Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SUMÁRIO 1. FARMACOLOGIA CLÍNICA ......................................................................... 3 1.1. A Farmácia Clínica constituiu-se: .......................................................... 4 1.2. Objetivo: ................................................................................................ 5 1.3. Aplicação da farmácia clínica ................................................................ 5 1.4. Atenção Farmacêutica .......................................................................... 6 1.5. Bases da Farmácia Clínica ................................................................... 6 2. FARMÁCIA CLÍNICA NO BRASIL LEGISLAÇÃO ....................................... 7 2.1- Portaria MS nº 4.283/2010 .................................................................... 7 2.2- Competências ....................................................................................... 8 3. PERFIL DO FARMACÊUTICO CLÍNICO ..................................................... 8 3.1- Onde atua ........................................................................................... 11 3.2- Intervenção Farmacêutica na Prática Clínica ...................................... 11 3.3- Análise Farmacêutica da Prescrição ................................................... 12 3.4- Legislação da farmácia clínica ............................................................ 12 3.5- Principais dificuldades enfrentadas por farmacêuticos para exercerem suas atribuições clínicas ............................................................................................ 14 4. FARMACOLOGIA CLÍNICA E A SEGURANÇA NO USO DE MEDICAMENTOS ......................................................................................................... 18 4.1- A importância da farmacologia clínica ................................................. 19 4.2- As atribuições do farmacêutico na política nacional de medicamentos21 4.3- Assistência Farmacêutica ................................................................... 22 4.4- Erros de prescrição ............................................................................. 23 4.5- Promoção do uso racional de medicamentos ..................................... 26 2 4.6- Aspectos conceituais relacionados ao uso racional de medicamentos: 28 4.7- Exemplo de tipos de problemas na prescrição: ................................... 29 4.8- O uso inapropriado de medicamentos pode ter consequências como:30 4.9- Estratégias educacionais .................................................................... 32 4.10- Estratégias gerenciais ......................................................................... 33 4.11- Razões para a seleção dos medicamentos serem monitorizados: ..... 34 4.12- Intervenções para a promoção do uso racional por parte dos profissionais de saúde: .............................................................................................. 36 5. VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS ....................................... 37 6. INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA ............................................................ 41 7. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 45 3 1. FARMACOLOGIA CLÍNICA Fonte:www.revelandosaocarlos.com.br A Farmácia Clínica é um conceito ou uma filosofia que enfatiza o uso seguro e adequado de medicamentos em pacientes. Ela coloca a ênfase do medicamento sobre o paciente e não sobre o produto. Isto apenas é alcançado interagindo responsavelmente com todas as disciplinas de saúde que estão de alguma forma envolvidos com medicamentos. Nos Estados Unidos, a perda do papel do farmacêutico nas farmácias após a industrialização foi solucionada no âmbito hospitalar através de uma nova disciplina que pretendia resgatar a participação do farmacêutico na equipe de saúde, a Farmácia Clínica. Farmácia clínica área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças. Esta área não é restrita somente a hospitais, mas inclui também farmácias comunitárias, clínicas privadas, ambulatórios, unidades de saúde e lares de longa permanência. Pode ser 4 exercida em qualquer local que possua usuários de medicamentos expostos ao risco e às consequências de seu uso. O profissional que atua clinicamente tem, entre outras funções, a de garantir o uso correto do medicamento, em conjunto com a equipe multiprofissional dos hospitais e ambulatório, reduzindo o tempo de internação e melhorando a adesão destes ao tratamento para garantir uma melhor qualidade de vida. Atua também na gestão da farmacoterapia, revisando aspectos da seleção, administração e resultados terapêuticos obtidos. Fornece educação e orientação ao paciente e recomendações ao médico para ajustes no tratamento. No início do século XX a figura do farmacêutico e da farmácia estava ligado ao boticário, bem diferente do conhecimento que o farmacêutico possui hoje. Essa situação acabou distanciando alguns profissionais das práticas em saúde naquela época. Assim alguns, acabaram apenas atuando como dispensadores de produtos comerciais. Toda essa situação, gerou na década de 60 uma reorganização das atitudes e formação, gerando um movimento profissional para discutir melhorias nesta área. Assim, nascia nos Estados Unidos o termo farmácia clínica, que incluía os farmacêuticos na equipe de saúde para garantir sua qualidade de vida. A farmácia clínica é uma responsabilidade do farmacêutico relacionada à utilização correta dos medicamentos. Pode-se dizer que é a avaliação clínica do paciente sob o ponto de vista farmacológico. Nesse sentido, são analisadas se prescrição está condizente com indicações terapêuticas dos medicamentos, com o estado clínico do paciente, e se esses estão sendo efetivos, seguros e convenientes. Soma-se a isso ao cenário clínico brasileiro caracterizado pelo aumento da morbimortalidade relacionado a terapia medicamentosa e aos erros de medicação que causam mortes previsíveis. Além disso, a prevalência de doenças crônicas que necessitam de acompanhamento farmacoterapêutico contínuo. 1.1. A Farmácia Clínica constituiu-se: Primeiro como um princípio, ou conjunto de princípios ... 5 Em torno do qual se organizou um tipo de prática, um conjunto de atividades profissionais... Para em seguida configurar-se como um campo disciplinar, ou uma disciplina científica.... 1.2. Objetivo: Para tanto o farmacêutico utiliza-se de ferramentas para levantar sua hipótese diagnóstica em relação aos 04 pilares: necessidade, efetividade, segurança e conveniência. No primeiro caso observa-se se o paciente tem indicação clínica para utilizar esse medicamento ou mesmo é desnecessário. Para avaliar a efetividade do tratamento medicamentosa é importante lançar mãos de exames laboratoriais ou parâmetros subjetivos tais como sinais e sintomas do paciente. No quesito segurança observar-se as reações adversas e intoxicações decorrentes do uso dos medicamentos ou as que poderiam causar problemas irreversíveis. A conveniência pode ser avaliada quando o paciente não utiliza adequadamente o medicamento indicado para sua condição clínica. Nesse aspecto é importante avaliar a experiência subjetiva em relação a sua utilização. Que os farmacêuticos assumissem "novos padrões de prática para a farmácia" para além das "atividades administrativas clássicas", incorporassem a responsabilidade pelas atividades de cuidado ao paciente. 1.3. Aplicação da farmácia clínica O raciocínio da farmácia clínica pode ser aplicado em qualquer instituição de saúde que incorpore o profissional farmacêutico com membro da equipe. Todos os profissionais devem trabalharinterdisciplinarmente para o bem estar físico/psíquico e clínico do paciente. Pode ser considerada uma prática de farmácia clínica a farmacovigilância que identifica, previne e trata as reações adversas medicamentosas. Essas atividades devem 6 estar plenamente implantadas caso a instituição de saúde esteja almejando o nível de excelência na acreditação hospitalar. A reconciliação medicamentosa é outra atribuição que vem sendo demandada atualmente. Consiste na avaliação de todos os medicamentos quanto às interações medicamentosas, interferência nos exames laboratoriais e mensuração da efetividade do tratamento. O farmacêutico também poderá sugerir modificações no preparo de medicamentos manipulados para facilitar a absorção dos mesmos ou alterar a posologia para melhorar a adesão do paciente ao esquema terapêutico proposto. 1.4. Atenção Farmacêutica A participação ativa do farmacêutico na assistência ao paciente na dispensação e seguimento do tratamento farmacoterapêutico, cooperando com o médico e outros profissionais de saúde, a fim de conseguir resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Também prevê a participação do farmacêutico em atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças. 1.5. Bases da Farmácia Clínica É o ponto culminante das atividades de um profissional da área hospitalar. Está sustentada nas bases da farmácia hospitalar, e que, sem as ações assistenciais desta, a farmácia clínica está fadada ao insucesso. A farmácia clínica Hospitalar no Brasil, é mais ou menos como as equipes multiprofissionais, que todos intitulam de grupos, mas poucos agem em grupo, com objetivos comuns e somatórios de conhecimentos, deixando de lado suscetibilidades e melindres. Ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionados ao cuidado dos pacientes, que o uso dos medicamentos seja seguro e apropriado; necessita portanto, de educação especializada e interpretação de dados, da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais. 7 2. FARMÁCIA CLÍNICA NO BRASIL LEGISLAÇÃO Fonte:www.inspirar.com.br 2.1- Portaria MS nº 4.283/2010 Aprova as diretrizes e estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços de farmácia no âmbito dos hospitais. Art.4ºFica revogada a Portaria GM/MS Nº316, de 26 de agosto de 1977, publicada no DOU em 14 de setembro de 1977, Seção I-Parte I. D - cuidado ao paciente: O cuidado ao paciente objetiva contribuir para a promoção da atenção integral à saúde, à humanização do cuidado e à efetividade da intervenção terapêutica. Promove, também, o uso seguro e racional de medicamentos e outras tecnologias em saúde e reduz custos decorrentes do uso irracional do arsenal terapêutico e do prolongamento da hospitalização. 8 Tem por função retroalimentar os demais membros da equipe de saúde com informações que subsidiem as condutas. A atividade do farmacêutico no cuidado ao paciente pressupõe o acesso a ele e seus familiares, ao prontuário, resultados de exames e demais informações, incluindo o diálogo com a equipe que assiste o paciente. O farmacêutico deve registrar as informações relevantes para a tomada de decisão da equipe multiprofissional, bem como sugestões de conduta no manejo da farmacoterapia, assinando as anotações apostas. Os hospitais devem adotar práticas seguras baseadas na legislação vigente, em recomendações governamentais, e em recomendações de entidades científicas e afins, nacionais e internacionais. 2.2- Competências Comunicação e Educação; Capacidade de julgamento, para tomada de decisão; Avaliação e gerenciamento de informação médica; Gerenciamento de Populações de Pacientes; Conhecimentos sobre terapêutica. 3. PERFIL DO FARMACÊUTICO CLÍNICO A carreira farmacêutica especializada em farmácia clínica vem sendo cada vez mais valorizada pelo mercado, principalmente após a aprovação da Lei Federal 13.021, de agosto de 2014, que garante a presença do farmacêutico nas farmácias e ainda conceitua o estabelecimento como sendo de saúde. Esta carreira permite ao profissional prestar serviços clínicos farmacêuticos, como por exemplo, o acompanhamento farmacoterapêutico, a conciliação terapêutica e a revisão da farmacoterapia. 9 Devido à grande capilaridade do varejo farmacêutico brasileiro, o profissional que deseja seguir a carreira de farmacêutico clínico tem um campo de ação nacional, podendo atuar, inclusive, fora dos grandes centros urbanos. Ser especialista em farmácia clínica exige que o profissional tenha um perfil multidisciplinar, habilidade de comunicação, capacidade de tomar decisões e de interagir com os pacientes, além de possuir conhecimentos aprofundados em fisiologia humana, patologia, farmacologia e farmacoterapia. Ter fluência na língua inglesa é importante para acessar a literatura técnica dessa carreira, e o espanhol é um importante diferencial. Conhecimentos fisiopatologia / farmacoterapia; Mente investigativa (nexo causal); Acesso à informação de qualidade (literatura atualizada); Habilidade de avaliação das situações; Habilidade de comunicação; Disponibilidade de educação permanente. Realiza e desenvolve procedimentos para a promoção, proteção e recuperação da saúde; Assegura que o medicamento seja administrado na dose, frequência, via de administração e horário corretos; Verifica se a prescrição médica está de acordo com aspectos técnicos e legais; Promove intervenções terapêuticas, quando necessário; Realiza consulta, anamnese e avaliação farmacêutica; Integra comissões, criadas com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos e garantir a segurança do paciente; Planeja e coordena, junto com outros profissionais da saúde, estudos epidemiológicos e outras investigações relacionadas à área da saúde; Participa de comitês de ética em pesquisa; Monitora e avalia os resultados da farmacoterapia por meio da solicitação de exames; 10 Analisa os níveis terapêuticos dos fármacos administrados durante o tratamento do paciente; Identifica interações medicamentosas; Desenvolve plano de cuidado farmacêutico individual para cada paciente; Analisa, em períodos pré-determinados, os resultados das intervenções farmacêuticas; Administra medicamentos aos pacientes, quando for de sua competência profissional; Orienta quanto à administração de formas farmacêuticas; Prescreve no âmbito de sua competência profissional; Verifica a adesão do paciente ao tratamento medicamentoso. Desenvolve métodos para promover a maior adesão do paciente ao tratamento; Informa e orienta a sociedade quanto ao uso racional de medicamentos, por meio de programas e materiais educativos; Participa da formação e desenvolvimento profissional de farmacêuticos; Faz parte da coordenação, supervisão, auditoria, acreditação e certificação de ações e serviços relacionados às atividades do profissional farmacêutico; Elabora e atualiza formulários terapêuticos e protocolos clínicos para a utilização de medicamentos. Para exercer a farmácia clínica em sua plenitude o farmacêutico precisa desenvolver ou aperfeiçoar conhecimentos em farmacologia, semiologia, tecnologia farmacêutica, análises clínicas e tantas outras que forem demandadas pelo mercado de trabalho. Infelizmente a base para atuação desse profissional não é fornecida adequadamente nos cursos de graduação. É importante que os farmacêuticos que desejam atuar nessa área procurem cursos de pós graduação ou residências multidisciplinares. 11 Além disso, deve se um profissional com amplo conhecimento da língua inglesa devido à publicação de artigos científicos e com interesse por estudar os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas publicadas pelo Ministérioda Saúde. Habilidades pessoais são fundamentais, pois esses profissionais terão que lidar com a experiência subjetiva em relação à utilização dos medicamentos e deverão formalizar uma relação terapêutica em todos os níveis de assistência à saúde. 3.1- Onde atua Hospitais públicos; Hospitais privados; Hospitais filantrópicos; Farmácias e Drogarias; Clínicas. 3.2- Intervenção Farmacêutica na Prática Clínica Fonte:www.projetoextensaofurb.blogspot.com.br 12 Consistem na necessidade de reavaliação da prescrição por parte da Equipe Médica/e ou Enfermagem no intuito de orientar esquemas terapêuticos garantindo um tratamento farmacológico adequado, efetivo e seguro. 3.3- Análise Farmacêutica da Prescrição Falha de prescrição; Aprazamento das drogas; Prazo de tratamento com antimicrobianos; Protocolo de profilaxia com antimicrobianos; Incompatibilidades farmacológicas e físico-químicas; Posologia ideal; Via de administração; Reconciliação medicamentosa; Interações medicamentosas; Ajustes de dose para pacientes com insuficiências; Uso racional de medicamentos. 3.4- Legislação da farmácia clínica Apesar de constituir uma atividade inerente da profissão, somente em 2013 foi promulgada a resolução 585 e 586 pelo Conselho Federal de Farmácia sobre as responsabilidades clínicas dos profissionais farmacêuticos. Essa legislação confere autoridade ao farmacêutico para fazer diagnóstico de transtornos menores em farmácia comunitárias, alterar esquema posológico em pacientes com doenças crônicas e prescrever medicamentos isentos de prescrição. Os farmacêuticos também podem formalizar o atendimento clínico nos mesmos moldes de uma consulta e aferir parâmetros vitais básicos tais como glicemia capilar e medidas de pressão arterial. 13 Ademais, devem sempre prezar pelo uso racional do medicamento, ou seja, a terapia mais apropriada, pelo período mais adequado, ao menor custo e a mais conveniente para o paciente ou do seu cuidador. A farmácia clínica é uma atribuição do profissional que está crescendo cada dia mais no cenário brasileiro. Isso pode ser verificado pelo aumento da prevalência das doenças crônicas que requerem condutas terapêuticas contínuas. Diante da importância dessa especialidade, o Conselho Federal de Farmácia promulgou recentemente as principais atribuições clínicas desse profissional. Porém os farmacêuticos se sentem despreparados, pois não possuem embasamento científico e prático necessários para exercer plenamente essa função. Sabendo disso, muitas instituições de ensino oferecem cursos de pós graduação e residência multiprofissional. Se você for farmacêutico, não deixe de investir nessa especialidade e consiga sua tão desejada satisfação profissional. Se ainda for cursar essa graduação, considere atuar nessa área. Se ainda tiver dúvidas, poste-as nos comentários abaixo e discuta com os profissionais atuantes. 