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A responsabilidade da família, da sociedade e do Estado na formação de uma consciência político-democrática por meio da educação

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1 - Gilmar Vieira de Araújo: Pós-graduado em Direito Empresarial e Mestrando em Direitos Sociais pelo Centro 
Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). Professor do Curso de Direito do UNISA, Lorena, SP. 
Advogado. E-mail: gilvieri@gmail.com 
2 - Luiz Cláudio Gonçalves Junior: Graduado em Direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo/ U.E. 
Lorena - UNISAL. Pós-graduado em Direito do Estado e mestre em Biodireito, Ética e cidadania pelo Centro 
Universitário Salesiano de São Paulo/ U.E.Lorena – UNISAL. Pós-graduado em Estratégia de Meio Ambiente 
pela Fundação Getúlio Vargas – FGV/RJ (EAD). Doutorando em Política Educacional pela Universidade 
Metodista de Piracicaba/SP – UNIMEP. Advogado e Professor da Graduação e da Pós-graduação no Centro 
Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL. E-mail: lclaudiojr@uol.com.br 
 
A responsabilidade da família, da sociedade e do Estado na formação de uma 
consciência político-democrática por meio da educação 
 
 
 Rosana Karen Catarino de Carvalho 
 Graduanda em Direito pelo Centro UNISAL – 
 U.E. Lorena. 
 Servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo. 
 Orientador : Gilmar Vieira de Araújo¹ 
 Co-orientador: Luiz Cláudio Gonçalves Junior² 
 
 
Resumo 
 
 
O presente artigo tem por objetivo abordar a divisão de responsabilidades entre o Estado, a 
sociedade e a família, na educação, pois que somente atuando em conjunto será possível a 
formação de uma consciência política e democrática. Sob o ponto de vista específico, a 
pesquisa busca chamar a atenção para a necessidade de se fortalecer a democracia por meio da 
participação dos cidadãos nas questões políticas que envolvem o nosso Estado. Para isso, 
imperioso que as pessoas possam ser instruídas desde a mais tenra idade, visto que a educação 
é fonte essencial de conhecimento e de reconstrução do imaginário social. Não há que se falar 
em democracia sem o desenvolvimento de uma consciência política. Por isso, através da 
formação integral do homem, como reflexo da educação, cuja responsabilidade está atrelada 
ao Estado e à família, a sociedade será capaz de se transformar. A educação traz um despertar 
da consciência no indivíduo, dos direitos e deveres, da importância da sua participação nas 
decisões políticas e dos seus papéis sociais dentro de um Estado Democrático de Direito. 
Tendo uma formação integral e eficiente, todo cidadão terá condições de desenvolver um 
senso crítico e, desta maneira, aperfeiçoar a nossa democracia. Portanto, a educação 
demonstra ser o caminho para transformação do imaginário social corrompido e a base para a 
reconstrução de uma nova sociedade. 
 
 
Palavras-chaves: Responsabilidade. Estado. Família. Sociedade. Educação. 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO: 
 
 
A educação é um direito fundamental tutelado pela Constituição Federal brasileira, 
insculpida no artigo 6º da Lei Maior como um direito social. O Estatuto da Criança e do 
Adolescente, bem como a Lei de Diretrizes e Bases para Educação Nacional, entre outras leis 
infraconstitucionais reafirmam a responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, 
garantidos pela Carta Magna, para o asseguramento desse direito indispensável para a 
formação integral do homem e a construção de uma sociedade mais justa, democrática e 
consciente do exercício dos seus direitos. Porém, para que se torne possível a formação de 
uma consciência de participação na democracia e atuação no exercício da cidadania, é 
majoritário o entendimento de que a educação é o melhor instrumento. O imaginário social 
brasileiro com relação à política e democracia se reflete no comportamento e é manifesto nas 
falas cotidianas das pessoas, indicando que a sociedade precisa amadurecer e as próximas 
gerações desenvolverem uma nova consciência. É necessária a difusão de uma nova 
mentalidade social. Sob o ponto de vista geral, os objetivos deste artigo são demonstrar que a 
educação de qualidade é o fator preponderante para a formação dessa nova consciência 
política e que trata-se de responsabilidade do Estado e da família, com a colaboração da 
sociedade, segundo o texto constitucional. Todos devem, concorrentemente, zelar pela 
educação e aprimorá-la para que as pessoas possam superar as adversidades vivenciadas em 
sociedade. Isso requer um processo contínuo e de cooperação mútua entre as instituições. Os 
cidadãos precisam ter o conhecimento necessário para o exercício desse direito, sob pena de 
enfraquecer o exercício da cidadania e colocar em risco a própria soberania do Estado. Para 
tanto, este estudo teórico trará os seguintes tópicos: A educação, direito fundamental tutelado 
pelo Estado; o qual irá abordar conceitos de educação desde a concepção natural até a prevista 
na Constituição Federal e em leis que fazem parte do ordenamento jurídico, com referência à 
autora Regina Maria Fonseca Muniz. Serão abordados, nos tópicos seguintes: A 
Responsabilidade do Estado e da Família, que tratará da atribuição dessas instituições para a 
garantia do direito à educação, e em seguida, A Responsabilidade Civil dos Estabelecimentos 
Educacionais, que irá abordar especificamente das consequências jurídicas quando da 
negligência do dever a eles conferidos. Bem como sobre A Problemática da Educação 
brasileira e o papel da sociedade, tomando como referências Eliane Sousa e Anísio Teixeira, 
os quais discutirão os malefícios ocasionados por uma sociedade que não se importa com a 
educação, que desconhece seus papéis sociais e que não valoriza a participação na vida 
política. E por fim, Educação para a construção do senso político-democrático, o qual 
analisará a relação entre a educação qualificada e o desenvolvimento de uma sociedade capaz 
de exercer a democracia de forma mais ampla e consciente. 
 
 
2. A educação como direito fundamental tutelado pelo Estado 
 
 
É fato que a educação é fundamental para a humanidade, e, portanto, primordial para o 
convívio do homem em sociedade. “Um homem educado saberá distinguir com mais critério 
o que é bom para si e para a humanidade, saberá descobrir e colocar em prática os princípios 
universais que já se encontram nele em potência, fazendo-os brilhar em ato dentro do direito 
positivo”. (MUNIZ, 2002, p. 69) 
 
 
Pode-se dizer que a educação é um valor intrínseco ao homem, sem a qual, o homem 
não sobreviveria em sociedade. 
“[...] a educação em si, desde os primórdios, foi tida como a condição humana sem a 
qual o homem não conseguiria viver nem sobreviver e, portanto, anterior ao Estado, natural, 
inerente à própria natureza do homem”. (MUNIZ, 2002, p. 14) 
“A educação engloba a instrução, mas é muito mais ampla. Sua finalidade é tornar os 
homens mais íntegros, a fim de que possam usar da técnica que receberam com sabedoria, 
aplicando-a disciplinadamente. Instrução e educação, embora possam ser entendidas como 
duas linhas paralelas com finalidades diferentes, necessariamente devem caminhar juntas e 
integrar-se”. (MUNIZ, 2002, p. 9) 
É pelo papel vital e de suma importância que a educação desempenha na vida do 
homem, que esta passou a ser tutelada pelo Estado. Sem a qual o homem voltaria ao estado de 
selvageria. 
“As leis positivas foram impostas aos homens para regular comportamentos, 
possibilitando-lhes viver em harmonia e liberdade. [...] O homem, por diferir dos animais, 
requer um tratamento diferenciado. [...] O significado do direito natural nos dias presentes é 
uma garantia de que a vida, a dignidade humana e demais garantias do homem sejam 
salvaguardadas juridicamente contra forças de quem detém o poder”. (MUNIZ, 2002, p. 60) 
Segundo Regina Maria Muniz, os direitos inerentes à natureza humana, sempre 
existiram, baseadosem fatores que também influenciaram a criação do Estado Constitucional, 
isto é, preceitos e valores que deveriam estar intrínsecos nas Constituições de todas as nações. 
A Magna Carta da Inglaterra, de 1.215, inaugurou a inserção de valores denominados direitos 
da personalidade, que fazem parte dos direitos fundamentais e de alguns princípios que 
passaram a nortear as declarações e constituições posteriores das nações. (MUNIZ, 2002, p. 
73). 
“A educação, como um dos direitos humanos, tendo origem no direito natural, deve 
ser assegurada de maneira primordial. [...] Ínsita no direito à vida, é instrumento fundamental 
para que o homem possa se realizar como homem”. (MUNIZ, 2002, p. 79) 
A Carta Magna brasileira, em seu art. 205, mostra qual é a finalidade da educação, 
afirmando que esta será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao 
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho. Encargo este a ser compartilhado entre Poder Público, família e 
sociedade, que “devem exercer com a mais absoluta prioridade, não podendo se limitar ao 
ensino formal das disciplinas curriculares tradicionais e/ou ser tarefa exclusiva da escola”. 
(LIBERATI, 2004, p. 278-279) 
“A Constituição Federal de 1988 elegeu, no art. 6º, dentre outros, o direito à educação 
com a dimensão de direito social [...] ‘prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta 
ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores 
condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações 
sociais desiguais [...]’”. (LIBERATI, 2004, p. 209) 
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e 
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, 
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (SARAIVA, 
Constituição Federal de 1988, art. 205) 
É evidente que, para a garantia do direito da criança e do adolescente à educação, foi 
necessário ao Estado impor um dever jurídico, conjunto, da família, sociedade e do próprio 
Estado. Para Liberati, a educação “se constitui num verdadeiro direito natural inerente à 
 
 
pessoa humana, sejam quais forem sua idade ou sua condição social”. (LIBERATI, 2004, p. 
277) 
 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e 
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
(SARAIVA, Constituição Federal de 1988, art. 227, grifo nosso) 
 
