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Aula 05 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 AULA 05: EFEITOS DA CONDENAÇÃO E REABILITAÇÃO. PENA DE MULTA. AÇÃO PENAL NO CP. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. SUMARIO PAGINA Apresentação da aula e sumário 01 1 - Aspectos Gerais da Teoria da Pena 02 li - Penas em Espécie: A pena de MULTA 06 Ili - Efeitos da Condenação e reabilitação 11 IV - Da Ação Penal no Códiao Penal 23 V - Extinção da punibilidade 34 Questões para praticar 53 Questões comentadas 61 Gabarito 80 Olá, meus amigos concurseiros! Hoje é dia de sairmos da "Teoria Geral do Delito" e entrarmos na "Teoria Geral da Pena". Veremos, conforme prevê o edital, a pena de multa, os efeitos da condenação e da reabilitação, bem como a ação penal no CP. Além disso, estudaremos as formas de extinção da punibilidade. Bons estudos! Prof. Renan Araujo Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 I - ASEPECTOS GERAIS DA TEORIA DA PENA Se a conduta incriminada pelo tipo penal incriminador é um preceito primário, a pena (sanção penal) a ele cominada (prevista) é o que se pode chamar de preceito secundário. A pena possui como pressuposto de sua aplicação a culpabilidade do agente (para parte da Doutrina, a culpabilidade é pressuposto de aplicação da pena, para outra parte, embora também o seja, é parte integrante do conceito analítico de crime). Já as medidas de segurança não possuem a culpabil idade como pressuposto de sua aplicação (até porque o agente não é plenamente imputável, não possuindo, portanto, culpabi lidade), mas sim a pericu/osidade. Isto é importante! A pena pode ser conceituada como a resposta que a sociedade dá ao indivíduo que transgride a ordem jurídico-penal estabelecida, e consiste na privação ou restrição de um bem jurídico do condenado (liberdade, patrimônio, etc.), de forma a castigá-lo e reeducá-lo. Alguns princípios norteiam a Teoria Geral da Pena: a) Reserva legal ou legalidade estrita - Somente a Lei (em sentido estrito) pode cominar penas: "Nulla poena sine lege". Está previsto no art. 5°, XXXIX da Constituição e art. 1 ° do CP; b) Anterioridade - A Lei que prevê a pena para a conduta deve ser anterior à prática do crime: "Nu/la poena sine praevia /ege". Também está previsto no art. 5°, XXXIX da Constituição e art. 1 ° do CP, sendo, juntamente com o princípio da reserva legal, subprincípios do princípio da LEGALIDADE; c) Intranscendência da pena - A pena deve ser cumprida somente pelo condenado, não podendo, em caso de morte deste, ser transferida aos seus familiares, sa lvo a obrigação de reparar o dano e o perdimento de Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 80 bens, que podem ser cobrados dos sucessores até o limite do patrimônio transferido pelo condenado falecido. CUIDADO: A pena de multa, embora patrimonial, não pode ser cobrada dos sucessores! d) Inevitabilidade ou inderrogabilidade da pena ± Presentes os requisitos para a condenação, a pena não pode deixar de ser imposta e cumprida. É mitigado, atualmente, por institutos como o sursis, o livramento condicional, etc.; e) Princípio da humanidade ou humanização das penas ± A pena não pode desrespeitar os direitos fundamentais do indivíduo, violando sua integridade física ou moral, e também não pode ser de índole cruel, desumano ou degradante (art. 5°, XLIX e XLVII da Constituição); f) Princípio da proporcionalidade ± A sanção aplicada pelo Estado deve ser proporcional à gravidade da infração cometida e também deve ser suficiente para promover a punição ao infrator e sua reeducação social; g) Princípio da individualização da pena ± A pena deve ser aplicada de maneira individualizada para cada infrator em cada caso específico. Essa individualização se dá em três fases distintas: a) cominação: O legislador deve prever um raio de atuação para o Juiz aplicar a pena no caso concreto, estabelecendo penas mínimas e máximas, de forma que o Juiz possa aplicar a quantidade de pena que achar conveniente no caso concreto; b) aplicação: Saindo da esfera legislativa, passamos à esfera judicial, segunda etapa, que consiste na efetiva aplicação individualizada da pena, que será imposta conforme as circunstâncias do crime e os antecedentes do réu, de acordo com a margem estabelecida pelo legislador; c) Na terceira e última fase temos a aplicação deste princípio da na execução da pena (esfera administrativa), de forma que o cumprimento da pena, progressão de regime, concessão de benefícios devem ser analisados no caso concreto, e não abstratamente, pois entende-VH� TXH� ³FDGD� FDVR� p� XP� FDVR´�� H� QmR� FDEH� DR� OHJLVODGRU� retirar do Juiz a possibilidade de analisá-lo e proceder da forma que Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 80 melhor atenda aos anseios da sociedade. Está previsto no art. 5°, XLVI da Constituição da República. Quanto à finalidade da pena, três teorias surgiram: a) Teoria absoluta e sua finalidade retributiva ± Pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgressão à ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. Não há nenhuma finalidade educacional de reinserção do indivíduo à vida social. A pena é mero instrumento para a realização da vingança estatal; b) Teoria relativa e sua finalidade preventiva ± Pune-se o agente não para castigá-lo, mas para prevenir a prática de novos crimes. Essa prevenção pode ser: b1) Prevenção Geral ± Busca controlar a violência social, de forma a despertar na sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa, quando busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando simplesmente se busca reafirmar a vigência da Lei penal; b2) Prevenção especial ± Não se destina à sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prática da reincidência. Também pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele não cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupação está voltada à ressocialização do condenado (Infelizmente, não há uma preocupação com isto na prática); c) Teoria Mista (unificadora ou eclética ou unitária) e sua dupla finalidade ± Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas também como medida de prevenção, tanto em relação à sociedade quanto ao próprio infrator (prevenção geral e especial). Foi a adotada pelo art. 59 do CP, que diz: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 80 consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Quanto à cominação, as penas podem ser cominadas: a) Isoladamente ± A Lei prevê a aplicabilidade de apenas uma espécie de pena. Exemplo: art. 121 do CP ± Pena dereclusão; b) Cumulativamente ± A Lei prevê a aplicabilidade conjunta de duas espécies de penas. Exemplo: art. 155 do CP ± Pena de reclusão e multa; c) Alternativamente ± A Lei comina, alternativamente, duas espécies de pena. Exemplo: art. 331 do CP: Detenção ou multa; Quanto às espécies, as penas podem ser: a) Privativas de liberdade ± Retiram do condenado o direito à liberdade de locomoção, por determinado período (é vedada pena de caráter perpétuo, art. 5°, XLVII, b da Constituição). Máximo de 30 anos para crimes (art. 75 do CP) e de 05 anos para contravenções penais (art. 10 da