Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE ENGENHARIA - UFGD ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GERENCIAMENTO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO Alan Ribeiro Agatha Caroline Ana Carolina Jasansky CURTUMES & CIA Curtimento de couros Dourados – MS Novembro/2018 Alan Ribeiro Agatha Caroline Ana Carolina Jasansky CURTUMES & CIA Curtimento de couros Dourados – MS Novembro/2018 Trabalho apresentado á prof.ª Mariana Menegazzo como nota parcial na disciplina de Gerenciamento Ambiental da Produção do 8º semestre do curso de Engenharia de Produção. CURTUMES & CIA 1. EMPRESA 1.1. Processo Estudado Curtume é o seguimento fabril especializado em transformar e comercializar a pele animal em couro comercial através do processo de curtimento. A industria Curtumes & Cia é responsável por produzir e comercializar o couro no processo Wet Blue, ou seja, o couro ainda se encontra em seu estagio inicial, passando somente pelo curtimento no cromo e não recebeu outros tipos de processos que adicionam cor e textura ao mesmo. 1.2. Localização da indústria O transporte do couro é um fator de extrema relevância, pois além do couro cru ter um prazo muito curto de validade, não são aplicados nenhum tipo de conservantes para não atrapalharem a penetração de produtos químicos durante o processo de curtimento do mesmo. Deste modo, o couro deve ser transportado no menor tempo possível, caso contrario, terá que ser disponibilizado um transporte refrigerado, aumentando o seu custo. A instalação da indústria no estado de Mato Grosso do Sul seria promissor á a redução do custo de transportes e disponibilidade de matéria prima. O estado é detentor do segundo maior rebanho bovino e possui o segundo maior frigorifico do mundo, instalado na capital sul-mato-grossense. Através dessas vertentes analisadas, a localização do Curtumes & Cia será na cidade de Campo Grande/MS. IMAGEM 1 – Mapa de Mato Grosso do Sul com destaque em Campo Grande Fonte: Wikipédia 1.3. Estratégia de produção Como estratégia de produção, a empresa busca sempre aumentar sua qualidade e diminuindo custos através do planejamento e controle da produção, aplicando praticas que envolvem eliminação de perdas e redução de desperdícios dentro do processo, deste modo, se inserindo no mercado de maneira competitiva com demais concorrentes do setor. Com o objetivo de instituir uma cultura organizacional que motive os colaboradores a sempre melhorarem a qualidade dos produtos e o aumento da produtividade, a empresa apresenta missão, visão e valores aos quais estão ligados a cultura almejada na indústria. 1.3.1. Missão “Sermos reconhecidos em âmbito nacional por aquilo que nos propusemos a fazer, ofertando produtos de qualidade aos consumidores, solidez aos fornecedores e melhorias na qualidade de vida de nossos colaboradores” 1.3.2. Visão “O Curtumes & Cia visa promover o desenvolvimento de produtos através da produção sustentável, diminuindo os impactos ambientais causados pela atividade e promovendo a utilização correta e proveitosa de todos os recursos disponíveis, se tornando referencia nacional da área.” 1.3.3. Valores Atitude de dono Determinação Disciplina Disponibilidade Simplicidade Franqueza Humildade 1.4. Sistema de produção As instalações fabris de um curtume, são dadas somente pra essa finalidade, por possuírem maquinas altamente especializadas neste processo e não servido á outros tipos de atividades sem serem estas. Com isso, para a rentabilidade da indústria e para que seja absolvido o grande custo envolvido da instalação do mesmo, a sua produção deve ser feita em larga escala e de forma padronizada. Tais características são provenientes do processamento em massa, de modo que sua produção baseia-se em apenas um produto e há uma linha de produção, porem sua produção apresenta uma espera durante dois processos: o curtimento do couro na cal (caleiro) e o curtimento em cromo (fulão), assim como esquematizada no fluxograma de processos no tópico a seguir. 1.5. Fluxograma de processos Através do fluxograma de processos é possível obter uma analise global da atividade analisada, possibilitando a visualização de problemas e eventuais melhorias. IMAGEM 2 – Fluxograma de Processos Desta maneira, o fluxograma auxilia na obtenção de problemas ambientais que ocorrem em todos os processos da atividade, demonstrando de modo geral como abrangem a organização como um todo. 2. Legislação Ambiental – Licenciamento Federal, Estadual e Municipal No Brasil não existe uma legislação especifica os aspectos ambientais relativos a indústria do couro, apesar de ser uma atividade industrial altamente poluidora (GANEM, 2007). A lei n.