Nessa esteira, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, art. 4º) assegura que: 
 
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária 
[...]. (SARAIVA, Lei Federal nº 8069/1990, grifo nosso) 
 
E continua asseverando: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação 
dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer 
cumprir as determinações judiciais”. (SARAIVA, Lei Federal nº 8069/1990, artigo 22) 
O ECA salvaguarda, ainda, a educação infantil, como de fundamental importância, 
visto que é através dela que o pequeno indivíduo se desenvolve plenamente, contando com o 
apoio necessário da família e da comunidade, conforme pensamento de Regina Maria F. 
Muniz, pois 
“O art. 29 determina que ‘A educação infantil, primeira etapa da educação básica, 
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus 
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da 
comunidade’ [...]”. (MUNIZ, 2002, p. 222) 
O Estatuto da Criança e do Adolescente afirma, ainda, que: “A criança e o adolescente 
têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o 
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (...)” (SARAIVA, Lei Federal nº 
8069/1990, art. 53). 
De acordo com Sousa, “essa lei veio para dar efetividade ao que já preconizava a 
Constituição sobre o direito à educação, ao prever a imediata exigibilidade desse direito 
(quando de sua inobservância) perante o Poder Judiciário”. (SOUSA, 2010, p. 53) 
“No mesmo sentido, a Lei n. 9.394/96, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional, em seu art. 5º, faz questão de ressaltar a garantia de intervenção junto ao 
Poder Judiciário como meio de dar efetividade aos direitos nela consagrados”. (SOUSA, 
2010, p. 55) Pois o dispositivo garante que “o acesso ao ensino fundamental é direito público 
subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, e, ainda, o 
Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo”. (SARAIVA, Lei n. 9.394/96, art. 
5º) 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, define no seu artigo 22, o 
objetivo da educação para o desenvolvimento do cidadão, dispondo que: 
 
A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a 
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios 
para progredir no trabalho e em estudos posteriores. E preocupa-se em assegurar que 
o aluno se sociabilize com o mundo exterior ao da sala de aula, e que se 
contextualize de sua realidade política e social, quando assevera, no art. 26, que o 
 
 
currículo deve abranger, obrigatoriamente, o conhecimento da realidade social e 
política, especialmente do Brasil. Ou seja, não pode simplesmente ensinar 
metodicamente as matérias, mas sim com a visão de formar um cidadão preparado 
para enfrentar a realidade do mundo fora da sala de aula. (SARAIVA, Lei n. 
9.394/96, art. 26, § 1) 
 
O que a LDB espera do Sistema de Ensino é que este possa inserir conceitos e 
conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência contra 
a criança e o adolescente, como temas transversais, nos currículos escolares, ainda na 
formação básica, com vistas a uma educação mais sólida e para a formação de uma cidadão 
mais consciente dos seus direitos. (SARAIVA, Lei n. 9.394/96, art. 26, § 9º) 
Em seu artigo 27, define os conteúdos curriculares da educação básica que deverão 
observar, ainda, “a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres 
dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”, como diretrizes. 
(SARAIVA, Lei n. 9.394/96, art. 27, I) 
Embora se tenha uma teoria sólida e bem ajustada, para uma melhor eficácia de todas 
essas ferramentas disponíveis, é necessário que o processo educacional se desenvolva fora do 
ambiente escolar também. Dessa forma, a LDB, em seu primeiro artigo mostra que “A 
educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na 
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos 
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. (SARAIVA, Lei n. 
9.394/96, art. 1º). 
Não somente crianças, em fase de crescimento estão salvaguardadas pelo escudo da 
educação tutelada pelo Estado, mas todos têm esse direito, segundo declaração da ONU. 
 
Toda pessoa tem direito à instrução. (...) A instrução será orientada no sentido do 
pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito 
pelos direitoshumanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a 
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou 
religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da 
paz. (ONU - Declaração Universal dos Direitos Humanos – 10/12/48 – Art. 26) 
 
“Educar de modo qualificado é pensar e agir para a construção, consciente, criteriosa e 
crítica da noção de que o sujeito pessoal, social e cultural contém, potencialmente, a 
humanidade no seu todo”. (NAHUR, LAGE, 2013, p. 469) 
Inserto no presente ordenamento jurídico, a LDB “descentraliza para os Sistemas de 
Ensino dos Estados e Municípios muitas decisões, incumbindo-os de baixar normas 
complementares às nacionais – o que permite que as características regionais e locais sejam 
respeitadas”. Com isso, concede a autonomia na organização e no funcionamento da escola 
quanto aos aspectos administrativo-pedagógicos e disciplinares, com base na legislação 
vigente e normas do Sistema de Ensino, sendo sua elaboração de atribuição do 
estabelecimento de ensino, que deverá envolver nesta tarefa a comunidade escolar. 
(LIBERATI, 2004, p. 74-75) 
“A lei que se fizer, estabelecendo os novos órgãos de direção escolar, deve encerrar o 
conjunto de medidas necessárias para integrar a educação no ritmo da nova constituição e 
sagrar, ao mesmo tempo, a independência e autonomia do mais amplo empreendimento social 
realizado sob as vistas protetoras do Estado e com recursos públicos”. (TEIXEIRA, 2007, p. 
60) 
A LDB, em seu art. 14, inciso II, descreve a importância da participação da 
comunidade no planejamento e atuação escolar, descrevendo como um dos seus princípios a 
 
 
participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes, o que 
faz toda a diferença em termos de qualidade para a formação acadêmica. (LIBERATI, 2004, 
p. 266) 
Sousa afirma, “melhorar a qualidade de ensino não depende apenas da Carta – da 
Constituição. Sobretudo, depende de fatores econômicos, políticos, enganjamento da 
sociedade, de estruturas que de fato levem o direito à educação a ser prioridade política do 
país”. (SOUSA, 2010, p. 51) 
Liberati afirma que “nossa ordem jurídica contempla, definitivamente, a educação 
como direito fundamental da pessoa humana, tutelado e garantido pela força da organização e 
controle social – características próprias do Estado de Direito, que prima pela obediência à 
lei”. Conclui que a educação é a chave para estabelecer e reforçar a Democracia, promover o 
desenvolvimento humano sustentável e contribuir para uma paz baseada no respeito mútuo e 
na justiça social, pois “educação é poder”. Diz mais, quando afirma que “onde a liderança, a 
criatividade e o conhecimento desempenham um papel cada vez mais preponderante, o direito 
à educação se constitui, em última análise, no direito a participar da vida do mundo 
moderno”. (LIBERATI, 2004, p. 210) 
Sendo assim, não há dúvida de que o ordenamento jurídico brasileiro tem dado 
respaldo ao Sistema de Ensino com uma boa dose de autonomia na elaboração de seu 
regimento escolar, para que este possa ser capaz de fornecer uma educação mais eficiente e de 
qualidade a todos, tendo em vista o amparo legal do Poder Público, com o apoio da família e 
da comunidade. 
 
 
3. A Responsabilidade do Estado na Educação 
 
 
É certo que o Estado não somente tem a tutela da educação, como função social, mas 
também é responsabilizado quando de sua omissão no cumprimento de seu dever, previsto na 
Constituição Federal. 
“Se a educação, como um todo, é considerada direito fundamental, pressupõe-se que é 
dever do Estado garantir o acesso (a todos) ao ensino médio – considerado apenas uma etapa 
da educação básica – como forma de iniciar um processo de distribuição de justiça social, 
através da universalização do atendimento, concretizando, deste modo, a finalidade do 
Estado”. (LIBERATI, 2004, p. 226). 
 
A responsabilidade do Estado, perante seus cidadãos, está associada a um dever, que 
lhe é imposto pelo ordenamento jurídico, quer no âmbito constitucional, quer no 
infraconstitucional. A educação, condição para a formação do homem e tarefa 
fundamental do Estado, é um de seus deveres primordiais, sendo que, se não o 
cumprir, ou o fizer de maneira ilícita, pode ser responsabilizado por dano moral e/ou 
patrimonial. O fundamento da responsabilidade civil do Estado encontra-se no artigo 
37, § 6º da Carta Magna, amparado pelo princípio da igualdade e solidariedade 
social, segundo o qual toda a sociedade responde pelo dano causado por seus 
agentes, no exercício da função, repartindo, assim, o peso entre todos os cidadãos. 
(MUNIZ, 2002, p. 211-212) 
 
“O direito fundamental à educação é extensivo a todos (e, em especial, a crianças e 
adolescentes, principais clientes do sistema educacional). A educação, como direito de todos e 
dever do Estado, deve ser oferecida e desenvolvida de modo a permitir a completude da 
finalidade do Estado de proporcionar o bem-estar de todos”. (LIBERATI, 2004, p. 215). 
 
