Buscar

Responsabilidade+Civil+do+Estado

Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Quando se fala em responsabilidade do Estado, está se cogitando dos três tipos de funções pelas quais se reparte o poder estatal: a administrativa, a jurisdicional e a legislativa. Fala-se, no entanto, com mais frequência, de responsabilidade resultante de comportamentos da Administração Pública, já que, com relação aos poderes legislativo e judiciário, essa responsabilidade incide em casos excepcionais.
Em qualquer hipótese em que o dano é resultado de comportamentos seja do Executivo, Legislativo ou Judiciário, a responsabilidade é do Estado, pessoa jurídica. Por isso é errado falar responsabilidade da Administração Pública, já que esta não tem personalidade jurídica, não é titular de direitos e obrigações na ordem civil. A capacidade é do Estado e das pessoas jurídicas públicas ou privadas que o representam no exercício de parcela de atribuições estatais. E a responsabilidade é sempre civil, ou seja, de ordem pecuniária.
A responsabilidade é uma categoria jurídica comum ao Direito Privado e ao Direito Público, cabendo-lhe sua estruturação à Teoria Geral do Direito que, abstraindo e generalizando, alcança as formas puras, os modelos jurídicos descompromissados ainda com qualquer dos ramos da ciência do Direito.
O certo é que o Estado sem adentrarmos na Teoria Geral do Direito, e tentarmos vislumbrar a natureza jurídica da responsabilidade civil do Estado, modernamente, responde civilmente pelos atos que, através dos seus servidores ou agentes, pratica em prejuízo de terceiros.
Tanto quanto os particulares é o Estado obrigado a reparar prejuízos que da sua atividade venham a resultar para o patrimônio alheio individual.
Dizemos de tal responsabilidade do Estado, extracontratual, pois não decorre de contrato.
Tal responsabilidade decorre de atos jurídicos, de atos ilícitos, de comportamentos materiais ou de omissão do poder público. O essencial é que haja um dano causado a terceiro por comportamento omissivo ou comissivo de agente do Estado.
Ao contrário do direito privado, em que a responsabilidade exige sempre um ato ilícito (contrário à lei), no direito administrativo ela pode decorrer de atos ou comportamento que, embora lícitos, causem a pessoas determinadas ônus maior do que o imposto aos demais membros da coletividade.
A reparação do dano compreende o dano emergente, isto é, o dano resultante do fato lesivo, e também os lucros cessantes, os honorários advocatícios e os juros de mora, sendo que, em caso de lesão corporal ou morte, abrange também as despesas de tratamento ou de sepultamento e os alimentos, estes devidos aos parentes da vítima.
O Estado pode defender-se no processo judicial indenizatório, pela demonstração da inexistência de relação de causa e efeito entre o fato e o dano alegado pelo autor da ação ou pela prova de que o fato se deveu, no todo ou em parte, à culpa da vítima.
Uma vez condenada e depois de haver transitado em julgado a sentença condenatória (res judicata), cabe ao Estado propor contra os funcionários causadores do dano, a ação regressiva.
Face às noções apresentadas podemos dizer que a responsabilidade civil ou extracontratual do Estado corresponde à obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.
2. DEFINIÇÃO E TIPOS DE RESPONSABILIDADE
Segundo Cretella Júnior: "Responsabilidade é vocábulo que serve para a situação de todo homem a quem, por qualquer titulo, incumbem as conseqüências de um fato danoso."
A responsabilidade pode nascer de contrato recebendo o nome de responsabilidade contratual e nascer fora do contrato corresponde à responsabilidade extra contratual.
Podemos englobar estas responsabilidades em duas esferas: privada e pública. Cretella Júnior ainda afirma: "A responsabilidade pública é a que, se subordina a um regime jurídico de direito exorbitante e derrogatório do direito comum, inconfundível com o regime jurídico de direito privado, que é estudado pelo direito civil."
Podemos observar, ainda, a existência da chamada responsabilidade civil, penal, disciplinar e, segundo outros, também a chamada responsabilidade contábil.
Entretanto, no âmbito do direito público, interessa a responsabilidade do Estado, que só pode ser de um tipo: a responsabilidade civil. Desse modo, temos que o Estado não pode ser responsável penalmente, vez que as pessoas jurídicas não podem ser presas por uma impossibilidade material.
