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Erradicação do trabalho escravo conteporaneo

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR
CURSO: DIREITO - MATUTINO - FEDERAÇÃO
DISCIPLINA: Direito do Trabalho I
Prof.ª: Adélia Marelim
Aluna: Carolina 
ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Novembro de 2018
Salvador – BA
A erradicação do trabalho escravo é fruto de uma luta iniciada a tempos, crendo assim, precisa-se iniciar tal trabalho a partir de um contexto histórico e dando seu segmento. Assim podendo construir uma sequência de acontecimentos até a então contemporaneidade.
O processo de ocupação das terras brasileiras pelos lusitanos seguiu o modelo escravista, de início escravizaram os índios, contudo tal escravidão não fazia parte do tráfico globalizado dentro da engrenagem do mercantilismo, ou seja, beneficiando apenas o colono local, fato que dificultando para a Coroa portuguesa a cobrança de impostos, mas, adentrando o Brasil a rota do tráfico.
A indignidade da exploração do trabalho escravo ao longo do processo histórico do Brasil sempre sofreu diversas críticas, suscitando campanhas abolicionistas, vigilância por parte das autoridades do Ministério do Trabalho e organismos internacionais. Entretanto, este flagelo contra a dignidade humana apesar da grande evolução da humanidade, ainda persiste no mundo contemporâneo.
O processo de erradicação do trabalho escravo no Brasil foi lento como forma de atender, principalmente, aos interesses das elites rurais do país. Esse processo lento fez com que o Brasil fosse o último país das Américas a abolir o trabalho escravo e evidenciou o poder das elites latifundiárias em obter concessões e fazer com que essa mudança não acontecesse de maneira brusca.
Tivemos como grande auxilio, a Inglaterra, que foi uma contrariadora da elite escravista brasileira, pois defendia a abolição da escravidão dizendo-se defensora da liberdade, contudo, por traz dessa bondade estava o seu forte interesse em tornar os escravos trabalhadores assalariados adquirentes seus produtos. As pressões dos ingleses ocasionaram num acordo em 1826, no qual o Brasil comprometia-se a acabar com o tráfico negreiro em até três anos.
Tal acordo levou ao decreto-lei em 1831, que aprovou o fim do tráfico negreiro e conhecida popularmente como lei “para inglês ver” ou Lei Feijó. Porém, a mesma não se mostrou efetiva, e diante de tal inoperância da Lei Feijó, a Inglaterra adotou medidas mais rígidas, de maneira a forçar o fim do tráfico negreiro no Brasil. Como o governo brasileiro havia manifestado intenção de não renovar acordos de cooperação para acabar com essa prática, a Inglaterra decretou ação da marinha inglesa como força policial no Oceano Atlântico, de aprisionar e atacar navios negreiros, caso fosse necessário. Essa medida foi responsável por aprisionar aproximadamente 400 embarcações negreiras e forçou o Brasil a tomar ações enérgicas para garantir o fim do tráfico negreiro.
Conseguinte a isso, como avanço, em 1850 foi decretada a Lei Eusébio de Queirós, de modo a salvaguardar a soberania e a proibição do tráfico negreiro no país. 
Por sequente, em 1871 entra em vigor a Lei do Ventre Livre, a qual decretava que todo filho de escravo nascido no Brasil a partir de tal período vigente teria sua liberdade garantida ao completar 21 anos. Havia a possibilidade de libertação precoce, aos 8 anos, por parte do senhorio detentor da posse do escravo, em troca uma indenização. 
Seguindo o curso do movimento abolicionista que inçava a nação com mais adeptos e muitos outros intelectuais, surge em 1884 a Lei dos Sexagenários, estabelecendo que todo escravo a partir de 65 anos de idade seria considerado livre. Todavia, essa lei foi considerada uma grande derrota pelos abolicionistas, pois havia pouca probabilidade de alcance de vida e a não garantias de sustento para aqueles que fossem libertos, refletindo, em suma, a delonga do decreto da abolição. Configurando assim, mais uma vitória da elite agrária em retardar a abolição de forma ampla e irrestrita.
Subsequentemente, nesse contexto, surgiu a liberdade no Brasil por meio, da proclamação da Lei Áurea, o “fim da escravidão”. Tal fim podendo ser considerado uma meia verdade, pois, apesar de séculos depois, a mesma persiste na contemporaneidade, camuflada por outros nomes ou aspectos.
O governo brasileiro não criou nenhum mecanismo de garantia a integração do ex-escravo, apesar da desejada e necessária abolição da escravidão, na sociedade brasileira. Conforme enfatiza o historiador Boris Fausto:
[…] a abolição da escravatura não eliminou o problema do negro. A opção pelo trabalhador imigrante, nas áreas regionais mais dinâmicas da economia, e as escassas oportunidades abertas ao ex-escravo, em outras áreas, resultaram em uma profunda desigualdade social da população negra. Fruto em parte do preconceito, essa desigualdade acabou por reforçar o próprio preconceito contra o negro. Sobretudo nas regiões de forte imigração, ele foi considerado um ser inferior, perigoso, vadio e propenso ao crime; mas útil quando subserviente.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013, p. 169.