14 3.5- Principais dificuldades enfrentadas por farmacêuticos para exercerem suas atribuições clínicas Fonte: www.farmaceuticort.wordpress.com Os sistemas de saúde, em todo o mundo, têm enfrentado desafios relacionados a restrições orçamentárias, a alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e ao aumento dos problemas relacionados à farmacoterapia que levam a morbidades e mortalidade relacionada aos medicamentos. Estas mudanças incidem também sobre a profissão farmacêutica que vem sofrendo uma série de transformações nos últimos tempos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os farmacêuticos devem estar mais envolvidos em resolver problemas dos sistemas de saúde partindo de uma abordagem centrada no produto (medicamento) para o cuidado. Deste modo, o farmacêutico atual deve desempenhar atividades voltadas à promoção do uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde, tendo sua prática redefinida a partir das necessidades das pessoas, família, cuidadores e comunidade. Isto inclui a identificação, resolução e prevenção de problemas potenciais e reais relacionados com a farmacoterapia. Estas ações se materializam na prestação de serviços farmacêuticos, 15 como, por exemplo, o acompanhamento farmacoterapêutico, a educação em saúde, o rastreamento em saúde, a conciliação de medicamentos, a revisão da farmacoterapia, entre outros. Uma série de estudos têm mostrado que o farmacêutico desempenha papel vital no manejo da terapia medicamentosa, o que de maneira global, melhora a condição de saúde do paciente. O fácil acesso às farmácias e ao farmacêutico, tanto pela distribuição geográfica, quanto em termos do aconselhamento gratuito, fazem com que a farmácia seja, em muitas ocasiões, a porta de entrada para o sistema de saúde. Alguns fatores podem dificultar a implantação de serviços farmacêuticos no Brasil e do exercício de suas atribuições clínicas dos farmacêuticos. Por exemplo, a realidade em que vive o profissional farmacêutico e a crise de identidade profissional em consequência da falta de reconhecimento social e pouca inserção na equipe multiprofissional de saúde, não representando um referencial como profissional de saúde na farmácia e nem em outros serviços de saúde, acompanhado da deficiência na formação profissional que é excessivamente tecnicista. Sendo uma profissão milenar, é coerente que farmacêuticos tenham que se adaptar às mudanças sociais e econômicas vividas ao longo dos séculos para que continuem tendo um papel fundamental para a sociedade. Esta transformação fica mais clara quando observamos o contexto dos Estados Unidos em que o farmacêutico, que perdeu seu papel nas farmácias após a industrialização do setor conseguiu lograr êxito no âmbito hospitalar através de uma nova disciplina, que seria promissora na função de resgatar a importância da profissão dentro da equipe de saúde, chamada de Farmácia Clínica. A Farmácia Clínica, que pode ser definida como “área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças”, passou a traduzir a expectativa em que o valor social da profissão fosse recuperado. Este movimento não deve ser considerado meramente uma reação à industrialização, mas, essencialmente, uma resposta à necessidade social no sentido de 16 garantir a segurança do uso de medicamentos em um novo contexto de sua existência científica. Diversas diretrizes sobre educação farmacêutica, publicadas na última década, no mundo inteiro apontam que as Faculdades de Farmácia devem formar um farmacêutico com competência para: Prestar atenção farmacêutica ao paciente, trabalhar em equipe e colaboração profissional, buscar informação sobre medicamentos, se comunicar, contribuir para a qualidade no uso de medicamentos, aplicar técnicas de gestão e organização, entre outras. Esforços estão sendo feitos para a mudança do modelo vigente de Diretriz Curricular, como por exemplo os Encontros de Educadores em Farmácia Clínica de todo o país, realizados nos anos de 2015 e 2016, que geraram como produto uma Matriz de Competência para a Atuação Clínica do Farmacêutico, possibilitando uma maior inserção do Eixo Cuidado em Saúde na nova proposta de Diretriz Curricular Nacional do Curso de Farmácia enviada ao Conselho Nacional de Educação e a criação da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica. Da mesma forma, é imperioso atentar que as atividades clínicas não podem ser desenvolvidas apenas com o olhar tecnicista e científico, que foi também uma dificuldade elencada, mas devem ser desempenhadas compreendendo o indivíduo como um todo, através de uma visão humanizada e holística, onde o contexto em que ele vive influencia suas decisões sobre saúde. 17 Fonte:www.ictq.com.brA educação farmacêutica aparece como a principal barreira. No contexto atual em que se encontra a educação no país, tendendo a um enfoque quantitativo e mercantilista, formam-se profissionais cada vez mais desqualificados, que não se reconhecem como profissionais de saúde e com baixo nível de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho dos serviços farmacêuticos. Questões estruturais também foram elencadas e, de fato, são um entrave para a realização de um trabalho clínico por parte do farmacêutico. Uma vez que gestores, equipe de saúde e sociedade ainda não estão convencidos de que este profissional é capaz de ser útil para resolver problemas de saúde demandados pelo sistema. Uma reforma educacional profunda na graduação e pós-graduação é necessária para uma mudança de paradigma como essa, sendo necessária reflexão sobre mudanças curriculares e do como ensinar e do como formar competências. Os profissionais envolvidos na formação de farmacêuticos devem ser conscientizados sobre a necessidade do ensino clínico de qualidade, utilizando metodologias validadas para tal. Mais linhas de pesquisa na área devem ser incentivadas, para estimular a formação de mais educadores em Farmácia Clínica. 18 O auto reconhecimento como profissional de saúde é vital para que o farmacêutico incorpore a filosofia do Cuidado em saúde e utilize seus conhecimentos para realizar as atividades clínicas e tornar-se um diferencial dentro da equipe de saúde. 4. FARMACOLOGIA CLÍNICA E A SEGURANÇA NO USO DE MEDICAMENTOS O aumento da segurança no uso de medicamentos está associado a processos seguros, estratégias para prevenção de erros e eventos adversos com redução de suas consequências. A participação do farmacêutico promove segurança por meio da redução de reações evitáveis, diminuição do tempo de internação, mortalidade e custos. O aumento na segurança aos pacientes em hospitais está associado a aumento do número de farmacêuticos clínicos e ao serviço de farmácia clinica oferecido a esses pacientes. Uma das formas mais efetivas de redução de erros de medicação em hospitais é ter mais farmacêuticos clínicos e expandir esse trabalho. O custo-benefício de um farmacêutico clínico varia dependendo do tipo da instituição, do número de intervenções, do número de leitos monitorados, e dos serviços farmacêuticos oferecidos; entretanto, a presença do farmacêutico clínico consistentemente tem demonstrado uma vantagem econômica significativa. Novos tipos de intervenções foram sendo adicionados ao longo do tempo e tornaram-se mais específicos também, como acompanhamento de pacientes utilizando anticoagulantes, hipoglicemiantes e opioides, o que demonstra um envolvimento do farmacêutico na atividade clínica e identificação de novas áreas de atuação. A implantação e a expansão da farmácia clínica representaram impacto positivo em relação ao número de intervenções pelo farmacêutico clínico durante o período considerado, podendo promover o uso racional de medicamentos, o aumento da segurança ao paciente e contribuir para redução de custos associados à prescrição médica. O farmacêutico gradualmente e efetivamente foi inserido, garantindo seu espaço junto à equipe multidisciplinar e no processo de segurança do paciente dentro da instituição. 19 4.1- A importância da farmacologia clínica Fonte:www.sercapacita.com.br A Assistência Farmacêutica é definida como “grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinada a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade”. Envolve diversas etapas desde a seleção de medicamentos até sua utilização, interligando duas grandes áreas, porém distintas, a tecnologia de gestão e a tecnologia de uso do medicamento. A tecnologia de gestão tem como objetivo maior garantir o abastecimento e o acesso aos medicamentos enquanto a tecnologia de uso dos medicamentos visa o uso correto e efetivo dos medicamentos, e é neste contexto que se inserem as atividades de farmácia clínica. Farmacologia clínica pode ser entendida como “a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimento que o uso dos medicamentos seja correto e adequado”. Ainda para o desenvolvimento desta atividade há a necessidade de educação especializada e treinamento estruturado, além de coleta e interpretação de dados, motivação pelo paciente e integração entre os profissionais da equipe de saúde. 