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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DA TEORIA DA TRIPARTIÇÃO DOS PODERES 
DEFENDIDA POR MONTESQUIEU NA CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 
 
 
RAFAELA BERGER DE SOUZA BATSCHAUER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí [SC], outubro de 2006
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DA TEORIA DA TRIPARTIÇÃO DOS PODERES 
DEFENDIDA POR MONTESQUIEU NA CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 
 
 
RAFAELA BERGER DE SOUZA BATSCHAUER 
 
 
 
 
Monografia submetida à Universidade 
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como 
requisito parcial à obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
Orientador: Professor MSc. Emerson de Morais Granado 
 
 
 
 
 
Itajaí [SC], outubro de 2006
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus que é o autor e consumador de todas as 
coisas, por ter me permitido a conclusão do curso 
de Direito. 
Aos meus Pais Rute Berger de Souza e Cláudio 
Henrique de Souza, por terem priorizado a minha 
educação e pelo incentivo que sempre me 
depositaram. 
Ao meu marido Clayton Luiz Batschauer, pelo 
carinho e pelo auxílio em todas as horas. 
Aos meus irmãos Dayany Berger de Souza da 
Silva, Keroline Berger de Souza e Cláudio 
Henrique de Souza Filho, pelo apoio que sempre 
me concederam. 
Ao Ministério Público da Comarca de Itajaí, por ter 
me recebido como estagiária, e porque através 
desse órgão conheci a realidade de se operar o 
Direito. 
Ao meu orientador, Emerson, pela ajuda na 
elaboração do presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
Ao meu marido Clayton Luiz Batschauer, por todo 
esforço empreendido para que eu realizasse esse 
sonho, pelo seu amor e companheirismo. 
Aos meus Pais Rute Berger de Souza e Cláudio 
Henrique de Souza, pelo amor que sempre me 
concederam e pelas lições de vida que me 
propiciaram até hoje. 
 É pouco o que lhes dedico ante ao muito que 
lhes tirei durante esses cinco anos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Para que não se possa abusar do poder, é 
preciso que, pela disposição das coisas, o poder 
contenha o poder”. 
(Montesquieu)
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo 
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do 
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o 
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Itajaí [SC], outubro de 2006 
 
 
Rafaela Berger de Souza Batschauer 
Graduanda 
 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale 
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Rafaela Berger de Souza 
Batschauer, sob o título A Influência da Teoria da Tripartição dos Poderes 
Defendida por Montesquieu na Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988, foi submetida em 31 de outubro de 2006 à banca examinadora composta 
pelos seguintes professores: MSc. Emerson de Morais Granado (Presidente), 
Clóvis Demarchi (Membro) e Eduardo Campos (Membro), e aprovada com a nota 
9,8 (nove vírgula oito). 
 
Itajaí [SC], outubro de 2006 
 
 
MSc. Emerson de Morais Granado 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
MSc. Antonio Augusto Lapa 
Coordenação da Monografia 
 
ROL DE CATEGORIAS 
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à 
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. 
Estado 
“[...] é um conjunto de indivíduos (povo), estabelecidos num determinado território 
fixo de maneira permanente e que obedecem a um governo soberano”1. 
Estado Federal 
“[...] é, por definição, aquele onde estão asseguradas, pela Constituição, 
autonomia política-administrativa às partes descentralizadas (Estados-Membros, 
Províncias, Territórios etc.)”2. 
Estado Unitário 
“[...] é o caracterizado pela centralização política, onde existe um único pólo 
constitucionalmente capacitado a produzir, com autonomia, normas jurídicas, 
admitindo a existência de entidades descentralizadas, sem que possuam 
autonomia, agindo por delegação do órgão central, chamando para si o monopólio 
da capacidade política”3. 
Governo Soberano 
“[...] é o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de 
autodeterminação emanado do Povo. Não há nem pode haver Estado 
independente sem Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e 
incontratável de organizar-se e de conduzir-se a vontade livre de seu Povo e de 
 
1
 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do Estado e ciência política. 10. ed. São Paulo: 
Saraiva, 1995. p. 10. 
2
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 122. 
3ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 
9. ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2005. p. 244/245. 
 viii 
fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se necessário”4. 
Poder Executivo 
“[...] tem por objeto a administração da coisa pública. Nesse sentido, ela se realiza 
por meio de atos e decisões produzidos com a finalidade de dar cumprimento ao 
estabelecido nas leis. A função executiva materializa-se pelos chamados atos 
administrativos”5. 
Poder Judiciário 
“[...] se destina a conservação e a tutela do ordenamento jurídico mediante o 
proferimento de decisões individuais e concretas, dedutíveis das normas gerais, 
declarando a conformidade ou a não-conformidade dos fatos com estas e 
determinando as eventuais conseqüências jurídicas”6. 
Poder Legislativo 
“[...] tem por finalidade a formação de regras genéricas e abstratas, que devem 
ser compulsoriamente observadas não só pelos indivíduos como também pelos 
órgãos estatais. A lei é o ato tipicamente produzido pela função legislativa”7. 
Povo 
“[...] é o somatório de todos os cidadãos do Estado presentes no território pátrio e 
no exterior (soma de todos os nacionais, independente de sua exata localização 
espacial-temporal)”8. 
Território 
“[...] é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo e 
exclusivo o poder de império sobre pessoas e bens”9. 
 
4
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 30. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 
2005. p. 60. 
5ARAUJO, L. A. D.; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 300. 
6PIÇARRA, Nuno. A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucional. 
Coimbra: Coimbra, 1989. p. 248. 
7ARAUJO, L. A. D.; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional p. 300. 
8
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. 4. ed. 
rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 116. 
 ix 
SUMÁRIO 
RESUMO........................................................................................... XI 
INTRODUÇÃO ................................................................................... 2 
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4 
A EVOLUÇÃO DO ESTADO.............................................................. 4 
1.1 ORIGEM DO ESTADO .....................................................................................4 
1.2 CONCEITODO ESTADO.................................................................................8 
1.3 ELEMENTOS DO ESTADO............................................................................10 
1.3.1 POVO.............................................................................................................11 
1.3.2 TERRITÓRIO ...................................................................................................13 
1.3.3 GOVERNO SOBERANO.....................................................................................15 
1.4 AS FORMAS DO ESTADO ............................................................................20 
1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E SUAS FUNÇÕES ......................................26 
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 29 
DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER NO ORDENAMENTO 
BRASILEIRO.................................................................................... 29 
2.1 PODER LEGISLATIVO...................................................................................29 
2.1.1 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO NA UNIÃO ....29 
2.1.2 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO NOS ESTADOS-
MEMBROS...............................................................................................................31 
2.1.3 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO NO DISTRITO 
FEDERAL ................................................................................................................33 
2.1.4 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO NOS 
MUNICÍPIOS.............................................................................................................34 
2.2 PODER EXECUTIVO......................................................................................37 
2.2.1 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO NA UNIÃO.......37 
2.2.2 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO NOS ESTADOS-
MEMBROS...............................................................................................................40 
2.2.3 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO NO DISTRITO 
FEDERAL..... ...........................................................................................................40 
2.2.4 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO NOS MUNICÍPIOS.
 .............................................................................................................41 
2.3 PODER JUDICIÁRIO......................................................................................44 
2.3.1 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO NA UNIÃO.......44 
2.3.2 A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO NOS ESTADOS-
MEMBROS...............................................................................................................46 
 
9
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed. ver. e atual. São 
Paulo: Malheiros, 2004. p. 98. 
 x 
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 48 
UMA ANÁLISE DA PROPOSTA DE MONTESQUIEU APLICADA AO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO..................................... 48 
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ......................................................... 48 
3.2.1 Os Poderes .................................................................................................53 
3.2.2 PODER EXECUTIVO...................................................................................60 
3.2.3 PODER LEGISLATIVO................................................................................61 
3.2.4 PODER JUDICIÁRIO...................................................................................65 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 68 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 72 
 
RESUMO 
A presente monografia trata da influência de Montesquieu na 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dando ênfase à questão 
da separação das funções do Poder. O presente trabalho é composto de três 
capítulos, que se destacam pelos seguintes conteúdos e objetivos específicos: no 
primeiro capítulo, para melhor compreensão do tema, fez-se uma abordagem 
prévia sobre a origem, conceito, elementos, formas, organização e funções do 
Estado; no segundo capítulo abordou-se sobre as três funções do poder aplicadas 
nos entes federativos brasileiros; no terceiro capítulo faz-se uma análise da 
proposta de Montesquieu aplicada no ordenamento jurídico brasileiro, os aspectos 
históricos, e a abordagem do Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder 
Judiciário. 
 