A população recém liberta foi colocada, apesar de tal avanço, marginalizada socialmente, vivendo sem oportunidades, chances de ascensão estrutural em diversos aspectos, tais como, políticos, econômicos, culturais, trabalhistas, entre outros, desse modo provocando altos níveis de desigualdade, que configuram e evidenciam a sociedade brasileira até atualidade. 
Diversos núcleos coloniais constituídos por imigrantes ao longo do período imperial formaram-se no Brasil. Fazendo assim que o Estado encaminhe-se majoritariamente seus esforços para a grande lavoura. Vivenciando, assim, o projeto de substituição da mão de obra escrava pela mão de obra livre. Não obstante, haviam ressalvas no tocante as dependências das fazendas, pois, muitos imigrantes já chegavam endividados, com os custos do processo imigratório, além dos aumentos decorrentes em função da necessidade de sobrevivência. Ademais, havia também a obrigatoriedade dos imigrantes comprarem os seus alimentos nos armazéns da própria fazenda, que eram superfaturados, atrelando progressivamente aos colonos à dependência financeira em relação aos proprietários da fazenda. Obrigando-os assim a permanecerem nas fazendas até pagarem totalmente suas dívidas, que normalmente se propagavam e se difundiam analogamente, desta forma caracterizando um “trabalho correspondente ao de escravo.
 Indubitavelmente, tal prática de endividar o trabalhador constitui-se numa modalidade de trabalho escravo, visto que, inviabiliza a possibilidade do trabalhador de fazer suas escolhas individuas, bem impede o seu direito de livre locomoção e autonomia da vontade.
Não obstante da predominância locomotora para a zona rural, havia também o deslocamento para as grandes cidades com potencial industrial, as metrópoles daquele período, assim dando início a formação do operariado brasileiro, caracterizado pelo labutador assalariado, que atuava em diversas funções dentro das grandes empresas, e por essa multiplicidade funcional, consistia sem qualificação única e individual. Criando-se mediante a isso, o vislumbramento dos centros urbanos, idealizado como um lugar de oportunidades empregatícias e consequentemente uma provável melhoria de vida.
Com a aceleração da industrialização, da crescente concentração de capital e a formação de grandes monopólios no século XIX, e o emergente crescimento do operariado, ocorreu, por consequência, a criação das relações sociais entre donos das fábricas (exploradores/empregadores) e trabalhadores das fábricas (explorados/empregados) que permearam o dia a dia das indústrias.
O Brasil entrou tardiamente no processo de industrialização, porém não ficou isento das suas mazelas no que tange ao processo de exploração da mão de obra operária, retrocedendo a antiga escravidão, acarretando impactos que vão muito além da utilização de máquinas, de novas formas de organização social pela lógica de lucro, mas, também mudançasnas relações socioeconômicas.
Assim como nas nações europeias, que desenvolveram o processo manufatureiro, no Brasil, também foi submetido ao operário, horas excessivas de trabalho sem direito a descansos e férias, com baixos salários, locais insalubres, entre outras condições indignas. Submetendo o empregado na transformação de sua mão de obra em uma mercadoria vendida a um preço determinado por seu patrão, portanto, inferiorizando o custo da produtividade. Como forma de aumentar os ganhos familiares, as mulheres e crianças trabalhavam da mesma maneira que os homens, nas mesmas proporções indignas, contudo, com o salário de valor muito mais ínfero, ou seja, a mão de obra era ainda mais desvalorizada, constituindo a exploração do ser humano, essencialmente o trabalho escravo. E como o serviço era infimamente e injustamente remunerado, era fundamental a incorporação familiar no meio empregatício, para que pudesse haver uma possibilidade de sobrevivência razoável nos tempos difíceis da lógica capitalista que produzia cada vez mais utilizando do baixo custo de produção. 
Seguindo esse entrecho de abuso do proletariado, desencadeou-se as primeiras revoltas contra os usufruidores de tal serviço. As principais reivindicações canalizavam-se nas melhorias das condições de trabalho (menor jornada, assistência ao trabalhador doente e acidentado), das condições de vida (moradia, educação, alimentação e saúde) e pela normatização e regulamentação dos direitos trabalhistas. Tais revoltas foram sistematizadas baseando-se teoricamente no socialismo científico de Marx e Engels e no anarquismo de Godwin e Bakunin, ambos advindos da Europa. 
Á vista disso, foram estruturados os primeiros sindicatos trabalhistas e, simultaneamente, os trabalhadores foram desenvolvendo uma consciência política e de classe, organizando greves e manifestações de caráter reivindicatório. 
Em função do ininterrupto fluxo histórico, idealizada como consequência da evolução, criou-se o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, harmonizando as relações (trabalhadores X patrões), em oposição à reinante “luta de classes”. Subordinando a organização sindical ao Estado, necessitando de uma prévia autorização oficial para a criação e atuação dos sindicatos. É criada a unicidade e o imposto sindical, a arbitragem por via judicial e a extensão de conquistas para todos (férias anuais, trabalho de mulheres e menores, jornada de 8 horas), assim reduzindo tal conjunção escravocrata e dando melhor qualidade e dignidade de vida ao homem.