Lei de Contravenções Penais); b) Restritivas de direitos ± Em substituição à pena privativa de liberdade, limitam (restringem) o exercício de algum direito do condenado. Estão previstas no art. 43 do CP e em alguns dispositivos da Legislação Especial; c) Pena de multa ± Recai sobre o patrimônio financeiro do condenado; d) Restritiva de liberdade ± Restringem, mas não retiram o direito de locomoção do condenado. Na verdade, trata-se de uma espécie de Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 pena restritiva de direitos. Exemplo : Proibir o marido de se aproximar da casa da ex-esposa no caso de violência doméstica; e} Penas corporais - Trata-se de castigos aplicados ao corpo do indivíduo. É espécie de pena vedada pela Constitu ição Federa l (art. 5°, XLVII, e) . O CP previu, em seu art. 32, as penas privativas de liberdade , restritivas de direitos e multa. Este quadro esquemático vai ajudar na compreensão de vocês: r PENAS '- ~ 1 1 1 1 MULTA r RESTRITIVA r PRIVATIVA DE DE DIREITOS LIBERDADE '- '- ~ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 PRESTAÇÃO PERDA DE r PRESTAÇÃO r lNTERDI_ÇÃO r UMITAÇÃO r RECLUSÃO r DETENÇÃO r PRISÃO P ECUNIÁRIA BENS E DE TEHPORARIA DE FINAL SIMPLES VALORES SERVIÇOS À DE DIREITOS DE SEMANA (SOMENTE COMUNIDA NO CASO DE DE CONTRAVEN ÇÃO PENAL} '- '- '- '- '- ~ '- II - PENAS EM ESPÊCIE: A PENA DE MULTA A pena de multa pode ser conceituada como a pena (sanção pena l) consistente no pagamento de determinada quant ia em dinheiro e destinada ao Fundo Penitenciário Naciona l. Nos termos do art. 49, e seus §§, do CP: Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 80 ~ Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1 o - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 ( cinco) vezes esse salário. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O critério util izado para a fixação da pena de multa é o do dia- multa. O valor do "dia-multa" será arbitrado pelo Juiz, em montante que varie entre l/30 (um trigésimo) e 5 vezes o valor do maior salário mínimo vigente À ÉPOCA DO FATO! Perceba, caro aluno, que a aplicação da pena de multa obedece a um sistema BIFÁSICO, no qual o Juiz: a) Primeiro fixa a quantidade de dias-multa. b) Depois, fixa o valor de cada dia multa. O produto da multiplicação do número de dias multa pelo valor de cada dia multa será o montante total da condenação. EXEMPLO: Imagine que um réu é condenado ao pagamento de 10 dias- multa, considerando-se cada dia multa como 1/30 do maior salário mínimo vigente (exemplificativamente, R$ 600,00). Assim, 1/30 de R$ 600,00 igual a R$ 20,00. Desta forma, o valor total da condenação será de 10 (quantidade de dias-multa ) x R$ 20,00 (va lor do dia-multa) . Logo, a pena de multa será fixada em R$ 200,00 (Duzentos reais). Este critério possibi lita o exercício do princípio da individualização da pena, pois confere ao Juiz uma amplitude enorme na fixação do va lor da pena de multa. Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 80 A Doutrina entende que: A quantidade de dias-multa é calculada com base no fato criminoso e na personalidade do agente (circunstâncias do art. 59 do CP). O valor de cada dia-multa é fixado com base na situação econômica do infrator. O art. 60 do CP prevê que a pena de multa deve ser fixada levando- se em conta a situação econômica do réu, entretanto, essa fixação com base na situação econômica do réu se refere à fixação do valor do dia- multa. Além disso, seu § 1° permite a majoração da pena de multa em até três vezes, caso mesmo sendo aplicada ao máximo, o Juiz considere que ela ainda é insuficiente. Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Ressalto a vocês que esse sistema de aplicação da pena de multa é genérico, ou subsidiário. Assim, nada impede que a Legislação Especial, e até mesmo o CP, prevejam situações especiais nas quais o critério para a aplicação da pena de multa seja outro. O pagamento da pena de multa deve se dar em até 10 dias a contar do trânsito em julgado da sentença, podendo o Juiz, considerando as circunstâncias e a requerimento do condenado, permitir o parcelamento do seu pagamento (art. 50 do CP). O CP permite, ainda, que a pena de multa seja descontada diretamente na remuneração do condenado, salvo na hipótese de ter sido aplicada cumulativamente com a pena privativa de liberdade (§ 1° do art. Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 50 do CP), E NÃO PODE INCIDIR SOBRE RECURSOS QUE SEJAM INDISPENSÁVEIS AO SUSTENTO DO INFRATOR E DE SUA FAMÍLIA (§ 2° do art. 50 do CP). Conforme já havia adiantado a vocês, não cumprida espontaneamente a pena de multa, não pode haver conversão em pena privativa de liberdade, muito menos reconversão (porque nunca houve conversão). Nesse caso, a multa será considerada como dívida de valor e executada pelo procedimento de cobrança da dívida ativa da Fazenda Pública (Execução Fiscal) . Nos termos do art. 51 do CP: Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1°.4.1996) A Doutrina e a JurisP.rudência entendem, em razão disso, que embora o não cumprimento da pena de multa não possa gerar a conversão em pena privativa de liberdade, isto não lhe retira seu caráter de pena. Assim, aplicada pena de multa e sobrevindo a morte do infratorl estará extinta a unibilidad , nos termos do art. 107, I do CP, já que não se pode estender os efeitos da pena aos sucessores do infrator, por força do art. 5°, XLV da Constituição, que ressalvou apenas a obrigação de reparar o dano e o perdimento de bens. Esta é a posição majoritária (esmagadora), emboraexistam alguns julgados no STJ entendendo que a multa, nesse caso, passou a ter caráter extrapenal (ultraminoritário esse entendimento). Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 80 Não confundam a pena de multa que estudamos (pena autônoma, que pode ser aplicada cumulativamente ou isoladamente da pena privativa de liberdade) com a pena de multa substitutiva ou vicariante. Esta última é uma espécie de pena alternativa, que pode ser aplicada em substituição às penas privativas de liberdade em determinados casos. Está prevista no art. 60, § 2° do CP: § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A Doutrina e a Jurisprudência entendem que, mesmo nesse caso (NO QUAL ESTAMOS DIANTE DE UMA PENA SUBSTITUTIVA), não há possibilidade de conversão em pena privativa de liberdade, pois entendem que a conversão só pode ocorrer nas hipóteses previstas no art. 44, § 4° do CP, que trata das penas restritivas de direitos, não incluindo, portanto, a pena de multa. Por fim, o art. 52 do CP prevê que, sobrevindo doença mental ao condenado, ficará suspensa a pena de multa: Art. 52 - É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença mental. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Vocês, entretanto, não podem confundir a MULTA com a pena de prestação pecuniária. Trata-se de uma modalidade de pena restritiva de direitos, e difere da multa em diversos aspectos. Vejamos: DIFERENÇAS ENTRE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA E MULTA a) Destinação - A pena de prestação pecuniária é destinada à vítima, seus dependentes ou entidade pública ou privada (com destinação social); A multa, por sua vez, é destinada ao Fundo Penitenciário Nacional; Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 b) Quantidade - A prestação pecuniária é fixada entre 01 e 360 salários mínimos, enquanto a pena de mu lta é fixada entre 10 e 360 dias-multa (veremos mais sobre isso quando analisarmos a pena de multa); c) Consequências do não-cumprimento - Não cumprida a pena de prestação pecuniária, haverá a reconversão obrigatória. Não cumprida a pena de multa, deverá ser executada como dívida de valor III - EFEITOS DA CONDENAÇÃO A sentença penal condenatória possui efeitos penais e extra penais. Os efeitos penais são aqueles que produzem efeitos na esfera penal (óbvio, não?). Os efeitos penais podem ser primários ou secundários. B.1) Efeitos da sentença penal condenatória A sentença penal condenatória possui efeitos penais e extra penais. Os efeitos penais são aqueles que produzem efeitos na esfera penal (óbvio, não?). Os efeitos penais podem ser primários ou secundários. O efeito penal primário é a PENA, ou seja, a impos1çao de pena criminal, eis que este é o objetivo básico e principal da condenação. Os efeitos penais podem ser, ainda, secundários. São efeitos penais secundários aqueles que, embora produzam efeitos na esfera jurídico- Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 80 PENAL do indivíduo condenado, esses efeitos refletem em OUTRA RELAÇÃO JURÍDICO-PENAL. EXEMPLO: Reincidência. A sentença penal condenatória possui como efeito penal SECUNDÁRIO, gerar reincidência (e todas as suas consequências) caso o condenado seja novamente condenado dentro de um prazo previsto em lei. Trata-se de um efeito que, sem dúvida, atinge a esfera penal do indivíduo, mas NÃO NO PROCESSO EM QUE FOI PROFERIDA A SENTENÇA, mas em outro processo. Outro efeito penal secundário é a inscrição do nome do réu no rol dos culpados (após o trânsito em julgado, sempre). Os efeitos extrapenais, por sua vez, são assim chamados por afetarem diversas outras áreas do Direito (civil, administrativo, etc.). Por sua vez, dividem-se em genéricos e específicos. Os efeitos genéricos são aqueles que incidem sobre toda e qualquer condenação, estando previstos no art. 91 do CP, sendo apenas dois: Obrigação de reparar o dano e confisco: Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 80 Os efeitos genéricos são automáticos, ou seja, independem de ser expressamente declarados pelo Juiz na sentença. EXEMPLO: Se o Juiz condena alguém por roubo, o dever de reparar o dano causado ocorrerá independentemente de constar na sentença esse efeito, pois é decorrência natural e automática da sentença. Já os efeitos específicos são aqueles que recaem apenas sobre condenações relativas a determinados crimes, e não a todos os crimes em geral. Estão previstos no art. 92 do CP, sendo: Art. 92 - São também efeitos da condenação:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Tais efeitos, por sua vez, NÃO SÃO AUTOMÁTICOS, devendo constar na sentença condenatória, sob pena de não ocorrerem. Isto está previsto no § único do art. 92 do CP: Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 80 Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, resumidamente: EFEITOS DA CONDENAÇÃO GERAIS ESPECÍFICOS x Obrigação de reparar o dano x Perda em favor da União dos instrumentos do crime(se seu porte for ilícito) e dos produtos ou proveitos do crime. x São AUTOMÁTICOS x Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo (a)nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública ± pena igual ou superior a 01 ano; b) Nos demais casos ± pena superior a 04 anos. x Incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado. x Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. x Não são automáticos. 1) Efeitos genéricos Obrigação de reparar o dano Embora as esferas cível e criminal sejam independentes, a sentença criminal condenatória possui o condão de fazer coisa julgada na seara cível, tornando certa e indiscutível (naquela Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 80 esfera) o dever de reparar o dano. Porém, o valor poderá ser discutido na esfera cível. A ocorrência de abolitio criminis ou anistia, embora seja fato que gere a rescisão da sentença condenatória, extinguindo-se a punibilidade, NÃO ALTERA OS REFLEXOS CIVIS DA CONDENAÇÃO. Nos termos do art. 2° do CP: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Essa obrigação de reparar o dano pode, inclusive, ser cobrada dos herdeiros do falecido1, até o limite do patrimônio a eles transferido, por força do art. 5°, XLV da Constituição. Confisco O confisco é a perda de bens de natureza ilícita em favor da União. O confisco recai apenas sobre os instrumentos e sobre o produto do crime. O instrumento do crime (instrumenta sceleris) é aquilo de que se valeu o agente para praticar o delito. Só poderão ser confiscados se se tratarem de coisas cuja, fabricação, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. Assim, um carro utilizado para a prática de um homicídio doloso por atropelamento não pode ser confiscado, por ao ser objeto de natureza ilícita. Entretanto, uma arma de fogo sem registro, com a numeração raspada e cujo possuidor não possua autorização para tal, deverá ser objeto de confisco. O produto do crime (producta sceleris) é a vantagem direta auferida pelo infrator em decorrência da prática do crime. 1 Não confundir com a MULTA, que é PENA, e não pode ser cobrada dos herdeiros, nem mesmo se o falecido tiver deixado patrimônio. Com a morte do condenado, extingue-se a punibilidade da PENA de MULTA. Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 80 O proveito do crime, por sua vez, é a vantagem indireta obtida pelo agente através da especificação do produto do crime (transformação do ouro roubado em joia), da alienação do produto do crime (dinheiro decorrente da venda do produto do crime) ou preço do crime (crime encomendado, por exemplo). O confisco do produto ou do proveito do crime em prol da União possui natureza subsidiária, pois, em regra, o produto ou proveito crime será restituído à vítima, sendo efetuado em prol da União apenas no caso de ser desconhecida a vítima ou não ser reclamado seu valor. 2) Efeitos específicos Perda do cargo, função pública ou mandato eletivo Está previsto no art. 92, I do CP: Art. 92 - São também efeitos da condenação:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) Como já disse a vocês, estes não são efeitos automáticos, devendo estar expressos na sentença. EXEMPLO: se um funcionário público é condenado à pena privativa de liberdade de 03 anos, pelo crime de peculato, a perda do cargo público não decorre automaticamente da sentença condenatória, devendo o Juiz se manifestar expressamente neste sentido. Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 Na primeira hipótese (alínea a), o agente comete o crime contra a administração pública, valendo-se da sua condição de funcionário público (crime funcional) . Nesse caso, a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo ocorrerá se for aplicada pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano. Na segunda hipótese, trata-se de perda de cargo, função pública ou mandato eletivo em razão da prática de qualquer crime, desde que a pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro anos. CUIDADO! A pena deve ser superior a quatro anos, e não DE QUATRO ANOS. Incapacidade para exercício do pátrio poder, tutela ou cu rateia Trata-se de mais um efeito específico da condenação, pois só poderá ocorrer na hipótese de prática de crime doloso sujeito à pena de reclusão, praticado contra filho, tutelado ou curatelado. Assim, além da necessidade de expressa previsão na sentença condenatória, outros três são os requisitos para a ocorrência desse efeito: • O crime deve ser doloso • Deve ser apenado com reclusão • Deve ter sido praticado contra filho, tutelado ou curatelado A sua apl icação, obviamente, não é obrigatória, pois, como vimos, trata-se de um efeito não-automático da condenação, devendo estar expressamente consignada na sentença a ocorrência deste efeito . A perda do pátrio poder, tutela ou curatela se dá de duas formas diferentes : Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 .. Em relação à vítima do delito - Em caráter permanente (nunca mais o infrator poderá ter o pátrio poder em relação àquela pessoa); .. Em relação a outros filhos, tutelados ou curatelados - Em caráter provisório. Ocorrendo a reabilitação, poderá o infrator restabelecer o pátrio poder, a tutela ou curatela em relação aos demais filhos, tutelados ou curatelados. EXEMPLO: Imagine um caso de estupro, no qual o pai estupra a fi lha menor de idade. Condenado, o pai perderá o poder famil iar (pátrio poder) em relação a todos os filhos. No entanto, se posteriormente ele se reabilitar, poderá recuperar o poder fami liar em relação aos demais fi lhos, mas nunca mais poderá recuperar este poder em relação à vítima do crime (Pode parecer mentira, mas é verdade ® ). Inabilitação para dirigir veículo O art. 92, III do CP diz o seguinte: Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ( ... ) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. (Redaç.ão dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Portanto, são dois os requisitos: .. Trate-se de crime doloso; .. O veículo tenha sido usado como meio para a prática do crime Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.brPágina 18 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 Por "meio" deve-se entender "meio direto", aquele que produz efetivamente o resu ltado delituoso. EXEMPLO: Se Andressa mata Bruno, atropelando-o com seu Honda Civic, o veícu lo foi utilizado como meio do crime. No entanto, se Andressa pega seu Honda Civic e se dirige até a casa de Bruno, esperando-o chegar do trabalho e, quando o vê, o esfaqueia por trás, o veículo não foi uti lizado como meio para a prática do crime, mas como meio de transporte. Temos, abaixo, um quadro esquemático para melhor compreensão do assunto. QUADRO ESQUEMÁTICO / ' EFEITOS DA CONDENAÇÃO '- ./ 1 1 1 / PENAIS ..,, / EXTRAPENAIS' ' ,) ' 1 1 1 1 1 1 / PRIMÁRIOS ' /' SECUNDÁRIOS ' /' GENÉRICOS ' /' ESPECÍFICOS ' (AUTOMÁTICOS) (NÃO- AUTOMÁTICOS) '- '- '- '- 3} REABILITAÇÃO A reabi litação é o instituto que visa à reinserção socia l do condenado, através do sigilo referente às suas anotações criminais, bem como a Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 suspensão condicional de determinados efeitos secundários da condenação, de natureza extrapena l. Nos termos do art. 93 e seu § único do CP: Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos 1 e li do mesmo artigo. (Redação dada pela Lei nº 7. 209, de 11. 7.1984) -.CUIDADO! Não se trata de causa de extinção da punibi lidade! A) Sigilo das condenações O primeiro dos objetivos da reabilitação é promover o sigilo referente às anotações cr iminais do reabilitado. Em regra, cumprida ou extinta a pena, naturalmente são retiradas da folha de antecedentes criminais do acusado, somente podendo ser acessadas por QUALQUER AUTORIDADE JUDICIÁRIA, pelo membro do MP ou por autor idade policial (Delegado de Polícia). No entanto, o sigilo promovido pela reabilitação é bem mais amplo, pois somente pode ser quebrado mediante requisição do JUIZ CRIMINAL (e não de qualquer Juiz !) . B) Efeitos secundários extrapenais da condenação Com relação a esta fina lidade, a reabi litação promove a suspensão dos efeitos extrapenais secundários da condenação. Assim, por exemplo, se o condenado perdeu o poder fami liar em re lação aos fi lhos, em razão Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 80 de ter cometido crime doloso punido com reclusão contra qualquer filho (art. 92, II do CP), se for REABILITADO, poderá recuperar o poder familiar em relação AOS DEMAIS FILHOS QUE NÃO SOFRERAM O CRIME, pois o poder familiar em relação ao filho que sofreu o crime NUNCA MAIS SERÁ RECUPERADO (art. 93, § único do CP). C) Pressupostos e requisitos para a Reabilitação O pressuposto é apenas um: Que haja sentença condenatória transitada em julgado, independentemente de qual pena foi aplicada (privativa de liberdade, multa, etc.). Os requisitos são diversos. O art. 94 nos traz tais requisitos. Vejamos: Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) x Requisitos objetivos ± a) A extinção da pena (Pelo cumprimento ou por outra forma) deve ter se dado há mais de dois anos; b) Deve o condenado ter reparado o dano, ou provar que não pode fazê-lo ou que a vítima renunciou a este direito; Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 80 x Requisitos subjetivos ± a) Domicílio no país ± O condenado deve ter residido no Brasil no período de dois anos após a extinção da pena; b) Bom comportamento público e privado ± O condenado deve ter apresentado, neste período de dois anos, um bom comportamento social. CUIDADO! O pedido de reabilitação é PRIVATIVO DO CONDENADO, não se estendendo aos sucessores. Assim, se o condenado faleceu sem requerer a habilitação, nada poderá ser feito pelos sucessores. Caso a reabilitação tenha sido negada, nada impede que o condenado a requeira novamente, a qualquer tempo, desde que traga fatos novos à apreciação do Juiz. É o que a Doutrina chama de caráter REBUS SIC STANTIBUS. Nos termos do art. 94, § único do CP: Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A reabilitação pode ser revogada, ainda, caso o reabilitado seja condenado, COMO REINCIDENTE, por decisão IRRECORRÍVEL, à pena que NÃO SEJA DE MULTA. Assim, três são os requisitos para a revogação: x Condenação posterior x À pena que não seja de multa x Desde que o condenado seja reincidente Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 Assim, se já tiver ocorrido o período DEPURADOR (período de cinco anos que provoca a decadência da reincidência), o reabilitado pode ser condenado que não será revogada a reabilitação concedida, pois não será condenado como reincidente. IV - DA AÇÃO PENAL NO CÓDIGO PENAL Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de punir o infrator. Esse poder-dever, esse direito, é chamado de ius puniendi. Entretanto, o Estado, para que exerça val idamente e legitimamente o seu ius puniendi, deve fazê- lo mediante a utilização de um mecanismo que possibilite a busca pela verdade material (não meramente a verdade formal), mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é chamado de Processo Penal. Mas, professor, onde entra a Ação Penal nisso? A ação penal é, nada mais nada menos, que o ato inicial desse mecanismo todo chamado processo penal. A) Espécies de Ação Penal A ação penal pode ser pública incondicionada, condicionada, ou privada. Nos termos do art. 100 do Código Penal: Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1 o - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representaçãodo ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 § 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 30 - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7. 