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Ortotanásia: A Morte Correta

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
Psicologia da Saúde 
Gisele Trommer Martines 
Aléxia Teixeira, Caroline Brazeiro, Daniela Pippi, Eveline Freese, 
Gabriel Lobato, Hanna Kemel e Laíne Domingues 
 
ORTOTANÁSIA 
 
1. INTRODUÇÃO 
Ortotanásia, etimologicamente a palavra significa “morte correta”, originária 
do grego: orto = certo thanatos = morte, o termo se dá em função de a ortotanásia 
significar morrer no tempo correto, ou seja, o não prolongamento artificial do 
processo de morte. 
“Prolongamento artificial do processo de morte” (distanásia), é a definição 
que mais se encaixa nos objetivos do presente trabalho, que busca, entre outros, 
instigar o leitor a refletir se a obstinação em manter o funcionamento orgânico 
significa prolongar a vida ou prolongar as características do processo de morte. 
Ainda que a morte seja uma parte fundamental e imperativa da vida humana 
desde que o ser é capaz de se perceber dessa forma e compreender o ciclo dela 
com um término, pode se dizer que é uma característica geral temer e fugir da 
mesma. A obsessão por prolongar a existência indica um problema na forma como 
o indivíduo se relaciona com esse aspecto natural e incontestável da vida, e por 
consequência na forma como vive. 
“A concepção de dignidade humana que nós temos liga-se à 
possibilidade de a pessoa conduzir sua vida e realizar sua 
personalidade conforme sua própria consciência, desde que não 
sejam afetados direitos de terceiros. Esse poder de autonomia 
também alcança os momentos finais da vida da pessoa” (BORGES, 
2001). 
Mesmo sendo muito lógico que o indivíduo, em posse de suas faculdades 
mentais, possa e tenha o direito de escolher como vai viver os últimos momentos de 
sua vida, o respeito ao ciclo vital e a dignidade humana (ortotanásia), somente se 
tornou legal na história brasileira a partir de 2010, e a discussão entre Conselho 
Federal de Medicina (CFM) e Ministério Público Federal (MPF) durou mais de 4 
anos até que se decidisse pela legalidade da prática, processo esse que será 
discutido sobre a perspectiva ética da decisão. 
 
 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
A ortotanásia se configura pelo procedimento onde o médico suspende o 
tratamento, realizando apenas práticas terapêuticas paliativas, a fim de evitar mais 
dores e sofrimentos para o paciente terminal, ou seja, que já não tem mais chances 
de cura. Sendo a ortotanásia uma não ação sobre o indivíduo em fase terminal, para 
se gerar um entendimento profundo sobre ela é importante entender a ação que ela 
não representa, chamada de distanásia. A distanásia se define por prolongar o 
funcionamento biológico, manter o indivíduo “vivo” pelo máximo de tempo possível. 
 “É assunto do campo da Bioética e é traduzido, segundo o 
Dicionário de Bioética, como “morte difícil ou penosa, usada para 
indicar o prolongamento do processo da morte, através de tratamento 
que apenas prolonga a vida biológica do paciente. Ela é sem 
qualidade de vida e sem dignidade. Também pode ser chamada 
Obstinação Terapêutica”. (MENEZES, 2009) 
O conceito de morte é relativo, em função de vivermos em um cenário 
científico que propõe o ser humano com partes distintas, não como um todo, a 
incapacidade de percebê-lo de forma holística é um fato exemplificado por 
Engelhardt (1998), que disse, “uma situação é estar interessado no momento em 
que a vida humana biológica deixa de existir e outra é estar interessado no 
momento em que a pessoa deixa de existir.”, logo, diferentes áreas da ciência vão 
abordar a morte e o processo de morrer de formas diferentes. A área medicinal se 
volta totalmente para morte cerebral, considerando o paciente morto somente 
quando não há mais atividade neurológica, e antes disso dispostos a tudo para 
manter o funcionamento orgânico, a perspectiva moral e social do processo de 
morrer é o que levanta os questionamentos sobre o bem-estar do paciente em fase 
terminal, o prolongamento das características do processo de morte, dor física, 
psicológica, social e espiritual, significa estar vivo e vivendo? 
