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Fichamento COX, Robert. Hegemonia e as RI

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
Curso de graduação em Relações Internacionais
Teoria das Relações Internacionais II
Professora: Ana Saggioro Garcia
Aluna: Vanessa Barroso Barreto – Matrícula: 201649531-4
FICHAMENTO
Texto: COX, Robert. Gramsci, hegemonia e relações internacionais: um ensaio sobre método. 
Este trabalho é um fichamento do texto “Gramsci, hegemonia e relações internacionais: um ensaio sobre método”, uma obra escrita pelo canadense Robert W. Cox, estudioso de ciência política, considerado um dos líderes da Escola Britânica de Economia Política Internacional e um dos nomes mais notáveis da Teoria Crítica. 
A partir dos escritos do intelectual italiano Antonio Gramsci, ex-líder do Partido Comunista Italiano, o autor entendia que, com as ideias de Gramsci, seria capaz de compreender a organização internacional, além disso, evidencia a importância do estudo do conceito de hegemonia e conceitos similares, sobre sua obra, Cox cita:
Este ensaio mostra minha forma de entender o que Gramsci queria dizer com hegemonia e esses conceitos afins, e sugere como penso que eles podem ser adaptados, preservando seu significado essencial, para compreender os problemas da ordem mundial. Ele não pretende ser um estudo crítico da teoria política de Gramsci, e sim apenas uma derivação de algumas ideias dessa teoria política para uma revisão da teoria corrente das relações internacionais. (COX, 2007: p. 101)
Gramsci e hegemonia
O autor afirma que “os conceitos de Gramsci foram todos derivados da história” (COX, 2007: p. 102), isto é, Gramsci faz uso da sua experiência individual, reflexões sobre períodos importantes historicamente, e de sua vivência na luta política e social. Buscava adaptar e melhorar conceitos, segundo ele, “um conceito é vago e flexível, e só adquire precisão quando posto em contato com determinada situação que ele ajuda a explicar” (COX, 2007: p. 102), então, só seria válido se fosse posto em prática e resolvesse determinadas situações, além disso, “não é possível usar os conceitos de maneira frutífera se eles forem abstraídos de suas aplicações” (COX, 2007: p. 102), dessa forma, evitaria contradições e ambiguidades. 
Em Gramsci há um grande historicismo, mas Cox afirma que “o termo “historicismo” costuma ser mal-entendido e criticado por aqueles que procuram uma forma de conhecimento mais abstrata, sistemática, universal e a-histórica”. (COX, 2007: p. 102), outra curiosidade exposta pelo autor é o fato de Gramsci em suas obras, durante a prisão, troca o nome “marxismo” por “filosofia da práxis”, Cox explica: “isso se deve ao fato de querer enfatizar o objetivo revolucionário prático da filosofia” e “pode ter sido para mostrar sua intenção de contribuir para uma corrente de pensamento vigorosa, em processo de desenvolvimento”. (COX, 2007: p. 102)
Origens do conceito de hegemonia
Robert W. Cox inicia essa parte do texto apresentando que “existem duas correntes principais que levam à ideia gramsciana de hegemonia” (COX, 2007: p. 103), são elas: a primeira, nasce da Terceira Internacional comunista, e, a segunda, a partir dos escritos de Maquiavel. 
O autor cita que foram produzidos comentários comparando o pensamento de Gramsci com o de Lenin, assim, “associando Gramsci à ideia de uma hegemonia do proletariado, e Lenin, à ditadura do proletariado.” (COX, 2007: p. 103). Sobre o proletariado russo, Lenin o considerava como uma classe dominante, e ao mesmo tempo como uma classe dirigente, o “domínio implicando ditadura, e a direção implicando liderança com o consentimento das classes aliadas” (COX, 2007: p. 103), dessa forma, a liderança como um consentimento das classes aliadas. 
Na Terceira Internacional, referente ao papel de liderança da classe operária, “os operários exerceriam hegemonia sobre as classes aliadas, e ditadura sobre as classes inimigas” (COX, 2007: p. 103), Gramsci se baseia nessa ideia, desenvolve esse pensamento e aplica o conceito de hegemonia à burguesia, classe dominante. 