 
A tutela do Estado não se resume apenas na garantia formal do acesso à educação. Sua 
finalidade em garanti-la é mais que uma obrigação é uma responsabilidade prevista no 
ordenamento jurídico. 
 
[...] a responsabilidade objetiva do Estado também está presente quando a educação 
não for ministrada de conformidade com os princípios ditados pela Declaração 
Universal dos Direitos da Criança, art. 7º: “Toda criança terá direito a receber 
educação, que será gratuita e compulsória, pelo menos no grau primário. Ser-lhe-á 
propiciada educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la, em 
condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de 
emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se membro 
útil da sociedade”. O art. 53 do ECA encampou essa mesma ideia. A Lei de 
Diretrizes e Bases, de 20/12/96, também estabeleceu metas importantes e bases para 
a educação nacional. O art. 1º, do Título I, estatui que “A educação, dever da 
família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de 
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, 
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. As 
expressões “pleno desenvolvimento do educando” e “preparo para o exercício da 
cidadania” deveriam ser consideradas com mais seriedade e determinação, para o 
seu efetivo cumprimento. (MUNIZ, 2002, p. 221) 
 
O ordenamento jurídico prevê, ainda, um outro meio de proteger direito líquido e certo 
de pessoa e assegurá-la de seus direitos, dentre todos, destaque-se a educação. Visto que o 
dispositivo legal constante do art. 5º, LXIX da Constituição Federal prevê o mandado de 
segurança como remédio a vítimas que, por alguma razão, tiveram algum direito lesado, não 
amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou 
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições 
do Poder Público. 
Ou seja, um estabelecimento de ensino, mesmo que seja particular (pois é considerada 
uma “função pública delegada”), que, por qualquer motivo, negar o acesso à educação, 
poderá ser responsabilizado na forma da lei. Pois lesionou um direito fundamental daquele 
que necessita da sua prestação de serviço. Sendo assim, há cada vez mais casos em que se 
busca pelas vias judiciais a devida e respectiva solução, como resposta à pretensão do seu 
direito subjetivo líquido e certo, eventualmente transgredido ou simplesmente negado. 
(MUNIZ, 2002, p. 204). 
“Pela redação de tal dispositivo, verifica-se que não se previu exclusivamente 
mandado de segurança contra ato arbitráriode autoridade pública, mas também de agente de 
pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, como ocorre com os dirigentes 
de escolas particulares”. (MACHADO JÚNIOR, 2003, p. 109) 
Quanto ao direito coletivo lesado, caberá o mandado de segurança coletivo, em defesa 
dos interesses de toda uma categoria, contra qualquer que estiver investido no papel de Poder 
Público. Isto significa que qualquer aluno, qual seja o estabelecimento educacional ao qual 
pertença, público ou particular, pode e deve lançar mão dessa, dentre outras ferramentas para 
a garantia do seu direito à educação. 
 
 
3.1. Da responsabilidade objetiva dos Estabelecimentos de Ensino 
 
 
 
 
Ao Poder Público caberá a garantia de todos à educação, devendo este priorizar em 
todos os aspectos essa questão, principalmente, quanto ao preparo dos profissionais da área e 
sua valorização. 
 
Se é correto dizer que ao Poder Público incumbe garantir a todos uma educação, 
que, de acordo com o art. 205 da Constituição Federal, visa o desenvolvimento 
integral da pessoa, também não podemos deixar de reconhecer que a ele cabe o 
dever de preservar e proteger, de maneira efetiva, os que se acharem sob sua guarda, 
devendo empregar todos os meios necessários para bem cumprir esse encargo 
jurídico. Na maioria das vezes, os eventos lesivos são consequência da omissão, da 
inércia ou da displicência de seus funcionários. [...] O Estado existe para que o 
homem realize-se como vida, como pensamento, como matéria, como espírito, como 
pessoa e como comunidade. Entretanto, só será possível se o Estado estabelecer 
como prioridade absoluta a questão educacional. [...] Ora, a educação, como 
essência da personalidade, inserida no direito à vida, deveria ser considerada com 
mais seriedade pelos agentes administrativos. [...] Se o Estado, por meio de seus 
agentes públicos, desinteressa-se por esse trabalho, as consequências maléficas de 
sua omissão serão sentidas por toda a sociedade. A omissão do Estado, 
principalmente no que concerne ao dever educacional, pode ser causa de danos 
irreversíveis. (MUNIZ, 2002, p. 217-219) 
 
Além das ações constitucionais, a exemplo do mandado de segurança, há ainda uma 
variedade de meios dos quais os alunos podem lançar mão em defesa de seus direitos 
educacionais. “[...] é possível o questionamento do litígio segundo o Código de Defesa do 
Consumidor (Lei n. 8.078/90), pois o ensino deve ser caracterizado como um serviço 
oferecido e prestado pelas entidades educacionais privadas. Nessa lei, há múltiplos direitos e 
obrigações de ambas as partes envolvidas no contexto ensino-aprendizado, que derivam do 
serviço firmado contratualmente entre a entidade educacional e o estudante”. (MACHADO 
JÚNIOR, 2003, p. 125-126) 
Conforme se constatou em um processo judicial em que o autor da ação civil de 
indenização por danos materiais e morais relativa à prestação de serviços educacionais, ex-
aluno de determinada instituição de ensino, celebrou contrato de prestação de serviços 
educacionais com o estabelecimento que se obrigou a fornecer determinado curso com 
duração de 4 semestres (dois anos). Após ter cursado um ano, o estabelecimento o informou 
do encerramento do curso por falta de recursos financeiros, tendo sido este fato alheio a sua 
vontade e causado em virtude da perda de patrocínio de uma empresa parceira. O autor 
ajuizou a presente demanda buscando ressarcimento pelos danos materiais e morais 
experimentados. A ré visou isentar-se da responsabilidade sob o pretexto de que encontrou 
para o autor e para todos os demais alunos, outras faculdades para continuidade do curso sem 
que tivessem qualquer prejuízo disciplinar ou financeiro. Embora tivesse previsão contratual 
para alegar isenção da responsabilidade (sob a ótica civilista), infringiu dispositivos da 
legislação consumerista (Código de Defesa do Consumidor – arts. 2º e 3º), além de transferir 
para o consumidor risco inerente à atividade empresarial. Dessa forma, a responsabilidade dos 
prestadores do serviço opera-se independentemente de culpa, da qual não se exoneram a não 
ser nas hipóteses do parágrafo 3º e respectivos incisos do artigo 14 da referida lei, o que, de 
fato, não ocorreu (quais sejam: tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; a culpa exclusiva 
do consumidor ou de terceiro). A ré, ainda, não demonstrou que cumpriu com seu dever de 
transparência, pois não informou com clareza ao aluno sobre o enceramento do curso e que 
deveria informar a possibilidade do infortúnio no momento da matrícula. Sendo a sentença 
desfavorável ao estabelecimento de ensino, apelou-se ao Tribunal de Justiça de São Paulo. 
Assim, o órgão colegiado entendeu que o enceramento inesperado do curso se constituiu uma 
 
 
falha na prestação do serviço contratado, não havendo dúvida, portanto, que tal procedimento 
foi indevido e causou, independentemente de qualquer outra prova, danos ao autor. Desta 
forma a Câmara manteve a sentença anteriormente prolatada, negando provimento ao recurso 
impetrado pela instituição, condenando-a ao pagamento de indenização por danos morais. 
(BRASIL, TJ-SP, 26ª Câmara de Direito Público, Reg. n. 2014.0000561829, Rel. Des. Vianna 
Cotrim) 
“O objeto dessas ações civis pode referir-se a indenizações patrimoniais e 
extrapatrimoniais, referentes a quaisquer violações de direito, inclusive, quando for o caso, 
com a antecipação da tutela quando no caso específico surgir claro o fundado receio de dano 
irreparável ou de difícil reparação (art. 273, I, do Código de Processo Civil)”. (MACHADO 
JÚNIOR, 2003, p. 126) 
Através de algumas jurisprudências pode-se constatar como os Tribunais estão 
interpretando o direito à educação, no seu pragmatismo dos casos concretos, e que é parte 
indispensável da análise da construção do direito educacional, conforme se vê: 
 
[...] os Tribunais estão consolidando um direito à educação, que está acima das 
normas legais, mas de acordo com a interpretação a ser dada pela Constituição 
Federal, pois “A norma constitucional, pela qual a educação é um direito de todos e 
um dever do Estado, não pode ficar a depender de leis ordinárias. Sempre que 
possível, em casos como o de que se cuida, deve ser adotada a decisão que realiza o 
princípio constitucional, pena de negar-se a supremacia da Constituição”. (TRF 5ª 
Reg., 1ª T., MAS 523002/93, Rel. Juiz Hugo Machado, DJ 24.9.93, pág. 39474). 
(MACHADO JÚNIOR, 2003, p. 128) 
 
