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Fundamentos de Macroeconomia

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Tópico I
FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA
(Ver “ANOTAÇÕES” abaixo da maioria dos slides)
EAE-0111 
 Fundamentos de Macroeconomia
(Curso de Administração de Empresas-Turma 29)
2º. Semestre 2018
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Vasconcellos, M.A.S.-“Economia Micro e Macro” – Capítulo 8, “Fundamentos de Teoria e Política Macroeconômica”, 6ª. Edição, 2015
Bibliografia 
 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA 
 Conceito de Macroeconomia
A Macroeconomia é o ramo da teoria econômica que estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados nacionais Portanto, estuda o comportamento da economia como um todo.
A parte relativa à determinação e medição das variáveis macroeconômicas é a CONTABILIDADE SOCIAL, que refere-se a valores já efetivados, realizados (como na contabilidade privada). Dizemos que são valores definidos EX POST (a posteriori, após realizados).
A parte do comportamento dos agregados, e de como são afetados pela política econômica, de como são previstos, é a TEORIA MACROECONÔMICA propriamente dita, que considera valores planejados, teóricos, aos quais chamamos de valores EX ANTE (a priori, antecipados). Ou seja, são valores previstos para as variáveis macroeconômicas, ao início de um dado período.
 
 Macroeconomia x Microeconomia
 Macroeconomia: trata dos agregados globais, para o país como um todo: produção, renda emprego, inflação, exportações/importações globais, agregados financeiros, etc.
 Microeconomia: trata de agregados parciais: de um lado, milhares de consumidores de um dado produto, que se constitui na demanda ou procura de mercado; de outro lado, as empresas, que se constitui na oferta de mercado.
Teoria de Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvolvimento que levem à elevação do padrão de vida (bem estar) da coletividade. Trata de questões estruturais, de longo prazo (crescimento da renda per capita, distribuição de renda, evolução tecnológica, qualificação da mão de obra, questões ambientais, etc.). 
Teoria Macroeconômica: preocupa-se mais com as questões conjunturais, de curto prazo, principalmente com o nível de atividade, nível de emprego e nível de preços(inflação). 
 
Teoria Macroeconômica x Teoria de Desenvolvimento Econômico
*
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As variáveis OFERTA DE MOEDA e GASTOS DO GOVERNO são fixadas institucionalmente pelas Autoridades. Significa que essas variáveis dependem das prioridades de política econômica do Governo (que, por sua vez, dependerá da corrente de pensamento econômico predominante nesse Governo). Elas são variáveis exógenas: elas não são determinadas pelo mercado, mas determinam o comportamento do mercado.
O Produto/Renda Nacional inclui o CONSUMO AGREGADO, INVESTIMENTO AGREGADO, GASTOS DO GOVERNO, EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES.
 
Estrutura da Análise Macroeconômica
 POLÍTICA FISCAL : - Política Tributária
 - Política de Gastos Públicos
 POLÍTICA MONETÁRIA: - emissões
 - taxa de juros
 - reservas compulsórias 
 - redesconto
 - open market
 - regulamentação do mercado
 POLÍTICAS EXTERNAS: - Política Cambial 
 - Política Comercial
 POLÍTICA DE RENDAS: - Controles/tabelamentos de preços e salários
 Instrumentos de Política Econômica
 Objetivos de Política Econômica 
O objetivo geral da política econômica é a melhoria contínua do padrão de vida e de bem-estar da coletividade. Especificamente, isso significa: 
 CRESCIMENTO DO NÍVEL DE RENDA E EMPREGO
 É o principal objetivo: crescimento contínuo e estável da renda e do emprego (não “voos de galinha”, como no período Sarney)
 DISTRIBUIÇÃO JUSTA DA RENDA
 Remunerar as pessoas de acordo com sua capacitação, mas também proporcionar melhor qualidade de vida para os que não tiveram oportunidades. 
 ESTABILIZAÇÃO DA TAXA DE INFLAÇÃO 
 Condição necessária para um crescimento econômico contínuo e estável, e para uma melhor distribuição de renda. 
EQUILÍBRIO DO SETOR EXTERNO
 Estabilização da taxa de câmbio e equilíbrio do Balanço de Pagamentos 
 
Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica
(Erros ou Custos?) 
 