INTRODUÇÃO 
A presente Monografia tem como objeto o estudo da 
“Influência da Teoria da Tripartição dos Poderes defendida por Montesquieu na 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988”, enfatizando a Divisão 
das Funções do Poder em Executivo, Legislativo e Judiciário. 
O seu objetivo é aprofundar os conhecimentos a respeito da 
Divisão das Funções do Poder, bem como do sistema adotado pela legislação 
brasileira para executá-los, além de efetuar uma abordagem sobre o Estado, sua 
origem, conceito, elementos, formas, organização e funções. 
Para tanto, o presente trabalho foi dividido em três capítulos, 
nos quais serão abordados de forma sintetizada os temas, com embasamento na 
doutrina pátria, sem a pretensão de esgotar o tema, o que seria inviável no âmbito 
do estudo proposto. 
Principia–se a monografia, no Capítulo 1, tratando do 
Estado, iniciando com sua origem, conceito, elementos, formas, organização, 
finalizando-se com suas funções. 
No Capítulo 2, será abordado ‘A Divisão das Funções do 
Poder no Ordenamento Brasileiro’, dando início ao assunto com a organização e 
divisão das funções do Poder Legislativo na União, nos Estados, no Distrito 
Federal e nos Municípios, a organização e divisão das funções do Poder 
Executivo na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, finalizando 
com a Divisão das Funções do Poder Judiciário na União e nos Estados-
Membros. 
No Capítulo 3, finalizar-se-á o trabalho com uma análise da 
Proposta de Montesquieu aplicada ao Ordenamento Jurídico Brasileiro, os 
aspectos históricos, e a abordagem sobre o Poder Executivo, o Poder Legislativo 
e o Poder Judiciário. 
 3 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos 
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões 
sobre o tema em apreço. 
Como desafio e fundamento dos referidos objetivos 
investigatórios, a autora deste trabalho enfrentou dois problemas e respectivas 
hipóteses, abaixo destacados, que serviram de ânimo para a efetivação da 
pesquisa relatada nesta Monografia. 
Primeiro problema: a tripartição do Poder foi realmente 
identificada pela primeira vez por Montesquieu? 
Hipótese: conclui-se que a teoria da tripartição das funções 
do Poder teve realmente início com Montesquieu. 
Segundo problema: a teoria da tripartição do Poder 
influenciou a organização dos Poderes, quando da elaboração da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988? 
Hipótese: o constituinte, criador da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988, adotou a teoria da tripartição dos 
Poderes na organização destes, no sistema brasileiro. 
Para realizar a pesquisa e a monografia adotou-se o método 
indutivo, que consiste em "pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e 
colecioná-las de modo a ter uma percepção geral"10. A investigação foi realizada 
mediante o uso da técnica da pesquisabibliográfica, histórica e contemporânea, 
utilizando-se, sempre que possível, de fontes primárias. 
 
 
 
10
 PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o 
pesquisador do direito. p. 103. 
 4 
CAPÍTULO 1 
A EVOLUÇÃO DO ESTADO 
O tema a ser abordado na presente monografia trata da 
Influência de Montesquieu nas Constituições da República Federativa do Brasil, 
tendo como objeto de análise, a proposta de Montesquieu aplicada no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
 No intuito de apresentar uma seqüência lógica para melhor 
compreensão do tema, necessário se faz uma abordagem prévia sobre o Estado, 
envolvendo sua origem e sua formalização organizacional através de sua 
constitucionalização. 
1.1 ORIGEM DO ESTADO 
O termo ‘Estado’ foi utilizado pela primeira vez na literatura 
científica “O príncipe” de Maquiavel, mas enfocada numa forma que leva a 
conclusão de que não tenha sido ele o criador da palavra com tal significado, 
sendo esta comum a sua época. 
A palavra ‘Estado’, segundo Friede11, resultou da evolução 
dos termos ‘polis’ utilizado na Grécia e, ‘civitas’ empregado em Roma, durante a 
Idade Média, mas tendo sido introduzida no mundo jurídico, por Maquiavel. 
A respeito da origem do Estado, declina Dallari12 que: 
A denominação Estado (do latim status = estar firme), significando 
situação permanente de convivência e ligada à sociedade política, 
aparece pela primeira vez em “O Príncipe” de Maquiavel, escrito 
 
11
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. 4. ed. 
rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 116. 
12
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 
2003. p. 51/ 52. 
 
 5 
em 1513, passando a ser usada pelos italianos sempre ligada ao 
nome de uma cidade independente, como, por exemplo stato di 
firenze. Durante os séculos XVI e XVII a expressão foi sendo 
admitida em escritos franceses, ingleses e alemães. Na Espanha, 
até o século XVIII, aplicava-se também a denominação de estados 
a grandes propriedades rurais de domínio particular, cujos 
proprietários tinham poder jurisdicional. De qualquer forma é certo 
que o nome Estado, indicando uma sociedade política, só aparece 
no século XVI, e este é um dos argumentos para alguns autores 
que não admitem a existência do século XVII. Para eles, 
entretanto, sua tese não se reduz a uma questão de nome, sendo 
mais importante o argumento de que o nome Estado só pode ser 
aplicado como propriedade à sociedade política dotada de certas 
características bem definidas. A maioria dos autores, no entanto, 
admitindo que a sociedade ora denominada Estado é, na sua 
essência, igual a que existiu anteriormente, embora, como nomes 
diversos, dá essa designação a todas as sociedades políticas que, 
com autoridade superior, fixaram as regras de convivência de 
seus membros. 
São inúmeras as teorias existentes sob o ponto de vista da 
época do aparecimento do Estado, porém, Dallari13 as reduz em três posições 
fundamentais, quais sejam: 
a) Para muitos autores, o Estado, assim como a própria 
sociedade, existiu sempre, pois desde que o homem vive sobre a 
Terra acha-se integrado numa organização social, dotada de 
poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo 
o grupo. Entre os que adotam essa posição destacam-se Eduardo 
Meyer, historiador das sociedades antigas, e Wilhelm Koppers, 
etnólogo, ambos afirmando que o Estado é um elemento universal 
na organização social humana. Meyer define mesmo o Estado 
como o princípio organizador e unificador em toda organização 
social da Humanidade, considerando-o, por isso, onipresente na 
sociedade humana. 
b) Uma segunda ordem de autores admite que a sociedade 
humana existiu sem o Estado durante um certo período. Depois, 
por motivos diversos, [...], este foi constituído para atender às 
necessidades ou às conveniências dos grupos sociais. Segundo 
esses autores, que, no seu conjunto, representam ampla maioria, 
 
13
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 52/53. 
 
 6 
não houve concomitância na formação do Estado em diferentes 
lugares, uma vez que este foi aparecendo de acordo com as 
condições concretas de cada lugar. 
c) A terceira posição é a que já foi referida: a dos autores que só 
admitem como Estado a sociedade política dotada de certas 
características muito bem definidas. Justificando seu ponto de 
vista, um dos adeptos dessa tese, Karl Schmidt, diz que o 
conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os 
tempos, mas é um conceito histórico concreto, que surge quando 
nascem a idéia e a prática da soberania, o que só ocorreu no 
século XVII. Outro defensor desse ponto de vista, Balladore 
Pallieri, indica mesmo, com absoluta precisão, o ano do 
nascimento do Estado, escrevendo que “a data oficial em que o 
mundo ocidental se apresenta organizado em Estados é a de 
1648, ano em que foi assinada a paz de Westifália”. Entre os 
autores brasileiros adeptos dessa teoria salienta-se Ataliba 
Nogueira, que, mencionando a pluralidade de autonomias 
existentes no mundo medieval, sobretudo o feudalismo, as 
autonomias existentes no mundo medieval, sobretudo o 
feudalismo, as autonomias comunais e as corporações, ressaltada 
que a luta entre elas foi um dos principais fatores determinantes 
da constituição do Estado, o qual, “com todas as suas 
características, já se apresenta por ocasião da paz de Westifália”. 
Ainda, tratando das teorias do Estado, Carvalho14 dispõe 
que as teorias religiosas defendem que o Estado foi fundado por Deus, sendo que 
esta teoria se refere mais à origem e à legalidade do governo do que 
propriamente sua justificação. 
Carvalho15 menciona, ainda que: 
Pela teoria do divino providencial, exposta por De Maistre (1753-
1821) e De Bonald (1754-1840), e que serviu para justificar a 
restauração da monarquia em França, do poder de Deus e do 
Papa contra o liberalismo da revolução de 1789, assevera-se que 
o Estado, obra de Deus existe pela graça da providência divina. 
Todo o poder e toda a autoridade emanam de Deus, não por uma 
manifestação sobrenatural de sua vontade mas pela direção 
 
14CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da constituição 
direito constitucional positivo. 13. ed. rev. atual. e ampl., Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 49. 
15CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional p. 49. 
 7 
providencial dos acontecimento e da vontade dos homens aos 
quais cabe a organização dos governos e o estabelecimento das 
leis. 
Já as teorias contratuais defendem que o Estado tornou-se 
uma organização resultante do pacto inicial realizado, de forma livre e 
espontânea, pelas pessoas que abandonaram o chamado ‘estado de natureza’, 
formando uma sociedade política e não uma comunidade 16. 
A ‘teoria da violência e da força’, Segundo Carvalho17, 
fundamentadas em Gumplowicz (1938-1909) e Oppenheimer (1864-1943), além 
de Leon Duguit, sustenta ser o Estado resultado de um agrupamento humano 
estabelecido num território, onde os mais fortes dominam os mais fracos, 
aplicando-se a força material, dentro de um dualismo de governantes, 
encontrando o grupo mais forte, limite apenas na solidariedade social. 
Já a ‘teoria familiar’ defende a família foi o primeiro 
agrupamento de pessoas que fez às vezes do Estado, primeiramente 
administrada sobre o comando matriarcal e posteriormente sobre o domínio 
patriarcal. Segundo Carvalho18, esta teoria procurou justificar o direito divino dos 
reis e o absolutismo monárquico. 
Comentando sobre a ‘teorianatural’, ainda, Carvalho 19, 
assim menciona: 
A teoria natural justifica o Estado pela sua própria existência. Esta 
teoria baseia-se na simples constatação empírica da existência do 
Estado. Sempre que haja uma associação de homens que não 
tenha nenhuma outra superior a ela, ou seja, associação que se 
basta a si mesma, que não derive de outra e que vise a fins 
gerais, aí existe o Estado que se legitima pela sua continuidade 
histórica e permanência do fenômeno em si mesmo. 
 
16CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 49. 
17CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 54. 
18CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 55. 
19CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 55. 
 
 8 
Dallari20 ao examinar as principais teorias que procuram 
explicar a formação originária do Estado, chegou a uma primeira classificação, 
com dois grandes grupos, a saber: 
a) Teorias que afirmam a formação natural ou espontânea do 
Estado, não havendo entre elas uma coincidência quanto à causa, 
mas tendo todas em comum a afirmação de que o Estado se 
formou naturalmente, não por um ato puramente voluntário. 
b) Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados, 
apresentando em comum, apesar de também divergirem entre si 
quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns 
homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do 
Estado. De maneira geral, os adeptos a formação contratual da 
sociedade é que defendem a tese da criação contratualista do 
Estado. 
Conclui-se que o Estado surgiu para dar proteção e prestar 
serviços às pessoas que viviam em agrupamento. 
1.2 CONCEITO DO ESTADO 
Estado pode ser conceituado como um conjunto de 
indivíduos (povo), estabelecidos num determinado território fixo de maneira 
permanente e que obedecem a um governo soberano21. 
Friede22 afirma que por Estado, entende-se a associação ou 
um grupo de pessoas fixado sobre determinado território dotado de poder 
soberano. Define ser um agrupamento e pessoas em território definido, 
politicamente organizado, guardando a idéia de Nação. Daí é que nasce a 
construção do conceito sintético de Nação política e juridicamente organizada 
para definir o termo Estado. 
 
20
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. 2003. p. 54. 
21
 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do Estado e ciência política. 10. ed. São Paulo: 
Saraiva, 1995. p. 10. 
22
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado.p. 115. 
 
 9 
O sociólogo alemão Max Weber apud Bester23 definiu 
Estado como o detentor do monopólio da força legítima para a manifestação da 
ordem vigente, do monopólio da Justiça (punição), da cobrança de tributos fiscais, 
de cunhar moeda etc. 
Já Groppali24 entende ser o Estado “(...) pessoa jurídica 
soberana, constituída de um povo organizado sobre um território sob o comando 
de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social”. 
Para Azambuja25, Estado é “(...) a organização político-
jurídica de uma sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e 
território determinado”. 
Dallari 26 vê o Estado como “(...) a ordem jurídica soberana 
que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território”. 
Pablo Lucas Verdú apud Carvalho27 entende por Estado “(...) 
a sociedade territorial juridicamente organizada, com poder soberano que busca o 
bem-estar geral”. 
Bester28 o define como uma instituição com poderes para 
organizar a sociedade em um determinado território, coercitivamente, para 
disciplinar o convívio social humano por meio do direito, por meio de normas 
jurídicas obrigatórias acompanhadas de sanções. 
Friede29 comenta que a acepção do termo Estado pode ser 
demasiadamente amplo, se for levado em consideração as correntes formadas 
em vários campos do conhecimento que o estudam. A corrente sociológica 
 
23
 BESTER, Gisela Maria. Direito constitucional fundamento teóricos. vol. I. São Paulo: 
Manole, 2005. p. 10-11. 
24GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado. Trad. Paulo Edmar de Souza Queiroz. São Paulo: 
Saraiva, 1968. p. 303. 
25AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do Estado. Porto Alegre: Globo, 1980. p. 6. 
26DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 100/101. 
27CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 31. 
28
 BESTER, Gisela Maria. Direito constitucional fundamento teóricos. p. 11. 
29
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 116. 
 10 
entende ser o Estado um fenômeno social onde existe uma integração de 
forças/estratos sociais. A corrente filosófica entende ser o Estado é uma entidade 
geradora do Direito Positivo. A corrente jurídica entende que o Estado é 
considerado como uma Nação politicamente organizada, onde a organização é 
sua palavra chave, pressupondo, para tal, governantes e governados. 
A respeito do conceito de Estado, Meirelles30 dispõe que: 
O conceito de Estado varia segundo o ângulo a que é 
considerado. Do ponto de vista sociológico, é corporação territorial 
dotada de um poder de mando originário (Jellinek); sob o aspecto 
político, é comunidade de homens, fixada sobre um território, com 
potestade superior de ação, de mando e de coerção (Malberg); 
sob o prisma constitucional, é pessoa jurídica territorial soberana 
(Biscaretti di Ruffia); na conceituação do nosso Código Civil, é 
pessoa jurídica de Direito Público Interno (art. 41,I). Como ente 
personalizado, o Estado tanto pode atuar no campo do Direito 
Público como no do Direito Privado, mantendo sempre sua única 
personalidade de Direito Público, pois a teoria da dupla 
personalidade do Estado acha-se definitivamente superada. 
De uma forma geral, conforme aborda Friede31, o Estado é 
definido conceitualmente como a “(...) organização político-administrativo-jurídica 
do grupo social que ocupa um território fixo, possui um povo e está submetido a 
uma soberania”. 
1.3 ELEMENTOS DO ESTADO 
Para ser considerado Estado necessita a sociedade política 
reunir três elementos básicos: povo, território e um governo soberano. 
 
30
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 30. ed. atual. São Paulo: 
Malheiros, 2005. p. 60. 
31
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. 2005. 
p. 116. 
 
