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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” (ESPECIALIZAÇÃO) A DISTÂNCIA - PCQ - PROCESSAMENTO E CONTROLE DE QUALIDADE DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL CONSERVAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE PRODUTOS CÁRNEOS EDUARDO MENDES RAMOS ALCINÉIA DE LEMOS SOUZA RAMOS MARIA CRISTINA BRESSAN PAULO ROGÉRIO FONTES Universidade Federal de Lavras - UFLA Lavras – MG 2014 Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA Inserir palavras-chave Governo Federal Presidente da República: Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação: José Henrique Paim Fernandes Universidade Federal de Lavras Reitor: José Roberto Soares Scolforo Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho Pró-Reitora de Pós-Graduação: Alcides Moino Júnior Pró-Reitor Adjunto Lato Sensu: Daniel Carvalho de Rezende Centro de Educação a Distância Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins Coordenador Pedagógico: Warlley Ferreira Sahb Coordenador de Projetos: Daniel Carvalho de Rezende Coordenadora de Apoio Técnico: Fernanda Barbosa Ferrari Coordenador de Tecnologia da Informação: André Pimenta Freire Coordenador(a) de Curso: Processamento e Controle de Qualidade de Produtos de Origem Animal (PCQ): Eduardo Valério de Barros Vilas Boas SUMÁRIO 1 - INDUSTRIALIZAÇÃO: VANTAGENS E PRINCÍPIOS BÁSICOS DE TRANSFORMAÇÃO .......................................................................................................................... 1 1.1 OBJETIVOS E VANTAGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO DE CARNES ................................. 2 1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CÁRNEOS ..................................................................... 3 1.2.1 Embutidos crus (produtos crus ou frescais) ................................................................................ 5 1.2.2 Embutidos cozidos (produtos escaldados) .................................................................................. 5 1.2.3 Embutidos fermentados (produtos salgados e desidratados) .................................................... 5 1.2.4 Produtos curados ........................................................................................................................ 5 1.2.5 Produtos reestruturados (produtos crus ou pré-cozidos) ............................................................ 5 1.2.6 Produtos enlatados (produtos cozidos enlatados) ...................................................................... 5 1.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSAMENTO ..................................................................... 6 1.3.1 Preparo da matéria-prima .......................................................................................................... 6 1.3.2 Características da matéria-prima ............................................................................................... 7 1.3.3 Formulação do produto .............................................................................................................. 9 1.3.4 Ingredientes e aditivos em produtos cárneos ............................................................................. 9 1.3.5 Mistura dos ingredientes na matéria-prima ............................................................................. 20 1.3.6 Embutimento ............................................................................................................................ 23 1.3.7 Tratamento térmico .................................................................................................................. 24 1.3.8 Defumação ................................................................................................................................ 25 1.3.9 Maturação/Secagem ................................................................................................................ 25 2 – EMBUTIDOS MARINADOS E REESTRUTURADOS ............................................................. 28 2.1.1 Definição ................................................................................................................................... 29 2.1.2 Processamento .......................................................................................................................... 31 2.2 PRODUTOS MARINADOS ........................................................................................................ 33 2.2.1 Definição ................................................................................................................................... 33 2.2.2 Processamento .......................................................................................................................... 33 2.3. HAMBÚRGUER ......................................................................................................................... 35 2.3.1 Definição ................................................................................................................................... 35 2.3.2 Processamento .......................................................................................................................... 36 2.4 EMPANADOS ............................................................................................................................. 39 2.4.1 Definição ................................................................................................................................... 39 2.4.2 Processamento .......................................................................................................................... 40 2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 47 3 – PRODUTOS SALGADOS E CURADOS CRUS ...................................................................... 50 3.1 CHARQUE ................................................................................................................................... 52 3.1.1 Definição ................................................................................................................................... 52 3.1.2 Processamento .......................................................................................................................... 53 3.1.3 Aspectos de qualidade do charque ........................................................................................... 59 3.2 JERKED BEEF ........................................................................................................................... 60 3.2.1 Definição ................................................................................................................................... 60 3.2.2 Processamento .......................................................................................................................... 61 3.3 CARNE DE SOL ......................................................................................................................... 62 3.3.1 Definição ................................................................................................................................... 62 3.3.2 Processamento .......................................................................................................................... 63 3.4 PRESUNTOS CURADOS CRUS .............................................................................................. 65 3.4.1 Definição ...................................................................................................................................65 3.4.2 Processamento .......................................................................................................................... 67 3.5 COPPA E CULATELLO ............................................................................................................. 70 3.5.1 Definição ................................................................................................................................... 70 3.5.2 Processamento .......................................................................................................................... 70 3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 73 4 – PRODUTOS CURADOS ............................................................................................................ 75 COZIDOS ........................................................................................................................................... 75 4.1 PRESUNTO COZIDO ................................................................................................................. 76 4.1.1 Definição ................................................................................................................................... 76 4.1.2 Processamento .......................................................................................................................... 77 4.2 APRESUNTADO ......................................................................................................................... 81 4.2.1 Definição ................................................................................................................................... 81 4.2.2 Processamento .......................................................................................................................... 81 4.3 FIAMBRE ..................................................................................................................................... 83 4.3.1 Definição ................................................................................................................................... 83 4.3.2 Processamento .......................................................................................................................... 84 4.4 BACON E BARRIGA DEFUMADA ........................................................................................... 85 4.4.1 Definição ................................................................................................................................... 85 4.4.2 Processamento .......................................................................................................................... 85 4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 87 5–PRODUTOS ................................................................................................................................... 89 MULSIONADOS ................................................................................................................................ 89 5.1 FORMAÇÃO DA EMULSÃO ..................................................................................................... 90 5.2 MORTADELA .............................................................................................................................. 92 5.2.1 Definição ................................................................................................................................... 92 5.2.2 Processamento .......................................................................................................................... 94 5.3 SALSICHA ................................................................................................................................... 96 5.3.1 Definição ................................................................................................................................... 96 5.3.2 Processamento .......................................................................................................................... 97 5.4 PATÊS ....................................................................................................................................... 100 5.4.1 Definição ................................................................................................................................. 100 5.4.2 Processamento ........................................................................................................................ 101 5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 103 6 – PRODUTO ................................................................................................................................. 105 FERMENTADOS ............................................................................................................................. 105 6.1 METODOS COMBINADOS DE CONSERVAÇÃO ................................................................ 106 6.2 SALAMES ................................................................................................................................. 107 6.2.1 Definição ................................................................................................................................. 107 6.2.2 Considerações sobre a maturação .......................................................................................... 110 6.2.3 Processamento ........................................................................................................................ 113 6.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 119 7 – PRODUTOS CÁRNEOS ENLATADOS .................................................................................. 122 7.1 CORNED BEEF ........................................................................................................................ 124 7.1.1 Definição ................................................................................................................................. 124 7.1.2 Processamento ........................................................................................................................ 125 7.2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 132 Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 1 1 - INDUSTRIALIZAÇÃO: VANTAGENS E PRINCÍPIOS BÁSICOS DE TRANSFORMAÇÃO Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 2 O produto cárneo é denominado transformado quando as propriedades da carne fresca são modificadas, mediante o uso de uma ou mais técnicas como a trituração, adição de condimentos, modificação da cor ou tratamento de calor. 1.1 OBJETIVOS E VANTAGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO DE CARNES O processamento de produtos de origem animal remonta à pré-história, onde circunstâncias climáticas e de sobrevivência do homem levaram a constatações acidentais de que as carnes se conservavam comestíveis por períodos mais longos quando submetidas a determinadas condições. O objetivo básico do processamento de carnes era a sua preservação pela inibição ou retardamento da decomposição microbiana. Com o uso das novas tecnologias de conservação, o processamento de carnes passou a valorizar dois aspectos adicionais, produzir conveniência e variabilidade. Podemos dizer, então, que atualmente o processamento de carnes visa basicamente quatro objetivos: 1) conferir conservabilidade,embora nem sempre seja o principal objetivo; 2) permitir um maior aproveitamento da matéria-prima; 3) desenvolver novos produtos, permitindo uma maior variedade, atendendo as exigências de consumidores de diferentes segmentos e conferindo conveniências, como produtos: dietéticos, infantis, para idosos e enfermos, pré-preparados, entre outros; e 4) adicionar valor agregado à matéria-prima original. A tendência atual da indústria de carnes está voltada para a obtenção de produtos destinados a uma parcela representativa do mercado consumidor que se apresenta mais exigente a cada dia. Produtos ditos naturais ou dietéticos são cada vez mais procurados por uma parcela crescente de consumidores que associam a necessidade de se consumir alimentos com menor quantidade de produtos químicos e gorduras como um hábito saudável. Sem discutir o mérito da questão, o fato é que a indústria de alimentos tem que ficar atenta às mudanças nas opções de consumo para ser capaz de modificar ou produzir produtos que atendam às exigências do mercado. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 3 Nos produtos cárneos o uso de conservantes, algumas especiarias e o emprego do calor associado a temperaturas de resfriamento ou congelamento podem aumentar a vida útil e, com isso, o mesmo pode permanecer no mercado varejista por mais tempo e ser distribuído em regiões distantes da indústria processadora. No processamento, como matéria-prima são utilizadas aparas, retalhos que sobram do processo da desossa, vísceras, gorduras e peles, que possuem baixa aceitação no mercado consumidor, entretanto, quando submetidas a técnicas de processamento podem originar um produto com características de sabor, suculência e textura desejável. A aparência se torna atrativa e a embalagem é projetada para proteger, informar, sugerir e vender o produto. Os produtos cárneos antes do seu lançamento e registro passam por uma etapa de desenvolvimento, na qual são estudadas, nas formulações, as quantidades de ingredientes e o tipo de matéria-prima a fim de obter características que se enquadram na faixa de mercado pretendida e/ou na proposta do produto. Ainda na tentativa de criar novas opções para o mercado e aumentar a facilidade de consumo (conveniência), alguns processos podem ser realizados para realçar cortes. Como exemplo podem ser citados: a) peito de frango temperado e previamente amaciado; b) lombo de suíno temperado e pré-cozido (lombo canadense, lombo com páprica, lombo com ervas etc.); e, c) cortes bovinos maturados e embalados a vácuo (maminha e picanha maturada). Esses métodos buscam melhorar as características sensoriais e aumentar a aceitação por parte do consumidor. O processamento e industrialização de carne são responsáveis por manter viáveis economicamente algumas indústrias de abate. Por exemplo, no caso dos abatedouros de aves, a margem de lucro sobre a venda de frango resfriado é baixa, mas a utilização de técnicas de industrialização permite aumentar o valor agregado aos produtos. 1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CÁRNEOS De uma maneira geral, os produtos cárneos processados podem ser classificados de acordo com o tipo de processamento a que é submetido e a sua forma de armazenamento. Para efeito de avaliação do emprego de aditivos, a Portaria nº 1.002, de 11 de dezembro de 1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), classificou os produtos cárneos comercializados no Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 4 país em subcategorias, enquadradas na “Categoria 8 - Carnes e Produtos Cárneos”, conforme a Tabela1. Tabela 1 - Subcategorias que fazem parte da Categoria 8 - Carnes e Produtos Cárneos (Portaria no 1.002, de 11 de dezembro de 1998) Subcategoria Produtos Carnes Frescas Todas as carnes frescas Congeladas Todas as carnes congeladas Produtos Cárneos Industrializados Produtos frescais*, embutidos ou não Almôndegas; quibes (kibes); linguiças; empanados; carne bovina, suína, ovina e de aves temperada; carne e miúdos temperados e/ou recheados; hambúrgueres; dentre outros. Produtos secos, curados e/ou maturados, embutidos ou não Linguiças; carnes e peles desidratadas; presunto cru; presunto Tipo Parma; salames; copas; Speck; Brezaola; cortes maturados/curados; Jerked Beef; charque; Pepperoni; paio Tipo Português; dentre outros. Produtos cozidos, embutidos ou não Mortadela; salsicha; pastas; salsichões; morcelas; chouriços; presunto cozido; pão de carne; fiambres; galantinas; lanches de carne; linguiças; cortes de carne; lombo Tipo Canadense; lombo de suínos; paios; linguiça defumada; almôndegas; pratos prontos; Zampone; barriga defumada (bacon); Codeguino; empanados; apresuntados; queijo de porco; dentre outros. Produtos Cárneos Salgados Produtos salgados crus cortes de carne, miúdos, carne de sol, dentre outros. Produtos salgados cozidos Mortadela; salsicha; pastas; salsichões; morcelas; chouriços; presunto cozido; pão de carne; fiambres; galantinas; lanches de carne; linguiças; cortes de carne; lombo Tipo Canadense; lombo de suínos; paios; linguiça defumada; almôndegas; pratos prontos; Zampone; barriga defumada (bacon); Codeguino; empanados; apresuntados; dentre outros. Conservas e Semiconservas de Origem Animal Conservas cárneas, mistas e semiconservas cárneas Salsicha; mortadela; apresuntado; carne em conserva; picadinho de carne; pastas; almôndegas; feijoada; dobradinha; molhos de carne; carnes com vegetais; língua de bovino enlatada; paio em banha; extratos de carnes; fiambres; dentre outros. * Entende-se por “frescais“ os produtos que não sofrem tratamento térmico e, deste modo, exigem um maior controle da qualidade da matéria-prima e das condições de processamento e comercialização. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 5 1.2.1 Embutidos crus (produtos crus ou frescais) Nessa classe, a matéria-prima, adicionada de condimentos e especiarias, é embutida em envoltórios naturais ou artificiais e conservada até o consumo final em temperaturas entre -1 a 8oC. São exemplos desses produtos os vários tipos de linguiças frescais (linguiça de porco, de frango, linguiça calabresa) e os produtos marinados. 1.2.2 Embutidos cozidos (produtos escaldados) Após o preparo do produto, o mesmo é submetido a tratamento térmico de pasteurização. Em relação à estrutura da matéria-prima os embutidos cozidos podem ser divididos em: a) emulsionados (salsichas, mortadelas, patês); e, b) moldados (presunto, apresuntado). 1.2.3 Embutidos fermentados (produtos salgados e desidratados) Nessa categoria de produtos, a matéria-prima é adicionada de culturas iniciadoras (“starters”) e embutida. A seguir, o produto passa por períodos de maturação em condições controladas de umidade e temperatura. Um exemplo é o salame. 1.2.4 Produtos curados A matéria-prima é adicionada de condimentos e sais de cura (nitrito e nitrato) e passa por processos de maturação. São exemplos dessa categoria o Presunto Parma, a Copa, o Culatello, o Lombo Canadense, a Carne de Sol, o Charque e o Jerked Beef. 1.2.5 Produtos reestruturados (produtos crus ou pré-cozidos) Nessa classificação, a matéria-prima é picada, adicionada de substâncias ligantes, empanada ou não, pré-cozida ou não, submetida a congelamento rápido (-30 a -35oC) e embalada. São representantes dessa categoria os hambúrgueres, almôndegas e os empanados tipo “nuggets”. 1.2.6 Produtos enlatados (produtos cozidos enlatados) O produto preparado e envasado é submetido a tratamentos de esterilização. Exemplo desses produtos são as salsichas enlatadas, patê, bolinho de carne (almôndegas)e o Corned Beef. A matéria-prima é picada, moldada e resfriada rapidamente. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 6 1.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSAMENTO 1.3.1 Preparo da matéria-prima Como matéria-prima para processados são utilizados, além da carne magra (normalmente dianteiro de bovino), retalhos de carne suína ou bovina (resultado da desossa ou aproveitamento de cortes desfigurados), gorduras de suíno (oriundas da barriga, papada e lombo), carne mecanicamente separada (proveniente de dorso, pescoço ou cortes desfigurados) e vísceras (fígado, estômago, coração, língua e pulmão). A escolha e a quantidade dessa matéria- prima depende do produto, das técnicas de processamento e da fórmula. Outra questão importante é a qualidade higiênico-sanitária do lote de animais, das operações de abate e ausência de estruturas estranhas à carne como pelos, tecido conjuntivo ou pedaços de ossos. Inicialmente, no processo da industrialização, a matéria-prima é preparada para receber os condimentos de acordo com o produto, conforme descrito a seguir: em produtos curados como charque, carne de sol e Jerked Beef as massas musculares devem ser reduzidas à espessuras uniformes na forma de mantas de carne; em produtos cozidos moldados, como o presunto e o apresuntado, os músculos são desossados, separados individualmente e retiradas as aparas, aponevroses e gorduras não desejáveis; nas linguiças e produtos fermentados, a massa cárnea e a gordura são trituradas em partículas menores utilizando um moedor (Figura 1a). O tamanho dessas partículas de carne e gordura é um fator de qualidade que determina a textura do produto. O tamanho uniforme das partículas pode ser obtido se a trituração é realizada com a matéria-prima à baixas temperaturas antes da moagem. Esse procedimento evita a fusão das gorduras (temperatura de -1 a -2°C para carnes magras e temperatura de -2 e -3°C para carne gorda); no preparo de produtos emulsionados, a carne é moída finamente em equipamento específico (cutter; Figura 1b) juntamente com as gorduras, formando uma massa viscosa com características de uma emulsão. Essa textura inicial de pasta é mantida pelas propriedades funcionais das proteínas da carne que foram expostas durante a moagem no cutter. No cozimento, essas proteínas coagulam e originam outras texturas. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 7 Figura 1 - Equipamentos utilizados na fragmentação da carne: (a) moedor (picador) de carne, com detalhes dos discos de moagem com diferentes gramaturas; e (b) cutter (ou bow cutter), com detalhe das facas de corte que giram em alta velocidade. 1.3.2 Características da matéria-prima As matérias-primas, conforme a origem e localização, apresentam diferentes composições químicas e diferentes características em relação à capacidade de emulsificação e de formação de cor, conforme apresentado na Tabela 2. (a) (b) Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 8 Tabela 2 - Características das carnes para o processo de embutimento* Características nutricionais Características industriais Carnes Gordura (%) Proteína (%) Capacidade de cor** Capacidade de emulsionar** Carne de suínos Paleta 8,0 19,2 0,80 0,95 Fígado 8,0 20,6 0,80 0,00 Queixada 8,0 20,9 0,80 0,80 Orelhas 10,0 22,5 0,10 0,20 Retalhos 1 10,0 18,9 0,70 0,90 Retalhos 2 25,0 15,8 0,50 0,80 Retalhos 3 55,0 9,7 0,35 0,75 Estômago 13,0 16,7 0,20 0,05 Baço 15,0 15,9 0,60 0,00 C. de Bochecha 15,0 17,8 0,65 0,75 Coração 17,0 15,3 0,85 0,30 Pernil 19,0 16,9 0,60 0,80 Língua 19,0 16,3 0,15 0,20 C. de nuca 25,0 15,9 0,60 0,70 Couro 32,0 28,3 0,05 0,20 Focinho 35,0 14,6 0,05 0,10 Carne de bovinos Carne de vitela 5,0 16,8 0,90 0,80 Dianteiro 8,0 – 10,0 19,0 – 20,8 0,95 –1,0 1,00 Fígado 9,0 20,7 0,80 0,00 Bucho 11,0 12,8 0,05 0,10 Retalhos 15,0 18,9 0,90 0,85 Retalhos 25,0 16,9 0,85 0,80 Bochecha 15,0 18,3 0,90 0,85 Língua 20,0 15,5 0,25 0,20 Aparas de língua 40,0 12,6 0,15 0,15 Focinho 20,0 15,9 0,05 0,20 Coração 21,0 14,9 0,90 0,30 Ponta de agulha 23,0 15,8 0,80 0,75 Pulmão 12,0 17,5 0,75 0,05 *Valores médios (podendo variar com a época de abate e a idade e composição do animal), ** Os números que expressam a capacidade de cor e de emulsionar são valores relativos que variam de zero a um, Fonte: CANHOS & DIAS (1983) Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 9 1.3.3 Formulação do produto A formulação do produto, durante a sua fase de desenvolvimento deve prever uma qualidade elevada associada a um custo baixo. Geralmente, para reduzir custos é observado o tipo da carne e ingredientes que podem ser adicionados com o objetivo de aumentar o rendimento e melhorar as características sensoriais. Para os aditivos e ingredientes utilizados, bem como o teor mínimo de proteína e máximo de gordura e umidade, entre outros, nos produtos, existem normas que devem ser atendidas. 