Estabilização da inflação x nível de atividade e emprego
Estabilização da inflação x comércio exterior
Crescimento econômico x equidade distributiva
Vejamos alguns exemplos de dilemas de política econômica, através do comportamento da economia brasileira nas últimas décadas.
 
Milagre Econômico 1967/1973 (Governo Militar): a economia cresceu em média 10,2% ao ano (14% em 1973!), mas ocorreu uma piora da distribuição de renda (chamada de Teoria do Bolo pelos críticos). 
 Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica 
(Erros ou Custos?) 
 Plano Real (Governos Itamar/FHC 1993/2002): reduziu a inflação de dois dígitos mensais (quatro dígitos anuais) para um dígito anual, melhorou o poder aquisitivo da população e a distribuição de renda, mas aumentou a vulnerabilidade externa, devido à valorização do real (“âncora cambial”) 
Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica
(Erros ou Custos?) 
 
 Governo Lula em 2003: retomou o controle da inflação (elevada em 2002, devido ao medo do mercado com a eleição do Lula/PT), através principalmente de uma forte elevação da taxa de juros SELIC, o que inibiu o consumo. A inflação foi reduzida, mas aumentou a taxa de desemprego (10,4% da população economicamente ativa nesse ano)(*).
(*) A relação inversa entre taxa de desemprego e taxa de inflação é chamada de trade off (“troca”)
 
Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica
(Erros ou Custos?) 
 Governo Dilma 2011/2015: houve um aumento do padrão de consumo das famílias (a chamada “Nova Matriz Macroeconômica”), conseguiu manter o nível de emprego e de renda até as eleições de 2014. Foi um fator decisivo para sua reeleição, mas à custa de um enorme desequilíbrio fiscal, gerando uma das maiores crises econômicas da história do país. 
 
Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica
(Erros ou Custos?) 
 
Governo Temer (2016/2017): Apesar da constante crise política, a economia vem gradativamente se recuperando, embora a taxa de desemprego, mesmo que decrescente, continua elevada. 
 Conflito de Objetivos de Política Econômica (Erros ou Custos?) 
 
 Observamos que:
a avaliação de que seriam erros ou custos em política econômica é influenciada por juízos de valor, da posição partidária e da corrente de pensamento econômico;
b) Tudo tem um custo em economia: “não existe almoço grátis” ( famosa frase de Milton Friedman-1912/2006, Prêmio Nobel de Economia de 1976)
 
Dilemas (Conflitos) de Objetivos de Política Econômica
(Erros ou Custos?) 
 
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Anotações : 
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 Portanto, a Microeconomia (também chamada de Teoria de Formação de Preços, Teoria de Preços, Análise de Mercados) também trabalha com agregados (agregados parciais), não estudando isoladamente o comportamento de uma empresa específica, o que compete mais à área de Administração de Empresas e Contabilidade.
 Nesse sentido, não discutimos em Microeconomia questões como Gestão de Pessoas (Recursos Humanos), Liderança, Motivação, Marketing, da área de Administração de Empresas, e Análise de Balanços, Demonstrações Financeiras, etc., Contabilidade de Custos, temas desenvolvidos no curso de Ciências Contábeis.
 Entretanto, dada sua formação mais generalista, os economistas tem grande facilidade para especializar-se nas áreas adminsitrativas, contábeis e financeiras das empresas. 
Desenvolvimento Econômico x Crescimento Econômico: o conceito de Crescimento Econômico é mais restrito, puramente econômico, referindo-se apenas ao crescimento do produto (renda) per capita ao longo do tempo. O conceito de Desenvolvimento Econômico é mais abrangente, envolvendo a análise de questões como progresso tecnológico, qualidade de vida, distribuição de renda, educação, qualificação da mão de obra, questões ambientais, etc.
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Anotações : 
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 A Política Fiscal tem um processo de implementação mais lento que as demais políticas, pois depende de: 
 - aprovação do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, Câmara dos Vereadores);
 - obedecer ao Princípio da Anterioridade, pelo qual a maioria das medidas fiscais, envolvendo gastos e principais impostos, só podem ser implementadas a partir do ano seguinte à sua aprovação legal.
 Isso é necessário, porque a Política Fiscal provoca impactos distributivos e na estrutura econômica mais acentuados que as demais políticas, por discriminar regiões, setores e grupos da população (classes de renda). 
 As Políticas Monetária e Cambial, a cargo das Autoridades Monetárias, tem implementação rápida. Decisões sobre taxa de juros ou compulsório são aplicadas de imediato. São as áreas onde os economistas tem maior autonomia de decisão, com menos interferência política, diferentemente da política fiscal. 
 