Dessa forma, toda atividade exercida por estabelecimento de ensino tem natureza 
pública. Os estabelecimentos particulares prestam serviço público por delegação, o que 
implica a sua submissão ao regime jurídico da responsabilidade objetiva, consagrado no art. 
37, 6º, da Constituição Federal, em igualdade com os estabelecimentos públicos. As escolas 
particulares, desta forma, são consideradas agentes de serviço público, e respondem direta e 
objetivamente pelos danos que causarem a terceiros, a elas aplicando-se a interpretação 
existente quanto ao dispositivo legal da Constituição Federal: “As pessoas jurídicas de direito 
público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que 
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o 
responsável nos casos de dolo ou culpa”. (MUNIZ, 2002, p. 224) 
A doutrina e a jurisprudência, com respaldo de tal dispositivo apontam para a 
responsabilidade objetiva do Estado, que implica a possibilidade jurídica de obter a respectiva 
reparação junto ao Poder Judiciário, por meio das medidas judiciais cabíveis. (MUNIZ, 2002, 
p. 207) 
 
Na Constituição de 1988, o dever do Estado de indenizar por danos causados por 
seus agentes a terceiros, acha-se consignadono art. 37, § 6º, não condicionado à 
culpa do agente, o que implica a responsabilidade objetiva, podendo, para excluir ou 
atenuar o dever indenizatório, alegar, somente, culpa da vítima ou caso fortuito. Ao 
lesado, bastará apenas fazer a prova do nexo de causalidade entre a ação e omissão 
do agente público e o dano causado. Na 2ª alínea do dispositivo constitucional 
citado, vem estabelecida a regra da responsabilidade subjetiva do funcionário, pois, 
este poderá sofrer ação regressiva do Estado para o ressarcimento do dano. 
(MUNIZ, 2002, p. 213-214) 
 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, a palavra responsabilidade determina a ideia de 
segurança ou garantia de restituição por um dano causado a um bem. O Código Civil 
 
 
brasileiro adotou a teoria da responsabilidade subjetiva (que imprescinde de culpa), como 
regra, e a teoria da responsabilidade objetiva (aquela que independe de culpa) que obriga o 
agente a pagar indenização pelo dano ou a reparar o interesse privado lesado; levando em 
consideração a teoria do risco que pode causar a terceiros, mesmo que a conduta seja isenta de 
culpa. (GONÇALVES, 2014, p. 497-500). 
Com anuência da Constituição Federal, o Código Civil também trata da 
Responsabilidade Civil, segundo a qual “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo”. 
Entende-se por ato ilícito, no Código Civil, qualquer ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, que viole direito e cause dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral. Ou seja, o Estado pode ser responsabilizado e ter que indenizar uma 
vítima por ato ilícito praticado por um de seus agentes no exercício de suas funções. 
(SARAIVA, Lei Federal n. 1.0406/02, art. 186). 
 
Para efeito de responsabilidade objetiva, é necessário que o sujeito passivo da ação 
sejam, de acordo com o art. 37, § 6º, da Constituição, as pessoas jurídicas de direito 
público e as de direito privado prestadoras de serviço público. [...]” (MUNIZ, 2002, 
p. 223-224) 
 
Desta forma, estabelecimentos de ensino particular, respondem responsavelmente 
como se pessoa jurídica de direito público fossem. Pois na função delegada de fornecimento 
de ensino, desempenham atividade pública. 
 
No art. 206, VII (“O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] 
VII – garantia de padrão de qualidade”), o Estado garante a todos uma educação de 
qualidade, de modo que todos possam competir de maneira igualitária. Assim, 
embora o Estado não se omita na prestação educacional, mas o faça de maneira 
irresponsável, causando danos irreparáveis para um cidadão, também é passível de 
responsabilidade civil, pois falhou no seu propósito e finalidade. (MUNIZ, 2002, p. 
222) 
O Código Civil não privilegia entidade alguma, tanto pública quanto particular, no que 
tange à responsabilização civil, tanto por prejuízo causado na prestação do direito à educação 
quanto na falta de prestação deste serviço. 
 
[...] O ensino é serviço público a teor contundente do art. 205 da Constituição 
Federal, como dever do Estado e franqueado à iniciativa privada, que, todavia, deve 
se submeter às condições impostas pelo art. 209, da Constituição Federal [...] A 
atividade, assim, tem natureza pública e está jungida, necessariamente, aos 
fundamentos e princípios em que se sustém a Constituição Federal: cidadania, 
dignidade da pessoa humana, emanação do poder que advém do povo, que o exerce 
por meio de representantes eleitos, sociedade livre, justa e solidária, garantia do 
desenvolvimento nacional, erradicação da pobreza e da marginalização e redução 
das desigualdades sociais e regionais, promoção do bem de todos, sem preconceitos 
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, 
prevalência dos direitos humanos e cooperação entre os povos para o progresso da 
humanidade (art. 1º, incisos II, III, parágrafo único, art. 3º, incisos I a IV, art. 4º, 
incisos II e IX, da Constituição Federal). Inconcebíveis o alcance e a concretização 
de tais princípios e fundamentos sem que a educação, latente e em potência no ser 
humano, esteja presente e seja uma constante na vida do cidadão, indispensável para 
o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho (art. 205, Constituição Federal)”. (MUNIZ, 2002, p. 
197-198) 
 
 
 
Desta forma, complementa Canivez: “[...] se os direitos e deveres do cidadão forem 
resultantes de um contrato, [...] o indivíduo tem obrigações e goza de certos direitos porque 
obrigações e direitos pertencem a qualquer indivíduo”. (CANIVEZ, 1991, p. 27) 
Isto é, como em toda relação contratual, se um indivíduo for prejudicado e sentir-se 
lesionado por ato da outra parte, será amparado legalmente, devendo recorrer às vias judiciais. 
 
 
4. A Responsabilidade da Família na Educação 
 
 
Bom seria se o Estado não tivesse que intervir na educação, e que a família, 
juntamente com a sociedade, não negligenciasse na função do amparo e da vigilância para o 
cumprimento desse dever legal. Isto é, se todos participassem ativamente da garantia do 
exercício deste direito, o Ente Estatal pouco seria acionado como fiscal da lei ou como 
responsável indireto pelos danos causados. Subentende-se, pois, que a educação está 
intrínseca, embutida nas relações familiares, e que o lar é a primeira escola. 
“Descobrir o sentido da vida, a razão de ser das coisas no mundo circundante, é uma 
responsabilidade didática a que nenhum pai, mestre ou educador pode se furtar”. (MUNIZ, 
2002, p. 182-183) 
Os deveres dos pais na educação de seus filhos, dentro do ordenamento jurídico 
brasileiro são bem visíveis em diversos dispositivos. O Código Civil, nos artigos 1.566 e 
1.634 é bem explicito quanto aos deveres dos cônjuges: “sustento, guarda e educação dos 
filhos [...]”. Estabelece, ainda, a competência dos pais, quanto aos filhos menores, que deve 
“dirigir-lhes a criação e educação [...]” (SARAIVA, Lei Federal n. 1.0406/02, grifo nosso). 
Essa função familiar atribui um certo poder, conferido aos pais, sobrepondo-lhe uma 
autoridade indispensável, no processo educacional, sobre o indivíduo em formação, como 
complementa Regina Maria, que afirma: 
 
Esse direito-função dos pais está intimamente ligado com o poder-dever, isto é, a 
atribuição de guardar, educar e corrigir. É sob a guarda dos pais que é possível 
ministrar aos filhos uma educação integral, atende-los nas suas necessidades básicas, 
como saúde, formação moral, religiosa e instrução etc. Entre os deveres decorrentes 
da guarda, a doutrina estabelece que pode o pai reclamar o filho de quem 
ilegalmente o detenha e impedir o convívio com determinadas pessoas, a frequência 
em lugares não condizentes para sua formação, a escolha, inclusive, de espetáculos e 
leituras adequadas à sua idade, vigiar sua correspondência, interceptar as conversas 
telefônicas etc. (MUNIZ, 2002, p. 170-171). 
 
“O UNICEF, ao desenvolver os 12 princípios que fundamentam o documento 
Educação para Todos, situa em primeiro lugar o envolvimento da comunidade, destacando 
que os sistemas educacionais bem-sucedidos possuem uma forte identificação com a 
comunidade de pais e de alunos”. (LIBERATI, 2004, p. 226) 
A responsabilidade do Poder Familiar, normatizada até mesmo em âmbito 
internacional, conforme Declaração dos Direitos da Criança, confere aos pais, sobretudo, o 
dever e a prerrogativa do afeto e da segurança, imprescindíveis à criança. 
 
Foi a partir do século XIX que surgiram as primeiras declarações em que se dava 
maior importância à educação e ao dever dos pais em ministra-las aos filhos. O 6º 
Princípio da Declaração dos Direitos da Criança, 1ª parte, proclamada pela ONU, em20/11/59, assegura que, para o desenvolvimento completo da personalidade infantil, 
é necessário que a criança receba amor e compreensão, sendo que os pais, sempre 
que possível, deverão oferecer aos filhos um ambiente de afeto, segurança moral e 
material. Assim dispõe o 6º Princípio: “A criança, para o pleno e harmonioso 
desenvolvimento de sua personalidade, necessita amor e compreensão. Sempre que 
seja possível, deverá crescer ao amparo e sob a responsabilidade de seus pais e, em 
todo o caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material. [...] No mesmo 
diapasão, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da 
Costa Rica), de 1969, art. 19: “Toda criança tem direito às medidas de proteção que 
sua condição de menor requer por parte da família, da sociedade e do Estado”. 
(MUNIZ, 2002, p. 165-166 apud COMPARATO, 1999, p. 332). 
 