 11 
1.3.1 Povo 
O primeiro elemento constitutivo de um Estado é o povo, 
pois ele é quem dará o suporte para sua existência. 
Neste norte esclarece Dallari32 que, “É unânime a aceitação 
de necessidade de elemento pessoal para a constituição e a existência do 
Estado, uma vez que sem ele não é possível haver Estado e é para ele que o 
Estado se forma. (...)”. 
Carvalho33 elucida que 
O elemento humano constitutivo do Estado, que consiste numa 
comunidade de pessoas, é o povo. O grupo humano ou a 
coletividade de pessoas obtém unidade, coesão e identidade com 
a formação do Estado, mediante vínculos étnicos, geográficos, 
religiosos, lingüísticos ou simplesmente políticos, que os unem. O 
povo é, assim, o sujeito e o destinatário do poder político que se 
institucionaliza. Ele só existe dentro da organização política. Uma 
vez eliminado o Estado, desaparece o povo como tal. 
Nesse contexto pode-se dizer que o povo é o componente 
humano do Estado. 
Para Friede34 o conceito de povo está relacionado como o 
somatório de todos os cidadãos do Estado presentes no território pátrio e no 
exterior (soma de todos os nacionais, independente de sua exata localização 
espacial-temporal). 
Ainda, conceituando povo, Dallari35 explica quese deve 
entender o povo como 
(...) o conjunto dos indivíduos que, através de um momento 
jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com 
 
32
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 85. 
33CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 59. 
34
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 116. 
35
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 99/100. 
 12 
este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da 
formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. 
Essa participação e este exercício podem ser subordinados, por 
motivos de ordem prática, ao entendimento de certas condições 
objetivas, que assegurem a plena aptidão do indivíduo. Todos os 
que se integram no Estado, através da vinculação jurídica 
permanente, fixada no momento jurídico da unificação e da 
constituição do Estado, adquirem a condição de cidadãos, 
podendo-se, assim, conceituar o povo como o conjunto dos 
cidadãos do Estado. Dessa forma, o indivíduo, que no momento 
mesmo de se nascimento atende aos requisitos fixados pelo 
Estado para considerar-se integrado nele, é, desde logo, cidadão. 
Mas, como já foi assinalado, o Estado pode estabelecer 
determinadas condições objetivas, cujo atendimento é 
pressuposto para que o cidadão adquira o direito de participar da 
formação da vontade do Estado e do exercício da soberania. Só 
os que atendem àqueles requisitos e, conseqüentemente, 
adquirem estes direitos, é que obtêm a condição de cidadãos 
ativos. 
Nesse sentido, entende Friede36 que 
O elemento povo pode ser considerado, conforme já assinalamos, 
como o simples somatório de nacionais no Brasil e no exterior. 
Entre os nacionais, podemos fazer referência aos cidadãos, isto é, 
àqueles que estão no gozo dos direitos políticos, e a outras 
categorias, incluindo aqui aqueles que tenham perdido 
temporariamente os direitos políticos, como os condenados 
criminalmente, e os que não os exercem (ainda que de maneira 
transitória) por algum motivo (menores, interditados etc). 
Cunha37 diverge dos demais doutrinadores em seu conceito 
de povo, afirmando ser este o conjunto de todas as pessoas que compõe a 
sociedade, adultos e crianças, capazes e incapazes, nacionais e estrangeiros, 
cidadãos e não-cidadãos, cidadãos ativos e não-ativos, pessoas no gozo de seus 
direitos políticos e pessoas deles privadas. 
 
36
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 120. 
37
 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Fundamentos de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 
2004. p. 42. 
 13 
1.3.2 Território 
O território, segundo elemento constitutivo do Estado, pode 
ser entendido como o elemento material que lhe define as fronteiras dentre as 
quais exerce o seu poder de competência. Ele constitui a base física do Estado. 
A propósito, ensina Silva38 que o “(...) território é o limite 
espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo e exclusivo o poder de 
império sobre pessoas e bens”. 
No entendimento de Friede39: 
 O território abrange, de forma simplória, algumas partes 
componentes, tais como: o solo, o subsolo, o espaço aéreo, o mar 
territorial, a plataforma submarina, navios e aeronaves de guerra 
(em qualquer lugar do planeta, incluindo o território estatal 
estrangeiro), navios mercantes e aviões comerciais (no espaço 
livre, ou seja, nas áreas internacionais não pertencentes a 
nenhum Estado soberano) e, para alguns autores – apesar da 
existência de inúmeras controvérsias –, as sedes das 
representações diplomáticas no exterior (embaixadas). 
Groppali40 assevera que o território é elemento constitutivo 
do Estado, assim como o corpo o é para a vida do homem. 
Conceituando território, Ranelletti41 propõe uma terceira 
posição, cuja base é a afirmação de que o território é o espaço dentro do qual o 
Estado exerce seu poder de império sobre tudo que se encontre nele, tanto 
pessoas como coisas. 
Dallari42 comenta que 
 
38
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed. ver. e atual. São 
Paulo: Malheiros, 2004. p. 98. 
39
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 116. 
40GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado. p. 118. 
41
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 88. 
42
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 86/87. 
 
 14 
Com raríssimas exceções, os autores concordam em reconhecer 
o território como indispensável para a existência do Estado, 
embora o considerem de maneiras diferentes. Enquanto para 
muitos ele é elemento constitutivo essencial do Estado, sendo um 
dos elementos materiais indispensáveis, outros o aceitam como 
condição necessária exterior ao Estado, chegando, como 
Burdeau, à conclusão de que ele, conquanto necessário, é apenas 
o quadro natural, dentro do qual os governantes exercem suas 
funções. Bem diversa é a concepção de Kelsen, que, também 
considerando a delimitação territorial uma necessidade, diz que 
assim é porque tal delimitação é que torna possível a vigência 
simultânea de muitas ordens estatais. O território não chega a ser, 
portanto, um componente do Estado, mas é o espaço ao qual se 
circunscreve a validade da ordem jurídica estatal, pois, embora a 
eficácia de suas normas possa ir além dos limites territoriais, sua 
validade como ordem jurídica estatal depende de um espaço 
certo, ocupado com exclusividade. 
Ainda, sintetizando os aspectos fundamentais que têm sido 
objeto de considerações teóricas, Dallari43 estabelece algumas condições de 
caráter geral, sobre as quais se pode dizer que praticamente não há divergência, 
quais sejam: 
a) Não existe Estado sem território. No momento mesmo de sua 
constituição o Estado integra num conjunto indissociável, entre 
outros elementos, um território, de que não pode ser privado sob 
pena de não sr mais Estado. A perda temporária do território, 
entretanto, não desnatura o Estado, que continua a existir 
enquanto não se tornar definitiva a impossibilidade de se 
reintegrar o território com os demais elementos. O mesmo se dá 
com as perdas parciais de território, não havendo qualquer regra 
quanto ao mínimo de extensão territorial. 
b) O território estabelece a delimitação da ação soberana do 
Estado. Dentro dos limites territoriais a ordem jurídica do Estado é 
a mais eficaz, por ser a única dotada de soberania, dependendo 
dela admitir a aplicação, dentro do âmbito territorial, de normas 
jurídicas provindas do exterior. Por outro lado, há casos em que 
certas normas jurídicas do Estado, visando diretamente à situação 
pessoal dos indivíduos, atuam além dos limites territoriais, embora 
 
43
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado.. p. 89/90. 
 15 
sem a possibilidade de concretizar qualquer providência externa 
sem a permissão de outra soberania. 
c) Além de ser elemento constitutivo necessário, o território, sendo 
o âmbito da ação soberana do Estado, é o objeto de direitos 
deste, considerando no seu conjunto. Assim é que, caso haja 
interesse do povo, o Estado pode até alienar uma parte do 
território, como pode também, em circunstâncias especiais, usar o 
território sem qualquer limitação, até mesmo em prejuízo dos 
direitos de particulares sobre porções determinadas. 
Por sua vez, Doanati apud Carvalho44, afirma que o território 
não deve ser entendido como elemento constitutivo do Estado, pois, segundo ele, 
assim como não se concebe considerar parte integrante de um indivíduo uma 
porção de solo porque estalhe é necessária para seu apoio, da mesma forma é 
absurdo dizer que o território representa para o Estado elemento constitutivo, ao 
invés de condição exterior. 
1.3.3 Governo Soberano 
O governo soberano ou simplesmente soberania como 
também conhecido, destaca-se como o terceiro elemento constitutivo do Estado, 
diferenciando de Nação, que se caracteriza pelo agrupamento de um povo num 
território, com um governo, mas que sofre influências de outros povos. 
Conforme Dallari45: 
No combate a burguesia contra a monarquia absoluta, que teve 
seu ponto alto na Revolução Francesa, a idéia da soberania 
popular iria exercer grande influência, caminhando no sentido de 
soberania nacional, concebendo-se a nação como o próprio povo 
numa ordem. No começo do século XIX ganha corpo a noção de 
soberania como expressão de poder político, sobretudo porque 
interessava às grandes potências, empenhadas em conquistar 
territoriais, sustentar sua imunidade a qualquer limitação jurídica. 
Entretanto, a partir da metade do século, vai surgir na Alemanha a 
 
44CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 64. 
45
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 78/79. 
 