º 11.211, de 19 de dezembro de 2005, pauta alguns aspectos sobre a indústria do couro, definindo condições exigíveis para a identificação do couro e das matérias-primas sucedâneas, utilizados na confecção de calçados e artefatos. A referida lei tem por objetivo valorizar a matéria-prima couro e proteger o consumidor quanto à autenticidade do produto, definindo o couro como um “produto oriundo exclusivamente de pele animal por qualquer processo, constituído essencialmente de derme” (art. 7º, I) e obriga os fabricantes ou importadoras de calçados, artefatos e outros a identificar, por meio de símbolos, os materiais empregados na fabricação dos respectivos produtos, quando destinados a consumo no mercado brasileiro (art. 2º). Apesar de não existir uma legislação especifica para aspectos ambientais para indústria de curtume, as legislações abaixo aplicam-se perfeitamente para o setor: a) Lei n.º 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente e institui o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto ambiental como instrumentos dessa política. b) Decreto 99.274/1990, que regulamenta a Lei 6.938/1981. c) Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n.º 001/ 1986, que trata do estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA). d) Resolução CONAMA n.º 237/1997, que distribui as competências, em matéria de licenciamento, entre o Ibama, os Estados e os Municípios; e) Resolução CONAMA n.º 357/2005, que “dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências”. A implantação de uma indústria de curtume depende da aprovação do projeto de impacto ambiental pelas Secretárias do Meio Ambiente dos Estados. Segue abaixo algumas etapas: I. Registro da empresa nos seguintes órgãos: a) Junta comercial; b) Secretária Estadual de Fazenda; c) Prefeitura do Município para obter o alvará de funcionamento; d) Enquadramento na Entidade Sindical Patronal (empresa ficará obrigada a recolher por ocasião da constituição e até o dia 31 de janeiro de cada ano, a Contribuição Sindical Patronal e) INSS/FGTS; f) Corpo de Bombeiros Militar. II. Visita a prefeitura da cidade onde pretende montar a sua indústria para fazer a consulta de local e emissão das certidões de Uso do Solo e Número Oficial, Alvará de Localização e Licenciamento ambiental (Licença Prévia, de Instalação e Operação). Em geral, os sistemas estaduaisde licenciamento disciplinam a localização, instalação, operação e ampliação de atividades e serviços que constituem fontes de poluição ou degradação do meio ambiente. Por serem considerados como potenciais fontes poluidoras de água, solo e do ar, as indústrias curtumes estão sujeitos a fiscalização do Ministério da Agricultura, Secretaria da Agricultura Estadual, Vigilância Sanitária, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e IBAMA. A Resolução CONAMA n.º 237/97, de dezembro de 1997, delega a competência dos estados em emitir as licenças ambientais bem como normas peculiares aplicáveis em cada região. No estado de Mato Grosso do Sul o órgão responsável pelas licenças é o IMASUL (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), e em Campo Grande o SILAM (Sistema Municipal de Licenciamento e Controle Ambiental) é responsável por atuar no controle ambiental, especialmente quanto à implantação e o funcionamento de empreendimentos e atividades potencialmente causadoras de impacto ambiental. Para obter o licenciamento adequado, a Curtumes&Cia deverá apresentar como requisito de caráter obrigatório devido sua classificação de categorias de atividades ao IMASUL como subsídio à tomada de decisão sobre o pedido de licenciamento ambiental os seguintes documentos: 1. Estudo Ambiental Preliminar (EAP) e; 2. Estudo de Impacto Ambietal (EIA); 3. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) Tais estudos devem conter minimamente a caracterização e dimensionamento da atividade a ser licenciada, a caracterização da área pretendida para a implantação ou desenvolvimento da atividade, incluindo as áreas de influência, a identificação dos seus impactos ambientais efetivos e potenciais, assim como das medidas destinadas a mitigar seus impactos negativos. As licenças são definidas pelo IMASUL conforme abaixo: “- Licença Prévia: licença concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua concepção e localização, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e as condicionantes a ser atendidas como exigência para as próximas fases do licenciamento; - Licença de Instalação: licença que autoriza a instalação de empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes dos quais constituem motivos determinantes; - Licença de Operação: licença que autoriza a operação de atividades após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com adoção das medidas de controle ambiental e condicionantes determinadas para a sua operação. ” (MATO GROSSO DO SUL, 2015) Existem também Normas Técnicas relacionadas ao tratamento de peles: - Código: NB01132/NBR 104554. Data de publicação: 1998. Título: Preparo de peles bovinas – condições exigíveis referentes à preparação das peles bovinas imediatamente após o abate e a sangria. - Código: NBR 13572. Data de publicação: 1996. Título: Água residuária e banho residual resultantes de curtume – Determinação de sólidos totais – Prescreve método de determinação dos sólidos suspensos totais em águas residuárias e banhos residuais resultantes de curtume. 3. Tipos de poluição 3.1. Poluição Hídrica A água é o insumo mais importante para indústria do couro, pois a mesma é utilizada em quase todas as etapas dos processos. Ela é utilizada como solvente nos banhos de tratamento e nas lavagens das peles, onde saem acrescidas de resíduos orgânicos e de produtos químicos. Após as lavagens, existe uma grande quantidade de cloreto de sódio e de outros minerais solúveis. Quando essa água não é tratada corretamente, é lançada nos solos aumentando a pressão osmótica do terreno e interferindo no desenvolvimento de plantas, e quando lançada nos rios, impede o crescimento de peixes. Outra etapa que traz muitos resíduos para a água é a caleiro e da depilação, trazendo malefícios ás instalações de esgotos e aos cursos d’água, uma vez que os sulfetos se transformam em ácido sulfúrico e corrói os encanamentos, remove o oxigênio e produz gás sulfúrico. Os couros que são curtidos ao cromo também devem ter um tratamento específico, pois é lançado em conjunto com os resíduos líquidos. 3.2. Poluição sólida Um dos maiores problemas na indústria do couro é cromo, que pode estar tanto nos resíduos líquidos como nos sólidos. Quando enquadrado no resíduo sólido, o cromo encontra-se no lodo industrial, que é o resultado do tratamento de efluentes industriais. Esse composto, por conter uma alta concentração de cromo VI, deve ser acondicionado em tambores e contêineres herméticos, posteriormente encaminhados a incineradores ou para os aterros industriais, onde são armazenados indefinidamente. 3.3. Poluição atmosférica Os curtumes utilizam a energia elétrica e a térmica para seu funcionamento. A energia elétrica é empregada na ativação de máquinas, motores, entre outras demandas gerais. A energia térmica, proveniente da queima da lenha, é usada no aquecimento da água que será utilizada nos banhos descritos nas operações de ribeira, no curtimento, na neutralização, no amaciamento e no recurtimento, onde a pele ou o couro são inseridos no fulão e este é aquecido conforme a operação desempenhada. A água quente também se faz necessária no processo de secagem do couro e em alguns processos de tratamento de efluentes. Na etapa de energia térmica utiliza-se a lenha, que compromete a qualidade do ar, uma vez que promove a emissão de dióxido de carbono. 4. Aspectos e impactos ambientais da indústria Para que se entenda o processo e se proponha melhorias, é de extrema importância e necessidade de se conhecer os aspectos e impactos ambientais causados pela indústria do couro. Os aspectos analisados foram: a) Consumo elevado de agua; b) Consumo de energia elétrica; c) Consumo de produtos químicos em grande escala; d) Geração de resíduos em grande quantidade. Os impactos ambientais que o exercício da atividade causa, são: a) Odor – incomodo ao bem-estar público; b) Prejuízo à qualidade dos corpos d’agua; c) eventual contaminação do solo e de aguas subterrâneas; d) aumento da DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio) comprometendo a biodiversidade local; e) envenenamento de peixes pela matéria orgânica e produtos químicos; f) atração