“Para os doentes fora dos recursos terapêuticos de cura, a 
evolução natural é a morte. No entanto, nossa cultura ocidental, 
materialista, nega a existência da morte, ela é temida e lamentada e, 
frequentemente, adiada, valendo-se de métodos artificiais para a 
manutenção das chamadas “funções vitais”, quando, na realidade, o 
indivíduo já deixou de viver. A vida, ao contrário, é celebrada.” 
(Figueiredo, 2006). 
O primeiro estágio psicológico pelo qual passa um paciente em fase terminal 
é a negação, ela é um mecanismo de defesa temporário do ego contra a dor 
psíquica trazida pela morte eminente, a duração desse período é relativa a 
capacidade do paciente e familiares de lidar com essa dor, ao terminar, ela dá lugar 
ao segundo estágio psicológico, a raiva, o ego não consegue manter a negação e 
isolamento e o indivíduo entra em um estado de frustração com a vida que virá a 
perder, ele é um estágio caracterizado pela hostilidade nas relações com o meio, ao 
perceber que negação, isolamento ou hostilidade não irão resolver nada o paciente 
entra no terceiro estágio psicológico, a barganha, onde o paciente tenta negociar 
com a vida mais tempo (geralmente a barganha é feita com “Deus”), este é um 
momento onde o paciente fica sereno, reflexivo e dócil. Quando o paciente toma 
consciência de seu estado frágil, debilitado e terminal, surge um sentimento de 
grande perda, dor e sofrimento psíquico, características de depressão, tristeza, 
sensação de inutilidade e choro dominam a vida do paciente nesse estágio de uma 
doença terminal. A aceitação é quando o paciente encontra uma estabilidade 
emocional, quando ele consegue se relacionar de modo saudável com sua condição 
terminal. A despersonalização do paciente também é comum no ambiente 
hospitalar, o paciente se torna a doença, deixa de ter seu nome e se torna o 
portador de uma patologia, diante da passividade com que observa sua perspectiva 
de vida mudar, não como quer, mas como a doença o faz. 
“A obstinação em prolongar o mais possível o funcionamento 
do organismo de pacientes terminais, não deve mais encontrar 
guarida no Estado de Direito, simplesmente, porque o preço dessa 
obstinação é uma gama indizível de sofrimentos gratuitos, seja para o 
enfermo, seja para os familiares deste. O ser humano tem outras 
dimensões que não somente a biológica, de forma que aceitar o 
critério da qualidade de vida significa estar a serviço não só da vida, 
mas também da pessoa. O prolongamento da vida somente pode ser 
justificado se oferecer às pessoas algum benefício, ainda assim, se 
esse benefício não ferir a dignidade do viver e do morrer” (SÁ, 2005, 
p.32). 
Podemos dizer que a cultura em que vivemos gera um processo de morte 
extremamente penoso, sofrimento psicológico, físico e familiar são características 
recorrentes desse momento, deveria caber como objetivo da ciência de modo geral, 
não lutar contra esse processo, mas entendê-lo como parte do ciclo vital, a fim de 
transformar a perspectiva que se tem desse momento. 
Sendo o indivíduo em fase terminal aquilo que o meio fez dele ao longo da 
vida, temer a morte não é algo sobre o qual ele tenha escolha, não estando em 
hipótese alguma sujeito a julgamentos alheios sobre estar certo ou errado, então, a 
escolha sobre a forma de morrer é um direito do paciente, não cabendo sobre isso 
outra autoridade que não ele mesmo ou a família em segundo plano. 
“Em maio de 2007 o Ministério Público Federal (MPF) 
ingressou com ação civil pública contra o Conselho Federal de 
Medicina (CFM), requerendo o reconhecimento da ilegalidade da 
Resolução CFM nº 1.805/2006 e sua suspensãoliminar. Essa 
Resolução objetiva regulamentar a ortotanásia, com o seguinte texto:” 
(MENEZES, 2013). 
Art. 1º É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e 
tratamento que prolonguem a vida do doente, em fase terminal de enfermidade 
grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. 
§ 1º O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou 
representante legal as modalidades terapêuticas adequadas para cada 
situação. 
§ 2º A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada 
no prontuário. 
§ 3º É assegurado ao doente ou representante legal o direito de 
solicitar uma segunda opinião médica. 
§ 4º Em se tratando de doente incapaz, ausente o representante legal, 
incumbirá ao médico decidir sobre as medidas mencionadas no caput deste 
artigo. 