209, de 11. 7.1984) A regra é a de que a ação penal seja pública , nos termos do caput do art. 100 do CP, só sendo privada quando a lei expressamente assim disser. Conforme o esquemático, para facilitar a compreensão de vocês: AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA CONDICIONADA PRIVADA EXCLUSIVA PERSONALÍSSIMA REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA Assim pode se resumir, graficamente, as espécies de ação penal previstas no Código Penal e no Código de Processo Penal - CPP. A Doutrina cita, ainda, a ação penal popular, prevista na Lei 1.079/50, mas essa espécie é polêmica e não possui previsão nem no CP, nem no CPP, motivo pelo qual, não será objeto do nosso estudo. Vamos estudar, agora, cada uma das seis espécies de ação penal: Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 80 A) Ação penal pública incondicionada Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 É a regra no ordenamento processual pena l brasileiro . Sua titularidade pertence ao Ministério Público, de forma privativa, nos termos do art. 129, 1 da Constituição da República . Além disso, rÓl!_rio § l O 'do art. 100 do C estabelece ser do MP a atribuição para o ajuizamento da ação penal pública. O .art. 101 do CP traz uma regra inócua, desnecessária, mas que vocês devem saber: Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Trata-se da ação penal no crime complexo, que é o crime formado pela junção de dois outros tipos penas. Exemplo: Roubo = furto + lesão corporal ou ameaça. Assim, se um dos crimes for de ação penal pública incondicionada, ainda que o outro não o seja, caberá ação penal pública. B) Ação penal pública condicionada (à representação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça) Tratam-se de duas hipóteses pertencentes à mesma categoria de ação penal, a ação penal pública condicionada . Aplica-se a esta espécie de ação pena l tudo o que foi dito a respeito da ação pena l pública, havendo, no entanto, alguns pontos especiais . Aqui, para que o MP (titu lar da ação penal) possa exercer legitimamente o seu direito de ajuizar a ação pena l públ ica, deverá estar presente uma condição de procedibilidade, que é a representação do Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, a depender do caso . Frise-se que, em regra, a ação penal é pública e incondicionada . , omente será condicionada se a lei ex ressarnente dis user nest Para facilitar o estudo de vocês, elaborei os seguintes quadros com as peculiaridades da ação penal públ ica condicionada, tanto no caso de condicionamento à representação do ofendido quanto no caso de requisição do Ministro da Justiça : AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO ).>- Trata-se de condição imprescindível, nos termos do art. 24 do CPP; ).>- É representação admite mas (cuidado! Costumam colocar em provas de concurso que a retratação pode ocorrer até o recebimento da denúncia. Isto está errado! É uma pegadinha! No vocabulário internetês, "É uma cilada, Bino!" - risos). Isso está no . rt. 102 do CP e 25 do CPP; ).>- Caso ajuizada a ação penal sem a representação, esta nulidade processual pode ser sanada posteriormente, caso a vítima a apresente em Juízo (desde que realizada dentro do prazo de seis meses que a vítima possui para representar. nos termos do art. 38 do CPP); ).>- Não se exige forma específica para a representação, bastando que seja escrita e descreva claramente a intenção de ver o infrator ser processado. A jurisprudência admite que o simples registro de ocorrência em sede policial, desde que conste informação de que a vítima pretende ver o infrator punido, PODE ser considerada como representação; ).>- A representação não pode ser dividida quanto aos autores do fato . Ou se representa em face de todos eles, ou não há representação, Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 pois esta não se refere propriamente aos agentes que praticaram o delito, mas ao fato . Quando a vítima representa, está manifestando seu desejo em ver o fato ser objeto de ação pena l para que sejam punidos os responsáveis . Entretanto, embora não possa haver fracionamento da representação, isso não impede que o MP denuncie apenas um ou alguns dos infratores, pois um dos princípios da ação penal pública é a divisibilidade, lembram- se? )- A legitimidade para oferecer a representação é do ofendido, se maior de 18 anos e capaz (art. 34 do CP). Embora o disposit ivo legal estabeleça que se o ofendido tiver mais de 18 e menos de 21 anos tanto ele quanto seu representante legal possam apresentar a representação, este artigo perdeu o sentido com o advento do Novo Código Civil em 2002, que estabeleceu a maioridade civil em 18 anos. )- Se ofendido fa lecer, aplica-se a ordem de legitimação prevista no art. 24, § 1 ° do CPP: § lo No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993). É importante lembrar que essa ordem deve ser observada. Assim, havendo cônjuge, e este resolvendo não representar, não poderá o pai do falecido representar. A Doutrina equipara o companheiro ao cônjuge; O prazo para representação está no rt. 38 do CPP e também no art. 103 do CP.: Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia ( ... )Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 30 do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 80 denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 )- Se o ofendido for menor de idade, o prazo, para ele, só começa a flu ir quando este completar 18 anos; )- Se a vítima vier a fa lecer, o prazo começa a correr para os legitimados (cônjuge, ascendente, etc.) quando tomarem conhecimento do fato ou de sua autoria(art. 38, § único do CPP); )- A representação pode ser oferecida perante o MP, a autoridade pol icia l ou mesmo perante o Juiz; Já quanto à ação penal públ ica condicionada à requisição do Ministro da Justiça: AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA )- Trata-se de crimes nos quais existe um juízo político acerca da conveniência em vê-los apurados ou não. São poucas as hipóteses, citando, como exemplo, o crime cometido contra a honra do Presidente da Repúbl ica (art. 141, I , c/c art. 145, § único, do CP); )- Diferentemente do que ocorre com a representação, não há razo ecadencial para o oferecimento da requisi~ão, podendo esta ocorrer enquanto não estiver extinta a punibilidade do crime; )- 'A maioria da Doutrina entende gue não dessa re uisição, ao contrário do que ocorre com a representação do ofendido, por não haver previsão lega l e por se tratar a