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DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS E ANIMAIS (Texto didático de autoria de Maria Eugenia M. Costa Ferreira) Segundo a teoria monofilética, cada espécie vegetal ou animal tem um único ponto de origem, a partir do qual se distribuiu, ocupando áreas mais extensas ou menos extensas. Esse processo de ocupação de novas áreas constitui a dispersão; quando a dispersão se dá por meio de sementes, recebe o nome de disseminação. A distribuição das espécies na superfície da terra tem causas internas e externas. As causas internas dizem respeito a determinadas condições do indivíduo ou organismo vegetal e animal, que podem favorecer ou dificultar a sua dispersão. São elas: - capacidade de propagação, que depende de uma reprodução eficiente (bom índice de fertilidade da espécie, proles freqüentes ou muito numerosas) e de modos de disseminação também eficientes. Os animais têm uma disseminação ativa, desde que se locomovem por vontade espontânea; os vegetais, salvo raras exceções (sementes liberadas como um projétil), possuem disseminação passiva: dependem do transporte pelo vento (anemocoria), pela água, pelos animais (Ex: carrapichos e sementes que aderem ao pelo ou às penas) e pelo homem. Este último disseminou inúmeras espécies vegetais ou animais, voluntariamente (milho, batata, café, trigo, eqüinos, bovinos, ovinos, suínos, caprinos, galináceos, etc.) ou involuntariamente (ervas - daninhas, ratos, baratas, piolhos, pulgas, carrapatos). - amplitude ecológica, que envolve adaptações fenotípicas, aparentes (porte, coloração, densidade da pelagem, etc.) ao meio ou às condições do ambiente, sem alteração genética. - potencial evolutivo, que envolve a capacidade de gerar descendentes variantes ou mutantes - por variação genotípica - que apresentam condições de sobrevivência em diferentes ambientes; sobre estas novas formas vai atuar a seleção natural, eliminando aquelas que são menos aptas à sobrevivência e conservando as formas melhor adaptadas ao meio. As causas externas dizem respeito às pressões exercidas pelo ambiente, sobre os seres vivos. Essas pressões ou limitações podem ser de quatro tipos: - “geográficas” (ou “fisiográficas”): como as barreiras constituídas por cadeias de montanhas, oceanos e mares ou rios muito extensos. - climáticas: definindo-se pelas zonas climáticas (equatorial, tropical, temperada, polar, desértica, semi-árida), permitindo que apenas as espécies adaptadas ao tipo de clima reinante possam sobreviver em cada região. - edáficas: envolvendo as diferentes características dos solos (textura, estrutura, porosidade, permeabilidade, teor de nutrientes, pH, teor de água etc.). - bióticas: envolvendo as relações entre as diferentes espécies vegetais e animais (vegetal/vegetal, vegetal/animal, animal/animal), tais como competição, parasitismo e predação. PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES As espécies vegetais e animais ocorrem na superfície da Terra segundo determinados modos ou padrões de distribuição, recebendo, conforme o caso, denominações especiais. Uma família, gênero ou espécie vegetal ou animal pode ser: - cosmopolita: a família, gênero ou espécie ocorre em pelo menos 50% da superfície do globo, ou seja, em diferentes continentes, sob diferentes climas, a altitudes diversas e em diferentes latitudes. São exemplos muitas espécies de plantas aquáticas, além das ervas - daninhas (gramíneas e outras herbáceas), moscas, baratas e ratos. - endêmica: a espécie, gênero ou família, ao contrário da cosmopolita, ocorre em um território estritamente localizado, na superfície da Terra (um só continente, ou ilha, região, domínio, setor ou distrito biogeográfico). Exemplos: a fauna australiana (cangurus, ornitorrinco, équidna, kiwi); cactáceas, que só ocorrem nas Américas, fauna das ilhas Galápagos. O endemismo é comum em ilhas, picos de montanhas e desertos, devido ao isolamento causado por barreiras “geográficas”, climáticas (ecológicas) ou genéticas (incapacidade de cruzamento entre subespécies). - disjunta: a família, gênero ou espécie em questão ocorre em duas ou mais áreas atualmente não comunicantes, separadas por barreiras geográficas. O fato se dá quando um território originalmente contínuo ou interligado por pontes naturais (colar de ilhas, istmos) se esfacela (por submersão da “ponte”, deriva continental, mudança climática etc.), criando-se uma descontinuidade. Exemplos: (1) a família dos camelídeos, originária do noroeste da América do Norte deu origem às user Typewriter causas de distribuição internas ao organismo user Typewriter adaptaçãonullnullaparente user Typewriter ajustenullnullgenéticonullnullevolutivo user Typewriter user Typewriter barreirasnullnulle nullnullfacilidadesnullnulldo meio user Typewriter padrões de distribuição Edited by Foxit ReadernullCopyright(C) by