1.3.4 Ingredientes e aditivos em produtos cárneos Em linhas gerais, ingredientes são todas substâncias, incluindo os aditivos, que se agregam aos produtos, independentemente da finalidade tecnológica. As indústrias de carnes utilizam ingredientes e aditivos para conservar e melhorar as características de qualidade, tais como: cor, sabor, odor e consistência do produto. Aditivo para alimento é a substância intencionalmente adicionada ao mesmo, com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades, desde que não prejudique seu valor nutritivo (BRASIL, 1989). A principal discussão sobre o emprego de aditivos na produção de alimentos resulta da controvérsia entre a necessidade e a segurança de seu uso. Embora sob o ponto de vista tecnológico haja benefícios alcançados com a utilização de aditivos alimentares, existe a preocupação constante quanto aos riscos toxicológicos potenciais decorrentes da ingestão diária dessas substâncias químicas (ANVISA, 2014). Um aditivo não tem propósito de nutrir e somente pode ser utilizado quando constar da legislação específica para a categoria de alimento, em suas respectivas funções e limites máximos. No Brasil, os aditivos são legislados por duas Portarias da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde (MS): Portaria no. 1002, de 11 de dezembro de 1998, que “subdivide a Categoria 8 – Carnes e produtos cárneos”; e Portaria no. 1004, de 11 de dezembro de 1998 que define a “Atribuição da função e de limites de aditivos da Categoria 8”. Mais recentemente, em 2006, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou uma Portaria (no. 51, de dezembro de 2006) similar à Portaria no. 1004 da ANVISA, que também descreve a “Atribuição da função e de limites de aditivos da Categoria 8”. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 10 Os aditivos devem ser listados com as funções que exercem e com o número do Sistema Internacional de Numeração (INS), definidos nas portarias da ANVISA e, ou, MAPA (Ex. “conservante nitrito de sódio - INS 249”). Já os ingredientes, alguns são legislados pelas Instruções Normativas de Identidade e Qualidade, também chamados de PIQs (Padrões de Identidade e Qualidade), de cada produto específico definido pelo MAPA. Por exemplo, amido é um ingrediente que pode ser adicionado (até 2%) em apresuntados, mas não pode ser adicionado em presuntos cozidos. Assim, a diferença básica entre aditivos e ingredientes reside no fato de que, na sua maioria, aditivos são compostos químicos legislados devido a questões relacionadas ao risco do seu consumo em grande quantidade ou por questões tecnológicas. Por exemplo nitritoé um aditivo que é tóxico se consumido em quantidades elevadas, muito acima do que é permitido na maioria dos países. Já o controle dos ingredientes tem a ver com uma questão nutricional ou de mercado. Por exemplo, amidos são ingredientes - não aditivos - controlados pelo Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) dos produtos. Esse controle é feito para evitar que as indústrias os utilizem em grandes quantidades, em substituição à carne, o que iria favorecer o rendimento e reduzir os custos. No entanto, o amido não contribui nutricionalmente ao produto e a substituição da carne por ele implica em severa redução nos valores nutricionais do produto. Além disso, a adição deste tipo de ingrediente permite diferenciar produtos de alta qualidade, em que sua adição não é permitida, de outros de qualidade inferior, porém aceitável. Estas diferenças refletem, obviamente, no preço do produto. Para que um aditivo alimentar seja aprovado no Brasil são consideradas referências internacionalmente reconhecidas, como o Codex Alimentarius - Comitê de Especialidades da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Organização Mundial da Saúde (OMS) -, a União Europeia e, de forma complementar, a U.S. Food and Drug Administration (FDA). Esse critério é estabelecido na legislação brasileira pela Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS/MS) no. 540, de 27 de outubro de 1997. A FAO e OMS definiram como objetivos do uso de aditivos alimentares: produzir alimentos mais atrativos; aumentar o tempo de vida de prateleira do alimento e dar a possibilidade, entre outras, de produção em grande escala; facilitar o processamento; melhorar a qualidade nutricional; atender à necessidade de alguns grupos de pessoas com alimentos especiais como, por exemplo, diabéticos. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 11 É importante ressaltar que em nenhum caso deve o aditivo servir para dissimular um tratamento anti-higiênico dos alimentos ou encobrir a existência de matérias-primas de baixa qualidade. Os aditivos são agrupados por categorias, de acordo com sua aplicação. Existem 350 substâncias aprovadas, distribuídas em 23 categorias de aditivos, sendo as principais, de relevância para produtos cárneos, descritas a seguir. 1.3.4.1 CONSERVANTES Conservantes são substâncias com função de manter a aparência e a palatabilidade dos alimentos, ou seja, mantê-los em condições de consumo dentro de um determinado tempo, prevenindo ou impedindo a deterioração causada por microorganismos ou pela ação enzimática. Nitratos e nitritos Na tecnologia de produtos cárneos, o termo “curado” é usado justamente para definir produtos adicionados de sais (de sódio ou potássio) de nitrito (NO2) e, ou, nitrato (NO3), sendo estes aditivos conhecidos como “agentes de cura”. As principais funções desses conservantes são: a) fixação da cor curada; b) ação bacteriostática; e, c) desenvolvimento do sabor e aroma relacionados a produtos curados. Os nitratos e nitritos são efetivos contra o crescimento de espécies proteolíticas como o Clostridium botulinum. No entanto, essa ação de preservação contra o C. botulinum em produtos cárneos deve ser consequência da associação e combinação de diversos fatores, tais como: concentração de salmoura, pH do meio, nitrito adicionado ou residual, tratamento de calor, contagem inicial na matéria-prima, natureza da flora competitiva, temperatura de estocagem, disponibilidade de ferro e a presença de outros aditivos. O desenvolvimento da cor e sabor característicos de produtos curados ocorre com concentrações de nitrito entre 10 a 50 ppm. Entretanto, para inibir o crescimento de microrganismos Clostridium botulinum são necessárias concentrações de 150 a 200ppm, valores esses que são permitidos pela legislação, que tolera até 200 ppm de nitrito. Importantes considerações sobre a ação bacteriana do nitrito e nitrato são mencionadas a seguir: a) a produção de toxina botulínica em carnes pode ser prevenida desde que utilizados métodos combinados de conservação associados às concentrações de nitrito e temperaturas de refrigeração; b) o Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 12 efeito antimicrobiano do nitrito é, também, observado em temperaturas superiores à temperatura de refrigeração; c) o tratamento térmico reduz o teor de nitrito residual; d) o teor de nitrito residual é reduzido gradualmente durante o período de armazenagem do produto; e, e) o efeito antimicrobiano depende da concentração inicial de nitrito e não dos níveis residuais (PEREZ, 1977; citado por PARDI et al., 1996). Em relação ao uso do nitrito e nitrato, a indústria tem mostrado preferência para o uso de nitrito, pois a transformação do nitrato em nitrito, resultado da ação microbiana, é de difícil controle bem como o controle do teor residual do nitrato no produto final. Existe um consenso geral de que as taxas de nitrito adicionado são mais efetivas na atividade antibotulínica do que as taxas de nitrito residual. Como efeito negativo, o emprego do nitrato e nitrito acarreta o risco da formação de N-nitrosaminas que são potencialmente carcinogênicas em determinadas condições. As alternativas para evitar esse risco são: a) substituição por outros aditivos como: conservadores e fixadores de cor, que resultem em ação antibotulínica; b) associação a outros aditivos que permitem a redução do teor de nitrito, como os ascorbatos e eritorbatos; c) adoção de meios capazes de impedir ou reduzir a formação de nitrosaminas como o ácido ascórbico e GDL (glutona delta lactona); d) busca de meios que venham a suprimir o processo de ativação, inibindo a ação carcinogênica; e) redução do limite máximo residual; e, f) redobrada vigilância para evitar a superdosagem. Ácido sórbico O ácido hexanodioico, conhecido como ácido sórbico, existe no comércio na forma pura ou como sal sódico, potássico ou cálcico, sob forma de pó, granulado, em soluções e suspensões. Existe, atualmente, uma tendência para o uso do ácido sórbico, devido à sua inocuidade em substituição a outros conservadores (PARDI et al., 1996), e ácido sórbico é inibidor do crescimento de bolores e leveduras (CALIL e AGUIAR, 1999). Considerando-se que alguns microrganismos podem incluir o ácido sórbico em seu metabolismo, que sua concentração é pequena e a densidade dos germes é grande, o ácido sórbico não se presta para a conservação desses substratos (PARDI et al, 1996). Por outro lado, a presença de sal comum e açúcares aumentam a atividade do ácido sórbico. No entanto, o emprego do ácido sórbico e seus sais em embutidos cárneos é limitado ao revestimento externo, não sendo permitida a sua presença na massa cárnea. A conservação das carnes por envoltórios impregnadas em ácido sórbico é considerada eficaz, sendo muito comum o seu uso na elaboração de produtos fermentados como o salame. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 13 1.3.4.2 ANTIOXIDANTES As substâncias adicionadas aos alimentos que reduzem o aparecimento de alterações oxidativas são definidas como antioxidantes. As gorduras, presentes nos tecidos cárneos, quando expostas ao ar e à luz tendem à oxidação e à rancificação, reações que são acompanhadas do desenvolvimento de sabor e odor desagradáveis. Vários fatores estão envolvidos com o início e processo de rancificação, tais como: a) composição química dos ácidos graxos, b) processamento utilizado; c) condições de armazenamento; e, d) presença de antioxidantes naturais na gordura (PARDI et al., 1996). A rancificação é provocada por reações químicas. Dentre essas existem algumas causadas pela ação do oxigênio atmosférico nas duplas ligações dos ácidos graxos insaturados. Essa oxidaçãoé ativada pela luz, pelo calor e pela presença do cobre e do ferro que catalisam a oxidação. Os resíduos desse processo de oxidação são os peróxidos que rompem-se e dão origem às cetonas, aldeídos e outros compostos de peso molecular baixo, responsáveis pelo odor e gosto desagradáveis que caracterizam as gorduras rançosas (PARDI et al., 1996). A fim de melhorar o efeito dos antioxidantes são aplicados nos alimentos os “compostos sinergistas”, cujo efeito da combinação é maior que o efeito relativo à ação de cada um dos componentes isoladamente. As substâncias sinergistas são adicionadas aos produtos cárneos conjuntamente com os antioxidantes. Os atuais sinergistas utilizados são o ácido ascórbico (vitamina C), o ácido cítrico e o ácido fosfórico. Dentre os antioxidantes de eleição encontram-se os sintéticos: butil-hidroxitolueno (BHT), butil-hidroxianisol (BHA) e galato de propila com o sinergista ácido cítrico (PARDI et al., 1996; CALIL e AGUIAR, 1999). Em alimentos, os antioxidantes sintéticos de uso permitido devem seguir o limite máximo para cada antioxidante, mas quando mais de um tipo é utilizado o total não pode exceder a 0,02% (200 ppm) com base no teor de gordura do produto. Os sais do ácido ascórbico (ascorbatos de sódio ou potássio) e seu isômero ácido isoascórbico (eritorbato de sódio ou potássio) – Figura 2 – são comumente empregados em produtos cárneos. Ambos funcionam como agentes redutores, como antioxidantes e agentes sequestrantes. São aceleradores do processo de cura e também são estabilizadores da cor curada formada. O ascorbato é considerado mais eficiente nessa ação, porém é de custo mais elevado, portanto o uso do eritorbato em produtos cárneos é maior. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 14 Figura 2 - Estrutura química dos ácidos ascórbico e isoascórbico. 1.3.4.3 ESTABILIZANTES Estabilizantes são substâncias que favorecem e mantêm as características físicas de emulsões e suspensões, não dispõem de ação emulsionante, mas consolidam as emulsões. Caracterizam-se por seu peso molecular elevado. Sua ação consiste em formar películas na superfície de separação, além de funcionar como coloides protetores que desenvolvem viscosidade elevada e, com isso, evitam a migração das partículas menores existentes na solução. Por isso, os estabilizantes são frequentemente adicionados aos alimentos junto com os emulsionantes (PARDI et al., 1996). Entre os estabilizantes minerais encontram-se os polifosfatos que, por modificarem as funcionalidades das proteínas no alimento, reagem como estabilizantes de forma indireta. Os polifosfatos atuam elevando o pH do meio, acentuando a capacidade de retenção de água e consequente embebeção da massa e a diminuição da retração do produto no cozimento, devido a menor perda de umidade. Tecnologicamente isso proporciona no produto um aspecto mais homogêneo e brilhante ao corte e aumenta a sua suculência e maciez (PARDI et al., 1996). Outras vantagens tecnológicas associadas ao uso de polifosfatos são: retardo na oxidação, redução da perda de suco nos enlatados e redução na perda de água no descongelamento (PEREZ, 1987, citado por PARDI et al, 1996). A legislação brasileira restringe sua aplicação a 0,5% em produtos cárneos. 1.3.4.4 ACIDULANTES Os acidulantes são substâncias capazes de comunicar e intensificar o gosto ácido dos alimentos e podem exercer outras ações, como: mascarar a doçura do açúcar e conservar (PARDI et al., 1996). Os acidulantes previstos pela legislação brasileira são: ácido adípico, ácido cítrico, ácido fosfórico, ácido fumárico, ácido glicônico, ácido glicólico, ácido lático, ácido málico, ácido tartárico e glucona-delta-lactona. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 15 Ácido lático O ácido lático, em condições de anaerobiose, é formado no músculo após o sacrifício do animal, que age contribuindo na queda do pH da carne e aumentando a vida útil da carne in natura. Nos produtos elaborados a acidez originada do acúmulo de ácido lático na carne atua aumentando a estabilidade de produtos maturados. Nesses produtos, a presença desse ácido pode ser originada da adição de açúcares fermentáveis. O uso tecnológico do ácido lático apresenta algumas vantagens, como: a) ser estável ao calor, resistindo a temperaturas elevadas; b) possui sabor ácido suave; c) não sofre limitações quanto ao seu uso em alimentos. Por outro lado, não mascara outros componentes odoríferos. O ácido lático pode ser empregado em salmoura ou sal destinado à elaboração de charque e outras carnes curadas ou defumadas (Jerked Beef), em doses de até 2% sobre o peso do sal empregado (PARDI et al., 1996). Ácido acético A ação conservadora do ácido acético é atribuída à queda do pH provocada no meio, por essa razão é necessária uma concentração mais elevada do que os demais ácidos orgânicos. Nesse caso, a atividade antimicrobiana é observada quando utilizadas concentrações superiores a 0,5%. O ácido acético, além de conservador, também é considerado um ingrediente rápido que industrialmente pode ser usado como corretivo de pH, principalmente em conservas de pescado e conservas de carne (PARDI et al., 1996). Ácido cítrico De sabor ácido mais forte, o ácido cítrico também pode ser utilizado em produtos cárneos curados via categoria de antioxidante (sinergista – sequestrante de metais, inibindo seu efeito catalizador sobre a reação de oxidação) em níveis de até 0,2%. Em presuntos e apresuntados, embora seja permitida, sua utilização não é adequada, pois diminui a capacidade de retenção de água da carne, prejudicando a liga do produto. Glucona-delta-lactona A glucona-delta-lactona (GDL) é um éster do ácido glucômico e se Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 16 apresenta sob a forma de um pó branco, sem odor particular e sabor agradável, parecido com os outros açúcares, muito solúvel em água e pouco em álcool. Em meio aquoso, a GDL se transforma lentamente em ácido glucômico, que adicionado até os níveis permitidos pela legislação (0,5%), diminui o pH em alguns décimos (0,2 - 0,3 unidades). Este decréscimo, embora pequeno, é importante, pois permite que muitas massas cárneas cheguem a valores de pH próximos de 5,3, nos quais a velocidade de cura é máxima. Esta redução do pH contribui ainda para a inibição de microrganismos indesejáveis (proteolíticos, por exemplo) no embutido. É um dos principais acidulantes utilizados em produtos cárneos fermentados. 1.3.4.5 AROMATIZANTES OU FLAVORIZANTES Aromatizantes ou flavorizantes representam os aditivos constituídos por substâncias ou compostos usados com o objetivo de intensificar o paladar e o aroma dos alimentos ou conferir-lhes um sabor que não possuem (PARDI et al., 1996). Os principais aromatizantes utilizados na indústria de carnes atual são os aromas de fumaça (fumaça em pó, fumaça líquida, etc.). Os aditivos flavorizantes podem ser divididos em: a) naturais, obtidos a partir de folhas, raízes, resinas, óleos essenciais etc., através de processos físicos e químicos; b) artificiais, divididos em dois grupos: i) obtidos por processo de síntese através de processos físicos e químicos, cuja estrutura química é idêntica a uma substância ou composto natural; ii) obtidos por síntese laboratorial, cuja estrutura química não é encontrada na natureza. 1.3.4.6 CORANTES Os corantes são usados para dar cor ou realçar o pigmento e, dessa forma, atrair a atenção do consumidor criando uma cor-imitação ou realçando a cor natural, sem que possuam qualquer princípio nutritivo. Os corantes podem ser divididos em naturais e artificiais. Entre os naturais temos os de origem puramente vegetal, tais como: açafrão, antocianinas, beterraba,cacau, carotenoides, carvão vegetal, cochonilha, cúrcuma, índigo, páprica, pau-brasil, pau campelchi, riboflavina, urucum, urzela, xantofila e alguns outros menos conhecidos como a hemoglobina, pigmento de origem animal. Estes pigmentos naturais são pouco utilizados, pois existem os artificiais, disponíveis e economicamente viáveis tais como: amarelo crepúsculo; amarelo ácido; amarelo tartrazina; azul idigotina; azul indatreno; azul brilhante; amaranto ou bordeaux S; vermelho 40; ponceau 4 R; e, eritrosina (PARDI et al., 1996). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 17 1.3.4.7 UMECTANTES As substâncias umectantes são aquelas capazes de evitar a perda da umidade dos alimentos, previnindo a solidificação e agindo na cura de embutidos (CALIL e AGUIAR, 1999). Em carnes é permitido o uso de propileno glicol, no limite máximo de 0,004%. Lactato de sódio Apesar de a legislação brasileira enquadrar o lactato de sódio como umectante, além desta função, este possui ainda ação de preservação, aumentando a estabilidade microbiológica e, consequentemente, a vida útil; melhora o sabor e a cor do produto; e é de fácil aplicação por se apresentar na forma líquida (cerca de 60% de concentração). 1.3.4.8 ESPESSANTES Espessantes são substâncias que aumentam a viscosidade de um alimento. Em produtos cárneos seu uso é mais restrito. Carragena As carragenas, também chamadas de carrageninas ou musgo irlandês, são carboidratos naturais que estão presentes na estrutura de algumas algas vermelhas (Rhodophycea), que possuem a particularidade de formar coloides altamente viscosos ou géis em meio aquoso. Esta capacidade de formar géis permite melhorar rendimentos (diminuir custos), textura (mais elástica em presuntos), suculência (maior capacidade de reter água - CRA), fatiamento e liga dos produtos cárneos, permitindo ainda diminuir a perda de líquidos, o teor de gordura (principalmente em produtos de baixo teor de gordura por permitir a redução de gordura sem comprometer a palatabilidade) e as quebras no momento de fatiar ou cortar o produto, consequentemente, melhorando a aparência final e o sabor dos derivados de carne. 1.3.4.9 CONDIMENTOS E ESPECIARIAS Condimento é o produto contendo substâncias aromáticas, sápidas, com ou sem valor alimentício, empregado com o fim de temperar alimentos, dando- lhes melhor aroma e sabor (artigo 785 do RIISPOA, BRASIL, 1952). Os Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 18 condimentos e temperos são importantes, pois conferem ao alimento odor agradável e ajudam a melhorar o sabor ao degustar, o que repercute no seu próprio aproveitamento. O uso de condimentos aumenta a palatabilidade do alimento, permitindo a variedade da dieta, sobretudo devido ao odor e sabor mais ativos, excitam as mucosas e aumentam a atividade glandular, com consequente produção de mais saliva e mais suco gástrico, em favorecimento à digestão Os condimentos podem ser agrupados em duas classes: potencializadores de sabor, que são substâncias que não conferem sabor, mas favorecem a percepção destes; entre eles citam-se: glutamato monossódico, hidrolisado de proteínas, aminoácidos, dipeptídeos, maltol, etimaltol e produtos de combinação; e saporizantes: substâncias que conferem sabor, como os aromatizantes, ácidos naturais presentes nos alimentos, açúcar, sal de cozinha e especiarias. O artigo 367 do RIISPOA lista as substâncias aromáticas (e seus princípios ativos), empregadas com a finalidade de temperar o produto, aprovadas para o uso em produtos cárneos. Especiarias são partes de algumas plantas (raízes, rizomas, bulbos, cascas, folhas, talos, flores, frutos, sementes) em seu estado natural, dessecadas e/ou resultantes de trabalho mecânico, que por seu sabor ou aroma característico dão sabor aos alimentos para consumo humano. O uso das especiarias em conservas e produtos industriais, além de imprimir sabores característicos, atuam também como antioxidantes em relação às gorduras. Esse efeito é observado, principalmente, na pimenta do reino, cravo, gengibre, noz-moscada, alecrim e cebola. Nos produtos cárneos, essa ação antioxidante é mais efetiva mediante o aquecimento. Nesses casos, as especiarias atuam retirando da gordura o oxigênio necessário à formação de radicais e/ou as especiarias opõem-se aos processos antioxidativos das gorduras, fixando traços de metais, que são agentes catalizadores. Alguns autores atribuem ainda o efeito antimicrobiano a algumas especiarias, tais como a canela, cravo, mostarda, macis, noz-moscada e o gengibre (PARDI et al., 1996). Os condimentos podem ser utilizados nos produtos cárneos em quantidades suficientes para dar o efeito desejado, seguindo as boas práticas de manufatura. Produtos curados, como presuntos e apresuntados, devem ser condimentados de forma suave, de modo a permitir que predomine o sabor Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 19 característico da carne curada, enquanto outros produtos como mortadelas e salames são fortemente condimentados. 1.3.4.10 INGREDIENTES Diversos ingredientes podem ser utilizados no processamento de carnes, sendo que alguns possuem propriedades similares a alguns aditivos. Por exemplo, substâncias com propriedades estabilizantes podem ser obtidas a partir de plantas terrestres e marinhas e substâncias proteicas encontradas em produtos animais e vegetais. Os estabilizantes vegetais não proteicos podem ser: exsudato de plantas terrestres (goma arábica, tragacanto, goma karaya), extrato de plantas terrestres (pectina), farinha de sementes (farinha de alfarroba, goma guar), extrato de algas marinhas (ágar, alginatas, musgo irlandês), derivados da celulose (metilcelulose, carboxicelulose sódica e celulose microcristalina) e derivados de hidroxicoloides naturais (propilenoglicol-alginato). Entre os hidroxicoloides vegetais específicos, importantes em produtos cárneos, destacam-se o amido e as féculas. Amido e Fécula Amido é o produto amiláceo extraído das partes aéreas comestíveis dos vegetais (ex. amido de milho), e fécula é o produto amiláceo extraído das partes subterrâneas comestíveis dos vegetais (ex. fécula de batata; fécula de mandioca). Os amidos e féculas são ligadores utilizados em um grande número de indústrias por sua capacidade de formar géis com o calor, mantendo unida a massa, a umidade e gordura da carne durante o seu processamento, além de conferir firmeza e modificar as características de textura. Os grânulos que formam o amido incham-se, rompem-se e, em presença de água, gelatinizam- se. O amido utilizado nos embutidos cárneos cozidos ou escaldados barateia o produto e ajuda a reter água liberada pela desnaturação das proteínas durante o processo de cozimento (que será englobada entre as porções gelatinizadas), mas diminui a quantidade de matéria-prima nobre, por isso, amidos são chamados de “substâncias de enchimento”, sendo sua adição legislada pelos PIQs dos produtos. Ligadores proteicos Outra substância ligadora é a proteína de soja, utilizada em grande número de produtos cárneos, como salsichas, mortadelas, presuntos, apresuntados, linguiças e hambúrgueres. As proteínas de soja, que têm como característica fundamental a capacidade de reter água (sem comprometer a relação umidade/proteína) e emulsionar gordura, assegurando a estabilidade dos produtos, substituem parcialmente a carne e aumentam consideravelmente Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 20 a capacidade de emulsão e liga, o que melhora as características do corte e fatiamento. A maioria das proteínas terá este papel. Entre os ligadores de origem animal, que têm capacidade de emulsionar a gordura e de reter água, citam-se:albumina do ovo, leite desnatado em pó, proteínas do soro de leite, caseína solúvel, plasma sanguíneo, entre outros. Cloreto de sódio - Sal O cloreto de sódio (sal de cozinha) tem participação muito importante no processo da solubilização das proteínas da carne. As proteínas sarcoplasmáticas e as miofibrilares são solúveis em soluções salinas, portanto, o sal tem uma importância fundamental na extração das proteínas do interior do músculo para a superfície. Além disso, o sal aumenta a força iônica e favorece a manifestação das propriedades tecnológicas das proteínas da carne, tais como o poder emulsionante e ligante que é responsável por manter a estabilidade e conferir a textura dos produtos. Como seu emprego não é regulamentado, e uma vez que o sabor salgado é suficiente para limitar o consumo dos produtos, sua dosagem não tem caráter de controle. Geralmente não é utilizado em níveis superiores a 2%, mas níveis maiores podem ser aplicados quando se deseja maximizar a funcionalidade das proteínas miofibrilares, sendo necessária a adição de açúcar para “abrandar” o excesso de sal. Quando utilizado em altas concentrações inibe o crescimento dos microorganismos que causam a deterioração da carne, pois aumenta a pressão osmótica do meio com a consequente redução da atividade da água (PRICE e SCHWEIGERT, 1976, CANHOS e DIAS, 1983). Com a redução na capacidade de retenção de água, e devido à alta concentração salina, as proteínas são desnaturadas (GRAU, 1976, citado por PARDI et al., 1996). Em relação à ação do sal contra os microorganismos, ele possui ação bacteriostática quando usado na concentração de 10% do produto e tem ação preventiva contra os microrganismos anaeróbicos, quando empregado na concentração de 5% (PARDI et al, 1996). 1.3.5 Mistura dos ingredientes na matéria-prima Os ingredientes podem ser adicionados e misturados à massa cárnea triturada através misturadores dotados de pá (Figura 3) ou, mesmo, no cutter durante a moagem quando o produto é finamente triturado (ex. em emulsionados). A mistura uniforme permite o desenvolvimento homogêneo da cor do produto, adequada preservação e parâmetros estáveis de sabor, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 21 suculência e textura no mesmo lote ou entre lotes de produtos com a mesma formulação. Figura 3 – Ilustração de uma misturadeira de massa cárnea dotada de pás. Entretanto, no caso de produtos não cominuídos, os ingredientes podem ser introduzidos nas peças cárneas através da injeção, seguida do massageamento. A injeção direta da mistura de cura (salmoura) no interior da carne provoca uma distribuição mais rápida e uniforme. O processo é feito sob pressão através de agulhas múltiplas que penetram na carne em certos pontos à distância uniforme (Figura 4). Trata-se do processo mais utilizado industrialmente na elaboração de presunto cozido e similares. Figura 4 – Injetora automática de agulhas múltiplas, cujos cabeçotes com blocos de agulhas permitem a injeção em peças de carne com ou sem osso. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 22 Após injeção das peças, estas podem ser encaminhadas aos massageadores ou tombadores (tumblers), que são equipamentos que causam danos mecânicos do tecido muscular, com perda da estrutura normal da fibra e destruição da barreira celular, o que permite uma melhor difusão e distribuição dos ingredientes de cura na peça de carne, reduzindo o tempo necessário para a completa cura e equalização. O tombador é constituído de um cilindro fechado, com hélices ou pás internas, que em movimentos giratórios eleva os pedaços de carne para o topo e deixa-os cair (Figura 5). A ação física é severa e envolve além do atrito uma energia de impacto relativo, devido à queda das peças de carne dentro do tambor rotativo. Durante o processo, também ocorre o extravasamento das proteínas miofibrilares para a superfície, formando um exsudado cremoso e pegajoso. Este exsudado, composto principalmente por proteínas miofibrilares, aumenta a CRA e permite uma melhor coesão dos pedaços de carne, com consequente redução da perda de peso durante o aquecimento e rendimento mais uniforme do produto. Além disso, favorecem a tenrura, cor, fatiabilidade e palatabilidade do produto final. Figura 4 – Foto e esquema de um tombador (tumbler) a vácuo, utilizado para ativação mecânica das proteínas da carne. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 23 1.3.6 Embutimento Produtos cárneos fragmentados, emulsionados ou não, são estruturados geralmente numa forma simétrica. A maioria destes produtos, também chamados de produtos de salsicharia (em outros países, denominado sausage), é embutida, podendo ser, ainda, curados, defumados, secos, tratados termicamente ou não. O embutimento consiste na extrusão da massa cárnea triturada ou peças menores de carne em envoltórios, naturais ou artificiais, ou mesmo formas, flexíveis ou não. Os envoltórios flexíveis, comumente chamados de tripas, são usados no embutimento dos produtos de salsicharia, bem como de outros tipos de produtos cárneos processados. As tripas podem ser divididas em dois grandes grupos: naturais e artificiais. As tripas naturais são provenientes dos intestinos, bexiga, esôfago e estômago de animais de abate, sobretudo bovinos, suínos e ovinos, embora possam ser utilizadas tripas de equídeos e caprinos. Após o abate, as tripas são limpas (remoção do sebo e da mucosa), imersas em água e gelo para extrair o sangue, salgadas e, ou, dessecadas. Antes de usadas no embutimento, as tripas naturais precisam ser dessalgadas e, ou, reidratadas. As tripas artificiais são obtidas a partir de matérias-primas naturais regeneradas e materiais sintéticos. Os envoltórios artificiais de uso mais corrente em embutidos cárneos são os constituídos de hidrato de celulose (tripas fibrosas, de origem vegetal) ou colágeno reconstituído (tripas membranosas, de origem animal) e os constituídos por polímeros minerais (plásticas), denominados envoltórios sintéticos. As tripas naturais são os envoltórios tradicionais e apresentam algumas vantagens em relação aos artificiais, como melhor aparência e proteção ao sabor do embutido, pois mantêm a suculência e permite o sabor característico da defumação nas porções internas desse produto. No entanto, esse tipo de envoltório apresenta algumas características indesejáveis quando comparadas com as tripas artificiais, como maior índice de contaminação microbiana e consequente perda na vida útil, e não apresentam calibres médios e finos, como as artificiais (SOARES et al., 2004). Em geral, as fibras artificiais apresentam melhores características do que as tripas naturais, como aspecto atrativo, maior uniformidade do produto final e são mais firmes ao embutimento. A permeabilidade ao vapor e à fumaça das tripas de colágeno e celulose pode ser escolhida, apresentando boas condições higiênicas e inocuidade toxicológica. Associado a tudo isso, as tripas artificiais são fáceis de manipular, transportar e armazenar. A grande desvantagem deste tipo de envoltório é o fato de que alguns tipos, como o de Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 24 celulose e os sintéticos, não serem comestíveis, devendo ser removidas antes do consumo. Seja por tripa natural ou artificial, as partículas de carne ou emulsão cárnea são embutidas nos envoltórios com o uso de embutideiras (Figura 5). Figura 5 – Ilustração de embutideira tipo pistão (esquerda) e tipo rotor (direita). A utilização de formas reaproveitáveis também tem um papel importante na fabricação de embutidos. De material rígido, as formas de metal ou plásticos são especialmente úteispara produtos que não são comercializados com a tripa, como, por exemplo, presuntos, apresuntados e fiambres. 1.3.7 Tratamento térmico Tecnologicamente, o tratamento térmico tem duas importantes funções no processamento de carnes: É responsável pela coagulação das proteínas e a manutenção do formato do produto. Exemplos desse processo é a pasteurização das salsichas que, após o cozimento, o envoltório é retirado e, mesmo assim, o formato é mantido; e o presunto cozido, no qual os músculos suínos inteiros após cozimento em formas metálicas mantém o formato e coesos no fatiamento, durante o prazo de validade. Reduz a contaminação bacteriana e, associado a temperaturas de resfriamento, mantém o produto qualitativamente viável por mais tempo. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 25 1.3.8 Defumação A defumação é, por definição, a operação que consiste principalmente em submeter a carne à ação da fumaça da queima de madeiras, aparas, serragens e outros vegetais durante algum momento do seu processamento. A defumação de produtos cárneos confere aroma e sabor característicos, além de maior prazo de vida comercial devido a ação dos componentes da fumaça e por desidratação parcial. Junto com a salga e a dessecação, é um dos três procedimentos mais antigos de conservação de alimentos. Antigamente os produtos eram fortemente defumados, pois se visava a totalidade do efeito de preservação dado pela fumaça (conservação do produto). Progressivamente reduziu-se o teor de fumaça aplicada aos produtos, chegando os mesmos a terem apenas traços, decorrentes de uma defumação “suave”. Atualmente a defumação das carnes visa conferir características de sabor e cor especiais, o desenvolvimento de novos produtos e, contribuir com a conservação, seja protegendo contra oxidação ou colaborando para evitar o crescimento microbiano. Entretanto, quando usada isoladamente, não deve ser considerada como método de preservação, exceto em produtos fortemente defumados. 1.3.9 Maturação/Secagem Alguns produtos passam por maturação/secagem em condições de temperatura, umidade e velocidade do ar controlada com o objetivo de desenvolver sabor, aroma e texturas características. Exemplo desses produtos são os fermentados e os produtos curados cru. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 26 1.4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERLE, E.D., FORREST, J.C., GERRARD, D.E., MILLS, E.W. Principles of Meat Science. 4 ed., New York: Kendall/Hunt Publishing Company, 2001. 354p.. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). 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De fato, muitos produtos hoje referidos como reestruturados eram enquadrados como produtos de salsicharia. Atualmente, é consenso comum o uso do termo “produtos de salsicharia” para produtos cárneos geralmente embutidos, como salames, salsichas, mortadelas, linguiças, entre outros. Outros produtos, que não podem ser classificados como produtos de salsicharia, são referidos como “reestruturados”. Entre os reestruturados mais comuns situam-se os hamburgueres, almôndegas, bifes de porções de carne moldada (steaks) e os empanados (nuggets) de carne de aves (RAMOS e FONTES, 2005). Os embutidos clássicos são as linguiças, cujo processamento difere dos emulsionados (salsicha, mortadela, etc.) e fermentados (salames) devido à sua simplicidade de processo. Neste capítulo serão abordados apenas as linguiças, como embutidos, os marinados e alguns produtos reestruturados. 2.1 LINGUIÇAS 2.1.1 Definição Linguiça é o produto cárneo industrializado, obtido de carnes de animais de açougue, adicionados ou não de tecidos adiposos, ingredientes, embutido em envoltório natural ou artificial e submetido ao processo tecnológico adequado (BRASIL, 2000). O processo de fabricação de linguiças, assim como outros produtos de salsicharia, surgiu da necessidade de aproveitamento de retalhos de carne e gorduras de limpeza das peças, bem como de melhor utilização das carnes menos nobres. O método básico consiste em realizar o corte, desossa, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 30 moagem (trituração) da carne e da gordura, cura, condimentação, mistura, embutimento em tripas animais (geralmente os intestinos devidamente limpos e tratados) e, quando desejado, defumação (RAMOS e FONTES, 2005). Muitas linguiças são designadas segundo as regiões onde foram desenvolvidas, como é o caso da linguiça calabresa (Calábria, Itália), toscana, (Toscana, Itália), portuguesa (Portugal), espanhola (Espanha), blumenau (Blumenaul, Santa Catarina), entreoutras. Trata-se de um dos derivados cárneos mais fabricados no Brasil, por não exigir tecnologia de ponta e por utilizar poucos equipamentos e de baixo custo. De acordo com o Regulamento de Identidade e Qualidade de Linguiças (BRASIL, 2000), a classificação dos tipos de linguiça é feita de acordo com a composição da matéria-prima e com as técnicas de fabricação, por exemplo: Linguiça: produto cárneo industrializado, obtido de carnes de animais de açougue, adicionados ou não de tecidos adiposos, ingredientes, embutido em envoltório natural ou artificial, e submetido ao processo tecnológico adequado. Podem ser cruas (frescais), dessecadas, cozidas e, ou, defumadas. O uso de CMS (carne mecanicamente separada) é permitido apenas em linguiças cozidas, sendo limitado a 20%. A CMS utilizada também poderá ser substituída por carne de diferentes espécies de animais de açougue, até o limite máximo de 20 %. Permite- se, ainda, a adição de 2,5% (máx.) de proteínas não-cárneas (vegetal e, ou, animal) na forma de proteína agregada. Linguiça Calabresa: produto obtido exclusivamente de carne suína, curado, adicionado de ingredientes, devendo ter o sabor picante característico da pimenta calabresa, submetida ou não ao processo de estufagem ou similar para desidratação e ou cozimento, sendo o processo de defumação opcional;. Linguiça Portuguesa: é o produto obtido exclusivamente de carne suína, curado, adicionado de ingredientes, submetido à ação do calor com defumação. Tem como características o sabor de alho e a forma de apresentação de “ferradura”. Linguiça Toscana: produto cru e curado obtido exclusivamente de carne suína, adicionada de gordura suína e ingredientes. Paio: produto obtido de carnes suína e bovina (máximo de 20%) embutida em tripas naturais ou artificiais comestíveis, curado e adicionado de ingredientes, submetido à ação do calor com defumação. O produto deve ser designado (Denominação de Venda) de Linguiça, seguido de denominação ou expressões que o caracterizem, de acordo com a sua apresentação para venda, tais como: Linguiça de Carne Bovina, Linguiça de Carne Suína, Linguiça de Lombo Suíno, Linguiça de Lombo e Pernil Suíno, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 31 Linguiça de Carne Suína Defumada, Linguiça Calabresa, Linguiça de Carne de Peru, Linguiça de Carne de Frango, Linguiça Mista, Linguiça Tipo Calabresa, Linguiça Tipo Portuguesa, Linguiça Cozida de ... , Paio, e Outros. 2.1.2 Processamento Como matéria-prima da linguiça podem ser utilizadas carnes (oriundas de bovinos, suínos e aves) e sal. O tipo de carne a ser empregado varia de acordo com a formulação escolhida. Os ingredientes opcionais mais utilizados são: gordura suína, água, aditivos intencionais, aromas, especiarias e condimentos. 2.1.2.1 MOAGEM A matéria-prima (carne e gordura) deve ser reduzida a pequenos pedaços levados ao moedor. Dessa matéria-prima, as carnes duras devem ser finamente moídas, enquanto as carnes mais macias e as gorduras devem ser moídas em discos de maior calibre. A temperatura da carne a ser moída deve ser de 0 a 4°C, pois a moagem pode provocar um aquecimento indesejável da carne. 2.1.2.2 CONDIMENTAÇÃO Após a moagem, a carne, a gordura, outros ingredientes e os temperos diluídos em água gelada devem ser transferidos a um recipiente próprio e misturados de forma homogênea. O uso da água gelada, além de facilitar a diluição dos condimentos e a homogeneização do tempero à massa, contribui para a redução da temperatura do material. A seguir, a massa deve descansar por algumas horas em geladeira antes do embutimento. 2.1.2.3 EMBUTIMENTO A massa deve ser embutida, de forma contínua sem espaço de ar ou em gomos no tamanho desejado. As bolhas de ar podem causar oxidação e escurecimento nas regiões circunvizinhas a elas, comprometendo a apresentação do produto final. Como envoltório para as linguiças podem ser usadas tripas artificiais ou naturais (suínos, bovinos ou ovinos). No momento de embutir, as tripas devem Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 32 ser colocadas em água aquecida, pois este procedimento facilitará o embutimento e amoldamento da massa ao envoltório. Simultaneamente ao enchimento com a massa, são realizadas as torções na tripa para o posterior amarrio, normalmente, a cada 10 cm (mas irá depender do tipo de linguiça). 2.1.2.4 AMARRIO Quando são realizados gomos, as extremidades dos envoltórios e regiões de torção devem ser amarradas com fio de algodão (barbante). Esse fio não deve ser muito fino e a pressão dos nós não deve ser excessiva para não causar corte na tripa e extravasamento da massa. 2.1.2.5 DEFUMAÇÃO As linguiças defumadas (calabresa, paio, etc.) devem ser levadas ao defumador logo após o preparo. No defumador, as peças são mantidas afastadas umas das outras por espaços pequenos, permitindo o contato perfeito das peças com o calor e a fumaça. A distância entre as linguiças e a fonte de aquecimento não deve ser inferior a 50 cm. As peças devem ser submetidas a calor seco sem fumaça (chaminé aberta) por 1 ou 2 horas, à temperatura de 40 a 45 °C, de forma que ocorra a secagem superficial das linguiças e a distribuição homogênea do sabor. Uma vez iniciada a defumação, mantenha a operação por mais 6 a 7 horas (chaminé fechada), não permitindo que a temperatura do defumador ultrapasse 45°C (CANHOS & DIAS, 1983). 2.1.2.6 ARMAZENAMENTO As linguiças processadas em boas condições de higiene podem ser armazenadas em geladeira por até 15 dias e congeladas por até 6 meses. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 33 2.2 PRODUTOS MARINADOS 2.2.1 Definição A marinação de carnes é o processo de imersão da peça em salmoura com ingredientes que podem melhorar o sabor, suculência e maciez da carne. Dentre as vantagens que esse tipo de produto apresenta para a indústria podem ser citados: a preparação simples e rápida, a caracterização do produto por meio de sabores especiais (com denominações fantasia tais como: prato mexicano, indiano, americano, chinês etc.); a possibilidade de criar sabores variados; e, agregar valor ao corte de carne (SCHMELZER-NAGEL, 1998). Popularmente, as carnes de aves, bovinos e suínos são marinadas com vinho, vinagre e leite. A indústria tem atualmente utilizado da marinação, porém sem agregar condimentos e, ou, flavorizantes, adicionando apenas aditivos como fosfatos e cloretos de sódio e, ou, de cálcio. Esta tecnologia, que tem sido denominada de “enchacement” (melhoramento, em português), consiste em se injetar uma solução na carne fresca para se obter uma maior retenção de água, melhorando a suculência e rendimento, e incrementar atributos de palatabilidade, em especial a maciez da carne. Estes produtos no Brasil são conhecidos, simplesmente, como “carnes temperadas”. 2.2.2 Processamento O processo de marinação mais tradicional consiste em aplicar uma solução preparada com água, sal, aditivos e substâncias aromáticas na estrutura do músculo, através de difusão (o corte é imerso na solução) ou por injeção, onde a solução é injetada na carne. Esta solução, chamada marinada, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 34 pode ser ácida, pois age sobre os tecidos conjuntivos amaciando a carne e aumentando a vida útil, por criar condições adversas para o desenvolvimento bacteriano. 2.2.2.1 MATÉRIA-PRIMA Os cortes de carnes utilizados para marinar podem ser: peito de frango, carré de suíno e ovino, lagarto bovino ou até carcaças de frango. Atualmente, são indicados para a marinação lombos de suínos PSE,que no mercado mostram baixa aceitação devido ao excessivo gotejamento, coloração pálida e, após o cozimento, pouca textura e suculência (YAMADA, 1998). 2.2.2.2 SOLUÇÃO DE MARINAR A solução de marinar é preparada dissolvendo-se na água resfriada (2 a 5°C): fosfato, óleo, sal, açúcar e outros condimentos que ressaltam o sabor tais como: limão, glutamato de sódio, alho em pó etc. Outros ingredientes cumprem funções importantes, conforme descrito a seguir: Dextrose: desenvolvimento da cor dourada no produto marinado durante o cozimento, que é característico e desejável, devido à reações de caramelização, responsáveis pelo escurecimento do corte durante o aquecimento térmico. Gordura vegetal, necessária na marinada, pois esse ingrediente recobre a superfície dos pedaços de carne, atuando como meio de fixação dos ingredientes e carreador das substâncias que promovem o sabor durante a fritura do produto. Proteína do leite, quando usada na solução de marinar, auxilia na distribuição e penetração da solução no corte (GALVÃO, 1993). Goma xantana, indicado para soluções aplicadas à carnes e músculos PSE. Nesse sistema de marinação, a goma xantana atua reduzindo a perda de água durante a estocagem e melhorando a textura e suculência no consumo (YAMADA, 1998). A otimização do preparo da solução de marinar é obtida quando os ingredientes secos são pré-misturados e adicionados vagarosamente à solução, para permitir melhor distribuição do produto no corte ou na estrutura cárnea. Os condimentos e especiarias devem ser adicionados à solução na forma de extratos líquidos. 2.2.2.3 INJEÇÃO DA MARINADA AO CORTE Nesse processo de aplicação da marinada ao sistema cárneo, o indicado é o uso da injetora industrial, pois permite distribuir a solução de forma homogênea em todos os pontos do produto. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 35 2.2.2.4 MASSAGEAMENTO A carne, na qual foi injetada a solução, ou o corte (sem injeção) mais a marinada, são colocados no tumbler para o massageamento das peças e maior absorção da marinada. Essa operação deve ser de curta duração ou até que a solução seja absorvida por completo (no caso de peito de frango marinado, o tambleamento pode durar em torno de 20 minutos). Outro tipo de marinação é realizado à base de uma solução oleosa, que é a combinação de óleo vegetal (girassol, por exemplo) com sal, aditivos e condimentos, misturada a pedacinhos de carnes (de tamanhos de 1 a 2 cm). Nesse caso, o tambleamento pode gerar um resultado otimizado. Esse produto de conveniência é denominado semi-pronto (o consumidor só necessita fritá-lo na panela) (SCHMELZER-NAGEL, 1998). 2.2.2.5 EMBALAGEM, EXPEDIÇÃO E ARMAZENAGEM Os produtos empanados podem ser embalados à vácuo com um filme plástico impermeável, em bandeja com atmosfera modificada e filme adequado ou em bandejas específicas junto com o molho (marinada). Quando não congelado, o produto marinado deve permanecer a temperaturas em torno de 4 °C. Da mesma forma, o transporte e a distribuição desses produtos deve ocorrer em temperaturas de resfriamento. 2.3. HAMBÚRGUER 2.3.1 Definição Hambúrguer é o produto cárneo industrializado obtido da carne moída dos animais de açougue, adicionado ou não de tecido adiposo e ingredientes, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 36 moldado e submetido a processo tecnológico adequado (BRASIL, 2000). O hambúrguer também pode ser definido como um produto cárneo moído, reestruturado e moldado, que se conserva pela aplicação do processo de congelamento, já que os aditivos adicionados visam apenas atuarem no rendimento e prevenção da oxidação. O produto deverá ser designado (denominação de venda) de Hambúrguer ou Hambúrger, seguido do nome da espécie animal, acrescido ou não de recheio, e das expressões que couberem. Por exemplo: Hambúrguer de Carne Bovina ou Hambúrguer de Bovino; Hambúrguer de Carne de Frango ou Hambúrguer de Frango; Hambúrguer de Bovino com Queijo etc. 2.3.2 Processamento A sequência de operações para elaboração do hambúrguer é ilustrada na Figura 6. Figura 6 - Fluxograma de operações para a elaboração de hambúrguer. 2.3.2.1 MATÉRIA-PRIMA Na elaboração do hambúrguer são utilizados como matéria-prima carnes de diferentes espécies e ingredientes opcionais, como proteína de origem animal ou vegetal, sal, açúcar, condimentos, gordura animal e vegetal e aditivos intencionais (TERRA, 1998). Carne mecanicamente separada (CMS) pode ser adicionada apenas em hambúrgueres vendidos pré-cozidos. MOAGEM MISTURA MOLDAGEM CONGELAMENTO EMBALAGEM Ingredientes Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 37 2.3.2.2 MOAGEM A carne deve ser moída em partículas de 1 a 1,5 cm, para ocorrer a redução das partículas e aumentar a área de contato para a extração proteica. Essa fase é fundamental no processamento, pois se não ocorrer uma extração de proteínas, os pedaços não irão se ligar até o processo de fritura, resultando em um produto com textura inconsistente (NUNES, 2003). A trituração deve ser realizada com as carnes congeladas, ou a água deve ser adicionada na forma de gelo, com o objetivo de evitar um possível aquecimento com a desnaturação proteica. A trituração deve ser realizada com as carnes congeladas, a fim de evitar um possível aquecimento com a desnaturação proteica. 2.3.2.2 MISTURA No caso do hambúrguer, a carne triturada é levada ao misturador, onde são adicionados condimentos (alho, sal, açúcar etc.), gordura e proteína. Inicialmente a carne é misturada ao sal e ao fosfato e, em seguida são adicionados a proteína e gordura. Na operação de mistura, muitas mudanças ocorrem num período curto de tempo (6 a 8 minutos) de forma que a estabilidade e a dispersão dos ingredientes e condimentos deve ser otimizada. Assim deve-se evitar: temperatura elevada de ingredientes; remistura da massa, com o consequente aquecimento, e tempo longo entre a adição das misturas de condimentos. 2.3.2.3 MOLDAGEM No equipamento de moldagem, a massa é comprimida e, através de um pistão e molde, dá-se a forma final do produto (os moldes podem ser ovais, redondos, retangulares etc.). O tamanho uniforme das partículas de carne permite um enchimento adequado das formas da máquina formadora (CANHOS & DIAS, 1983). Outro fator importante na moldagem é a temperatura da massa que deverá estar entre –3,0 e 2,0 ºC (BARBUT, 2002). Temperaturas inferiores dificultam a moldagem e em temperaturas maiores a massa se torna mole e não adquire a forma desejada, ou então, pode afetar as características de expulsão da peça da fôrma no processo de moldagem e a integridade do produto ao ser transferido através da linha de produção. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 38 2.3.2.6 CONGELAMENTO Os hambúrgueres, saindo da moldagem, são levados por uma esteira transportadora para o túnel onde é congelado à –37 ºC, caindo em seguida num conduto (Figura 7). O produto entra com uma temperatura de 3 a 5 °C e sai com uma temperatura de –12 a –13 °C. O tempo de congelamento pode ser controlado pela velocidade da esteira (maior ou menor, conforme a temperatura de saída desejada para o produto) (CANHOS & DIAS, 1983). Figura 7 – Ilustração de uma formadora de hambúrguer e desenho do túnel de congelamento. 2.3.2.7 EMBALAGEM Os produtos reestruturados são embalados em filmes plásticos pigmentados ou filmes plásticos revestidos de embalagem com papel cartão. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 39 2.4 EMPANADOS 2.4.1 DefiniçãoProduto empanado é o produto cárneo industrializado, obtido a partir de carnes de diferentes espécies de animais de açougue, acrescido de ingredientes, moldado ou não, e revestido de cobertura apropriada que o caracterize (BRASIL, 2001). Esse produto geralmente é pré-frito para realizar o cozimento parcial ou completo do produto (ROQUE, 1996). A cobertura de produtos alimentícios com farinha de trigo, ovos e farinha de rosca antes da fritura é uma prática antiga e comum, realizada em pequenos estabelecimentos comerciais ou nos lares. Entretanto, com o aumento de sua popularidade, os empanados saíram de sua condição doméstica e passaram para o status de industrializados e, atualmente, são largamente utilizados em redes de restaurantes e “fast foods” (CORREA, 1997). Existem várias razões para o uso de empanados que são: não há perda de umidade da carne durante o cozimento, devido à película impermeável (farinha de cobertura), que retém o vapor de água durante a fritura, permitindo, assim, que a carne se mantenha macia e suculenta. Além disso, o produto não sofre encolhimento; a farinha de pão, durante a fritura, forma componentes aromáticos e desenvolve a textura exterior crocante. Essas características reunidas exercem efeitos benéficos no conjunto de características sensoriais no momento do consumo; agregação de valor ao produto, onde as características de formato, peso e variedades de sabor são mantidas uniformes (LEMOS, 1998); e em sua maioria, esses produtos são de fácil e rápido preparo, tornando-se um produto de conveniência (NUNES, 2003). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 40 2.4.2 Processamento Os produtos empanados podem ser elaborados conforme fluxograma da Figura 8. Figura 8 - Fluxograma de operações para a elaboração de produtos reestruturados empanados. 2.4.2.1 MATÉRIA-PRIMA As matérias-primas para a elaboração de produtos empanados tipo nuggets são retalhos (aparas) e pele de frango e carne mecanicamente separada (CMS). Atualmente reestruturados de carne bovina e, mais raramente suína, também são comercializados. Também podem ser empanados partes de frango (coxa, sobre-coxa, peito, filezinho e coxinha da asa), de pescados e frutos do mar (anéis de lula, filé de pescado etc.). O preparo dessas matérias-primas inclui a remoção da pele, ossos e cartilagens (no caso de aves) e a remoção de escamas, ossos e espinhas (no caso de pescados). 2.4.2.2 CONDIMENTAÇÃO Essa operação consiste na aplicação dos condimentos e aditivos à carne a ser empanada. A carne é moída ou laminada e a seguir misturada aos outros ingredientes (incluindo a gordura e CMS) e condimentos. Na mistura da massa é comum a preparação do isolado proteico de soja (água + proteína = gelatina) MOLDAGEM PRÉ-ENFARINHAMENTO PRÉ-FRITURA CONGELAMENTO EMBALAGEM Farinha de cobertura (breading) Líquido de empanamento (batter) EMPANAMENTO COBERTURA CONDIMENTAÇÃO Ingredientes Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 41 ou de uma emulsão estabilizada de pele de ave. Essa emulsão estabilizada é obtida com concentrados de proteínas (soja ou caseinato) usados na proporção de 1,5 a 3,0 %. O objetivo dessa mistura é promover uma adequada distribuição de água, pele e matéria-prima de forma a manter a integridade estrutural desses produtos. No caso de cortes cárneos a solução utilizada deve conter sal, fosfato, acidulante, amaciante, açúcar e condimentos e pode ser aplicada à carne pelos métodos de imersão, injeção ou tombamento à vácuo (massageamento). Desses condimentos, o fosfato contribui na redução de migração da umidade para a superfície do produto, reduz as perdas por gotejamento, aumenta a suculência e a maciez e retarda o desenvolvimento de sabor e aroma indesejáveis (SILVEIRA, 1992). 