requisição, de um ato administrativo; )- O destinatário da requisição é o MP, que não está vincu lado à requisição, podendo deixar de ajuizar a ação penal; Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 80 C) Ação penal privada exclusiva Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 É a moda lidade de ação pena l privada clássica . É aquela na qual a Lei entende que a vontade do ofendido em ver ou não o crime apurado e o infrator processado são superiores ao interesse público em apurar o fato . O prazo para ajuizamento da ação penal (queixa) é decadencial de seis meses, e começa a fluir da data em que o ofendido tomou ciência de quem foi o autor do delito. Isto está previsto no art. 103 do CP e no art. 38 do CPP. O STF e o STJ entendem que se a gueixa foi ajuizada dentro do Rrazo legal mas perante juízo incompetente, mesmo assim terá sido interromP-ido o P-razo decadencial, ROis o ofendido não ficou inerte. O ofendido pode ainda, renunciar ao direito de ajuizar a ação (queixa), e se o fizer somente a um dos infratores, a todos se estenderá, por força do art. 49 do CPP: Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Frise-se que esta renúncia pode ser expressa ou tácita . Nos termos do art. 104 e seu§ único, do CP: Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime. (Redação dada pela Lei nº 7. 209, de 11. 7.1984) Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 'A renúncia só ode ocorrer antes do ajuizamento da demanda e P.Ode ser exRressa ou tácita. ~ ós o a"uizamento da demanda o CPP: oderá ocorrer é o erdão do ofendid . Nos termos do art. 51 do Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar. A utilização do termo querelado denota que só pode ocorrer o perdão depois de ajuizada a queixa, pois só após este momento há querelante (ofendido) e querelado (autor do crime). Além disso, o .art. 105 do CP fala em "obstar o prosseguimento da ação penal" . Daí se conclui que esta deve ter sido ajuizada: Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O perdão, à semelhança do que ocorre com a renúncia ao direito de queixa, também pode ser expresso ou tácito. No primeiro caso, é simples, decorre de manifestação expressa do querelante no sentido de que perdoa o infrator. No segundo caso, decorre da prática de algum ato incompatível com a intenção de processar o infrator (ex.: Casar-se com o infrator). Nos termos do art. 106 e seu § 1 ° do CP.: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei nº 7. 209, de 11. 7.1984) ( ... ) § 1 o - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 80 O perdão do ofendido deve também deve seguir às seguintes regras: x Deve ser oferecido, no máximo, até o trânsito em julgado da sentença condenatória; x Se concedido a um dos querelados, a todos se estende; x Se um dos ofendidos o conceder, isto não prejudica o direito dos demais ofendidos; x Só produz efeitos em relação ao querelado que o aceitar (trata- se, portanto, de ato bilateral: oferecimento + aceitação) Estas regras estão previstas no art. 106, I, II e III, e seu § 2° do CP: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - se o querelado o recusa, não produz efeito. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) § 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) D) Ação penal privada subsidiária da pública Trata-se de hipótese na qual a ação penal é, na verdade, pública, ou seja, o seu titular é o MP. No entanto, em razão da inércia do MP em oferecer a denúncia no prazo legal (em regra, 15 dias se réu solto, ou 05 dias se réu preso), a lei confere ao ofendido o direito de ajuizar Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 uma ação penal privada (queixa) que substitui a ação penal pública . Esta previsão está contida no art. 29 do CPP: Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Há previsão, ainda, no art. 100, §3º do CP: Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ( ... ) § 30 - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7. 209, de 11. 7.1984) CUIDADO! O STJ entende que se o MP ajuíza a ação penal somente em face de alguns dos acusados, e silencia a respeito dos outros, não há possibilidade de manejo da ação penal privada subsidiária da pública . Por fim, não é admissível o perdão do ofendido na ação penal privada subsidiária da pública, pois se trata de ação originariamente pública, na qual só se admit iu o manejo da ação privada em razão de uma circunstância temporal. Tanto é assim ue o art. 105 do CP. estabelece ue: Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícioscomentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. Ora, se o artigo fala em "crimes em que somente se procede mediante gueixa", exclui desta lista a ação penal privada subsidiária da pública. Na verdade, nenhum dos institutos exclusivos da ação penal privada são admitidos na ação penal privada subsidiária da pública (renúncia, perdão, perempção, etc.), pois aqui temos uma verdadeira ação penal pública, cuja titularidade foi conferida excepcionalmente ao ofendido. E) Ação penal personalíssima Trata-se de modalidade de ação penal privada exclusiva, cuja única diferença é que, nesta hipótese, somente o ofendido (mais ninguém, em hi ótese nenhuma!) poderá ajuizar ação. Assim, se o ofendido fa lecer, nada mais haverá a ser feito, estando extinta a punibilidade, pois a legitimidade não se estende aos sucessores, como acontece nos demais crimes de ação privada. Além disso, se o ofendido é menor, o seu representante não pode ajuizar a demanda. Assim, deve o ofendido aguardar a maioridade para ajuizar a ação penal privada. A única hipótese ainda existente no nosso ordenamento é o crime previsto no art. 236 do CP: Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. V - PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO Quando alguém comete um fato definido como crime, surge para o Estado o poder-dever de punir. Esse direito de punir chama-se ius puniendi. Em regra, todo fato típico, ilícito e praticado por agente culpável, é punível. No entanto, o exercício do ius puniendi encontra limitações de diversas ordens, sendo a principal delas a limitação temporal (prescrição). Desta forma, o Estado deve exercer o ius puniendi da maneira prevista na lei (através do manejo da Ação Penal no processo penal), bem como deve fazê-lo no prazo legal . Para o nosso estudo interessam mais as hipóteses de extinção da punibil idade. Vamos analisá- las então! O art. 107 do CP prevê que: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pela morte do agente; li - pela anistia, graça ou indulto; Ili - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 O primeiro caso é bem simples. Falecendo o agente, extingue-se a punibilidade do crime, pois, como vimos, no Direito Penal vigora o princípio da intranscendência da pena, ou seja, a pena não pode passar da pessoa do criminoso. Assim, com a morte deste, cessa o direito de punir do Estado. A anistia, a graça e o indulto são modalidades muito parecidas de extinção da punibilidade. Entretanto, não se confundem. A anistia exclui o P.róP.rio crime, ou seja, o Estado determina que as condutas praticadas (já praticadas, ou seja, fatos consumados) pelos