20 A atuação do farmacêutico junto aos pacientes e integrado à uma equipe multiprofissional é uma opção mais avançada para o pleno exercício da profissão farmacêutica e tem como objetivo aprimorar os conceitos de segurança e melhor utilização da farmacoterapia. Os resultados positivos podem ser observados na identificação e resolução de problemas relacionados à medicamentos que favorecem a prática de uma terapia medicamentosa mais segura e racional e que melhorem a qualidade de vida do paciente. O farmacêutico clínico atua diminuindo a alta incidência de erros de medicação, de reações adversas a medicamentos, interações medicamentosas e incompatibilidades e a implantação de um Serviço de Farmácia Clínica possibilita o aumento da segurança e da qualidade da atenção ao paciente, redução de custos e aumento da eficiência hospitalar. Na Farmácia Clínica o farmacêutico insere-se como um dos principais profissionais envolvidos no combate ao uso irracional de medicamento. Através da realização de atividades clínicas e da avaliação do impacto dessa atividade, atua como o último elo entre a prescrição e a administração dos medicamentos contribuindo significativamente, para melhoria da farmacoterapia. A Farmácia Clínica pressupõe que o farmacêutico estabeleça relacionamento ativo com os demais membros da equipe de saúde presentes no ambiente hospitalar, principalmente médicos e enfermeiros. Porém, também pressupõe o contato com os pacientes, para assim assegurar resultados clinicam ente apropriados para a farmacoterapia. Neste contexto, o paciente é objeto principal das a atividades do farmacêutico hospitalar, enquanto o medicamento é um dos instrumentos utilizados para a melhoria das condições de saúde de um indivíduo. 21 4.2- As atribuições do farmacêutico na política nacional de medicamentos Fonte:www.crf-pr.org.br O consumo de medicamentos, no Brasil, tem dimensões estruturais, políticas, sociais e histórico-culturais. Entender a relação da utilização dos medicamentos com estas dimensões é necessário para que se possa garantir à população uma terapêutica racional, segura, com custos acessíveis. Diversos são os setores da sociedade que têm responsabilidade direta ou indireta sobre a utilização de medicamentos: a esfera nacional, a esfera estadual e a esfera municipal de governo, a indústria farmacêutica, os distribuidores de medicamentos, as farmácias, os prescritores (médicos e dentistas), os dispensadores (farmacêuticos), os demais profissionais de saúde e o paciente ou usuário de medicamentos. São prioridades da Política Nacional de Medicamentos a revisão permanente da relação nacional de medicamentos essenciais (RENAME), a assistência farmacêutica, a promoção do uso racional de medicamentos e a organização das atividades de vigilância sanitária de medicamentos. Uma lista de medicamentos essenciais é uma das prioridades para a obtenção de cobertura da população. Ela deve conter medicamentos de eficácia comprovada e riscos 22 aceitáveis, para atender às necessidades de prevenção e tratamento das doenças mais frequentes. Devem ser selecionados produtos farmacêuticos que tenham dados científicos obtidos por ensaios clínicos controlados, que satisfaçam as normas de qualidade, incluindo a biodisponibilidade, com informação objetiva, exata e completasobre os medicamentos de acordo com fontes imparciais. Atualmente, os cursos de Farmácia nas instituições de ensino superior (IES) brasileiras fornecem noções de farmacologia (farmacodinâmica e farmacocinética), farmacotécnica, boas práticas de fabricação de medicamentos e insumos farmacêuticos, que tornam os farmacêuticos aptos fornecedores de informações sobre medicamentos, o que pode ter grande utilidade na elaboração e revisão das relações de medicamentos essenciais. Assim, a participação destes profissionais na seleção, pode reduzir os gastos no setor, já que suas aptidões facilitam racionalizar a aquisição dos produtos, avaliando- se com critérios mais precisos a relação custo-benefício. O incentivo ao desenvolvimento de Centros de Informação de Medicamentos (CIM) é uma das ferramentas para a elaboração de uma lista de medicamentos essenciais mais efetiva. Os CIMs são centros constituídos por equipes de farmacêuticos que respondem a perguntas, revisam a utilização de medicamentos, produzem boletins, fornecem cursos com temas específicos da farmacoterapia, realizam atividades de pesquisa, fornecem informações toxicológicas e coordenam programas de farmacovigilância. 4.3- Assistência Farmacêutica A Política Nacional de Medicamentos (PNM), na assistência farmacêutica, prioriza garantir a aquisição e a distribuição de forma descentralizada pelos municípios e sob a coordenação dos estados, de medicamentos necessários à atenção básica à saúde de suas populações. Compreende-se por assistência farmacêutica o conjunto de ações e serviços com vistas a assegurar a assistência terapêutica integral, a promoção e a recuperação da saúde, nos estabelecimentos públicos e privados que desempenham atividades de pesquisa, manipulação, produção, conservação, distribuição, garantia e controle de 23 qualidade, vigilância sanitária e epidemiológica de medicamentos e produtos farmacêuticos. O farmacêutico ou atendente de farmácia é o último contato do paciente e/ou usuário de medicamentos com o serviço até o próximo retorno. A dispensação é o ato de fornecimento ao consumidor de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. O desempenho desta função é uma atribuição do farmacêutico, já que este profissional é formado teoricamente com aptidões de fornecer informação aos doentes sobre a utilização correta de medicamentos para o uso racional e aconselhamento aos doentes sobre o uso de medicamentos não prescritos de venda livre. Neste contexto, é essencial que a classe farmacêutica reflita sobre suas atribuições, suas aptidões, estabeleça consensos e tome decisões que possam trazer melhorias como a inclusão do farmacêutico nos serviços públicos. Medidas neste sentido, poderão trazer progressos na utilização de medicamentos, efetivando ações que tenham resultados concretos na qualidade de vida da população, garantindo integralidade da assistência farmacêutica. 4.4- Erros de prescrição Fonte:www.bastidoresderondonia.com.br 24 A farmácia hospitalar é uma unidade clínica e administrativa, na qual se processam as atividades relacionadas à assistência farmacêutica. Dirigida exclusivamente por farmacêutico, compõe a estrutura organizacional do hospital e está integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente. O ponto de partida para a utilização de medicamentos é a prescrição, que é um documento legal, pelo qual se responsabilizam quem prescreve, sendo no âmbito hospitalar o médico, quem distribui o medicamento e quem o administra ao paciente, estando sujeito a legislações de controle e vigilância sanitária. A prescrição é um importante elo de comunicação escrita entre os profissionais de saúde, vista como o início de uma série de eventos dentro do processo de medicação, que resultará em uma administração segura ou não, de uma dose ao paciente. Os requisitos e cuidados que devem ser adotados durante a elaboração da prescrição e a distribuição dos medicamentos estão descritos principalmente nas seguintes normas legais, Lei n° 5.991/73, Decreto n° 20.931/32 Resolução n°357 CFF e Resolução nº 492/08. O erro de medicação é qualquer evento evitável que, de fato ou potencialmente, possa levar ao uso inadequado de medicamentos quando se encontram sob o controle de profissionais de saúde, do paciente ou consumidor, podendo ou não provocar danos. Pode ocorrer em qualquer momento do processo de medicação, pois este apresenta várias etapas sequenciais, as quais são executadas por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, farmacêuticos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares. Alguns fatores podem levar a erros de medicação, tais como falta de atenção ao executar uma tarefa, deficiências na formação acadêmica, inexperiência, negligência, falhas na comunicação entre a equipe, excesso de trabalho, uso de fontes de informação incorretas e/ou desatualizadas, falta de conhecimento sobre os medicamentos e possíveis interações, entre outros. Além de afetar diretamente a saúde do paciente, estes erros provocam falta de credibilidade no sistema, desapontamento e desânimo nos profissionais, comprometendo a qualidade assistencial. Entre os erros de medicação encontra-se o erro de prescrição, o qual tem elevado potencial para resultar em consequências maléficas para os pacientes. Para evitar esses erros, é necessário que a prescrição seja apropriada, com doses adequadas em 25 intervalos definidos, durante o tempo indicado de tratamento e deve-se garantir que os medicamentos sejam eficazes, seguros e com qualidade. Prescrições ambíguas, ilegíveis ou incompletas, bem como com ausência de padronização da nomenclatura dos medicamentos prescritos, uso de abreviaturas e presença de rasuras, são fatores que podem contribuir para a ocorrência de erros. Para evitá-los são necessárias ações como capacitação dos profissionais, promoção de cursos, palestras, seminários e treinamentos; alertando sobre os erros mais frequentes e danos provocados aos pacientes. Quando ocorre um erro, a sua comunicação é extremamente importante para prevenir erros futuros, por isso, deve-se reconhecer a sua existência e a necessidade de ser relatado, elaborando mecanismos que facilitem e estimulem a notificação. Deve-se ter um sistema de medicação bem estruturado, promovendo condições que auxiliem na minimização e prevenção de erros, sendo necessárias regras, normas e ações que deem o auxílio necessário aos profissionais. Devido aos diversos erros potenciais relacionados com a prescrição médica, evidencia-se a importância do farmacêutico na análise prévia à distribuição dos medicamentos, minimizando possíveis danos aos pacientes. Portanto, por meio da intervenção farmacêutica, é possível reduzir eventos adversos, aumentar a qualidade assistencial, diminuir custos hospitalares e promover o uso racional de medicamentos. Outras estratégias são a implantação da prescrição eletrônica, treinamento dos prescritores, conscientizando-os e educando-os para a importância da prescrição correta e legível; e a atuação de farmacêuticos clínicos no âmbito hospitalar. A prevenção de erros tem sido reconhecida mundialmente como uma prioridade para os serviços de saúde, sendo de grande relevância durante a prescrição médica, pois os equívocos são bastante comuns. Torna-se ainda mais complexa a administração de medicamentos, em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e Unidades Semi Intensiva (USI), devido ao uso de medicamentos potencialmente perigosos (MPP) e ao fato de os pacientes estarem com certa instabilidade clínica. 