outros países que fazem parte do FFA, como Argentina e Chile, começam também a se incorporar ao referido projeto. Segundo Witzel (2008), a participação brasileira nesse projeto do FFA constitui outro marco importante para a implementação da prática da Atenção Farmacêutica no Brasil. Um modelo estruturado, testado e validado, certamente produzirá informações valiosas sobre os impactos da morbidade e mortalidade relacionadas a medicamentos no Brasil e fortalecerá a importância do farmacêutico para a sociedade brasileira. Atenção Farmacêutica – O paciente como Foco Conforme Bisson (2007), na maioria das vezes o farmacêutico possui uma gama enorme de tarefas burocráticas, que o afastam do paciente e, assim como ocorreu em outros países, o farmacêutico brasileiro precisa gerenciar melhor seu tempo, diminuindo as tarefas administrativas e aumentando as atividades clínicas. Para isso acontecer, é necessário saber delegar serviços aos colaboradores diretos e informatizar processos de rotina. Portanto, o farmacêutico deve mudar sua postura e enxergar o paciente como foco de seu trabalho. Existem muitas situações em que o farmacêutico exerce cargos de gerência e é responsável pela compra, planejamento, armazenamento de insumos, comissões, escalas de trabalho, entre outras tarefas. Segundo Bisson (2007), nestas situações, o farmacêutico deve buscar a contratação de outros farmacêuticos para trabalharem na área da Atenção Farmacêutica, pois ninguém consegue desenvolver perfeitamente as duas atividades concomitantemente. Com isto, nem sempre é possível o farmacêutico conseguir direcionar suas atividades, ficando frustrado, porém pode-se traçar um plano de médio prazo para 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores adequação das funções. Não adianta o farmacêutico possuir um direcionamento clínico se a instituição onde ele trabalha ainda não enxergou os benefícios desta prática. Para isso, ele deve convencer as pessoas que têm o poder em sua organização de que realmente vale à pena investir na Atenção Farmacêutica. Também é importante para o farmacêutico brasileiro sentir-se apto a desenvolver a atenção farmacêutica, o que exige o desenvolvimento de seus conhecimentos e habilidades. A atenção ao paciente requer a integração de conhecimentos e habilidades, conforme a seguinte lista, elaborada por Bisson (2007): - Conhecimento de doenças; - Conhecimentos de farmacoterapia; - Conhecimentos de terapia não-medicamentosa; - Conhecimento de análises clínicas; - Habilidades de comunicação; - Habilidades de monitoração de pacientes; - Habilidades em avaliação física; - Habilidades em informação sobre medicamentos; - Habilidades em planejamento terapêutico. A prática focada no paciente baseia-se no fato de o farmacêutico colocar como centro de seu trabalho o cuidado do paciente, deixando de lado todas as outras funções (manipulação, logística e administração, entre outras). Além da dispensação de medicamentos, o farmacêutico deve conferir todas as prescrições que chegam até ele e, utilizando os conhecimentos farmacoterapêuticos e relativos às reações adversas a medicamentos, dados farmacocinéticos e perfil clínico do paciente, deve buscar o melhor para este. Eventuais intervenções devem ser anotadas em fichas próprias ou arquivos informatizados. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Conforme Djenane Ramalho de Oliveira, no artigo Atenção Farmacêutica como Contracultura, disposto no site do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRFMG), a Atenção Farmacêutica valoriza o trabalho direto com as pessoas e o envolvimento com a comunidade, a construção de relacionamentos multiprofissionais e a responsabilização pela farmacoterapia. Surge um novo modelo profissional que visa à resolução de problemas específicos: os problemas relacionados com o uso de medicamentos. A partir daí surge à necessidade de novos conhecimentos. Além dos conhecimentos técnicos sobre o produto farmacêutico, surge a necessidade do conhecimento humano, que vai além do enclausuramento da estatística, da lógica e da busca incessante da objetividade. O profissional necessita adquirir conhecimentos sobre seres humanos e sobre suas experiências singulares com as diferentes