 As Políticas Externas são de dois tipos: 
 a)Política Cambial (câmbio fixo, bandas cambiais, câmbio flutuante, flutuação “suja”), sob a alçada do Banco Central;
 b)Política Comercial(tarifas, barreiras qualitativas e quantitativas), normalmente comandada pelo Ministério do Planejamento, com apoio dos Ministérios de Relações Exteriores, Agricultura e Indústria e Comércio.
 A Política de Rendas referem-se à intervenção direta do Governo no funcionamento de mercado, através de congelamentos, tabelamentos, fixação de índices de reajustes salariais, de contratos, etc. Normalmente, é utilizada para controlar a inflação, mas também para a fixação do salário mínimo.
 A escolha do objetivo de política econômica é decidida no âmbito do poder político. Aos economistas, cabe levar a cabo a orientação geral dada pelo poder executivo, utilizando os instrumentos de política econômica da forma mais eficiente (minimizando custos, maximizando benefícios). 
 Interessante observar que no Governo Lula, a partir de 2004, com exceção de 2009, o Brasil atingiu os quatro objetivos ao mesmo tempo: crescimento econômico, estabilidade de preços, melhoria distributiva e equilíbrio externo. Anteriormente, nos períodos de maior crescimento econômico (Pós-Guerra, Juscelino, Milagre Econômico 1967/1973), tínhamos ao mesmo tempo altas taxas de inflação e piora da distribuição de renda. No Governo FHC, foram atingidos os objetivos da estabilidade de preços e de melhoria distributiva, com o Plano Real e com programas de transferência de rendas (aumentos reais do salário-mínimo, criação do Bolsa Escola, Vale Gás, Bolsa Alimentação, consolidados e rebatizados no Governo Lula como Bolsa Família), mas com baixas taxas de crescimento (média 2,3% nos 8 anos), e com problemas com reservas cambiais, que levaram ao Brasil a se socorrer do FMI em 1998. 
Importância da estabilidade de preços
 A inflação piora a distribuição de renda, pois ao longo do processo inflacionário, Governo e empresas conseguem se defender, mas não os trabalhadores. O Governo defende-se aumentando impostos e preços públicos. As empresas repassam os aumentos de custos aumentando seus preços, enquanto os trabalhadores só conseguem recuperar parte da perda de seu poder aquisitivo por ocasião do dissídio coletivo de sua categoria. Nesse sentido, a inflação é a pior forma de tributação. (“a inflação é um imposto sobre o pobre”).
 A inflação gera insegurança quanto à taxa de rentabilidade futura dos investimentos para a expansão das empresas, prejudicando o crescimento econômico do país. Uma inflação sob controle é a melhor maneira de crescer, por alargar o horizonte para os agentes da economia planejarem seus negócios.
 Assim, o controle da inflação é uma condição necessária para o crescimento econômico contínuo e estável, com melhoria da distribuição de renda. Entretanto, embora a estabilidade de preços seja uma condição necessária, não é condição suficiente para o crescimento, pois depende também de outros fatores, como as expectativas de mercado, linha de política econômica do governo (desenvolvimentista versus ortodoxa), situação fiscal, estabilidade política, etc.
 