2.4.2.3 MOLDAGEM A massa condimentada é moldada, nas mais diferentes formas, em equipamento similar ao descrito no processamento de hambúrguer. A temperatura da massa na moldagem também é importante e deverá estar entre –3,0 e 2,0 ºC. Temperaturas inferiores dificultam a moldagem e podem afetar as características de adesão da massa durante o empanamento. 2.4.2.4 PRÉ-ENFARINHAMENTO (PREDUST) O pré-enfarinhamento destina-se a reduzir os problemas relacionados com a aderência da cobertura, originados pela irregularidade da superfície da matéria-prima (CORREA, 1997). O pré-enfarinhamento melhora a adesão por dois motivos: absorção da umidade superficial e funciona como agente físico na adesão do líquido de empanamento (SILVEIRA, 1992). A utilização da farinha de trigo, nessa operação, pode apresentar algumas desvantagens como deslocamento da cobertura e perda da crocância, resultado da formação de um filme entre a cobertura e a carne que não permite a saída de água e aumenta a pressão abaixo da cobertura, causando o deslocamento da cobertura. Esse filme formado é resultante da hidratação das proteínas e do amido da farinha. Com a gelatinização do amido ocorre retenção de parte do vapor de água, o que prejudica a crocância da cobertura (SILVEIRA, 1992). 2.4.2.5 EMPANAMENTO (BATTERING) O líquido de empanamento (batter) é um mistura líquida composta de água, farinha, amido, agentes de escurecimento, corantes, gomas, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 42 condimentos e saborizantes (LEMOS, 1998). A composição do líquido de empanamento influi na qualidade sensorial (cor, maciez e crocância), e também na espessura da cobertura, que por razões econômicas, interessa aos fabricantes. Assim, a seleção do líquido de empanamento deve considerar a combinação adequada dos amidos, proteínas, gomas e a proporção sólido/água que afeta: viscosidade do líquido; sólidos em suspensão; estabilidade da formação de gás; velocidade de escurecimento e formação de sabor. O líquido de empanamento é o principal determinante do ganho de peso dos produtos submetidos ao processo de empanamento, portanto, é de suma importância sua formulação e a eficiência do equipamento utilizado em sua aplicação. Existem três tipos de líquido de empanamento (Tabela 3), que são escolhidos de acordo com as especificações dos produtos, sendo a diferença básica entre eles sua função. A aplicação do líquido de empanamento deve ser o mais uniforme possível, pois áreas sem cobertura acarretam defeitos no produto. Tabela 3 - Classificação de líquidos de empanamento (bater) conforme a composição Batter de Adesão Batter de Coesão Batter de Tempura Conformação das aplicações de cobertura Predust, bater de adesão e breading Predust, batter de coesão e breading Batter de coesão, breading e batter de tempura Função Camada adesiva entre o predust e o breading atua como uma cola entre as camadas Forma um envelope em torno do produto alimentício, colando os outros componentes do sistema de cobertura Forma a camada externa do produto Viscosidade Baixa Média Alta Composição Alto conteúdo de amido de milho e farinha de trigo (baixo teor de glúten) Alto conteúdo de farinha de trigo (alto teor de glúten) Alto conteúdo de farinha de trigo (alto teor de glúten) acrescido de alto níveis de fermentos químicos e agentes de escurecimento Aplicação Produtos variados Produtos de difícil adesão, como frutas e vegetais Produtos de derivados de peixes, fruto do mar, frango e vegetais Fonte: DILL et al. (2009). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 43 2.4.2.6 COBERTURA (BREADING) Consiste na utilização de farinha de rosca para a cobertura final do produto. Como farinha de cobertura podem ser utilizados cereais como milho, trigo e arroz,processados termicamente. Nessa farinha as características consideradas importantes são: granulometria, textura, densidade, umidade, potencial de absorção de umidade e óleo, velocidade de escurecimento, cor e sabor (NUNES, 2003). Em relação à granulometria, a farinha de cobertura mais grosseira promove um impacto visual. Se essas partículas forem demasiadamente grandes, a cobertura pode desprender-se durante a manipulação e o transporte. Por outro lado, farinhas de granulometria muito finas absorvem água rapidamente, ocasionando um rápido aumento na viscosidade de cobertura, resultando numa cobertura seca e rígida, depreciando a aparência geral. A velocidade de escurecimento da farinha está associada com a proporção de açúcares redutores usados na sua elaboração (SILVEIRA, 1992). A classificação da farinha de cobertura está relacionada com o tipo de cereal empregado, características funcionais ou finalidades específicas, conforme apresentado na Tabela 4. Tabela 4 - Classificação da farinha de cobertura Classificação Tipo Cereal Farinha de trigo Farinha de milho Outras farinhas Funcional (Flui livremente) -fina -média -grosseira Especial (Não flui livremente) Flocos de arroz Flocos de batata Cereais Biscoito fermentado Fonte: LEMOS (2000). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 44 A farinha de rosca é bastante utilizada como farinha de cobertura e pode ser obtida por recuperação ou industrial. A farinha de rosca recuperada é preparada a partir do pão comum que é novamente cozido, seco e moído. Na produção de farinha de rosca industrial, a finalidade da produção é a farinha para cobertura de empanados que passa por moagem e peneiragem (fundamental para determinar a granulometria da farinha). Na farinha de recuperação a qualidade é questionável, pois não há o controle dos processos envolvidos, enquanto na farinha industrial os processos são controlados e é possível a adição de corantes, condimentos ou outros ingredientes à farinha de cobertura (CORREA, 1997; SILVEIRA, 1992). O processo de empanamento e cobertura podem ser conduzidos em equipamentos contínuos (Figura 9), através de uma esteira, passando por uma máquina glazeadora que forma um filme (batter) sobre o produto, seguindo para a aplicação da farinha de empanamento. Figura 9 – Equipamento contínuo utilizado no empanamento (batter) e cobertura (breading) de produtos empanados. 2.4.2.7 PRÉ-FRITURA O processo de pré-fritura é realizado na indústria com o auxílio de equipamentos contínuos e tem como objetivo realizar o cozimento parcial ou completo do produto pela sua imersão em óleo, além de preservar a forma do Batter Breading Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 45 produto, assegurar a aderência da farinha de cobertura e proporcionar a textura típica crocante do produto (BARBUT, 2002). Segundo OWENS (2001), o processo de fritura pode ser realizado em uma ou em duas etapas. Quando se utiliza o primeiro método, o número de defeitos nos produtos tende a aumentar significativamente, pois podem grudar entre si e deste modo não atingir a temperatura adequada, principalmente nas superfícies onde houve contato. Além disso, a adesão da farinha de cobertura pode ser comprometida com o aparecimento de falhas. Devido a esses problemas, grande parte da indústria processadora utiliza o método onde o produto é frito em duas fases. Na primeira fase, os produtos são fritos em óleo a uma temperatura entre 180 a 200 ºC por 30 a 45 segundos e então removidos por um curto período de tempo. Este primeiro cozimento, liga as proetinas miofibrilares extraídas na moagem à massa de empanamento/cobertura, “selando” a superfície. Após a primeira fritura, os produtos são novamente imersos em óleo, agora a temperaturas entre 165 a 180 ºC, pelo tempo necessário para cozinhá-los por completo. Quando o produto está totalmente frito, as proteínas miofibrilares extraídas da superfície da carne formam fortes ligações resultando em um produto mais consistente. Os óleos submetidos a temperaturas elevadas ficam mesclados de partículas (da farinha de cobertura) e também reagem com metais da superfície dos equipamentos. Esses fatores contribuem com a degradação da qualidade dos óleos por oxidação, polimerização e alterações na cor (escurecimento) que refletem nas características sensoriais dos produtos (CORRÊA, 1997). Os tipos de sistemas de cobertura bem como a quantidade de cobertura utilizada influenciam consideravelmente na absorção de gordura dos produtos fritos. Geralmente, a gordura absorvida no produto aumenta à medida que a quantidade de cobertura aumenta, porém a porcentagem de gordura permanece relativamente constante (DILL et al., 2009). Produtos empanados, tais como filés de peixe e frango, sem adição de breading absorvem em torno de 15% do óleo ou gordura de fritura durante o processo, enquanto os que foram adicionados de breading podem chegar a 20% de absorção em relação ao peso final do produto (LEMOS, 2002). 2.4.2.8 CONGELAMENTO Após a fritura ou a pré-fritura, os empanados são congelados em túneis de congelamento (-35 °C), ou por congelamento rápido em nitrogênio (-75 °C) ou CO2 (-96 °C). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 46 2.4.2.9 ACONDICIONAMENTO/EMBALAGEM Os empanados, destinados ao consumidor convencional, são embalados em embalagem plástica, seguidos de embalagem em papel cartonado, que destina-se à formação de barreira à luz. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 47 2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBUT, S. Poultry Products: Formulations and Gelation. In: Poultry meat processing: na industry guide. Boca Raton: CRC Press, Cap. 9. p. 249-289. 2002. BORTOLUZZI, R. C. Empanados. 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Antes do advento e da disseminação da refrigeração, foi a produção de charque em larga escala no Rio Grande do Sul que tornou possível o suprimento de proteína de alta qualidade às populações localizadas no restante do país. Ainda hoje, a salga de carnes e derivados é um método de conservação empregado com certa tradição em algumas regiões brasileiras, sendo de fundamental importância onde a refrigeração torna-se difícil, como em muitas cidades do nordeste (RAMOS e FONTES, 2005). Os produtos salgados crus, representados pelo charque e Jerked Beef, mostram algumas operações similares, embora os produtos finais possuam várias diferenças como: concentração de sal, presença de conservante, umidade e proteína, além dos aspectos sensoriais. Na categoria de produtos curados crus podem ser incluídos os presuntos curados crus, como os do Tipo Parma ou Jámon Serrano. Os processos básicos na elaboração dos produtos curados crus são: salga e, ou, cura, desidratação, maturação e secagem. Esses processos originam produtos que podem ser conservados em temperatura ambiente. As características apresentadas pelos produtos curados crus são: consistência sólida, mas macia ao corte, cor vermelho intenso característica, sabor suavemente salgado semelhante ao da carne, aroma de produto curado (sem predominância do aroma dos condimentos) e boa capacidade de conservação. Uma revisão histórica sobre o charque e o jerked beef foi realizada por CARVALHO JÚNIOR (2001). Apesar de não possuir a estabilidade de armazenamento dos produtos salgados, a carne de sol é geralmente classificada neste grupo, devido a sua origem, assim como a do Jerked Beef, ser baseada na elaboração do charque. Vale ressaltar que ainda não existe no país nenhuma regulamentação oficial quanto à composição e características físico-químicas da carne de sol, que defina o seu padrão de identidade e qualidade. Também não existem portarias específicas disciplinando as instalações e o seu processo de elaboração, o que torna a sua fabricação empírica e dificulta sua comercialização (RAMOS e FONTES, 2005). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 52 3.1 CHARQUE 3.1.1 Definição O charque é um produto derivado de processos combinados (salga e secagem), cujo propósito é o de evitar a proliferação da microbiota deteriorante e estender a sua vida útil, sem que haja necessidade de refrigeração. Trata-se de um produto típico do Brasil e de alguns países da América do Sul. De acordo com os artigos 431 e 432 do RIISPOA (BRASIL, 1997), entende-se por Charque, sem qualquer outra especificação, a carne bovina desossada, salgada e dessecada. Deve-se esclarecer a espécie de procedência quando a carne empregada não for a de bovino. Este regulamento determina que o charque não deve conter mais do que 45% de umidade na porção muscular, nem mais do que 15% de resíduos minerais fixos, tolerando- se até 5% de variação. O produto é altamente salgado (NaCl ~ 12 a 15%) e portanto, necessita ser dessalgado (fervura em água, que deve ser descartada) antes do consumo. O charque tem uma atividade de água intermediária (aproximadamente 0,70 a 0,75), o que permite a sua conservação e comercialização à temperatura ambiente. É um produto que, tradicionalmente, tem estado ligado à alimentação de uma considerável parcela da população brasileira, notadamente aquelas das regiões Norte e Nordeste. Além de suas características sensoriais, um dos fatores que mais contribui para seu consumo é o seu baixo preço relativo e a sua conservação à temperatura ambiente. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 53 3.1.2 Processamento Na elaboração do charque, é vedada a utilização de sais de cura (nitrito/nitrato) e não há determinações legais quanto ao acondicionamento do produto para a comercialização (CARVALHO JÚNIOR, 2001). O processamento básico consiste em promover a remoção de água dos tecidos, inicialmente pela alteração da pressão osmótica, provocada pela salmouragem e salga, e posteriormente pela secagem, a qual é geralmente feita ao sol, embora também possa ser realizada em estufas. Durante o processo, algumas etapas de fabricação também permitem uma determinada fermentação da carne, a qual é responsável pelo sabor característico (bouquet) do charque (RAMOS e FONTES, 2005). O processo de fabricação leva de 12 a 15 dias, desde a manteação e salmouragem até o último dia de secagem ao sol (Figura 10), quando o produto alcança valores de umidade inferioresa 45%. Figura 10 – Fluxograma dos processos de elaboração de charque. 3.1.2.1 DESOSSA E MANTEAÇÃO Os cortes bovinos, que tradicionalmente são destinados à fabricação de charque, são ponta de agulha e carnes de dianteiro. Além disso, são também utilizadas carnes impróprias consumo in natura, ou seja, carcaças destinadas ao aproveitamento condicional, segundo julgamento do inspetor veterinário. MANTEAÇÃO SALMOURAGEM PILHA DE SALGA RESSALGA PILHA DE VOLTA Salmoura TOMBAGEM LAVAGEM SECAGEM Sal Sal Sal EMBALAGEM PILHA DE ESPERA / PILHA DE INVERNO Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 54 Em temperaturas menores que 8ºC a carne possui uma plasticidade melhor, permitindo que os cortes realizados na desossa e manteação sejam mais uniformes. Além disso, temperaturas menores garantem uma maior conservação do produto final. Por estes motivos, a matéria-prima deve sempre ser mantida em temperaturas de refrigeração e a desossa dos quartos e manteação das peças cárneas devem ser executadas em ambiente apropriado, climatizado a uma temperatura entre 10 e 15ºC. A manteação dos cortes (adelgaçamento dos músculos) destina-se a uniformizar a espessura das peças (2 a 4 cm) e aumentar a superfície de contato com o sal. As porções separadas para a fabricação do charque são: paleta (após a desossa e manteação), que resulta na porção carnosa denominada “posta paleta”; coxão (após a desossa, retirada do patinho e manteação), que dá origem à posta “chique suela” e o restante denomina-se “posta grande”; e, músculos que recobrem o tórax, abdômem, pescoço e dorso são chamados de mantas ou mantas curtas. 3.1.2.2 SALMOURAGEM A salmouragem constitui a etapa de salga úmida, onde as peças são submersas em tanques de imersão contendo salmoura (solução salina a 23,5° Baumé ou 95° salômetros, que corresponde a 335 gramas de sal/kg de H2O a 15°C) e permanecem em agitação constante por 40 a 50 minutos, à temperatura de 15ºC (PARDI et al., 1998). A salga úmida também pode ser feita em máquinas tombadoras de carne (“tumblers”), conhecidas como salgadeiras, com capacidade de 70 a 90 peças/batelada, que reduzem o tempo de salmouragem para 15 a 20 minutos, trazendo inúmeras vantagens, principalmente de ordem higiênica. Enquanto as mantas salgadas em tanques devem possuir espessura de 2 a 4 cm, as mantas salgadas em salgadeiras têm a espessura aumentada para 5 a 6 cm (RAMOS e FONTES, 2005). Outra opção é a salga úmida aplicada por injetora de agulhas múltiplas que introduz a salmoura no interior da peça (o volume médio de injeção é da ordem de 25% do peso da carne antes da injeção) (CARVALHO JÚNIOR, 2001). No entanto, este processo costuma causar a “queima” da carne nos pontos de injeção, depreciando o aspecto geral do charque. Esta queima se deve a uma concentração elevada de sal nos locais dos furos realizados pelas agulhas. Ao final da saulmoragem a carne adquire uma coloração acinzentada. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 55 3.1.2.3 PILHA DE SALGA Após a salmouragem, as mantas são conduzidas para a sala de salga, geralmente climatizada (embora não seja obrigatório na elaboração do charque), onde são submetidas à salga seca. As mantas de carne são estendidas sobre piso recoberto de sal grosso, formando pilhas de 1,20 a 1,80 metros (PICCHI, 1991). O piso da sala de salga deve ter uma leve inclinação e canaletas laterais que permitam escorrer a salmoura exsudada. Esta salmoura é oriunda da difusão da água do interior da manta para a superfície e contém uma concentração de sal na ordem de 18%. Nas pilhas de salga, cada camada de manta é intercalada com uma camada de sal grosso de primeiro uso (Figura 11). A porção gordurosa da primeira camada de manta deve ficar voltada para cima, a seguir, a porção gordurosa da 2ª camada de mantas deve ficar voltada para baixo e assim sucessivamente (PARDI et al., 1996). As pilhas ficam nessa posição por 24 a 48 horas. Figura 11 – Ilustração da pilha de salga na elaboração de charque. Fonte: http://www.charque2000.com.br 3.1.2.4 RESSALGA Após o período de 24 ou 48 horas, dependendo do estabelecimento, procede-se a operação de ressalga. Esta operação é realizada de modo semelhante à pilha de salga e consiste em inverter as pilhas de mantas, para que as peças dispostas na parte superior da pilha passem a ocupar a posição Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 56 inferior, assegurando que todas as mantas tenham contato com o sal e uniformizando a pressão sobre as mantas (RAMOS e FONTES, 2005). O tempo de permanência das mantas nesta operação também é de 24 a 48 horas. 3.1.2.5 PILHA DE VOLTA A pilha de volta corresponde à última operação de salga com duração de 24 horas. As mantas voltam à posição original da salga seca. Nessa operação também é utilizado o sal entre as diversas camadas (PARDI, et al.,1996), mas somente é realizada quando os encarregados julgam que as carnes ainda necessitam de salga adicional. 3.1.2.6 TOMBAGEM Esta operação é imprescindível à qualidade do produto e objetiva a movimentação da carne, de preferência a cada 24 horas, sem nova adição de sal. A tombagem permite uma equalização da pressão nas mantas durante o processamento, através da inversão das posições das mesmas nas diversas pilhas, garantindo uma maior uniformidade da concentração do sal em toda peça cárnea. A sucessão dos tombos impede a formação de condições anaeróbias favoráveis ao aparecimento do vermelhão, causado por bactérias halófilas proteolíticas, além de facilitar a visualização dos possíveis focos de contaminação. O número de tombos é variável, porém, não deverá ser inferior a quatro. A diminuição no peso das mantas de carnes durante as etapas de salga úmida até o final dos tombos é de cerca de 18% para carnes gordas e 20% para carnes magras. 3.1.2.7 PILHA DE ESPERA E PILHA DE INVERNO A pilha de espera é feita sempre que, por razões ligadas às condições atmosféricas ou por questão de ordem comercial, seja necessária a permanência da carne por mais tempo nas pilhas (PARDI et al., 1996). A realização das pilhas de inverno é um processo alternativo, pois em períodos de chuvas e com umidade relativa do ar elevada, a secagem das Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 57 mantas ao sol é inviável. Se o tempo de permanência é curto (menor que 3 meses), são chamadas de pilhas de espera. Entretanto, se o tempo é longo (entre 3 e 4 meses), são denominadas pilhas de inverno. Nesse período, elas permanecem sem movimentação e isso aumenta a possibilidade de ocorrência do vermelhão do charque. Por isso, o tempo máximo de duração das pilhas é de quatro meses. As pilhas de inverno recebem uma camada grossa de sal, importante para vedar as mantas. Nesse sal grosso pode ser adicionado o hipoclorito de sódio. Algumas charqueadas utilizam ainda uma pasta preparada com sebo e hipoclorito de sódio, ou pasta de pulmão salgado. 3.1.2.8 LAVAGEM DAS MANTAS Após a operação de tombagem, as mantas são imersas rapidamente em água clorada (0,5 mg/litro de cloro ativo) para a remoção do excesso de sal que pode cristalizar na superfície, tornando a carne um local propício ao desenvolvimento de microrganismos. As peças de carne, curadas e lavadas, são empilhadas para escorrer a água. 3.1.2.9 SECAGEM A secagem das mantas é realizada ao sol em varais duplos, que são dispostos paralelamente formando ruas com larguras que variam de 1,50 a 1,80 metros, permitindo o trânsito de funcionários. A orientação dos varais deve ser norte-sul, posição que permite melhor distribuição dos raios solares sobre as mantas. Na primeiraexposição de mantas ao sol, deve ser evitada a dessecação excessiva da superfície, pois pode formar uma camada que dificulte a perda de água da porção interna do produto. Nessa ocasião, a parte exposta ao sol deve ser a parte interna das mantas, e na segunda exposição, a parte gordurosa. A secagem ao sol é um procedimento até hoje utilizado pelas indústrias, mas apresenta a inconveniência de ser muito dependente das condições climáticas. Esta dependência muitas vezes põe em risco a produção e compromete o aspecto tecnológico da fabricação, uma vez que o produto fica sujeito a flutuações de qualidade, principalmente em razão do teor de umidade. Em função disso, algumas charqueadas realizam a etapa de secagem em estufas (Figura 12), semelhantes às usadas na horticultura e fruticultura, que são fechadas com plásticos transparentes que deixam passar a luz do sol, produzindo a coloração amarela dourada desejada na superfície da gordura. O Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 58 ar é aquecido pelo sol, mas as estufas também podem ser dotadas de equipamento para aquecimento do ar em dias chuvosos ou nublados e de ventiladores para circulação e homogeneização do ar. Figura 12 – Ilustração da secagem das mantas na elaboração de charque. Fonte: http://www.charque2000.com.br Diariamente, após a exposição ao sol, as mantas são recolhidas e empilhadas, ainda quentes, em plataformas pavimentadas para descanso até o dia seguinte, num processo também conhecido como abafamento. As mantas empilhadas são cobertas com tecidos impermeáveis (normalmente lonas enceradas ou plásticas), para reter o calor e proteger do sereno, chuvas e vento. O abafamento proporciona um meio favorável à maturação, uma vez que resulta na manutenção de temperaturas adequadas ao crescimento de culturas do gênero Micrococcus sp., Pediococcus, Lactobacillus e Streptococcus, que são microrganismos responsáveis pela maturação de produtos cárneos crus. Além disso, a ação de proteases e lípases, endógenas e microbianas, sobre os constituintes da carne, favorece o desenvolvimento do aroma e sabor característico do charque, sendo que a exposição ao sol também contribui favoravelmente para estes atributos. Cada dia que a manta permanece secando recebe o nome de “sol”. As operações de secagem ao sol e abafamento são repetidas, diariamente ou com intervalos de um dia, até que o charque atinja o teor de Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 59 umidade especificado (44 a 45%), o que geralmente ocorre depois de 4 a 5 sois. 3.1.2.10 EMBALAGEM A embalagem é realizada conforme exigências do mercado distribuidor. Em geral, o charque é embalado à vácuo em embalagens de 500g e 1Kg, acondicionadas em caixas de papelão. Possui vida útil de 180 dias. 3.1.3 Aspectos de qualidade do charque As características microbiológicas que devem ser atendidas para o charque são apresentadas nas Tabelas 5. Staphylococcus, Salmonella e Clostridium sp, dentre outros, são alguns dos microrganismos patogênicos que podem ser encontrados no charque, quando as condições de processamento e armazenamento não foram apropriadas. No entanto, a contaminação microbiana mais comum nesses produtos é por Micrococcus roseus, Pseudomonas salinarias, Sarcina litoralis e outras bactérias que formam colônias cromogênicas de coloração rosa a vermelho, conhecida como “vermelhão do charque”. Tabela 5 - Padrões microbiológicos para charque Microrganismo Contagem Bactérias halófilas Ausência Salmonellas (ausência em) 25 g Bactérias do grupo coliforme de origem fecal (máximo)* 102 UFC/g Staphylococcus aureus (máximo)* 10 3 UFC/g Clostrídeos sulfito redutores (44°C) máximo* 2.10 UFC/g Contagem padrão em placas (máximo)* 10 6 UFC/g UFC = unidades formadoras de colônias. *Exigências legais para produtos cárneos curados (o que vale para presuntos curados crus, bacon etc.). A etapa crítica do processamento do charque acontece no momento da secagem das mantas em varais de madeira expostos ao meio ambiente. Os fatores que reduzem a contaminação durante a secagem das mantas são: tipo do piso onde estão localizados os varais, que deve ser impermeável, de fácil Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 60 limpeza e higienização; ausência de vegetação, águas paradas, material em decomposição ou qualquer fonte de insetos, roedores e poeira nas proximidades da indústria; e, tempo de desossa e manteação que não deve ser superior à duas horas, pois à temperatura ambiente ocorre o desenvolvimento bacteriano da flora contaminante da carne. Em relação às características sensoriais o Art. 432 do R.I.I.S.P.O.A, considera como charque adulterado aquele que apresentar: rancificação da gordura; odor e sabor desagradáveis, anormais; estiver amolecido, úmido e pegajoso; apresentar áreas de coloração anormal; for seboso; apresentar larvas ou parasitas; e, apresentar outras alterações. 3.2 JERKED BEEF 3.2.1 Definição Jerked Beef, ou “Carne Bovina Salgada Curada Dessecada”, é o produto cárneo industrializado, obtido de carne bovina, adicionado de cloreto de sódio e sais de cura (nitrito e, ou, nitrato), submetido a um processo de maturação e dessecação. Os limites legais máximos para o jerked beef são de 0,78 para a atividade de água, 55% para a umidade e 18,3% para o resíduo mineral total (BRASIL, 2000). O jerked beef constitui uma variação do charque que surgiu há mais de uma década. A origem do mesmo está ligada à mal sucedida tentativa de encurtar o tempo de elaboração do charque, objetivando um aumento de produtividade e uma menor quebra do peso do produto durante as etapas de salga e dessecação. Porém, surgiram duas fortes implicações tecnológicas: 1) uma cor final acinzentada, externa e interna, devido a ação oxidativa do sal num produto de alta umidade, em contraste com a cor interna vermelho-vinho tradicional do charque; e 2) uma menor vida útil do produto, em decorrência de Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 61 uma maior facilidade de desenvolvimento microbiano, induzido pela insuficiência de dessecação. Assim, o elevado teor de umidade no produto (acima de 45%) e de atividade de água (acima de 0,78), aliado ao problema de cor, tornou necessário o uso de nitrito/nitrato na formulação, para desenvolver uma cor vermelha típica dos produtos curados, bem como o uso de embalagens a vácuo para aumentar sua conservação. 