doenças e com os medicamentos. Somente assim ele poderá contextualizar suas ações e, conseqüentemente, realizar intervenções que tenham um impacto positivo na vida das pessoas. A subjetividade única de cada indivíduo entra em cena e o profissional precisa lidar com uma condição do ‘não saber’, de não possuir todas as respostas. O farmacêutico passará a auxiliar o paciente no processo de tomada de decisões sobre sua farmacoterapia. Em outras palavras, o modelo da Atenção Farmacêutica exige transformações profundas no ser e no fazer profissional que contrapõem vários valores atuais da profissão. Atenção Farmacêutica – Responsabilidades Conforme Bisson, o conceito central de atenção ou cuidado (care) é o de propiciar bem-estar aos pacientes. No contexto amplo de saúde podemos ter o cuidado médico, o de enfermagem e o cuidado farmacêutico ou atenção farmacêutica. Os profissionais de saúde em cada uma de suas especialidades devem cooperar para o pronto restabelecimento da saúde dos seus pacientes, bem como melhorar seu cuidado global. No caso específico do farmacêutico, este deve utilizar 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores seus conhecimentos e habilidades para propiciar ao paciente um resultado otimizado na utilização de medicamentos. O farmacêutico como especialista do medicamento deve, em tese, exercer o papel fundamental na sociedade em prol do uso racional dos medicamentos. A sua presença nos estabelecimentos farmacêuticos deve oferecer aos usuários uma atenção de qualidade, que assegure o acesso aos medicamentos essenciais com equidade, universalidade e integridade. Esta postura exige do farmacêutico o desenvolvimento de novas habilidades, não só no campo do conhecimento como também de atitudes e comportamentos. No entanto, os farmacêuticos ainda não têm consciência dessas suas funções e regras na assistência à saúde, isso pode explicar porque os sistemas de saúde não o reconhecem como prestador de cuidados, nem estabelece forma clara de reembolso dos farmacêuticos por esses serviços. A filosofia de exercício profissional é um conjunto de valores que orienta os comportamentos associados a determinados atos, neste caso os atos relacionados ao cuidado farmacêutico é específico para profissão farmacêutica e não para o profissional. A filosofia da atenção farmacêutica inclui diversos elementos. Inicia com uma afirmação da necessidade, continua com um método centrado no paciente para satisfazer essa necessidade, tem como núcleo central o cuidado com e para com outros por meio do desenvolvimento e manutençãode uma relação terapêutica e finaliza com uma descrição das responsabilidades específicas do profissional. (conforme site http://www.revistas.ufg.br/index.php/REF/article/viewArticle/2113/2059, acessado em 21/03/08). Por outro lado, apesar de todo o trabalho realizado há uma grande barreira imposta pelos profissionais farmacêuticos. Os farmacêuticos, como uma categoria profissional, não aceitam atuar frente a estas responsabilidades. A profissão está evoluindo lentamente frente às demandas deste modelo. É necessário que haja mudanças drásticas nos currículos das Faculdades de Farmácia. Os currículos devem ter um enfoque direcionado na prática farmacêutica, onde os estudantes de graduação terão contatos com os usuários desde o primeiro ano do curso. Devemos criar uma cultura onde o cuidado aos pacientes seja um padrão de comportamento profissional. 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Neste contexto, ocorre a necessidade do estímulo aos acadêmicos e profissionais recém-formados, os quais possuem íntegra a energia e o anseio de colaboração com a saúde da comunidade, de modo que ultrapasse as barreiras para realização de programa de Atenção Farmacêutica. O farmacêutico, além de produtos de medicamentos, passou também a ser co-responsável pela terapia medicamentosa, promovendo o uso racional de medicamentos, adquirindo maior ênfase no seu papel. O surgimento dessa nova filosofia de prática profissional, a Atenção Farmacêutica, veio estruturar, complementar e permitir esse novo papel do farmacêutico na atenção à saúde. Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em outras atividades que asseguram a qualidade de vida. Arcar com tamanha responsabilidade não é tão simples como possa parecer. Mais que boa vontade e alguns anos de estudos universitários, um bom farmacêutico necessita estar a par dos avanços medicinais, das novidades de sua área e das mudanças da sociedade (POLAKIEWICZ, 2002). A informação, assessoramento e orientação ao paciente, prestados pelo farmacêutico fazem com que se aplique na prática um resgate da verdadeira função do farmacêutico (COSTA, 2001). Dispensar um medicamento não é vender, mas conhecer seus clientes ou pacientes e orientá-los da melhor maneira possível sobre como usar o produto comprado (POLAKIEWICZ, 2002). O farmacêutico é um parceiro privilegiado do sistema de saúde, da indústria farmacêutica e do consumidor. O farmacêutico é o único profissional que conhece todos os aspectos do medicamento e, portanto, pode dar uma informação privilegiada às pessoas que o procuram na farmácia. A farmácia é uma instituição de saúde de acesso fácil e gratuito, onde o usuário, muitas vezes, procura em primeiro lugar o conselho amigo, desinteressado, mas seguro, do farmacêutico (ZUBIOLI, 2000). 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A Atenção Farmacêutica é o componente da prática farmacêutica que implica na direta interação do farmacêutico com o paciente, com o propósito de atender necessidades relacionadas com os medicamentos e demais produtos terapêuticos (PERETTA E CICCIA, 2000). A responsabilidade do farmacêutico praticamente triplicou com a globalização. Hoje, o farmacêutico que trabalha em farmácia é visto como o profissional do paciente. A Atenção Farmacêutica exigida e dispensada aos pacientes dentro das farmácias legou ao farmacêutico, mais importância e também mais responsabilidade (SANTOS, 2001a). Torna-se imprescindível para o farmacêutico ter a noção exata de sua competência, e dos limites de sua intervenção no processo saúde-doença (ZUBIOLI, 2000). O desenvolvimento científico e tecnológico que entrega, para o uso clínico, medicamentos cada vez mais potentes em sistemas de administração de maior complexidade, novas formas farmacêuticas, aliada às mudanças sociais, que tendem a se ampliar, aprofundar e modificar a atenção à saúde indica que o farmacêutico intensificará suas funções clínicas nos próximos anos. Conseqüentemente, assumirá maiores compromissos nos cuidados do paciente, especialmente no que se refere ao uso racional dos medicamentos que conduzam a bons resultados terapêuticos e ao provisionamento de informações à equipe de saúde, ao paciente e à comunidade (HAUBER, 1995). O termo Atenção Farmacêutica significa o processo pelo qual o farmacêutico atua com os profissionais e com o paciente na planificação, implementação e monitorização de uma farmacoterapêutica que produzirá resultados específicos. O aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização da Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades de comunicação, para assegurar a boa relação farmacêutica – usuário (LYRA JR. et al., 2000). A Atenção Farmacêutica baseia-se, justamente, na capacidade do farmacêutico de assumir novas responsabilidades relacionadas aos medicamentos e aos pacientes, através da realização de um acompanhamento sistemático e 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores documentado com o consentimento dos mesmos. Nesta perspectiva, a preparação de futuros farmacêuticos habilitados para o desempenho, com destreza, conhecimentos técnicos e compromisso social de suas atribuições, exige do ensino de farmácia e das suas universidades uma ênfase no desenvolvimento de todas as habilidades necessárias para a formação de profissionais pautados pela qualificação e excelência. Exige também uma visão e uma postura interdisciplinar, integradora, informadora (ALBERTON, 2001). Na Atenção Farmacêutica os farmacêuticos devem dispor do tempo necessário para determinar os desejos, as preferências e as necessidades do paciente relacionadas com a sua saúde, comprometer e continuar a atenção uma vez iniciada (PERETTA E CICCIA, 2000). Ainda, segundo os autores, a Atenção Farmacêutica é o que faz o farmacêutico quando: a) Avalia as necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos; b) Determina se o paciente