Foxit Corporation,2005-2010nullFor Evaluation Only.null populações de camelos e dromedários do Velho Mundo (Ásia e África) e à lhama, vicunha e guanaco, do Novo Mundo (América Andina); (2) a bétula anã, própria da região subpolar, também ocorre nas porções mais altas dos Alpes, tendo migrado do Pólo Norte para esses locais durante as fases glaciais; com o reaquecimento, permaneceram populações de bétula anã “ilhadas” nas porções mais elevadas da cadeia alpina. - vicariante: uma mesma espécie ou subespécies muito próximas ocorrem em pontos completamente distintos da superfície do planeta; resulta de uma antiga área de distribuição muito ampla de determinada espécie que, devido ao desmantelamento das condições ambientais (climáticas, continentais) pretéritas, está hoje fragmentada; o isolamento da população em pequenos grupos condiciona, pela evolução, o aparecimento de subespécies ou até novas espécies derivadas da original. - circunterrestre (circuntropical ou circumboreal): a família, gênero ou espécie ocorre apenas ao longo de uma determinada faixa ou zona latitudinal; as palmáceas e os pingüins são exemplos. IMPÉRIOS BIOGEOGRÁFICOS - ESCALA GLOBAL A superfície da Terra e, de modo geral, cada continente ou bloco continental apresenta um conjunto mais ou menos homogêneo de ordens ou famílias de plantas e de animais, que são endêmicos ou exclusivos desse território. Em função dessas similitudes de elementos da flora e da fauna, diferenciam-se os impérios ou reinos florísticos e faunísticos. Estes resultam da ação de influências “geográficas” (barreiras naturais) e climáticas, dentre outras. Um determinado império pode apresentar, internamente, diferentes regiões florísticas e faunísticas, representadas por conjuntos de famílias e sobretudo gêneros próprios daquele território (Na América do Sul, temos as floras Amazônica e Extra- Amazônica, Andina, Chaquenha, Patagônica). A região, por sua vez, pode subdividir-se em domínios, onde ocorrem determinados gêneros e espécies (Exemplo: domínio dos cerrados, das caatingas, da mata atlântica, das araucárias). Dentro dos domínios podem ocorrer setores ou províncias, com endemismo ao nível de espécies. E dentro dos setores podem existir distritos, com diferenciação de espécies e subespécies. São os seguintes os grandes impérios florísticos e faunísticos, segundo Lacoste e Salanon (1969): - Holoártico ou boreal: abrange a Europa e a Ásia (Eurásia), a África Mediterrânica, a Groenlândia e a América doNorte (Canadá, Estados Unidos e México, este último na transição). A bétula, a aveleira, o salgueiro e a amoreira são espécies vegetais típicas desse império; dentre a fauna característica, destacam-se o castor, a salamandra, o urso, os alces (Neártico) e renas (Paleártico), o salmão e a truta. - Neotropical ou Americano - abrange a América Central (transição) e a América do Sul, exceto o extremo sul da Patagônia. As cactáceas e bromeliáceas são famílias características deste império; dentre a fauna específica, destacam-se os edentados (tamanduás e preguiças), a lhama, a vicunha e o guanaco, nos Andes. - Africano-Malgache ou Etiópico: abrange a maior parte da África e a República Malgaxe; o norte da África Saariana e a Península Arábica correspondem a uma zona de transição com o império Holoártico. A fauna característica é muito rica, sendo exemplos as zebras, girafas, o elefante africano, o hipopótamo, o gorila e o chimpanzé. - Asiático-Pacífico: abrange a península Índica, o Extremo Oriente tropical e as ilhas do Pacífico. Especiarias como o gengibre, a canela, a cânfora e a noz moscada são próprias desse império, bem como o orangotango, o gibão, o tigre e o elefante indiano, dentre os animais. - Antártico-Australiano: abrange a Austrália, a Nova Zelândia e o continente e os mares Antárticos, além do extremo sul da América do Sul. Na fauna australiana destacam-se o canguru, os monotremados (ornitorrinco, équidna) e o kiwi. Os eucaliptos (mais de 100 espécies) são exclusivos desse império, tendo sido levados pelo homem aos diferentes continentes; porém, não havendo proliferação espontânea, não se pode falar em disseminação, mas apenas em distribuição passiva. Quando uma espécie vegetal nativa (ou autóctone) de um determinado império, região ou domínio é levada a outro império, região ou domínio, ela é considerada exótica (ou alóctone), neste último território; se a espécie introduzida se adapta perfeitamente e passa a se reproduzir naturalmente no novo ambiente, diz-se que está aclimatada, podendo mesmo tornar-se uma espécie invasora, quando vence na competição por espaço, luz, água ou nutrientes as espécies nativas. BIOMAS - ESCALA CONTINENTAL Os Impérios biogeográficos definem uma user Typewriter user Typewriter hierarquianullnullde nullnulldistribuição Edited by Foxit ReadernullCopyright(C) by Foxit Corporation,2005-2010nullFor