3.2.2 Processamento O processamento de jerked beef é idêntico ao do charque, com diferenças relativas à execução e duração de algumas etapas. 3.2.2.1 MANTEAÇÃO E SALMOURAGEM Na formulação do Jerked Beef são utilizadas carnes do dianteiro (paleta, por exemplo) e cortes de menor valor econômico de traseiro de bovinos (CARVALHO JÚNIOR, 2001). A desossa é feita, obrigatoriamente, em sala climatizada, procedendo-se inicialmente à retira da paleta, seguido da desossa da paleta e do acém completo (PICCHI E AJZENTAL, 1994; CARVALHO JÚNIOR, 2001). A espessura das mantas no processamento do jerked beef é maior, uma vez que a salga úmida é realizada com o uso de injetoras de salmoura. A maior espessura confere um aspecto mais atrativo ao produto e elimina a necessidade de se mantear as peças, exigindo apenas o desdobramento das porções mais espessas. A salga úmida é feita utilizando-se injetoras de agulhas múltiplas que introduzem no interior dos músculos a salmoura saturada, contendo o sal e o nitrito de sódio e/ou potássio em solução (CARVALHO JÚNIOR, 2001). A injetora de salmoura tornou possível a elaboração de produtos com maior teor de sal e alto teor de umidade, mas com atividadede água muito próximo dos valores obtidos no charque tradicional, desde que as operações de salga seca e secagem sejam bem ajustadas. 3.2.2.2 Salga seca As peças injetadas são submetidas à salga seca, em ambiente climatizado, seguindo os mesmos procedimentos utilizados na elaboração do charque. As peças são estendidas sobre um piso recoberto com uma camada Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 62 de sal grosso até formarem as pilhas de salga. Esta primeira salga dura de 24 a 48 horas (PICCHI & AJZENTAL, 1994). A segunda salga (ressalga) é realizada de modo semelhante à etapa anterior, invertendo-se a pilha, tal que a pressão sobre as peças também seja uniformizada. Por fim, quando conduzido, é formado a pilha de volta, retornando a pilha à sua primeira posição com nova adição de sal 24 h depois da ressalga e com duração de 24 horas. 3.2.2.2 Tombagem, lavagem e secagem As peças salgadas são submetidas à tombagem, lavagem e dessecação também seguindo os mesmos procedimentos utilizados na elaboração do charque. No entanto, o número de tombos na etapa de tombagem é de apenas 2 e o produto é normalmente seco em apenas 2 a 3 sóis. 3.2.2.3 Embalagem O jerked beef é embalado à vácuo, o que, associado a sua cor vermelha rosada (mesmo na superfície), o torna mais atrativo ao consumidor. Além disso, o jerked beef possui um aroma e sabor diferenciados, bem menos “rançoso”, conquistando uma parcela da população não habituada ao consumo do charque. 3.3 CARNE DE SOL 3.3.1 Definição Produto típico do nordeste brasileiro, a carne-de-sol é a carne bovina salgada e dessecada menos conhecida nos grandes mercados consumidores do sul e sudeste, onde é frequentemente confundido com o charque. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 63 Devido ao baixo nível econômico da população nordestina, a carne de sol surgiu como uma alternativa para preservação do excedente de carne bovina, uma vez que as condições climáticas e a disponibilidade de sal marinho da região são bastante favoráveis a esta prática. No entanto, devido às características de sua produção, a carne de sol se apresenta como um produto cárneo levemente salgado e parcialmente desidratado, principalmente quando comparado com outros produtos salgados. Trata-se de um produto obtido de uma salga rápida da carne bovina e, eventualmente, caprina e suína, seguida de sua secagem. Ironicamente, na sua grande maioria, a carne de sol não é seca ao sol. Segundo LIRA & SHIMOKOMAKI (1998), a carne de sol apresenta teores de umidade que variam de 64-70% e teores de sal entre 5 e 6%. Por ser um produto parcialmente desidratado, sua vida útil é muito curta, exigindo a sua conservação refrigerada, o que leva a sua comercialização apenas ao nível municipal ou estadual. 3.3.2 Processamento Existem apenas alguns estudos sobre a carne de sol, e destes pode-se estabelecer uma tecnologia básica da sua elaboração (Figura 13), embora seu processo seja empírico, variando de região para região e resultando em produtos com características diferentes quanto ao aspecto, sabor, cor e tempo de conservação. Figura 10 – Fluxograma dos processos de elaboração de carne de sol. As etapas circundadas por linhas pontilhadas são opcionais. MANTEAÇÃO PILHA DE SALGA TOMBAGEM LAVAGEM SECAGEM EMBALAGEM Sal Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 64 3.3.2.1 Manteação Os cortes mais utilizados são as peças de traseiro (patinho, coxão mole e alcatra) de bovinos e caprinos. Com a desossa, os cortes individuais são manteados na espessura de 3 a 4 cm, sendo feito cortes penetrantes a distância e profundidade variáveis conforme a espessura da manta. Estas incisões são realizadas para facilitar a penetração do sal no interior do músculo e a perda de umidade para o ambiente. 3.3.2.1 SALGA SECA A carne de sol e salgada apenas pela salga seca, não sendo utilizada a etapa de salga úmida (salmouragem). Invariavelmente a salga é feita com auxílio das mãos, utilizando-se sal grosso e, ou, fino, moído ou intermediário, forçando-se com os dedos a sua penetração nas reentrâncias. A porcentagem de sal utilizada varia de região a região. Geralmente esta etapa de salga leva de 12 a 18 horas, mas também é variável de região para região. 3.3.2.2 TOMBAMENTO E LAVAGEM As mantas são empilhadas no piso da sala de salga, formando pilhas de poucos centímetros de altura, com a parte da gordura voltada para baixo, para que a salmoura exsudada escoe naturalmente. Após 6 horas o tombamento pode ser feito, invertendo-se a pilha e também a posição da porção gordurosa (agora voltada para cima), mas esta etapa é utilizada apenas em algumas regiões (RAMOS e FONTES, 2005). Logo após a salga/tombamento, o produto é lavado para retirar o excesso de sal. Esta etapa do processo também é opcional em algumas regiões. 3.3.2.3 SECAGEM E EMBALAGEM A secagem da carne de sol ocorre em temperatura ambiente, em que a peça é colocada em locais cobertos e bem ventilados, permitindo uma secagem gradual e controlada. O período de secagem varia de 3 a 4 dias, formando uma espécie de capa protetora na superfície que conserva a umidade na parte interna da peça (CAMPOS, 2002). Em algumas regiões a etapa de secagem é muito rápida, podendo ocorrem em apenas 2 horas a um dia. Esta variação, naturalmente, resulta em produtos com diferentes teores de umidade e vida útil. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 65 O fato da secagem não ser realizada com longas etapas de estendimento e descanso impossibilita a fermentação da carne de sol, o que naturalmente ocorre no charque e no jerked beef. Após a secagem, as mantas são dobradas sobre si e embaladas em sacos de aniagem, esteiras de carnaúba ou à vácuo. 3.4 PRESUNTOS CURADOS CRUS 3.4.1 Definição Os presuntos crus são produtos elaborados com pernil suíno, a partir de longos períodos de cura e maturação/secagem, e constituem uma das especialidades mais sofisticadas dentre os produtos curados de suínos, sendo muito populares em vários países europeus. Cada país tem sua grafia e pronúncia específicas para o termo, como Prosciutto na Itália, Jambon na França e Jamón na Espanha (BLASCO, 1998). Na França, o famoso Jambon de Bayonne é uma indicação geográfica protegida na região sudoeste deste país. Como todo presunto cru, seu processo de elaboração passa por uma salga regulamentada e posterior maturação. Já na Itália, existem inúmeras denominações de presunto cru, porém, as denominações Parma e San Daniele sobressaem-se. Em Portugal de norte a sul do país, existem várias denominações para presunto cru. Existe o presunto de Lamego, na região da divisa do Douro e do Dão; o Chaves na região de Trás-os-Montes e o Barrancos na região alentejana. No Brasil, os presuntos crus mais conhecidos são os presuntos de Parma e Serrano (Figura 13), sendo que embora possuam características similares aos originais, quando elaborados no país, devido à proteção de origem, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 66 recebem o prefixo “Tipo” na denominação de venda. A Instrução Normativa nº 22, de 31 de julho de 2000, do MAPA estabelece os Parâmetros de Identidade e Qualidade de Presunto Cru, Presunto Tipo Parma e Presunto Tipo Serrano (BRASIL, 2000 e 2001). Por esta instrução, defini-se: Presunto Cru: trata-se do produto cárneo industrializado obtido do pernil ou corte do pernil de suínos, adicionados ou não de condimentos, curado ou não, defumado ou não, maturado e dessecado. A presença de “mofos” característicos é consequência natural doprocesso tecnológico de fabricação. Permite-se o uso de culturas iniciadoras (starters) como coadjuvantes de tecnologia, porém não é permitida a adição de fosfatos. Presunto Tipo Parma: é o produto cárneo industrializado obtido do pernil íntegro (peso mínimo de 9 kg) selecionado de suínos pesados (animais vivos com peso mínimo de 130 kg, selecionados para a finalidade), sem a pata, salgado e dessecado por um período mínimo de 10 meses. A presença de “mofos” característicos é consequência natural do processo tecnológico de fabricação. Neste produto não é permitida a adição de fosfatos. Presunto Tipo Serrano: produto cárneo industrializado obtido de pernil íntegro selecionado de suínos com pata, salgado e dessecado por um período mínimo de 10 meses. A presença de “mofos” característicos é consequência natural do processo tecnológico de fabricação. Neste produto não é permitida a adição de fosfatos. Figura 13 – Ilustração de presuntos crus tradicionais: (a) Presunto de Parma (Prosciutto di Parma), da Itália; e (b) Presunto Serrano (Jamón Serrano), da Espanha. (a) (b) Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 67 3.4.2 Processamento O processo de produção do presunto basicamente segue as etapas: salga, descanso ou pós-salga, secagem e maturação. A maneira como eles são realizados depende de vários fatores que se relacionam com a matéria- prima e tecnologia empregada, bem como as condições particulares de temperatura e umidade (ARNAU, 1998). Apesar da diversidade de tipos de presuntos de diferentes matérias- primas e dos meios de produção, a elaboração de presuntos é baseada em dois pilares (MOLINERO, 2003): 1) Estabilização da matéria-prima: nesta fase, pretende-se, a partir de um produto perecível, obter um produto estável à temperatura ambiente, evitando o desenvolvimento de microorganismos que levam à putrefação. Isto é conseguido na primeira fase, denominada “fase fria”, que corresponde às etapas de salga e descanso. 2) Desenvolvimento das características sensoriais: fase em que as reações químicas e enzimáticas levam à formação de compostos aromáticos e aromatizantes que conferem ao produto as qualidades características sensoriais típicas de presunto. Estas reações têm lugar na segunda fase de elaboração correspondente às fases de secagem e maturação. Como exemplo, as operações realizadas na elaboração do presunto cru serão descritas a seguir, sendo o fluxograma básico ilustrado na Figura 14. Figura 14 – Fluxograma dos processos de elaboração de presuntos crus. DESOSSA SALGA SECA RESSALGA LAVAGEM DEFUMAÇÃO CONDIMENTAÇÃO Sal Sal SECAGEM/ MATURAÇÃO EMBALAGEM Pimentas e especiarias Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 68 3.4.2.1 MATÉRIA-PRIMA O processamento de presunto cru é baseado em procedimentos tradicionais, geralmente consistindo em uma sequência de estágios, diferenciados um pouco conforme a variedade do produto e o local de produção. Nestes produtos, a matéria-prima cumpre um papel de fundamental importância, onde os aspectos relevantes são: qualidade e controle das operações para obtenção da carcaça com reduzida contaminação microbiológica e com características de qualidade adequada; padronização do tamanho da peça; e uniformidade do corte (em presunto cru, o formato de colher é característico do tipo e um recorte inadequado pode descaracterizar o produto); nessa última fase é realizada a eliminação de restos de gorduras, glândulas e adiposidades intermediárias. A matéria-prima para a elaboração do presunto tipo Parma é o pernil íntegro de suíno (peso mínimo de 9 kg), cortado na forma de “coxa de frango” e com a pele mantida no corte (Figura 13a). A temperatura da peça deve ser mantida entre 2,2 a 3,3ºC. COSTA (2005) sugeriu a elaboração de presuntos crus através de um processo acelerado, em que as peças são desossadas, salgas, moldadas e, então, secas e maturadas. No processo de moldagem, para auxiliar a liga entre as peças cárneas é sugerido o uso da enzima transglutaminase, um coadjuvante de tecnologia capaz de promover a liga entre peças de carne através da formação de ligações cruzadas entre moléculas de proteínas. Este processo tem sido aplicado por indústrias brasileiras na elaboração de presunto tipo Parma. 3.4.2.2 SALGA SECA, RESSALGA E TOMBAGEM No presunto Parma original os sais de cura (nitrito/nitrato) não são adicionados, sendo a coloração, o aroma e o sabor característicos oriundos do longo processo de produção. No Brasil, o presunto Tipo Parma é adicionado de sais de nitrito e, ou, nitrato na etapa de salga (BRASIL, 2000). Assim, na primeira etapa de salga, os sais de cura (sal, nitrato, nitrito e especiarias) são esfregados nos pernis. Em seguida, as peças são empilhadas com o lado da pele para baixo, onde permanecem por cerca de 12 dias (1 Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 69 dia/kg) a 4°C. Ao final desse período, é realizada uma ressalga, esfregando-se sais de cura sobre o corte e tombagem das pilhas, que permanecem por mais 12 dias na cura a 4°C (PEARSON & TAUBER, 1984). No presunto tipo Serrano, as pilhas de pernis são intercaladas com os sais de cura, como ocorre no charque. A Figura 15 ilustra as etapas de salga de presuntos crus. Figura 15 – Etapas de salga na elaboração de presuntos crus: (a) os sais de cura são esfregados nas peças de pernil; e (b) pilha de salga contruída com peças de pernil intercaladas com sais de cura. 3.4.2.3 LAVAGEM, AMARRIO E DEFUMAÇÃO As peças, após 25 dias do início do processo, são imersas em água morna (26,7 a 32,2°C) para promover o amolecimento da pele e retirada do excesso de sal, com uma escova de cerdas macias (PEARSON & TAUBER, 1984). Após a lavagem o presunto é amarrado (amarrio) na altura do tarso do pernil, sendo defumadas em temperatura de 54,4°C durante 48 horas e, depois, a 60°C por mais 2 horas. A seguir a temperatura é reduzida para 49°C, sendo mantida por 8 horas e redução gradual até 35 a 40°C. Os pernis, uma vez tratados com o calor são resfriados à temperatura ambiente por 8 horas. Em seguida, as peças são encaminhadas à condimentação (PEARSON & TAUBER, 1984). (a) (b) Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 70 3.4.2.4 CONDIMENTAÇÃO, MATURAÇÃO E EMBALAGEM Após atingir a temperatura ambiente, as peças sem pele são esfregadas com uma mistura de pimenta branca e preta em partes iguais (PEARSON & TAUBER, 1984). A seguir os produtos são maturados/secos em salas climatizadas com temperaturas entre 22,2 e 23°C e umidade relativa de 67 a 75%, por um período mínimo de 10 meses (BRASIL, 2000). O produto final é inicialmente envolvido em tecido ou malha de algodão cru e recoberto por filme plástico. 3.5 COPPA E CULATELLO 3.5.1 Definição Coppa (ou copa) é o produto cárneo industrializado, obtido do corte íntegro da carcaça suína, denominado de nuca ou sobrepaleta, adicionado de ingredientes, maturado, dessecado, defumado ou não (BRASIL, 2000). Culatello é um produto cárneo semelhante à coppa, produzido tradicionalmente na Itália, no qual se utiliza o pernil suíno, sem pele e ossos, apresentando peso médio entre 3 e 5 kg 3.5.2 Processamento Algumas etapas do processo são apresentadas no fluxograma da Figura 16. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 71 Figura 16 – Fluxograma dos processos de elaboração de copa e culatello. 3.5.2.1 MATÉRIA-PRIMA Na produção da Coppa utilizam-se os músculos dorsais do pescoço do suíno, enquanto no Culatello utiliza-se o pernil. Os músculos utilizadosnão devem mostrar alterações de qualidade e o tamanho dos cortes deve ser homogêneo, provenientes de suínos com peso em torno de 120 kg. A toalete deve ser superficial, pois a gordura, além de influenciar a textura da peça, evita também a desidratação excessiva durante o processo de maturação. Antes de prensada, a peça deve ser mantida entre 2 a 3°C por cerca de 24 horas. 3.5.2.2 SALGA E CURA Sal e sais de cura (nitrito/nitrato) são ingredientes obrigatórios na formulação de copa (BRASIL, 2000). Os sais devem ser distribuídos homogeneamente sobre a peça, que, em seguida, é colocada na câmara fria (4°C) onde permanece durante uma semana curando. Após a cura, o excesso de sal deve ser retirado (lavado) e a peça pode sofrer uma compressão mecânica para remoção de exsudado, o que acelera a etapa de maturação e secagem. Após prensagem, os músculos retornam à câmara fria e permanecem por 21 dias. As peças podem perder até 12% do seu peso inicial (AJZENTAL, 1995). MATÉRIA-PRIMA SALGA SECA CURA EMBUTIMENTO MATURAÇÃO Ingredientes Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 72 3.5.2.3 EMBUTIMENTO E MATURAÇÃO As peças curadas são embutidas em envoltório natural (bexiga). Nesse processo deve ser retirado completamente o ar entre a peça e o tecido da bexiga, evitando a formação de bolsas de ar. A bexiga deve ser costurada na extremidade aberta e a membrana deve ser perfurada através de um pente para permitir a permeabilidade da água, acelerando a desidratação (AJZENTAL, 1995). A seguir é feito o amarrio e as peças são maturadas/secas em salas climatizadas, com temperaturas entre 16 a 18ºC e umidade relativa entre 67 e 75%, por um período de, no mínimo, 11 meses (IL CULATELLO, 2000). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 73 3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNAU, J. Tecnología del jamón curado en distintos países. In: SIMPOSIO ESPECIAL - INTERNATIONAL CONGRESS OF MEAT SCIENCE AND TECHNOLOGY, 44., 1998, Barcelona. Anais... Barcelona: Eurocarne, 1998, p.10- 21. AZENTAL, A. Processamento Tradicional do Suíno em Parma. Revista Nacional da Carne. São Paulo, no 222, p.14-8, 1995. BLASCO, J. G. Importância del Jamón a lo largo de La história. 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Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DF, 19 fev 2001, Seção 1, p.60. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Divisão de Normas Técnicas. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto nº 30.691, de 29-03-52, alterado pelos Decretos nºs 1.255 de 25- 06-62, 1.236 de 02-09-94, nº 1.812 de 08-02-96 e nº 2.244 de 04-06-97. Brasília, 1997. 154p. (RIISPOA) CAMPOS, L. Charque, Carne-de-sol, Carne Seca. Disponível on line: http:\\ www.sic.org.br. Acessado em 15/10/2004. CANHOS, D., A., L.; DIAS. E., L. Tecnologia de Carne Bovina e Produtos Derivados. Fundação Tropical de Pesquisa e Tecnologia. São Paulo, 1983. 440p. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 74 CARVALHO JÚNIOR, B. da C. Charque e Jerked Beef: qual o futuro? In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA CARNES. Anais... 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Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 75 4 – PRODUTOS CURADOS COZIDOS Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 76 Entre os principais produtos cárneos curados, figuram-se os de origem de cortes suínos, representados, basicamente, pelo bacon, presunto e apresuntado. Outros produtos curados têm origem de cortes estritamente bovinos, como o pastrami, ou uma mistura de carne de diferentes espécies, como os fiambres e afiambrados. 4.1 PRESUNTO COZIDO 4.1.1 Definição O presunto é um dos produtos nobres da indústria cárnea. O artigo 399 da RIISPOA define presunto como produto curado obtido exclusivamente do pernil (pata traseira) de suínos, desossado ou não. Quando do uso de cortes de outras espécies de animais de açougue (frango, peru, etc.) deverá ser denominado de “Presunto”, seguido do nome da espécie animal de procedência. Instruções da Secretaria de Inspeção de Produto Animal (SIPA/DIPOA), impõem ainda que, na fabricação do presunto, a forma oval do pernil (única matéria-prima permitida) deve refletir-se, sistematicamente, no produto final. Assim, pode ser substituído por peças menores, desde que mantenha a Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 77 identificação dos feixes musculares, ou seja, mantenha a integridade do músculo. É proibido o emprego de carne picada ou moída em sua elaboração, assim como o uso de substâncias enchedoras, como amido e fécula. Segundoa Instrução Normativa no. 20, de 31 de julho de 2000, os presuntos podem ser classificados de acordo com a composição da matéria prima e das técnicas de fabricação em: Presunto - produto obtido dos cortes do membro posterior de suínos, curado, cozido ou semicozido, defumado ou não. O presunto denominado “tenro” deverá, obrigatoriamente, ser submetido ao processo de defumação. Permite-se a adição de proteínas não cárneas na forma agregada de 1,0% (máximo) em presunto tenro e de 2,0% (máximo) para outros. Presunto Cozido - produto cárneo industrializado obtido exclusivamente com o pernil de suínos, desossado, adicionado de ingredientes, e submetido a um processo de cozimento adequado. O produto com o teor de proteína cárnea mínima de 16,5 % será designado de Presunto Cozido Superior. Permite-se a adição de proteínas não cárneas na forma agregada de no máximo 2,0% para o Presunto Cozido. Quando se tratar do produto Presunto Cozido Superior é proibida a utilização de qualquer proteína que não aquela proveniente da massa muscular do pernil, exceto o caseinato de sódio no limite máximo de 1,0%. O produto deve ser designado (Denominação de Venda) pelo nome de sua classificação, seguido das denominações que couberem. Por exemplo: Presunto; Presunto Tenro; Presunto de aves; Presunto Cozido; Presunto Cozido Superior; Presunto Cru Fatiado; Presunto Tipo Parma; etc. 4.1.2 Processamento A partir da década de 1980, com o desenvolvimento da tecnologia cook- in, em que o cozimento é feito com o produto na embalagem termoformada, o processamento convencional de fabricação de presunto cozido sofreu algumas modificações (Figura 17). Esta inovação tecnológica mostrou-se vantajosa quando comparada com o processo convencional. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 78 Figura 17 – Fluxograma dos processos de elaboração de presunto cozido. 4.1.2.1 DESOSSA E TOALETE O pernil suíno que será desossado deve passar por uma inspeção de qualidade rigorosa, observando-se a presença ou não de alterações do tipo PSE ou DFD, que tornam a carne tecnicamente imprópria para o processo. O pH do pernil deve estar compreendido entre 5,8 e 6,2; e a temperatura deve ser de 2ºC (TERRA, 1998). Após a desossa, deve ser feita a toalete, com a retirada da gordura e do tecido conjuntivo aparentes. DESOSSA INJEÇÃO MASSAGEAMENTO EMBALAGEM ENFORMAGEM COZIMENTO Salmoura Processo cook-in RESFRIAMENTO DESENFORMAGEM 2ª EMBALAGEM Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 79 4.1.2.2 SALMOURA E INJEÇÃO A injeção consiste na aplicação dos agentes de cura na forma líquida (salmoura), aplicados no interior das massas musculares. A elaboração da salmoura é feita com água a baixa temperatura (4ºC). A salmoura é constituída por sal, nitrito e, ou, nitrato, condimentos e outros aditivos como o eritrorbato e o polifosfato (TERRA, 1998; BRASIL, 2000). No processo de cura por injeção, a salmoura é bombeada para o interior da carne através de equipamentos específicos (Capitulo 1, item 1.3.5) dotados de agulhas múltiplas. Nesse caso, a distribuição dos agentes de cura na peça é uniforme, resultando em presuntos que mantêm as características de cor, sabor e aparência entre limites estreitos de variação. 4.1.2.3 MASSAGEMANENTO (TUMBLING) E 1ª EMBALAGEM As peças injetadas e o restante da salmoura são conduzidos ao tumbler para o processo de massageamento. A ação mecânica sobre a carne pelo massageamento é feita com o objetivo de facilitar a penetração e distribuição da salmoura, por conferir uma estrutura muscular mais “aberta” e produzir um exsudado cremoso e pegajoso na superfície, devido à maior extração das proteínas miofibrilares, o que vai permitir uma melhor coesão dos pedaços durante o cozimento. Assim, vale ressaltar que esta etapa responde pela perfeita distribuição da salmoura injetada e pela extração das proteínas miofibrilares, que terão papel decisivo na coesão das peças de carne. Se for conduzida inadequadamente, os produtos poderão apresentar defeitos indesejáveis (RAMOS e FONTES, 2005). O massageamento das peças é feito a vácuo e por um tempo definido pelo fabricante do equipamento, sendo programado de acordo com a quantidade de solução. Nessa fase, a temperatura que atinge as peças é de fundamental importância. A temperatura inicial dos músculos no início do processo é de 0 a 2°C e como ocorre fricção entre estes e a superfície interna do equipamento, há um aumento na temperatura que não deve ultrapassar 4 °C, pois existe o risco de surgirem defeitos na coloração e consistência da carne (ROSENBLATT, 1994). Além disso, o ideal é trabalhar a temperaturas entre 2 e 4°C durante a tombagem, por constituir uma temperatura ótima de extração de miosina (RAMOS e FONTES, 2005). O tempo de cura também é variável com a efetividade do equipamento. Existe, portanto, uma variação considerável nas condições do processo que, na maioria das vezes, é definido de forma empírica. Geralmente as peças são tombadas por 30 a 60 minutos, embaladas e mantidas em refrigerador (4°) por 12 horas para ocorrer a cura. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 80 No processo cook-in, o produto é embalado em filme flexível (composto basicamente de poliamida e surlyn) a vácuo, submetido a termorretração (80ºC). No processo convencional, o produto é embalado após o cozimento. 4.1.2.4 ENFORMAGEM E COZIMENTO Após a cura, as peças de carne embaladas são enformadas em formas metálicas e submetidas ao cozimento. O cozimento do presunto cook-in não difere do convencional, exceto por exigir um controle mais rigoroso, uma vez que a temperatura e tempo de cozimento influenciam na liberação de exsudado e que deve ser evitado em tal processo. Ao contrário do sistema convencional em que ocorrem perdas de água, gordura, proteínas solúveis e gelatina durante o cozimento, no sistema cook-in estas substâncias ficam acumuladas entre a carne e a película plástica, prejudicando o visual do produto final. As estufas podem ser desenhadas para cozimento em água ou em vapor, devendo possuir controladores e registradores de tempo e temperatura. Nesta etapa busca-se não somente a destruição das células vegetativas de microrganismos (pasteurização), mas também a formação e manutenção das propriedades sensoriais e nutritivas do alimento (perdidas pela cocção). O cozimento recomendado é gradativo, em que a temperatura inicial deve estar entre 25 a 30°C, mais alta do que a temperatura interna da carne. Essa temperatura será aumentada gradativamente até que a temperatura do interior do produto atinja 72°C, quando é considerado cozido. Segundo TERRA (1998), é comum o cozimento a 60 ºC por 1 hora, com elevação da temperatura para 65 ºC (1 hora) e posteriormente até 80 ºC (temperatura de 73ºC no interior do produto). . 