O crescimento econômico pode facilitar a solução de problemas relativos à pobreza, pois os conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo podem ser abrandados quando ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos. Entretanto, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, as metas de crescimento e eqüidade distributiva têm-se mostrado conflitantes, em grande medida devido ao fator educacional, com a maioria da mão-de-obra com baixa qualificação e, portanto, com baixos rendimentos.
Outro conflito gerado por políticas econômicas pode ser observado entre as metas de redução de desemprego e a estabilidade de preços. É fato que, quando o desemprego diminui e a economia aproxima-se da plena utilização de recursos, passam a ocorrer pressões por aumentos de preços e salários, principalmente nos setores fornecedores de insumos básicos (aço, embalagens, matérias-primas). Por outro lado, observa-se que, numa situação recessiva (desemprego elevado), as taxas de inflação tendem a ceder,uma vez que as empresas estarão mais voltadas a desovar seus estoques acumulados e os sindicatos de trabalhadores não estarão tão preocupados em obter salários mais elevados, mas sim com a manutenção do emprego. Essa tendência a uma relação inversa entre inflação e desemprego é denominada na literatura econômica trade-off entre inflação e desemprego, que é um reflexo de uma tendência cíclica da economia, alternando períodos de maior prosperidade com outros mais recessivos.
Outro dilema de política econômica ocorre quando políticas de valorização cambial (redução da taxa de câmbio) são utilizadas para reduzir a inflação. De fato, essa política reduz os custos dos produtos importados em reais, mas reduz ao mesmo tempo a remuneração dos exportadores, podendo levar à uma saída de dólares (importações maiores que exportações, ou déficit da balança comercial), redução das reservas cambiais do país, e aumento da vulnerabilidade externa. 
Esses dilemas são exemplificados a seguir, considerando o comportamento da economia brasileira nas últimas décadas. 
 O “brazilianist” Albert Fishlow, da Universidade da Califórnia (Berkeley) foi quem provocou esse debate, através de um estudo onde os trabalhadores foram divididos em 10 classes de renda por salários-mínimos (dez “decis”, no jargão estatístico), e comprovou a piora na distribuição de renda no período. O estudo dele mostrou também que houve um aumento da renda real em todos os 10 extratos de renda, mas a renda das classes mais altas aumentou proporcionalmente mais do que as de menor renda.
 A partir desse estudo, segundo os críticos (liderados por Maria Conceição Tavares, Celso Furtado, entre outros), o Governo, cujo ministro da Fazenda era Delfim Netto, teria praticado o que ficou conhecido como TEORIA DO BOLO (crescer primeiro, para depois distribuir). 
 A justificativa dada pelo Governo foi que a piora da distribuição de renda deveu-se à escassez de mão de obra qualificada, e maior número de trabalhadores de baixa qualificação, o que teria feito com que, com o crescimento econômico acelerado, e consequente grande aumento da demanda por mão de obra, os mais qualificados (universitários, por exemplo) e de maior nível de renda obtivessem aumentos de rendimentos relativamente maiores do que os demais. Ou seja, todos tiveram aumento de renda, e portanto melhoraram seu padrão de vida, mas os “ricos ficaram mais ricos, e os pobres menos pobres” (como aliás os próprios dados do estudo original de Fishlow já mostravam).
Posteriormente, o economista Carlos Geraldo Langoni, da FGV-RJ, orientado pelo próprio ministro Delfim Netto, contestou o argumento dos críticos. Através de um estudo econométrico, mostrou que a piora da distribuição de renda nesse período deveu-se basicamente às diferenças no grau de educação e qualificação da mão de obra. 
Resumindo: no período do “Milagre”, ocorreu um grande crescimento econômico, com melhoria do padrão de vida dos brasileiros, mas piorou a distribuição de renda.
