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A_LEF_e_o_Novo_CPC_reflexoes_e_tendencia

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A LEF e o Novo CPC: Reflexões e Tendências. O que ficou e o que mudará 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2016 
 
 
 
 
 
 
Fernanda Duarte 
Juíza Federal da 3ª Vara Federal de Execuções Fiscais – SJRJ. Presidente da Comissão de 
Aperfeiçoamento e Especialização para Magistrados Federais da EMARF (Escola da 
Magistratura Regional Federal da 2ª. Região). Doutora pela PUC/RJ. Professora Permanente 
do PPGD/UNESA. Professora Adjunta da FD/UFF. Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre 
Direito, Cidadania, Processo e Discurso/PPGD-UNESA. Pesquisadora LAFEP/UFF e do 
INCT-InEAC/UFF. Membro do IBDP. Global Ethics Fellow do Carnegie Council for Ethics 
in International Affairs. 
 
 
Gilson Bomfim 
Procurador da Fazenda Nacional. 
Mestre em Direito pela UERJ 
 
 
Janssen Murayama 
Sócio do escritório Murayama Advogados 
Bacharel em Direito pela UERJ 
Bacharel em Ciências Contábeis pela UERJ 
Mestre em Direito pela UERJ 
Fundador e Diretor do Grupo de Debates Tributários - GDT 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO 6 
APRESENTAÇÃO 7 
PRIMEIRA PARTE: NOTAS INTRODUTÓRIAS E PRINCIPIOLÓGICAS 8 
EXECUÇÃO FISCAL E NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: HAVERÁ UM PROCESSO 
REALMENTE JUSTO? 8 
LUIZ OCTAVIO PINHEIRO CARVALHO DA SILVA 8 
DANIELLA DE JESUS SILVA SCIOLLA 8 
A INFLUÊNCIA DO NOVO CPC NA COBRANÇA JUDICIAL DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. 22 
JULIO CESAR SANTIAGO 22 
NOTAS SOBRE O IMPACTO DO NOVO CPC NO PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL. 32 
BIANCA STAMATO FERNANDES 32 
O PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO E O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO NO NOVO CPC. 47 
WITOLDO HENDRICH JÚNIOR 47 
INTERAÇÕES ENTRE O NOVO CPC E A LEF: A TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES NO 
PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL. 53 
MARCIO GUSTAVO SENRA FARIA 53 
O PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO NA EXECUÇÃO FISCAL: UTOPIA OU REALIDADE? 68 
RONALDO CAMPOS E SILVA 68 
A HOMOLOGAÇÃO DE DECISÕES ESTRANGEIRAS EM EXECUÇÃO FISCAL NO NOVO CPC. 76 
OSCAR VALENTE CARDOSO 76 
SEGUNDA PARTE: PRECEDENTES 84 
OS PRECEDENTES VINCULANTES DO NOVO CPC E SEU IMPACTO NA EXECUÇÃO FISCAL. 84 
ILANA BERTAGNOLLI 84 
PRECEDENTES VINCULATIVOS, DIREITO TRIBUTÁRIO E O NOVO CPC. 100 
LÍVIA PINHEIRO LOPES 100 
O NOVO CPC E A VELHA LEF. 116 
FÁBIO MARTINS DE ANDRADE 116 
TERCEIRA PARTE: MEDIDAS EXECUTIVAS 127 
O CADIN E O CADASTRO DE INADIMPLENTES DO NOVO CPC. 127 
ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES 127 
LARISSA CLARE POCHMANN DA SILVA 127 
A PENHORA "ONLINE" E A CELERIDADE NA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. 134 
DANIEL VIEIRA MARINS 134 
O PODER GERAL DE EXECUÇÃO NO CPC/2015 E A UTILIZAÇÃO DE MEDIDAS EXECUTIVAS 
 
INOMINADAS NOS PROCESSOS DE EXECUÇÃO FISCAL. 143 
LEONARDO GONÇALVES JUZINSKAS 143 
QUARTA PARTE: PRESCRIÇÃO 160 
O NOVO CPC E O RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO EM 
EXECUÇÃO FISCAL. 160 
PEDRO R.M.SCHITTINI 160 
NORMAS DE PRESCRIÇÃO NO NOVO CPC E A PRESCRIÇÃO TRIBUTÁRIA. 171 
DANIELA OLÍMPIO DE OLIVEIRA 171 
QUINTA PARTE: INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA 180 
O REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL E O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA PREVISTO PELO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 180 
GILSON PACHECO BOMFIM 180 
O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, A EXECUÇÃO FISCAL E O INCIDENTE DE 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. 197 
JANE REIS GONÇALVES PEREIRA 197 
BRUNO FILARTIGA HENNING 197 
O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO NO 
PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL. 210 
BRUNNO LORENZONI 210 
SERGIO ANDRÉ ROCHA 210 
O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E A SUA APLICAÇÃO 
AO PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. 225 
CATARINA DE LIMA E SILVA BORZINO 225 
A LEGITIMIDADE PASSIVA NA EXECUÇÃO FISCAL, A ADMISSIBILIDADE DO 
REDIRECIONAMENTO DA AÇÃO E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 235 
MÔNICA BONETTI COUTO 235 
LAÍS SANTANA DA ROCHA SALVETTI TEIXEIRA 235 
O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O IMPACTO NO 
PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL. 246 
MAURICIO TERCIOTTI 246 
RENATO PELUZO 246 
A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO FISCAL CONFORME O 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 262 
ALCEU MAURICIO JUNIOR 262 
FRANCISCO DE ASSIS BASÍLIO DE MORAES 262 
A APLICAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO 
PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL. 288 
 
RENATA GOMES DE ALBUQUERQUE SÁ 288 
SEXTA PARTE: DEFESAS DO EXECUTADO 299 
DEFESA SEM GARANTIA PELO HIPOSSUFICIENTE NA EXECUÇÃO FISCAL E O NOVO CPC. 299 
JANSSEN MURAYAMA 299 
EFEITO SUSPENSIVO DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO 
CIVIL. 314 
MARCO AURÉLIO MELLO 314 
DEFESAS NA EXECUÇÃO FISCAL E O NOVO CPC: UM BREVE INVENTÁRIO. 323 
FERNANDA DUARTE 323 
RAFAEL MARIO IORIO FILHO 323 
HAROLDO LOURENÇO 323 
OS REFLEXOS DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NOS EMBARGOS À EXECUÇÃO 
FISCAL. 337 
LUCIANO GOMES FILIPPO 337 
FRAUDE CONTRA CREDORES EM EMBARGOS DE TERCEIRO NA SISTEMÁTICA DO NOVO CPC.346 
MARCELO DA ROCHA ROSADO 346 
SÉTIMA PARTE: REEXAME NECESSÁRIO 359 
EFEITOS PROCESSUAIS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS: DO REEXAME NECESSÁRIO NAS 
AÇÕES TRIBUTÁRIAS. 359 
ANTÔNIO GUIMARÃES SEPÚLVEDA 359 
IGOR DE LAZARI 359 
O REEXAME NECESSÁRIO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA SEGUNDO O NOVO CÓDIGO DE 
PROCESSO CIVIL. 368 
ANNA CAROLINA BROCHINI NASCIMENTO GOMES 368 
OITAVA PARTE: HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA 379 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA NOS PROCESSOS TRIBUTÁRIOS E O NOVO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: UMA NECESSÁRIA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DOS 
CONTRIBUINTES, DOS ADVOGADOS E DA FAZENDA PÚBLICA NOS LITÍGIOS FISCAIS. 379 
BRENO L. KINGMA 379 
 
 
 
 
 
6 
PREFÁCIO 
 
 
 
 
 
 
7 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
8 
PRIMEIRA PARTE: NOTAS INTRODUTÓRIAS E PRINCIPIOLÓGICAS 
 
EXECUÇÃO FISCAL E NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: HAVERÁ UM 
PROCESSO REALMENTE JUSTO? 
 
Luiz Octavio Pinheiro Carvalho da Silva 
 
Advogado, bacharel em direito pela PUC-Rio, especialista em direito financeiro e 
tributário pela UFF – Universidade Federal Fluminense, especialista em direito público pela 
Fundação Getúlio Vargas. 
 
Daniella de Jesus Silva Sciolla 
 
Advogada, bacharel em direito pela UFF – Universidade Federal Fluminense, 
especialista em direito financeiro e tributário pela UFF – Universidade Federal Fluminense, 
especialista em direito empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. 
 
Sumário: I – Introdução; II – Atividade jurisdicional e diretrizes constitucionais; III – 
Execução fiscal e processo justo; IV – Conclusões; V – Bibliografia. 
 