Para Muniz, os pais respondem também pelos atos ilícitos que seus filhos menores 
causarem a terceiros, de acordo com o Código Civil. Essa responsabilidade confiada ao 
“poder familiar”, é decorrente da obrigação de vigilância que os pais exercem sobre todos os 
atos dos filhos menores de 18 anos. O Poder familiar previsto na legislação trata da autonomia 
dos pais e/ou cuidadores na educação de seus filhos. Conforme prevê o Código Civil: “Os 
filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores”. (SARAIVA, Lei Federal n. 
1.0406/02, art. 1.630). Assevera, ainda, quanto ao exercício do Poder Familiar, a sua 
competência: “Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: dirigir-lhes a criação e 
educação; tê-los em sua companhia e guarda; representá-los, até aos dezesseis anos, nos 
atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes 
o consentimento; exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua 
idade e condição; [...]”. (SARAIVA, Lei Federal n. 1.0406/02, art. 1.634, grifo nosso) 
“A responsabilidade dos pais na educação de um filho é fundamental na formação de 
seu caráter, pois educar é elemento integrante da vida. Por meio dela o homem atinge o seu 
ideal supremo, pois ele não é somente a sobrevivência física, mas foi planejado para viver em 
toda a sua plenitude, desenvolvendo todas as suas potencialidades”. (MUNIZ, 2002, p. 182) 
Entretanto, o homem não atingirá a sua plenitude por si só, afirma Muniz. É necessário 
o amparo do ambiente familiar, do lar fraternal, para seu pleno desenvolvimento em todas as 
fases da vida. Sendo o lugar em que vive e as situações pelas quais vivenciou na infância a 
causa de serem no futuro. Muitas crianças que apresentam comportamentos distorcidos na 
idade adulta, certamente têm sua causa confirmada ainda na primeira fase infância. O 
subconsciente é capaz de guardar traumas de infância que explodem mais tarde trazendo 
graves consequências para a vida adulta, a serem exteriorizadas no seio da sociedade. Os pais 
de ontem, em suas ações ou omissões, são a causa dos filhos adultos se tornarem o que são 
hoje. E pelas muitas situações a que os expuseram, muitos contribuíram, infelizmente, para 
estarem mergulhados em vícios, crimes e atitudes de imoralidade. (MUNIZ, 2002, p. 182-
183) 
 
Os pais não podem se eximir da responsabilidade ou atenuar sua culpa, 
responsabilizando apenas a sociedade por terem perdido o poder de direção de seus 
filhos. [...] De fato, a educação primeira é vital para a formação do caráter, posto ser 
na família que o homem contrai os hábitos da disciplina, do respeito, da 
fraternidade. A família não deixa de ser uma miniatura do Estado. [...] A família, 
como primeira educadora, precisa, entretanto, ser revalorizada. Embora muitos 
fatores econômicos sociais venham intervir na educação dos homens, não há dúvida 
de que é na família que se forma o caráter para o bem ou para o mal. Quanto mais 
uma sociedade distancia-se dos valores familiares, mais ela afasta-se do bem 
comum. É necessário moralizar os costumes e restaurar os bons sentimentos. Isso 
depende mais da família do que de qualquer legislação, desde que ela se proponha a 
 
 
conservar em essência suas virtudes tradicionais e valores permanentes. (MUNIZ, 
2002, p. 182, apud GONÇALVES, 2002, p. 112). 
 
A família, célula da sociedade, com amparo do Estado é o Instituto que tem por função 
primordial a formação humana integral, fortemente coordenada, a fim de que o homem 
crescido possa cumprir seu papel e realizar seus objetivos. Deve fundar-se em valores sólidos, 
utilizando-se da ferramenta educação, direito fundamental e implícito no direito à vida, para 
propiciar um ambiente familiar adequado, para depois exigir do Estado a efetivação desse 
direito a seus filhos. É dever dos pais exigir do Estado melhor qualidade das escolas, pois a 
eles cabe, primeiramente a vigilância quanto ao ambiente escolar e aos conteúdos 
disciplinares, e, posteriormente, fazer uso da tutela jurisdicional para fazer valer seus direitos. 
Não deve reivindicar seus direitos por uma escola moderna, de alto padrão só por reivindicar, 
mas, sobretudo, para que se forneça um ensino de sólido conteúdo, que ensine valores morais, 
com profissionais bem preparados e bem pagos, a fim de trazer melhores resultados para a 
educação de seus filhos. A família, em seu papel de educadora, não pode se calar ante a 
omissão Estatal, mas tem a obrigação (dever jurídico) de exigir que o Estado propicie os 
meios necessários ao integral desenvolvimento educacional, para que os educandos possam se 
realizar como pessoas e como cidadãos futuramente. Os efeitos de um ajustado 
relacionamento entre família e Estado na educação são manifestos quando da capacidade na 
formação integral de um homem educado. “Só assim o homem não será apenas um cidadão 
do Estado, mas um cidadão do mundo”. (MUNIZ, 2002, p. 183-185, grifo nosso) 
Sem a contribuição necessária da comunidade, fica cada vez mais difícil tornar os 
pequenos educandos em exemplares cidadãos de amanhã. Os pais têm não só o dever 
garantido pela Constituição de zelo dos filhos, como podem ser incriminados pela falta de 
responsabilidade para com estes. Exemplo disso pode-se constatar em um caso em que o pai 
respondeu criminalmente por abandono intelectual. Segundo o Código Penal (art. 246 da Lei 
Federal n. 2.848/1940), pratica o crime aquele que: “Deixar, sem justa causa, de prover à 
instrução primária de filho em idade escolar”. Segundo o acórdão que manteve a decisão do 
juiz singular, condenando o genitor pelo crime já descrito. O caso conta que o menino deixara 
de frequentar as aulas no ensino primário, tendo o Conselho Tutelar advertido os pais diversas 
vezes, e, inclusive tendo constatado que o filho mais velho do casal também já tinha passado 
pela mesma situação. O argumento sustentado pelos conselheiros era de que os pais com 
certeza possuíam dificuldade de entenderem a importância dos estudos na vida dos filhos. O 
pai alegava que era separado da mãe e que não tinha tempo para acompanha-lo, o que não 
justificou o não cumprimento de um dever inerente ao poder familiar. Dessa forma, o 
Tribunal negou provimento ao recurso interposto pelo genitor, mantendo a decisão que o 
condenava, por entender que nenhum dos argumentos apontados pela defesa como 
justificativa para deixar de prover a instrução ao menor eram válidos. Entendendo que o réu 
“descumpriu dolosamente seus deveres inerentes ao poder familiar, sendo ausente no 
zelo pelo bem estar do menor, descuidando da educação e dação de ensinamentos”. 
(BRASIL, TJ-SP, 4ª Câmara de Direito Criminal, Reg. n. 2014.0000152983, Rel. Des. Edison 
Brandão) 
 
A dignidade da pessoa humana encontra seu fundamento na Constituição Federal, no 
art. 1º, III [...]. As três instituições, – Estado, sociedade efamília – portanto, devem 
pautar-se nos mesmos princípios e valores, para que todos possam atingir a 
excelência física, mental, espiritual e social, em condições de liberdade e igualdade. 
E é somente por meio da educação que o homem consegue atingir sua plenitude. A 
educação, que é iniciada na família, necessita da cooperação de toda a sociedade, 
sem a qual se torna infrutífera. O dever de solidariedade social, consagrado no art. 
 
 
3º, I, da Constituição, implica uma prestação positiva dos cidadãos entre si. 
(MUNIZ, 2002, p. 186) 
É por isso que somente em comunhão de propósitos a família, a sociedade e o Estado 
podem oferecer uma educação capaz de assegurar a dignidade da pessoa humana e de 
transformar o homem, preparando-o para que ele possa transformar o mundo ao seu redor. 
 