de vetores que causam doenças, como ratos e insetos. Para melhor compreensão, observa-se o balanço de massa básico do curtume. Neste caso temos uma entrada 1t de couro, produtos químicos 500kg, de 15 a 40m³ de água, energia de 2500 a 11700 kwh, na saída temos couro acabado 200 – 250kg, efluentes 15-40m³, resíduos sólidos 450-750kg, poluentes atmosféricos 40kg (solventes e orgânicos). Imagem 3. Fluxos básico de um curtume Como podemos observar a indústria de curtumes tem um alto consumo de água o que acaba contribuindo para o desequilíbrio hídrico em alguns casos, assim como o descarte dessa água após o uso, se descarta em condições insatisfatória pode aumentar a poluição hídrica. Com isso é necessário seguir uma legislação ambiental, além de outras alternativas para evitar tal feito. Tabela 1. Aspectos e impactos ambientais Etapa Básica do Processo Poluição Aspecto Ambiental- Emissão Impacto Ambiental- Potencial Entrada Couro 1t Produtos químicos 500kg Água 15-40m³ Energia2500- 11700kwh Saída Couro acabado 200- 250kg Efluente líquido 15- 40m³ Resíduos sólidos 450- 750kg Poluentes atmosféricos 40kg Conservação e Armazename nto de Peles 1- Ar 2- Hídrica 3- Solo/R esíduo s Sólidos 1- NH3 e COVg 2- Eventuais líquidos eliminados pelas peles 3- Alguns pedaços de peles e sal com matéria orgânica 1- Odor incômodo ao bem- estar público 2- Prejuízo à qualidade dos corpos d’agua 3- eventual contaminaç ão do solo e das águas subterrânea s Ribeira 1- Ar 2- Hídrica 3- Solo/R esíduo s Sólidos 1- H2S, NH3 e COVg 2- Banhos residuais de tratamento de peles e água de lavagens intermediarias, carga orgânica e produtos químicos (sulfeto, sais e outros) 3- Carcaça, pelos, aparas recortes e raspas de peles, sem e com produtos químicos) 1- Odor incômodo ao bem- estar público 2- Prejuízo à qualidade dos corpos d’agua 3- Eventual contaminaç ão do solo e de águas subterrânea s Curtimento 1- Hídrica 1- Banho residual de curtimento das peles, cargas orgânica e produtos químicos (cromo, tanino, sais diversos) 1- Prejuízo à qualidade dos corpos d’agua Acabamento 1- Ar 2- Hídrica 3- Solo/R esíduo s Sólidos 1- COVg –dos solventes dos produtos aplicados 2- Banhos residuais de tratamento dos couros, carga orgânica e produtos químicos (cromo, taninos, corantes, óleos e outros) 3- Pó farelo serragem de reparadeira, recortes de couros curtidos , semiacabados, pó de lixa, resíduos de produtos acabados (tintas, resinas e outros) 1- Odor e incômodo ao bem- estar público 2- Prejuízo à qualidade dos corpos d’agua 3- Eventual contaminaç ão do solo e das águas subterrânea s 5. Política ambiental da indústria A Curtumes & Cia, indústria especializada em processamento de couros, por consciência e respeito ao meio ambiente, assume o compromisso de desenvolver suas atividades dentro da legislação ambiental vigente, respeitando leis federais, estaduais e municipais e implementando normas internas com o objetivo de reduzir os impactos negativos oriundos dos processos de curtimento do couro, além de buscar melhorias continuas dentro do sistema de gestão ambiental. 6. Política Ambiental De acordo com legislação ambiental, a Curtumes & Cia, exige que seus funcionários passem por palestras de indicadores ambientais. Para que ocorra uma nova carona, onde os funcionários possam ir para identificar fontes de degradação ambiental e os impactos que provocam, bem como quantificar os custos associados à sua redução; melhorar a regulamentação pública e as estratégias privadas com base no conhecimento sobre o ambiente. 7. Objetivos e metas ambientais a) Com base na política ambiental, foram elaborados objetivos e metas a serem seguidas pela empresa. b) Monitorar as atividades e os impactos causados por elas, visando reduzi-las e/ou neutraliza-las. c) Buscar melhorias continuas dentro do sistema de gestão ambiental d) Trabalhar com fornecedores que estejam comprometidos com a causa ambiental e respeitem as leis e normas ambientais vigentes para seu ramo de atuação empresarial e) Implementar políticas de redução de consumo de agua e tratamentos de efluentes. f) 8. Práticas de P+L para o setor Através do conceito de produção mais limpa onde a junção de estratégia econômica, tecnológica e ambiental nos ajuda a desenvolver a indústria, aumentar a eficiência do processo com o uso de água, energia e matérias primas. Afim de minimizar ou até mesmo não gerar resíduos no processamento do curtume. É fundamental que o P+L esteja diretamente ligada com toda a empresa desde o processo, e chão de fábrica a diretoria. E necessário que esteja dentro do plano empresarial, pois uma produção mais limpa pode se uma ótima estratégia para uma melhor produção e por sequencia um maior lucro. 