I - INTRODUÇÃO 
 
O objetivo do presente estudo é pensar sobre a aplicação das normas contidas na Lei 
de Execuções Fiscais
1
, sob a luz do novo Código de Processo Civil
2
 e também das normas 
contidas no art. 5º, da Constituição da República de 1988. Afinal, há um verdadeiro processo 
justo no Brasil? Há meios para alcançá-lo
3
? 
As respostas para as perguntas acima ainda não podem ser respondidas com absoluta 
precisão, pois o direito processual brasileiro passa por profundas mudanças, uma verdadeira 
fase de transição. As mudanças trazidas pelo “novo CPC” visam não só estabelecer novas 
 
1
 Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980. 
2
 Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. 
3
Dada à grande extensão do tema, sobretudo quando analisado sob os aspectos históricos e constitucionais, não 
tem o presente trabalho a intenção de esgotá-lo, mas atentar para a necessidade de aplicação da LEF com vistas9 
regras formais, mas verdadeiramente mudar a forma pela qual o direito processual é aplicado. 
De toda sorte, parece que não há dúvida quanto a um aspecto: o processo não deve ser 
utilizado como um fim em si mesmo, mas como um instrumento apto a possibilitar uma 
atividade jurisdicional mais plena, voltada para o direito material e para a solução de conflitos 
de forma mais justa possível. 
A aplicação das normas processuais sob o prisma da Constituição vem sendo 
exaustivamente debatida nos Tribunais e na doutrina. No entanto, será que estes conceitos 
vêm sendo aplicados nas execuções fiscais? Ou por ser ação de índole executiva privilegia-se 
o procedimento ao invés do (justo) processo? A Lei de Execuções Fiscais deve seguir os 
novos caminhos do direito processual civil? 
Como plano de fundo do presente estudo, deve-se percorrer a devida compreensão 
das garantias fundamentais relativas ao direito processual, sob a luz da teoria do processo 
justo. É o que se passa a tratar. 
 
II – ATIVIDADE JURISDICIONAL E DIRETRIZES CONSTITUCIONAIS 
 
O direito fundamental ao processo justo é comumente apontado como expressão 
colhida das normas constitucionais positivadas no artigo 5º, XXXV (inafastabilidade da 
jurisdição), LIV (devido processo legal), LV (contraditório e ampla defesa) e LXXVIII 
(razoável duração do processo), mas também pode ser extraído de outros dispositivos 
constitucionais, como, por exemplo, o art. 93, inciso IX (necessidade de motivação das 
decisões judiciais). Nítida é a preocupação do Constituinte em conferir à atividade 
jurisdicional a possibilidade de ser verdadeiro instrumento para concretização de direitos. 
O processo judicial deve ser utilizado como meio capaz de impedir a autotutela e o 
exercício livre das próprias razões. E é justamente com base nesta premissa que Eduardo 
Couture afirma que o princípio da inafastabilidade da jurisdição é o “substitutivo civilizado da 
vingança privada”4. A solução de conflitos através do Estado-juiz não só deve substituir a 
autotutela, mas também deve conferir aos litigantes uma solução justa para seus conflitos. 
Os princípios processuais arrolados no artigo 5º da Constituição devem sempre 
 
ao novo CPC. 
4
 Para Couture, o substitutivo civilizado da vingança privada seria o direito de determinado indivíduo se dirigir 
ao Poder Judiciário para buscar uma resposta à solução do seu conflito, de forma que a garantir a eficácia dos 
direitos substanciais. COUTURE, Eduardo Juan. Introducción al estudio del proceso civil. 2ª ed. Buenos Aires: 
 
 
10 
pautar a atuação do Judiciário, sobretudo porque representam as normas de maior conteúdo 
valorativo para o direito processual brasileiro. Não é à toa, portanto, que se encontram no rol 
privilegiado dos direitos e garantias fundamentais e protegidos pelo artigo 60, §4º, inciso IV, 
da Constituição. 
Um dos maiores alicerces do direito processual é o princípio do devido processo 
legal, inovação da Constituição Federal de 1988
5-6-7
, que institui o direito fundamental ao 
processo justo no ordenamento jurídico brasileiro
8-9-10
. É garantido ao processo judicial 
formas instrumentais adequadas, com a finalidade de que cabe ao Estado, ao prestar a 
atividade jurisdicional, entregar a cada um o que é seu
11
. Neste sentido, não há dúvidas de que 
a obediência ao princípio do contraditório permite ao Estado-juiz chegar a uma composição 
mais justa. Necessário conferir a autor e réu paridade de armas
12
 com a finalidade de se 
 
Depalma, 1988, p. 29. 
5
 No direito inglês, o princípio do devido processo legal foi instituído por meio da Magna Charta Libertatum, 
outorgada em 1215 pelo Rei João, conhecido como Rei João Sem-Terra, por não ter recebido nenhum bem 
imóvel como herança. Após o domínio romano e as invasões anglo-saxônicas, a Inglaterra foi invadida por um 
exército de normandos (atual região da França) liderados por Guilherme, “O Conquistador”. O Rei Henrique II, 
primeiro rei da dinastia dos Plantagenetas, que surgem a partir de uma derivação da dinastia normanda, seria 
sucedido por seu filho Ricardo I, conhecido como “Ricardo Coração de Leão”, que se interessava mais pelas 
guerras do que pela administração do país. Quando Ricardo Coração de Leão foi para as Cruzadas, João Sem-
Terra assumiu o trono real como Príncipe Regente e passou a colher inimizades com os nobres ingleses ao criar e 
aumentar impostos. Em resposta, os nobres, juntamente com o clero, redigiram um documento que veio a ser 
denominado Magna Charta Libertatum, que tinha o objetivo principal de limitar o poder arrecadatório do Rei 
João e acabou, paralelamente, criando uma série de liberdades até então ainda não vistas. CASTRO, Flavia 
Lages de. História do direito geral e do Brasil. 6ª ed. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2008, p.182-186. 
6
 Normalmente a origem do princípio do devido processo legal é vinculado à Carta Marga inglesa (item 39), 
quando dispõe que: “Nenhum homem livre poderá ser detido, encarcerado ou privado de seus direitos ou de 
seus bens, nem posto fora da lei, nem desterrado, ou privado da sua posição de qualquer outra forma, nem 
usaremos da força contra ele, nem enviaremos outros que o façam, senão em virtude da sentença judicial de 
seus pares e conforme à lei do Reino” .Transcrição colhida da obra: LOPES, José Reinaldo de Lima; QUEIROZ, 
Rafael Mafei Rabelo; ACCA, Thiago dos Santos. Curso de história do direito. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; 
São Paulo: Método, 2013. p. 39. 
7
 Ruitemberg Nunes Pereira defende que a origem do princípio do due process of law foi introduzido no direito 
inglês quando da invasão normanda capitaneada por Guilherme, “O Conquistador”, sob forte influência do 
direito germânico, influenciando o conceito de “law of the land”. PEREIRA, Ruitemberg Nunes. O princípio do 
devido processo legal substantivo. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 18-27 e 24-45. 
8
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. 2ª ed. São Paulo: RT, 2013, p. 699. 
9
 O due process of law também está previsto, entre outros, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, na 
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, no Pacto Internacional relativo aos Direitos Civis e Políticos, na 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos e, também, nas principais constituições ocidentais. SARLET; 
MARINONI; MITIDIERO, op. cit., 2013, p. 699. 
10
 Gilmar Ferreira Mendes destaca que Constituições anteriores previam implicitamente o princípio do devido 
processo legal: art. 179, XI, da Constituição de 1824; art. 72, § 15, da Constituição de 1891; art. 102, § 8º, da 
Constituição de 1934; art. 141, § 27, da Constituição de 1946. MENDES, Gilmar Ferreira. Comentário ao art. 5º, 
LIV. In: CANOTILHO, JJ. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio 
Luiz (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p 429. 
11
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 411. 
12
 O contraditório já era reconhecido como um dos principais alicerces do direito processual romano. José 
 
 
11 
alcançar a verdade material dos fatos e, assim, alcançar uma atividade jurisdicional mais 
efetiva
13
. 
Não há dúvida alguma, portanto, que o binômio “processo” e “constituição” está 
presente na atividade jurisdicional brasileira. Isto porque o direito brasileiro, a partir daentrada em vigor da Constituição de 1988, passa a tratar a Constituição como verdadeiro 
centro do sistema jurídico. 
O fenômeno da constitucionalização do direito estabelece premissas metodológicas 
inafastáveis para a aplicação das normas infraconstitucionais. A Lei n.º 13.105, de 16 de 
março de 2015, que institui o novo Código de Processo Civil é um claro exemplo. A alta 
carga de importância dada a normas materialmente constitucionais pode ser facilmente notada 
logo no início do CPC, que é inaugurado com o Capítulo I denominado “Das Normas 
Fundamentais do Processo Civil”14. Outro ponto de destaque é a menção expressa a tratados 
internacionais dos quais o Brasil seja signatário
15
. 
Afinal, se o processo civil é um instrumento pelo qual o Estado exerce uma das suas 
principais funções, deve adotar e efetivamente utilizar os valores reconhecidos pelo próprio 
Estado. Não poderia ser diferente com a execução fiscal, apesar de suas peculiaridades. 
 