26 4.5- Promoção do uso racional de medicamentos Fonte: www.iped.com.br Esta prioridade da Política Nacional de Medicamentos envolve as seguintes medidas: elaboração de campanhas educativas, estímulo ao registro e uso dos medicamentosgenéricos, elaboração de um formulário terapêutico nacional que oriente a utilização dos medicamentos, estudos de farmacologia e ações de farmacovigilância e adequação dos recursos humanos. A adequação dos medicamentos genéricos é um passo fundamental na racionalização do uso de medicamentos. Para a adoção e funcionamento efetivo de uma política de medicamentos genéricos, é relevante a participação ativa e consciente dos profissionais responsáveis pela sua prescrição e dispensação. Neste contexto, o farmacêutico deveria ser o principal conhecedor no que tange a dispensação de medicamentos, precisando estar atualizado e instruído para proceder a intercambialidade ou substituição de medicamentos de referência por genéricos com eficácia e credibilidade. Entretanto a atual realidade destes profissionais deixa a desejar. O uso racional ocorre quando o paciente recebe o medicamento apropriado à sua necessidade clínica, na dose e posologia corretas, por um período de tempo adequado e 27 ao menor custo para si e para a comunidade. Dessa forma, o uso racional de medicamentos inclui: Escolha terapêutica adequada (é necessário o uso de terapêutica medicamentosa); Indicação apropriada, ou seja, a razão para prescrever está baseada em evidências clínicas; Medicamento apropriado, considerando eficácia, segurança, conveniência para o paciente e custo; Dose, administração e duração do tratamento apropriados; Paciente apropriado, isto é, inexistência de contraindicação e mínima probabilidade de reações adversas; Dispensação correta, incluindo informação apropriada sobre os medicamentos prescritos; Adesão ao tratamento pelo paciente; Seguimento dos efeitos desejados e de possíveis eventos adversos consequentes do tratamento. O uso irracional de medicamentos é um importante problema de saúde pública em todo o mundo, com grandes consequências econômicas. Ainda segundo os mesmos autores, tem sido estimado que a prescrição incorreta possa acarretar gastos de 50 a 70% mais altos dos recursos governamentais destinados a medicamentos. Entretanto, quando utilizados apropriadamente, os medicamentos são os recursos terapêuticos mais frequentemente custo-efetivos. O URM envolve dois atores de forma fundamental: o prescritor e o paciente (individual ou coletivo). Estes atores interagem de forma dinâmica. O prescritor tem papel determinante na conduta do paciente, mas o paciente também, com suas expectativas, hábitos culturais entre outros. Poderá influenciar os hábitos prescritivos. A relação destes atores está permeada por uma série de questões que envolvem a capacidade de definição e implementação de uma política de medicamentos, as relações do mercado farmacêutico, particularmente no que se refere à propaganda médica, à organização da rede de serviços, em nível de educação da sociedade, a fatores culturais de um modo geral e a o arcabouço legal. Um outro ator também de grande 28 importância é o dispensador, pois muitas interferências positivas ou negativas estão ligadas à forma como a dispensação acontece. 4.6- Aspectos conceituais relacionados ao uso racional de medicamentos: • Arcabouço legal: regulatórias, normativas e gerenciais • Educação (conhecimento) dos profissionais e dos pacientes • Estratégias de intervenção • Farmacêutico e profissionais prescritores • Fatores culturais • Ferramentas de estudo e identificação de problemas •Mercado • Organização da rede de saúde • Políticas de medicamentos e assistência farmacêutica • Propaganda • Outros Algumas áreas, dentro do conhecimento farmacêutico, têm-se desenvolvido no sentido de procurar estudar essas relações e seus determinantes, em que podemos destacar as seguintes: os Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM), a Farmacovigilância e a Farmacoeconomia. Os resultados desses estudos irão orientar diversas estratégias de intervenção na busca do uso racional, que, neste texto, agrupamos em: estratégias para a promoção do URM dirigidas ao prescritor, promoção do URM dirigida à comunidade (menos frequente que a anterior) e informação de medicamentos. Procuramos representar o modelo teórico conceitual da inter-relação dos elementos do URM. Os esforços mais organizados para a promoção do uso racional tiveram início nos anos 70, com a introdução do conceito de medicamentos essenciais pela OMS, que tinha como intenção principal tanto a promoção do uso racional como a garantia do acesso. Apesar de atualmente cerca de 160 países contarem com listas de medicamentos essenciais, ainda é bastante grande a parcela da população mundial à margem de acesso universal aos medicamentos. Uma questão inicial na discussão do estabelecimento dos 29 diferentes tipos de intervenções para promoção ou avaliação do uso racional consiste na identificação dos possíveis problemas, para o que se apresentam a seguir algumas possibilidades de classificação: Principais problemas quanto ao uso de medicamentos; • Sobre uso de medicamentos: São particularmente os injetáveis, como consequência tanto da prescrição excessiva quanto do consumo exacerbado; • Polimedicação ou polifarmácia: OMS considera que, no nível da atenção básica de saúde (ABS), 1 ou 2 medicamentos por receita costumam ser suficientes; • Uso incorreto de medicamentos: Esta ‘categoria’ inclui o uso de um medicamento errado para uma condição específica (antibióticos ou antidiarreicos para a diarreia infantil), o uso de medicamentos de eficácia duvidosa (agentes antimotilidade para diarreia), emprego de fármacos de segurança questionável (dipirona) e uso de doses inapropriadas (caso frequente de antibióticos e TRO). 4.7- Exemplo de tipos de problemas na prescrição: • Um medicamento barato proporcionaria eficácia e segurança comparáveis a outro mais caro • O tratamento sintomático de condições leves desvia recursos de tratamento de enfermidades mais severas • Utiliza-se um medicamento de determinada marca quando existirem genéricos mais baratos • O medicamento não é necessário • A dose é exagerada • O período de tratamento é demasiadamente longo • A quantidade dispensada é exagerada em relação ao que será realmente utilizado • O medicamento está receitado para um diagnóstico incorreto • Seleciona-se um medicamento equivocado para determinada doença • A prescrição está redigida de forma inapropriada 30 • Não se fazem ajustes para fatores coexistentes (clínicos, genéticos, ambientais e outros) • Utilizam-se dois ou mais medicamentos quando um dos dois alcançaria virtualmente o mesmo efeito • Procura-se atacar várias condições relacionadas quando o tratamento da condição primária melhoraria ou resolveria as demais • Não são prescritos os medicamentos necessários • A dose é insuficiente • A duração do tratamento é demasiadamente curta Problemas de prescrição; • Prescrição extravagante • Sobre prescrição • Prescrição incorreta • Prescrição múltipla • Subprescrição 4.8- O uso inapropriado de medicamentos pode ter consequências como: Fonte:www.diariodebiologia.com 31 • Eventos adversos, incluindo os letais. Exemplo: uso indevido de antibióticos, auto prescrição ou uso inapropriado de automedicação; • Eficácia limitada. Exemplo: quando não se obtém o efeito esperado devido ao uso de dose subterapêutica; • Resistência a antibióticos. Exemplo: o sobre uso ou o uso em doses subterapêutica; • Farmacodependência. Exemplo: abuso de certos medicamentos, tais como os tranquilizantes; • Risco de infecção. Exemplo: uso inapropriado de injetáveis. Todos os componentes do ciclo da Assistência Farmacêutica podem e devem contribuir para a promoção do uso racional de medicamentos, o que tentaremos rapidamente exemplificar: • Seleção e formulário terapêutico: orienta as escolhasterapêuticas para medicamentos eficazes, seguros e custo-efetivos, bem como orienta quanto às abordagens terapêuticas mais adequadas, inclusive, destacando as situações onde a abordagem não-medicamentosa pode ser mais apropriada. No Brasil, foi elaborado o Formulário Terapêutico Nacional, baseado nos medicamentos contidos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – Rename e disponível na Biblioteca Virtual em Saúde. • Gerenciamento da Assistência farmacêutica: o bom gerenciamento da Assistência Farmacêutica deve ter como resultado a disponibilidade de medicamentos de qualidade, adquiridos com agilidade satisfatória, baixo preço, armazenados e distribuídos de forma a preservar suas características. • Dispensação e uso: garante o acesso a medicamentos adequadamente envasados e rotulados, o bom entendimento do uso do medicamento pelo paciente, bem como intervém junto ao prescritor ou demais membros da equipe de saúde para assegurar a correta prescrição. Trata-se de estratégias para o uso racional de medicamentos, pois este é o fundamento básico da Assistência Farmacêutica. Algumas áreas de estudo têm-se consolidado por acarretarem a mobilização de técnicas e conhecimento específicos. 