No Norte da Europa, nos países onde o capitalismo se estabeleceu primeiro, a hegemonia burguesa foi a mais completa. Essa hegemonia envolveu necessariamente concessões para subordinar classes em troca da aquiescência à liderança burguesa, concessões que poderiam levar, em última instância, a formas de democracia social que preservam o capitalismo ao mesmo tempo em que o tornam mais aceitável para os trabalhadores e a pequena burguesia. (COX, 2007: p. 104)
	A administração do Estado não ficava totalmente nas mãos da burguesia, pois ela estava “entrincheirada na sociedade civil” (COX, 2007: p. 104), Gramsci amplia sua visão sobre Estado, para ele, “teria de incluir as bases da estrutura política da sociedade civil”, como, por exemplo, “a Igreja, o sistema educacional, a imprensa, todas as instituições que ajudavam a criar nas pessoas certos tipos de comportamento e expectativas coerentes com a ordem social hegemônica.” (COX, 2007: p. 104)
A hegemonia da classe dominante unificava categorias clássicas do Estado e da sociedade civil. Segundo Robert, “a hegemonia é suficiente para garantir o comportamento submisso da maioria das pessoas durante a maior parte do tempo.” (COX, 2007: p. 105), logo, para permanecer no poder, a classe burguesa procurava oferecer concessões para preservar a submissão das classes assalariadas.
A maioria das int ervenções ocorre 
em estados de pouca importância geoestratégica ou econômica aos interventores: 
Somália, Camboja, Bósnia,
Guerra de movimento e guerra de posição
Para compreender a revolução na Europa Ocidental, Gramsci espelhou-se na experiência que teve da Revolução Bolchevique, mas pôde perceber que as duas eram divergentes, principalmente nas forças relativas do Estado e da sociedade civil. Cox diz: “Para ilustrar as diferenças de circunstâncias e as consequentes diferenças nas estratégias necessárias, recorreu à analogia militar de guerras de movimento e guerras de posição.” (COX, 2007: p. 106)
Segundo o autor, na Rússia “o aparato administrativo e coercitivo do Estado era formidável, mas vulnerável, enquanto a sociedade civil era subdesenvolvida” (COX, 2007: p. 106), demonstra que era vulnerável ao apresentar que uma pequena classe operária destruiu o Estado em uma guerra de movimento e não ocorreu alguma resistência do resto da sociedade civil. No entanto, a sociedade civil da Europa Ocidental à sombra da hegemonia burguesa “estava muito mais plenamente desenvolvida e assumiu múltiplas formas.” (COX, 2007: p. 106). 
O Estado na Europa Ocidental era visto por Gramsci como “uma trincheira avançada por trás da qual há um poderoso sistema de fortalezas e casamatas”, já na Rússia simbolizava tudo. À vista disso, para lidar com a hegemonia das sociedades europeias, Gramsci justifica o uso da guerra de posição, “que lentamente constrói os fundamentos dos alicerces sociais de um novo Estado” (COX, 2007: p. 107), e não a de movimento, afirmando que não seria efetiva, porque “um ataque prematuro ao Estado, por meio de uma guerra de movimento, só revelaria a fraqueza da oposição e levaria à reimposição do domínio burguês, à medida que as instituições da sociedade civil reafirmassem seu controle.” (COX, 2007: p. 107), assim, a hegemonia só se abateria com ataques constantes a base de sustentação da hegemonia, que são os aspectos sociais do Estado.
Isto é a construção da contra-hegemonia, formada no interior da hegemonia vigente e que precisa resistir às tentações de não ser incorporado pela mesma. Para Cox, “essa é a linha que separa a guerra de posição, como estratégia revolucionária de longo prazo, e a democracia social, como política para obter ganhos dentro da ordem estabelecida.” (COX, 2007: p. 107) 
Revolução passiva
O autor inicia esse tópico do texto afirmando que haviam dois tipos de sociedade, estas foram transformadas socialmente, ele cita: “Contudo, nem todas as sociedades da Europa Ocidental eram hegemonias burguesas. Gramsci distinguia dois tipos de sociedade.” (COX, 2007: p.107). Um tipo de sociedade seria aquelas que passaram por uma revolução completa, como a Inglaterra e a França, e o outro tipo, se dava aquelas que a nova ordem, criada pelo estrangeiro, havia sido imposta.