III – EXECUÇÃO FISCAL E PROCESSO JUSTO 
 
A execução fiscal
16
, assim como qualquer outro processo de execução, sujeita-se à 
teoria geral do processo, bem como aos princípios processuais constitucionais. Apesar de não 
ser uma ação de caráter cognitivo, sem dúvida busca modificar uma realidade material 
existente entre exequente e executado por meio de atos que levam à satisfação do crédito 
tributário inscrito em dívida ativa. 
 
Rogério Cruz e Tucci e Luiz Carlos de Azevedo bem destacam que originariamente o processo de conhecimento 
nasce com a disputa de interesses de cunho privado, onde a resolução do conflito deveria observar a regra do 
contraditório. TUCCI, José Rogério Cruz; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil 
romano. 2ª ed. São Paulo: RT, 2013, p. 44 e 54. 
13
 A filosofia do direito sempre se preocupou em tratar de temas voltados à justiça e a sua concretização. Neste 
contexto, Del Vecchio, ao analisar a classificação de Aristóteles, aduz que a justiça judiciária deve corrigir 
desequilíbrios e a violação de deveres. Conferir: VECCHIO, Giorgio Del. A justiça. São Paulo: Saraiva, 1960, p. 
49. 
14
 Cumpre destacar que o CPC de 1973, editado antes da Constituição de 1988, não apresenta conteúdo 
semelhante. 
15
 Como já mencionado, tratados internacionais reconhecem o devido processo legal. Aqui, destaca-se a 
Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica), que também 
expressamente prevê a necessidade de a sentença ser fundamentada. 
 
 
12 
Apesar de ser uma ação executiva fundamentada em título extrajudicial, que tem 
como objetivo primordial a execução do crédito tributário, a execução fiscal deve se sujeitar 
ao modelo de processo constitucional, com vistas não só à satisfação do crédito inscrito em 
dívida ativa, mas também à proteção das garantias fundamentais. Pensar na execução fiscal 
como mero procedimento é negar a existência do momento vivenciado pelo direito brasileiro, 
que cada vez mais está preocupado com a concretização dos valores positivados na 
Constituição
17
. É negar a existência do Estado Democrático de Direito. 
Um dos primeiros temas a ser enfrentado será a aplicação subsidiária do novo CPC 
às execuções fiscais, por expressa determinação legal, conforme artigo 1º da LEF, e em que 
medida deverá ser aplicado. Afinal, além de trazer novos valores, traz novos procedimentos 
que necessariamente serão aplicados às execuções fiscais. 
A doutrina já debate, por exemplo, acerca da possibilidade do novo CPC reger o 
incidente da desconsideração da personalidade jurídica nas execuções fiscais, 
responsabilizando e atingindo o patrimônio dos sócios da sociedade, sob o prisma dos artigos 
133 e 795 do novo CPC, nos casos em que não são apontados na CDA
18
. Para os que 
entendem que deve ser aplicado o novo incidente, será permitido ao sócio requerer que se 
esgotem os bens da pessoa jurídica, além de discutir a responsabilidade em procedimento 
específico, momento em que as partes serão previamente ouvidas e poderão produzir provas
19
. 
De toda a sorte, nesta perspectiva é estritamente necessário que exequente e 
executado tenham plenas condições de defesa mesmo que se trate de uma ação de cunho 
executivo. Se por um lado, deve-se buscar a satisfação do crédito tributário; do outro, deve-se 
 
16
 Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980. 
17
 Podem ser ressaltados, neste contexto, quatro movimentos que mudaram o paradigma da compreensão da 
atuação do Judiciário na atualidade: neoconstitucionalismo, teoria brasileira da efetividade, judicialização da 
política e ativismo judicial. Muito embora tenham grande carga teórica e interpretativa, em uma análise conjunta 
pode-se dizer que trouxeram uma nova forma de visualizar, interpretar e aplicar a Constituição, colocando-a 
verdadeiramente no vértice da pirâmide como norma fundamental, extraindo ao máximo o seu conteúdo 
metodológico e axiológico, atribuindo ao Judiciário um papel preponderante na sociedade, que reflete na esfera 
de atuação dos Poderes Executivo e Legislativo. 
18
 A jurisprudência do STJ sinaliza que, como a CDA goza de presunção de veracidade e de legitimidade, 
conforme art. 3º, da LEF, a execução fiscal pode ser movida diretamente contra ele, desde que seu nome já 
conste na CDA. (REsp 704.014/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 
06/09/2005, DJ 03/10/2005, p. 210) 
19
 Sobre a possibilidade de aplicação do incidente, conferir as opiniões de Hugo de Brito Machado Segundo e 
Paulo Roberto Lyrio Pimenta. MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito; MACHADO, Raquel Cavalcanti 
Ramos. O novo código de processo civil e o processo tributário. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.) 
Grandes questões atuais de direito tributário. 19º vol. São Paulo: Dialética, 2015, p. 163-178. PIMENTA, Paulo 
Roberto Lyrio. Algumas repercussões do novo código de processo civil no direito material tributário. In: 
ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.) Grandes questões atuais de direito tributário. 19º vol. São Paulo: Dialética, 
2015, p. 374-384. 
 
 
13 
permitir plenas condições de defesa aos executados. É um contrassenso permitir que uma 
execução fiscal busque satisfazer o crédito tributário em detrimento dos direitos do executado, 
se os direitos individuais representam o fundamento das normas do sistema constitucional 
tributário. O direito tributário, quer na seara material, quer na seara processual, deve caminhar 
no sentido de ser um direito mais humano, isonômico e justo
20
. 
Neste contexto, vale dizer que o novo CPC trouxe relevante alteração no que tange à 
fixação de honorários advocatícios, privilegiando a isonomia na relação processual travada no 
âmbito das execuções fiscais. 
Segundo a lei processual vigente, nas causas em que é vencida a Fazenda Pública e 
nas execuções, embargadas ou não, dentre outras situações excepcionais, determina o §4º do 
art. 20 do CPC/73 que os honorários advocatícios serão fixados através de apreciação 
equitativa do juiz, observados os critérios previstos no §3º. Na prática, o que se verifica é que 
na hipótese de a parte vencida ser a Fazenda Pública a condenação em honorários muitas 
vezes se mostra irrisória, ignorando-se, por completo, os mesmos critérios do §3º. Ou seja, a 
faculdade concedida ao juiz de uma fixação de honorários equitativa, na realidade, leva a um 
tratamento claramente anti-isonômico, em que se beneficia o Poder Públicoem detrimento do 
particular. 
Entretanto, segundo o § 3º, do artigo 85, do novo CPC, tal disparidade chegará ao 
fim. É que foi alterada a forma de cálculo dos honorários de sucumbência nas causas em que é 
parte a Fazenda Pública, com a instituição de limites mínimos e máximos de acordo com o 
valor da discussão judicial. Sendo assim, com o novo CPC, o juiz adotará tanto para a 
Fazenda Pública como para o particular, critérios objetivos e idênticos na fixação da 
sucumbência, tornando as condenações, se não mais justas, pelo menos isonômicas, como já 
deveria sê-lo desde sempre. 
Outro ponto de grande relevo é a aplicação dos precedentes, onde se busca 
privilegiar valores imprescindíveis para a atuação do Judiciário como a estabilidade, 
previsibilidade, calculabilidade e uniformidade das decisões judiciais, que são elementos 
 
20
 Ricardo Lobo Torres ensina: “Assiste-se, nesta virada do século XX para o século XXI, à passagem do modelo 
do Estado Social de Direito (ou Estado de Bem-estar Social, Estado da Sociedade Industrial, Estado Pós-
Liberal, etc.) para o Estado Democrático de Direito (ou Estado Subsidiário, Estado da Sociedade de Risco, 
Estado de Segurança, etc.) com a consequente alteração da estrutura da fiscalidade, máxime daquela referente 
aos ingressos contraprestacionais, ou seja, dos tributos e preços públicos exigidos como contrapartida pela 
entrega de prestações de serviço público essencial ou concedido.” TORRES, Ricardo Lobo. A fiscalidade dos 
serviços públicos no estado da sociedade de risco. IN: TÔRRES, Heleno Taveira (coord.). Serviços públicos e 
direito tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 122. 
 