Costuma-se dizer que ocorre a responsabilidade civil do Estado por ato lesivo de seu preposto, que é o servidor público.
Como o Estado é uma abstração, síntese e não soma dos indivíduos que o compõem, os agentes públicos ou servidores Públicos são os que, por ação ou omissão, causam danos a terceiros, o que empenha a responsabilidade civil do Estado preponente, em virtude de ato danoso de seu preposto. A filosofia também na seara pública é a aplicação da velha máxima: o ato do preposto obriga o preponente.
3. FUNDAMENTO
O fundamento da responsabilidade patrimonial do Estado é bipartidário, conforme seja ela decorrente de atos lícitos ou ilícitos. 
No caso dos atos lícitos (construção de um calçadão que impede a utilização de um prédio, construído e regularmente utilizado como garagem), o fundamento é o princípio da distribuição igualitária dos ônus e encargos a que estão sujeitos os administrados. 
Destarte, se o serviço ou a obra é de interesse público, mas, mesmo assim, causa um dano a alguém, toda a comunidade deve responder por ele, e isso se consegue através da indenização. Para essa indenização todos concorrem, inclusive o prejudicado, já que este, como os demais administrados, também paga tributos. No caso dos atos ilícitos (descumprimento da lei), o fundamento é a própria violação da legalidade.
4. EVOLUÇÃO
Atualmente, a responsabilidade civil do Estado é aceita universalmente. Esse consenso é expressado pela doutrina, pela jurisprudência e pela legislação dos povos civilizados. Segundo dito consenso, o Estado tem de recompor o patrimônio diminuído em razão de seus atos, a Administração Pública viveu fases distintas, indo da irresponsabilidade para a responsabilidade com culpa, civil ou administrativa, e desta para a responsabilidade sem culpa, nas modalidades do risco administrativo e do risco integral.
As teorias sobre o tema compreendem: 
	teoria da irresponsabilidade;
	teorias civilistas: dos atos de impérios e de gestão; e teoria da culpa civil ou da responsabilidade subjetiva;
	teorias publicistas: teoria da culpa administrativa ou culpa do serviço público; e teoria do risco integral ou administrativo ou teoria da responsabilidade objetiva.
4.1. Teoria da Irresponsabilidade
Foi adotada na época dos Estados absolutos e repousava fundamentalmente na idéia de soberania onde o Estado dispunha de autoridade incontestável perante o súdito; ele exerce a tutela do direito, não podendo por isso, agir contra ele. Daí os princípio de que o rei não pode errar (the King can do no wrong) e o de que "aquilo que agrada ao príncipe tem força de lei" (quod principi placuit habet legis vigorem). Qualquer responsabilidade atribuída ao Estado significaria colocá-lo no mesmo nível que o súdito, em desrespeito a sua soberania.
Essa teoria logo começou a ser combatida, por sua evidente injustiça; se o Estado deve tutelar o direito, não pode deixar de responder quando, por sua ação ou omissão, causar danos a terceiros, mesmo porque, sendo pessoa jurídica, é titular de direitos e obrigações.
4.2. Teorias Civilistas
Foi no século XIX que a tese da irresponsabilidade ficou superada. Porém, ao admitir-se, inicialmente, a responsabilidade do Estado, adotavam-se os princípios do direito civil, apoiados na idéia de culpa; daí falar-se em teoria civilista da culpa.
Numa primeira fase, distinguia-se, para fins de responsabilidade, os atos de império e os atos de gestão. Os primeirosserias os praticados pela Administração com todas as prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos unilateral e corcitivamente ao particular independentemente de autorização judicial, sendo regidos por um direito especial, exorbitante do direito comum, porque os particulares não podem praticar atos semelhantes; os segundos seriam praticados pela Administração em situação de igualdade com os particulares, para a conservação e desenvolvimentos do patrimônio público e para a gestão de seus serviços; como não difere a posição da Administração e a do particular, aplica-se a ambos o direito comum.
Muitos doutrinadores apegaram-se à doutrina civilista, aceitando a responsabilidade do Estado desde que demonstrada a culpa. Procurava-se equiparar a responsabilidade do Estado à do patrão, ou comitente, pelos atos dos empregados ou prepostos. Era a teoria da culpa civil ou da responsabilidade subjetiva.