Art. 2º O doente continuará a receber todos os cuidados necessários para 
aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, assegurada a assistência integral, o 
conforto físico, psíquico, social, espiritual, inclusive assegurando a ele o direito da 
alta hospitalar. 
Art. 3º É vedado ao médico manter os procedimentos que asseguravam o 
funcionamento dos órgãos vitais, quando houver sido diagnosticada a morte 
encefálica em não doador de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de 
transplante, nos termos do disposto na Resolução CFM nº 1.489, de 21.08.97, na 
forma da Lei nº 9.434, de 04.02.97. Parágrafo único. A decisão mencionada no 
caput deve ser precedida de comunicação e esclarecimento sobre a morte 
encefálica ao representante legal do doente. 
Art. 4º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação, 
revogando-se as disposições em contrário. 
Os aspectos jurídicos acerca da atual regulamentação brasileira sobre 
ortotanásia estão sendo abordados no presente trabalho a fins de apontar a 
incompetência e ignorância dos representes responsáveis por isso, no que tange: 1° 
a dignidade humana, porque ao categorizar a ortotanásia como homicídio, o MPF 
não dá outra opção de tratamento aos médicos que não seja a distanásia, que no 
caso de ser indesejada pelo paciente é uma grave agressão à dignidade humana, o 
sofrimento que será infringido ao paciente é desmedido, deixando esse de ser um 
procedimento médico saudável e se tornando uma obstinação terapêutica que beira 
a tortura; 2° a individualidade humana, fazer valer a sua personalidade, implica em 
tomar decisões sobre a própria vida, a variedade de perspectivas e vontades é 
muito grande, cabendo a cada um determinar o que é melhor para si, o que vale 
para os momentos finais da vida, direito esse totalmente ignorado, desrespeitado 
pelo MPF. 
A ação atingiu seus objetivos, a resolução do CFM foi suspensa. Os eixos 
que nortearam a argumentação do procurador do MPF, são: 1° a dificuldade do 
estado de garantir a dignidade do viver e do morrer; 2° o autor da ação interpreta o 
pedido do paciente pela ortotanásia como um pedido de socorro (“Em todo pedido 
de paciente terminal para morrer está implícito um pedido de socorro.”) 3° o autor 
confunde ortotanásia com eutanásia considerando-a uma conduta passível de 
criminalização (homicídio eutanásico) e 4° defende como obrigatória a igualdade na 
morte, sem distinções identitárias. 
“Cabe ainda mencionar um aspecto que se destaca na leitura 
da defesa da suspensão da Resolução do CFM: o uso de variados 
tamanhos de letra, por vezes em negrito, os espaços entre frases ou 
trechos, para realçar certas ideias, a repetição de palavras, como seis 
linhas com “não” consecutivos ou quatro linhas com “pô!” 
consecutivos, além da utilização frequente de pontos de exclamação. 
Tal formatação, aliada à própria maneira de expressão, implica a 
construção de um texto com grande teor emocional ou, em outros 
termos, extremamente passional, que demonstra o grau de rejeição 
do procurador ao conteúdo da Resolução do CFM. Tal postura 
mostra-se não adequada ao Estado de direito democrático, que exige 
uma análise racional e imparcial dos conflitos. O pedido judicial dá 
lugar a um texto fortemente motivado por considerações sobre a 
crença no que ele considera um bem: a manutenção do estado vital 
como único valor atribuído à vida, no contexto ético-jurídico vigente.” 
(MENEZES, 2013). 
A defesa do CFM após a suspensão da resolução diz que não considera um 
ato criminoso em função da inevitabilidade da morte então nesse sentido a 
argumentação do CFM teve como base, 1° o prolongamento da vida a qualquer 
custo, mesmo que seja o sofrimento do ser humano; 2° o direito fundamental a uma 
morte digna, vale dizer, o direito de nós, seres humanos, escolhermos como será 
nosso fim neste mundo. [Assim,] O direito à boa morte é uma decorrência do 
princípio da dignidade humana, um direito fundamental, portanto, e, como tal, de 
aplicação imediata. A resposta do MPF (2008) foi a intimação do CFM para 
comprovar que a ortotanásia não vinha sendo aplicada, e apresentar o diário oficial 
onde foi publicado a suspensão da resolução, ainda em 2008, o CFM requereu a 
ouvidoria de testemunhas e em maio de 2009, novamente o MPF intimou o CFM a 
comprovar que a suspensão vinha sendo respeitada pelo CFM. Em julho de 2009, a 
nova procuradora do MPF, se posiciona a favor da resolução do CFM dizendo: 
“pugna pela improcedência da presente Ação Civil Pública, com a consequente 
revogação da decisão antecipatória que suspendeu a vigência da Resolução CFM 
nº 1805/2006”. 1° de dezembro de 2010, o juiz federal determina que tanto o MPF 
quanto o CFM pugnaram pela improcedência da ação civil pública que requer o 
reconhecimento da ilegalidade da Resolução CFM nº 1.805/2006. 