 
14 
caracterizadores do postulado da segurança jurídica
21
. O que o novo CPC deseja é a que os 
precedentes revelem uma jurisprudência estável, íntegra e coerente, conforme menção 
expressa do seu artigo 926
22
. 
Em um momento em que os holofotes estão direcionados para os Tribunais 
Superiores e, principalmente para o Supremo Tribunal Federal com vistas à sua posição como 
verdadeira corte constitucional
23
, deverão as instâncias ordinárias atuar como unidade. 
Deverão permitir que a sociedade, como um todo, enxergue o Judiciário como uma unidade 
apta a permitir a previsibilidade e a calculabilidade das suas decisões. Tudo indica, com 
efeito, que o direito processual tributário brasileiro viverá uma adequação entre civil law e 
common law. 
Podem ser levantadas outras questões que revelam conteúdos tão importantes quanto 
as anteriores, como, por exemplo, a duração razoável do processo, agora previsto como norma 
infraconstitucional (artigo 4º). E, a fim de possibilitar a duração razoável do processo, a 
ordem cronológica de julgamentos (artigo 12), a aplicação supletiva e subsidiária do novo 
CPC aos processos administrativos (artigo 15), como forma de potencializar a atuação das 
administrações tributárias antes de as execuções fiscais serem ajuizadas, e também a 
revogação da regra que previa prazos em quádruplo para as procuradorias tributárias (artigo 
183). 
O tema ganha grandes contornos ao se analisar os relatórios do “Justiça em Números 
2015: ano-base 2014”, do Conselho Nacional de Justiça, no qual se verifica as execuções 
fiscais continuam sendo um dos grandes entraves para o Judiciário, representando cerca de 
75% do total de casos pendentes de execução
24
. Ganha contornos ainda maiores quando, ao se 
analisar o projeto “Supremo em Números”, da Fundação Getúlio Vargas, constata-se que os 
temas de direito tributário representam 218.147 processos em um total de 1.348.750 
 
21
 SILVA, Celso de Albuquerque. Súmula Vinculante: teoria e prática da decisão judicial com base em 
precedentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 10. 
22
 Para privilegiar outras formas de uniformizar a jurisprudência vale mencionar as figuras da súmula vinculante, 
repercussão geral, os recursos repetitivos e o incidente de demandas repetitivas. 
23
 Por todos, conferir: FALCÃO, Joaquim. O Supremo. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, Fundação Getúlio 
Vargas, 2015. 
24
 “Os processos de execução de título extrajudicial fiscal são os grandes responsáveis pela morosidade dos 
processos de execução, tendo em vista que representam aproximadamente 75% do total de casos pendentes de 
execução, com taxa de congestionamento de 91%, sendo que esta taxa se repete tanto no âmbito da Justiça 
Federal, quanto da Justiça Estadual. Desconsiderando tais processos, a taxa de congestionamento do Poder 
Judiciário seria reduzida de 71,4% para 62,8% no ano de 2014 (Gráfico 3.43)”. Justiça em números 2015: ano-
base 2014/Conselho Nacional de Justiça - Brasília: CNJ, 2015, p. 43. Disponível em 
<http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros> Acesso em 24 out. 2015. 
 
 
15 
processos
25. E ganha ar de dramaticidade quando se constata que o “estoque” da dívida ativa 
da União já alcançou o importe de R$ 1,2 trilhão de reais
26
. 
Com este brevíssimo panorama já é possível vislumbrar toda a transformação pela 
qual o direito brasileiro vivencia. O novo Código de Processo Civil é inaugurado com a 
premissa de que o processo civil obedecerá aos valores e às normas fundamentais 
estabelecidas na Constituição
27
. Afinal, o que o novo CPC busca é uma decisão de mérito 
justa
28
. Como corolário do princípio do devido processo legal, a condução de um processo 
judicial deve ser eficiente e efetiva. Ao Judiciário cabe a gestão eficiente e efetiva dos 
processos, de modo que os direitos devem ser, além de reconhecidos, efetivados, pois 
processo devido é processo efetivo
29
. 
 
IV – CONCLUSÕES 
 
A Lei de Execuções Fiscais, datada de 22 de setembro de 1980, foi editada em um 
momento completamente diferente do atual. A partir da sua edição, o mundo passou por 
intensas e significativas transformações, a exemplo do término da Guerra Fria e da queda do 
Muro de Berlim – figuras exponenciais de um mundo dividido após o término da Segunda 
Guerra Mundial -, bem como da chegada da internet, que modificou substancialmente a vida 
de inúmeras pessoas em diversos países. 
Quando da entrada em vigor da LEF, jamais poderia ser imaginada a possibilidade de 
que contribuintes pudessem recolher seus tributos em suas próprias residências, tampouco que 
pudessem consultar processos judiciais por um computador ou tablet. Jamais haveria 
preocupação com um “direito digital”. Se a sociedade vive em constante mutação, cabe ao 
direito acompanhá-la. O direito não pode ser estático e imutável; ao contrário, deve ser 
dinâmico e mutável. 
Tudo fica ainda mais claro quando se recorda da evolução dos direitos 
 
25
 Fundação Getúlio Vargas. Disponível em <http://www.fgv.br/supremoemnumeros/visualizacoes/cfilter-
stf/index.html> Acesso em 24 out. 2015. 
26
 Site da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Relatório de Auditoria Anual de Contas 2013-2014. 
Disponível em <http://sistemas2.cgu.gov.br/relats/uploads/RA201406157> Acesso em 25 out. 2015. 
27
 “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas 
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições 
deste Código.” 
28
 “Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, 
decisão de mérito justa e efetiva.” 
29
 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. 16ª ed. Bahia: Jus Podivm, 2014, p. 80. 
 
 
16 
fundamentais em gerações. Em um primeiro momento (direitos de primeira geração), bastavaque o Estado não interferisse na esfera do particular (“status negativus”); já em um segundo 
momento (direitos de segunda geração), o Estado passou a ter a responsabilidade de 
proporcionar prestações positivas (“status positivus”)30. E, atualmente já se fala em direitos de 
quarta e quinta geração
31
. A relação entre sociedade e direito apresenta um caráter dúplice: o 
direito tem que se adaptar à sociedade, devendo ajustar-se ao meio, e a sociedade deve 
adaptar-se aos padrões de comportamento estabelecidos pelo direito
32
. 
Natural, portanto, que uma lei sofra mutações interpretativas ao longo do tempo, 
especialmente com o advento de uma Constituição notadamente democrática e que representa 
a evolução não só do direito brasileiro, mas também de toda a sociedade. A execução fiscal 
não pode mais ser enxergada como uma simples execução por quantia certa e regida como lei 
isolada do resto do mundo jurídico. Deve ser enxergada e aplicada como uma lei que 
conduzirá atos que modificarão a realidade material entre Fazenda Pública e contribuinte. 
Deve ser encarada como um instrumento apto a possibilitar uma atividade jurisdicional mais 
plena, que busca a solução de conflitos de forma mais justa possível. 
Neste contexto, a análise conjunta entre LEF e o novo CPC não poderá ser realizada 
apenas sob o prisma do princípio da especialidade. A LEF, a partir de agora pelo comando do 
novo CPC, deverá ser ordenada, disciplinada e interpretada consoante os valores e as normas 
fundamentais previstos na Constituição (artigo 1º), pois o Judiciário e as partes devem sempre 
 
30
 Ingo Wolfgang Sarlet critica a nomenclatura “gerações”, pois entende que dá a falsa ideia de substituição 
gradativa de uma geração por outra, quando, em verdade, as “gerações” dos direitos fundamentais são 
cumulativas. Prefere o Autor a expressão “dimensão”. O Autor ainda traz uma proposta de divisão dos direitos 
fundamentais: direitos de defesa e direitos de prestações em sentindo amplo. De forma bem sintetizada, na sua 
concepção direitos de defesa são os direitos individuais contra ingerências do Estado em relação à liberdade 
individual e à propriedade, podendo o particular exigir do Estado uma abstenção de atos que ferem seus direitos 
fundamentais. Os direitos de defesa também podem ser oponíveis em face de particulares, na medida em que 
houver interferência no campo dos direitos fundamentais. Os direitos de prestações, por outro turno, dizem 
respeito aos direitos de prestações positivas do Estado, como direito à proteção (ex.: segurança pública), direitos 
à participação na organização e no procedimento (ex.: plebiscito e referendo), direitos de prestações em sentido 
estrito (direitos sociais de natureza prestacional, como por exemplo direito a um salário mínimo justo). Muito 
embora a comparação demande maior detalhamento, em resumo pode-se dizer que os direitos de defesa possuem 
maior relação com os direitos de primeira geração, enquanto os direitos de prestação possuem uma maior relação 
com os direitos das demais gerações. Conferir: SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: 
uma teoria dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2011, págs. 168-207. 
31
 Paulo Bonavides defende a existência dos direitos de quarta e quinta gerações. Para o Autor, direitos de quarta 
geração são os vinculados à globalização e ao neoliberalismo, como, por exemplo direito à democracia, direitos 
da internet e direito à informação. Destes direitos depende a sociedade no futuro, em sua dimensão máxima de 
universalidade - defende o Autor. Direitos de quinta geração são os referentes à paz, sendo um dos mais notáveis 
progressos da humanidade, ressaltando que se encontra positivado no art. 4º, VI, da CRFB/88. BONAVIDES, 
Paulo. Curso de direito constitucional. 28ª ed. São Paulo: Malheiros, 2013, págs. 589/591 e 598/602. 
 