A teoria civilista serviu de inspiração ao artigo 15 do Código Civil Brasileiro, que consagrou a teoria da responsabilidade subjetiva do Estado.
4.3. Teorias Publicistas
O Direito francês, foi o pioneiro na teoria publicista, entendendo que a responsabilidade do Estado não pode reger-se pelos princípios do Código Civil, porque se sujeita a regras especiais que variam conforme as necessidades do serviço e a imposição de conciliar os direitos do Estado com os direitos privados.
A partir daí começaram a surgir às teorias publicistas da responsabilidade do Estado: teoria da culpa do serviço ou da culpa administrativa e teoria do risco, desdobrada, por alguns autores, em teoria do risco administrativo e teoria do risco integral.
A teoria da culpa do serviço, também chamada de culpa administrativa, ou teoria do acidente administrativo, procura desvincular a responsabilidade do Estado da idéia de culpa do funcionário. Passou a falar culpa do serviço público.
Distinguia-se, de um lado, a culpa individual do funcionário, pela que ele mesmo respondia, e, de outro, a culpa anônima do serviço público, nesse caso, o funcionário não é identificável e se considera que o serviço funcionou mal; incide, então, a responsabilidade do Estado.
Essa culpa do serviço público ocorre quando: o serviço público não funcionou (omissão), funcionou atrasado ou funcionou mal. Em qualquer das três hipóteses, ocorre a culpa do serviço ou acidente administrativo, incidindo a responsabilidade do Estado independentemente de qualquer apreciação da culpa do funcionário.
Sem abandonar essa teoria, a França passou a adotar, em determinadas hipóteses, a teoria do risco, que serve de fundamento para a responsabilidade objetiva do Estado.
Essa doutrina baseia-se no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais: assim como os benefícios decorrentes da atuação estatal repartem-se por todos, também em prejuízos sofridos por alguns membros da sociedade devem ser repartidos. Quando uma pessoa sofre um ônus maior do que o suportado pelas demais, rompe-se o equilíbrio que necessariamente deve haver entre os encargos sociais; para restabelecer este equilíbrio, o Estado deve indenizar o prejudicado, utilizando recursos do erário público.
Nessa teoria, a idéia de culpa é substituída pela de nexo de causalidade entre o funcionamento do serviço público e o prejuízo sofrido pelo administrado. É indiferente que o serviço público tenha funcionado bem ou mal, de forma regular ou irregular.
É chamada teoria da responsabilidade objetiva, precisamente por prescindir da apreciação dos elementos subjetivos (culpa e dolo); é também chamada teoria do risco, porque parte da idéia de que a atuação estatal envolve um risco de dano, que lhe é inerente. Causado o dano, o Estado responde como se fosse uma empresa de seguro em que os segurados seriam os contribuintes que, pagando os tributos, contribuem para a formação de um patrimônio coletivo.
Segundo Hely Lopes Meirelles a teoria do risco compreende duas modalidades: a do risco administrativo e a do risco integral; a primeira admite (e a segunda não) as causas excludentes da responsabilidade do Estado: culpa da vítima, culpa de terceiros ou força maior.
No entanto, a maior parte da doutrina não faz distinção, considerando as duas expressões - risco integral e risco administrativo - como sinônimos ou falando em risco administrativo como correspondendo ao acidente administrativo. Mesmo os autores que falam em teoria integral admitem as causas excludentes da responsabilidade.
As divergências existentes são mais terminológicas, quanto à maneira de designar as teorias, do que de fundo. Todos parecem concordar em que se trata de responsabilidade objetiva, que implica averiguar se o dano teve como causa o funcionamento de um serviço público, sem interessar se foi regular ou não. Todos também parecem concordar em que algumas circunstâncias excluem ou diminuem a responsabilidade do Estado.
5. A RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO
A teoria da irresponsabilidade do Estado não foi acolhida pelo direito brasileiro; mesmo não havendo normas legais expressas, os nossos tribunais e doutrinadores sempre repudiaram aquela orientação.
As Constituições de 1824 e 1891 não continham disposição que previssem a responsabilidade do Estado; elas previam apenas a responsabilidade do funcionário em decorrência do abuso ou omissão praticados no exercício de suas funções.