 
5. A problemática da educação brasileira e o papel da sociedade 
 
 
Na concepção de Muniz, há inúmeras consequências desastrosas para uma sociedade 
que não se preocupa com a educação efetiva de seus membros. Pois o homem ignorante não 
respeita seu semelhante, se acha superior às leis e não enxerga nada além do seu ego. Esta 
ignorância não diz respeito apenas à falta de instrução, mas também à falta de uma educação 
solidária, consciente e responsável. O homem criado com boa educação conseguirá assimilar 
e respeitar os direitos do próximo. Essa é uma das razões pela qual, segundo a autora, a 
educação está “acima de qualquer outro direito social”. (MUNIZ, 2002, p. 231) 
Ao ver de Sousa, a educação corre o sério risco de tornar-se em mais uma mercadoria 
no setor de serviços, e sendo assim, “está na iminência de perder o seu caráter de bem social 
para se transformar apenas em um serviço do setor terciário”. O Direito Constitucional, 
porém, estabeleceu que cabe ao Estado “pensar a educação como um valor social, um bem 
intangível, sob pena de ela tornar-se equivalente a qualquer outro tipo de serviço a atentar 
contra a soberania nacional, o desenvolvimento e a cultura do país”. (SOUSA, 2010, p. 69-70) 
 
Na atualidade, o maior problema não é encontrar a informação, mas ter acesso à 
informação de qualidade, que potencialize o desenvolvimento dos indivíduos, para 
que se tornem menos distantes da exclusão social. E a exclusão social, aliás, tem 
como um dos seus mais importantes ingredientes a falta de informação [...] Portanto, 
dar aos indivíduos um ensino de qualidade é papel da escola, assegurado 
constitucionalmente, como um dos pressupostos do direito à educação e ao 
desenvolvimento social. Educar cientificamente é preparar para o futuro, é formar 
cidadãos participantes e com consciência crítica. Todavia, não são poucos os 
obstáculos para a implementação de políticas públicas voltadas para a 
democratização do conhecimento científico. [...] tem-se: “deficiências na formação 
de professores; escassez de recursos; fragmentação de políticas públicas que 
contemplem a complexidade do sistema educacional brasileiro e que permitam uma 
interferência efetiva na realidade”. (SOUSA, 2010, p. 70-71) 
 
Além das falhas no sistema de ensino e na política, há ainda o papel distorcido dos 
meios de comunicação que traz sérios danos à estrutura educacional do ser humano, como 
constata Muniz: 
 
A sociedade atua na educação da criança, não só através das escolas, dos 
professores, mas principalmente dos meios de comunicação social, que ditam 
padrões de comportamento, distorcendo, na maioria das vezes, o processo educativo 
iniciado no lar [...] Em função do dever social da educação, imposto pelas 
legislações em vigor, arts. 3º, I, e 205 da Carta Magna, e 4º do ECA, é que se exige 
dos estabelecimentos de ensino uma boa formação moral, cultural e profissional para 
o educando, respondendo civilmente pelos danos causados a seus alunos, pela má 
administração educacional. [...] Há, nos meios de comunicação, aqueles que, 
ignorando tais princípios, têm abusado de seu direito, com programas pouco 
educativos, fomentando violência e impondo inversão de valores a criança e 
 
 
adolescente, que, dificilmente, quando se tornarem adultos, poderão ser apagados. 
Toda sociedade sofre as consequências danosas da má educação de seus membros 
[...] (MUNIZ, 2002, p. 187, 210-211) 
 
A sociedade, por meio dos meios de comunicação em massa exercem significativa 
influência na educação de crianças e adolescentes. É por isso que as informações absorvidas 
pelos jovens cidadãos devem ser filtradas, no sentido de que não sejam prejudiciais aos 
pequenos indivíduos ao longo do processo educacional. 
 
De fato, os meios de comunicação social influenciam sobremaneira as crianças e os 
jovens ainda em formação, bombardeando-os com informações, que, muitas vezes, 
vão de confronto a tudo aquilo que os pais, com tanto sacrifício, conseguiram 
conquistar, causando efeitos negativos nos mais íntimos valores de uma criança. 
(MUNIZ, 2002, p. 208, grifo nosso) 
 
Para Sousa, “a crise pela qual passa o Estado é fruto da sociedade pós-moderna que, 
povoada de castas, esquece do valor dos direitos fundamentais”. (SOUSA, 2010, p. 20) 
O resultado da irresponsabilidade da sociedade, em geral, são constatados nos altos 
índices de criminalidade, evasão escolar, analfabetismo, trabalho infantil etc. Ou seja, nos 
muitos casos de vítimas do descaso e do desafeto. Frutos estes plantados e colhidos pela 
mesma sociedade. Pois a mão que não corrigiu quando podia é a mão que seca as lágrimas, 
quando já é tarde demais. 
 
No direito brasileiro, o sistema educacional ainda está distante de ser um bom 
exemplo. Embora o governo sustente que se esforça para erradicar o analfabetismo, 
convivemos com milhões de crianças fora da escola e, o que é pior, sendo obrigadas 
a trabalhar para a complementação do salário familiar em lugares considerados 
como submundo. Educar não é somente matricular crianças na escola. Não é pelo 
número de creches e escolas construídas que se mede a educação de um povo. 
Educar é formar caráter e isso requer planejamento, seriedade e vontade política 
consciente. Entretanto essa situação é e tem sido até hoje uma história de abandono 
e descaso por parte de nossos governantes. Se o Estado não cumpre com esse dever 
constitucional de colaborar com a educação de seus cidadãos desde a tenra idade, 
dever este que está positivado na Constituição e em todas as leis infraconstitucionais 
aqui trazidas à baila, evidentemente que está propiciando aos próprios cidadãos e 
concidadãos digladiarem-se, pois está contribuindo para o desregramento total da 
sociedade. O Estado não pode fugir de sua função educadora e muito menos pode 
deixar que as escolas privadas o suplantem no cumprimento deste dever. Deverá 
estar presente na formação de seus cidadãos, em parceria com a sociedade, 
preocupado, precipuamente, com a formação da personalidade infantil, implantando 
programas educacionais de qualidade e não apenas abrindo novas escolas. É preciso 
estar atento ao conteúdo das mesmas, procurando proporcionar à criança as 
condições de vida mais próximas de um lar, formando hábitos sadios, ensinando-
lhes virtudes e estimulando sua capacidade gradativa no meio social com 
treinamentos e seleção criteriosos de pessoal e voluntários. (MUNIZ, 2002, p. 223-
224) 
 
Na concepção de Anísio Teixeira, o problema da educação nacional inicia-se do 
modo “sentimental” pelo qual encara-se o problema, trocando-se as causas pelos efeitos e 
vice-versa. A exemplo disso cita os índices de alfabetização, como algo a ser conquistado a 
qualquer preço, para se atingir a meta de um povo civilizado. O que na verdade é um 
equívoco, pois precisa-se da civilização primeiro, para depois os índices irem aumentando 
automática e gradativamente. Parao autor, são desses tipos de equívocos que advêm os graves 
 
 
problemas da educação brasileira. O problema assume diversas causas. A seu ver, quando se 
troca os fins pelos meios (causas por efeitos), aumenta-se ainda mais a compreensão 
equivocada do problema, reduzindo-o a algo que poderá ser resolvido com “soluções rápidas 
e ‘salvadoras’, planejadas para serem implantadas com promessa de milagre. É necessário ser 
realista. A educação, analisada de forma mais exata, é um ‘fenômeno de civilização, como a 
arte, a literatura e a filosofia. Não se fazem tais coisas com receitas. Elas nascem de 
condições sociais determinadas [...] Nesse sentido, não há povos deseducados, há povos com 
diferentes educações... E mudar-lhes a educação importa sempre em mudar-lhes também a 
civilização’”. 
Em seu entendimento, a mudança de civilização não é tão simples como trocar de 
roupa. Todo processo de mudança é complexo. É necessário reconhecer as mais variadas 
causas, que nem sempre advindas da ação direta ou intencional do homem. No caso das 
nações americanas, por exemplo, afirma que fomos civilizados por outrem e vestimos os 
trajes de outras civilizações, mesmo sem saber usá-los. É visível que, “para nossas condições 
precisamos de soluções nossas”. O papel da escola surge nesse momento com um propósito 
claro e definido, permitindo que se consolidem determinados processos sociais. (TEIXEIRA, 
2007, p. 41-43) 
Teixeira acredita que o controle exercido pelas forças sociais – e não como era o 
modelo dantes adotado, de união entre o Estado e a Igreja – seja o mais favorável à livre e 
plena expansão das instituições educativas. Para ele, 
 
a função do Estado democrático é manter os serviços educacionais, defendendo-os 
das influências imediatistas dos governos, ou da influência profunda de ideologias 
partidárias; [...] abrir mão do governo da educação, para conservar, tão-somente, 
sobre a mesma, o direito de lhe defender a liberdade e a imparcialidade. Para isso, o 
Estado democrático organiza os serviços educativos de modo a que se governem a si 
mesmos, obedecendo, tão-somente, às próprias influências ou às que se façam sentir 
na sociedade a que se destinam. [...] Devemos procurar dar à educação uma direção 
que a coloque a salvo das investidas da politicagem e, conjuntamente, lhe resguarde 
a independência e a liberdade, para se desenvolver dentro das próprias forças sociais 
que deve representar. (TEIXEIRA, 2007, p. 56-58) 
 
Para Sousa, educar é proporcionar um ambiente aberto para mudanças. É dar a 
chance aos indivíduos de mudarem o rumo da sociedade. Devendo ser tal benefício ser 
ampliado a todos, indiscriminadamente. 
 