32 Bem utilizadas, podem tornar-se ferramentas importantes para o diagnóstico da realidade, fornecendo subsídios técnicos e gerenciais para a tomada de decisão. Promoção da prescrição racional As estratégias para promover o uso racional de medicamentos distribuem-se segundo o público-alvo que queremos sensibilizar. O primeiro passo deve consistir em identificar as razões pelas quais as práticas inapropriadas estão ocorrendo para melhor eleger e direcionar a intervenção. As intervenções podem ser categorizadas da seguinte forma: 4.9- Estratégias educacionais As estratégias educacionais são aquelas centradas no provimento de informações, o que pode ser feito a partir da interação cotidiana, treinamentos, seminários e distribuição de material escrito. A preparação dos eventos e materiais pode e deve ser realizada pela equipe multiprofissional. As informações trocadas nas interações de rotina costumam focar aspectos relativos a questões mais particulares, relacionadas a um paciente ou prescrição específica. Na medida em que se identifiquem determinados problemas que tendem a se tornar repetitivos, estes poderão ser mais bem abordados através de estratégias mais sistêmicas. Até que o farmacêutico seja bem aceito e reconhecido pela equipe de saúde, o que é conseguido por meio de uma boa postura profissional e boa preparação técnica, as abordagens diretas tendem a gerar alguns conflitos, que devem ser conduzidos com uma postura firme, mas cuidadosa e, sobretudo, ética. Os profissionais de saúde podem ser motivados através da criação de materiais técnico científicos, como é o caso da preparação de formulário ou guia terapêutico, boletins, cartazes ou, simplesmente, aproveitando materiais produzidos pelo Ministério da Saúde ou sociedades/associações científicas/profissionais nacionais e internacionais. Também se beneficiam, através da organização de eventos científicos, cursos de educação continuada, grupos de discussão ou através da orientação concreta das comissões de farmácia e terapêutica, controle de infecção hospitalar ou do conselho municipal de saúde, sem esquecer dos centros de informação sobre 33 medicamentos e a mídia em geral. O farmacêutico deve atentar para a existência de momentos educacionais já implementados, como centros de estudo ou grupos de leitura e incorporar-se a eles. Os boletins podem apresentar-se como uma intervenção bastante factível no nível local, desde que tomados alguns cuidados. No que diz respeito à produção de boletins farmacoterapêuticos, a OMS recomenda que a informação seja: • Precisa; • Técnica e cientificamente consistente; • Específica para o problema da população-alvo; • Independente da indústria farmacêutica; • Apresentada de forma atrativa; • Distribuída eficiente e periodicamente aos leitores. Apesar de terem grande valor no processo de reeducação ou persuasão dos profissionais de saúde, os boletins são de pouco impacto se não estiverem associados com outras práticas educativas. 4.10- Estratégias gerenciais As estratégias gerenciais são aquelas que visam a orientar a decisão. Requerem esforços concentrados para sua manutenção, mas são capazes de produzir impacto considerável nos serviços, além de oferecerem poucas possibilidades de consequências não controladas. Inclui as listas de medicamentos essenciais (que limitam o elenco de produtos disponíveis àqueles considerados essenciais), a revisão de uso de medicamentos com a intervenção e o desenho de protocolos (com monitoramento da adesão aos protocolos). Para ser efetiva como medida racionalizadora, a relação de medicamentos essenciais deve ser o balizador das aquisições de medicamentos. Eventuais aquisições fora da lista de medicamentos padronizados, para atendimento de particularidades clínicas, como pacientes resistentes ou intolerantes aos produtos padronizados ou portadores de doenças raras, somente devem ser feitas mediante uma rotina preestabelecida, na qual haja definição clara dos profissionais capazes de autorizar esse tipo de aquisição com base em justificativas clínicas precisas. 34 A Revisão de Uso de Medicamentos (RUM) é uma abordagem dentro dos Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM) e constitui-se como uma ferramenta que permite a identificação de problemas no processo do uso do medicamento (prescrição, dispensação, administração e monitoramento). Para racionalização dos recursos disponíveis, pode-se dar prioridade aos medicamentos que serão objeto importante desse tipo de cuidado. Como principais resultados a serem obtidos, destacam-se: a melhoria da qualidade do cuidado, a contenção de seu custo e a identificação e controle de fraudes e abusos. Os estudos de RUM aplicam-se à utilização de medicamentos em pacientes ambulatoriais ou em regime de internação hospitalar. Para que seja efetiva e bem compreendida, minimizando conflitos desnecessários, a implantação de um programa de RUM deve ser realizada em uma estratégia bem conduzida, com a participação dos prescritores no processo de discussão da implantação, para que fique bem claro que se trata de uma proposta de cooperação multiprofissional em prol da melhoria da qualidade do cuidado, muito distante de uma ação policialesca sem objetivos institucionais. 4.11- Razões para a seleção dos medicamentos serem monitorizados: Fonte:www.ctbotelho.com.br 35 1. O medicamento é conhecido ou suspeito de causar reações adversas ou interagir com outros medicamentos, alimentos, ou procedimentos diagnósticos, de forma a representar um risco elevado à saúde. 2. O medicamento é utilizado no tratamento de pacientes que podem se encontrar em elevado risco de reações adversas 3. O medicamento é uma substância muito prescrita ou cara 4. O medicamento é potencialmente tóxico ou causa desconforto nas doses terapêuticas normais 5. O medicamento é mais efetivo quando usado de maneira específica 6. O medicamento está sendo submetido a uma avaliação para adição, retirada ou retenção nas listas de padronização 7. O medicamento foi selecionado, por meio de organizações de controle, para avaliação Várias das comissões multidisciplinares da saúde (farmácia e terapêutica, controle de infecção hospitalar, nutrição parenteral, óbitos etc.) Trabalham com temas que podem gerar várias possibilidades de interface com a questão dos medicamentos, gerando e/ou orientando diversas intervenções. É bastante comum que os prescritores não considerem o custo do tratamento como parâmetro de escolha dentre as opções terapêuticas. Assim, incluir essas informações nos boletinsou outros instrumentos informativos pode ser de grande utilidade. Os modelos padronizados de receituário, facilitando a explicitação de critérios de prescrição para determinados fármacos, também podem ser outra alternativa a utilizar. Como exemplo já em uso no Brasil, temos as requisições de receita para substâncias controladas pela Portaria 344/98, bem como o uso de formulários específicos para solicitação de antibióticos utilizados por vários hospitais. Na falta de uma denominação melhor em português, estamos chamando de ‘embalagens inteligentes’ aquelas em que a disposição e a quantidade de medicamentos fornecidos servem como orientação tanto para o prescritor como para o paciente quanto à melhor forma de uso dos medicamentos. Exemplos disso são as cartelas de contraceptivos orais e os blísteres (calendários utilizados na hanseníase). 