 
17 
buscar uma decisão de mérito justa e efetiva (artigo 6º). O caminho para uma decisão de 
mérito justa e efetiva deve obrigatoriamente passar pelo postulado do processo justo, que, nas 
palavras de Gilmar Ferreira Mendes, não é só o que está formalmente previsto em lei, mas 
sim o que se entende como a forma mais adequada, proporcional e razoável para se buscar a 
garantia e a proteção aos direitos fundamentais
33
. 
Portanto, a execução fiscal deve ser aplicada como uma via de cobrança justa dos 
créditos públicos, até porque os direitos individuais representam o fundamento de normas 
centrais do sistema constitucional tributário. A quem o sistema tributário brasileiro está 
servindo? O sistema tributário é justo? A cobrança judicial de créditos tributários é justa? 
Estas são algumas das reflexões que devem ser enfrentadas. 
 
V – BIBLIOGRAFIA 
 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
 
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Paulo: Saraiva, 2012. 
 
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Janeiro: Renovar, 2006. 
 
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a construção do novo modelo. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
 
BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional – legitimidade democrática 
e instrumentos de realização.3ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. 
 
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 28ª ed. São Paulo: Malheiros, 
 
32
 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 35ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.pág. 18. 
33
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Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São 
Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 430. 
 
 
18 
2013. 
 
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil, vol. 5: 
recursos, processos e incidentes nos tribunais, sucedâneos recursais: técnicas de controle das 
decisões jurisdicionais. São Paulo: Saraiva, 2014. 
 
CANOTILHO, JJ. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; 
STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 
2013. 
 
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In: PAULSEN, Leandro (coord.). Repercussão geral no recurso extraordinário: estudos em 
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Aires: Depalma, 1988. 
 
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Repercussão geral no recurso extraordinário: estudos em homenagem à Ministra Ellen 
Gracie. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 
 
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. 16ª ed. Bahia: Jus 
Podivm, 2014. 
 
FALCÃO, Joaquim. O Supremo. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, Fundação 
 
 
19 
Getúlio Vargas, 2015. 
 
FERRAZ, Taís Schilling. Repercussão geral – maisque um pressuposto de 
admissibilidade. In: PAULSEN, Leandro (coord.). Repercussão geral no recurso 
extraordinário: estudos em homenagem à Ministra Ellen Gracie. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2011. 
 
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MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO. Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito 
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20 
 
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São Paulo: Saraiva, 2011. 
 
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SOUZA NETO, Claudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: 
teoria, história e métodos de trabalho. 2ª Ed. Belo Horizonte: Fórum, 2014. 
 
 
21 
 
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judicial com base em precedentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 
 
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6ª ed. São Paulo: 
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TUCCI, José Rogério Cruz; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do 
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VECCHIO, Giorgio Del. A justiça. São Paulo: Saraiva, 1960. 
 
ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. 3ª ed. 
São Paulo: RT, 2014. 
 
 
 
22 
 
A INFLUÊNCIA DO NOVO CPC NA COBRANÇA JUDICIAL DO CRÉDITO 
TRIBUTÁRIO.
34
 
 
Julio Cesar Santiago 
 
Doutorando e Mestre em Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento pela 
UERJ. Especialista em Direito Fiscal pela PUC/RJ. Fundador e Diretor da Sociedade 
Brasileira de Direito Tributário – SBDT. Procurador da Fazenda Nacional. 
Professor de Direito e Processo Tributário. 
 
Sumário: 1. Fundamento social e filosófico do modelo cooperativo de processo. 2. 
Fundamento normativo do modelo cooperativo no novo CPC. 3. O Novo CPC e sua 
influência prática nas execuções fiscais. 4. Conclusão. Referências Bibliográficas. 
 
1. FUNDAMENTO SOCIAL E FILOSÓFICO DO MODELO COOPERATIVO 
DE PROCESSO. 
 
Um jovem advogado, a caminho de uma audiência para defender os interesses de um 
cliente, havia comprado um bilhete de primeira classe de trem, em direção à cidade onde o ato 
se realizaria. Em determinado momento do percurso, um outro passageiro, após examinar o 
advogado com olhos de reprovação, se retira do trem e retorna com dois funcionários. 
“Homem de cor”, disse o passageiro, apontando para o advogado. Em seguida, os 
funcionários pediram ao advogado que se retirasse, pois seu lugar seria na terceira classe. Ao 
mostrar seu bilhete de primeira classe, os funcionários retrucaram afirmando que isso pouco 
importava e que, se o advogado não saísse, o retirariam à força. Irritado, o advogado disse que 
não sairia voluntariamente. Foi o sinal para que o jogassem para fora do trem com sua 
bagagem. 
No dia seguinte, novamente insistindo em viajar na primeira classe, o advogado foi 
proibido pelos funcionários, que afirmavam que seu lugar era na terceira classe. Indignado, o 
 
34
 As principais ideias deste artigo foram desenvolvidas a partir de nossa palestra “A influência do Novo CPC no 
processo tributário: em busca de um modelo cooperativo”, proferida no Seminário “O Novo Direito Processual 
 
 
23 
advogado se resignou para não ter que perder a audiência e se sentou na terceira classe. 
Durante o percurso, novamente foi surpreendido. O responsável pelo transporte havia dito que 
a passagem do advogado havia sido cancelada, porque se tratava de “homem de cor”, lhe 
obrigando a viajar na boleia. Preocupado com a audiência, o advogado se dirigiu à boleia. Em 
determinado momento do trajeto, o encarregado, insistindo nas hostilidades, ordenou que o 
advogado viajasse no estribo. Diante da recusa do advogado em sair do lugar, o encarregado, 
um homem muito forte, passou a espancá-lo e xingá-lo, somente cessando após a intervenção 
dos demais passageiros. O ano era 1893. O país, África do Sul. O nome do jovem advogado, 
Gandhi.
35
 Estava criada a doutrina da satyagraha: a chamada para a ação contra a injustiça, 
por meio da não violência, com muita luta,
36
 mas sem briga, onde pensamento, discurso e 
ação formam um todo indissociável. 
Se começássemos agora uma comunidade e decidíssemos quais princípios 
adotaríamos como essenciais para uma vida boa, com certeza um deles seria manifesto na 
norma “é proibido brigar”. É preciso, contudo, muita atenção para um aspecto: briga é 
diferente de conflito. Duas acepções que não são somente distinções terminológicas, mas, 
também, carregam uma substancialidade que deve ser refletida e diferenciada. O conflito está 
ligado à ideia de divergências de opiniões, dentro de um âmbito de racionalidade. Se duas 
pessoas estão com opiniões diversas sobre um bem jurídico o qual desejam, baseadas em 
determinadas razões próprias, estamos diante de um conflito. Na briga é diferente. 
Na briga, as duas pessoas, que antes divergiam em um âmbito de racionalidade, 
agora estão envolvidas emocionalmente. A razão foi perdida. Só resta a emoção, o desejo, o 
irracional, a paixão. Na briga ninguém mais tem razão. As pessoas, na briga, negam suacondição humana e passam a se atacar com o único intuito de vencer, levando, inclusive, a 
atos de violência. Mas na briga não há vencedores. Todos perdem. Na briga, as pessoas se 
tratam como objetos, facilmente descartáveis, quando não possuem mais utilidade, em uma 
parcial lógica cartesiana
37
 na qual, infelizmente, não há sujeitos, mas somente objetos. 
 
Tributário”, realizado em 23 out. 2015 e organizado pelo GDT. 
35
 Cf. COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral, religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2006, p. 387-89. 
36
 A luta, ao contrário da briga é algo desejável. Já dizia o decálogo do advogado, elaborado pelo jurista uruguaio 
Eduardo Couture: “Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, 
luta pela Justiça”. 
37
 Segundo Descartes “em penso logo existo ... as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas 
verdadeiras” (DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado 
Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 61). “Para Descartes, nós – seres pensantes – somos sujeitos. Os 
demais seres são coisas – objetos do nosso pensamento”. (BAUMAN, Zigmunt. A Riqueza de Poucos Beneficia 
 
 
24 
O conflito, todavia, não precisa envolver briga. Não precisa envolver 
competitividade no sentido de quem irá vencer e quem irá perder. Não há, portanto, 
necessidade dessa divisão. O conflito, ao contrário, é essencial para caminharmos em direção 
a uma verdadeira comunidade.
38
 Ele revela que as pessoas pensam de forma diferente. Muitas 
vezes do conflito surgem novas e boas ideias e a comunidade evolui. O conflito, importante 
frisar, pode ser solucionado por um caminho diverso da briga. O conflito pode ser 
solucionado pelo diálogo. Pode ser solucionado pelo consenso. Melhor ainda. O conflito pode 
ser solucionado sem que necessariamente seja preciso um centro de poder impondo uma 
decisão. 
Diante, então, da inevitabilidade do conflito, teríamos que complementar aquele 
princípio “é proibido brigar” com um outro princípio. Se iniciássemos hoje uma nova 
comunidade poderíamos, também, estabelecer o seguinte princípio: “O conflito deverá ser 
solucionado pelo diálogo e consenso”. 
E se não for possível resolver aquele resultado pelo diálogo e consenso, então 
teremos que chamar um terceiro imparcial para decidir. Um outro princípio adotaríamos para 
essa nossa comunidade que estamos criando: “na impossibilidade do diálogo e consenso 
quanto ao resultado, deverá haver o mesmo procedimento quantos aos critérios estabelecidos 
para a decisão por terceiro”. 
As pessoas em conflito terão, portanto, o direito de opinar quanto aos critérios que 
esse terceiro poderá se valer para decidir. Uma coisa é o resultado, outra os critérios para se 
chegar a ele. Se o consenso quanto ao resultado não é possível, teremos que nos esforçar para 
que este consenso seja estabelecido quanto aos critérios. 
Embora aspiremos à igualdade entre todos, essa igualdade nunca vai ser absoluta 
porque somos pessoas diferentes. Pensamos diferentes, temos sentimos diferentes em relação 
aos bens existentes e, por essa razão, divergimos e entramos em conflito. Não significa, 
porém, que precisamos brigar. Podemos resolver os conflitos sem briga. 
O novo CPC, que entrará em vigor em 2016 pretende exatamente seguir essa forma 
 