Nesse período, contudo, havia leis ordinárias prevendo a responsabilidade do Estado, acolhida pela Jurisprudência como sendo solidária com a dos funcionários; era o caso dos danos causados por estrada de ferro, por colocação de linhas telegráficas, pelos serviços de correio.
Com o Código Civil, promulgado em 1916, entende-se que teria sido adotada a teoria civilista da responsabilidade subjetiva, à vista do disposto em seu artigo 15: "as pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo do modo contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo direito regressivo contra os causadores do dano" .
A expressão “procedendo do modo contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei” conduzia à idéia de que deveria ser demonstrada a culpa do funcionário para que o Estado respondesse. No entanto, a redação imprecisa do dispositivo, permitiu que alguns autores defendessem, na vigência desse dispositivo, a teoria da responsabilidade objetiva.
A Constituição de 1934 acolheu o princípio da responsabilidade solidária entre o Estado e o funcionário. Nos termos do seu art. 171, os funcionários são responsáveis solidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício de seus cargos. A mesma norma se repetiu no artigo 158 da Constituição de 1937.
Com a Constituição de 1946 é que se adotou a teoria da responsabilidade objetiva. De acordo com seu artigo 194, "as pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis pelos danos que seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros". Pelo parágrafo único, "caber-lhes-á ação regressiva contra os funcionários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes".
A Constituição de 1967 repete a norma em seu artigo 105,acrescentando, no parágrafo único, que a ação regressiva cabe em caso de culpa ou dolo, expressão não incluída no preceito da Constituição anterior. Na Emenda n.º 1, de 1969, a norma foi mantida no artigo 107.
A Constituição de 1988, no artigo 37, § 6º, determina que “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privada prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa".
Entende-se que, a partir da Constituição de 1946, ficou consagrada a teoria da responsabilidade objetiva do Estado; parte-se da idéia de que, se o dispositivo só exige culpa ou dolopara o direito de regresso contra o funcionário, é porque não quis fazer a mesma exigência para as pessoas jurídicas.
O art. 43 do Código Civil de 2002 também dispõe sobre a responsabilidade civil do Estado, atribuindo responsabilidade objetiva às pessoas jurídicas de direito público, enquanto que o art. 37, § 6º, da CF, em termos mais amplos, também inclui as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público.
No dispositivo constitucional estão compreendidas duas regras: a da responsabilidade objetiva do Estado e a da responsabilidade subjetiva do funcionário.
A regra da responsabilidade objetiva exige, segundo artigo 37, § 6º, da CF/88:
	que se trate de pessoa jurídica de direito público ou de direito privado prestadora de serviços públicos; a norma constitucional veio por fim às divergências doutrinárias quanto à incidência de responsabilidade objetiva quanto se tratasse de entidades de direito privado prestadores de serviços públicos (fundações governamentais de direito privado, empresas públicas, sociedades de economia mista, empresas permissionárias e concessionárias de serviços públicos), já que mencionadas no artigo 107 da Constituição de 1967, apenas as pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Municípios, Distrito Federal, Territórios e Autarquias);
	que essas entidades prestem serviços públicos, o que exclui as entidades da administração indireta que executem atividade econômica de natureza privada; assim é que, em relação às sociedades de economia mista e empresas públicas, não se aplicará a regra constitucional, mas a responsabilidade disciplinada pelo direito privado, quando não desempenharem serviço público;
	que haja um dano causado a terceiro em decorrência da prestação de serviço público; aqui está o nexo de causa e efeito;
	que o dano seja causado por agente das aludidas pessoas jurídicas, o que abrange todas as categorias, de agentes políticos, administrativos ou particulares em colaboração com a Administração, sem interessar o título sob o qual prestam o serviço;
	que o agente, ao causar o dano, aja nessa qualidade; não basta Ter a qualidade de agente público, pois, ainda que o seja, não acarretará a responsabilidade estatal se, ao causae o dano, não estiver agindo no exercício de suas funções.
Como visto, então, concluímos que a responsabilidade civil se traduz na obrigação de reparar danos patrimoniais, e se exaure com a indenização.