 16 
teoria da personalidade jurídica do Estado, que acabará sendo 
apontado como o verdadeiro titular da soberania. E já no século 
XX, aperfeiçoada a doutrina jurídica do Estado, a soberania passa 
a ser indicada como uma de suas notas características, 
colocando-se entre os temas fundamentais do direito político, 
desenvolvendo-se uma completa teoria jurídica da soberania. 
Essa construção teórica teve um desenvolvimento gradativo, 
sendo necessário a fixação de várias posições, correspondentes a 
diversas épocas ou a diferentes pontos de vista, para se 
apreender o seu conjunto. 
Para Friede46, o conceito de soberania pode ser traduzido 
por intermédio de duas classes gramaticais, quais sejam: 
Soberania em termos objetivos se traduz através de um conceito 
extremamente complexo. Trata-se de uma expressão que pode 
ser traduzida simultaneamente por intermédio de duas diferentes 
classes gramaticais, ou seja, a classe substantiva e a adjetiva. No 
sentido material (substantivo) é o poder que tem o Estado de se 
organizar jurídica e politicamente e de fazer valer no seu território 
a universalidade de suas decisões. No aspecto adjetivo, por sua 
vez, a soberania se exterioriza conceitualmente como a qualidade 
suprema do poder, inerente ao Estado, como Nação política e 
juridicamente organizada. 
Dallari47, numa concepção puramente jurídica, conceitua 
soberania como: 
[...] o poder de decidir em última instância sobre a atributividade 
das normas, vale dizer, sobre a eficácia do direito. Como fica 
evidente, embora continuando a ser uma expressão de poder, a 
soberania é o poder jurídico utilizado para fins jurídicos. Partindo 
do pressuposto de que todos os atos dos Estados são passíveis 
de enquadramento jurídico, tem-se como soberano o poder que 
decide qual a regra jurídica aplicável em cada caso, podendo, 
inclusive, negar a juridicidade da norma. Segundo essa 
concepção não há Estados mais fortes ou mais fracos, uma vez 
que para todos a noção de direito é a mesma. A grande vantagem 
dessa conceituação jurídica é que mesmo os atos praticados pelo 
 
46
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 117. 
47
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 80. 
 17 
Estados mais fortes podem ser qualificados como antijurídicos, 
permitindo e favorecendo a reação de todos os demais Estados. 
Maluf 48conceitua soberania como “(...) uma autoridade 
superior, que não pode ser limitada por nenhum outro poder”. 
A soberania é o pressuposto fundamental do Estado. É o 
poder de império, de dominação, que gera um colorário de direitos e obrigações, 
sendo o poder máximo do Estado, efetuando-se em sua organização política, 
social e jurídica 49. 
Miguel Reale50 descreve o conceito de soberania como: 
[...] o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro 
de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos 
fins éticos de convivência. Assim, pois, a soberania jamais é a 
simples expressão de um poder de fato, embora não seja 
integralmente submetida ao direito, encontrando seus limites na 
exigência de jamais contrariar os fins éticos de convivência, 
compreendidos dentro na noção de bem comum. Dentro desses 
limites o poder soberano tem a faculdade de utilizar a coação para 
impor suas decisões. 
Na concepção de Meirelles51: 
Governo soberano, é o elemento condutor do Estado, que detém 
e exerce o poder absoluto de autodeterminação emanado do 
Povo. Não há nem pode haver Estado independente sem 
Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e 
incontratável de organizar-se e de conduzir-se a vontade livre de 
seu Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, 
se necessário. 
Dallari52 analisando os vários conceitos de soberania 
menciona que: 
 
48
 MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 19. ed. São Paulo: Sugestões Literárias, 1988. p. 116. 
49
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 117. 
50
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria Geral do Estado. p. 80/81. 
51
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. p. 60. 
 18 
[...]. Entre os autores há quem se refira a ela como um poder do 
Estado, enquanto outros preferem concebê-la como qualidade do 
poder do Estado, sendo diferente a posição de Kelsen, que, 
segundo sua concepção normativa, entende a soberania como 
expressão da unidade de uma ordem. Para Heller e Reale ela é 
uma qualidade essencial do Estado, enquanto Jellinek prefere 
qualificá-la como nota essencial do poder de Estado. Ranelletti faz 
uma distinção entre soberania, como o significado de poder de 
império, hipótese em que é elemento essencial do Estado, e 
soberania com o sentido de qualidade do Estado, admitindo que 
esta última possa faltar sem que se desnature o Estado, o que, 
aliás, coincide com a observação de Jellinek de que o Estado 
Medieval não apresentava essa qualidade. 
É o conceito de soberania uma das bases da idéia de 
Estado Moderno, destacando-se na importância para que este fosse definido, 
exercendo grande influência prática nos últimos séculos, sendo ainda uma 
característica fundamental do Estado53. 
Friede54 ensina que o conceito de soberania está 
intrinsecamente relacionado ao conceito de Estado perfeito, sendo o poder 
absoluto em um território, o que leva a criar, no Direito Internacional, o conceito 
de não-intervenção entre Estados soberanos. É o direito de criar o seu próprio 
governo, instituições e a própria Constituição. 
Segundo Bodin55, "(...) a soberania é o poder absoluto e 
perpétuo de uma República, expressão esta que se usa tanto em relação aos 
particulares quanto em relação aos que manipulam todos os negócios de estado 
de uma República”. 
Dallari56 acentua que: 
 
52
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 79. 
53
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 74/75. 
54
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 117. 
55
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 77. 
56
 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. p. 84. 
 19 
De fato, porém, apesar do progresso verificado, a soberania 
continua a ser concebida de duas maneiras distintas: comosinônimo de independência, e assim tem sido invocada pelos 
dirigentes dos Estados que desejam afirmar, sobretudo ao seu 
próprio povo, não serem mais submissos a qualquer potência 
estrangeira; ou como expressão de poder jurídico mais alto, 
significando que, dentro dos limites da jurisdição do Estado, este é 
que tem o poder de decisão em última instância, sobre a eficácia 
de qualquer norma jurídica. É obvio que a afirmação de soberania, 
no sentido de independência, se apóia no poder de fato que tenha 
o Estado, de fazer prevalecer sua vontade dentro de seus limites 
jurisdicionais. A conceituação jurídica de soberania, no entanto, 
considera irrelevante, em princípio, o potencial de força material, 
uma vez que se baseia na igualdade jurídica dos Estados e 
pressupõe o respeito recíproco, como regra de convivência. Neste 
caso, a prevalência da vontade de um Estado mais forte, nos 
limites da jurisdição de um mais fraco, é sempre um ato irregular, 
antijurídico, configurando uma violação de soberania, passível de 
sanções jurídicas. E mesmo que tais sanções não possam ser 
aplicadas imediatamente, por deficiência dos meios materiais, o 
caráter antijurídico de violação permanece, podendo servir de 
base a futuras reivindicações bem como à obtenção de 
solidariedade de outros Estados. 
Carvalho57 assinala que a soberania é una, indivisível, 
inalienável e imprescritível, considerando ser uma porque não existe no mesmo 
Estado, mais de uma autoridade soberana. Indivisível porque o poder soberano 
não se divide, não impedindo, entretanto, uma repartição de competências, 
segundo a clássica divisão do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo 
que poder soberano é uno e indivisível, onde o que se divide são suas tarefas. É 
inalienável porque não se transfere a outrem, haja vista que o corpo social que a 
detém desapareceria no caso de sua alienação. Imprescritível porque o poder 
soberano é vocacionado para existir permanentemente, inexiste prazo certo para 
sua duração. 
 
57CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 75. 
 20 
1.4 AS FORMAS DO ESTADO 
Carvalho58 entende por forma de Estado a maneira em que o 
Estado organiza o povo e o território e estrutura o seu poder a outros poderes de 
igual natureza, que a ele ficarão coordenados ou subordinados. 
Sobre forma de Estado, Silva59 dispõe: 
O modo de exercício do poder político em função do território dá 
origem ao conceito de forma de Estado. Se existe unidade de 
poder sobre o território, pessoas e bens, tem-se Estado unitário. 
Se, ao contrário, o poder se reparte, se divide, no espaço territorial 
(divisão espacial de poder), gerando uma multiplicidade de órgãos 
governamentais, distribuídas regionalmente, encontramo-nos 
diante de uma forma de Estado composto, denominado Estado 
Federal ou Federação de Estados. 
As formas de Estado, na concepção de Araujo60, são 
definidas a partir do critério territorial, tendo como referência a existência e o 
conteúdo do regime de descentralização político-administrativa de cada Estado, 
indicando, por este modo, a existência de um Estado Unitário ou Federal. 
Segundo Carvalho61, “A forma de Estado leva em 
consideração a composição geral do Estado, a estrutura do poder, sua unidade, 
distribuição e competência no território do Estado”. 
Friede62 menciona que nos dias atuais o Estado pode ser 
entendido, do ponto de vista de sua organização interna, como um Estado 
Unitário, um Estado Federal ou um Estado Confederal. 
Para Araujo63 “(...) as formas de Estado referem-se à 
projeção do poder dentro da esfera territorial, tomando como critério a existência, 
 
58CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 81. 
59
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. p. 98/99. 
60ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 
9. ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2005. p. 243. 
61CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 81. 
62
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 122. 
 21 
a intensidade e o conteúdo de descentralização político-administrativa de cada 
um”. 
Carvalho64 aponta que: 
Consoante se atenda à ocorrência de um único poder político ou a 
uma pluralidade de poderes políticos, unidade ou pluralidade de 
ordenamentos jurídicos originário (Constituições), no âmbito 
territorial do Estado, os Estados classificam-se em Estados 
simples ou unitários, e Estados compostos ou complexos. 
Araujo65 acrescenta que o Estado, quanto a sua forma, pode 
ser classificado em Federal ou Unitário. O Estado Unitário possui um só poder 
para todo o seu território, já o federal se descentraliza. 
Para Friede66 “O Estado Unitário Centralizado é 
caracterizado e definido como o Estado onde inexiste, em sua organização 
interna, qualquer tipo de repartição”. 
Afirma Araujo67 que o Estado Unitário é o caracterizado pela 
centralização política, onde existe um único pólo constitucionalmente capacitado a 
produzir, com autonomia, normas jurídicas, admitindo a existência de entidades 
descentralizadas, sem que possuam autonomia, agindo por delegação do órgão 
central, chamando para si o monopólio da capacidade política. 
Carvalho68, analisando o Estado Unitário, comenta que esta 
forma de Estado é impossível de ocorrer no mundo contemporâneo, pois em 
virtude da complexidade da própria sociedade política, esta reclama um mínimo 
de descentralização, ainda que apenas administrativa, nas modalidades 
institucional ou funcional. 
 
63ARAUJO, L. A. D.; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de Direito Constitucional. p. 244. 
64CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 81. 
65ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 244. 
66
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 122. 
67ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 244/245. 
68CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 82. 
 22 
A esse respeito acentua Friede69 que nos dias atuais o 
Estado Unitário Centralizado é uma espécie em extinção, devido às múltiplas 
servidões próprias de um Estado que exige, para sua própria sobrevivência 
eficiente, várias descentralizações em todos os seus meios organizacionais e 
operativos. 
Na concepção de Carvalho70, “O Estado unitário centralizado 
caracteriza-se pela simplicidade de sua estrutura: nele há uma só ordem jurídica, 
política e administrativa”. 
Comentando sobre o tema, Michel Temer71 acentua que: 
No Estado Unitário há um único centro de irradiação legislativa 
que se espraia por todo um dado território. Nele não se cogita da 
possibilidade da divisão da ordem jurídica de acordo com uma 
divisão de negócios por circunscrições territoriais. Ao contrário, a 
ordem é uma, global, abrangente de todas as relações humanas 
que ocorrerem na área onde atua a soberania do Estado. 
Friede72 ensina que no Estado Unitário Descentralizado há 
efetiva repartição de atribuições entre a parte centralizada e as descentralizadas, 
as quais são realizadas através da outorga das normas às comunas, 
departamentos etc. Nesse tipo de Estado, a repartição de competências se dá, 
unicamente no nível administrativo. Como exemplos contemporâneos de Estados 
Unitários Descentralizados tem-se a França, a Itália, entre outros. 
Carvalho73 dispõe que o Estado unitário quando possui certa 
descentralização se manifesta no Estado Regional. 
 
69
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucionale de teoria geral do Estado. p. 122. 
70CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 82. 
71TEMER, Michel. Território Federal nas constituições brasileiras. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1975. p. 3. 
72
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria ceral do Estado. p. 122. 
73CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 82. 
 23 
Araújo 74 conclui que no Estado Unitário existe uma única 
ordem à qual se reporta todo o ordenamento colhido pelo poder soberano do 
resistivo Estado. 
O Estado Federal é formado pela união de Estados 
independentes os quais abrem mão de sua soberania em favor de um governo 
central, geralmente denominado Governo Federal, mantendo, entretanto, certa 
autonomia, de acordo com os preceitos constitucionais. 
Nesse sentido tem se posicionado Friede75: 
O Estado Federal é, por definição, aquele onde estão 
asseguradas, pela Constituição, autonomia política-administrativa 
às partes descentralizadas (Estados-Membros, Províncias, 
Territórios etc.). É, nesse sentido, reputada, pela quase 
unanimidade dos autores, como a forma mais moderna de Estado. 
São exemplos atuais de Estados Federais, praticamente todos os 
Estados americanos, como, por exemplo, os Estados Unidos e o 
Brasil, entre outros, além de alguns estados europeus cuja 
unificação ocorreu tardiamente, como no caso da Alemanha. 
Conforme ensina Silva76, o Brasil assumiu a forma de Estado 
federal, em 1889, com a proclamação da República, sendo mantido nas 
constituições posteriores, muito embora o federalismo da Constituição de 1967 e 
de sua Emenda 1/69 tenha sido apenas nominal. A Constituição de 1988 
manteve-a no seu art. 1º, o qual configura o Brasil como uma República 
Federativa. 
Eis o expresso termo do artigo 1º da CRFB/88, “A República 
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e 
do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito”. 
 
74ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. p. 245. 
75
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 122. 
76
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. p. 99. 
 24 
Carvalho77 acrescenta que a federação se organiza com 
base numa Constituição, não havendo tratado, nem pacto que sirva de suporte 
jurídico para o Estado Federal, apenas uma Constituição que dá validade e serve 
de fundamento para os ordenamentos jurídicos locais. 
Para Araujo78, o Estado Federal nasce do vínculo de partes 
autônomas, de vontades parciais, nascendo simultaneamente uma entidade 
central, corporificadora do vínculo federativo, e diversas entidades representativas 
das vontades parcelares, sendo que todas essas entidades são dotadas de 
autonomia e possuem o mesmo patamar hierárquico no bojo da Federação. 
Para Silva79, a federação consiste na união de coletividades 
regionais autônomas denominada pela doutrina como Estados federados, 
Estados-membros ou simplesmente Estados. Nessa composição, à vezes, entram 
outros elementos, como os Territórios Federais e o Distrito Federal, sendo que no 
sistema brasileiro, destaca-se os Municípios, agora também incluídos na estrutura 
político-administrativa da Federação brasileira (art. 18 CRFB/88). 
Prescreve o caput do art. 18 da Constituição: “A organização 
político-administrativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios, todos autônomos nos termos desta Constituição”. 
Sobre esta divisão dual das formas de Estado, esclarece 
Araujo80 que, embora seja a mais recorrente, não é consensual, pois apontam-se 
outras, como, por exemplo, o Estado Regional, que constitui uma forma 
intermediária entre o Unitário e o Federal, no qual se dotam de autonomia entes 
regionais. Ao lado dos Estados Regionais, existem ainda formas inominadas, que 
agrupam característicos de modelos formais conhecidos. 
 
77CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 87. 
78ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 246. 
79
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. p. 99/100. 
80ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 244. 
 25 
Conceituando Estado Regional, Sousa81 esclarece ser um 
Estado Unitário, que dispõe de uma só Constituição, elaborada por uma instância 
em que não participam as regiões, verificando-se uma descentralização política 
em regiões autônomas, nos termos da Constituição e de Estatutos orgânicos 
regionais, outorgados ou aprovados pelos órgãos legislativos centrais. 
Carvalho82 acrescenta que para se esclarecer o perfil do 
Estado Regional, o qual se aproxima do Estado Federal, é necessário distinguir 
desconcentração, descentralização administrativa e descentralização política, 
onde existe desconcentração quando se transferem para diversos órgãos, dentro 
de uma mesma pessoa jurídica, competências decisórias e de serviços, mantendo 
tais órgãos relação hierárquica e de subordinação. Já a descentralização 
administrativa pode ser verificada quando existe a transferência de atividade 
administrativa ou, simplesmente, a transferência do exercício dela para outra 
pessoa, isto é, desloca-se do Estado que a desempenharia através de sua 
Administração Central, para outra pessoa, normalmente pessoa jurídica. A 
descentralização administrativa implica na criação de novas pessoas jurídicas, por 
lei, para além do Estado, às quais são conferidas competências administrativas. 
Já a descentralização política ocorre quando se confere a uma pluralidade de 
pessoas jurídicas de base territorial competências não só administrativas, mas 
também políticas (Estados-Membros, Distrito Federal e Município, no Direito 
Constitucional Brasileiro). 
Friede83, conceituando Estado Confederal, explica que: 
O Estado Confederal, para aqueles que defendem a sua 
existência, caracteriza-se basicamente pela existência de partes 
descentralizadas (Repúblicas, Territórios etc.) dotadas 
constitucionalmente de soberania, ainda que autolimitadas por 
decisões e livre vontade individual de cada parte integrante. 
Todavia, parte significativa dos autores rejeitam a idéia da 
existência do Estado Confederal exatamente pela impossibilidade 
de serem impostas limitações à soberania de cada integrante da 
 
81SOUSA, Marcelo Rebelo de. Direito constitucional. Braga: Livraria Cruz, 1979. p. 146/147. 
82CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 82. 
83
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 123. 
 26 
Confederação, uma vez que a soberania, por sua própria 
definição, é instrumentalizada originária, inalienável e ilimitada. 
Carvalho84 assevera que “A Confederação de Estados 
constitui uma associação de Estados soberanos que se unem para determinados 
fins (defesa e paz externas)”. 
A esse respeito, ainda, dispõe Carvalho85 que a 
Confederação é instituída por tratado, admitindo, em regra, o direito de cessão, 
sendo que os órgãos confederativos deliberam por maioria, podendo à 
unanimidade ser exigida para assuntos mais importantes, bem como o direito de 
nulificação, onde cada Estado pode opor-se às decisões do órgão central. 
Friede86 acentua que a antiga União das Repúblicas 
Socialista Soviéticas (URSS), considerada unicamente sob a ótica jurídica, 
consoante sua Constituição, era reconhecida, por grande parte dos estudiosos do 
Direito Internacional Público, como uma sinérgica Confederação que reunia 15 
Repúblicas autônomas e soberanas, o que ficou evidenciado, de certa maneira, 
com o posterior surgimento da Comunidade de Estados Independentes (CEI). 
1.5 ORGANIZAÇÃODO ESTADO E SUAS FUNÇÕES 
Meirelles87 explica que a organização do Estado é matéria 
constitucional no que se refere à divisão política do território nacional, à 
estruturação dos Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos 
governantes, aos direitos e garantias dos governados. 
A organização do Estado brasileiro está assim delineada na 
Constituição da República de 1988: 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
 
84CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 86. 
85CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 86. 
86
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 123. 
87
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. p. 61. 
 27 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamento: 
I – a soberania; 
II – a cidadania; 
III – a dignidade da pessoa humana; 
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V – o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por 
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição. 
De transcendência importância é, também, o artigo 2º da 
CRFB/88, que dispõe: 
Art. 2º. São poderes da União, independentes e harmônicos entre 
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
Para Araujo88 a vontade estatal é única, e manifesta-se por 
suas funções, a executiva, a legislativa e a judiciária. 
Souza89 define a função do Estado como a atividade 
desenvolvida por um ou vários órgãos do poder político de modo duradouro, e em 
particular na sua forma, visando a persecução dos fins do Estado. 
Araújo90 acentua que a função legislativa pode ser definida 
como a de criação e inovação do ordenamento jurídico, tendo por finalidade a 
formulação de regras genéricas e abstratas, as quais devem ser 
compulsoriamente observadas pelos indivíduos e pelos órgãos estatais. A lei é o 
ato tipicamente produzido pela função legislativa. 
Carvalho91 afirma que “A função legislativa consiste na 
prática de atos-regra”. 
 
88ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 299. 
89SOUSA, Marcelo Rebelo de. Direito constitucional. p. 236. 
90ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.. Curso de direito constitucional. p. 300. 
91CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 110. 
 28 
A função executiva, no entendimento de Araújo92, tem por 
objetivo a administração da coisa pública, se realizando por meio de atos e 
decisões produzidos com a finalidade de dar cumprimento ao disposto nas leis, 
materializando-se pelos chamados atos administrativos. 
Conceituando a função administrativa, Carvalho93 comenta 
que ela consiste na prática de atos-condição, dos atos subjetivos e das 
denominadas operações materiais, sem caráter jurídico, realizadas pelos órgãos 
da Administração Pública, destinando assegurar o funcionamento dos seus 
serviços. 
Para Piçarra94, a função jurisdicional é a voltada para a 
aplicação da lei ao caso controvertido, se destina à conservação e à tutela do 
ordenamento jurídico mediante o proferimento de decisões individuais e 
concretas, dedutíveis das normas gerais, declarando a conformidade ou a não-
conformidade dos fatos com estas e determinando as eventuais conseqüências 
jurídicas. 
No entendimento de Carvalho95, a função jurisdicional 
consiste na prática dos atos jurisdicionais, que tanto podem ser atos-condição 
como atos subjetivos, não os definindo seu conteúdo, mas a circunstância de 
provirem de um órgão dotado de imparcialidade e independência (tribunal ou juiz 
singular). 
O Estado brasileiro, tendo adotado o princípio federativo, 
organizou-se internamente, mediante os entes federativos (União, Estados, 
Distrito Federal e Municípios), que estão estruturados através de órgãos públicos, 
denominados a partir do Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, 
cada qual desenvolvendo função específica do Poder, que serão tratados no 
próximo capítulo. 
 
92ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. p. 300. 
93CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 110. 
94PIÇARRA, Nuno. A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucional. 
Coimbra: Coimbra, 1989. p. 248. 
95CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 110. 
CAPÍTULO 2 
DIVISÃO DAS FUNÇÕES DO PODER NO ORDENAMENTO 
BRASILEIRO 
 
Conforme tratado no Capítulo anterior deste trabalho 
monográfico, a organização do Estado brasileiro está centrada nos Entes 
Federativos, tais como União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios. 
Os Entes federativos se auto-organizaram criando estruturas 
políticas, administrativas e jurisdicionais96. 
2.1 PODER LEGISLATIVO 
2.1.1 A organização e divisão das funções do Poder Legislativo na União 
Na União, o Poder Legislativo está organizado a partir do 
Congresso Nacional, constituído de forma bicameral. 
O artigo 44 da CRFB/88, assim dispõe: 
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, 
que se compõe de Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 
A estrutura bicameral do Congresso Nacional encontra-se 
dividido em duas câmaras: a Câmara Alta (Senado Federal), cujos membros 
representam (de forma fixa) as unidades de federação (Estados e Distrito 
Federal), e a Câmara Baixa (Câmara dos Deputados), cujos membros 
representam (de forma proporcional) o povo97. 
 
96
 O Distrito Federal e os Municípios não possuem organizações jurisdicionais próprias (nota da 
Autora). 
97
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 217. 
 30 
A Câmara dos Deputados, conforme estabelece o artigo 45 
da CRFB/88 compõe-se de representantes do povo, cuja escolha se dá através 
de eleições realizada pelo sistema proporcional98 em cada Estado e Distrito 
Federal. O número total de Deputados varia, sendo proporcional à população de 
cada Estado e do Distrito Federal, sendo estabelecido, no ano anterior às 
eleições, por lei complementar, a fim de que nenhum Estado-Membro e Distrito 
Federal, tenha menos de 8 ou mais de 70 Deputados99. 
Segundo Carvalho100 este critério tem sido considerado 
injusto, pela disparidade existente entre os Estados mais populosos e os menos 
populosos. 
O Senado Federal é composto de representantes dos 
Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário101, para 
mandato de oito anos. O mandato mais longo dos Senadores constitui fator de 
harmonia e ponderação, precaução de cuidado, afastando-se das paixões e dos 
interesses de curto prazo, em virtude ainda do papel conservador do Senado 
Federal, de modo a evitar atritos no âmbito do bicameralismo, o que irá contribuir 
para melhor entendimento entre o Legislativo e o Executivo102. 
Segundo Silva103, as competências privativas da Câmara 
dos Deputados, assim como as do Senado Federal, são exercidas através de 
Resoluções. 
 