3. ENTREVISTA 
Foram realizadas duas entrevistas, a primeira com uma profissional da área 
da Psicologia e a segunda com uma profissional da área da saúde, sendo esta uma 
enfermeira que reside e trabalha na cidade de Porto Alegre. 
Entrevista com psicóloga: 
1 - Você já trabalhou com um paciente optante pela Ortotanásia? 
Não, nunca tive essa oportunidade. 
2 - Em sua opinião, qual o maior ponto que deixa em dúvida um paciente 
sobre essa decisão? 
Tomar esta decisão nunca será fácil, pois envolvem escolhas difíceis e que, muitas 
vezes, o próprio paciente não pode tomá-las sozinho. Acredito que a maior dúvida 
neste caso seria do seu bem-estar físico e mental. 
3 - Em sua visão, onde é melhor que os cuidados paliativos com um paciente 
sejam feitos? Em casa ou no hospital? 
Esta decisão sempre será escolhida pelo paciente paliativo, onde ele vai se sentir 
melhor, mais à vontade, pois no ambiente hospitalar por maior que sejam os 
cuidados não há a privacidade e a tranquilidade que o paciente necessita. 
4 - Se você pudesse citar alguns dos maiores medos dos pacientes, quais 
seriam? 
Em primeiro lugar a morte, mas não somente o morrer, mas sim, a maneira que isto 
pode acontecer. O que mais é relatado pelos pacientes que enfrentam alguma 
doença é sobre o sofrimento, o não sentir dor. 
5 - O paciente sente-se melhor quando há uma rede de apoio? 
Com certeza! A rede de apoio seja ela familiar, amigos ou até mesmo equipe 
profissional é fundamental para qualquer enfrentamento de doenças, principalmente 
em casos de doenças terminais e cuidados paliativos. Ter os entes queridos 
próximos neste momento é confortante. 
6 - Em relação aos últimos pedidos do paciente, são atendidos? 
Deveriam ser. Na maioria das vezes não é possível realizar, mas o menor dos 
desejos que sejam, devem ser atendidos. Com isto, o paciente consegue sentir que 
ainda é importante. 
7 - Na maioria dos casos quem toma a iniciativa de conversar sobre o 
assunto? E quem faz a tomada de decisão? 
A equipe médica e/ouequipe de enfermagem é quem deve fazer este comunicado 
primeiramente a família do paciente. Após isto, o familiar de preferência mais 
próximo ou de maior apego deverá passar a informação de maneira sutil e tranquila 
ao paciente, para que a partir disto tomem juntos se for o caso, a tomada de 
decisão. 
8 - Em relação aos familiares, após descobrirem a decisão, quando vinda do 
paciente, como geralmente reagem? 
Na maioria das vezes esta decisão não é aceita pelos familiares, pois isto envolve a 
vida do mesmo. Revolta e tristeza são as primeiras reações geralmente. Mas, o 
paciente estando bem de suas faculdades mentais deve explicar da melhor forma a 
se entender, dos motivos de sua decisão para seus familiares. 
9 - Já soube ou presenciou situações em que a decisão partiu dos familiares? 
Não. Isto pode vir a acontecer caso o paciente não esteja totalmente consciente de 
seus atos, mas na maior parte das vezes não é assim que acontece. 
10 - Sobre os medicamentos, são todos suspensos? E em caso de dor o que 
se utiliza para aliviar? 
Nem todos, isto vai depender do caso em questão. Pois, as vezes o paciente faz 
uso de medicamentos controlados que se suspensos podem acelerar o processo de 
morte. 
11 - Você em algum momento identificou um padrão de influências que 
norteiam a tomada dessa decisão em situações de terminalidade? 
Não acredito que haja um padrão, mas cada familiar e paciente vai pensar no 
melhor para o outro e para si mesmo, visam o seu bem-estar e a chamada boa 
morte. 