tem um ou mais problemas reais ou potenciais relacionados com os medicamentos; c) Trabalha com o paciente para promover a saúde, prevenir as doenças e iniciar, modificar e controlar o uso dos medicamentos com o fim de garantir que o tratamento farmacoterapêutico seja seguro e eficaz. O farmacêutico presta Atenção Farmacêutica quando executa os três passos com êxito em todos e a cada um dos seus pacientes. Segundo Hepler & Strand (1990), a bibliografia sobre a prevenção da mortalidade relacionada a medicamentos e o potencial da farmácia para preveni-la, justifica a reivindicação da farmácia de uma obrigação formal de auxiliar o paciente a obter a melhor terapia medicamentosa possível, e especialmente a protegê-lo do dano. Se as pessoas soubessem sobre a morbi-mortalidade devida aos fármacos, não somente pediriam aos farmacêuticos que estabelecessem medidas preventivas, mas exigiriam tais ações. Conforme os autores, nos tempos do boticário, talvez fossem suficientes dispensar o fármaco correto, corretamente etiquetado. Hoje se precisa mais dos farmacêuticos. Oprimeiro princípio da assistência médica é primum no nocere 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores (primeiro não causar dano). O código de ética da Associação Farmacêutica Norte- Americana (AphA), adotado em 1969, declara que “um farmacêutico deve sustentar que a saúde e a segurança do paciente são prioritárias e deve sujeitar a cada paciente o total de sua capacidade profissional, como profissional de saúde essencial”. Ainda, segundo os autores, aceitar esta função incrementará uma grande medida no nível de responsabilidade dos farmacêuticos aos seus pacientes, e aceitar esta responsabilidade requer alterações filosóficas, organizacionais e funcionais na prática da farmácia. Hepler e Strand afirmam ainda que a missão da prática farmacêutica não seja somente a chamada Farmácia Clínica. As pesquisas e artigos dos últimos 20 anos sugerem que os conhecimentos e habilidades clínicas não são suficientes por si mesmos para maximizar a efetividade dos serviços farmacêuticos. Deve, segundo os autores, existir, também, uma filosofia da prática e uma estrutura organizada dentro da que se exerça. Assim, foi denominada a filosofia da prática que se necessita “Atenção Farmacêutica” e a estrutura organizacional que facilita a provisão dessa assistência “Sistema de Atenção Farmacêutica”. A missão da prática farmacêutica que é consistente em sua função, é de promover a Atenção Farmacêutica. Atenção Farmacêutica – Planejamento, Estrutura e Implementação Segundo Bisson (2007), para implantar a Atenção Farmacêutica é necessário realizar um planejamento bem-feito, que é o segredo para conseguir resultados efetivos. O primeiro passo é realizar um diagnóstico do local onde se pretende implantar o projeto. Este diagnóstico consiste em algumas perguntas básicas: - Âmbito de atuação (ambulatorial, hospitalar, farmácia pública, domiciliar); - Perfil dos pacientes (socioeconômico, escolaridade, idade, sexo, religião, etc.) 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores - Perfil epidemiológico de patologias na região (diabetes, hipertensão, asma, câncer, osteoporose, doenças reumáticas, etc.) - Farmacêuticos envolvidos no projeto (perfil, formação, número, carga horária) - Instalações físicas (salas, consultórios, etc.) - Fontes de informação (computadores, Internet, Medline, livros, guias, bibliotecas) - Protocolos de trabalhos dos farmacêuticos. Segundo Cipolle e colaboradores (1998) para a realização da Atenção Farmacêutica são necessários requisitos físicos e humanos. Como requisitos físicos entendem-se espaço físico adequado, telefone, computadores, acesso à bibliografia, mobília adequada (principalmente a mesa de atendimento ao cliente). Segundo Machuca e colaboradores (2003) são importantes que a mesa seja arredondada para permitir uma aproximação maior do farmacêutico com o paciente. Como requisitos humanos têm-se o farmacêutico, agente que desenvolve o processo de atenção farmacêutica que necessita, primeiramente, querer realizar o processo de Atenção Farmacêutica e estar treinado para isto. Contudo, não se podem desconsiderar os outros funcionários da farmácia, que também deverão entender esta nova atividade do farmacêutico e garantir a privacidade do mesmo e do paciente durante as visitas, sem prejuízo das demais atividades desenvolvidas na farmácia. Após o levantamento de todas as informações necessárias, o farmacêutico precisará definir quais atividades ele exercerá e elaborar um projeto bem-detalhado, conforme podemos visualizar a seguir: 1. Nome do Projeto 2. Exposição de motivos (Por que fazer? Quem faz? Quem fez? Resultados?) 