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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Juliana Régio e Silva TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS CURITIBA 2011 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS Curitiba 2011 Juliana Régio e Silva TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Médica Veterinária. Orientador: Professor Dr. José Maurício França Supervisor: Engenheiro de Alimentos Roberto Juliatto CURITIBA 2011 TERMO DE APROVAÇÃO Juliana Régio e Silva TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TÉCNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médico Veterinário no curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 28 de Novembro de 2011 __________________________________ Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná Prof.ª Dra. Maria Aparecida de Alcântara Universidade Tuiuti do Paraná Prof.ª Dra. Anderlise Borsoi Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: Prof. Dr. José Maurício França Universidade Tuiuti do Paraná Curitiba 2011 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre presente iluminando meu caminho, guiando minhas escolhas e me dando forças para superar as dificuldades. A minha mãe Ana Cristina pela confiança e amor em mim depositados. Aos meus irmãos amados, Maria Claudia e Luis Gustavo, pela cumplicidade, amizade e amor, mesmo em tempos difíceis. Ao Daniel Idel pelo amor, companheirismo e confiança. As grandes amigas Amanda, Bruna, Caroline, Dafne, Dharyemne, por estarem sempre presentes nos bons e maus momentos. Sem vocês a vida não teria a mesma graça. Aos meus avós Maria e Rui pelo imenso amor e incentivo. A minha amiga e companheira de classe Janaína, pela amizade, compreensão e pelo companheirismo durante toda esta caminhada. Ao Professor Dr. Wellington Hartmann, pela amizade e disposição em ajudar. Seu auxílio foi indispensável para a escolha de um bom estágio. Ao meu orientador Professor Dr. José Maurício França pela amizade, dedicação e por toda a confiança em mim depositada. Ao Frigorífico Juliatto pela oportunidade dada. Foi uma honra poder trabalhar com vocês. Em especial à Marina e ao Leonardo, que foram além de companheiros de trabalho, grandes amigos, conselheiros e “professores”. Muito obrigada a todos que, de alguma forma, contribuíram com a minha formação. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. I LISTA DE TABELAS................................................................................................. II LISTA DE SIGLAS................................................................................................... III RESUMO................................................................................................................... IV APRESENTAÇÃO..................................................................................................... V 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 01 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO..................................................... 04 3 REVISÃO DA LITERATURA......................................................................... 06 3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR............................................................................ 06 3.2 BPF...................................................................................................................... 09 3.3 PPHO E POP....................................................................................................... 10 3.4 APPCC................................................................................................................. 12 3.5 CODEX ALIMENTARIUS................................................................................. 13 3.6 PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS............................................................ 14 3.7 QUALIDADE DOS PRODUTOS EMBUTIDOS.............................................. 16 3.7.1 Microbiologia.................................................................................................... 16 3.7.2 Matéria-prima.................................................................................................... 22 3.7.3 Aditivos............................................................................................................. 24 4 PROCESSOS DE PRODUÇÃO....................................................................... 29 4.1 RECEPÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA................................................................. 29 4.2 DESOSSA............................................................................................................ 30 4.3 PREPARO DE MASSAS.................................................................................... 31 4.3.1 Triturador........................................................................................................... 31 4.3.2 Moedor.............................................................................................................. 32 4.3.3 Misturadeira....................................................................................................... 33 4.3.4 Emulsificador..................................................................................................... 34 4.3.5 Cutter................................................................................................................. 35 4.3.6 Embutideira....................................................................................................... 36 4.4 CURA.................................................................................................................. 37 4.4.1 Injetora............................................................................................................... 38 4.4.2 Tambler.............................................................................................................. 39 4.5 MATURAÇÃO.................................................................................................... 39 4.6 ESTUFAS E FUMEIROS................................................................................... 41 4.7 CHUVEIRO DE ASPERSÃO............................................................................. 43 4.8 SISTEMA DE EMBALAGENS.......................................................................... 44 4.8.1 Embalagem primária.......................................................................................... 44 4.8.2 Embalagem secundária...................................................................................... 