9. Práticas de responsabilidade social Quando falamos de práticas sociais lembramos de sustentabilidade e desenvolvimento, onde a população está cada vez mais cooperando com um melhor ambiente social e ambiental. A Curtumes & Cia, procura desenvolver atividades com a população através de palestras e incentivos como um melhor emprego um novo posto de trabalho, para uma comunicação com a população, e assim garantir a contribuição da população para prevenir a poluição e degradação ambiental aumentando a qualidade do meio ambiente. 10. Sistemas de Tratamento de águas e efluentes, consumo de energia resíduos sólidos e emissões atmosféricas 10.1. Sistema de tratamento de águas e efluentes: gestão da água A água é um dos insumos mais consumidos nas unidades industriais de curtumes, sendo assim é essencial que a Curtumes & Cia tenha estratégias capazes de otimizar seu uso com responsabilidade ambiental e, consequente redução de custos. É fundamental que a quantidade de água utilizada seja mensurada e acompanhada por indicadores, pois uma utilização desproporcional acarreta negativamente no rendimento final de uma operação em termos de absorção dos produtos e provoca o aumento da quantidade de efluentes líquidos resultando assim num agravamento dos custos operativos totais. Para além dos benefícios econômicos inerentes a captação e principalmente ao tratamento de fim de linha, descarregar menos água com menos contaminantes implica a formação de menos lamas e naturalmente ais medidas tornam-se relevantes para a prevenção dos resíduos. O consumo de água é constituído por dois componentes principais: a água de processo e água necessária para outras utilizações, como sejam: limpezas, geração de energia, tratamento de águas residuais e instalações sanitárias. Tradicionalmente, mais de 75% da água consumida numa instalação de curtumes provém das lavagens da pele entre operações e de outras lavagens de caráter mais geral. Tabela 2. Balanço típico do consumo de água no processo de curtumes. OPERAÇÕES VOL. TOTAL (m³/ton) Processo até a fase de ribeira 20 - 25 Processo até a fase de curtimenta (wet-blue) 21-28 Processo até a fase de acabamento 34 - 40 Fonte: ASTRA, 2015. Existem várias técnicas e/ou tecnologias para melhorar a eficiência da utilização de água. Dentro da Curtumes & Cia elas são priorizadas, segue abaixo alguns exemplos de boas práticas ambientais para o consumo de água: - Otimização do consumo de água e a diminuição do consumo de produtos químicos utilizados no processo e no tratamento de águas residuais. Contabilizar as águas utilizadas nas diferentes operações e melhorar o controle operacional dos caudais utilizados (utilização de instrumentação adequada como caudalímetros nos fulões e/ou barcas); - Instalar temporizadores, mitigadores e limitadores de consumo de água (torneiras e mangueiras); - Alterar a forma como decorrem as lavagens, de forma a implementar um sistema de lavagens otimizado. Desta forma, a razão banho/lavagens aumenta; - Adequar o fluxo de água aos requisitos dos processos e das lavagens, nomeadamente com a instalação de redutores de pressão. As lavagens com água corrente são uma das principais fontes de desperdício de água. Nestes casos, é importante melhorar a adequação do fluxo de água aos requisitos do processo e utilizar métodos de lavagem por imersão em vez de lavagem em água corrente; - O volume dos banhos pode emmuitos casos ser reduzida durante as diferentes operações produtivas, obtendo-se um duplo benefício, uma redução na quantidade de águas descarregadas e uma melhoria da eficiência do processo; - Usar banhos curtos, ou seja, menores relações água/pele (técnicas low-float), dentro de limites aceitáveis em termo de eficiência e de qualidade da pele; - Aproveitar alguns banhos e água de lavagens (com ou sem tratamento prévio), em outras operações do processo industrial de curtumes. A reutilização das águas residuais pode diminuir consideravelmente o consumo de água; - Estudar a utilização de águas pluviais em aplicações específicas (sanitários, lavagens, refrigeração); - Realização periódica