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1. Bittencourt. Tratado de Direito Penal, 15ª Edição, cit., P. 110. Aluno: Murilo Foss Do documentário “Justiça” à Problemática do Sistema Prisional O documentário ”Justiça’ mostra de modo claro o ineficaz sistema jurídico brasileiro. A jurisdição do sistema está totalmente sobrecarregada, tendo que julgar até dez processos por dia, assim, não conseguindo analisá-los com a devida atenção, se tendo assim julgamentos equivocados, como no primeiro caso, onde um suposto infrator, paraplégico, era acusado de um crime, no qual teria pulado um muro para fugir dos policiais. Tal fato foi totalmente ignorado pelo magistrado, que ainda nega o pedido do réu de ser transferido a um hospital, devido às suas miseráveis condições no local de detenção. No entanto, não se pode ter como regra magistrados frios e ineficazes no ato de analisar os autos e no tratamento das partes, pois, tivemos como bom exemplo a atuação do Dr. Geraldo Luiz Mascarenhas Prado, que tratava todos de forma digna e com respeito, tendo decisões mais justas e claras. Também se vê uma grande falha por parte do Ministério Público, que durante as audiências, não se pronunciavam, muito menos auxiliavam o magistrado a formular questões para verificar a culpabilidade dos réus. Outro grande problema se vê por parte da defensoria pública, que, sem ética, e com uma ideologia errônea à verdadeira justiça, tenta, de forma arriscada, absolver um réu, mesmo após tal crime ser confirmado pelo infrator. A defensora, Sra. Maria Ignez Kato, é inconformada com a forma que ocorre a justiça em nosso país, pois, para ela, o Estado só quer punir, e acha ineficaz a punição de um autor de um “pequeno crime de furto” ao ser colocado em uma prisão, que não irá recuperá-lo para o bom convívio social, e sim afastá-lo de tal recuperação. Ocorre que, conforme Von Liszt, a pena, na teoria da prevenção especial, tem três finalidades: intimidação, correção e inocuização¹. A intimidação, tanto para o infrator não cometer novamente o ilícito, como para desencorajar a sociedade em si a cometer o mesmo. Correção, no sentido de buscar uma correção interna no infrator, de cunho educativo, para que, após cumprir a pena, seja digno e capaz de conviver em sociedade, e, Inocuizar, poderíamos utilizar uma palavra mais clara como NEUTRALIZAR, tendo em vista certos casos em que não é possível corrigir o criminoso, analisando o crime cometido e sua personalidade, como psicopatas por exemplo, tendo que o deixar afastado do convívio social por tempo indeterminado, por motivos óbvios. Assim, penso que mesmo crimes considerados leves, como o furto, devem ser penalizados pelo Estado para manter a Ordem Social, garantir a efetiva função da pena e garantir a qualidade de vida àquelas pessoas a que o “pertencem”. Pois ninguém deve ter sua vida afetada pela má índole e personalidade problemática de outrem. Notório o quanto nosso país falha nas questões de educação, saúde, saneamento, etc. Perante todas essas falhas, vimos pessoas que ficam à verdadeira margem dos problemas jurisdicionais e sociais do Estado. Pessoas sem condições econômicas e humildes de conhecimento, as quais buscam forças e orientação na religião, que tem uma função fundamental nos locais miseráveis, que é o de fornecer um mínimo de esperança em um amanhã melhor. O documentário também quis retratar uma “possível” polícia de má fé, que planta provas, agride “inocentes” e até tira proveito de seu poder hierárquico dentro das favelas, trocando liberdade de criminosos por dinheiro ou armamentos, tais fatos que possivelmente advém da má remuneração de uma profissão tão necessária nos dias de hoje, associada a insegurança que sofrem tais profissionais, tanto no seu labor como em sua vida particular. Sabemos há tempos que a criminalidade vem aumentando massivamente, e com ela, o sistema carcerário se sustenta no limite. A falta do apoio do poder público cria condições que desrespeitam totalmente o princípio constitucional penal da dignidade humana nos presídios. Em uma cena do documentário, mostrou-se cerca de 30 presos dividindo um espaço mínimo, acumulados como se fossem sacos de lixo, sem camas ou as mínimas condições de higiene, como um vaso sanitário. Chama-se a atenção o grito de guerra feito pelos detentos, de uma das facções mais conhecidas e perigosas de nosso país. Sabe-se muito bem que o Estado não consegue mais controlar o interior dos próprios presídios, onde ocorre uso e venda de drogas, golpes e ordens de crimes por celular, entre outras barbáries. Assim, notório que, além de não colaborarem para o avanço da sociedade, os detentos geram gastos e acumulam novos “aprendizados”, fortalecendo a criminalidade de nosso país. Infelizmente é comprovado que o estado consegue efetivar somente uma das três funções da pena: a de neutralização do criminoso para com a sociedade. Além disso, quando um infrator, em qualidade de segurado do INSS é preso e sentenciado, continuará em tal qualidade, e assim, gerará um direito de AUXILIO RECLUSÃO para sua família. Ocorre que, em minha opinião, tal benefício é totalmente errôneo, pois é uma forma de não coagir o criminoso a agir, já que passa uma tranquilidade para o infrator, pois o mesmo sabe que seus familiares não ficarão desamparados economicamente caso ocorra sua prisão. Assim também entende o grande Doutrinador Sérgio Pinto Martins, que diz o seguinte: “Eis um benefício que deveria ser extinto, pois não é possível que a pessoa fique presa e ainda a sociedade como um todo tenha que pagar um benefício à família do preso, como se tivesse falecido. De certa forma o preso é que deveria pagar por se encontrar nessa condição”. Desta forma, poderia ter a ideia de um sistema prisional muito mais eficaz, que necessitaria de maior apoio do poder público, para que se desenvolvessem casas prisionais num novo modelo, onde o preso, para garantir sua qualidade de segurado e o auxílio à sua família, teria que laborar, mas que, apesar deste trabalho, tivesse condições que respeitassem os princípios constitucionais da dignidade humana, como uma alimentação adequada, saúde, e números limitados de presos em cada cela, associados à reeducação social dos infratores que tem esta possibilidade em sua personalidade. Fica claro que o documentário “Justiça” reforça que não é efetivando prisões que se resolverá o problema da violência no Brasil, mas sim, com uma reforma no sistema judiciário. Penso, porém que não se necessita somente de uma reforma no poder judiciário, mas sim, em todos os três poderes do Estado. Gramado, 19 de abril de 2014.