3. Atividades a serem desenvolvidas (descrevendo como fazer) 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a. Quais pacientes serão acompanhados (gestantes, idosos, crianças, adolescentes, mulheres); b. Patologias (asma, diabetes, hipertensão, dislipidemia, distúrbios de coagulação); c. Drogas, (neste caso, deve ser levado em conta o custo, a incidência de reações adversas, a taxa de utilização); d. Local onde será realizado; e. Impressos a serem utilizados (ou sistemas informatizados); f. Freqüência das visitas do paciente ou do farmacêutico (no caso de atenção domiciliar); g. Arquivamento destas informações; h. Confidencialidade das informações. 4. Recursos a. Humanos (farmacêuticos, auxiliares, escriturários e recepcionistas) b. Materiais (salas, móveis, computadores, livros, assinaturas de bases de dados como Drugdex/Poisindex); c. Financeiros. 5. Cronograma de Implantação 6. Monitoração da implantação a. Indicadores a serem medidos (diminuição de custos, diminuição de consultas de emergência, diminuição das internações, aumento de sobrevida, aumento da qualidade de vida, etc.); b. Apresentação de resultados (como serão apresentados, tabelas, gráficos, etc.). 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 7. Bibliografia de referência (é importante ressaltar que cada projeto deve ser elaborado individualmente, observando-se as características e peculiaridades de cada instituição. Na internet e no Medline, é possível encontrar uma enorme gama de modelos de trabalho de farmácia clínica e atenção farmacêutica, porém cada país e instituição têm suas próprias peculiaridades). É importante salientar que, segundo Plaza Pinol e Diez Rodrigues (2000), existem dificuldades encontradas pelos farmacêuticos para a implementação da Atenção Farmacêutica. Entre elas, destacam-se o medo de assumir novas responsabilidades, a necessidade de uma formação específica, a limitação da estrutura física da farmácia e o medo de não ter disponível recursos bibliográficos adequados (fontes de informação). Resultados Conforme Hepler e Strand (1990), a Atenção Farmacêutica é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. Estes resultados são: - A cura da doença do paciente; - A redução ou eliminação de uma sintomatologia do paciente; - Controle ou diminuição do progresso de uma doença; - A prevenção de uma doença ou de uma sintomatologia. O que se deve ter em mente quanto a este modo de exercício profissional, é que a qualidade dos resultados se mede diretamente pela melhora da qualidade de vida fornecida ao paciente. E essa melhora deve ser obtida pela otimização da terapia medicamentosa e resolução dos problemas relacionados aos medicamentos. O que se propõe não é o exercício do diagnóstico ou da prescrição de medicamentos considerados de responsabilidade médica, mas a garantia de que 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores esses medicamentos venham a ser úteis na solução ou no alívio dos problemas do paciente. Problemas Relacionados a Medicamentos Conforme Bisson (2007), a Atenção Farmacêutica não envolve somente a terapia medicamentosa, mas também decisões sobre o uso de medicamentos para cada paciente. Apropriadamente, pode-se incluir nesta área a seleção de drogas, doses, viase métodos de administração; a monitoração terapêutica; as informações ao paciente e aos membros da equipe multidisciplinar de saúde; e o aconselhamento de pacientes. A resolução e prevenção de problemas relacionados a medicamentos levam ao planejamento, execução e seguimento de um plano terapêutico que será cumprido otimamente pelo farmacêutico. (Hepler; Strand, 1990). Um problema relacionado a medicamento (PRM) é definido como um problema de saúde relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário. Segundo