de testes de fugas; - Divulgar internamente regras simples de economizar água e introduzir medidas operacionais e regulamentos específicos junto dos trabalhadores, em conjugação com ações de sensibilização e formação. Um tratamento prévio da água captada, seja para geração de vapor ou para utilização dentro dos processos, precisam seguir algumas características fundamentais, tais como: - pH adequado; - Dureza (temporária (dureza carbonatada) e permanente (dureza não carbonatada)); - Oxidabilidade (presença de matéria orgânica); - Cor; - Cheiro (pode afetar o produto final); - Metais (ferro, crómio, cobre, etc.); - Materiais em suspensão; - Sais solúveis (cloretos de sódio, potássio, cálcio, magnésio e sulfatos); - Gases dissolvidos. Tabela 3. Requisitos básicos da água, em termo de processo produtivo de curtumes. PROCESSO REQUISITOS Molho É desejável uma dureza moderada. Um elevado teor de sólidos em suspensão ou de contaminação microbiológica é indesejável. Caleiro Uma água com dureza elevada deve ser evitada para o processo normal, e não deve ser mesmo utilizada em processos enzimáticos. Lavagem após o caleiro Um elevado teor de carbonatos é suscetível de causar problemas. Piquelagem e curtimenta com crómio A dureza da água não é problemática. Curtimenta vegetal A dureza da água e a presença de ferro é prejudicial. Os sais de magnésio e de cálcio podem formar compostos de tanino insolúveis. Os sais de ferro podem causar depósitos e manchas na superfície da pele. Fonte: AUSTRA, 2015. Desta forma, controlar o tratamento de água captadas é essencial para o bom funcionamento das diversas etapas da produção do curtume. Por exemplo, se a dureza da água de alimentação for excessiva e se a sua alcalinidade não for controlada, forma-se incrustações nas superfícies de aquecimento, originando uma diminuição da transferência térmica e eventual sobreaquecimento e, consequentemente, desperdício de combustível (AUSTRA, 2015). Para isso, será utilizado o processo de desmineralização de água por troca iônica, em que emprega resinas catiônicas e aniônicas. Neste tipo de tratamento temos a substituição dos íons catiônicos (Ca, Mg, Na) por íons de hidrogênio, além dos íons aniônicos (cloretos, sulfatos, carbonatos, silicatos, bicarbonatos e nitratos) por íons de hidroxila. Deste modo, elimina-se grande parte dos sais presentes na água, tornando-a equivalente à água destilada, eliminando assim os problemas de incrustações, cristalizações e corrosões. Já para o tratamento das águas residuais será utilizado uma ETE – Estação de tratamento de esgotos sanitários. Ela consiste em uma unidade operacional do sistema de esgotamento sanitário que através de processos físicos, químicos ou biológicos removem as cargas poluentes do esgoto, devolvendo ao ambiente o produto final, efluente tratado, em conformidade com os padrões exigidos pela legislação ambiental. Os efluentes industrias da indústria de curtume apresenta altos níveis de carga orgânica, sólidos em suspensão e várias substâncias tóxicas. A operação responsável pela maior parte da carga contaminante total dos efluentes finais da indústria é o caleiro. Sendo assim, se tem como alternativa de boas práticas é a reutilização de água de caleiro. Ela consiste em um processo no qual a água utilizada nos banhos seja encaminhada para tanques de armazenamento, que possuem agitadores para manter os sólidos em suspensão, e em seguida passam por peneira para a retirada de materiais grosseiros, enquanto seguem para um decantador. Após a decantação o líquido superficial vai para tanques de estocagem, passam por análises para quantificar a presença de insumos e se determinar a necessidade de complementos de insumos permitindo seu reuso. O lodo do decantador vai para disposição final em aterro sanitário industrial (ALVES, 2013). 