4.1.2.5 RESFRIAMENTO, DESENFORMAGEM E 2ª EMBALAGEM Após o cozimento, as peças são resfriadas em água fria e encaminhadas para a câmara fria, onde permanecem por 12 horas antes de serem desenformadas (TERRA, 1998; JAMES, 1996). Após a retirada do presunto da forma, o produto pode ser embalado em embalagens secundárias e encaminhado para a comercialização. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 81 4.2 APRESUNTADO 4.2.1 Definição A designação “Apresuntado” é definida no artigo 401 do RIISPOA (BRASIL, 1997), já caracterizando o produto como sendo obtido estritamente de cortes suínos. Mais recentemente, a Instrução Normativa no. 20, de 31 de julho de 2000, do Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento (MAPA), estabeleceua identidade e as características de qualidade que deverá apresentar o produto. Segundo esta normativa, apresuntado é o produto cárneo industrializado, obtido a partir de recortes de massas musculares dos membros anteriores (paleta) e, ou, posteriores (pernil) de suínos, adicionados de ingredientes e submetidos ao processo de cozimento adequado. Da mesma forma que para presuntos, quando do uso de cortes de outras espécies de animais de açougue (frango, peru, etc.), o produto deverá ser denominado (Designação de Venda) de “Apresuntado”, seguido do nome da espécie animal de procedência. Por exemplo: apresuntado de peru. 4.2.2 Processamento O processamento de apresuntados é similar ao presunto cozido, sendo no entanto, constituído de etapas mais simples (Figura 18). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 82 Figura 18 – Fluxograma dos processos de elaboração de apresuntados. A produção de apresuntados no país vem se aproximando da produção de presuntos cozidos. Com o auxílio de uma misturadeira é possível produzir apresuntados de qualidade, eliminando as etapas de preparação da salmoura e injeção, usados no processamento de presuntos, implicando num processo rápido, eficiente e de baixo custo. 4.2.2.1 DESOSSA E MOAGEM O apresuntado distingue-se do presunto por poder utilizar como matéria- prima a paleta de suínos, além do pernil, e por também poder realizar a moagem da carne. São utilizados sal, nitrito e, ou nitrato, condimentos, aditivos como polifosfatos e asacorbatos, fécula e proteínas não-cárneas (BRASIL, 2000). Diferentemente do presunto cozido, ao apresuntado é permitida a adição de proteínas não-cárneas na forma agregada no limite máximo de 2,5% e de amido e, ou féculas no limite de 2,0%. A carne refrigerada (0-4C) deve ser limpa, retirando-se os tecidos estranhos ao tecido muscular e, em seguida, moída em discos de furos 20-22 mm de diâmetro, sendo os retalhos de desossa moídos em discos de 3-5 mm, por constituírem bons agentes ligantes. DESOSSA MOAGEM MISTURA 1ª EMBALAGEM ENFORMAGEM COZIMENTO Ingredientes Processo cook-in RESFRIAMENTO DESENFORMAGEM 2ª EMBALAGEM Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 83 4.2.2.2 MISTURA, 1ª EMBALAGEM E ENFORMAGEM A carne é levada à misturadeira e adicionam-se os ingredientes. Após 10 minutos, a proteína não-cárnea é adicionada, misturando-se por 15 minutos e então é mantida na cura por 12 a 15 horas em temperatura de 4 a 6 ºC. Após a cura, mistura-se a fécula até se obter uma massa homogênea, que deve ser embutida em embalagens termorresistentes e colocada em formas retangulares. A mistura da fécula antes da etapa de cura, pode tornar o produto excessivamente ácido, depreciando a qualidade do produto final (TERRA, 1998). 4.2.2.3 COZIMENTO O cozimento do apresuntado é feito exatamente como para presunto cozido, ou seja, gradativamente. Inicialmente, o cozimento de peças de 3 kg é feito durante 1 hora à 70 ºC e mais quatro horas à 80 ºC, quando deve atingir 74 ºC no centro do produto (TERRA, 1998). 4.2.2.4 RESFRIAMENTO, DESENFORMAGEM E 2ª EMBALAGEM O resfriamento e a desemformagem são feitos da mesma forma que o presunto cozido. Em seguida o produto é embalado em uma embalagem secundária e expedido. 4.3 FIAMBRE 4.3.1 Definição Segundo a Instrução Normativa no. 20, de 31 de julho de 2000, do Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento (MAPA), entende-se por Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 84 fiambre o produto cárneo industrializado, obtido de carne de uma ou mais espécies de animais de açougue (suínos, bovinos, ovinos, aves), acrescentado ou não de miúdos comestíveis, cominuído, adicionados de ingredientes e submetido a processo térmico adequado. Fiambre são produtos cozidos elaborados para serem consumidos frios e, por isso, são comumente chamados de “lanches”. Desta forma, o presunto, apresuntado e vários embutidos, como a mortadela, poderiam ser enquadrados nesta classe. Neste produto permite-se o limite máximo, de 30% de adição de carne mecanicamente separada (CMS), 10% de miúdos comestíveis, 2,5% de proteínas não cárneas na forma agregada e 5% de substância de enchimento (amido/fécula). Entretanto, a somatória de amido máximo e açúcares totais (carboidratos totais) não deve ultrapassar em 10% no produto final. Os fiambres podem, ainda, serem adicionados de vegetais e outros ingredientes, como pedaços picados de picles, pimentão, queijo, cenoura, pistache, etc. Também é comum a presença de pedaços de presunto, mortadela, salsicha, entre outros produtos cárneos. Neste caso é muito comum o preparo de dois tipos de massas: uma massa grossa, contendo parte da carne moída e parte em pedaços, produtos cárneos e, ou, vegetais; e uma massa fina, com característica de emulsão, que confere corpo ao embutido. Pode ser designado (denominação de venda) como “Fiambre”, seguido do nome da espécie animal de procedência (Fiambre de peru; Fiambre de Presunto; etc.) ou, ainda, receber outras denominações, de acordo com a sua tecnologia e forma de apresentação (Lanche; Pão de Carne; etc.). 4.3.2 Processamento O processamento de fiambres segue as etapas descritas para o apresuntado (Figura 18). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 85 4.4 BACON E BARRIGA DEFUMADA 4.4.1 Definição Segundo a Instrução Normativa no. 21, de 31 de julho de 2000, do Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento (MAPA), Bacon é o produto cárneo industrializado, obtido do corte da parede torácico-abdominal dos suínos, que vai do esterno ao púbis, com ou sem costela, com ou sem pele, adicionado de ingredientes e submetido ao processo térmico adequado, com defumação. O produto Barriga Defumada é obtido da porção abdominal (parte ventral) dos suínos. O bacon é a uma das carnes curadas mais populares. Processos mais modernos têm melhorado a qualidade deste produto nos últimos anos, diminuindo os custos e melhorando a qualidade do produto final. 4.4.2 Processamento O processamento de bacon ou barrigada defumada segue as etapas descritas no fluxograma da Figura 19. Figura 19 – Fluxograma dos processos de elaboração de bacon. MATÉRIA-PRIMA SALGA CURA DEFUMAÇÃO Ingredientes EMBALAGEM Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 86 4.4.2.1 SALGA E CURA As peças cárneas limpas e refrigeradas (4°C) podem ser salgadas por, basicamente, dois processos: salga seca, no método convencional; e salga úmida, por injeção de salmoura. No processamento convencional, os sais de cura são esfregados na superfície das peças que são, então, levadas a curar em câmaras frias (4°C) por um período de 13 a 15 dias (3 dias/Kg). Devido ao longo tempo necessário para que os agentes de cura atinjam o centro das peças, condição essencial para a obtenção de um produto de boa qualidade, as partes mais finas ficam excessivamente curadas, apresentando cor escura, e o sal fica desuniformemente distribuído. No processo de salga úmida, o produto é salgado por injeção de salmoura através do uso de sistemas de agulhas o que reduz o tempo de cura para 4 a 5 dias e, ao mesmo tempo, melhora a qualidade do produto. A carne do bacon injetado é mais clara e a distribuição do sal é mais uniforme. Associado a isto, o processo de injeção permite ainda se agregar água sob a forma de salmora, sem no entanto reduzir a qualidade do produto. 4.4.2.2 DEFUMAÇÃO As peças quando salgadas pela salga seca são lavadas, primeiramente com água quente para remover o sal superficial, secas e, então,conduzidas ao defumador. O defumador é pré-aquecido a 50-60°C e as barrigas são dependuradas com a pele voltada para baixo, onde permanecem nesta temperatura (com a chaminé totalmente aberta), até que as superfícies estejam secas (30 a 40 min.). Após isto, a chaminé deve ser fechada deixando apenas ¼ aberta; a fumaça é introduzida e o defumador mantido a uma temperatura de 70°C, até as peças atingirem cerca de 60°C internamente (cozimento). Quando estufas com controle de umidade é usada para o cozimento do bacon, a umidade relativa deve ser mantida entre 25 e 40%. A temperatura do defumador é então reduzida para 49°C e as peças são defumadas até atingir a cor desejada. Após a defumação as peças são lavadas, secas e refrigeradas para expedição. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 87 4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERLE, E.D., FORREST, J.C., GERRARD, D.E., MILLS, E.W. Principles of Meat Science. 4 ed. New York: Kendall/Hunt Publishing Company, 2001. 354p. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Instrução Normativa no 20, de 31 de julho de 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Almôndega, de Apresuntado, de Fiambre, de Hambúrguer, de Kibe e de Presunto Cozido. Lex: Diário Oficial da União de 03 de agosto de 2000, n.149, Seção 1, p.7-12. Brasília, 2000. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Instrução Normativa no 21, de 31 de julho de 2000. Aprovar os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Patê, de Bacon ou Barriga Defumada e de Lombo Suíno. Lex: Diário Oficial da União de 03 de agosto de 2000, n.149, Seção 1, p. 12. Brasília, 2000. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Divisão de Normas Técnicas. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto nº 30.691, de 29-03-52, alterado pelos Decretos nºs 1.255 de 25- 06-62, 1.236 de 02-09-94, nº 1.812 de 08-02-96 e nº 2.244 de 04-06-97. Brasília, 1997. 154p. (RIISPOA) CANHOS, D., A., L.; DIAS. E., L. Tecnologia de Carne Bovina e Produtos Derivados. Fundação Tropical de Pesquisa e Tecnologia. São Paulo, 1983. 440p. DEGENHART, J. Tecnologia de Produtos Curados. In: VII CURSO DE TECNOLOGIA DA CARNE, CTC/ITAL Campinas - SP, p.51-71, 21 a 24 de junho de 1988. FREY, W. Fabricación fiable de embutidos: guia para el tecnico. Zaragoza: Acribia, 1983. 194p. JAMES, S. Resfriamento de Produtos Cozidos. Revista Nacional da Carne. São Paulo. n 228. 1996. p 16-24. PARDI, M. C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R. Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne: tecnologia da sua obtenção e transformação. 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Por definição, os emulsionados são “produtos de salsicharia”, termo utilizado para designar todo tipo de alimento preparado de carne fragmentada, temperada e estruturada numa forma simétrica. Os produtos de salsicharia são denominados em outros países como sausage (do latim salsus que significa salgado, ou, literalmente, carne preservada por salga), e englobam produtos emulsionados, como mortadela e salsicha, ou não, como salame e linguiças. Os produtos emulsionados são compostos de tecido muscular, gordura, água, sais e condimentos que mediante tratamento térmico (coagulação proteica) adquirem consistência sólida. Essa estrutura se mantém íntegra mesmo quando submetida a um novo aquecimento. Na categoria de produtos emulsionados são incluídos patês ou pastas (de fígado, presunto ou galinha), salsichas e mortadelas. Os produtos variam em relação às partículas de carne, que podem ser grossas ou finas e embutidas em envoltórios de calibres grossos, medianos ou finos. 5.1 FORMAÇÃO DA EMULSÃO Na elaboração dos produtos emulsionados, tecido muscular, gordura, água e sal são cominuídos e misturados, formando uma massa cárnea que apresenta características de uma emulsão de óleo em água (SCHMELZER & NAGEL, 1999) e cuja microestrutura está intimamente relacionada com a relação física entre os componentes, afetando a textura e estabilidade do produto. Emulsão é definida como a mistura estável de dois líquidos imiscíveis num sistema heterogêneo, em que um deles está disperso sob a forma de pequenas gotículas no outro. Estes líquidos não se dissolvem um ao outro, permanecendo num estado coloidal onde são mantidos em suspensão, geralmente auxiliados por substâncias que agem como emulsificantes. O líquido que forma as gotículas é chamado de fase dispersa, e o líquido no qual as gotículas estão dispersas é denominado fase contínua (RAMOS e FONTES, 2005). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 91 As emulsões de carnes são do tipo O/A (Figura 20), sendo a fase dispersa constituída de partículas de gordura, sólidas ou líquidas, e a fase contínua constituída de água, sais e proteínas em suspensão (LEMOS, 2004; PRICE & SCHWEIGERT, 1994). Figura 20 – Diagrama de uma emulsão tipo óleo em água (O/A) e de uma emulsão cárnea. A elaboração de um produto emulsionado acontece em duas etapas: inicialmente ocorre absorção de água pelas proteínas e formação de uma matriz viscosa; a seguir ocorre a solubilização das proteínas com emulsificação dos glóbulos de gordura. A formação da matriz estabiliza a estrutura ao imobilizar a água livre, impedindoperda de água e a coalescência dos glóbulos de gordura durante o aquecimento (LEMOS, 2004; PRICE & SCHWEIGERT, 1994). As emulsões são geralmente instáveis, a não ser que possuam outro componente como um agente emulsificante ou estabilizante (CANHOS & DIAS, 1983). Quando a gordura entra em contato com a água forma-se uma grande tensão interfacial entre ambas. Os agentes emulsificantes atuam reduzindo essa tensão interfacial permitindo, então, a formação de uma emulsão com menor energia interna e com maior estabilidade total. As proteínas solúveis dissolvidas na fase contínua (aquosa) são os agentes emulsificantes naturais da carne, sendo responsáveis pela estabilidade da emulsão formada. Por apresentarem alta funcionalidade (97% da capacidade de retenção de água e 75% da capacidade emulsionante da carne), as proteínas miofibrilares (miosina e actina) são estabilizantes muito Fase Contínua Gordura Fragmentos de fibra muscular Fibras de tecido conectivo ÁGUA Fase contínua ÓLEO Fase dispersa Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 92 mais eficientes que as proteínas sarcoplasmáticas. Já as proteínas do estroma (tecido conectivo), principalmente o colágeno, não se prestam ao preparo de emulsões. O colágeno apresenta baixa solubilidade, encolhe (até cerca de 1/3 do seu tamanho) quando aquecido entre 60 e 65ºC e, em presença de umidade, acima de 65ºC torna-se gelatina (RAMOS e FONTES, 2005). Entre os fatores que afetam a formação e estabilidade de uma emulsão citam-se: Temperatura: durante a moagem a temperatura da massa aumenta, ocasionando a fusão de algumas partículas de gordura e o início da desnaturação proteica, de forma que a estrutura da proteína abre-se, permitindo encapsular a gordura. Com a elevação da temperatura pode ocorrer excessiva desnaturação proteica, diminuindo a viscosidade da massa devido ao rompimento da matriz proteica e fusão da gordura (LEMOS, 2004). Temperaturas menores que 3ºC não são recomendadas, pois dificultam a extração das proteínas (CANHOS & DIAS, 1983). Tamanho da partícula de gordura: a trituração faz as partículas de gordura se fundirem, tornando-se menores e aumentando a área superficial. Assim, para a emulsão ser mais estável, necessita de maior quantidade de proteína solúvel para envolver completamente a superfície (TERRA, 1998; CANHOS & DIAS, 1983). Teor de proteína solubilizável: quanto maior for a solubilidade da proteína, mais estável será a emulsão (CANHOS & DIAS, 1983). 5.2 MORTADELA 5.2.1 Definição A mortadela é um dos produtos cárneos emulsionados com bom valor nutritivo e excelente aceitação pelo consumidor. Nos últimos anos, a sua produção tem superado em muito outros produtos tidos como tradicionais pela Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 93 indústria cárnea brasileira e por se tratar de um produto de amplo consumo popular, a tendência é de crescimento contínuo. Mortadelas são produtos cárneos emulsionados, elaborados a partir de carne bovina e, ou, suína, sangue, vísceras e outros subprodutos (miúdos) de animais de corte autorizados para o consumo humano, acrescidos ou não de gordura e água, a que são adicionados sais de cura, condimentos e constituintes não cárneos finamente triturados. São embutidos em envoltório natural (tripas e bexigas bovinas de vários calibres) ou artificial (celulose ou colágeno) de diferentes formas, defumados ou não, e cozidos à seco, vapor ou banho-maria, por tempo proporcional ao seu volume e natureza, sendo que a temperatura interna deve alcançar, no mínimo, 71°C. A Instrução Normativa no. 04, de 31 de março de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), estabelece a identidade e as características de qualidade que deverá apresentar o produto denominado Mortadela. De acordo com a composição das matérias-primas e das técnicas de fabricação, as mortadelas podem ser classificadas e designadas (denominação de venda) em: Mortadela - produto elaborado com carnes de diferentes espécies de animais de açougue, em que se faculta a utilização de carne mecanicamente separada (CMS), no limite máximo de 60%; miúdos comestíveis (estômago, coração, língua, fígado, rins e miolos) no limite máximo de 10%; gorduras; pele e tendões. A adição de proteínas não- cárneas é permitida no limite máximo de 4% na forma agregada. Mortadela Tipo Bologna - produto obtido de carnes bovina, suína ou ovina, ou uma mistura destas, adicionados de CMS no limite máximo de 20%, gorduras, miúdos comestíveis (estômago, coração, língua, fígado, rins e miolos) no limite máximo de 10%, pele e tendões. A adição de proteínas não-cárneas também é permitida no limite máximo de 4% na forma agregada. Mortadela Bologna - produto elaborado com porções musculares de carnes bovina e, ou, suína, adicionado de toucinho com as oleaduras aparente ao corte, embutida na forma arredondada, não sendo permitida a adição de amidos/féculas e proteínas não-cárneas, exceto as proteínas lácteas. Mortadela Italiana - produto elaborado com porções musculares de carnes de diferentes espécies animais de açougue e toucinho com as oleaduras aparente ao corte, não sendo permitida a adição de amidos/féculas e proteínas não-cárneas, exceto as proteínas lácteas. Mortadela de Ave - produto obtido de carnes de ave, adicionado de CMS (da espécie) no limite máximo de 40%, gordura (pele) e miúdos comestíveis de aves (fígado, moela e coração) no limite de 5%. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 94 5.2.2 Processamento A mortadela é um embutido curado, emulsionado e cozido que requer cuidados especiais durante as etapas de fabricação a fim de garantir a qualidade e conservabilidade do produto. A etapa de formação de emulsão ocorre no cutter e envolve o controle de fatores que são fundamentais para a formação de massas de partículas de carne e gordura bem refinadas (Figura 21). Figura 21 – Fluxograma dos processos de elaboração de mortadelas. O MAPA permite o aproveitamento de subprodutos cárneos na formulação de alguns tipos de mortadela, tais como: estômagos, coração, língua, rins, cérebro, medula, tendões, plasma e emulsão de pele, mas com algumas restrições: plasma congelado pode ser usado como substituto da carne, ou gelo, normalmente adicionados, no limite máximo de 10%; e o uso de medulas, cérebro, tendões, plasma e emulsões de pele não devem ultrapassar o limite de 5%, seja isoladamente ou o somatório. Os aditivos comumente usados são: nitritos/nitratos, ascorbatos/eritorbatos, fosfatos, amido e seus derivados, açúcar ou xarope de glicose, sal e proteínas de origem animal (caseinatos, leite em pó desnatado, etc.) ou de origem vegetal (isolados proteicos e proteínas texturizadas de soja, etc.). PRÉ-MOAGEM CUTERIZAÇÃO MISTURA EMBUTIMENTO Ingredientes COZIMENTO/ DEFUMAÇÃO Toucinho em cubos Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 95 5.2.2.1 PRÉ-MOAGEM E CUTERIZAÇÃO O uso de matéria-prima congelada durante a elaboração de emulsionados é importante para favorecer a formação da emulsão, uma vez que reduz a elevação da temperatura da massa durante a cuterização, que ocorre devido ao atrito mecânico das facas. Desta forma, utiliza-se carnes e gorduras congeladas e gelo picado. A carne, juntamente com miúdos, e as gorduras podem ser separadamente moídos e mantidos congelados antes da cauterização. No caso de não se desejar o uso da etapa de pré-moagem, pode-se usar pequenos blocos de carne congelada, adicionada diretamente no cutter. A gordura resfriada/congelada também é adiciona diretamente no cutter. É de fundamentalimportância que o processo de trituração da massa no cutter (cuterização) seja realizado em temperatura inferior a 15ºC, sendo ideal em torno de 12ºC, utilizando o gelo como forma de controle. A ordem de adição da matéria-prima e dos ingredientes no cutter é importante para maximizar a formação da emulsão. De princípio, a carne magra congelada é triturada inicialmente com as facas do cutter em alta velocidade, sendo adicionado durante a tritutração o sal e o fosfato, depois o gelo picado e os demais ingredientes. A velocidade do cutter é, então, reduzida e a gordura congelada picada adicionada, mantendo-se a trituração em baixa velocidade até a formação da emulsão. 5.2.2.2 MISTURA E EMBUTIMENTO Após a cuterização, a massa é transferida para uma misturadeira à vácuo, onde permanece em processo de mistura durante 3 a 5 minutos para a retirada de todo o ar da massa. A remoção do ar, realizada na misturadeira e na embutideira, é importante para se evitar a formação de cavidades no embutido, que além do aspecto estético pode afetar negativamente o sabor, aroma e coloração do produto, devido ao favorecimento de processos oxidativos iniciados pelo oxigênio aprisionado na massa. Nesta etapa, quando desejado, são adicionados os toucinhos em cubos para formação das “oleaduras”, características nas mortadelas Bolognas. A falta de uniformidade no tamanho e na distribuição do toucinho na massa são problemas que dificultam a qualificação da mortadela. Após a mistura, a massa é embutida à vácuo em tripas de calibre desejado. Quando a mortadela será defumada pelo processo tradicional, o embutimento é feito em envoltório natural (tripas e bexigas bovinas de vários calibres) ou tripas artificiais de celulose ou colágeno. Nas mortadelas em que a defumação não será conduzida, o embutimento é feito em tripas sintéticas, o que permite o seu cozimento em tanques de água quente. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 96 5.2.2.2 Cozimento/defumação O cozimento pode ser feito em estufas com controle e registradores de tempo, temperatura e umidade relativa, ou com os gomos imersos em tanques de água quente. O cozimento deve ser escalonado, onde as temperaturas e os tempos de cozimento variam de acordo com o equipamento utilizado e o tipo de cozimento empregado. Normalmente inicia-se o processo com temperatura próxima de 60°C por cerca de uma hora para peças pequenas e uma hora e meia para as maiores, aumentando em seguida para 75°C por cerca de mais uma hora, e finalmente para 85°C até a temperatura interna da peça atingir 72°C. Quando desejado, as peças de mortadela são defumadas naturalmente, ou borrifadas com fumaça líquida, durante o cozimento ou adicionadas de aromas de fumaça na massa, durante a mistura no cutter. É importante que não seja ultrapassado o limite de 90°C na estufa ou meio de cozimento para que não ocorra quebra da emulsão e outros defeitos que levariam à perda total do lote. Após o cozimento/defumação, o produto e resfriado com banho de aspersão (chuveiro) de água fria e estocado em câmaras refrigeradas para expedição. 5.3 SALSICHA 5.3.1 Definição Salsicha é o produto cárneo industrializado, obtido da emulsão de carne de uma ou mais espécies de animais de açougue, adicionados de ingredientes, embutido em envoltório natural, ou artificial ou por processo de extrusão, e submetido a um processo térmico adequado (BRASIL, 2000). Assim como no caso das mortadelas, a Instrução Normativa no. 04, de 31 de março de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 97 (MAPA) estabelece a identidade e as características de qualidade que deverá apresentar o produto denominado Salsicha. De acordo com a composição das matérias-primas e das técnicas de fabricação, as salsichas podem ser classificadas e designadas (denominação de venda) em: Salsicha - produto elaborado com carnes de diferentes espécies de animais de açougue, em que se adiciona CMS no limite máximo de 60%, gorduras, miúdos comestíveis (estômago, coração, língua, fígado, rins e miolos) no limite de 10%, pele e tendões. Permite-se, ainda, a adição de proteínas não-cárneas, no limite máximo de 4%, como proteína agregada. Salsicha Tipo Viena - produto obtido de carnes bovina e, ou, suína, adicionada de CMS no limite máximo de 40%, gorduras, miúdos comestíveis (estômago, coração, língua, fígado, rins e miolos) de bovinos e, ou, suínos no limite de 10%, pele e tendões. Também é permitida a adição de proteínas não-cárneas, no limite máximo de 4%, como proteína agregada. Salsicha Viena - produto elaborado a partir de porções musculares de carne bovina e, ou, suína, não sendo permitida a adição de proteínas não-cárneas, exceto as proteínas lácteas, no limite máximo de 4%. Salsicha Tipo Frankfurt - produto obtido de carnes bovina e, ou, suína, adicionada de CMS no limite máximo de 40%, gorduras, miúdos comestíveis (estômago, coração, língua, fígado, rins e miolos) de bovinos e, ou, suínos no limite de 10%, pele e tendões. Também é permitida a adição de proteínas não-cárneas, no limite máximo de 4%, como proteína agregada. Salsicha Frankfurt - produto elaborado a partir de porções musculares de carne bovina e, ou, suína, não sendo permitida a adição de proteínas não-cárneas, exceto as proteínas lácteas, no limite máximo de 4%. Salsicha de Carne de Ave - produto obtido de carnes de ave, adicionada de gordura, CMS no limite máximo de 40% e miúdos comestíveis de aves (fígado, moela e coração) no limite de 10%. Permite-se, ainda, a adição de proteínas não-cárneas, no limite máximo de 4%, como proteína agregada. 5.3.2 Processamento A elaboração da salsicha tem como ingrediente obrigatório carne das diferentes espécies de animais de açougue, conforme designação do produto. São utilizadas carnes de dianteiro de bovinos, retalhos, ponta de agulha e carne de vitelo; de suínos utiliza-se paleta, retalhos, gordura; e, de aves é utilizada a carne mecanicamente separada (CMS). O emprego de miúdos e vísceras comestíveis (coração, língua, pulmão, rins, estômago, pele, tendões, fígado, medula e cérebro) também é utilizado, no entanto limita-se ao percentual de 10%, usada de forma isolada ou combinada, observando-se a Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 98 formulação (BRASIL, 2000). A etapa de formação de emulsão durante a cauterização também é crucial na elaboração da salsicha, sendo as etapas do processamento descritas na Figura 22. Figura 22 – Fluxograma dos processos de elaboração de salsichas. 5.3.2.1 PRÉ-MOAGEM E CUTERIZAÇÃO Assim como para mortadelas, o uso de matéria-prima congelada durante a elaboração de salsichas é importante para favorecer a formação da emulsão. As etapas de pré-moagem e cauterização são executadas de forma idêntica ao processamento de mortadela. 