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Dermatite de Fraldas (1)

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Dermatite de Fraldas
Durante a vivência nos ambulatórios de pediatria, foi possível perceber que a maioria das crianças possuía algum grau de dermatite na região coberta pelas fraldas. Por isso, tendo em vista a demasiada frequência desses casos, a abordagem deste assunto torna-se relevante, a fim de alcançar domínio sobre o diagnóstico, tratamento e, principalmente, prevenção da Dermatite de Fraldas. 
Esta condição consiste na causa mais comum de dermatite na primeira infância, de modo que 25% das crianças até dois anos a manifestará. Se apresenta como uma inflamação cutânea causada pelo contato direto entre a pele e a região coberta pelas fraldas, o que inclui períneo, glúteo, abdome inferior e coxas. A principal etiologia é multifatorial, abrangendo hiper-hidratação, fricção, temperatura, irritantes químicos, urina e fezes. Em relação a estas últimas, a lesão ocorre devido ao fato de as fezes das crianças conterem grande quantidade de enzimas proteolíticas e lipolíticas, causando alterações na barreira epidérmica quando em contato prolongado. Ainda, a ureia da urina é degradada pelas bactérias intestinais, gerando a amônia, que pode funcionar como um agravante da dermatite.1,2,3 
Quando esses fatores lesionam o estrato córneo, inicia-se a inflamação. A partir disso, passam a agir de modo a potencializá-la e tornam a região vulnerável a infecções por agentes microbianos oportunistas, como a Candida albicans. Ademais, infecção por bactérias da flora cutânea e intestinal pode ocorrer, e outra causa possível, porém rara, é a lesão por alergia a algum componente da fralda, como plásticos, corantes e elásticos.2,4 
O diagnóstico é clínico, de modo que habitualmente a criança se apresenta chorosa e irritada, devido a dor causada por essa condição. Ao exame físico, percebe-se lesões eritematoedematosas, às vezes com exsudação e erosões, predominantemente em áreas convexas e menos intensas nas dobras. Ainda, podem se apresentar de forma mais grave, com ulcerações ovais ou redondas, com fundo raso e de configuração crateriforme, chamada por alguns autores de Dermatite de Jacquet. Quando ela ocorre, ao regredir, pode deixar a área acometida atrófica e hiperpigmentada.1,2 
Além disso, em casos de infecção secundária por Candida albicans, as lesões características são pápulas eritematodescamativas brilhantes que confluem e formam placas, cujas bordas revelam pequenas pústulas, e não poupam as dobras.2,4
O tratamento da Dermatite de Fraldas tem como medida fundamental evitar o contato da pele com as fraldas impregnadas por urina e/ou fezes. Para isso, deve-se orientar a troca de fraldas várias vezes ao dia e a utilização água morna para lavagem local, evitando-se o uso de sabonetes. Em relação aos lenços umedecidos, seu uso não é recomendado e, portanto, deve ser desencorajado. Ainda, recomenda-se a aplicação de pomadas à base de óxido de zinco, as quais funcionam como barreira entre as excretas e a pele. Como opção, alguns autores sugerem vaselina ou lanolina, e adicionam ao tratamento o uso de compressas frias com solução Burow 1:30 até três vezes ao dia, o que confere efeito calmante, antisséptico e secativo.1,2
Ademais, as fraldas de pano devem ser evitadas, pois permitem maior contato de urina e fezes com a pele, sendo preferível a troca por fraldas superabsorventes. Ainda, nos casos em que a inflamação é intensa e persistente, pode-se lançar mão de um corticoide tópico de baixa potência, como hidrocortisona a 1%, no máximo duas vezes ao dia, por sete dias.1,2
Nas situações em que ocorre infecção secundária por Candida albicans, é recomendado o banho de assento ou compressa com permanganato de potássio a 1/40.000, duas a três vezes ao dia, associado ao uso de creme com ação antifúngica, como nistatina a 100.000 U/g, cetoconazol ou nitrato de miconazol 1%. O corticoide pode ser revezado com o antifúngico, aplicando-os antes do creme de barreira. Se for identificada infecção bacteriana, é recomendado o uso tópico de Gentamicina e Neomicina. Quanto aos antibióticos orais, não devem ser utilizados, sob risco de agravamento do quadro por alterar a flora intestinal.1,2 
Conclui-se, portanto, que a dermatite de fraldas, além de dolorosa, é passível de complicações por infecções secundárias, podendo ser prevenida através da higienização correta. Assim sendo, os médicos que lidam com a população pediátrica devem estar aptos a realizar as devidas orientações aos cuidadores e ter domínio sobre o diagnóstico e o tratamento desta condição, a fim de evitar futuras complicações. 
Referências bibliográficas:
Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG. Perinatologia – Fundamentos e Prática. 3 ed. São Paulo: Sarvier; 2015. 
Filho JSR, Carvalho CGN. Dermatite das Fraldas, fisiopatologia e tratamento: revisão de literatura. Rev Med (São Paulo). 96(3):183-6; 2017.
Malessa F. Dermatite na região das fraldas atinge 25% de crianças com até dois anos de idade [internet]. Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.sprs.com.br/sprs2013/noticias/detalhe.php?id=23&detalhe=637. Acesso em: 02 dez 2018. 
Zanini M, Wulkan C, Paschoal LHC, Paschoal FM. Erupção pápulo-ulcerativa na região da fralda: relato de um caso de dermatite de Jacquet. An bras Dermatol (Rio de Janeito). 78(3):355-359; 2003.

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