Evaluation Only.null distribuição das espécies na escala global, planetária. A escala continental trata das divisões no espaço de um continente, ou bloco continental. As regiões e domínios constituem subdivisões próprias desta escala; embora ainda utilizem critérios de diferenciação taxonômica (presença ou ausência de determinadas espécies típicas e exclusivas), assentam-se, sobretudo, em variações do meio. Estas variações se dão em função de aspectos climáticos, geomórficos (Ex: planície de sedimentação recente, planaltos antigos, serras graníticas, montanhas terciárias, etc.), pedológicos, hidrológicos, dentre outros aspectos ecológicos. Esta classificação, assentada em critérios ecológicos, define os biomas. Portanto, as diferenciações de flora e de fauna nos continentes não obedece à dispersão e à disseminação provocadas apenas em função do transporte de sementes ou matrizes, da tectônica de placas e da deriva dos continentes, da fragmentação dos blocos continentais, da submersão ou da emersão de ilhas ou pontes intercontinentais, da existência de barreiras naturais como os oceanos e rios caudalosos ou da existência de climas pretéritos mais frios ou mais quentes. Fatores mesoclimáticos atuais (climas regionais e faixas climáticas), macro-topográficos (cadeias de montanhas, planaltos, planícies, depressões absolutas ou relativas) geomorfológicos e pedológicos associados ao relevo influem na distribuição dos seres vivos. Estas variações ambientais definem, dentro dos impérios, os biomas, que têm um conceito e um critério de classificação baseados nas condições ecológicas ou do meio. São subdivisões de escala continental os biomas ou grandes formações vegetais equatoriais e tropicais (florestas equatoriais e tropicais úmidas ou semi-úmidas, savanas, estepes arbustivas espinhentas, manguezais), temperadas (estepes de gramíneas, florestas temperadas decíduas), de zonas frias (florestas de taiga) e subpolares (tundras) e de desertos subtropicais e temperados. Por exemplo: na América do Sul destacam-se as formações de mata equatorial (Amazônica e Colombiana), de mata tropical (mata atlântica e matas tropicais do interior), de cerrados e llanos (respectivamente no Brasil e na Venezuela), de estepes semi-áridas (caatinga brasileira, vegetação chaquenha), de florestas temperadas mistas (Argentina e Chile), de desertos frios (Patagônia). Também são de escala continental as formações vegetais que ocupam extensivamente planícies e planaltos no interior dos continentes, a borda litorânea de um continente ou as seqüências florísticas (e faunísticas) que se sucedem da base ao topo das altas montanhas, como nas cadeias andinas. ESCALA LOCAL O geógrafo estuda as formações vegetais nativas sobretudo nos seus aspectos e variações locais, ou seja, segundo a disposição e a interpenetração das formações anteriormente citadas, no espaço territorial de um país ou região. A maior parte dos estudos biogeográficos (fito e zoogeográficos) desenvolve-se no âmbito local, no qual a distribuição natural das espécies florísticas e faunísticas obedece e reflete as condições climáticas (e microclimáticas), topográficas, geomorfológicas, pedológicas, hidrológicas e bióticas locais. Essas condições do meio físico e biológico definem a distribuição natural da flora e da fauna em cada ponto da superfície da Terra. O conhecimento sobre a cobertura vegetal original e a fauna correspondente de cada local é importante para o geógrafo, ainda que a formação vegetal primária esteja quase ausente ou muito prejudicada pelas atividades antrópicas: é que a caracterização das formações naturais sob as quais se desenrolaram os processos pedológicos, geomorfológicos, hidrográficos e hidrológicos do Quaternário, bem como o clima predominante, estão estreitamente vinculados ao tipo de cobertura vegetal do solo, e vice- versa. Por exemplo: é impossível compreender a formação do latossolo vermelho e do nitossolo presentes no Norte do Paraná, sem que se saiba que a região era originalmente recoberta por uma densa mata latifoliada subtropical; a potencialidade dos solos dos Campos Gerais só pode ser avaliada, se considerarmos que a área apresentava, mesmo antes do aparecimento da espécie humana, uma vegetação natural de campos com matas mistas (pinheiros-do-Paraná) e não matas subtropicais latifoliadas. Fontes consultadas: BUFFALOE, Neal D. Diversidade de plantas e animais. São Paulo: Ed. Edgard Blücher/EDUSP, 1974. LACOSTE, A. e SALANON, R. Éléments de biogéographie. Paris, Ed. Fernand Nathan. 1969. SIMMONS, I.G. Biogeografía natural y cultural. Barcelona: Ed. Omega, 1989. TROPPMAIR, Helmut Biogeografia e ecologia. Rio Claro, 1987. user Typewriter escalasnullnulldenullnulldetalhe Edited by Foxit ReadernullCopyright(C) by Foxit Corporation,2005-2010nullFor Evaluation Only.null
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