5.3.2.2 EMBUTIMENTO E COZIMENTO/DEFUMAÇÃO Uma vez preparada a massa, é feito o embutimento em tripa artificial de colágeno ou celulose, com calibre de 20-22 mm de diâmetro. Nesta etapa são utilizadas embutideiras acopladas a equipamentos que torcem e formam os gomos de 9 a 12 cm de comprimento, operando de modo contínuo e permitindo-se o controle do formato, tamanho e peso das salsichas. Quando do uso de tripas naturais a amarração é feita manualmente. Os gomos são dependurados em engradados especiais, lavados em um chuveiro de água quente para retirar as partículas de carne aderidas na superfície e, então, seguem para a estufa de cozimento onde se pode efetuar simultaneamente a defumação, caso desejado. O cozimento deve ser feito preferencialmente em estufas com controle e registradores de tempo,temperatura e umidade relativa para garantir que o processo mantenha as condições pré-estabelecidas. PRÉ-MOAGEM CUTERIZAÇÃO EMBUTIMENTO COZIMENTO/ DEFUMAÇÃO DEPELAGEM Ingredientes TINGIMENTO EMBALAGEM ENLATAMENTO ESTERILIZAÇÃO Salsicha tipo “hot dog” Salsicha enlatada Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 99 As estufas podem ser aquecidas eletricamente ou ainda a vapor. Quando da defumação, as salsichas são submetidas à fumaça durante uma hora, mantendo-se a temperatura a 60°C durante 30 minutos e depois a 70°C por mais 30 minutos. O suprimento de fumaça é cortado e a temperatura da câmara é aumentada para 80°C, sendo as salsichas cozidas até sua temperatura interna atingir 72°C. É importante que não seja ultrapassado o limite de 90°C na estufa para que não ocorra quebra da emulsão e outros defeitos que levariam à perda total do lote. 5.3.2.3 DEPELAGEM Após o cozimento, o produto sofre um banho de aspersão (chuveiro) ou imersão em água inicialmente à temperatura ambiente e depois gelada, por um tempo de 5 minutos ou até as salsichas atingirem a temperatura ambiente, com a finalidade de parar o processo de cozimento e facilitar a etapa de depelagem. Um choque térmico muito brusco, pode acarretar no enrugamento dos gomos. As salsichas embutidas em tripas naturais são mantidas à temperatura ambiente até secar a superfície e seguem para o processo de “tingimento” (quando desejado). Já as embutidas em tripas artificiais sofrem a etapa de “depelagem” e posterior “tingimento”. O processo de depelagem é realizado por equipamentos que retiram apenas a tripa artificial, realizando um corte preciso, sem entretanto atingir a camada superficial da salsicha. As salsichas que serão enlatadas seguem direto para a etapa de “corte e enlatamento”. 5.3.2.4 SALSICHAS TIPO “HOT DOG” Após depeladas, as salsichas tipo “hot dog” sofrem um banho de extrato de urucum, por aproximadamente dois minutos, e em seguida são impulsionadas para outro tanque contendo solução de ácido fosfórico 1% e sal, onde permanecem por cerca de um minuto, necessário para fixação da cor do produto final (o urucum em meio ácido se precipita). Após a etapa de tingimento, as salsichas são lavadas, pesadas e resfriadas a temperaturas inferiores a 5°C antes do processo de embalagem. O resfriamento pode ser feito em câmaras frias ou túneis com ventilação forçada. As salsichas são, então, embaladas à vácuo, em filmes de polietileno ou saran, posteriormente, encaixotadas em caixas de papelão ondulado e comercializadas em temperaturas de refrigeração (4C). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 100 5.3.2.5 SALSICHAS ENLATADAS Após a depelagem, as salsichas destinadas ao enlatamento são cortadas em tamanhos padronizados e acondicionadas nas latas que são, então, totalmente preenchidas com salmoura, de forma a se reduzir o teor de oxigênio no recipiente. Isto impede a oxidação superficial da salsicha que pode originar uma indesejável coloração acinzentada. A salmoura pode ser adicionada pré-aquecida, o que favorece a penetração do calor e a redução da pressão no recipiente durante o aquecimento, embora o surgimento de deformações durante o resfriamento da lata e a necessidade de um rápido aquecimento após o enchimento da lata (desenvolvimento microbiano) sejam desvantagens. As latas são recravadas à vácuo e seguem para a etapa de esterilização. 5.4 PATÊS 5.4.1 Definição A Instrução Normativa n.º 21, de 31 de julho de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), define pasta ou patê, seguido das especificações que couberem, o produto cárneo industrializado obtido a partir de carnes e/ou produtos cárneos e/ou miúdos comestíveis, das diferentes espécies de animais de açougue, transformados em pasta, adicionado de ingredientes e submetido a um processo térmico adequado. Podem ser elaboradas com os mais diversos tipos de carnes e apresentam ótima aceitação perante os consumidores do mundo todo. Os patês poderão apresentar, em suas composições, fragmentos de tecido muscular e, ou, vegetais na forma triturada ou em pedaços. Os patês, seguidos de sua designação, deverão conter no mínimo 30% da matéria-prima que o designe, exceto o de fígado cujo limite mínimo poderá ser de 20%. É Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 101 permitida a adição máxima de 3% de proteínas não-cárneas na forma de proteína agregada e, no máximo, 10% de amido (BRASIL, 2000). Segundo SCHMELZER-NAGEL (1999), os patês podem ser classificados em dois tipos: Patê cremoso: é um patê feito com ingredientes crus (como fígado) e pré-cozidos (como carne, gorduras e legumes). O fígado é triturado e emulsificado no cutter. Os ingredientes quentes são depois triturados e misturados com a massa de fígado, normalmente envasado em tripas, latas, vidros ou potes plásticos. Em seguida, há um tratamento térmico por imersão em água quente ou vapor. Nessa categoria os patês mais conhecidos são liver sausage, pâté de foie gras: chorizo de hígado. Patê pastoso: é uma massa em que os ingredientes são cozidos ou fritos e depois triturados e misturados. No entanto, a fabricação só é viável para restaurantes e hotéis que possuem instalações adequadas para fabricação e consumo rápido, pois a vida-de-prateleira, mesmo em refrigeração, é muito curta. O patê pastoso cozido é uma massa em que os ingredientes entram crus, semi-cozidos e/ou cozidos. Eles são triturados, misturados e enformados em terrinas (forma retangular de cerâmica, vidro ou metal); depois há o tratamento térmico, normalmente em fornos. Este produto pode ser fabricado tanto na indústria como em pequena escala. 5.4.2 Processamento Como matéria-prima para o patê são utilizadas carnes bovinas ou suínas, gordura, fígado, legumes, especiarias, além de outros ingredientes como presunto, pescados e escargots, mas esses em menor frequência. A matéria-prima (carne) é cortada em pedaços e cozida em água à temperatura de 90 a 95º C durante uma hora. A gordura não deve ser cozida e o caldo do cozimento deve ser reservado (CANHOS & DIAS, 1983). A carne pré-cozida e a gordura previamente moídas são trituradas por 5 minutos no cutter, adicionando-se gradualmente o caldo do cozimento, no qual foram dissolvidos os aditivos e condimentos e triturando-se por mais 5 minutos, até se obter uma massa fina. O grau de trituração difere quanto ao produto elaborado e é uma característica específica de cada produto. Para fabricação de patês, o grau de trituração é tão fino que permite a formação da emulsão cárnea. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 102 A massa cárnea obtida é acondicionada em embalagens metálicas ou de vidro e fechadas em recravadeira a vácuo. A massa também pode ser colocada na embutideira e embutida em envoltórios artificiais, geralmente tripas sintéticas. O produto emulsionado, após o acondicionamento, passa por tratamento térmico adequado. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 103 5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERLE, E.D., FORREST, J.C., GERRARD, D.E., MILLS, E.W. Principles of Meat Science. 4 ed. New York: Kendall/Hunt Publishing Company, 2001. 354p. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Instrução Normativa no 21, de 31 de julho de 2000. Aprovar os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Patê, de Bacon ou Barriga Defumada e de Lombo Suíno. Lex: Diário Oficial da União de 03 de agosto de 2000, n.149, Seção 1, p. 12. Brasília, 2000. BRASIL.Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Divisão de Normas Técnicas. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto nº 30.691, de 29-03-52, alterado pelos Decretos nºs 1.255 de 25- 06-62, 1.236 de 02-09-94, nº 1.812 de 08-02-96 e nº 2.244 de 04-06-97. Brasília, 1997. 154p. (RIISPOA) CANHOS, D., A., L.; DIAS. E., L. 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Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 104 PRICE, J. F.; SCHWEIGERT, B.S. Ciencia de La Carne y de los Productos Carnicos. 2° ed., editora Acribia, S. A. ZARAGOZA (Espanã), p.581, 1994. RAMOS, E. M.; FONTES, P.R. Tecnologia do Processamento de Carnes & Derivados: Fundamentos teóricos. Itapetinga: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), 2005 (Apostila Didática - Reprografada). RAMOS, E. M.; FONTES, P.R. Tecnologia do Processamento de Carnes & Derivados: Material Prático. Itapetinga: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), 2005 (Apostila Didática - Reprografada). ROMANS, J.R., ZIEGLER, P.T. The Meat We Eat. 2th Edition, Danville, The Intersate Printers & Publishers, 1977. 780p. SCHIFFNER, E., OPPEL, K., LÖRTZING, D. Elaboración casera de carne y embutidos. Zaragoza: Acribia, 1996. 291p. SCHMELZER-NAGEL, W. Patê: Novos Aspectos Tecnológicos. Revista Nacional da Carne. São Paulo. n. 267, p.14-26, 1999. SILVA, G.B. 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Os embutidos fermentados são produtos cujo processo tecnológico compreende uma moagem da carne e toucinho crus, com combinações variáveis de aditivos (especiarias, aromatizantes, agentes de cura, sal, açúcar e culturas microbianas), com granulometria de massa que varia de grossa a fina (conforme o tipo de produto), submetido à maturação posterior em condições controladas de temperatura e umidade, que podem ou não sofrer defumação. 6.1 METODOS COMBINADOS DE CONSERVAÇÃO A estabilidade microbiológica dos embutidos fermentados e secos é adquirida durante o processamento, pela sequência de obstáculos à sobrevivência e ao desenvolvimento dos microrganismos (LEISTNER, 1996). A aplicação de métodos combinados, também conhecidos como Teoria de obstáculos de Leistner, engloba parâmetros como acidez, temperatura, atividade de água, potencial de oxidorredução e preservativos para inibir o desenvolvimento microbiano. A combinação de dois ou mais fatores de obstáculos produzem grande efeito e podem garantir a estabilidade microbiológica dos produtos processados. A sequência de obstáculos que ocorre durante a produção de embutidos fermentados é ilustrada na Figura 23. Figura 23 – Sequência de obstáculos que ocorrem durante a produção de embutidos fermentados secos. NITRITO POTENCIAL DE OXI-REDUÇÃO FLORA COMPETIDORA PH ATIVIDADE DE ÁGUA Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 107 O nitrito de sódio adicionado no início do processo constitui-se no primeiro obstáculo. A ação do nitrito inibe determinados microrganismos, porém outros podem desenvolver-se, multiplicar-se e utilizar o oxigênio presente no produto. Isso significa diminuir o potencial de oxi-redução no produto ou criar o segundo obstáculo de controle do desenvolvimento microbiano, no que diz respeito às bactérias aeróbicas. As bactérias produtoras de ácido láctico causam um abaixamento do pH através de processo fermentativo em que utilizam o açúcar adicionado na formulação, promovendo uma acidificação do produto, que é um importante fator limitante no desenvolvimento de microrganismos indesejáveis no processamento dos produtos fermentados. As bactérias fermentativas desenvolvem-se em condições anaeróbicas e em presença de nitratos e nitritos e, além disso, liberam substâncias inibidoras, de forma que estas exercem uma competição com os demais microrganismos presentes no produto. Esta competição é mais um dos importantes fatores de obstáculo, que em conjunto com os demais, garantem o desenvolvimento daquelas bactérias responsáveis pela fermentação e pelo aparecimento das características próprias destes produtos. Os embutidos fermentados submetidos a processos de maturação por períodos mais longos apresentam uma elevação no pH, o que os tornam susceptíveis à deterioração. Desta forma, é necessário incluir um período de secagem para reduzir a atividade de água desses produtos e garantir, com isso, sua estabilidade microbiológica. O conjunto e a associação dos obstáculos descritos anteriormente inibem o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis, como Salmonella ssp., Clostridium botulinum e Staphylococcus aureus, e favorecem o crescimento de bactérias produtoras de ácido láctico e Staphylococcus não patogênicos, que são convenientes na elaboração de produtos fermentados. 6.2 SALAMES 6.2.1 Definição Instrução Normativa no. 22, de 31 de julho de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), define Salame como produto cárneo industrializado obtido de carne suína ou suína e bovina, adicionado de Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 108 toucinho, ingredientes, embutido em envoltórios naturais e, ou, artificiais, curado, fermentado, maturado, defumado ou não e dessecado. São embutidos que apresentam valores de pH menores que 5,3 (variável entre 4,8 a 5,3), devido à atividade microbiana endógena ou exógena durante a maturação, com produção de ácido lático e compostos aromáticos que lhe confere um sabor agradável e peculiar. Apresentam ainda uma baixa atividade de água, podendo ser classificados como secos ou semissecos: Salames secos: são produtos cárneos fermentados e desidratados para remover25 a 50% de umidade, devendo sua relação umidade/proteína (U/P) final não exceder 1,9:1, com exceção do salame milano que pode chegar a 2,3:1. Não são cozidos e podem ser defumados (a frio) ou não, sendo mais secos, firmes e caros que os semissecos. Como exemplos de salames secos, citam-se: salame tipo Italiano; salame tipo Milano; salaminho; entre outros. Salames semissecos: são produtos cárneos fermentados e desidratados para remover entre 10 e 15 % de umidade, devendo ter uma relação umidade/proteína (U/P) final entre 1,9:1 e 3,7:1, excetos para produtos refrigerados que não apresentam padrão U/P. Embora o salame seja um produto tradicionalmente cru, os salames semissecos são normalmente defumados e submetidos à temperatura de pelo menos 63°C, sendo, às vezes, referidos como sucedâneos do salame. Após a defumação/cozimento, estes produtos são geralmente submetidos a uma secagem. O consumo destes salames não é comum no Brasil. Como exemplos de salame semisseco, citam-se: linguiças de verão (summer sausage); Cervelant; Thuringer; entre outros. Embutidos fermentados, secos e semissecos, são caracterizados por suas propriedades sensoriais, químicas e microbiológicas e, como se pode observar, dois fatores básicos tornam estes embutidos diferentes dos outros tipos: o baixo teor de umidade e a presença de ácido lático. Isto soa simples, mas, na verdade, o processo é complexo e sensível. No Brasil, as características de identidade e qualidade de oito tipos de salames estão definidas, e a diferenciação entre eles está no tipo de matéria- prima, na granulometria da carne e do toucinho, com ênfase na condimentação (BRASIL, 2000). De acordo com os critérios estabelecidos pela IN 22, os salames podem receber as seguintes denominações: Salame: produto cárneo industrializado obtido de carne suína ou suína (mínimo de 60%) e bovina, adicionado de toucinho, ingredientes, Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 109 embutido em envoltórios naturais e, ou artificiais, cru, curado, fermentado, maturado, defumado ou não e dessecado. Salame Tipo Alemão: produto cárneo industrializado, elaborado a partir de carne exclusivamente de suínos, adicionado de toucinho, moídos em granulometria fina (de 3 a 6 mm), embutidos em envoltório natural ou artificial, curado, fermentado, maturado, defumado ou não e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salame Tipo Calabrês: produto cárneo industrializado, elaborado de carne suína ou suína (mínimo de 60%) e bovina, adicionado de toucinho, moído em granulometria média entre 10 e 15 mm, adicionado de ingredientes, embutido em envoltório natural ou artificial, curado, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. O produto é caracterizado pelo sabor picante e calibre 80 mm, tendo como ingrediente obrigatório a pimenta calabresa. Salame Tipo Friolano: produto cárneo industrializado, elaborado exclusivamente de carnes suínas e toucinho, adicionado de ingredientes, moídos em granulometria média entre 6 e 9 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, curado, defumado ou não, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salame Tipo Hamburguês: produto cárneo industrializado, elaborado de carnes suínas ou suínas (mínimo de 50%) e bovinas, toucinho, adicionado de ingredientes, com granulometria média entre 3 e 6 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, curado, defumado, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salame Tipo Italiano: produto cárneo industrializado, elaborado de carnes suínas ou suínas (mínimo de 60%) e bovinas, toucinho, adicionado de ingredientes, moídos em granulometria média entre 6 e 9 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, curado, defumado ou não, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salame Tipo Milano: produto cárneo industrializado, elaborado de carnes suínas ou suínas (mínimo de 60%) e bovinas, toucinho, adicionado de ingredientes, com granulometria média entre 3 e 6 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, curado, defumado ou não, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salame Tipo Napolitano: produto cárneo industrializado, elaborado a partir de carnes suínas ou suínas (mínimo de 60%) e bovinas, adicionado de toucinho, ingredientes, moídos em granulometria grossa (de 8 a 12 mm), pimenta do reino quebrada ou em grãos, alho, embutido em envoltório natural ou artificial, curado, fermentado, maturado, defumado ou não e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. Salaminho: produto cárneo industrializado, elaborado de carne suína ou suína (mínimo de 60%) e bovina, toucinho, com granulometria média Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 110 entre 6 e 9 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, adicionado de ingredientes, curado, defumado ou não, fermentado, maturado e dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação. O produto é caracterizado por ser embutido em tripas com calibre até 50 mm. Pepperoni: produto cárneo industrializado, elaborado de carnes suínas ou suínas (mínimo de 50%) e bovinas, toucinho, adicionado de ingredientes, com granulometria média entre 3 e 6 mm, embutido em envoltórios naturais ou artificiais, apimentado, curado, fermentado, maturado, dessecado por tempo indicado pelo processo de fabricação, defumado ou não. O produto poderá sofrer processo de dessecação rápida em estufas apropriadas até que a temperatura no centro do mesmo atinja 62ºC, mantendo-se as características de um produto maturado e dessecado. Apresenta como ingrediente obrigatório a páprica (pimentão vermelho picante), sendo permitida a adição de proteínas não-cárneas no teor máximo de 2%, na forma de proteína agregada. O produto deve ser designado (denominação de venda) de Salame, seguido ou não das expressões que caracterizem sua origem ou processo de obtenção. Por exemplo: Salame Tipo Italiano; Salame Tipo Italiano Fatiado; Salame de Ovino; Salaminho, etc. 6.2.2 Considerações sobre a maturação Na fabricação de salames a maturação ocorre em duas fases: 1) uma fase inicial em que ocorre a fermentação, com o desenvolvimento das características sensoriais do salame; e 2) uma fase final, em que acontece a desidratação, que reforça as propriedades de sabor e reduz a atividade da água. O processo fermentativo, que influencia diretamente cor, sabor, aroma, textura e vida útil do salame, inicialmente poderia ser resultado da ação dos microorganismos contaminantes dos açúcares, existentes na formulação com produção de ácido láctico. Entretanto, a qualidade desses salames não era uniforme pois dependia da flora contaminante. A partir de 1961, culturas puras de microrganismos (culturas iniciadoras ou culturas starters) úteis passaram a ser disponíveis, possibilitando, assim, a obtenção de salames com alta qualidade reproduzível nas diferentes partidas de fabricação (TERRA, 1998). Atualmente, são vários os microrganismos utilizados como culturas starters, como ilustrado na Tabela 5. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 111 Tabela 5 - Culturas starters para a fermentação cárnea Grupo Microrganismo Bactérias ácido-lácticas Pediococcus acidilactici Pediococcus pentosaceus Lactobacillus plantarum Lactobacillus sake Lactobacillus curvatus Lactobacillus pentosus Micrococcaceae Micrococcus varians Staphylococcus carnosus Staphylococcus xylosus Streptomycetes Streptomyces griseus Leveduras Debaromyces hansenii Cândida famata Fungos Penicillium nalgiovense Penicilliumcrysogenum Fonte: TERRA (2008). As culturas starters são comercializadas na forma liofilizada, que contam com mais de um microrganismo, pois cada microrganismo desempenha ações definidas, conforme descrito a seguir: Lactobacillus e pediococcus são essencialmente acidificantes, pois, a partir de açúcares produzem o ácido láctico. Essa acidificação impede o desenvolvimento das bactérias indesejáveis, melhora a coloração, acelera a desidratação e proporciona o sabor ácido típico, característico dos produtos cárneos fermentados (TERRA, 1998). As bactérias ácido- láticas podem conferir características sensoriais desejáveis, causando mudanças no sabor e textura, além de possuir um efeito preservativo, resultando no aumento da vida-de-prateleira do produto (ADAMS & NICOLARDES, 1997). O efeito de um pH baixo favorece a perda de umidade mais uniforme, sabor acidificado, cor avermelhada em função da reação de catalização de nitrito, resultando na estabilidade do produto. A acidificação contribui para a liga e o aumento da textura, permitindo boas características de fatiamento devido à coagulação das proteínas musculares (HAMMES et al., 1990). Micrococcus e staphylococcus atuam na coloração, sabor e aroma dos salames. Estas espécies são responsáveis pela formação de cor Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 112 nos salames, resultado da reação de redução de nitrato a nitrito, pela formação do ácido nitroso e óxido nítrico, os quais reagem com mioglobina (proteína sarcoplasmática da carne), originando a nitrosomioglobina (HAMMES et al., 1990). Além disso, estas bactérias produzem catalase que destrói o peróxido de hidrogênio, e este pode ser liberado no meio, devido à ação de lactyobacilus heterofermentadores. A permanência da água oxigenada no meio cárneo provoca o aparecimento da coloração verde, altamente indesejável. A melhoria do sabor e do aroma é conseguida pelo fato de possuírem enzimas proteolíticas e lipolíticas que, ao agirem sobre as proteínas e gorduras, geram peptídeos, aminoácidos e ácidos graxos (TERRA, 1998). Leveduras metabolizam o ácido láctico (que reduz a acidez do salame), e melhoram o sabor por possuírem enzimas proteolíticas e lipolíticas. Nesse caso, o sabor tende a ficar mais suave e o aroma mais intenso (TERRA, 1998). Fungos também atuam sobre o sabor dos salames devido ao seu conjunto enzimático, apesar de não serem adicionados na massa e, sim, aplicados sobre a tripa. Nessa localização, atuam regulando a rápida desidratação e dificultando a penetração do oxigênio na peça, consequentemente evitando a ocorrência dos indesejáveis processos oxidativos (TERRA et al., 1995). As características desejáveis na cultura láctica em carnes são: crescer em concentração de até 6% de NaCl; crescer em concentração de 100 ppm de nitrito; temperatura ideal de crescimento de 27 à 43°C com ótimo de 32°C; homofermentativos (produzir somente ácido láctico e biocinas); não ser proteolítico ou lipolítico; não produzir aminas ou sulfito (confere sabor desagradável); não prejudicar a saúde; não ser patogênico e nem produzir compostos tóxicos como parte de seu metabolismo (SCHIFFNER et al., 1978). As culturas starters são organismos vivos que necessitam de condições para que possam desempenhar corretamente a sua função, produzindo um produto cárneo fermentado de qualidade. Dessa forma, a temperatura de defumação não deve ultrapassar os 30oC e o toucinho utilizado não deve ter sofrido defumação, pois esta incorpora substâncias nocivas à cultura, inativando-a (TERRA, 1998). A quantidade de cultura a ser adicionada à massa cárnea também é importante, pois o número de microrganismos da cultura deve superar em dois ciclos logarítmicos o número de microrganismos contaminantes das carnes utilizadas como matéria-prima. Como número máximo de microrganismos mesófilos aeróbios (contagem total) aceitáveis na carne refrigerada é de 106 UFC/g, geralmente utiliza-se 108 UFC/g de microrganismos na cultura starter. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 113 6.2.3 Processamento As operações para elaboração dos produtos fermentados são apresentadas na Figura 24. Essas operações variam conforme o tipo de produto e a formulação. No Brasil, os fermentados produzidos em maior quantidade são os salames do tipo Italiano, Milano, Alemão e Salaminho. Figura 24 – Fluxograma dos processos de elaboração de salames. Para se elaborar salames secos, tanto a etapa de fermentação, como a etapa de secagem, devem ser cuidadosamente controladas. Equipamentos próprios e conhecimento profundo do processamento de embutidos são essenciais para produzir estes produtos, uma vez que toxinas de Staphylococcus aureus podem ser produzidas em condições de fermentação não-controladas. Assim, a produção de salames secos de forma artesanal não é prática recomendada. 6.2.3.1 MATÉRIA-PRIMA As matérias-primas destinadas ao processamento de produtos fermentados são carne bovina, suína e toucinho utilizadas nas proporções previstas nas formulações. Em relação à carne, são recomendadas na elaboração de salames carnes oriundas de animais velhos, pois estes apresentam menor quantidade de água nos tecidos e coloração mais acentuada. A carne utilizada na produção de fermentados deve apresentar um pH entre 5,4 e 5,8 e deve ser moída MOAGEM EMBUTIMENTO FERMENTAÇÃO SECAGEM Matérias-prima e ingredientes LAVAGEM PARAFINAÇÃO Maturação CURA 2ª MOAGEM 1ª MOAGEM Carnes e ingredientes Gorduras DEFUMAÇÃO Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 114 grosseiramente. A umidade das superfícies moídas deve ser baixa para evitar o desenvolvimento de bactérias indesejáveis, sendo mais comum o uso de carnes resfriadas para o processamento de embutidos fermentados. Quando se utiliza carne congelada é necessário que a mesma permaneça seca após o descongelamento. O toucinho deve ser proveniente da região costo-lombar, da metade da espessura do toucinho junto ao couro. As gorduras do ventre e da metade da gordura próximo ao corpo do suíno são as mais macias, pois apresentam uma quantidade maior de ácidos graxos de baixo ponto de fusão. No entanto, elas podem fundir durante o corte e rancificar devido à alta quantidade de ácidos graxos, insaturados livres. Outro defeito associado a gorduras macias, no fermentado, é a transpiração oleosa na superfície do produto durante o processamento e secagem (CANHOS e DIAS, 1983). Os salames podem ser adicionados de culturas iniciadoras (starters), como coadjuvantes de tecnologia, no intuito de permitir e caracterizar a etapa de maturação/fermentação. A adição de proteínas não cárneas em salames é apenas permitido no Pepperoni. 