 A valorização (apreciação) do real foi importante para derrubar a inflação de dois dígitos mensais (e quatro anuais!). A redução da taxa de câmbio ( o dólar chegou a 0,84 reais em 1994) encareceu a moeda nacional, relativamente a outras moedas, estimulou importações, aumentou a concorrência com o produto nacional, pressionando preços para baixo (*). 
 Entretanto, essa valorização do real desestimulou as exportações, tanto para os produtores (oferta de exportações), que passaram a receber menos reais por dólar vendido, como para os compradores externos, que precisavam de mais dólares para comprar produtos brasileiros (demanda por exportações brasileiras). 
 Assim, as importações cresceram mais que as exportações, provocando déficits da balança comercial de 1995 a 2000. Somado com o déficit nas contas de serviços e de rendas (juros da dívida externa, remessa de lucros, pagamento de royalties, etc.), representou uma saída de dólares. Como as reservas cambiais eram relativamente baixas, levou à necessidade de tomada de empréstimos no exterior.
 O déficit externo, e consequente aumento da vulnerabilidade externa, foi o custo de se derrubar a inflação para um dígito anual. Os economistas contrários ao Plano Real (Aloísio Mercadante, Delfim Netto) fizeram muitas críticas, apontando que o plano levaria ao aumento da dependência externa, o que de fato ocorreu, mas não apresentaram alternativas concretas à estratégia adotada pelo governo para controlar a inflação. Delfim Netto mudou de posição posteriormente, e Mercadante nunca mais se manifestou sobre o assunto. 
 Na verdade, a conjuntura internacional na segunda metade dos anos 90 não foi favorável ao Brasil e aos países emergentes em geral. A economia brasileira cresceu bem em 1994 e 1995, mas a inesperada crise dos países emergentes, iniciada com a moratória do México em 1995, seguida pela crise do Sudeste Asiático em 1997/8, moratória da Rússia em 1998/9, crise da Argentina (moratória em 2001, acabou atingindo o Brasil, que teve que recorrer ao FMI ao final de 1998. Essas crises dos países emergentes não foram previstas nem mesmo pelo FMI, que inclusive destacava, em seus relatórios, os bons fundamentos econômicos do México e do Sudeste da Ásia, pouco antes de entrarem em crise em 1995 e 1997, respectivamente.
 Entretanto, o acordo com o FMI não significou o fracasso do Plano Real, pois não invalidou seus resultados positivos (queda da inflação, e consequente melhoria da distribuição de renda, com o aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores), além da melhoria da produtividade industrial e agrícola, proporcionada pela abertura às importações, com a valorização do real.
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(*) Esse “repasse” de variações cambiais sobre as taxas de inflação é chamado de PASS THROUGH ou REPASSE CAMBIAL. Trata-se de uma relação direta: valorizações do real (aumento da taxa de câmbio) tendem a reduzir a inflação, e desvalorizações (redução da taxa de câmbio) tendem a aumentá-la. 
 A manutenção de juros elevados, embora tenha desestimulado o consumo e o investimento em 2003 e aumentado o desemprego, permitiu ao governo recuperar o controle da inflação, que havia se elevado ao final de 2002, em função da instabilidade gerada pelo receio do mercado de que ocorreria uma mudança radical de política econômica, com a vitória do PT (“medo do Lula”). Em 2002, houve uma corrida ao dólar, que provocou um aumento da taxa de câmbio, ou seja, desvalorização do real (o dólar chegou a quase 4 reais). Embora por um lado tenha beneficiado as exportações, por outro elevou o custo dos produtos importados, impactando nos custos de produção, que foram repassados aos preços finais (“pass through”). 
 Em 2003 ocorreu uma relação inversa entre inflação e desemprego. Políticas de estabilização de preços (como elevações dos juros, restrições de crédito, aumento de impostos), com o objetivo de controlar os gastos do setor privado (principalmente o consumo da população), normalmente aumentam o desemprego (*).