todos nós? Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 84). 
38
 A ideia de comunidade é um desejo a ser alcançado, funciona como um parâmetro para sabermos se estamos 
perto ou longe desse ideal. Numa comunidade “[p]odemos discutir – mas são discussões amigáveis, pois todos 
estamos tentando tornar nosso estar junto ainda melhor e mais agradável do que até aqui e, embora levados pela 
mesma vontade de melhorar nossa vida em comum, podemos discordar sobre como fazê-lo. Mas nunca 
desejamos má sorte uns aos outros, e podemos estar certos de que os outros à nossa volta nos querem bem” 
(BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Tradução de Plínio Dentzien, 2003, 
p. 8). 
 
 
25 
de pensar. Pretende concretizar um modelo de processo mais consensual, cooperativo, menos 
litigioso e mais democrático.
39
 
 
2. FUNDAMENTO NORMATIVO DO MODELO COOPERATIVO NO NOVO 
CPC. 
 
Se formos ao art. 6º do CPC/2015 veremos a tentativa legislativa de estabelecer um 
modelo cooperativo, por meio de uma norma geral, inspirado em modelo constitucional:
40
 
“Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo 
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.” 
Esse modelo cooperativo impõe diretamente aos sujeitos do processo certos deveres. 
E sujeitos do processo, aqui, devem ser entendidos como as partes, o juiz e todos aqueles que 
de alguma forma possam colaborar para que se chegue a uma decisão final, solucionando o 
conflito. É muito importante, portanto, uma observação: o juiz é colocado como um 
colaborador da relação processual. Ele deixa de ser a figura central e principal e passa a ser 
um sujeito do processo com atribuições definidas, mas sem aquela imagem triangular que 
estávamos acostumados a deduzir do CPC anterior, em que o juiz era posto no vértice 
superior, impondo uma decisão. 
Não são somente as partes e os servidores e quem mais participe do processo que 
colaboram com o Juiz. Este juiz também é um sujeito processual, e por isso, tem o dever de 
colaborar com os demais sujeitos em busca de uma decisão em tempo razoável, justa e 
efetiva. O novo CPC horizontaliza a importância dos sujeitos do processo. O que os 
diferencia, portanto, são as funções normativas atribuídas a cada um deles. 
É o fim normativo da visão estatalista da figura judicial, como detentor do poder de 
império e, somente por isso, dotado de razão. A sentença é mais um dos muitos atos de 
colaboração determinados normativamente que precisam ser justificados. Não é mais 
importante que outras participações no processo. A função do juiz, embora relevante, não é 
mais importante na relação processual cooperativa do que as dos demais sujeitos do processo. 
Todas são importantes para que se tenha uma decisão justa, efetiva e proferida em 
 
39
 Cf. NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Processo e República: uma relação necessária. RBDPRO, n. 88, 
out./dez., 2014, p. 275-281. 
40
 Cf. BUENO, Cassio Scarpinella Bueno. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 
45. 
 
 
26 
colaboração e, por essa razão, merecem igual consideração e respeito. 
É preciso deixar claro, porém, que essa visão não diminui em nada a importância do 
judiciário e do juiz para a dinâmica do processo. Ao contrário, somente reforça essa 
relevância, decorrente da percepção que se trata de uma função que deve integrar uma 
comunidade de trabalho,
41
 composta por todos os sujeitos do processo. 
O ativismo judicial foi muito importante em um período em que diversos direitos 
sociais não estavam sendo cumpridos pelos governantes, no pós-Guerra. Foi o momento da 
“socialização processual”, com a superação do período liberal, em que o juiz era inerte e 
apenas observava o combate entra as partes.
42
 Esse juiz inerte, do período liberal, exercia todo 
o seu poder de império no momento da sentença, quando analisava o que havia sido 
produzido pelas partes ao longo do processo. Daí a visãotriangular do processo. 
É preciso, então, uma mudança de mentalidade dos sujeitos do processo – 
advogados, partes, servidores, peritos, etc. - para que percebam o espaço que ocupam nessa 
relação jurídica plural e democrática denominada processo. É preciso que estejam atentos ao 
real objetivo dessa relação processual que é solucionar o conflito em tempo razoável e pelo 
modo mais justo e efetivo possível. 
A doutrina costuma fundamentar o modelo cooperativo numa tomada de posição em 
relação ao princípio do contraditório, percebendo-o como um princípio realmente capaz de 
permitir que os sujeitos do processo influenciem efetivamente a tomada de decisão. A tomada 
de posição do CPC é tão forte em relação a isso que, mesmo nas questões em que o 
magistrado poderia decidir de ofício, ele está obrigado a dar oportunidade às partes para se 
manifestarem, conforme expresso no art. 10 do CPC.
43
 
A litigiosidade não serve ao processo.
44
 Ela causa sofrimento, aborrecimento, 
inimizades e, ainda, custa muito dinheiro aos cofres públicos.
45
 O novo CPC, portanto, pode 
 
41
 Cf. JÚNIOR, Humberto Theodoro et al. Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, p. 70. 
42
 Cf. JÚNIOR, Humberto Theodoro. Op. cit., p. 72-73. 
43
 CPC/2015, art. 10: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito 
do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual 
deva decidir de ofício”. 
44
 Só para ilustrar, em 2014, a Procuradoria da Fazenda Nacional divulgou o seu boletim “PGFN em Números” 
no qual constava a informação de que havia 6.887.837 processos judiciais em tramitação, em que figurava como 
parte. Em meados de 2015, em novo comunicado, já havia 7.485.097 processos. (“PGFN em Números”. 
Disponível em http://www.pgfn.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/pgfn-em-numeros-2014/pgfn-
em-numeros. Acesso em 30 out. 2015). 
45
 O CNJ divulgou em 2014 relatório em que revela que estão em curso 95 milhões de processos judiciais no 
Brasil. De acordo, ainda, com o relatório, o total gasto pelo Poder Judiciário superou a cifra de 61 bilhões de 
 
 
27 
contribuir muito para a contenção da litigiosidade, se os princípios que adota forem 
observados. 
 
3. O NOVO CPC E SUA INFLUÊNCIA PRÁTICA NAS EXECUÇÕES 
FISCAIS. 
 
Como toda essa forma de pensar se aplicaria ao processo tributário, mais 
especificamente à execução fiscal, para delimitarmos a temática à cobrança dos créditos 
tributários? 
O STJ, quando tratou do tema da influência do CPC nas execuções ficais, se valeu da 
máxima do direito “Lei especial derroga lei geral”, resolvendo o aparente conflito 
normativo.
46
 Talvez, atualmente, a situação não possa ser resolvida dessa forma, com a 
entrada em vigor do novo CPC. 
Não é só um conflito normativo que teremos. Nós teremos um conflito 
principiológico. Teremos dois modelos de processo bem diferentes, que nos levam a 
questionar qual dos dois atenderia melhor o princípio constitucional do devido processo legal. 
O atual CPC, o de 1973, tem características de um modelo de processo adversarial, 
ou seja, ele se desenvolve em torno do conflito entre dois adversários, que tentam convencer o 
juiz, cuja principal função é decidir o caso. Prepondera aqui o princípio dispositivo,
47
 no 
sentido de ser conferida às partes as tarefas de condução e instrução do processo,
48
 embora 
este modelo no CPC atual tenha sido temperado em virtude da crítica à inércia do juiz, bem 
como pela fase da “socialização do processo”, na qual o juiz passou a ser mais ativo, daí o 
ativismo judicial. 
A execução fiscal, fundamentada na Lei 6.830/80, é inspirada em um modelo de 
processo inquisitorial, onde o juiz é o grande protagonista do processo, responsável pela 
maior parte dos atos processuais. No art. 7º, a LEF determina que o despacho do juiz que 
 
reais. (Cf. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília, 2014. Disponível em 
<www.cnj.jus.br>. Acesso em 25 nov. 2014.) 
46
 Cf. REsp 1138202/ES, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2009, DJe 
01/02/2010. Em julgado posterior, a mesma Seção aplicou a “Teoria do Diálogo das Fontes” para solucionar o 
aparente conflito, revelando tendência em alterar o método de solução de conflitos entre CPC e Execução Fiscal 
(REsp 1184765/PA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 03/12/2010). 
47
 Cf. DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 15. ed. V1. Salvador: Juspodium, 2013, p. 90. 
48
 Cf. DIDIER JR, Fredie. “Princípio da Cooperação”. In: SOUZA JUNIOR, Antonio Carlos R. de; CUNHA, 
Leonardo Carneiro (coord.). Novo CPC e o Processo Tributário. São Paulo: Foco Fiscal, 2015, p. 113-127. 
 