12 - Você já presenciou um momento de enfrentamento de conflitos entre 
profissionais e familiares em situações do fim da vida? 
Nunca presenciei. 
13 - Você acha importante que os profissionais da saúde estejam preparados 
para essas situações de terminalidade? 
Sem dúvidas que sim. É muito importante estar familiarizado com este tema, ou 
ainda melhor sempre que possível buscar cursos e conhecimentos nesta área, pois 
todos nós passaremos pelo processo de morte e se colocar no lugar do outro é 
indispensável para levar um bom atendimento e cuidado a quem precisa. 
14 - Você acredita que a ortotanásia pode proporcionar uma melhor qualidade 
de final de vida e promoção de conforto ao indivíduo? 
Esta opção é muito íntima do paciente e deve sempre ser muito bem pensada nas 
consequências que tal decisão acarretará. Devem-se analisar todas as alternativas 
primeiras para que depois se tome a decisão de não optar mais pelo tratamento e 
deixar que a morte siga seu percurso normal. 
15 - Você acha que a ortotanásia é uma opção para que o paciente tenha uma 
morte digna? 
Como mencionado na pergunta acima, esta é uma opção muito séria e deve ser 
muito bem pensada. Às vezes não continuar com o tratamento é a melhor opção, 
visto que, em casos de pacientes com câncer por exemplo, realizar a quimioterapia 
pode apressar a morte por se tratar de uma carga muito elevada de medicações e 
seus efeitos colaterais levam o paciente a dor e sofrimento. 
Entrevista com enfermeira: 
1 - Você já trabalhou com um paciente optante pela Ortotanásia? 
Sim. 
2 - Em sua opinião, qual o maior ponto que deixa em dúvida um paciente 
sobre essa decisão? 
Esta decisão é bastante complicada de ser tomada, é importante que o paciente 
tenha ao seu lado familiares e amigos nesses momentos. Mas acredito que um 
ponto que é levado em consideração é sobre seu bem-estar. 
3 - Em sua visão, onde é melhor que os cuidados paliativos com um paciente 
sejam feitos? Em casa ou no hospital? 
É sempre importante que o paciente tenha essa decisão, pois o conforto e bem-
estar dele depende também da situação da doença. Particularmente acredito que 
em casa o paciente pode viver esse momento de forma mais tranquila. 
4 - Se você pudesse citar alguns dos maiores medos dos pacientes, quais 
seriam? 
O paciente tem bastante medo da forma como irá morrer e do sofrimento que pode 
viver nos seus últimos dias, e por isso, preferem o que entendem como uma morte 
digna e tranquila. 
5 - O paciente sente-se melhor quando há uma rede de apoio? 
Acredito que sim, a rede de apoio é crucial ao meu ver para o bem-estar do 
paciente, faz muita diferença. 
6 - Em relação aos últimos pedidos do paciente, são atendidos? 
Depende bastante da magnitude do pedido, mas a equipe médica e de apoio 
sempre fazem o possível. 
7 - Na maioria dos casos quem toma a iniciativa de conversar sobre o 
assunto? e quem faz a tomada de decisão? 
Não sei exatamente como é na maioria dos casos, mas os casos que tive 
conhecimento foi através de diálogos entre a equipe médica com e familiares e 
posteriormente com o paciente. 
8 - Em relação aos familiares, após descobrirem a decisão, quando vinda do 
paciente, como geralmente reagem? 
A família do paciente demora um pouco a aceitar e até mesmo entender esta 
decisão, mas como parte do próprio paciente, é necessário compreender suas 
motivações e sentimentos para tal decisão. 
9 - Já soube ou presenciou situações em que a decisão partiu dos familiares? 
Não, mas acredito que ocorra quando o paciente esteja inconsciente. 
10 - Sobre os medicamentos, são todos suspensos? e em caso de dor o que 
se utiliza para aliviar? 
Não são todos suspensos, depende bastante da situação do paciente, alguns 
medicamentos quando não utilizados podem acelerar a morte e também causar 
dores agudas. 
 11 - Você em algum momento identificou um padrão de influências que 
norteiam a tomada dessa decisão em situações de terminalidade? 
Não, mas acredito ser o conforto e bem-estar os maiores motivadores dessa 
decisão. 
12 - Você já presenciou um momento de enfrentamento de conflitos entre 
profissionais e familiares em situações do fim da vida? 