10.2. GESTÃO DE ENERGIA A utilização de energia é fundamental para uma indústria poder funcionar. E pode variar grandemente de setor para setor conforme a sua gestão energética. Embora o argumento da competitividade continue naturalmente a ser aquele que mais sensibiliza a generalidade dos industriais, a crescente pressão ambiental veio reforçar a necessidade de utilizar eficientemente a energia. Seja por imposição legal, seja pela necessidade de cumprir requisitos ambientais como forma de aceder a sistemas de apoio ou simplesmente por uma questão de imagem ou pressão da opinião pública, cada vez mais a eficiência energética está na ordem do dia (CUNHA, 2011). Foi verificado que nas unidades industriais de curtumes um maior componente térmico da energia, relativamente ao componente elétrico. A energia elétrica é consumida essencialmente na força motriz dos equipamentos e nos escritórios enquanto os combustíveis (principalmente fuelóleo, gás natural e biomassa) são consumidos em caldeiras de vapor (AUSTRA, 2015). Tabela 4. Consumo de energia térmica e energia elétrica. Tipo Utilizações % do consumo total Energia térmica - Secagem - Água quente - Aquecimento de instalações 32 – 34 32 – 34 17 – 20 Energia elétrica - Equipamentos produtivos (máquinas e fulões) - Ar comprimido - Iluminação 9 – 12 1,5 – 3 1,5 – 3 Fonte: AUSTRA, 2015. Após a instalação da Curtumes & Cia deve ser feito um estudo energético geral, acompanhado por um estudo mais particular dos seus processos e dos equipamentos que intervêm nos mesmos. Nesta análise deve ser determinado o estado dos processos e detectar os possíveis pontos de atuação e melhoria nos equipamentos que intervêm, implementando as melhorias que pressuponham um avanço em termos de redução de consumo e eficiência energética. De forma complementar, é necessário elaborar índices de eficácia energética e calcular indicadores econômicos, dispondo desta forma das ferramentas gerenciais adequadas para melhor monitorar e controlar os processos. Após um estudo detalhado da situação energética da Curtumes & Cia, segue abaixo algumas medidas que visam contribuir como boas práticas para uma boa gestão de energia. Nº Categoria Medida 1 Motores elétricos Desligar os motores nos momentos que funcionem em stand-by pois ainda assim consomem grande quantidade de energia. 2 Motores elétricos Verificas as horas de operação anuais de cada motor e analisar a eficácia do motor face ao tempo de operação que tem. 3 Motores elétricos Verificar o modo de arranque dos motores e se este se realiza de forma sequencial e planificada. 4 Motores elétricos Instalar equipamentos de controlo de temperatura do óleo de lubrificação dos rolamentos de motores de grande capacidade a fim de minimizar as perdas por fricção e elevar a eficácia. 5Motores elétricos Verificar a existência de possíveis perdas por más ligações ou na distribuição da energia. 6 Motores elétricos Retificar a correta ventilação dos motores, pois um sobreaquecimento dos mesmos traduz-se num aumento de perdas, pode danificar os isolamentos e origina uma diminuição da sua eficácia. 7 Iluminação Sensibilização dos colaboradores 8 Iluminação Aproveitar ao máximo a luz natural, diminuindo a necessidade da iluminação artificial. Juntamente a esta medida deve associar-se uma correta limpeza dos vidros e a eliminação de obstáculos que impeçam a entrada de luz ou que façam sombra. 9 Iluminação Caso possível, pintar as paredes e tetos de cores claras para incrementar a reflexão da luz e diminuir a necessidade luminosa do lugar de trabalho. 10 Iluminação Verificar o estado de limpeza do sistema de iluminação de forma periódica, já que a sujidade dos candeeiros, luminárias e lâmpadas diminui a luz emitida. 11 Iluminação Assegurar-se que os interruptores são facilmente identificáveis e que indicam corretamente o circuito sobre o qual operam, como também que se situam em lugares facilmente acessíveis. 12 Ar comprimido Assegurar que o uso do ar comprimido é o adequado. 13 Ar comprimido Verificar se a pressão de geração do ar comprimido é compatível com os equipamentos consumidores. Deve-se fixar no valor mais baixo possível, pois o consumo de energia é muito mais elevado ao aumentar a pressão de trabalho. 14 Ar comprimido Verificar que os equipamentos trabalham com a pressão mínima que assegura a sua correta operação. Um aumento da pressão à volta dos 7 ou 8 bar acima da pressão requerida origina um aumento no consumo elétrico na ordem dos 9%. 15 Ar comprimido Gerir o ar comprimido pela sua utilização por hora (horário pré-determinado, variável, ou de forma aleatória), sendo que pode ser interessante a colocação de válvulas de fecho programado, ou por nível de pressão de uso. 16 Ar comprimido Eliminar tubagens de ar comprimido obsoletas ou que já não se usem, pois este tipo de linhas costumam ser uma fonte de fugas. 17 Ar comprimido Analisar se há alguma zona na qual a exigência (horário, pressão, etc.) é diferente do resto da instalação e estudar a possibilidade de instalar um compressor local na mesma. 