98
 Sistema proporcional tem aplicação na eleição para Deputado Federal e Estadual e Vereadores, 
coligando-se os partidos para eleger seus candidatos, considerando-se eleitos aqueles que 
forem abrangidos pelo quociente eleitoral, ou seja, a divisão do número de votos válidos 
apurados pelo de lugares a serem preenchidos em cada circunscrição eleitoral. (SILVA, De 
Plácido e. Vocabulário Jurídico. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 1307). 
99
 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. art. 
45. 
100
 CARVALHO, Kildare Gonçalves.Direito constitucional. p. 605. 
101
 Sistema majoritário é a representação, em dado território (circunscrição ou distrito), cabe ao 
candidato ou candidatos que obtiverem a maioria (absoluta ou relativa) dos votos. (SILVA, De 
Plácido e. Vocabulário Jurídico. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 1308). 
102
 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 607. 
103
 SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. Breves comentários à Constituição Federal. vol. II. 
Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 47-50. 
 31 
O Senado assegura a participação dos entes federados na 
formulação das leis, sendo requisito para a existência de uma federação e a 
Câmara resguarda a participação popular na criação das normas. 
O Congresso Nacional atua através das Casas que o 
compõe, agindo em conjunto ou separadamente, permitindo-se concluir que 
existem três formas da reunião parlamentar104. 
A competência do Congresso Nacional está mencionada, em 
parte, nos arts. 22 e 24 da CRFB/88, e especificada nos arts. 48 a 52 do mesmo 
diploma legal105. 
As competências da Câmara dos Deputados estão previstas 
no art. 51, e as do Senado Federal então no art. 52, ambos da CRFB/88. 
2.1.2 A organização e divisão das funções do Poder Legislativo nos 
Estados-Membros 
A auto-organização dos Estados Federados revela-se por 
meio de Constituição Estadual própria elaborada pelo Poder Constituinte 
Decorrente, conforme menciona o art. 25 da CRFB/88. 
Também, a autonomia estadual decorre da CRFB/88, fonte 
matriz do Poder Constituinte Estadual, sendo que aos Estados são reservados 
todos os poderes que não lhes sejam vedados pela CRFB/88, a qual estabelece 
uma série de princípios e vedações a serem observados pelos Estados-Membros 
na sua organização106. 
O Poder Legislativo nos Estados é exercido exclusivamente 
pelas Assembléias Legislativas, organizada através do sistema unicameral107. 
 
104
 FRIEDE, Reis. Curso analítico de direito constitucional e de teoria geral do Estado. p. 217. 
105
 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Fundamentos do direito constitucional. p. 359. 
106
 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 557. 
107
 ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. p. 280. 
 32 
O art. 27 da CRFB/88 dispõe sobre a estruturação das 
Assembléias Legislativas, indicando genericamente a forma de composição e o 
seu regime jurídico, ou seja, o número de cadeiras para Deputados Estaduais 
devida a cada Casa, que corresponderá ao triplo do número de Deputados 
Federais que aquele Ente federativo eleger e, atingindo o número de trinta e seis, 
será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. 
O mandato dos Deputados Estaduais será de 04 (quatro) 
anos, ou seja, uma legislatura, aplicando-se a eles as mesmas regras sobre 
imunidades, vedações e incompatibilidades dos Deputados Federais108. 
Seus subsídios serão fixados por lei, de iniciativa da 
Assembléia Legislativa, não podendo ultrapassar 75% (setenta e cinco por cento) 
do estabelecido aos Deputados Federais109. 
O Supremo Tribunal Federal110 já se manifestou no sentido 
da necessidade da observância, pelos Estados-Membros, de padrões jurídicos 
inscritos na CRFB/88, relativos à iniciativa das leis, assim decidindo: 
(...) não obstante a ausência de regra explícita na Constituição de 
1988, impõe-se aos Estados-Membros a observância das linhas 
básicas do correspondente modelo federal, particularmente as de 
reserva de iniciativa, na medida em que configuram elas prismas 
relevante do perfil do regime positivo de separação e 
independência dos poderes, que é princípio fundamental ao qual 
se vinculam compulsoriamente os ordenamentos das unidades 
federadas. 
Neste sentido, pode-se verificar que a atuação do Poder 
Legislativo Estadual e Distrital encontra-se vinculado a CRFB/88. 
 
 
108
 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual de direito constitucional. 2 ed. rev. atual. e 
ampl. São Paulo: Millennium, 2005. p. 143. 
109
 ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. p. 281. 
110
 STF. ADIn nº 872/RS [In CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. p. 668]. 
 33 
2.1.3 A organização e divisão das funções do Poder Legislativo no Distrito 
Federal 
No caso particular do Distrito Federal, o Poder Legislativo é 
exercido pela sua Câmara Legislativa Distrital111. 
Por expressa previsão constitucional, o Distrito Federal é um 
Ente federativo autônomo, com personalidade jurídica de direito público interno. A 
auto-organização do Distrito Federal (assim como nos Municípios), é feita por 
meio de Lei Orgânica, votada em duplo turno, com interstício mínimo de dez dias 
e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que deverá promulgá-la, 
obedecidos os princípios da CRFB/88. 112 
Por se tratar de Estado Anômalo, com poderes peculiares de 
Estados e Municípios e por cediar no seu espaço territorial a Capital Federal, o 
Distrito Federal não poderá ser dividido em Municípios, os quais possuem 
autonomia parcialmente tutelada pela União, pois o art. 32, § 4º, da CRFB/88, 
estabelece não existir polícias civil, militar e corpo de bombeiros militar 
pertencentes ao Distrito Federal, pois são mantidas pela União113. 
Essas instituições, como já mencionado, são organizadas e 
mantidas diretamente pela União, a exemplo do que acontece com o Poder 
Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública do Distrito Federal conforme os 
arts. 21, XIII, XIV e 22, XVII, ambos da CRFB/88114. 
Portanto, o Distrito Federal nasce com a mesma auto-
organização do Município, realizada através de lei orgânica, aproxima-se do 
Estado-membro, por receber competências legislativas municipais e estaduais, 
possui os mesmos tributos do Estado e do Município, porém sofre restrições em 
 
111
 SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. Breves comentários à Constituição Federal. p. 1. 
112
 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual de direito constitucional. p. 147. 
113
 ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de direito constitucional. p. 291/292. 
114
 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual de direito constitucional. p. 148. 
 34 
relação a sua competência, pois tem ainda tutela da União (art. 21, XIII e XIV, 
CRFB)115. 
2.1.4 A organização e divisão das funções do Poder Legislativo nos 
Municípios 
A autonomia municipal, alcançada pela CRFB/88, permitiu 
que os Municípios, até então considerado simples entidade administrativa 
autônoma, passassem a ter o status de Ente federado, ao lado da União, dos 
Estados-Membros e do Distrito Federal, conforme se verifica no art. 18 da 
CRFB/88116. 
O Poder Legislativo Municipal é exercido através da Câmara 
Municipal117, também conhecido como Câmara de Vereadores. 
A Câmara de Vereadores dos Municípios brasileiros, 
analisada pela teoria da separação dos poderes, representa o Poder Legislativo 
local, com funções legislativas e de fiscalização dos atos do Prefeito e de 
administração dos seus serviços. Compõe-se de Vereadores, variando de nove a 
cinqüenta e cinco, de acordo com o número de habitantes do Município, eleitos 
diretamente pelos eleitores municipais, para uma legislatura de quatro anos, 
funcionando com períodos legislativos anuais e sessões plenárias sucessivas 
para realizar suas atribuições118. 
Nesse aspecto, é importante ressaltar inclusive, a existência 
de autores que entendem que o Poder Legislativo municipal, exercido pela 
Câmara de Vereadores, não representa um autêntico Poder Legislativo, tendo em 
vista que os Vereadores (originalmente, simples fiscais de posturas) não são 
 
115
 ARAUJO, L. A. D; NUNES JÚNIOR, V. S.

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