Não estive presente, mas já houve momentos de tensão de familiares com a equipe 
médica, mas só no primeiro momento, por acreditar que era o hospital que não 
queria mais ajudar a curar o paciente. 
13 - Você acha importante que os profissionais da saúde estejam preparados 
para essas situações de terminalidade? 
Sim, acho na verdade que seja uma necessidade. O processo de morte é uma 
situação bastante presenciada por profissionais da saúda, ter conhecimento e 
entendimento sobre isso facilita as ações e até mesmo emoções em relação aos 
pacientes. 
14 - Você acredita que a ortotanásia pode proporcionar uma melhor qualidade 
de final de vida e promoção de conforto ao indivíduo? 
Acredito que sim, em muitos momentos é triste ver o paciente sofrendo e passando 
por situações de dor e desconforto. Ter seus últimos momentos de vida de forma 
que facilite seu bem-estar e convivência com familiares é importante para a saúde 
mental do paciente também. 
15 - Você acha que a ortotanásia é uma opção para que o paciente tenha uma 
morte digna? 
Esta decisão é bem particular de cada pessoa, mas em muitos casos parar o 
tratamento é uma opção considerável. 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
“O prolongamento das características do processo de morte, dor física, 
psicológica, social e espiritual, significa estar vivo e vivendo?” Não cabe, em 
hipótese alguma, o julgamento ou a definição do que significa estar vivo, o 
pluralismo moral vigente dá espaço e liberdade para as pessoas serem o que elas 
são, viverem e morrerem conforme sua vontade, logo, cabe a nós de forma 
absoluta, defender as características e vontades individuais, respeitando os desejos 
do indivíduo em qualquer estágio de sua vida. 
O posicionamento inicial do MPF indica um grave problema. Ao longo da 
pesquisa, à medida que se adquire conhecimento sobre a ortotanásia se entendia 
que a não regulamentação da mesma significaria uma gama de desrespeitos à 
dignidade humana, o grave problemaé perceber que essa perspectiva não chega a 
todas as instâncias governamentais mesmo com o fácil acesso a informação e 
variedade de conteúdo já produzido até 2006, colocando aqueles sobre a tutela do 
estado em situação de risco. É preocupante, é motivo suficiente para que se fale em 
adotar posturas que intensifiquem a produção e disseminação de conteúdos que 
defendem a perspectiva holística do ser humano, assim como os direitos e 
liberdades individuais. 
“Respeitamos o direito e a justiça. A resolução em comento 
não é uma manifestação de poder (por parte do CFM), mas é o 
reconhecimento e a expressão de nossa humildade diante da 
natureza. Ao editá-la, entendemos que cumprimos os preceitos éticos 
da beneficência e não maleficência, que constituem os alicerces 
hipocráticos de nossa profissão.” 
 
5. REFERÊNCIAS 
AMORIM, Chaiane; SILVA, Maria Júlia; DAL SECCO, Lígia Maria. 
DISTANÁSIA, EUTANÁSIA E ORTOTANÁSIA: PERCEPÇÕES DOS 
ENFERMEIROS DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA E IMPLICAÇÕES NA 
ASSISTÊNCIA. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2009. 
DOMINGUES, Glaucia Regina et al. A atuação do psicólogo no tratamento 
de pacientes terminais e seus familiares. Psicol. hosp. (São Paulo), São Paulo, v. 
11, n. 1, p. 02-24, jan. 2013. 
LIMA, Carolina Alves de Souza. Ortotanásia, cuidados paliativos e direitos 
humanos. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, SP, Brasil. Rev Soc Bras 
Clin Med. 2015 jan-mar;13(1):14-7. 
MARTA, Gustavo Nader; HANNA, Samir Abdallah; SILVA, João Luis 
Fernandes. Cuidados paliativos e ortotanásia. Departamento de Radioterapia do 
Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. Diagn Tratamento. 2010;15(2):58-
60. 
MENEZES, Rachel Aisengart; VENTURA, Miriam. Ortotanásia, sofrimento e 
dignidade: entre valores morais, medicina e direito. Rev. bras. Ci. Soc., São 
Paulo, v. 28, n. 81, p. 213-229, Feb. 2013. 
TORRES, Wilma da Costa. A Bioética e a psicologia da saúde: reflexões 
sobre questões de vida e morte. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 
475-482, 2003.

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