agentes não sejam consideradas crimes. A anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, e pode ser conferida a qualquer momento (inclusive após a sentença penal condenatória transitada em julgado). EXEMPLO: Determinados policiais militares resolvem fazer greve por melhores salários, condições de trabalho, etc. Na greve, fazem piquetes, acabam coagindo colegas, etc. Tais pessoas estarão praticando crime. Contudo, posteriormente, o Poder Legislativo verifica que são pessoas boas, que agiram no impulso, compelidas pela precária situação da Corporação e, portanto, decide ANISTIÁ-LOS, ou seja, o Poder Público irá "esquecer" que tais crimes foram praticados (aqueles crimes praticados naquelas circunstâncias, ou seja, somente aqueles ali mesmo!). Alguns autores diferenciam a anistia em anistia própria e anistia imprópria. A anistia própria seria aquela concedida ANTES da condenação e anistia imprópria seria aquela concedida APÓS a condenação. Pode, ainda, ser: Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 80 x Irrestrita ou restrita ± Será irrestrita quando se dirigir a todos os agentes. Será restrita quando exigir do agente determinada qualidade específica (ser primário, por exemplo). x Incondicionada ou condicionada ± Será incondicionada quando não impuser nenhuma condição. Será condicionada quando impuser uma condição para sua validade (Como, por exemplo, a reparação do dano causado). x Comum ou especial ± A primeira é destinada a crimes comuns, e a segunda é destinada a crimes políticos. Já a Graça e o indulto são bem mais semelhantes entre si, pois não excluem o FATO criminoso em si, mas apenas extinguem a punibilidade em relação a determinados agentes (podem ser todos), e só podem ser concedidos pelo Presidente da República. EXEMPLO: Imaginemos que, no exemplo da greve dos policiais militares, o Presidente da República assinasse um Decreto concedendo indulto a 150 dos 300 policiais militares envolvidos. Percebam que o fato criminoso QmR�IRL�³HVTXHFLGR´�SHOR�(VWDGR��+RXYH�DSHQDV�D�H[WLQomR�GD�SXQLELOLGDGH� em relação a alguns infratores. Assim, a ANISTIA atinge o FATO (e por via reflexa, a punibilidade). A graça e o indulto atingem DIRETAMENTE A PUNIBILIDADE. A Graça é conferida de maneira individual, e o indulto é conferido coletivamente (a um grupo que se encontre na mesma situação). A anistia só pode ser causa de extinção total da punibilidade (pois, como disse, exclui o próprio crime). Já a Graça e o indulto podem ser parciais. Pode ser extinta a punibilidade, também, pelo fenômeno da abolitio criminis, nos termos do art. 107, III do CP. Como vimos, a abolitio Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 80 criminis ocorre quando surge lei nova que deixa de considerar o fato como crime. CUIDADO! Não confundam abolitio criminis com anistia. A abolitio criminis não se dirige a um fato criminoso específico, já praticado, A abolitio criminis simplesmente faz desaparecer a própria figura típica prevista na Lei, ou seja, a conduta incriminada (o tipo penal) deixa de existir. Pode ocorrer, ainda, de o ofendido, nos crimes de ação penal privada, renunciar ao direito de oferecer queixa, ou conceder o perdão ao acusado. Nesses casos, também estará extinta a punibilidade. A renúncia ao direito de queixa ocorre quando, dentro do prazo de seis meses de que dispõe o ofendido para oferecê-la, este renuncia ao direito, de maneira expressa ou tácita. A renúncia tácita ocorre quando o ofendido pratica algum ato incompatível coma intenção de processar o agente (quando, por exemplo, convida o infrator pra ser seu padrinho de casamento). O perdão, por sua vez, é muito semelhante à renúncia, com a ressalva de que o perdão só pode ser concedido quando já ajuizada a ação penal privada, e que o simples oferecimento do perdão, por si só, não gera a extinção da punibilidade, devendo o agente aceitar o perdão. Ocorrendo a renúncia ao direito de queixa, ou o perdão do ofendido, e sendo este último aceito pelo querelado (autor do fato), estará extinta a punibilidade. Em determinados crimes o Estado confere o perdão ao infrator, por entender que a aplicação da pena não é necessária. É o chamado ³SHUGmR� MXGLFLDO´. É o que ocorre, por exemplo, no caso de homicídio Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 culposo no qual o infrator tenha perdido alguém querido (Lembram-se do caso Herbert Viana?) . Essa hipótese está prevista no art. 121, § 5° do CP: § 50 - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) Então, nesse caso, ocorrendo o perdão judicia l, também estará extinta a punibilidade. Além disso, o art. 120 do CP diz que se houver o perdão judicia l, esta sentença que concede o perdão judicial não é considerada para fins de reincidência (apesar de ser uma sentença condenatória). ~t"º"' atento! PERDÃO DO RENÚNCIA PERDÃO JUDICIAL OFENDIDO Concedido pela Concedida pela Concedido pelo VÍTIMA VÍTIMA Estado (Juiz) Somente nos crimes Somente nos crimes Somente nos casos de ação penal de ação penal previstos em Lei privada privada Depois de ajuizada a Antes do Na sentença ação penal ajuizamento da ação penal Precisa ser aceito Não precisa ser Não precisa ser pelo infrator aceito pelo infrator aceito pelo infrator Nos termos do inciso VI do art. 107, a retratação do agente também é hipótese de extinção da punibilidade, nos casos em gue a lei a admite. Acontece isto, por exemplo, nos crimes de calúnia ou Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 80 difamação, nos quais a lei admite a retratação como causa de extinção da punibilidade, se realizada antes da sentença. Nos termos do art. 143 do CP: Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Há, também, a extinção da punibilidade pela decadência ou pela perempção. A decadência ocorre quando a vítima deixa de ajuizar a ação penal dentro do prazo, ou quando deixa de oferecer a representação dentro do prazo (nos casos de crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação, respectivamente). O prazo é de seis meses a contar da data em que a vítima passa a saber quem foi o autor do fato. A perempção, por sua vez, é a extinção da ação penal privada SHOR� ³GHVOHL[R´� GD� YtWLPD (quando deixa de dar seguimento à ação, deixa de comparecer a alguma ato processual a que estava obrigado, etc.). Está prevista no art. 60 do CPP: Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar- se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 40 de 80 Por fim, temos a clássica e mais comum hipótese de extinção da punibilidade: a PRESCRIÇÃO. A prescrição é a perda do poder de exercer um direito em razão da inércia do seu titular. Ou seja, é o famoso ³FDPDUmR�TXH�GRUPH�D�RQGD�OHYD´� A prescrição pode ser dividida basicamente em duas espécies: Prescrição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão executória. A primeira pode ocorrer quando ainda não há sentença penal condenatória transitada em julgado, e a segunda pode ocorrer somente depois de já haver sentença penal condenatória transitada em julgado. Vamos estudá-las em tópicos separados. A) Prescrição da pretensão punitiva Aqui o Estado ainda não aplicou (em caráter definitivo) uma sanção penal