18 Ar comprimido Verificar o estado e a limpeza dos filtros de ar, pois são origem de elevadas perdas de carga, ocasionando um aumento do consumo energético e de ar. 19 Climatização/ Ventilação Assegurar-se de que a temperatura de termóstatos não supera a temperatura de conforto de 21ºC. Um aumento de 1ºC na temperatura de aquecimento gera uma despesa considerável. 20 Climatização/ Ventilação Retificar e reduzir a temperatura de aquecimento durante os períodos de tempo em que não haja pessoas ou nas zonas onde não seja necessário um nível elevado de aquecimento. 21 Climatização/ Ventilação Verificar se existem fontes de calor não desejadas, tais como tubagens mal isoladas, que originariam uma maior utilização do ar condicionado. 22 Climatização/ Ventilação Se o sistema de ventilação não incorporar recirculação de ar, analisar a possibilidade de modificar o sistema de ventilação para incorporar esta opção, pois reduzem-se os custos de aquecimento do ar. 23 Frio Industrial Retificar o isolamento das câmaras frigoríficas, prestando especial atenção ao estado das juntas, assegurando que estas garantem um fecho correto 24 Frio Industrial Agrupar os produtos segundo o seu grau de refrigeração. 25 Frio Industrial Levar a cabo uma correta manutenção preventiva, realizando revisões periódicas que detetem possíveis avarias, alargando a vida do equipamento, devendo incluir entre outras atuações: limpeza do evaporador e condensador, revisão de pressões do evaporador e condensador, avaliar a possível existência de vibrações no compressor e avaliar a possível formação de gelo no compressor. 26 Recuperação de calor em gases de combustão Se dentro do processo for necessário vapor, analisar a possibilidade de produzir o dito vapor mediante o uso de caldeiras de recuperação a partir do calor dos gases de combustão de alta e média temperatura. 27 Recuperação de calor em gases de combustão Analisar a formação de fuligens, as quais atuam como isoladores reduzindo a eficácia do equipamento. Acompanhar a medida, juntando aditivos ao combustível para reduzir os problemas de sujidade e corrosão nos equipamentos de recuperação. Fonte: AUSTRA, 2015. Outra sugestão que será analisada é a implantação de painéis solares, devido a região ter grandes períodos de calor, o reaproveitamento energético será muito maior. 10.3. GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS A Curtumes & Cia irá trabalhar com separação seletiva dos seus resíduos sólidos, e terceirizar para uma empresa especializada a coleta. Alguns materiais como vidros e metais, desde que não apresente contaminantes nocivos, podem ser captados e levados para Cooperativas que trabalham com reciclagem dos mesmos, ou para empresas que compram esses materiais. No último caso, o valor arrecadado será doado para alguma instituição local, de forma a reafirmar sua responsabilidade social e ambiental. Porém, existem algumas práticas que irão acontecer dentro da empresa que ajudaram a evitar quantidades de resíduos desnecessários, tais como: - Redução na fonte: eliminar ou diminuir a formação de resíduos no processo produtivo; - Reutilização interna de muitos objetos do cotidiano, como embalagens reutilizáveis, assim como o uso direto após algum processamento, do resíduo no próprio processo produtivo. Para os resíduos oriundos dos processos, existem diversas possibilidades de ganhos. Imagem 4. Possibilidades de aproveitamento e destino final dos resíduos de curtumes. Fonte: AUSTRA, 2015. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GANEM, R. S. Curtumes: Aspectos ambientais. Consultoria Legislativa. Brasília – DF. Junho, 2007. MATO GROSSO DO SUL, GOVERNO. Manual Licenciamento Ambiental. Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul. Campo Grande – MS. Maio, 2015. ALVES, Vanessa C.; BARBOSA, Agnaldo S. Práticas de gestão ambiental das indústrias coureiras de Franca – SP. Gest. Prof., São Carls, v. 20, n. 4, p. 883-898, 2013. AUSTRA. Boas práticas para o setor de curtumes. Centro tecnológico das indústrias do couro. Portugal. Junho, 2015. CUNHA, Adriana M. da. Relatório de acompanhamento setorial indústria de couro. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Março, 2011. DIAS, S. E. V. et al. v. 07, nº 2, p. 49-66, JUL-DEZ, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266)
Compartilhar