Sobre este segundo tipo de sociedade, Cox apresenta alguns elementos para entendermos sua essência: 
Esse segundo tipo entrou numa dialética de revolução-restauração que tendeu a ser bloqueada, pois nem as novas forças nem as antigas poderiam triunfar. Nessas sociedades, a nova burguesia industrial não chegou à hegemonia. O impasse resultante com as classes sociais tradicionalmente dominantes criou as condições do que Gramsci chamou de "revolução passiva": a introdução de mudanças que não envolveram nenhuma sublevação de forças populares. (COX, 2007: p. 108)
	O autor da um exemplo comum sobre revolução passiva, o cesarismo. Nele, “um homem forte intervém para resolver o impasse entre forças sociais equivalentes e opostas” (COX, 2007: p. 108), Gramsci acreditava haver formas progressistas e reacionárias dentro do cesarismo. Progressista seria “quando o governo forte preside um processo mais ordenado de criação de um novo Estado” (COX, 2007: p. 108), Napoleão I, por exemplo, era um caso progressista, e reacionária quando “estabiliza o poder existente” (COX, 2007: p. 108), Napoleão III era um caso reacionário. 
	Nessa parte, Cox entende que a análise de Gramsci era parecida com a de Karl Marx em O dezoito brumário de Luís Bonaparte, onde:
A burguesia francesa, incapaz de governar diretamente com seus próprios partidos políticos, contentou-se cm desenvolver o capitalismo sob um regime político que tinha sua base social no campesinato, classe social desarticulada e desorganizada, cujo representante virtual Bonaparte podia alegar ser. (COX, 2007: p. 108)
	A Itália no final do século XIX não estava em condição de comandar a península, a mesma Itália que só se beneficiaria com a unificação do país. A base do novo Estado consistiu em uma aliança entre a burguesia industrial do Norte com os proprietários de terra do Sul, mas no caminho à Primeira Guerra Mundial, a ocupação de fábricas e terras por operários e camponeses se mostrava forte o suficiente para ameaçar o Estado presente. Sobre essa fase, estes são os argumentos de Cox:
A base para o novo Estado passou a ser uma aliança entre a burguesia industrial do Norte e os proprietários de terra do Sul - uma aliança que também oferecia benefícios à pequena burguesia dependente (principalmente do Sul) que constituía os quadros da nova burocracia estatal e dos novos partidos políticos e tornou-se intermediária entre os vários grupos da população e o Estado. A falta de qualquer participação popular prolongada e amplamente disseminada no movimento de unificação explica o caráter de "revolução passiva" que teve o seu resultado. (...) Aconteceu então o que Gramsci chamou de "deslocamento da base do Estado" rumo à pequena burguesia, a única classe presente em todo o país, e que se tornou a âncora do poder fascista. O fascismo deu continuidade à revolução passiva, defendendo a posição das antigas classes proprietárias, mas não conseguiu o apoio de grupos subalternos como os operários ou os camponeses. 
(COX, 2007: p. 108 e 109)
Segundo Gramsci, a segunda característica importante da revolução passiva da Itália é o transformismo. Era uma coalização de forças de amplo aspecto formando um grupo de interesses com objetivos comuns e transformadores.