 É interessante observar que o Governo Lula cumpriu o que havia prometido na “CARTA AO POVO BRASILEIRO”, que assinou em junho de 2002, quando a crise cambial se acentuou. Apesar de favorito nas pesquisas, o PT, receoso de perder uma eleição praticamente ganha, também se preocupou com a intranquilidade do mercado. Nessa carta, Lula se comprometeu a manter a essência da política econômica do governo anterior (que na campanha eleitoral chamava de “herança maldita”), qual seja:
a) respeitar contratos ( não reestatizar empresas privatizadas no governo FHC, e honrar dívidas interna e externa)
b) preservar a estabilidade de preços, o que no fundo significava manter o chamado tripé metas de inflação + câmbio flutuante + equilíbrio fiscal (gerar superávits primários e manter a Lei de Responsabilidade Fiscal implantada em 2000 no Governo FHC).
- A partir dessa Carta, foi criada paralelamente a figurado “Lulinha Paz e Amor”, contrapondo-se ao “sapo barbudo”, apelido dado por Leonel Brizola. Essa postura “neoliberal” contrariou as teses estabelecidas no Congresso do PT de novembro de 2001, em documento elaborado pelo ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, que pregava: a) a moratória da dívida externa, b) renegociação da dívida interna (no fundo, moratória), c) reestatização de empresas privatizadas no Governo FHC (Telebrás, Vale, Embraer, ferrovias, siderurgia, etc.), e d) controles de preços, dos juros, do câmbio, da remessa de lucros, etc. 
- A adoção de uma política neoliberal no Governo Lula provocou a saída de cerca de 110 economistas do PT em 2003, boa parte filiando-se ao PSOL.
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(*). A relação inversa entre taxas de inflação e taxas de desemprego é chamada em economia de TRADE OFF (“troca”, em inglês). 
A chamada NOVA MATRIZ MACROECONÔMICA consistiu em medidas de estímulo ao consumo das famílias, como redução da taxa de juros, (para 7,25% em outubro de 2012), aumento do crédito dos bancos públicos, desonerações e isenções fiscais, programas sociais, Minha Casa, Minha Vida, aumento dos estudantes beneficiados pelo FIES, PROUNI, PRONATEC, aumentos reais do salário mínimo, salários das estatais e do funcionalismo público. Embora essa denominação tenha sido criada em 2011, esses estímulos ao consumo vinham sendo dados desde 2008, inicialmente como política de defesa contra a crise financeira internacional (política anticíclica, “keynesiana”, como aliás se recomenda em crises daquela magnitude). 
Entretanto, o sucesso desse modelo dependeria da resposta do setor produtivo ( da “OFERTA AGREGADA”) aos estímulos dados aos consumidores ( “DEMANDA AGREGADA”) mas isso não ocorreu (*). O modelo passou a fracassar a partir de 2012, pois a Oferta (o setor produtivo) não acompanhou a Demanda Agregada, pelas seguintes razões:
 -em 2010/2011, o Brasil atingiu praticamente o PRODUTO POTENCIAL(**) da economia, esgotando a capacidade produtiva das empresas e a absorção de mais mão de obra. Maiores taxas de crescimento só poderiam ser obtidas com um aumento da produtividade (produzir mais, com os recursos disponíveis), e não estímulos ao consumo (Matriz). 
 -falta de confiança no Governo Dilma:
 a) insegurança regulatória: perfil estatizante (“brizolista/bolivariano) da ex-presidente, já manifestado desde 2003, quando era Ministra de Minas e Energia; 
 b) manipulações fiscais (“pedaladas”); 
 -instabilidade política: impeachment da ex-presidente, operação Lava-Jato
 -consequências: a partir 2015, desemprego, capacidade ociosa, aumento da inflação, empresas e famílias endividadas, queda dos investimentos 
Mesmo assim, a ex-presidente manteve essa política (ou seja, a “nova matriz”) até as eleições de 2014, e conseguiu preservar o consumo das famílias, o nível de emprego e de renda, mas às custas de um enorme desequilíbrio fiscal e controle de preços, que desestruturam os setores elétrico, petróleo, etanol. Foi uma estratégia que permitiu sua reeleição em 2014, mas que resultaram numa das piores crises econômicas da história do país a partir de 2015. 
 