Hepler e Strand (1990), a Atenção Farmacêutica implica em três funções primordiais em nome do paciente: - Identificar problemas potenciais e reais relacionados a medicamentos; - Resolver problemas reais relacionados a medicamentos; - Prevenir problemas potenciais relacionados a medicamentos. Segundo Bisson (2007), um PRM é dito real ou atual quando manifestado e potencial, na possibilidade de sua ocorrência. Pode ser ocasionado por diferentes causas, como as relacionadas ao sistema de saúde, ao usuário e aos seus aspectos biopsicossociais, aos profissionais de saúde e ao medicamento. A identificação de PRM segue os princípios de necessidade, efetividade e segurança, próprios da farmacoterapia. 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os problemas relacionados a medicamentos se apresentam mais comumente da seguinte maneira: 1. Indicações sem tratamento: ocorrem quando o paciente possui um problema médico que requer terapia medicamentosa, mas não está recebendo um medicamento para esta indicação; Circunstâncias comuns desenvolvem situações em que o paciente necessita de um tratamento, mas não o está recebendo. Por exemplo, um paciente que está sendo apropriadamente tratado para uma doença vascular periférica, mas não está recebendo tratamento para a conseqüente anemia. Aqui, o objetivo do tratamento é o estado primário e o novo problema não foi identificado ou tratado. (STRAND et al, 1990). 2. Seleção inadequada de medicamentos: ocorre quando o paciente faz uso de um medicamento errado para a indicação de certa patologia; Às vezes, o tratamento usado para tratar o estado de saúde do paciente torna-se inefetivo ou existe um fármaco que provavelmente fosse mais efetivo, mas não está sendo utilizado. (STRAND et al, 1990). 3. Dosagem subterapêutica: ocorre quando o paciente está recebendo o medicamento correto, porém em uma dosagem menor do que seria necessário para seu estado clínico; Ainda que seja um dogma fundamental para a medicina homeopática, subdoses de medicamentos podem ser classificados como PRM quando os resultados desejados para o paciente não foram alcançados (p.ex. a infecção não está respondendo ao tratamento com antibiótico em subdose). (STRAND et al, 1990) 4. Fracasso no recebimento da medicação: ocorre quando o paciente possui um problema médico, porém não recebe a medicação que precisa (por questões financeiras, sociais, psicológicas ou farmacêuticas); 5. Sobredosagem: ocorre quando o paciente tem um problema médico, mas recebe uma dosagem que lhe está sendo tóxica; 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Por exemplo, um aumento súbito de dose de ácido nicotínico é associado ao aparecimento de reações cutâneas graves. (STRAND et al, 1990) 6. Reações adversas a medicamentos (RAM): ocorrem quando o paciente possui um problema médico resultante de uma reação adversa ou efeito adverso; Por razões que não são inerentemente óbvias, os farmacêuticos têm definições descritas e quantificadas para as reações adversas a medicamentos (RAM) mais extensivamente que o restante dos PRM. De fato, numerosos artigos e livros tratam desse tema. Rawlings classificou os efeitos adversos em tipo A e tipo B. As reações do tipo A são consistentes com as ações farmacológicas do fármaco ocorrem habitualmente e, geralmente, são dose-dependentes. As reações do tipo B representam reações alérgicas e idiossincrásicas que são independentes da farmacologia do medicamento. Estas não são relacionadas com a dose. 7. Interações medicamentosas: ocorrem quando o paciente possui um problema médico resultante de uma interação droga-droga, droga-alimento ou droga-exame laboratorial; Por exemplo, o leite inibe a absorção de preparados de ferro e o ácido ascórbico, os antibióticos beta-lactâmicos, a levodopa e os salicilatos, possuem interferência bastante documentada com os exames de glicose na urina. 8. Medicamento sem indicação: ocorre quando o paciente faz uso de um medicamento que não tem uma indicação médica válida para aquele quadro clínico apresentando por ele. ------------------FIM DO MÓDULO II----------------- Etapa Tradicional Etapa de Transição Análise do Período de Transição
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