O transformismo trabalhava para cooptar líderes potenciais de grupos sociais subalternos. Por extensão, o transformismo pode servir de estratégia de assimilação e domesticação de ideias potencialmente perigosas, ajustando-as às políticas da coalizão dominante e pode, dessa forma, obstruir a formação de uma oposição organizada, com base na classe, ao poder social e político estabelecido. (COX, 2007: p. 109)
O autor conclui que o conceito de revolução passiva é “uma contrapartida do conceito de hegemonia por descrever a condição de urna sociedade não-hegemônica - uma sociedade na qual nenhuma classe dominante conseguiu estabelecer a hegemonia no sentido gramsciano do termo.” (COX, 2007: p. 109 e 110). Durante a industrialização dos países do “Terceiro Mundo”, o autor afirma que “essa noção de revolução passiva, combinada a seus componentes - o cesarismo e o transformismo - é particularmente pertinente”. (COX, 2007: p. 110)
Bloco histórico
A origem da noção de bloco histórico de Gramsci está em Georges Sorel, Cox cita que Sorel “interpretou a ação revolucionária em termos de mitos sociais por meio dos quais as pessoas engajadas na ação percebiam um conflito de totalidades - em que viam uma nova ordem desafiando uma ordem estabelecida.” (COX, 2007: p. 110)
O que concede o surgimento de um novo bloco está exposto no trecho da obra de Cox, o qual diz: “no decorrer de um evento catastrófico, a ordem antiga seria derrubada como um todo, e a nova estaria livre para se desenvolver.” (COX, 2007: p. 110)
Gramsci não compartilhava o subjetivismo dessa ideia, mas para ele:
Estado e sociedade juntos constituíam uma estrutura sólida, e que a revolução implicava o desenvolvimento, dentro dela, de outra estrutura forte o suficiente para substituir a primeira. Fazendo eco a Marx, ele achava que isso só aconteceria quando a primeira tivesse esgotado todo o seu potencial. Quer dominante, quer emergente, uma estrutura desse tipo é o que Gramsci chamava de bloco histórico. (COX, 2007: p. 110)
Cox fala sobre mito social, uma forte forma de subjetividade coletiva, como uma arma na luta e instrumento de análise, que para Sorel “obstruiria tendências reformistas e poderia atrair operários, afastando-os do sindicalismo revolucionário e levando-os ao sindicalismo "de resultados" ou a partidos políticos reformistas.” (COX, 2007: p. 110)
Sobre o bloco histórico, a partir do pensamento de Gramsci, o autor define:
“O bloco histórico também tinha uma orientação revolucionária por sua pressão sobre a unidade e a coerência de ordens sociopolíticas. Era uma defesa intelectual contra a cooptação pelo transformismo.” (COX, 2007: p. 110 e 111)
“É um conceito dialético no sentido de que seus elementos - que interagem entre si - criam uma unidade maior. Às vezes, Gramsci falava desses elementos que interagem entre si como o subjetivo e o objetivo e, outras vezes, como superestrutura e infra-estrutura.” (COX, 2007: p. 111)
“Não pode existir sem uma classe social hegemônica. Em um país ou em uma formação social em que a classe hegemônica é a classe dominante, o Estado mantém a coesão e a identidade no interior do bloco por meio da propagação de uma cultura comum.” (COX, 2007: p. 111)
“Um novo bloco é formado quando uma classe subordinada (como os operários, por exemplo) estabelece sua hegemonia sobre outros grupos subordinados (por exemplo, pequenos proprietários de terras, marginais).” (COX, 2007: p. 111)
Gramsci enxergava a necessidade de uma guerra de posição nos países do Ocidente, assim, era atribuído ao partido o dever de “liderar, intensificar e melhorar o diálogo no seio da classe operária e entre a classe operária e outras classes subordinadas que poderiam chegar a fazer uma aliança com ela” (COX, 2007: p. 112).
Então, o bloco histórico precisa de uma estabilidade da conjuntura dominante, e para conservar essa estabilidade, os intelectuais foram aqueles que desempenharam um papel imprescindível. Tanto os intelectuais burgueses quanto os intelectuais orgânicos, ambos usam a hegemonia de suas sociedades para realizar funções que manteriam os membros de uma classe ou bloco com semelhanças. A respeito disso, Cox cita: 
Os intelectuais não são um estrato distinto e relativamente fora das classes sociais. Gramsci os via como organicamente conectados a uma classe social. Realizam a função de criar e sustentar as imagens mentais, tecnologias e organizações que mantêm coesos os membros de uma classe e de um bloco histórico ao redor de uma identidade comum. (...) Para isso, teriam de desenvolver claramente uma cultura, uma organizaçãoe uma tecnologia distintas, e fazer isso em interação constante com os membros do bloco emergente. Para Gramsci, todos têm o seu lado intelectual, embora só alguns realizem a função social de um intelectual em regime de tempo integral. Nessa tarefa, o partido era, segundo sua concepção, um "intelectual coletivo". (COX, 2007: p. 112)