Percebe-se então, que o processo de industrialização no Brasil, como em outras partes do mundo, foge aos padrões hoje estabelecidos como de trabalho justo e legal fugindo dos parâmetros fixados pela Constituição Federal, que impõe ao Estado a proteção do bem jurídico tutelado, que é a pessoa humana, com o trabalho digno. O artigo 149 do Código Penal brasileiro, o qual estabelece os elementos que tipificam criminalmente o trabalho análogo ao de escravo e condenam as figuras relativas à escravidão, praticada em formatos contemporâneos de exploração abusiva, em razão da conduta criminosa do agente (empresário), e da Portaria do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial da União que dispõe sobre os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e o crime de plágio para fins de observância em quaisquer fiscalizações procedidas pelo Ministério do Trabalho.
Nesse contexto pós processo industrial e de reorganização do capital, surge um mecanismo econômico onde o recurso passou, então, a movimentar a reestruturação produtiva, introduzindo novos problemas e desafios para o mundo do trabalho, e o Estado, por sua vez, intervinha na economia de forma mediadora, adotando políticas de bem-estar social, estruturando o mercado de trabalho e institucionalizando as relações e condições empregatícias. 
Todavia, este mesmo período evidenciou uma reversão na trajetória geral das ocupações, com fortes sinais de uma progressiva desestruturação do mercado de trabalho, expondo as infrações cometidas contra as leis trabalhistas, salientando a verdadeira situação de retrocesso social e das relações entre explorador e o explorado, que consistiam no abuso dos vínculos e na produção de meios para inferiorizar, desestabilizar, e desqualificar o trabalho ofertado, o indivíduo, e as normas que regem as obrigações por parte do empregador. Assim, negando-lhes o direito a um trabalho justo e exímio, com a devida remuneração apropriada. 
Não é apenas a ausência de liberdade que faz de um trabalhador escravo, e sim a contraposição aos princípios constitucionais, agravando-se com a violação à dignidade da pessoa humana, que é expressamente reconhecida como fundamento do Estado Democrático de Direito (art. 1º, inciso III, da Constituição Federal). Disto, resulta-se na manifestação de contrariedade ao chamado trabalho decente, previsto e exigido também na esfera internacional quando ocorre: jornada exaustiva, trabalho forçado, servidão por dívida e condições degradantes. 
Em face ao exposto, evidencia-se que todo ser humano possui garantias e direitos que são previstos tanto esfera federal, quanto na internacional, a Declaração dos Direitos Humanos revela em seu texto o seguinte:
Artigo 29
Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Identifica-se também, que além de garantias a declaração, impõe limitações para que, os governos se comprometam, juntamente com seus povos, a assegurar a ordem pública e o respeito pelo bem estar social.
Infelizmente, ainda há registros de trabalho escravo em todos os estados brasileiros, sendo majoritariamente verificados na indústria têxtil e nas atividades econômicas desenvolvidas na zona rural. Tradicionalmente o labutador escravo são caracteristicamente, os homens e os imigrantes ilegais, que por falta de opção econômica, e por busca de sustento familiar, são aliciados e submetidos a esse meio para tentar sobreviver. 
O governo brasileiro tem centrado seus esforços para o exterminar o ciclo do trabalho escravo a partir de ações conjuntas que abarquem a prevenção, assistência à vítima, por meio da fiscalização e consequentemente, punição á aquele que foi flagrado ou comprovado utilizando de tal mão de obra. Mas, além dos esforços governamentais, existem organizações sociais dedicadas a difusão de informações educativas com o objetivo de que todo conhecimento subsidiário para a erradicação, denúncia dos agentes violadores, desconstrução do discurso dominante sobre o falso desenvolvimento, entre outros, que embarguem o processo dignificatório do trabalho, sejam disseminadas corretamente. Visto que, o conhecimento preciso e verídico é um grande meio de combater e evitar a ocorrência criminal.
 O art. 626 da CLT diz que “Incumbe às autoridades competentes do Ministério do Trabalho, ou àquelas que exerçam funções delegadas, a fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho”. Mostrando ser uma constatação de que essas medidas estão sendo cumpridas, foi criado o Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) coordenado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, podendo ser entendido como um instrumento eficaz, em resposta à necessidade de se ter um comando centralizado para diagnosticar o problema, garantir a padronização dos procedimentos e supervisão direta das operações pelo órgão central, assegurando o sigilo absoluto na apuração das denúncias e, finalmente, reduzindo as pressões ou ameaças sobre a fiscalização local. Assim combatendo a prática da mãode obra escrava.
 Findando-se então, faz-se necessário que o governo brasileiro continue com as medidas de erradicação do trabalho escravo, e que crie-se a midiatização de informações educacionais contra tal pratica, por parte do mesmo. No entanto, é imprescindível a participação de toda a sociedade para que ocorra a máxima efetividade da inviabilização de tal conduta criminosa. Sempre fortalecendo a ideia de dignidade da pessoa humana aliada ao aspecto laboral.

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