O Douto Hely Lopes Meirelles preleciona:
"Como obrigação meramente patrimonial, a responsabilidade civil independe da criminal e da administrativa, com as quais pode coexistir, sem, todavia, se confundir. Responsabilidade Civil da Administração é, pois, a que impõe à Fazenda, Pública a obrigação de compor o dano causado a terceiros, por agentes públicos, no desempenho de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. É distinta da responsabilidade contratual e da legal".
Não há responsabilidade objetiva nos casos de danos decorrentes de força maior (raio, incêndio, inundação, vendaval) ou oriundos de casos fortuitos, a exemplo dos atos multitudinários, da greve e da grave perturbação da ordem, dado que o Estado e as demais pessoas prestadoras de serviços públicos não os causaram. Por esses danos podem responder subjetivamente, isto é, nos termos da teoria da culpa administrativa. Ainda, não respondem, quer objetiva, quer subjetivamente, pelos furtos, acidentes de trânsito, porque o semáforo enguiçou, e outros, dado que decorrentes do risco comum que os administrados assumem por viverem em sociedade, salvo no caso de furto se praticado por assaltante foragido de uma penitenciária.
O texto constitucional em apreço exige para o ressarcimento uma ação do agente público, dada a utilização do verbo causar ("causarem"). Isto não significa que se há de ter por pressuposto uma atuação do agente público e que não haverá responsabilidade objetiva por atos omissos. Os danos são causados por ação ou omissão do agente público. 
Assegura Hely Lopes Meirelles, em lição ainda hoje válida: "O essencial é que o agente da Administração haja praticado o ato ou omissão administrativa no exercício de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las". 
Dessa forma, não cremos assistir razão aos que entendem haver responsabilidade objetiva somente nos casos de uma ação como de uma omissão, vez que, a inexistência do serviço, o seu mau funcionamento ou a sua ação retardada ensejam responsabilidades por parte do estado. 
O que se exige é que o dano há de ser causado por um agente do Estado ou de qualquer das pessoas privadas prestadoras de serviço público. Assim, não é apenas o funcionário ou o servidor, mas todo aquele que, ligado a essas entidades, cause dano a alguém no exercício de suas competências ou a pretexto de exercê-las. Desse modo, parece-nos que a expressão agente, propositadamente incluída no texto dessa regra, deve ser entendida em seu conteúdo lato, isto é, na condição de gênero, abrigando as duas espécies o administrativo (sem dúvida) e o político. É imprescindível que o agente esteja no desempenho de seu cargo, emprego ou função pública ou entidade a que está vinculado. Sendo assim, não responde o Estado nem as pessoas privadas prestadoras de serviços públicos, por dano causado por alguém que não é seu agente ou que, embora o seja, não está por ocasião do dano, no desempenho das atribuições do seu cargo, função ou emprego público, a exemplo do funcionário que promove quebra-quebra em um bar por ter tido com seu proprietário uma desavença qualquer. Contudo, parece-nos revestido de responsabilidade civil do Estado ato de terceira pessoa estranha aos quadros da administração, que induz a comunidade a erro, dano a entender ser servidor público. É o caso de um ladrão que se veste de policial e a bordo de uma viatura oficial assalta um transeunte. 
Abstraindo-nos dos detalhes, e a título de regra geral, para o lesado, em suma, é indiferente o titulo pelo qual o causador direto do dano esteja vinculado à Administração; o necessário é que se encontre a serviço do Poder Público, embora atue fora ou além de sua competência administrativa. Trata-se, portanto da eleição, por parte do Constitucionalista brasileiro do sistema que acolhe a responsabilidade sem culpa do Estado, sob a modalidade do risco administrativo, consagrando a orientação doutrinária e jurisprudencial que em torno da regra da ordem Constitucional anterior se desenvolveu.
A responsabilidade pode ser civil, Penal, disciplinar, sendo que, a pessoa jurídica de direito público, o Estado apenas pode ser responsabilizado civilmente, ou seja, patrimonialmente, em razão de prejuízos ocasionados por seus agentes.
Logo, o Estado, pessoa jurídica pública, responde civilmente por danos causados pelo agente público, que age ou deixa de agir, quando se prova o dano efetivo e o nexo causal entre o dano e o agente público, causa eficiente do dano.