 
28 
deferir a inicial importa em ordem para citar o executado, penhorar seus bens se ele não pagar 
a dívida, arrestar os bens, se ele não for encontrado, registrá-los e avaliá-los. Mas também, 
por conta, dos embargos à execução, esse sistema de cobrança do crédito tributário acaba 
tendo uma inspiração adversarial. A cobrança dos créditos tributários, então, acaba por ter 
essa feição adversarial, ainda mais se considerarmos, nesse contexto, a exceção de pré-
executividade, enquanto criação jurisprudencial. 
Com a entrada em vigor do novo CPC nós teremos um novo modelo de processo. 
Nós teremos um modelo cooperativo. Um modelo constitucional de processo. Precisamos, 
então, refletir como essas ideias influenciarão a cobrança dos créditos públicos. Como essas 
ideias influenciarão a forma adversarial e inquisitorial que temos hoje na cobrança dos 
créditos tributários. 
A máxima utilizada pelo STJ não vai ser suficiente para barrar a influência do novo 
CPC nas execuções fiscais. Isso porque o novo CPC apenas consolida a ideia, conformada no 
seio social, de ser uma relação processual menos litigiosa, cooperativa, mais consensual e 
democrática. 
Vamos imaginar, por exemplo, que uma determinada empresa esteja devendo em 
imposto de renda pessoa jurídica a quantia de 20 milhões em diversas execuções não reunidas. 
Após citada e não quitado o débito em uma delas, o oficial de justiça certifica nos autos que 
não encontrou bens suficientes à garantia da dívida. Ao se tentar a penhora de dinheiro em 
conta bancária também não se obteve sucesso. O Procurador, então, pede a penhora de 
percentual do faturamento. Pede para penhorar o que a empresa ainda não destinou. Essa 
penhora de faturamento pode decretar o fim da empresa, dependendo da forma que for 
concretizada. 
O STJ entende que a penhora de percentual do faturamento é perfeitamente admitida 
em execução fiscal.
49
 O fundamento é o art. 655, VII e § 3º do CPC ainda em vigor.
50
 O novo 
CPC trata do tema no art. 866 e seguintes, em subseção própria, e frisa a excepcionalidade da 
medida, estabelecendo alguns critérios: não tiver outros bens penhoráveis ou se os bens 
localizados forem de difícil alienação ou insuficientes para saldar o crédito executado; o 
 
49
 Em um dos julgados que chegaram ao STJ, o percentual da penhora de faturamento havia sido de 20% (REsp 
1116287/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/12/2009, DJe 04/02/2010). 
50
 CPC/1973, art. 655, § 3º: “Na penhora de percentual do faturamento da empresa executada, será nomeado 
depositário, com a atribuição de submeter à aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bemcomo de 
prestar contas mensalmente, entregando ao exeqüente as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no 
pagamento da dívida.” 
 
 
29 
percentual fixado deve satisfazer o crédito exequendo em tempo razoável e o percentual 
fixado não pode tornar inviável o exercício da atividade empresarial. 
Se somente o juiz decidir a questão, isoladamente, nos termos do percentual 
comumente deferidos pela jurisprudência, que é de 5% do faturamento, em média, a empresa 
pode vir a encerrar suas atividades, ao invés de recuperar a normalidade financeira. A 
experiência tem demonstrado que muitas empresas tem diversos processos não reunidos, em 
alguns caso sobre jurisdições diversas, onde torna difícil o controle sobre a efetivação da 
penhora em cada caso pelo juiz que a está determinando. 
Se nós vislumbrarmos uma postura cooperativa com esse novo modelo de processo, 
poderíamos, então, aplicar às execuções fiscais uma combinação de dispositivos, por 
exemplo, o art. 6º, art. 190
51
 e os requisitos do art. 866, todos do novo CPC, sem que haja a 
necessidade de se estabelecer uma regra de prioridade entre CPC e LEF, para que as partes 
cheguem a um acordo sobre como se efetivará a penhora. A executada, com certeza, tem uma 
visão melhor sobre os efeitos de uma penhora de percentual do seu faturamento do que os 
demais sujeitos do processo. Isso não significa que ela é quem vai determinar o valor do 
percentual, pois não se pode colocar a empresa devedora em uma situação melhor do que a 
daquele que ingressou legalmente em um parcelamento tributário, por exemplo, sob pena de 
violação da isonomia. Mas, em razão do modelo cooperativo, o percentual pode ser 
determinado em conjunto com a parte exequente. 
Uma outra situação que poderíamos fazer uma reflexão inicial é nas hipóteses de 
apresentação de exceção de pré-executividade. A exceção de pré-executividade para ser 
admitida, de acordo com entendimento do STJ, na súmula 393, possui dois requisitos: matéria 
de ordem pública e ausência de dilação probatória. 
Normalmente a questão da responsabilidade tributária é examinada nos embargos à 
execução porque, embora seja uma matéria de ordem pública – em razão da legitimidade 
passiva discutida - a jurisprudência tem entendido que a questão demanda dilação probatória. 
Se na CDA já consta o nome do sócio, a situação se complica mais, pois o ônus 
argumentativo do executado é maior ainda.
52
 
 
51
 CPC, 2015, art. 190: “Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes 
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e 
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.” 
52
 O STJ atualmente não admite exceção de pré-executividade quando o nome do sócio gerente da empresa já 
está incluído na CDA. (REsp 1110925/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, 
julgado em 22/04/2009, DJe 04/05/2009). 
 
 
30 
Em um modelo cooperativo de processo, a jurisprudência vai ter que rever essa 
situação, para permitir determinadas análises no próprio bojo da execução fiscal. Se o 
executado apresenta uma exceção de pré-executividade para dizer que não é legitimado, ele, 
em princípio, poderia se valer, por exemplo, do art. 339 do CPC, que diz que: “Quando alegar 
sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida 
sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar 
o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.” 
 
4. CONCLUSÃO. 
 
Outras reflexões podem e devem ser feitas a respeito dessa influência de um modelo 
cooperativo de CPC no processo tributário. O que deve ficar registrado nessa reflexão inicial, 
contudo, é que nós - enquanto sujeitos do processo em uma perspectiva horizontal e diante de 
um novo CPC - devemos ter uma nova postura em relação ao desenvolvimento da atividade 
processual tributária. Devemos ter bem claro, enquanto operadores do direito, que a situação 
se modificou e que não dá mais para viver em uma situação de eterno litígio. 
Como diz o provérbio chinês “Uma caminhada de mil quilômetros começa com o 
primeiro passo”. Então, daremos esse primeiro passo. 
 
Referência Bibliográfica 
 
BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Tradução 
de Plínio Dentzien, 2003. 
______. A Riqueza de Poucos Beneficia todos nós? Tradução de Renato Aguiar. Rio 
de Janeiro: Zahar, 2015. 
 
BUENO, Cassio Scarpinella Bueno. Novo Código de Processo Civil Anotado. São 
Paulo: Saraiva, 2015. 
 
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral, religião no mundo moderno. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2006. 
 
 
 
31 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília, 2014. 
Disponível em <www.cnj.jus.br>. Acesso em 25 nov. 2014. 
 
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de Maria Ermantina de Almeida 
Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 
 
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 15. ed. V1. Salvador: 
Juspodium, 2013. 
 
______. “Princípio da Cooperação”. In: SOUZA JUNIOR, Antonio Carlos R. de; 
CUNHA, Leonardo Carneiro (coord.). Novo CPC e o Processo Tributário. São Paulo: Foco 
Fiscal, 2015, p. 113-127. 
 
JÚNIOR, Humberto Theodoro et al. Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2015. 
 
NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Processo e República: uma relação necessária. 
RBDPRO, n. 88, out./dez., 2014, p. 275-281. 
 
 
 
32 
 
NOTAS SOBRE O IMPACTO DO NOVO CPC NO PROCESSO DE EXECUÇÃO 
FISCAL. 
 
Bianca Stamato Fernandes 
 
Juíza titular da 5ª VFEF/RJ e Mestre em Direito Constitucional pela PUC-Rio 
 
SUMÁRIO: Introdução; 1. - Princípio da Especialidade e Aplicação Subsidiária do CPC ao 
rito da LEF; 2. - Estrutura do NCPC; 3 - Inovações do NCPC com impacto na LEF; 4 – 
Considerações Finais; 5 – Referências Bibliográficas. 
 