Durante a época do percurso à hegemonia, da “passagem da estrutura para a esfera das superestruturas complexas”, isto é, os interesses de um grupo passar a se tornar instituições, Gramsci reconhecia três níveis de consciência: 
O econômico-corporativo, no qual determinado grupo tem conhecimento de seus interesses específicos; a solidariedade ou consciência de classe, que se estende a toda uma classe social, mas continua num nível puramente econômico; e o hegemônico, que harmoniza os interesses da classe dirigente com os das classes subordinadas e incorpora esses outros interesses numa ideologia expressa em termos universais. (COX, 2007: p. 112)
Hegemonia e relações internacionais
O autor introduz essa parte do texto com um trecho de Gramsci como resposta da seguinte pergunta: “as relações internacionais precedem ou derivam de relações sociais fundamentais?” (COX, 2007: p. 113) e o mesmo responde que é claro que derivam, não há hesitação. Cox procura justificar a resposta de Gramsci e afirma que “as mudanças básicas nas relações de poder internacional ou de ordem mundial, vistas como mudanças no equilíbrio militar-estratégico e geopolítico, podem remontar a mudanças fundamentais nas relações sociais.” (COX, 2007: p. 113)
Gramsci não desconsiderava o Estado e sua importância, porque, para ele, “o Estado continuava sendo a entidade básica das relações internacionais e o lugar onde os conflitos sociais acontecem - portanto, também é o lugar onde as hegemonias das classes sociais podem ser construídas” (COX, 2007: p. 113). Ademais, o Estado “continua sendo o foco principal da luta social e a entidade básica das relações internacionais, é o Estado amplificado que inclui sua própria base social” (COX, 2007: p. 114), deixando à parte a concepção de que o Estado “reduz à burocracia da política externa ou às suas capacidades militares.” (COX, 2007: p. 114)
Segundo Cox, “os Estados que têm poder são exatamente aqueles que passaram por uma profunda revolução social e econômica e elaboraram de forma mais plena as consequências dessa revolução na forma do Estado e das relações sociais” (COX, 2007: p. 114), o autor acredita em desenvolvimentos com base na nação que conseguiram se internacionalizar, como por exemplo, o desenvolvimento do poder nos Estados Unidos, na União Soviética e a Revolução Francesa.
O grupo portador de novas ideias não é um grupo social autóctone ativamente engajado em construir uma nova base econômica com uma nova estrutura de relações sociais. É um estrato intelectual que aproveita ideias originadas de uma revolução econômica e social ocorrida anteriormente no estrangeiro. Por isso, o pensamento desse grupo assume uma forma idealista, sem raízes num processo econômico de seu país, e sua concepção do Estado assume a forma de "um racional absoluto" (ibid., p. 117). (COX, 2007: p. 115)
Hegemonia e ordem mundial
Cox inicia essa parte do texto com a seguinte questão: “O conceito gramsciano de hegemonia pode ser aplicado ao plano internacional ou mundial?” (COX, 2007: p. 115). No entanto, antes de respondê-la, o autor começa eliminando certos usos comuns, dentro do meio das relações internacionais, do termo “hegemonia”:
"Hegemonia" é frequentemente usada para indicar o domínio de um país sobre outros, vinculando assim o uso a uma relação exclusivamente entre Estados. Às vezes, o termo hegemonia é empregado como um eufemismo de imperialismo. Quando os líderes políticos chineses acusam a União Soviética de "hegemonismo", parecem ter em mente uma combinação qualquer desses dois conceitos. Esses significados diferem tanto do sentido gramsciano do termo que, neste ensaio, é melhor, por uma questão de clareza, usar o termo "domínio" em seu lugar. (COX, 2007: p. 115)
É necessário saber quando começa e quando termina um período de hegemonia, dessa forma, “um período em que uma hegemonia mundial já foi estabelecida pode ser chamado de hegemônico, e de não-hegemônico, outro período em que prevaleça um domínio de tipo não-hegemônico” (COX, 2007: p. 115). O autor exemplifica essa ideia ao considerar os últimos cento e cinquenta anos e dividindo eles em quatro períodos diferentes (1845-1875, 1875-1945, 1945-1965 e de 1965 até o presente). Em seguida, explica como foram tais períodos: 
O primeiro período (1845-1875) foi hegemônico: havia uma economia mundial com a Inglaterra no centro. Doutrinas econômicas coerentes com a supremacia britânica, mas universais em sua forma - vantagem comparativa, livre-comércio e o padrão-ouro-, disseminaram-se aos poucos da Grã-Bretanha. O poder de coerção garantia essa ordem. A Grã-Bretanha determinava o equilíbrio de poder na Europa, evitando assim qualquer desafio à sua hegemonia por forças baseadas em outro território. A Grã-Bretanha reinava soberana no mar e tinha capacidade de obrigar os países periféricos a obedecerem às regras do mercado. 