6.2.3.2 MOAGEM Normalmente a carne destinada a produtos embutidos fermentados sofre uma grosseira moagem, que não caracteriza um produto emulsionado. O processo de moagem deve ser feito em condições higiênicas para minimizar o problema de contaminação bacteriana, uma vez que a carne moída é mais susceptível e, quanto mais triturada, maior a distribuição destas bactérias indesejáveis, com consequente maior área superficial e substratos para o seu crescimento. Em virtude disto, os embutidos fermentados são mais sujeitos à alterações microbianas nos primeiros dias após o embutimento, sendo que a estabilidade é atingida durante a maturação, com a secagem e redução do pH. O processo de moagem deve ser feito com temperatura de trabalho inferior a 5°C, e pode ser conduzido de duas formas: Uma Fase - as carnes são moídas no cutter durante um tempo determinado, e a seguir adiciona-se a gordura. A massa é triturada até que se alcance a textura desejada. Junta-se, então, o sal e osdemais ingredientes; ou Duas Fases - a carne é moída e misturada ao sal, açúcar, condimentos e agentes de cura. É então mantida à temperatura de 2°C por um ou dois dias (cura), com o objetivo de iniciar o crescimento das bactérias láticas, sendo depois desse período levada ao cutter e feita a adição da gordura e trituração até atingir a textura desejada. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 115 O grau de moagem depende do tipo de produto. Por exemplo: o salame tipo Milano é um produto caracterizado por uma moagem fina de carne e toucinho. A moagem e a mistura de ingredientes são feitos somente no cutter; já o salame tipo Italiano possui uma estrutura mais grosseira, sendo o processo de moagem realizado em moedores comuns (carnes suínas em disco de 5 a 8 mm; carnes bovinas em discos de 3 a 5 mm; e toucinho picado, com facas, em cubos de 5 a 10 mm de lado). 6.2.3.3 EMBUTIMENTO O embutimento da massa é realizado em tripas naturais ou artificiais (colágeno ou celulose), que permitem as trocas necessárias com o meio. O diâmetro e o comprimento são peculiares às características que se pretende dar ao produto, sendo que quando se emprega tripas naturais, as bovinas são preferidas pelo fato de fornecerem um maior calibre e de constituírem uma tripa reta. Nesta etapa é desejável que se obtenha um embutido com massa compactada e sem ar, contribuindo para a obtenção de um produto final de boa consistência. 6.2.3.4 FERMENTAÇÃO Na maturação o processo fermentativo ocupa posição de destaque, pois se conduzido adequadamente contribui diretamente para o desenvolvimento da cor, da textura, do sabor e do aroma característicos do embutido, além de inibir bactérias deteriorantes e patógenos pela rápida redução do pH a valores menores que 5,3 nas primeiras 24 horas após o embutimento. Trata-se de um complexo fenômeno bioquímico, onde ocorrem diversos processos enzimáticos e as bactérias desempenham papel preponderante. A fermentação é a fase maior do processo de cura dos salames, pois é o momento em que ocorre a maioria das transformações físicas, bioquímicas e microbiológicas (BERIAIN et al., 1993). Estas são influenciadas pelas características da matéria-prima e do processo, presentes nas propriedades sensoriais do produto final (sabor, cor e textura), como também na conservabilidade e segurança do embutido fermentado (TERRA, 2003). Assim, os produtos embutidos são conduzidos a salas climatizadas, que permitem o controle da temperatura, da umidade relativa (UR) e da movimentação do ar, dando início à etapa de fermentação. Quando a moagem é conduzida por apenas uma fase, o processo de cura e fermentação do salame irá ocorrer simultaneamente nos primeiros dias de estocagem. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 116 De forma geral, esta etapa é conduzida por cerca de 48 horas em temperatura e umidade relativa elevadas (22-25ºC e 90-95% UR), sendo em seguida, realizado o processo de secagem em temperatura e umidade relativa mais baixas (16ºC; 75% UR) e por tempo necessário para se alcançar a umidade final desejada. Entretanto, dependendo do produto, a duração do processo de maturação pode levar até numa semana. No preparo de Salame Italiano, por exemplo, a umidade relativa inicial das salas é mantida em 95% nas primeiras 24 horas e, em seguida, reduzida gradativamente de 3 a 5% nos dias subsequentes, até cerca de 70-80%, o que demora mais ou menos 7 dias (Tabela 6). Neste período o produto consegue a acidificação necessária e atinge o ponto de desenvolvimento de cor satisfatório. Tabela 6 – Programação usada na sala climatizada durante a etapa de maturação Tempo UR (%) Temperatura (°C) Velocidade do ar (m/s) 1° dia 95 25 0,5 2° dia 93 24 0,5 3° dia 90 23 0,5 4° dia 85 22 0,5 5° dia 80 21 0,5 6° dia 75 20 0,5 7° dia 75 18 0,2 30° dia 75 18 0,2 Fonte: TERRA (2008). O desenvolvimento de fungos na superfície do produto durante a maturação é característico do processo tecnológico, sendo considerado conveniente para o desenvolvimento de um aroma especial. Dessa forma, pode-se utilizar a aplicação de culturas iniciadoras nos envoltórios do produto, o que permite a seleção de estirpes de ação benéfica, evitando-se a presença dos indesejáveis fungos produtores de toxinas. No entanto, caso seja de interesse evitar o desenvolvimento de fungos na superfície externa, pode-se fazer a imersão do salame em solução de 2,5% de sorbato de potássio. 6.2.3.5 DEFUMAÇÃO Quando desejado, o produto já curado e fermentado pode ser defumado antes de ser conduzido à etapa de secagem. Geralmente o produto é defumado um a dois dias após o início da maturação, sendo a defumação Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 117 conduzida por 18 a 24 horas em temperaturas entre 30 e 32ºC e umidade relativa de 70 a 75%. No Brasil, assim como em alguns países da Europa, não é hábito a realização da etapa de defumação em salames. Entretanto, os embutidos com tripas bovinas, devem ser defumados para evitar o desenvolvimento de limo na superfície. 6.2.3.6 SECAGEM A secagem é uma importante etapa final da maturação, uma vez que nela ocorre o desenvolvimento do aroma e estabilização da cor, associado à redução da atividade de água do produto, finalizando a sua preparação para o armazenamento. As fases de maturação e secagem acontecem nas salas climatizadas nas condições de temperatura entre 15 e 18oC e umidade relativa entre 75 e 80%, valores estes bem inferiores aos utilizados durante a fase de maturação. O produto também pode ser levado para salas maiores (salas de secagem) onde se trabalha com uma só umidade relativa e uma só temperatura pré- estabelecida. Estes parâmetros variam conforme o grau da moagem, diâmetro e tipo de tripa, e se o embutido foi ou não defumado. O controle da umidade relativa do ar (UR) é decisivo na maturação e, sobre tudo, na dessecação do produto, de forma a se garantir a sua desidratação uniforme, uma vez que velocidade do fluxo de água do interior do embutido para o meio ambiente é determinado pela diferença entre a umidade do produto e a umidade relativa do ambiente. Se esta diferença for demasiadamente alta, ocorre um dessecamento excessivo na superfície do produto, formando uma crosta seca que impede a saída de água do interior da massa cárnea. Isto ocasiona o defeito conhecido como anel de desidratação, onde o produto se apresenta uma camada externa, junto à tripa, com coloração mais intensa. Uma vez que a água permanece no interior do embutido, a atividade de água do produto permanece a níveis tais que permitam o crescimento microbiano, entre estes as bactérias láticas heterofermentativas. Devido à ação destas bactérias, o produto geralmente apresenta um sabor azedo e extremamente ácido (pH interno muito baixo quando comparado com o pH da crosta), além de um aroma de vinagre, conferido pelo ácido acético, e fendas (buracos) na massa, oriundas da formação de gás carbônico (RAMOS e FONTES, 2005). 6.2.3.7 LAVAGEM E PARAFINAÇÃO Atingindo a secagem desejada, o produto passa por uma fase de lavagem com água a 22°C, para a remoção de fungos que se desenvolve durante as fases de fermentação e secagem. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 118 Seguida a lavagem, procede-se a uma nova secagem (mais ou menos por 2 a 3 horas) em salas climatizadas, antes dos produtos fermentados serem revestidos externamente com uma camada protetora de vernizes especiais ou de parafina para assegurar integridade total, melhor qualidade, melhor aparência e maior durabilidade. O produto é então embalado a vácuo, em peças inteiras ou fatiado, e comercializado em temperatura ambiente.Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 119 6.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERLE, E.D., FORREST, J.C., GERRARD, D.E., MILLS, E.W. Principles of Meat Science. 4 ed. New York: Kendall/Hunt Publishing Company, 2001. 354p. AMERICAN MEAT INSTITUTE (AMI). Good Manufacturing Practices for Fermented Dry & Semi-Dry Sausage. Washington DC: American Meat Institute, 1997. ARNAU, J., GOU, P., COMAPOSADA, J. Dry-cured ham and fermented meat products: formulating for flavour. 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Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo Decreto nº 30.691, de 29-03-52, alterado pelos Decretos nºs 1.255 de 25- 06-62, 1.236 de 02-09-94, nº 1.812 de 08-02-96 e nº 2.244 de 04-06-97. Brasília, 1997. 154p. (RIISPOA) CANHOS, D., A., L.; DIAS. E., L. Tecnologia de Carne Bovina e Produtos Derivados. Fundação Tropical de Pesquisa e Tecnologia. São Paulo, 1983. 440p. FERNÁNDEZ-SALGUERO, J. Conservación de productos cárneos por aplicación de factores combinados: produtos españoles de humedade intermedia y alta. Revista Española de Ciencia y Tecnologia de Alimentos, v.35, n.3, p.233-246,1995. FREY, W. Fabricación fiable de embutidos: guia para el tecnico. Zaragoza: Acribia, 1983. 194p. HAMMES, W. P., BANTLEON, A.; MIN, S. Lactic Acid Bactéria in Meat Fermentation. In: FEMS Microbiologic Reviews 87, p.167-174, 1990. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 120 JAMES, S. Resfriamento de Produtos Cozidos. Revista Nacional da Carne. 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Os produtos cárneos enlatados com importância econômica são o Corned Beef (carne enlatada de bovino) e os produtos de salsicharia enlatados (patês e salsichas). Considerando os tratamentos de calor e a vida útil dos produtos cárneos, FARCHMIN (1967) e WIRTH et al. (1981) classificaram os alimentos conservados em: Conservas: alimentos contidos em recipientes inalteráveis, hermeticamente fechados, tratados em temperaturas superiores a 110°C com tempo de conservação de um ano, por exemplo, o Corned Beef. Semiconservas: alimentos contidos em recipientes inalteráveis e hermeticamente vedados, submetidos a um ou vários aquecimentos à temperatura de até 100°C. O tempo de conservação pode ser de 6 semanas até 6 meses. Um exemplo dessas conservas é o presunto enlatado. Preservas: produtos conservados por substâncias químicas, contidos em recipientes inalteráveis sem tratamento de calor (exemplo desse produto é o caviar). Além da necessidade de se preservar e estender a vida útil dos produtos cárneos, o tratamento térmico é muitas vezes conduzido simplesmente para se obter o cozimento do produto, necessário por questões de palatabilidade e aceitabilidade. Processos industriais adequados de cozimento de carnes destroem, efetivamente, toda forma vegetativa patogênica, vírus, parasitas e a maioria das formas vegetativas contaminantes. A completa destruição microbiana de um alimento ou produto significa dizer que toda flora microbiana, patogênica ou deterioradora, assim como enzimas, será inativada e o produto se apresentará estéril. No entanto, a esterilização de alimentos não é possível, devido à presença de esporos microbianos termorresistentes: seria necessário aquecer o alimento por um período muito longo para obter a condição estéril do alimento. Além disso, tratamento pelo calor por longos intervalos de tempo desencadeiam alterações nos alimentos que afetam negativamente suas características nutricionais e sensoriais (FONTES e RAMOS, 2008). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 124 Assim, o termo esterilização comercial é mais correto e refere-se a um tratamento térmico que inativa todos os microorganismos patogênicos e deterioradores que possam crescer sob condições normais de estocagem. Os alimentos comercialmente estéreispodem conter um pequeno número de esporos bacterianos termorresistentes, que não se multiplicam no alimento. A maior parte dos alimentos enlatados é comercialmente estéril, tendo uma vida útil de pelo menos dois anos. Mesmo após períodos mais longos de estocagem, sua deterioração, geralmente, ocorre devido a alterações não microbiológicas (MUCCIOLO, 1985; POTTER e HOTCKISS, 1995). 7.1 CORNED BEEF 7.1.1 Definição O artigo 393 do RIISPOA já definia “Carne Bovina em Conserva”, ou Corned Beef, como o produto obtido da carne desossada de bovino curada, fragmentada parcialmente, cozida, enlatada em vácuo, esterilizada e esfriada imediatamente. Este produto pode também ser elaborado pelo cozimento parcial após a fragmentação, adicionado dos agentes de cura necessários, enlatado, submetido à vácuo, esterilizado e rapidamente resfriado (BRASIL, 1997). Mais recentemente, a Instrução Normativa no. 83, de 21 de novembro de 2003, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) aprovou o “Regulamento técnico de identidade e qualidade de carne bovina em conserva (Corned Beef)”, definindo-o como um produto cárneo industrializado, obtido exclusivamente de carne bovina, curado, cozido, embalado hermeticamente, submetido à esterilização comercial e esfriado rapidamente. Trata-se de um produto acondicionado em recipiente hermeticamente fechado, termicamente processado e comercialmente estéril. Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 125 Ainda segundo o Regulamento, a carne bovina em conserva poderá ser obtida sem adição de agentes de cura atendendo as exigências comerciais e legislação específica desde que não comprometa a segurança alimentar do produto final. O produto será designado de Carne Bovina em Conserva (Corned Beef) ou apenas Corned Beef quando destinado ao mercado internacional. 7.1.2 Processamento As carnes utilizadas no preparo do Corned Beef são oriundas de dianteiro bovino ou provenientes de bovinos velhos, de acabamento de gordura reduzido, bovinos descartes, vacas de leite etc. São também empregados dianteiros e cortes excedentes do consumo in natura, retalhos de carnes da desossa (MUCCIOLO, 1985; PARDI et al., 1996). O produto deve conter mínimo de 55% de carne bovina, podendo ser adicionada em até 20% de carne mecanicamente separada (CMS) de bovinos, 15% de carne industrial (carnes da cabeça, da base da língua, do esôfago até 15%) e 5% de matérias-primas como tendões, gelatina e estômago (rúmen e retículo), isoladamente ou combinados entre si (BRASIL, 2003). As operações tecnológicas básicas para a elaboração do Corned Beef são apresentadas na Figura 25. Figura 25 – Fluxograma dos processos de elaboração de Corned Beef. PREPARO COZIMENTO MOAGEM CONDIMENTAÇÃO Ingredientes ENLATAMENTO EXAUSTÃO RECRAVAÇÃO ESTERILIZAÇÃO RESFRIAMENTO INCUBAÇÃO EMBALAGEM Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 126 7.1.2.1 MATÉRIA-PRIMA E COZIMENTO O preparo da matéria-prima envolve a retirada de coágulos, tecidos hemorrágicos, gânglios linfáticos, resíduos de ossos e cartilagens. Entretanto, a qualidade da matéria-prima está associada à higiene e condições das instalações, manejo e saúde dos funcionários (MUCCIOLO, 1985). As carnes, após a desossa, são picadas grosseiramente ou fatiadas e encaminhadas ao cozimento. A carne pode ser cozida por dois processos (PARDI et al., 1996): em certas embalagens metálicas, onde a carne é mergulhada em água à temperatura de 90 a 95°C e mantida nessa solução até perder 35% do peso (comparando ao peso inicial de cozimento); e, em cozinhadores contínuos, em que a carne é movimentada por um eixo tipo rosca-sem-fim, à temperatura de fervura de água, por períodos de 10 a 15 minutos, no máximo. O tempo de cozimento pode ser reduzido quando os pedaços de carnes são moídos finamente antes do cozimento. 7.1.2.2 MOAGEM E CONDIMENTAÇÃO Após o cozimento, a carne é moída com dois discos de furo ¾ ou ½ ou de acordo com a preferência. Em seguida passa por um processo de seleção onde são retiradas as porções cartilaginosas e gordurosas restantes. Os aditivos usados na elaboração do Corned Beef são: sal, açúcar e nitrito. Esses compostos são misturados em misturadeiras especiais e adicionados à carne cozida também em misturadores. Quando permitido, nessa fase são adicionadas emulsões de tecidos colagenosos, ágar-ágar ou gordura à carne cozida, juntamente com os ingredientes de cura (CANHOS e DIAS, 1983; PARDI et al., 1996). 7.1.2.3 ENLATAMENTO E EXAUSTÃO As latas que recebem o produto devem ser limpas mecanicamente (antes do enchimento), em posição invertida, onde deve ser usado ar, água quente ou vapor sob pressão adequada. Após, as latas devem ser suficientemente drenadas e secas (PARDI et al., 1996). O enchimento das latas é realizado mecanicamente com a ajuda de máquinas dosadeiras que permitem a distribuição correta da massa cárnea por lata e a permanência de um vácuo de 27 polegadas no espaço superior do recipiente (MUCCIOLO, 1985). Esse vácuo, obtido por exaustão, evita a Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 127 repleção do recipiente que prejudica a transmissão de calor na esterilização e impede a expansão e retração do conteúdo na esterilização e resfriamento (BRASIL, 1979). Durante o aquecimento, pode haver aumento de volume provocado pela dilatação térmica do material de enchimento devido ao seu conteúdo de água e gases nele contidos. Se não houver espaço livre, poderá haver estufamento (CANHOS e DIAS, 1983). O vácuo pode ser criado no interior da lata por sucção do ar na própria recravadeira, através do aquecimento imediato do produto, antes do fechamento da lata. O material aquecido é tapado imediatamente, ou introduzindo-se o material frio e fazendo-se, depois, a lata passar por uma câmara aquecida a vapor, imediatamente antes de ser fechada (para salsichas enlatadas). O outro sistema para a obtenção de vácuo (em produtos envasados em meio líquido) consiste na injeção de vapor na lata, estando a tampa colocada na posição adequada ao fechamento que deve ser realizado imediatamente (PARDI et al., 1996). Os objetivos da exaustão são (PARDI et al., 1996; MUCCIOLO, 1985): evitar a corrosão interna da lata, através da eliminação do oxigênio responsável pela oxidação que pode atingir o alimento; evitar o estiramento da lata decorrente da expansão do ar, durante o aquecimento na esterilização; reduzir o esforço mecânico, na qual é submetida a embalagem (tampa, fundos) durante a esterilização e as possíveis distorções e deformações do recipiente; impedir a presença e ação negativa do oxigênio sobre o produto, que age alterando a cor, sabor e consistência e oxidando as gorduras e vitaminas lipossolúveis; e favorecer a transferência de calor aos produtos sólidos no interior do recipiente. 7.1.2.4 RECRAVAÇÃO A recravação corresponde ao fechamento das latas e à conservação dos produtos enlatados. Esta etapa compõe-se de duas operações básicas: inicialmente, encurvamento da tampa flange do corpo da lata, seguido da compressão do material de recravação (Figura 26). Nessas operações, a pressão de recravação exercida e o consequente aumento da temperatura do metal permitem que o vedante se espalhe e preencha os espaços vazios existentes, fechando assim as regiões de vazamento do produto ou de entrada de ar, de modo a garantir a hermeticidade (PARDI et al., 1996). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 128 Figura 26 – Operações na etapa de recravação de latas. No processo de enlatamento asséptico, o equipamento realiza de modo simultâneo,as operações de exaustão de ar e de recravação ou fechamento dos recipientes. Existem atualmente vários métodos de processamento asséptico disponíveis no mercado que exigem as seguintes condições para o enlatamento asséptico: 1) equipamento esterilizável; 2) produto estéril; 3) recipientes e tampas estéreis; 4) capacidade de reunir produto estéril, recipientes e tampas estéreis em uma área de enchimento e fechamento estéril; e, 5) manuseio delicado do recipiente fechado em equipamento sem contaminação (PARDI et al., 1996). Após a recravação, as latas são lavadas rapidamente, para posterior esterilização. Essa lavagem visa apenas a limpeza das latas, evitando que sujem a autoclave. É importante verificar se a recravação foi perfeita, pois latas mal fechadas podem levar a uma contaminação posterior durante o tratamento térmico. Além disso, a temperatura durante a recravação e lavagem não pode ser menor que 60ºC (CANHOS e DIAS, 1983). 7.1.2.5 ESTERILIZAÇÃO COMERCIAL Na esterilização comercial o produto deve atingir a temperatura de 100ºC por tempo suficiente para destruir todas as enzimas, microrganismos e esporos patogênicos dos tecido cárneos. O tratamento de calor aplicado ao produto Corned Beef permite classificá-lo como produto cárneo do tipo conserva (apertizado) ou como conserva integral (MUCCIOLO, 1985). A esterilização comercial é realizada em autoclave, dotada de termômetro de mercúrio, termógrafo, manômetro e relógio que permitem o controle adequado da operação. As autoclaves podem ser do tipo estacionária convencional, em que os recipientes são mantidos em posição fixa e a transmissão do calor ocorre por condução ou então os recipientes 1ª OPERAÇÃO 2ª OPERAÇÃO Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 129 movimentam-se durante o processamento, sendo que nesse processo a transferência de calor ocorre por convecção. Em relação ao tempo de processamento, as latas autoclavadas em movimento são esterilizadas mais rapidamente do que no processo onde os recipientes são mantidos fixos (PARDI et al., 1996). A operação de autoclavagem tem como meio de transferência de calor o vapor saturado que, simultaneamente, desenvolve a pressão que permite o controle das temperaturas altas e evita o abaulamento dos envases causados pela expansão térmica do alimento (PARDI et al., 1996). Na esterilização, a morte celular dos microrganismos é causada pela desnaturação de determinadas proteínas vitais para a sobrevivência dos mesmos. Do ponto de vista bacteriológico, uma célula é considerada morta quando perde sua capacidade reprodutiva. Entretanto, é possível que haja uma perda transitória dessa capacidade reprodutiva; nesse caso não é considerado como morte celular (PRÄNDL et al., 1994). O calor, durante a esterilização, não produz a morte simultânea de todos os microrganismos de uma mesma espécie, mas pode estabelecer números de mortalidades ao longo do tempo, que correspondam a uma curva no espaço bidimensional. A curva de destruição das células microbianas por um aquecimento úmido tem um desenvolvimento exponencial (sequência logarítmica de destruição). Temperaturas letais são aquelas temperaturas que reduzem exponencialmente as quantidades de microrganismos. Relacionando o logaritmo da quantidade de microrganismos com o tempo de exposição a uma determinada temperatura letal, resulta numa curva de supervivência e o valor D (ou tempo de redução decimal) significa o tempo necessário para reduzir-se uma potência decimal no número de microrganismos a uma temperatura letal determinada. Em condições industriais, latas redondas de 375 a 750 mL, submetidas a temperaturas de 115ºC, necessitam de tempos de 120 ou 150 minutos, respectivamente (CANHOS e DIAS, 1983). As latas devem ser invertidas quando saem da esterilização, permitindo que gorduras migrem e se obtenha grande regularidade na distribuição da mesma 7.1.2.6 RESFRIAMENTO Após a esterilização, as conservas são imediatamente resfriadas a temperaturas entre 33 a 44ºC no interior dos recipientes. Esse resfriamento ocorre pela introdução de água na câmara de esterilização ou as latas são introduzidas na água no caso de esterilização contínua (MUCCIOLO, 1985). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 130 A redução da temperatura das latas após a esterilização tem vários objetivos (GIRARDE e VALIN, 1991): destruir os agentes termófilos que sobrevivem à esterilização, mas sucumbem com as variações severas de temperatura; reduzir a temperatura do produto para diminuir o tempo de cozimento (sobreaquecimento) e as possíveis alterações nas características sensoriais; à temperaturas em torno de 40°C, a umidade da lata é evaporada e, com isso, um dos fatores desencadeantes da corrosão externa do recipiente é retirado; e, reduzir a pressão interna no recipiente, através da redução da temperatura do produto, pois pode ocorrer a dilatação excessiva da embalagem, seguido do abaulamento permanente da lata (embora o produto apresente um volume normal, o recipiente mostra um volume maior). No resfriamento da conserva, há retração do produto e uma sucção que pode ocasionar a infiltração de água no interior do recipiente com risco de contaminação. Dessa forma, a água utilizada para o esfriamento das conservas deve ser potável e clorada (0,5 ppm de cloro residual) (PARDI et al., 1996). Após o resfriamento das latas é necessária a secagem das mesmas para previnir a deterioração pós-processamento. 7.1.2.7 INCUBAÇÃO A operação de incubação significa submeter os alimentos envasados (hermeticamente fechados) a temperaturas de 37ºC (ou outra temperatura pré- determinada) por tempos pré-estabelecidos, seguido da coleta de amostra. O número de unidades (latas) a serem incubadas dependem do plano de amostragem adotado pela indústria e pelo inspetor local. Entretanto, o percentual estipulado deve ser recolhido de cada autoclave (batelada). O artigo 386 do RIISPOA (BRASIL, 1997) prevê a incubação de, no mínimo, 1% de produtos de todas as partidas elaboradas, por 10 dias à temperatura de 37ºC. Seguido do período de incubação, os testes de qualidade realizados são: estado e condições do recipiente, presença de bombeamento, prova de percussão, perfuração, análise sensorial (cheiro, sabor e coloração), fragmentação, exame microbiológico e químico (BRASIL, 1952). Os objetivos da prova de incubação são fornecer informações sobre a eficiência das operações de enlatamento e esterilização, avaliar a extensão de problemas de estufamento e analisar o comportamento de novas mudanças nas operações de envase sobre o produto final (PARDI et al., 1996). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 131 7.1.2.8 ROTULAGEM, EMBALAGEM E EXPEDIÇÃO As normas para rotulagem de alimentos embalados são descritas no Regulamento Técnico para a Rotulagem de Alimentos Embalados (BRASIL, 1997). No caso de conservas, as latas devem ser protegidas externamente através do uso de vernizes especiais que evitam a ferrugem. As unidades envasadas são acondicionadas em caixas de papel corrugado (papelão) de forma a evitar o roçamento e atrito entre latas durante o transporte e a distribuição (PARDI et al., 1996). Conservação e Industrialização de Produtos Cárneos 132 7.2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos. Portaria n.º 371, de 04/09/97. Brasília: Ministério da Agricultura o do Abastecimento, 1997. BRASIL. Governo do Estado de São Paulo. Secretaria da Agricultura. Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Alimentos Enlatados: Princípios de Controle de Processamento Térmico e Avaliação do Fechamento de Recipientes.Campinas; Instituto de Tecnologia de Alimentos, 1979. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Instrução Normativa no 83, de 21 de novembro de 2003. 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