ao agente que praticou a conduta criminosa. Mas qual é o prazo de prescrição? O prazo prescricional varia de crime para crime, e é definido tendo por base a pena máxima estabelecida, em abstrato, para a conduta criminosa. Nos termos do art. 109 do CP: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). Prescrição das penas restritivas de direito Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1.1..7.1.984) Assim, no crime de homicídio simples, por exemplo, para o qual a lei estabelece pena máxima de 20 anos (art. 121 do CP), o prazo prescricional é de 20 anos, pois a pena máxima é superior a 12 anos. O crime de furto simples, por exemplo, (art. 155 do CP) prescreve em oito anos, pois a pena máxima prevista é quatro anos. FIQUE atento! CUIDADO! O prazo de prescrição do crime não é igual à pena máxima a ele estabelecida, mas é calculado através de uma tabela que leva em consideração a pena máxima! Mas professor, quando começa a correr o prazo prescricional? Simples, meus caros. A resposta para esta pergunta está no art. 111 do CP: Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 80 Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984) III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012) Apenas um comentário em relação a este artigo: A regra, aqui, é de que o prazo prescricional comece a fluir no dia em que o crime se consuma. 1 ')Q mais fundo CUIDADO! Lembrem-se de que o crime se considera praticado (tempo do crime) quando ocorre a conduta, e não a consumação. Assim: Tempo do crime - Momento da conduta Início do prazo prescricional - Momento da consumação Prestem atenção para não errarem isso, pois esta é uma pegadinha que pode derrubar vocês no concurso. EXEMPLO: Em 10.01.2010 José atira em Maria, querendo sua morte. Maria vai para o Hospita l e só vem a fa lecer em 15.04.2010. No caso em tela, o tempo do crime é o dia 10.01.2010 (data em que foi praticado o delito). O início do prazo prescriciona l, porém, terá como base o dia 15.04.2010, eis que somente nesta data o delito se consumou . Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 42 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 43 de 80 Como nos crimes tentados não há propriamente consumação (pois não há resultado naturalístico esperado), o prazo prescricional começa a fluir da data em que cessa a atividade criminosa, mesmo critério utilizado para os crimes permanentes. Na hipótese de pena de multa, como calcular o prazo prescricional? Se a multa for prevista ou aplicada isoladamente, o prazo será de dois anos. Porém, se a multa for aplicada ou prevista cumulativamente com a pena de prisão (privativa de liberdade), o prazo de prescrição será o mesmo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Isto é que se extrai do art. 114 do CP: Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) A prescrição dD�SUHWHQVmR�SXQLWLYD�SRGH�VHU�D�³RUGLQiULD´��TXH�p�HVWD� que vimos até agora (e utiliza a pena máxima prevista como base), mas WDPEpP�SRGH�VHU�D�³LQWHUFRUUHQWH´� A prescrição da pretensão punitiva em sua modalidade ³LQWHUFRUUHQWH´ é aquela que ocorre DEPOIS da sentença penal condenatória, quando há trânsito em julgado para a ACUSAÇÃO, mas não para a defesa. Como assim? Imagine que José tenha sido condenado pelo crime de homicídio a 06 anos de reclusão. A acusação não recorre, por entender que a pena está num patamar razoável. A defesa, porém, recorre da VHQWHQoD��1HVWH�FDVR�QyV�WHPRV�R�FKDPDGR�³WUkQVLWR�HP�MXOJDGR�SDUD�D� DFXVDomR´��RX�VHMD��VRPHQWH�D�GHIHVD�SRGH�³VH�GDU�EHP´�GDTXL�SUD�IUHQWH�� Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 44 de 80 já que quando o Tribunal for apreciar o recurso de apelação não poderá prejudicar o réu (recorrente), pelo princípio da non reformatio in pejus. Bom, considerando o exemplo acima, como a defesa não pode ser prejudicada no julgamento de seu recurso, podemos chegar à conclusão de que o máximo de pena que José irá receber será 06 anos (a pena atual). A partir deste momento o prazo prescricional passa a ser calculado tendo como base esta pena aplicada (e não mais a pena máxima em abstrato). Vejam que há uma implicação prática: Neste caso, o prazo prescricional diminui consideravelmente: Antes, o prazo prescricional (ordinário) era de 12 anos (pois a pena máxima é de 20 anos). Agora, o prazo prescricional a ser considerado (intercorrente) será de 12 anos (pois a pena aplicada é de 06 anos. Está entre 04 e 08, nos termos do art. 109, III do CP). Vejamos o art. 110, §1º do CP: Art. 110 (...) § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). A prescrição intercorrente, por sua vez, pode ser: x Superveniente ± Quando ocorre entre o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação e o trânsito em julgado da sentença condenatória em definitivo (tanto para a acusação quanto para defesa). x Retroativa ± Quando, uma vez tendo havido o trânsito em julgado para a acusação, se chega à conclusão de que, naquele Direito Penal -AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo - Aula 05 momento, houve a prescnçao da pretensão punitiva entre a data da denúncia (ou queixa) e a sentença condenatória . Vejamos o esquema : PRESCRIÇÃO PRTENSÀO PUNITIV PRETENSÃO EXECUTÓRIA ORDINÁ (COMU RIA M) -----i INTERCORRENTE C1lcul1da com bue n1 pena máxima prevista em abstrato <;UPERVENIENTE RETROATIVA 1 Entre o tran5lto em J Julgado pilra il acus,1ção e o efetivo transito em julgado 1 Entre o recebimento d11 J denúncia (ou queixa) e a sentença condenatôrla. Cllcul1da com base n1 pena aplicada. Esse é o sistema que vigora atualmente. Antes da Lei 12.234/10 havia uma outra hipótese de prescrição retroativa, que era a que ocorria entre o fato criminoso e o recebimento da denúncia ou queixa. Atua lmente essa hipótese NÃO EXISTE MAI S. Isso significa que não há mais hipótese de ocorrer prescrição entre a data do fato e a data do recebimento da denúncia ou queixa? Não, não é isso que ocorreu . O que não pode mais ocorrer é a prescrição RETROATIVA (ou seja, aquela ca lculada com base na pena Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 45 de 80 Direito Penal ʹ AGU (2015) ADVOGADO DA UNIÃO Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo ʹ Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 46 de 80 aplicada) entre a data do fato e a data do recebimento da denúncia ou queixa. Nada impede, porém, que nesse lapso temporal ocorra a prescrição da pretensão punitiva ordinária (ou comum). CUIDADO! Tal previsão (vedação à prescrição retroativa tendo como marco inicial data anterior ao recebimento da denúncia ou queixa) é muito prejudicial ao réu, pois lhe retira uma possibilidade de ver sua punibilidade extinta. Desta forma, NÃO poderá retroagir para alcançar crimes praticados ANTES de sua entrada em vigora (Em 2010). Assim, aos crimes praticados ANTES da Lei 12.234/10, é possível aplicarmos a prescrição retroativa entre a data da consumação do delito e o recebimento da denúncia ou queixa. Vou utilizar um caso exemplificativo para que possamos esclarecer as diversas hipóteses de prescrição da pretensão punitiva: EXEMPLO: Marcelo pratica o crime
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