6. CARACTERÍSTICAS DO DANO INDENIZÁVEL
Só é reparável pela Administração Pública causadora do evento danoso o dano que for certo (possível), especial (individualizado, pois, se generalizado, configuraria ônus comum à vida em sociedade), referente a uma situação protegida pelo Direito (não são protegidos os danos causados a uma atividade ilícita, conforme ensina Celso Antônio Bandeira de Mello), e, acrescentamos nós, de valor economicamente apreciável (não tem sentido a indenização de dano de valor economicamente irrisório).
7. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE
Por certo não se há de admitir sempre a obrigação de indenizar do Estado. Com efeito, o dever de recompor os prejuízos só lhe cabe em razão de comportamentos danosos de seus agentes e, ainda, assim, quando a vítima não concorreu para o dano. 
Desse modo, em duas hipóteses o Estado não tem que indenizar. A primeira diz respeito a acontecimento, imprevisível e irresistível, causado por força externa ao Estado, do tipo do tufão e da nevasca (caso fortuito) ou da greve e da greve perturbação da ordem (força maior).Destarte, demonstrado que o dano é uma decorrência de acontecimentos dessa ordem, não há o Estado que indenizar, dado não ter sido ele o causador do dano, nem agido como dolo ou culpa. 
Todavia, os tribunais vem decidindo que o Estado é responsável, ainda que tendo ocorrido motivo de força maior perante particulares pelo mau funcionamento dos serviços públicos.
A segunda diz respeito aos casos em que a vítima concorreu, parcial ou totalmente, para o evento danoso. Logo, provado que a vítima participou, de algum modo, para o resultado gravoso, exime-se o Estado da obrigação de indenizar, na mesma proporção. Assim, sua responsabilidade será parcial ou total conforme tenha sido a colaboração da vítima no evento.
8. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR ATOS LEGISLATIVOS E JUDICIAIS
Por atos (permissão, licença) ou fatos (atos materiais, a exemplo da construção de obras públicas) administrativos que causem danos a terceiros a regra é a responsabilidade civil do Estado, mas por atos legislativos (leis) e judiciais (sentenças) a regra é a irresponsabilidade. 
Em princípio, o Estado não responde por prejuízos decorrentes de sentença ou de lei, salvo se expressamente imposta tal obrigação por lei ou se oriunda de culpa manifesta no desempenho das funções de julgar e legislar.
A lei e a sentença, atos típicos, respectivamente, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, dificilmente poderão causar dano reparável (certo, especial, anormal, referente a uma situação protegida pelo Direito e de valor economicamente apreciável). 
Com efeito, a lei age de forma geral, abstrata e impessoal e suas determinações constituem ônus generalizados impostos a toda a coletividade. Nesse particular, o que já se viu foi à declaração de responsabilidade patrimonial do Estado por ato baseado em lei declarada, posteriormente, como inconstitucional. Assim, a edição de lei inconstitucional pode obrigar o Estado a reparar os prejuízos dela decorrentes. Fora dessa hipótese, o que se tem é a não obrigação de indenizar.
A sentença não pode propiciar qualquer ressarcimento por eventuais danos que possa acarretar às partes ou a terceiros. Devem ser ressalvadas as hipóteses de condenações pessoais injustas, cuja absolvição é obtida em revisão criminal (CF, art. 59, LXXV). 
Observe-se que nos casos em que o juiz, a exemplo do que prevê o art. 133 do Código de Processo Civil, responde, pessoalmente, por dolo, fraude, recusa, omissão ou retardamento injustificado de atos ou providências de seu ofício, não se tem responsabilidade patrimonial do Estado. A responsabilidade é do juiz, não se transmitindo ao Estado.
9. REPARAÇÃO DO DANO E DIREITO DE REGRESSO
A vítima de ação danosa da Administração Pública pode conseguir a correspondente indenização em sede de procedimento amigável ou Judicial. O primeiro ocorre perante a Administração Pública. O segundo passa-se junto ao Poder Judiciário. Lá se instaura um processo administrativo; aqui, uma ação judicial.
Indenizada a vítima, deve a Administração Pública restaurar seu patrimônio desfalcado com o ressarcimento, à custa dos bens do causador direto do dano, o seu agente. Essa medida (ação de regresso) está expressamente autorizada na parte final do § 6° do art. 37 da Constituição da República.