No segundo período (1875-1945), todas essas características foram invertidas. Outros países desafiaram a supremacia britânica. O equilíbrio de poder na Europa desestabilizou-se, levando a duas guerras mundiais. O livre-comércio foi suplantado pelo protecionismo, o padrão-ouro acabou sendo abandonado, e a economia mundial fragmentou-se em blocos econômicos. Foi um período não-hegemônico. 
No terceiro período, na esteira da Segunda Guerra Mundial (1945-1965), os Estados Unidos fundaram uma nova ordem mundial hegemônica, semelhante, em sua estrutura básica, àquela dominada pela Grã-Bretanha em meados do século XIX, mas com instituições e doutrinas ajustadas a uma economia mundial mais complexa e a sociedades nacionais mais sensíveis às repercussões políticas das crises econômicas. 
Em algum momento entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, tornou-se evidente que essa ordem mundial baseada nos Estados Unidos já não estava mais funcionando bem. (COX, 2007: p. 116 e 117)
Essa época de dúvida sucedeu três possibilidades de transformação estrutural da ordem mundial, foram elas: 
A reconstrução da hegemonia com a ampliação de uma gerência política de acordo com as linhas propostas pela Comissão Trilateral; o aumento da fragmentação da economia mundial, que giraria em torno de esferas econômicas centradas em grandes potências; e a possível afirmação de uma contra-hegemonia baseada no Terceiro Mundo, precedida pela exigência de uma Nova Ordem Econômica Internacional (Noci). (COX, 2007: p. 117)
Com isso, o autor entendia que para um Estado se tornar hegemônico, seria necessário “fundar e proteger uma ordem mundial que fosse universal em termos de concepção, isto é, uma ordem em que um Estado não explore outros Estados diretamente, mas na qual a maioria desses possa considerá-la compatível com seus interesses.” (COX, 2007: p. 117)
Esta ordem, duvidosamente seria constituída em termos interestados, “pois isso provavelmente traria para primeiro plano os interesses opostos dos Estados” (COX, 2007: p. 117). Segundo Cox, o mais viável era que “enfatizasse as oportunidades para as forças da sociedade civil operarem em escala mundial” (COX, 2007: p. 117). O autor conclui que a hegemonia da ordem mundial além de se basear na regulação do conflito interestados, também se baseia em uma sociedade civil completa em escala global, em um modo de produção que reproduz vínculos entre sociedades dos países incluídos nessa amplitude. Factualmente, os Estados que vivenciaram uma revolução social e econômica completa foram capazes de criar hegemonias assim. O autor chega a mais conclusões:
A revolução não só modifica as estruturas econômicas e políticas internas do Estado em questão, como também libera energias que se expandem além das fronteiras do Estado. Portanto, uma hegemonia mundialé, em seus primórdios, uma expansão para o exterior da hegemonia interna (nacional) estabelecida por uma classe social dominante. As instituições econômicas e sociais, a cultura e a tecnologia associadas a essa hegemonia nacional tornam-se modelos a serem imitados no exterior. Essa hegemonia expansiva é imposta aos países mais periféricos como uma revolução passiva. (COX, 2007: p. 118)
Os países mais periféricos não passaram por uma revolução social completa, além de suas economias não serem tão desenvolvidas, mas buscam absorver elementos do modelo hegemônico. “Embora os países periféricos possam adotar alguns aspectos económicos e culturais do núcleo hegemónico, têm menos condições de adotar seus modelos políticos” (COX, 2007: p. 118). Por conseguinte, a hegemonia é mais acentuada no centro e tem mais contradições na periferia.