Introdução: 
O presente artigo tem como escopo avaliar brevemente o impacto do Novo Código de 
Processo Civil (NCPC), Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (publicada no Diário Oficial 
da União de 17/3/2015)
53
, no processo especial para a cobrança da Dívida Ativa da Fazenda 
Pública, regulado pela chamada Lei de Execuções Fiscais (LEF), Lei nº 6.830, de 22 de 
setembro de 1980 e mapear algumas das suas principais inovações. 
A Lei nº 13.105 é fruto de um projeto elaborado pela Comissão de Juristas
54
, 
encarregada de elaborar o Anteprojeto de Lei, que tinha como objetivos
55
: (i) adequar o 
processo civil brasileiro às normas e princípios constitucionais; (ii) garantir a efetiva 
satisfação dos direitos; (iii) restaurar a sistemática e a organicidade processual
56
 e (iv) tornar o 
 
53
 O art. 1045 estabeleceu vacatio legis de um ano a contar da data de publicação. 
54
 Instituída pelo Ato nº 379, do Presidente do Senado Federal, de 30 de setembro de 2009, tendo como 
integrantes: Luiz Fux (Presidente); Teresa Arruda Wambier (Relatora); Adroaldo Furtado Fabrício; Benedito 
Cerezzo Pereira Filho; Bruno Dantas; Elpídio Donizetti Nunes; Humberto Theodoro Júnior; Jansen Fialho de 
Almeida; José Miguel Garcia Medina; José Roberto dos Santos Bedaque; Marcus Vinicius Furtado Coelho; e 
Paulo Cesar Pinheiro Carneiro. 
55
 É o que extrai das palavras do Senador José Sarney, então do Presidente do Senado Federal: “A Comissão de 
Juristas encarregada de elaborar projeto de novo Código do Processo Civil, nomeada no final do mês de 
setembro de 2009 epresidida com brilho pelo Ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça, tem 
trabalhado arduamente para atender aos anseios dos cidadãos no sentido de garantir um novo Código de 
Processo Civil que privilegie a simplicidade da linguagem e da ação processual, a celeridade do processo e a 
efetividade do resultado da ação, além do estímulo à inovação e à modernização de procedimentos, garantindo o 
respeito ao devido processo legal”. Disponível em, 
http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/1a_e_2a_Reuniao_PARA_grafica.pdf. Acesso em 18/9/2015. 
56
 erodida com sucessivas alterações ao CPC de 1973, mormente as efetuadas a partir da década de 90 do século 
passado que deram outra feição ao Código de 1973, introduzindo institutos como a audiência preliminar de 
conciliação, a antecipação de tutela, ação monitória, fase do cumprimento de sentença, a fim de se fazer frente às 
 
 
 
33 
processo civil mais simples e enxuto.
57
 
Todavia o novo Código, ao revogar o anterior
58
, não fez tábula rasa, aniquilando todos 
os institutos do processo civil até então em vigor, mas procurou, dentro de uma ideia de 
integridade do Direito
59
, harmonizar os institutos consolidados na sistemática anterior e ainda 
eficazes às demandas do séc. XXI por um processo mais ágil e efetivo.
60
 
A LEF, que em 2015 completou 35 anos de vigência
61
, foi sancionada e publicada no 
Diário Oficial da União de 24/9/1980, época em que o CPC de 1973 ainda era apelidado de o 
“Novo Código de Processo Civil” e surgiu da necessidade de se instituir um procedimento 
específico para a cobrança da dívida ativa, apartado das normas gerais sobre execução por 
quantia certa, instituídas pelo então novel CPC
62
. 
1. Princípio da Especialidade e Aplicação Subsidiária do CPC ao rito da LEF: 
No atual cenário a LEF permanece vigente e incólume
63
, eis que não revogada nem 
 
exigências sempre prementes de celeridade, efetividade e simplicidade das formas processuais. 
57
 Segundo sua Exposição de Motivos: “O Novo Código de Processo Civil tem o potencial de gerar um processo 
mais célere, mais justo, porque mais rente às necessidades sociais e muito menos complexo. A simplificação do 
sistema, além de proporcionar-lhe coesão mais visível, permite ao juiz centrar sua atenção de modo mais intenso 
, no mérito da causa.” 
58 “Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos 
pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. 
§ 1o As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos 
procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da 
vigência deste Código (...).” 
59
 A propósito, é interessante ressaltar a grande preocupação do NCPC em diminuir a instabilidade da 
jurisprudência que está refletida na regra do caput, do art. 926, impondo aos Tribunais o dever de uniformizar 
sua jurisprudência de mantê-la estável, íntegra e coerente. 
60
 De acordo com a Exposição de Motivos do NCPC:“Há mudanças necessárias, porque reclamadas pela 
comunidade jurídica, e correspondentes a queixas recorrentes dos jurisdicionados e dos operadores do Direito, 
ouvidas em todo país. Na elaboração deste Anteprojeto de Código de Processo Civil, essa foi uma das linhas 
principais de trabalho: resolver problemas. Deixar de ver o processo como teoria descomprometida de sua 
natureza fundamental de método de resolução de conflitos, por meio do qual se realizam valores constitucionais. 
61
 É fruto de um Grupo de Trabalho instituído pela Portaria Interministerial nº 273, de 15 de julho de 1976, 
composto pelos seguintes membros: Gilde Corrêa Ferraz (Presidente e Subprocurador Geral da República), Cid 
Heráclito de Queiroz (Coordenador e Subprocurador Geral da Fazenda Nacional), Carlos Geminiano da Franca 
(Procurador da República), Pedrylvio Francisco Guimarães Ferreira, Gilberto Siqueira Rangel e Leon Fredja 
Szklarowsky (Procuradores da Fazenda Nacional). Participou ainda dos trabalhos Milton Baptista Seabra, 
Procurador do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social. 
62
 Tal desiderato fica claro na Exposição de Motivos da LEF: “O novo Código de Processo Civil tratou as 
dívidas consideradas líquidas e certas ao nível das próprias sentenças, na modalidade de execução que 
denominou de ‘título executivo extrajudicial’(arts. 583 e 585). Mas ao fazê-lo, não só deu ao crédito público o 
mesmo tratamento da nota promissória e da letra de câmbio, títulos comerciais, como permitiu que outras 
espécies de obrigações, v.g., as obrigações para com entidades financeiras, tivessem um rito de execução – com 
fase extrajudicial – muito mais eficaz, rápido e com privilégios que jamais foram conferidos ao crédito público. 
Ora, a cobrança judicial das dívidas para com o Estado é ditada pelo interesse público e, sendo uma modalidade 
de controle judicial dos atos das administração pública, deve assegurar o equilíbrio – político, econômico e 
financeiro – entre o poder do Estado e o direito do cidadão.” 
63
 Foram poucas as alterações sofridas ao longo de mais de três décadas: Lei nº 11.051/2004, que acrescentou o § 
4º ao art. 40; Lei nº 11.960/2009, que acrescentou o § 5º ao art. 40, e a Lei nº 13.043/2014 que altera os arts. 7º, 
 
 
34 
alterada expressamente pela nova Lei Processual
64
. Muito pelo contrário, o art. 1.046, § 2º, do 
NCPC diz expressamente que: “Permanecem em vigor as disposições especiais dos 
procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código.” 
Este dispositivo vai ao encontro ao disposto no art. 1º da LEF, que afirma que a execução 
judicial da dívida ativa será por ela regida e apenas subsidiariamente pelo do Código de 
Processo Civil. Neste primeiro momento de aclimatação do NCPC é prudente apenas notar 
que a regra antes transcrita, do §2º do art. 1046, utiliza o termo “supletivamente” enquanto a 
LEF se vale da expressão “subsidiariamente”. Ademais, o NCPC, no seu art. 15, ao dispor 
sobre a sua aplicação aos processos eleitorais, trabalhistas e administrativos, utiliza ambas as 
expressões
65
. Ao comentar o art. 15, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro (WAMBIER, 2015, pág. 
94) afirma que: 
Etimologicamente, existe uma diferença entre aplicação 
supletiva e aplicação subsidiária. A primeira se destina a suprir algo 
que não existe em uma determinada legislação, enquanto a segunda 
serve de ajuda ou de subsídio para a interpretação de alguma norma ou 
mesmo instituto. Todavia, na prática, tem-se confundido a etimologia 
destas palavras, aplicando, uma e outra nos dois sentidos. 
 
Neste breve artigo, as expressões acima serão consideradas equivalentes, no sentido de 
“reforçar, integrar, completar” a regra da lei especial, quando a solução do caso concreto o 
exigir. Logo, as normas peculiares e específicas da LEF que conferem contornos próprios ao 
processo de execução fiscal afastam as normas gerais inscritas no Código de Processo Civil, 
que só tem cabida para integrar lacuna no procedimento especial. 
No que toca à aplicação subsidiária das regras do CPC à LEF, é valiosa a lição de 
Mauro Luís Rocha Lopes (LOPES, 2014, pág. 8): 
Como se dessume da expressão utilizada pelo legislador 
(subsidiariamente), a aplicação de normas do CPC aos executivos 
fiscais pressupõe lacuna indesejada no ordenamento específico da

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