9.1. Procedimento Amigável
O pedido de indenização amigável processa-se perante a Administração Pública responsável pelo agente público causador do dano e, obviamente, pela indenização. O requerimento administrativo, sempre em termos, deve historiar os fatos e suas conseqüências, comprovando uns e outras sempre que necessário, e trazer o pedido de indenização (o que perdeu, o que deixou de ganhar e o que despendeu), cifrando essas verbas, mediante a apresentação de três orçamentos. Se houver atraso no pagamento, cabem, ainda, juros de mora e correção monetária.
Tal pedido é examinado pelos órgãos públicos, que, pela natureza da solicitação, devem sobre ele manifestar-se (setor de obras, se o dano é decorrente da construção de um edifício público, setor fazendário e setor jurídico). Verificada a correção do direito pleiteado quanto à lei, ao mérito e ao montante, determina a autoridade competente, ordenador primário, o pagamento. Com esse pagamento libera-se de sua responsabilidade a Administração Pública.
O normal é o pagamento da indenização em dinheiro e de uma só vez. Nada impede, por se tratar de composição de interesses disponíveis que a vítima concorde com o recebimento do montante indenizatório em parcelas. Também nada obsta que se possa convencionar o pagamento em bens. A Administração Pública dá à vítima tantos bens, de tal ou qual natureza, que sejam suficientes para a recomposição de seu patrimônio. Pode, ainda, ser pago parte em dinheiro e parte em outros bens (móveis, imóveis, direitos). A vítima, por fim, pode concordar com a restauração do bem. O Poder Público constrói o muro derrubado por veículo de sua propriedade, satisfazendo, com essa medida, a obrigação de indenizar ou mandar consertar, às suas expensas, o bem avariado. Observe-se que a composição amigável pode exigir lei autorizadora, como é o caso da entrega de bem imóvel para satisfazer a indenização.
Esse direito é prescritível. Prescreve em cinco anos (Decreto n.º 20910, 06/01/32), contados da data do evento danoso. Assim, sob pena de prescrição, o pedido deve ser proposto antes do esgotamento desse prazo.
9.2. Procedimento Judicial
A ação de indenização deve ser proposta pela vítima perante a Justiça Estadual, se a causadora for pessoa jurídica integrante das administrações estaduais ou municipais. De outro lado, se a ação for contra a União, à competência é dos juizes federais, ex vi do art. 109, I, da Constituição da República. A ação é de rito ordinário e pode ser ajuizada contra a entidade responsável pelo ressarcimento ou contra seu agente causador do dano. Se dirigida contra a Administração Pública, deve o agente público causador do dano ser denunciado à lide, nos termos do art. 70, III, do Código de Processo Civil, embora nem todos os autores pensem desse modo.
A inicial, em termos, deve preencher os requisitos da legislação processual civil, notadamente o art. 282 do Código de Processo Civil. Provados os fatos, no que respeita ao dano efetivamente suportado pela vítima, e o nexo de causalidade entre o evento lesivo e o dano, garantido está o êxito da demanda, salvo se a Administração Pública demonstrar que a culpa pelo dano é da vítima.
A indenização deve ser paga em dinheiro e de uma só vez, salvo acordo. Transitada em julgado a sentença, procede-se à execução do crédito, observado o que estabelece o art. 100, e seus parágrafos, da Constituição Federal, se for contra a Fazenda Pública ou autarquia. Se for contra entidade governamental procede-se à execução como se fosse contra o particular.
Por último, ressalte-se que esse direito, entre nós, prescreve em cinco anos, contados da data do evento danoso. Desse modo, sob pena de prescrição, o ajuizamento da ação indenizatória, por óbvio, há de ocorrer antes da extinção desse lapso temporal.