Deste modo, Cox termina suas conclusões a respeito da hegemonia mundial: 
Portanto, a hegemonia no plano internacional não é apenas uma ordem entre Estados. É uma ordem no interior de uma economia mundial com um modo de produção dominante que penetra todos os países e se vincula a outros modos de produção subordinados. É também um complexo de relações sociais internacionais que une as classes sociais de diversos países. A hegemonia mundial pode ser definida como uma estrutura social, uma estrutura económica e uma estrutura política, e não pode ser apenas uma dessas estruturas: tem de ser todas as três ao mesmo tempo. Além disso, a hegemonia mundial se expressa em normas, instituições e mecanismos universais que estabelecem regras gerais de comportamento para os Estados e para as forças da sociedade civil que atuam além das fronteiras nacionais - regras que apoiam o modo de produção dominante. (COX, 2007: p. 118 e 119)
Os mecanismos da hegemonia: organizações internacionais
“Um dos mecanismos pelos quais as normas universais de uma hegemonia mundial se expressam são as organizações internacionais” (COX, 2007: p. 119), a partir dessa análise, o autor entende que as organizações internacionais funcionam igualmente o processo que desenvolvem as instituições da hegemonia e sua ideologia, e expõe as características da organização internacional:
Entre as características da organização internacional que expressam seu papel hegemônico, temos as seguintes: 1) corporifica as regras que facilitam a expansão das ordens mundiais hegemônicas; 2) é, ela própria, produto da ordem mundial hegemônica; 3) legitima ideologicamente as normas da ordem mundial; 4) coopta as elites dos países periféricos; e 5) absorve ideias contra-hegemônicas. (COX, 2007: p. 119)
Sobre as instituições internacionais, o autor afirma que elas “corporificam regras que facilitam a expansão das forças econômicas e sociais dominantes, mas permitem simultaneamente aos interesses subordinados fazerem ajustes com um mínimo de desgaste” (COX, 2007: p. 119). Para promover a expansão econômica, deve-se manter organizadas as regras que coordenam o mundo monetário e as relações comerciais, elas possuem grande importância, todavia, podem ser revistas por conta de mudanças de conjuntura, ou em situações problemáticas. Além disso: 
As instituições internacionais também desempenham um papel ideológico. Elas ajudam a definir diretrizes políticas para os Estados e a legitimar certas instituições e práticas no plano nacional, refletindo orientações favoráveis às forças sociais e econômicas dominantes. (COX, 2007: p. 120)
Sobre a relação das instituições com o Estado, Cox apresenta que “em geral, as instituições e regras internacionais se originam do Estado que estabelece a hegemonia. No mínimo, têm de ter o apoio desse Estado” (COX, 2007: p. 119 e 120), acrescenta que “o Estado dominante encarrega-se de garantir a aquiescência de outros Estados de acordo com uma hierarquia de poderes no interior da estrutura de hegemonia entre os Estados” (COX, 2007: p. 120), procuram apoio de atores menos favorecidos, “o consentimento de ao menos alguns dos países mais periféricos é solicitado.” (COX, 2007: p. 120)
O autor menciona algumas organizações, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), elas recomendam, respectivamente, o monetarismo e o tripartismo. “Ao recomendar o monetarismo, endossou um consenso dominante no pensamento político dos países centrais e fortalece aqueles determinados a combater a inflação dessa maneira, em detrimento de outros que estavam mais preocupados com o desemprego” (COX, 2007: p. 120), ao defender o tripartismo, “legitima as relações sociais surgidas nos países centrais com modelo ideal a ser imitado” (COX, 2007: p. 120). Todavia, o autor foca no transformismo.