36 Algumas unidades de saúde têm utilizado outras medidas administrativas com a intenção de promover a prescrição racional, como por exemplo, limitar a circulação dos representantes de empresas médicas, proibição de uso de amostras grátis de medicamentos não padronizados e outras. É interessante lembrar que a descontinuidade do abastecimento de medicamentos é outro aspecto administrativo que frequentemente pode acarretar o uso irracional, na medida em que, pela ausência das opções terapêuticas de primeira escolha, os prescritores tenderão a utilizar opções desnecessariamente mais caras e inadequadas. Estratégias regulatórias Incluem as medidas de cunho regulatório, como a definição de políticas com orientação ao uso racional, os atos com medidas regulatórias à prescrição, a retirada de produtos inidôneos do mercado, as restrições de comercialização e de distribuição. As principais medidas de promoção da prescrição racional estão sumarizadas. A execução de determinados projetos de investigação, utilizando a metodologia própria dos estudos de utilização de medicamentos, é outra arma importante. Quanto à criação de Centros de Farmacovigilância, é notória sua contribuição, principalmente, no que diz respeito ao saneamento do mercado farmacêutico e identificação de problemas pontuais. Este, entretanto, é um aspecto que ainda está em desenvolvimento no país. 4.12- Intervenções para a promoção do uso racional por parte dos profissionais de saúde: Treinamento de prescritores Educação formal (anterior à prática profissional) Educação continuada Visitas supervisionadas Grupos de leitura, seminários, centros de estudo Material impresso Literatura clínica e boletins Guias de tratamento e formulários de medicamentos Panfletos Abordagens baseadas no contato de rotina Estratégias gerenciais 37 Seleção, aquisição e distribuição Listas de aquisição limitadas ao elenco de medicamentos essenciais Estudo de revisão de medicamentos com intervenção 5. VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS Fonte:www.blogmarcosfrahm.com A vigilância sanitária de medicamentos é ainda um campo com escassez de profissionais farmacêuticos. Como atividade pertinente neste contexto, aplica-se a revisão dos procedimentos de registro de medicamentos de marca e similares. O farmacêutico, sendo o profissional do medicamento, deve estar apto e atualizado para realizar atribuições tais como informar sobre produtos registrados, sua composição, indicações principais e formas de comercialização, conhecer os produtos retirados do mercado , trabalhar no controle da venda de psicotrópicos e entorpecentes, no controle da propaganda de medicamentos de venda livre e participar da regulamentação e controle de propaganda realizada pelos fabricantes de medicamentos junto aos prescritores. 38 Medicamentos são produtos especiais elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico para atender às especificações determinadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Os medicamentos seguem a normas rígidas para poderem ser utilizados, desde a sua pesquisa e desenvolvimento, até a sua produção e comercialização. A Anvisa é responsável pelo registro de medicamentos, pela autorização de funcionamento dos laboratórios farmacêuticos e demais empresas da cadeia farmacêutica, e pela regulação de ensaios clínicos e de preços. Divide com os estados e municípios a responsabilidade pela inspeção de fabricantes e pelo controle de qualidade dos medicamentos, realizando a vigilância pós-comercialização, as ações de farmacovigilância e a regulação da promoção de medicamentos. A Política Nacional de Medicamentos, aprovada pela Portaria do Ministério da Saúde em 1998, estabelece oito diretrizes para garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, além da promoção do seu uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais. Entre essas diretrizes, destacamos a regulamentação sanitária de medicamentos, que deve enfatizar os aspectos relativos ao registro de medicamentos e autorização de funcionamento de empresas, bem como as restrições daqueles sujeitos a O comércio e a distribuição de medicamentos no Brasil é um dos problemas mais sérios que afetam as farmácias e contra os quais a classe farmacêutica vem protestando ao longo dos tempos. A propaganda de produtos é um fator que potencializa as deficiências no setor da assistência farmacêutica em serviços públicos e privados. O medicamento é o produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com a finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins diagnósticos. O registro de medicamento é um instrumento por meio do qual o ministério da Saúde, no uso de sua atribuição específica, determina a inscrição prévia no órgão ou na entidade competente (no caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária [ANVISA]) pela avaliação do cumprimento de caráter jurídico-administrativo e técnico-científico para sua introdução no mercado, comercialização e uso. Essa inscrição acontece com a publicação do registro no Diário Oficial da União (DOU), com a sequência numérica de 13 dígitos, sendo o 39 primeiro sempre um e definindo o tipo do produto (no caso, medicamento), do segundo ao quinto relacionado com o número de autorização de funcionamento da empresa, do sexto ao nono referindo-se ao registro do produto, do décimo ao décimo segundo indicando o número de apresentações e o último sendo o verificador, gerado pelo sistema. Uma vez concedido o número de registro, a empresa detentora do produto farmacêutico deverá renová-lo a cada cinco anos, sendo necessário protocolar o pedido pelo menos seis meses antes do prazo de validade do registro, ou seja, após quatro anos e meio da sua publicação no DOU. O marketing de medicamentos muitas vezes encobre calamidades tais como o excesso de representantes com escassez de conhecimentos, suborno, e falsos ensaios clínicos. Torna-se incontestável que o farmacêutico, como profissional do medicamento, tem o dever de se manifestar, participando das ações de vigilância sanitária de medicamentos para favorecer o uso seguro e racional de medicamentos com custos acessíveis para toda a população. A Política Nacional de Medicamentos é abrangente, que, se colocada em prática, poderá trazer ao setor de saúde, no Brasil, melhorias exponenciais na qualidade de vida da população. As prioridades estipuladas por esta política são a revisão permanente da relação nacional de medicamentos essenciais (Rename), a assistência farmacêutica, a promoção do uso racional de medicamentos e a organização das atividade de vigilância sanitária de medicamentos. O farmacêutico é um profissional apto com atribuições favorecedoras à consolidação de tais prioridades. Entretanto é necessária ainda muita reflexão por esta classe profissional sobre os seus direitos e deveresperante a sociedade na luta coletiva pelo uso seguro e racional de medicamentos por todos. O médico prescreve ao paciente um medicamento, ele vai até a farmácia com a receita e o farmacêutico então lhe indaga: “Você prefere o genérico, o similar ou o de marca?”. A pessoa então pergunta o preço, se os produtos são diferentes ou não e, no fim, ainda sai com dúvida. Afinal, existe alguma diferença entre os tipos de medicamentos? 40 Embora eles sejam semelhantes, preparamos um guia rápido para ajudá-lo a sanar suas dúvidas. Confira: Medicamentos de referência ou de marca: quando uma farmacêutica descobre um medicamento novo, ela tem de registrá-lo no órgão federal responsável pela vigilância sanitária do país (no caso do Brasil, a Anvisa). É preciso comprovar cientificamente a eficácia, segurança e qualidade do produto na ocasião do registro. Para isso, são necessários estudos, pesquisas e testes, o que gera custos altos que serão revertidos no preço do produto. Um medicamento de referência, normalmente, leva mais de um ano para ser aprovado pela Agência. Os remédios de marca em geral estão no mercado há um bom tempo, são bastante conhecidos pelo seu nome comercial e normalmente estão entre os primeiros que surgiram para curar determinada doença. Na embalagem sempre há o nome inventado pela farmacêutica (nome fantasia do produto), o do princípio ativo e o da empresa que criou a fórmula. Quando o período da patente expira – esse prazo varia de acordo com as leis de cada país, mas no Brasil o tempo de comercialização sem concorrentes é de 20 anos -, outros laboratórios são autorizados a produzir o mesmo medicamento. Medicamentos similares: são uma cópia do medicamento de referência, com o mesmo princípio ativo, a mesma concentração, via de administração, posologia e indicação terapêutica, além de precisarem passar obrigatoriamente pelos mesmos testes de bioequivalência e biodisponibilidade. Por exemplo, se o medicamento de referência começa a fazer efeito depois de 1 hora, os similares devem seguir o mesmo padrão. Segundo a Anvisa, eles só podem ser diferentes em características relativas ao tamanho, prazo de validade, embalagem e rotulagem. Na prática, o que muda mesmo é o nome comercial do medicamento. Medicamentos genéricos: os genéricos são uma cópia idêntica dos medicamentos de marca, pois têm a mesma composição química. Portanto, é possível tomar o remédio genérico no lugar do de marca e vice-versa, com toda segurança. A lei dos genéricos no Brasil foi implantada em 1999 com o objetivo de ampliar o acesso da população aos medicamentos, principalmente os pacientes de doenças crônicas, como diabetes. Para ser identificados, precisam conter na embalagem uma 41 tarja amarela e logo abaixo do nome do princípio ativo, a frase “Medicamento genérico – Lei 9.787/99”. Muitos consumidores têm receio quanto à qualidade do produto, já que seu preço é inferior. No entanto, esse temor não procede, pois desde o início da implantação da política dos genéricos no país, esses medicamentos passam por testes de comprovação de qualidade. Em tese, eles são mais baratos porque em seu preço não estão embutidos gastos com propagandas, nem custos de pesquisa para o desenvolvimento do produto novo. Por lei, os genéricos devem ser no mínimo 35% mais baratos. Por exemplo, se determinado medicamento de referência custa R$ 20,00, o genérico deve custar até R$ 13,00. Como são os laboratórios que estimam o preço, nada impede que ele seja ainda mais barato. 6. INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA Fonte:www.crfms.org.br 42 Atenção Farmacêutica surge no cenário brasileiro e internacional como um novo exercício profissional onde o farmacêutico assume a responsabilidade de garantir que o paciente, que recebe um medicamento, possa cumprir os esquemas farmacoterapêuticos e seguir o plano de assistência, de forma a alcançar resultados positivos. Ao farmacêutico moderno é indispensável conhecimentos, atitudes e destrezas que permitam ao mesmo integrar-se à equipe de saúde e interagir mais com o paciente e a comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida no que se refere à otimização da farmacoterapia e o uso racional de medicamentos. As ações do farmacêutico, no modelo de atenção farmacêutica, em sua grande maioria, são atos clínicos individuais. As sistematizações das intervenções farmacêuticas e a troca de informações dentro de um sistema de informação composto por outros profissionais de saúde pode contribuir para um impacto em nível coletivo e na promoção do uso seguro e racional de medicamentos. No início do século XX, o farmacêutico era o profissional de referência para a sociedade nos aspectos relacionados ao medicamento, atuando na guarda, na dispensação e na manipulação de, praticamente, todos os fármacos disponíveis na época. Com a expansão da indústria farmacêutica, o abandono da prática de formulação pela classe médica e a diversificação do campo de atuação fizeram com que a prática farmacêutica consistisse apenas na distribuição de medicamentos industrializados, levando o profissional a se distanciar da área. A preocupação com a qualidade, a eficácia e a segurança dos medicamentos produzidos em larga escala fez com que o farmacêutico hospitalar fosse solicitado a prestar informações sobre as características que os novos medicamentos podiam ter sobre o perfil clínico dos pacientes. Nos anos 60, surge nos Estados Unidos, a farmácia clínica com o objetivo de promover a saúde, prevenir e monitorar eventos adversos, intervir e contribuir na prescrição de medicamentos para a obtenção de resultados clínicos positivos, otimizar a qualidade de vida dos pacientes e minimizar os custos relacionados à terapia. 43 Dessa forma o farmacêutico passa a integrar a equipe de saúde e a atuar de forma mais efetiva na assistência prestada ao paciente, usando seus conhecimentos para melhorar o cuidado. Torna-se fundamental para a terapêutica clínica à medida que ocorre a prevenção dos erros de medicamentos, a promoção do uso correto e racional, a diminuição do custo da terapia e o tempo de internação do paciente. Atualmente, é quase impossível pensar em prática médica ou a relação médico- paciente sem a presença de medicamentos. O seu uso indevido é um problema de saúde pública e gera grandes consequências econômicas, todavia quando utilizados apropriadamente são o recurso terapêutico mais eficaz. O farmacêutico realiza a monitorização terapêutica analisando a posologia, a interação do medicamento com outros fármacos, com alimento ou com alguma patologia, a via de administração, a indicação terapêutica e os efeitos adversos. Essa avaliação poderá resultar em uma intervenção farmacêutica. O farmacêutico é o profissional do medicamento e deve estar inserido na equipe multiprofissional para o combate ao uso irracional de medicamentos e na diminuição de erros e eventos adversos, sempre contribuindo na melhoria da farmacoterapia e na promoção da qualidade de vida dos pacientes. A intervenção farmacêutica é capaz de melhorar o cuidado ao paciente e quando documentada permite a avaliação da qualidade por meio de indicadores, os quais podem ser utilizados para demonstrar a contribuição do farmacêutico na assistência, reforçar aos profissionais a importância desse cuidado e comparar os dados com outras instituições, visando melhorias de processos. Para realizar a farmácia clínica com qualidade é importante que os processos estejam sistematizados e padronizados de modo que se possa definir e ampliar esse instrumento de trabalho em todos os campos de atuação e até mesmo em outras instituições hospitalares. Um dos desafios da categoria farmacêutica é modificar as condutas, incorporando na prática profissional um modelo que propicie ao farmacêutico assumir a responsabilidade com a farmacoterapia.Para tanto a relação contínua entre paciente e farmacêutico é fundamental para que os serviços de intervenção farmacêutica sejam 44 realizados de maneira ética e legal, fornecendo resultados permanentes assegurando a efetividade da terapia estabelecida. Deste modo cabe aos profissionais farmacêuticos buscarem seus lugares frente às equipes de saúde, criando assim laços que sustente a sua prática profissional, indo ao encontro dos objetivos estabelecidos para a intervenção farmacêutica e procurando identificar e servir as necessidades reais do cidadão. 45 7. BIBLIOGRAFIA ABURUZ SM, Bulatova NR, Yousef AMM, Al-Ghazawi MA, Alawwa IA, Al-Saleh A. Comprehensive assessmentof treatment related problems in hospitalized medicine patients in Jordan. Int J of Clin Pharm. 33(3): 501 - 511, 2011. AMERICAN ASSOCIATION OF HOSPITAL PHARMACISTS (ASHP). The hospital pharmacist and drug information services. American Journal of Hospital Pharmacy, 25: 381-382, 1968. AMERSON, A. B. Introduction to the concept of drug information. In: MALONE, P. M. et al. (Eds.) Drug Information: a guide for pharmacists. Stanford: Appleton & Lange, 1996. ARRAIS, P.S.D.; COELHO, H.L.L.; BATISTA, M.C.D.S.; CARVALHO, M.L.; RIGHI, E.; ARNAU, J.M. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. de Saúde Pública, São Paulo, v.31, n.1, p.71-77. 1997. AULER JÚNIOR, J.O.C.; CIPRIANO, S.L.; CUNHA, G.W.B.Guia Farmacoterapêutico 2008-2010 HC. 4ªED. São Paulo: Artes Médicas, 2008. 532p. BISSON, M.P. Farmácia Clínica & Atenção Farmacêutica. 1ªEd. São Paulo: Medfarma, 2003. 374 p. BONFIM, R.A.B. Os dédalos da política de medicamentos. In:BONFIM, R.A.B.; MERCUCCI, V.L. (Org). A construção da política de medicamentos. p. 21-37, São Paulo: Hucitec. 381 p. BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução 585 de 29 de agosto de 2013. Disponível em: http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/585. BRASIL. Política Nacional de Medicamentos 2001/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de atenção básica – Brasília. Ministério da Saúde, 2001. 46 Centro Brasileiro de Informações sobre Medicamentos (CEBRIM). In: BONFIM, R.A.B.; MERCUCCI, V.L. (Org). A construção da política de medicamentos. p.158-163. São Paulo: Hucitec. 1997. 381 p. FERNANDES, Z.C. Hora da reação. Pharmacia Brasileira. Nº39, p.4-9. Set/out 2003.LEXCHIN, J. Uma fraude planejada: a publicidade farmacêutica no terceiro mundo. FERRACINI FT.Intervenção Farmacêutica. In Prática Farmacêutica no Ambiente Hospitalar – Do planejamento à realização. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2010. cap. 15, p. 185 – 191. FRENK J, Chen L, Bhutta ZA, et al. Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. The Lancet, 2010, 376(9756):1923–1958. KOPP BJ, Mrsan M, Rested BL, Duby JJ. Cost implications of and potential adverse events prevented by interventions of a critical care pharmacist. Am J Health Syst Pharm. 2007; 64(23):2483-7. KUHNER D & MARQUES A. Os erros com medicamentos e o compromisso dos serviços de saúde. Prática Hospitalar. 32 (4), 2004. OPAS. Organización Panamericana de la Salud. Servicios farmacéuticos basados en la atención primaria de salud. Documento de posición de la OPAS/OMS. Washington, DC: OPS, 2013. ROZENFELD, S. O uso de medicamentos no Brasil. In: LAPORTE, J.R.; TOGNONI, G.; ROZENFELD, S. Epidemiologia do medicamento. Princípios gerais. P. 21-41, São Paulo: Hucitec. 1989. 264 p. SANTANA, A.D.; LYRA Jr., D.P.; NEVES, S.J.F. Qualidade da informação farmacêutica na dispensação dos medicamentos genéricos. Infarma. V. 15, nº 9-10, Brasília: Esdeva, set/out2003. 47 SANTOS, J.S. Genéricos: uma questão de humanidade. Pharmacia Brasileira. nº 8, p.5-8. jan/fev/mar 1998. SAOKAEW S, Maphanta S, Thangsomboon P. Impact of pharmacist ́s interventions on cost of drug therapy in intensive care unit. Pharm Pract. 2009; 7(2):81-7. SATURNINO LTM. Farmacêutico: um profissional em busca de sua identidade. Rev. Bras. Farm. 2012. SOUZA JMC, Thomson JC, Catisti DG. Avaliação de prescrições medicamentosas de um hospital universitário brasileiro. Revista brasileira de educação médica, 2008, 32(2):188-196. STORPITIS, S. Et al. Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 489p. STROM,B.L.What is pharmacoepidemiology? In: STROM, B.L.(Org). harmacoepidemiology. P. 3-15. 3. Ed. England:British Library. 2000. 871 p.VIDOTTI, C.C.F. ZUBIOLI, A. O controle no exercício da farmácia. In: Profissão: farmacêutico. E agora? p. 63-76. Curitiba:Lovise. 1992. 165 p.
Compartilhar