9.3. Indenização do Dano
A indenização do dano há de ser completa. Vale dizer, o patrimônio da vítima, com o ressarcimento, deve permanecer inalterado, deve-se retornar ao status quo ante. Seu valor, antes e depois do dano, deve ser o mesmo. A indenização deixa indene o patrimônio do prejudicado. Destarte, deve abranger o que a vítima perdeu, o que despendeu, e o que deixou de ganhar em razão do evento danoso. Além desses valores, agreguem-se a correção monetária e os juros de mora, se houver atraso no pagamento. Se a indenização for em razão de lesão pessoal e morte da vítima, seu valor abrangerá o tratamento, o sepultamento e a prestação alimentícia àqueles a quem a vítima a devia, durante o tempo de sua vida provável. A pensão alimentícia, uma vez fixada, admite reajustamento às condições do custo de vida, conforme têm decidido os nossos Tribunais (RT, 329:257 e 601).
9.4. Ação Regressiva
É a medida judicial, derito ordinário, prevista na parte final do § 6° do art. 37 da Constituição da República, para a Administração Pública reaver o que desembolsou a custa do patrimônio do agente causador do dano que tenha agido com dolo ou culpa. Tal medida deve ser interposta após o trânsito em julgado da sentença que condenou a Administração Pública a ressarcir o prejuízo e o pagamento do valor da indenização. Consoante legislação própria, pode-se estabelecer o prazo máximo para a interposição dessa medida. Na esfera federal esse prazo é de sessenta dias (Lei n. 4.619/65, art. 19). Nesse prazo, salvo motivo justificado, o Procurador da República deve ingressar em juízo com o pedido de regresso, sob pena de falta funcional (citada Lei federal, art. 3°). Motivo justificado pode ser o não pagamento da indenização, dado ser esse pagamento, ao lado da culpa do causador do dano, um dos requisitos da ação de regresso. Se não proposta nesse prazo, isso não significa prescrição do direito. O descumprimento desse prazo pode implica, uma infração administrativa, nunca a perda do direito.
São requisitos dessa ação:
	a condenação da Administração Pública a indenizar, por ato lesivo de seu agente;
	o pagamento do valor da indenização;
	conduta lesiva, dolosa ou culposa do agente causador do dano.
Desse modo, se não houver o pagamento, não há como se justificar o pedido de regresso, mesmo que o funcionário haja atuado com dolo ou culpa, e se não tiver o agente se comportado com dolo ou culpa, não pode vingar o pedido de regresso, mesmo que tenha havido o pagamento. Observe-se que o primeiro requisito pode não existir se a satisfação do prejuízo causado aconteceu por via amigável. Nesse caso, devem ficar cabalmente demonstrados os dois últimos.
O direito de regresso prescreve em três anos. Dentro desse prazo, a ação de regresso pode ser ajuizada contra o agente causador do dano e, na sua falta, contra seus herdeiros ou sucessores. Ademais, pode ser intentada, se não prescrito o direito, após o afastamento (exoneração, demissão, disponibilidade, aposentadoria) do agente causador do dano de seu cargo, emprego ou função pública.
Esse procedimento pode ser levado a efeito na esfera administrativa. De fato, satisfeito o dano, seu agente causador é convocado a recompor o prejuízo que com sua ação, culposa ou dolosa, proporcionou à Administração Pública. Entendendo corretos e justos o procedimento e o valor a ressarcir, o agente público concorda e efetua o pagamento de uma só vez ou em certo número de parcelas, variáveis ou fixas, descontáveis em folha, que, a final, satisfarão o montante do ressarcimento. Essas prestações, consoante fixado em lei, não poderão exceder certos limites. Nenhum limite nesse sentido existe na Consolidação das Leis do Trabalho. Sendo assim, o desconto poderá atingir percentual maior, sem alcançar, contudo, o total do salário.
A responsabilidade civil dos funcionários perante a Fazenda Pública, na ação regressiva, tem por fundamento a culpa ou dolo com que eles se tenham havido em relação ao fato danoso e se estende aos seus herdeiros ou sucessores, não excluindo a responsabilidade penal nem a administrativa, porventura ocorrentes.
A teoria do risco administrativo faz surgir à obrigação de indenizar o dano, do só ato lesivo e injusto causado a vitima pela Administração. Não se discute a culpa da Administração ou de seus agentes; basta que o lesado ou vitima demonstre o fato danoso e injusto ocasionado por ação ou omissão do Poder Público.
	
	
Curso de Direito
Direito Administrativo II – 1/2015
Profa. ROSELAINE DE ALMEIDA PÉRICO

Continue navegando