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(*) A OFERTA AGREGADA é o próprio Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma da produção dos bens e serviços finais produzidos num dado período. A DEMANDA ou PROCURA AGREGADA de bens e serviços é a soma das despesas do país na compra dos produtos de nossas empresas (ou seja, do nosso PIB): despesas de consumo das famílias(C), despesas de investimento das empresas(I), despesas do governo(G), despesas com exportações(X), excluídas as despesas com importações(M): DA = C + I + G + X – M
 (**) PRODUTO POTENCIAL (ou PRODUTO DE PLENO EMPREGO) é o produto máximo de uma economia, quando utiliza praticamente todos seus recursos produtivos (mão de obra, instalações, matérias primas), sem causar inflação. Ocorre quando a oferta agregada iguala a demanda agregada de bens e serviços, com recursos plenamente empregados.
Num curto espaço de tempo, Temer conseguiu implementar medidas que alteraram o cenário econômico para melhor. Para tanto, montou uma competente equipe econômica. Pode ser considerado um dos governos mais reformistas das últimas décadas. 
Principais medidas:
 -Fixação do teto dos gastos públicos pela taxa de inflação do ano anterior (PEC 241)
 -Reforma Trabalhista, modernizando a CLT, priorizando a negociação direta entre empregados e empregadores (o negociado passa a valer sobre o legislado), sem perdas dos direitos trabalhistas (FGTS, 13º., férias), além do fim da obrigatoriedade da contribuição sindical para os trabalhadores (imposto sindical), que levou à redução de processos trabalhistas.
 -Elevação da DRU-Desvinculação de Receitas da União, de 20% para 30%, beneficiando inclusive para Estados e Municípios
 -recuperação administrativa e econômica das empresas estatais
 -mudanças nas leis do petróleo: na política de investimentos da Petrobrás no Pré-Sal, acabou com as exigências de investir 30% no Pré-sal, bem como de 30% de conteúdo nacional nos insumos, o que representou uma das causas da crise financeira da empresa. 
 -política de concessões e privatizações mais favorável aos investidores privados, não fixando uma taxa de retorno máxima a priori para os investidores. Nos governos Lula e Dilma, adotaram a chamada “modicidade tarifária”, que consistiu em manter tarifas baixas com o objetivo de beneficiar mais os consumidores, considerada muito reduzida, sacrificando a rentabilidade do negócio, o que inibiu potenciais investidores.
 -retomada da autonomia e despolitização das Agências Reguladoras
 -mudanças na forma de financiamento do BNDES, privilegiando empresas pequenas e médias
 -redução da meta de inflação de 4,5% para 4,25% em 2018 e 4% em 2019, sinalizando a preocupação do Governo no controle da inflação
Resultados positivos: quedas das taxas de inflação e de juros, recordes nas exportações, recuperação das empresas estatais, retomada do crescimento e do emprego (embora lentamente). Faltou apenas a reforma da Previdência, impedida por razões políticas. Mas Temer pelo menos vai entregar uma economia mais arrumada ao sucessor.
Problemas:
 -taxa de desemprego elevada, desacelerando muito lentamente. No trimestre encerrado em junho de 2018 (abril/maio/junho), a PNAD Contínua fechou em 12,4% da população economicamente ativa, com 13 milhões de desempregados. Em junho de 2017, era de 13,0%, com 13,5 milhões de desempregados. 
 -crises econômicas nos Estados, com destaque para Rio de Janeiro, Minas Gerais, e Rio Grande do Sul 
 - questão fiscal não completamente equacionada: relação dívida/PIB ainda crescendo, embora mais lentamente. 
 
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Anotações : 
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