É primordial que amplos setores da população tenham acesso ao conhecimento 
científico para que estejam preparados para compreender o mundo em que vivem e 
desfrutar de melhor qualidade de vida. [...] o acesso de todos a uma escola de 
qualidade amplia a competência do país para operar transformações e cria um clima 
favorável para mudanças. É um meio de abertura que dá ao indivíduo uma chave de 
autoconstrução e de se reconhecer como capaz de opções. (SOUSA, 2010, p. 71-72) 
 
Entretanto, “o contexto político e o meio social são determinantes na construção do 
direito à educação”. Para Sousa, os sistemas de ensino no Brasil “têm conjuntamente um 
discurso voltado para o desenvolvimento social, o qual esbarra em uma legislação complexa e 
no conflito de interesses por parte das diversas instâncias políticas, mais especificamente da 
sobreposição da União aos demais entes federados”. (SOUSA, 2010, p. 156-157) 
Afirma que: “o aprofundamento democrático no Brasil está subordinado ao resgate 
de valores éticos, ao exercício da cidadania e a um projeto generoso e inclusivo – 
denominado: – federalismo, que tem sido concebido como um vitorioso mecanismo de 
 
 
democratização do poder político, na medida em que desconcentra as decisões públicas e 
permite maior grau de participação popular na organização política”. (SOUSA, 2010, p. 159-
160) 
A seu ver, é necessário buscar valores sociais que se perderam ao longo do tempo, 
enfraquecidos ou por um complexo jurisdicional e político que em nada contribuem para o 
aperfeiçoamento do direito educacional e para a formação do senso de democracia, conforme 
se discutirá a seguir. 
 
 
6. Educação para a construção do senso político-democrático 
 
 
Está claramente previsto na Constituição brasileira (artigo 205) a educação como um 
pré-requisito para o desenvolvimento da pessoa e como um preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho. Sem a qual, nenhum indivíduo seria capaz de se 
tornar um cidadão. 
“O tipo de trabalho político que encoraja de forma contínua os cidadãos a se tornarem 
mais autônomos, mais informados, mais poderosos em todos os setores da vida pessoal e 
social deve denominar-se Educação (crítica)”. (NAHUR, LAGE, p. 465 apud SANTOS, 
2012) 
“Educação é a função natural pela qual a sociedade transmite a sua herança de 
costumes, hábitos, capacidades e aspirações aos que nela ingressam para a continuarem. A 
educação escolar é um dos modos por que se exerce tal função”. (TEIXEIRA, 2007, p. 43) 
 
Hodiernamente, a sociedade deseja uma escola que tenha a finalidade de transmitir à 
criança a herança social, os valores morais e espirituais nela contidos. A instrução 
escolar não objetiva apenas a apresentação da verdade pelo professor e a sua simples 
aceitação pelo educando em decorrência da autoridade daquele, mas do caráter, 
integridade e reações frente à vida do educador, que, assim, servirá como exemplo 
para seus discípulos. (MUNIZ, 2002, p. 10) 
 
Teixeira vê a escola com uma infinidade de funções sociais das quais a sociedade 
necessita para sobreviver. A escola regula a distribuição social, pois a educação escolar 
prepara os homens para as mais diversas ocupações e atividades humanas. Ela visa preparar o 
homem para alguns dos grandes tipos de ocupação, nela se ensina técnicas, gerais ou 
específicas, mas sempre processos racionais de se fazerem as coisas e de se explicarem os 
fenômenos. E, importa-se em preparar os homens para aquisição de conhecimentos para os 
diversos tipos de trabalho da vida atual. Mas há a coexistência confusa de duas finalidades da 
escola na atualidade. A primeira é a de preparação técnica. A outra é a de “cultura 
desinteressada, contemplativa, para a vida do espírito e da imaginação”, na qual, outrora, se 
formavam cidadãos intelectuais, divulgadores do saber humano. Pelo seu caráter puramente 
científico ou literário, preparavam-se homens preocupados em formular sentimentos, devotos 
de trabalhos de especulação e de imaginação. Escola esta que se deixa gradualmente ser 
absorvida por aquela outra, de preparação técnica, por ser compreendida como menos 
eficiente. Na sua concepção, no Brasil, a luta travada entre esses dois tipos de culturas são 
apagados ou disfarçados na própria inconsciência orgânica da educação nacional. “Pode-se, 
entretanto, descobri-los, sem grande esforço”. (TEIXEIRA, 2007, p. 43-44; 46-47) 
Sendo assim, seus reflexos são visivelmente constatados numa sociedade pouco 
politizada, conforme análise de Canivez, a seguir. 
 
 
 
Grande parte dos cidadãos pouco se preocupa com a ação política. [...] O cidadão 
pode ter parte ativa agindo sobre os que governam, contribuindo principalmente para 
a formação da opinião pública. Mas nos deparamos ainda com o problema da 
educação. Porque a igualdade dos cidadãos implica a igualdade dos indivíduos em 
relação ao saber e à formação. Surge enfim a questão do tipo de educação do 
cidadão assim definido. Essa educação não pode mais simplesmente consistir numa 
informação ou instrução que permita aoindivíduo, enquanto governado, ter 
conhecimento de seus direitos e deveres, para a eles conformar-se com escrúpulo e 
inteligência. Deve fornecer-lhe, além dessa informação, uma educação que 
corresponda à sua posição de governante potencial. (CANIVEZ, 1991, P. 31) 
 
Para Sousa, a educação é garantia mínima para o exercício de cidadania. O conceito de 
“mínimo existencial” à luz do ordenamento constitucional, seria uma quantidade de um certo 
bem, ou seja, condição básica para sua existência. Um mínimo de educação corresponde a 
uma fração mínima da dignidade da pessoa humana [...]”. (SOUSA, 2010, p. 26, apud 
Barcellos, 2002, p. 248) 
“O mínimo existencial, é a base principiológica para a concretização dos direitos 
fundamentais, mais especificamente do direito à educação, pressuposto para a sobrevivência 
do Estado de Direito, porque ele enseja a própria condição de desenvolvimento da 
personalidade humana de cada indivíduo, consequentemente, da cidadania”. (SOUSA, 2010, 
p. 19) 
 
O direito à educação mantém íntima relação com os princípios fundamentais da 
República Federativa do Brasil, principalmente com o princípio da dignidade 
humana. Isso porque a educação promove o desenvolvimento da personalidade do 
indivíduo e da cidadania e contribui para construir a identidade social. [...] o acesso 
à educação propicia o desenvolvimento de uma sociedade livre, mais justa, e 
solidária. É o retorno que o indivíduo “educado” formalmente dá para a sociedade, 
pois passa a ter consciência de sua individualidade, atrelado a forte sentimento de 
solidariedade social. [...] o direito à educação, além de guardar forte conexão com o 
princípio da dignidade humana, ainda estreita os laços com o direito de liberdade, 
pois sem consciência crítica e livre determinação não há falar em pessoas realmente 
livres em um Estado Democrático de Direito. [...] Nessa perspectiva, a Carta de 
1988 não deixou dúvidas de que o direito à educação, mais especificamente ao 
ensino fundamental, é parte da condição de dignidade da pessoa humana e do 
mínimo existencial. (SOUSA, 2010, p. 34-35) 
 
Canivez vê a ação do educador na transmissão dos princípios e preceitos 
fundamentais, e que impõe ao indivíduo o respeito a regras sociais e uma forma de 
comportamento coerente aos valores da sociedade (denominada socialização) como de vital 
importância para o desenvolvimento do educando e do futuro cidadão. Entretanto, a 
socialização só terá sentido na vida do indivíduo se este raciocina, questiona. O indivíduo só é 
considerado educado quando é capaz de discernir a legitimidade e ilegitimidade das regras 
que lhe são impostas. O educador, portanto, assume o papel de adestrador social, que leva o 
educando a ter um comportamento de aceitação das leis, porém com a compreensão 
necessária do por que de se obedecer a essa ou àquela norma. Ou seja, fornece-lhe o método, 
o caminho pelo qual poderá perceber o que faz sentido e o que é contraditório. E, refletindo 
sobre o sistema legal e jurídico no qual está inserto, o indivíduo passa então ao plano político, 
elaborando para si sua fórmula de entender o mundo, usando da sensatez e da coerência. 
(CANIVEZ, 1991, p. 150-151) 
 
 
 
O que dá fundamento ao Estado é, portanto, a autoridade da lei. Disso resulta uma 
primeira consequência relativa à educação do cidadão: o “espírito” de uma 
república, para falar como Montesquieu, é o do respeito da lei como tal, isto é, por 
princípio, independentemente das imposições mais ou menos violentas que podem 
forçar os indivíduos à obediência. Por conseguinte, a educação do cidadão deve 
difundir esse espírito de obediência livremente consentida às leis e o sentido de 
igualdade que lhe está intimamente ligado. É verdade que o Estado recorre com 
frequência à força e que o medo das sanções desempenha papel importante no 
respeito a certas obrigações. Mas, enquanto o Estado não tiver meios para colocar 
um policial atrás de cada indivíduo [...], o princípio do Estado moderno será que o 
cidadão obedece às leis porque essa obediência lhe parece, em consciência, legítima. 
(CANIVEZ, 1991, p. 27). 
 