O talento da elite dos países periféricos é cooptado para as instituições internacionais no estilo do transformismo. Indivíduos e países periféricos, embora entrem em instituições internacionais com a ideia de trabalhar, de seu interior, para modificar o sistema, si condenados a trabalhar dentro das estruturas da revolução passiva. No melhor dos casos, vão ajudar a transferir elementos de "modernização" para as periferias, mas apenas aqueles coerentes com os interesses dos poderes locais estabelecidos. (COX, 2007: p. 120)
O transformismo também absorve ideias potencialmente contra-hegemônicas e faz elas se tornarem coerentes com a doutrina hegemônica. A noção de auto-suficiência, por exemplo, começou como contestação à economia mundial, defendendo um desenvolvimento independente endogenamente determinado. O termo agora foi transformado, significando apoio dos órgãos da economia mundial aos programas previdenciários do tipo faça-você-mesmo dos países periféricos. Esses programas visam capacitar as populações rurais a serem auto-suficientes, impedir o êxodo rural para as cidades e, desse modo, obter maior grau de estabilidade social e política entre aquelas populações que a economia mundial não é capaz de integrar. O significado transformado de auto-suficiência torna-se complementar e apoia os objetivos hegemônicos da economia mundial e lhes dá apoio. (COX, 2007: p. 121)
Em suma, Cox faz uma analogia: “A hegemonia é como um travesseiro: absorve os golpes e, mais cedo ou mais tarde, o suposto assaltante vai achar confortável descansar sobre ele.” (COX, 2007: p. 120)
O autor conclui, portanto, que “há pouca probabilidade de uma guerra de movimento no nível internacional, por meio da qual os radicais se apropriariam do controle da superestrutura das instituições internacionais” (COX, 2007: p. 121), para Cox, as superestruturas estão vinculadas “às classes nacionais hegemônicas dos países centrais e, com a intermediação dessas classes, têm uma base mais ampla nesses países” (COX, 2007: p. 121), não obstante, nas periferias “estão associadas apenas à revolução passiva.” (COX, 2007: p. 121)
As perspectivas da contra-hegemonia 
As ordens mundiais - para retomar a afirmação de Gramsci citada anteriormente neste ensaio - baseiam-se em relações sociais. Portanto, uma mudança estrutural significativa da ordem mundial estaria, provavelmente, ligada a uma mudança fundamental nas relações sociais e nas ordens políticas nacionais que correspondem às estruturas nacionais de relações sociais. No pensamento gramsciano, isso poderia acontecer com o surgimento de um novo bloco histórico. (COX, 2007: p. 121 e 122)
Assim, Cox inicia a última parte de seu ensaio, colocando foco nas relações sociais, onde uma mudança estrutural relevante da ordem mundial estaria relacionada a uma mudança nas relações sociais e nas ordens políticas nacionais. Relembra da análise feita por Gramsci acerca da Itália, a qual aplicada à ordem mundial ainda é mais exata:
A análise que Gramsci fez da Itália é mais válida ainda quando aplicada à ordem mundial: só uma guerra de posição tem condições, a longo prazo, de realizar mudanças estruturais, e uma guerra de posição implica a construção de uma base sociopolítica para a mudança, com a criação de novos blocos históricos. O contexto nacional continuasendo o único lugar no qual um bloco histórico pode ser criado, embora a economia mundial e as condições políticas globais influenciem substancialmente as perspectivas de tal empreitada. (COX, 2007: p. 122)
O autor menciona a crise da economia mundial, que foi “propícia para alguns processos que poderiam levar a um desafio contra-hegemônico” (COX, 2007: p. 122), nos países centrais, as políticas de cortes nos recursos para grupos sociais carentes e as que geraram desemprego, foram capazes de abrir “as perspectivas de uma grande aliança entre os desfavorecidos e contra os setores do capital e do trabalho que se apoiavam na produção internacional e na ordem mundial liberal-monopolista” (COX, 2007: p. 122), já nos países periféricos, “o preparo político da população, com a profundidade necessária, pode não ser suficiente para acompanhar o ritmo da oportunidade revolucionária, o que diminui a perspectiva de um novo bloco histórico” (COX, 2007: p. 122). Para os periféricos, o autor coloca como necessária uma organização política eficaz:
É necessária uma organização política eficaz (o príncipe moderno de Gramsci) para reunir as novas classes operárias criadas pela produção internacional e para construir uma ponte que leve aos camponeses e aos marginalizados urbanos. Sem isso, só é possível imaginar um processo no qual as elites políticas locais, mesmo algumas que são produto de sublevações revolucionárias abortadas, protegeriam seu poder dentro de uma ordem mundial liberal-monopolista. (COX, 2007: p. 122)
Cox conclui sua obra pensando quanto à reconstrução de uma hegemonia liberal monopolista, esta praticaria o transformismo, acordando com variadas instituições e práticas nacionais, como a nacionalização de indústrias. “Em síntese, a tarefa de mudar a ordem mundial começa com o longo e trabalhoso esforço de construir novos blocos históricos dentro das fronteiras nacionais.” (COX, 2007: p. 123)

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