A cidadania é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, de acordo com 
a Carta Magna, em seu 1º artigo. Constitui-se uma prerrogativa inerente a todo cidadão, 
membro integrante desse Estado de Direito, confiada para o exercício pleno de seus direitos. 
Para Liberati, a qualidade do ensino é vital para o desenvolvimento da cidadania. 
(LIBERATI, 2004, p. 242) 
A cidadania, segundo o dicionário jurídico, é 
 
Palavra que se deriva de cidade. Não indica somente a qualidade daquele que habita 
a cidade, mas, mostrando a efetividade dessa residência, o direito político que lhe é 
conferido, para que possa participar da vida política do país em que reside. [...] A 
cidadania é expressão, assim, que identifica a qualidade da pessoa que, estando na 
posse de plena capacidade civil, também se encontra investida no uso e gozo dessa 
cidadania [...]. (SILVA, 2014, p. 289) 
 
Na concepção de Canivez, a cidadania dá ao indivíduo um status jurídico, ao qual se 
agregam direitos e deveres próprios. É o modo pelo qual o indivíduo é inserido na sociedade, 
é a sua relação com o poder político. (CANIVEZ, 1991, p.15) 
 
Os direitos humanos de natureza política não são necessariamente conferidos a todos 
desde logo, porque implicam opções conscientes e complexas que não podem ser, 
por exemplo, deferidas a uma criança, como é o caso da cidadania. Mas não é por 
essa restrição de idade que o direito deixa de ser uma das espécies de “direitos 
fundamentais do Homem” como designativa dessa realidade, abarcando não 
somente os direitos individuais, mas também os direitos sociais e os de solidariedade 
[...]. (NAHUR, LAGE, p. 463-464 apud TAVARES, 2006) 
 
A cidadania se conceitua na participação ativa nos assuntos da comunidade. Ter 
cidadania é não deixar-se meramente ser governado, mas dar sua contribuição como 
governante. Dessa forma, gozar da liberdade a todos garantida não se resume em não assumir 
compromissos e querer apenas gozar de direitos. Muito pelo contrário, é ser “coparticipante 
no governo”. (CANIVEZ, 1991, p. 30) 
Os cidadãos concorrem, obrigatoriamente, na escolha dos governantes, seja 
diretamente (por plebiscito) ou indiretamente (quando das eleições de representantes por 
mandato). Segundo Canivez, essas condições garantem ao indivíduo a proteção contra a 
arbitrariedade do poder, garantindo-lhe o gozo de suas liberdades fundamentais. Como se lê 
no texto constitucional: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. (SARAIVA, 
Constituição Federal de 1988, art. 1º, § único) 
 
 
 
 [...] o indivíduo é politicamente ativo na medida em que vota. A eleição [...] é 
decisão coletiva em que cada qual assume sua parte de responsabilidade, semelhante 
à de qualquer um. Mas [...] a grande maioria dos cidadãos – sem falar os que não 
votam – são politicamente ativos apenas no momento das eleições, ou seja, 
episodicamente. A maior parte do tempo somos politicamente passivos: indivíduos 
puramente privados [...] de qualquer influência no destino da comunidade. 
(CANIVEZ, 1991, p. 29) 
 
Política, na acepção jurídica, designa “a ciência do bem governar um povo, 
constituído em Estado. Assim, é seu objetivo estabelecer os princípios, que se mostrem 
indispensáveis à realização de um governo, com o cumprimento de suas precípuas finalidades, 
em melhor proveito dos governantes e governados [...]”. (SILVA, 2014, p. 1060) 
Segundo o entendimento de Canivez, Estado de direito entende-se pelo exercício do 
poder regulado pela lei, em relação à qual todos os indivíduos são iguais,desarticulando, 
assim, as deliberações arbitrárias, típicas de regimes ditatoriais e tiranos. Neste regime “a 
comunidade política define-se pela recusa da violência como método de solução dos 
conflitos; ou ainda, para dizer de forma positiva, pela escolha da discussão pública como meio 
de resolver esses conflitos, chegando a decisões comuns”. (CANIVEZ, 1991, p. 22; 26-27) 
O Estado Democrático de Direito pressupõe uma forma de organização política de 
Estado baseada na democracia, ou seja, na vontade soberana do povo. Em que se tem uma 
estrutura jurídica do Estado, bem como um método de governo. (CANIVEZ, 1991, p. 25) 
Democracia “é o governo do povo, pelo povo e para o povo”. (SILVA, 2014, p. 437) 
“Democracia sem educação e educação sem liberdade são antinomias, em teorias, que, 
desfecham, na prática, em fracassos inevitáveis”. (TEIXEIRA, 2007, p. 59) 
O princípio da democracia moderna, segundo Canivez, p. 75, se dá quando confia-se 
aos indivíduos a possibilidade de participarem dos negócios. É um princípio fundamental, que 
distingue as democracias modernas das antigas. E sua realização depende do grau de evolução 
da sociedade. Todos possuem seus direitos sociais bem definidos e garantidos, presumindo-se 
que todos tenham não apenas um direito moral, mas também o mínimo de capacidade exigida 
para que se exerça a cidadania ativa. (CANIVEZ, 1991, p. 75) 
Portanto, espera-se que a família, a sociedade e o Estado se empenhem na formação 
integral de um sujeito participativo da política do Estado democrático de Direito para a 
evolução da sociedade contemporânea. 
 
 
7. CONCLUSÃO: 
 
 
 Conforme se constatou neste artigo, a educação é a chave para o exercício da 
cidadania, vetor para se estabelecer e reforçar a democracia, visando ao pleno 
desenvolvimento e realização do homem. É capaz de transformar o ser humano, de 
desenvolver neste uma consciência político-democrática e, consequentemente, mudar a 
sociedade em que se vive. Pois com uma base educacional sólida, o indivíduo será capaz de 
compreender melhor a problemática que assola sua realidade social, bem como de raciocinar, 
discutir e arguir sobre sua participação na vida política e social. O atual sistema educacional 
tem-se mostrado frágil, obsoleto e inflexível demais para uma sociedade em constante 
mudança. A problemática brasileira se agrava pela falta de atenção, de planejamento e de 
prioridade a serem dispensadas na implementação de políticas e programas educacionais 
eficazes. É necessária uma mudança na mentalidade social: soluções próprias que 
 
 
correspondam às nossas condições e que possam atender à nossa realidade, não permitindo 
que o contexto político seja determinante na construção do sistema educacional, mas que 
possam se governar por seus próprios objetivos e metas, sem que sejam moldados por 
influências pretenciosas próprias da politicagem. E, sobretudo, com a conjugação de esforços 
para a efetivação do direito à educação, a ser impulsionada primordialmente pela família e 
pela sociedade, principais difusores de instrução e de saber, bem como pelo Estado, o tutor do 
direito. A realidade social demonstra que se espera o melhor desempenho de cada instituição, 
ou seja, da família, que exerça sua função primordial de ensinar valores de natureza moral 
relativos à dignidade humana, iniciando o processo de formação do caráter e da personalidade 
do indivíduo. Da escola, que seja responsável pela formação da consciência político-
democrática-acadêmica e da estrutura disciplinar, e por difundir e consolidar tais valores já 
iniciados no âmbito familiar, com enfoque social, interessada em despertar o senso de 
cidadania, de respeito ao bem comum e à ordem democrática, preparando o indivíduo para o 
mundo do trabalho. E, enfim, do Estado, que este possa consolidar a estrutura educacional já 
estabelecida, atuando na vigilância da garantia dos direitos, bem como respondendo por 
quaisquer danos causados aos bens jurídicos que tutela. Visto que o acesso ao ensino é direito 
público garantido pela Lei Maior e que o ordenamento jurídico prevê sua imediata 
exigibilidade perante o Poder Judiciário sempre que este for ameaçado ou quando de sua total 
inobservância. Neste contexto, a sociedade se torna a anfitriã em todo esse processo 
educacional, uma vez que, a comunidade é responsável também por colaborar na formação 
cultural e integral dos indivíduos, sendo que, através dos meios de comunicação sociais 
exerce grande influência na construção de ideias e na formação de opinião. Imperiosa é sua 
responsabilidade em inserir novos valores e aperfeiçoar os conceitos já internalizados, 
proporcionando, ainda, a socialização do indivíduo no convívio com os outros, através das 
relações interpessoais, dos movimentos sociais, das instituições educacionais, das 
organizações civis. Desta feita, o dever jurídico a ser compartilhado entre Poder Público, 
escola, sociedade e família, sob pena de responsabilidade, é essencial para a garantia do 
direito à educação e da formação de um cidadão consciente de sua contribuição para com a 
democracia. Visto que educar é proporcionar um ambiente aberto para mudanças, seu objetivo 
é preparar para o futuro, é instigar o senso imaginativo, contemplativo do ser humano, dando-
lhe liberdade de pensar em mudar o mundo e de transformar conceitos obsoletos. Através dela 
pode-se construir uma sociedade mais justa, mais humana, com senso crítico e consciência 
político-democrática. Além de que, trata-se de um direito humano consagrado 
internacionalmente, um princípio constitucional tutelado pelo Estado Democrático de Direito, 
inerente a toda e qualquer pessoa. Portanto, a educação é fator socializador, capaz de 
contextualizar o indivíduo de sua própria realidade política e social, bem como do potencial 
transformador que possui sobre esta. 
 
 
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