46 5 PRODUTOS CÁRNEOS................................................................................... 48 5.1 LINGUIÇA TC.................................................................................................... 48 5.2 COPA................................................................................................................... 49 5.3 LINGUIÇA TIPO CALABRESA....................................................................... 50 5.4 SALAME MILANO............................................................................................52 6 PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE (MAPA)......................................... 54 6.1 MANUTENÇÃO DAS INSTALAÇÕES ........................................................... 55 6.2 MANUTENÇÃO DOS EQUIPAMENTOS ....................................................... 56 6.3 VESTIÁRIOS, SANITÁRIOS E BARREIRAS SANITÁRIAS......................... 57 6.4 ILUMINAÇÃO.................................................................................................... 59 6.5 VENTILAÇÃO.................................................................................................... 61 6.6 ÁGUAS DE ABASTECIMENTO...................................................................... 62 6.7 ÁGUAS RESIDUAIS.......................................................................................... 63 6.8 CONTROLE DE PRAGAS................................................................................. 64 6.9 HIGIENE, HÁBITOS HIGIÊNICOS E SAÚDE DOS FUNCIONÁRIOS........ 67 6.10 LIMPEZA E SANITIZAÇÃO (PPHO) ............................................................ 69 6.11 PROCEDIMENTOS SANITÁRIOS OPERACIONAIS.................................. 70 6.12 CONTROLE DO RECEBIMENTO DE INGREDIENTES E MATERIAL DE EMBALAGENS.................................................................................................. 72 6.13 CONTROLE DE RECEBIMENTO DE MATÉRIA-PRIMA.......................... 74 6.14 CONTROLE DE TEMPERATURAS ............................................................ 76 6.15 CALIBRAÇÃO E AFERIÇÃO DE INSTRUMENTOS DE CONTROLE DE PROCESSO......................................................................................................... 77 6.16 RESULTADOS LABORATORIAIS (MICROBIOLÓGICOS E FÍSICO- QUÍMICOS)........................................................................................................ 79 6.17 AVALIAÇÃO DO APPCC............................................................................... 80 7 HACCP............................................................................................................... 81 8 METODOLOGIA.............................................................................................. 84 8.1 MONITORAMENTOS....................................................................................... 84 8.1.1 Instrução para análise de cloro residual livre.................................................... 84 8.1.2 Instrução para análise de Ph.............................................................................. 85 8.2 ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO DE APPCC............................................. 86 8.3 RENDIMENTO................................................................................................... 87 8.4 PROCEDIMENTO PADRÃO DE HIGIENE OPERACIONAL........................ 87 8.5 FICHAS TÉCNICAS DE PRODUTOS.............................................................. 87 8.6 ATENDIMENTO AOS CLIENTES (DÚVIDAS, RECLAMAÇÕES, SUGESTÕES)..................................................................................................... 88 8.7 TREINAMENTO DE FUNCIONÁRIOS NOVOS............................................. 89 9 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................................. 90 10 CONCLUSÕES.................................................................................................. 96 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 98 12 ANEXOS............................................................................................................104 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – VISTA AÉREA DO FRIGORÍFICO JULIATTO............................... 05 FIGURA 02 – CÂMARA DE RECEPÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA......................... 30 FIGURA 03 – CORTES DE CARCAÇAS SUÍNAS.................................................. 31 FIGURA 04 – CMS CONGELADA, APÓS PASSAR POR PROCESSO DE TRITURAÇÃO............................................................................................................ 32 FIGURA 05 – MISTURADEIRA EM FUNCIONAMENTO..................................... 33 FIGURA 06 – MASSA NA DESCARGA DO EMULSIFICADOR........................... 35 FIGURA 07 – MASSA NO CUTTER......................................................................... 36 FIGURA 08 – INJETORA........................................................................................... 39 FIGURA 09 – COPA NO ESTÁGIO INICIAL E FINAL DO PROCESSO DE MATURAÇÃO............................................................................................................ 41 FIGURA 10 – COPA NO FUMEIRO.......................................................................... 43 FIGURA 11 – CHUVEIRO DE ASPERSÃO.............................................................. 44 FIGURA 12 – EMBALAGEM DE SALAME ITALIANO NA SELADORA À VÁCUO........................................................................................................................ 45 FIGURA 13 – SALAME ITALIANO APÓS PASSAR POR SELADORA A VÁCUO ...................................................................................................................................... 45 FIGURA 14 – MÁQUINA TERMO FORMADORA DE EMBALAGENS A VÁCUO ...................................................................................................................................... 46 FIGURA 15 – PRODUTOS NA CÂMARA DE ESTOCAGEM DE PRODUTOS ACABADOS APÓS EMBALAGEM SECUNDÁRIA............................................... 47 FIGURA 16 – LINGUIÇA TC..................................................................................... 49 FIGURA 17 – COPA APÓS 36 HORAS NO FUMEIRO........................................... 50 FIGURA 18 – LINGUIÇA TIPO CALABRESA SENDO EMBALADA EM MÁQUINA TERMO FORMADORA DE EMBALAGENS...................................... 51 FIGURA 19 – SALAME MILANO NO FINAL DO PROCESSO DE MATURAÇÃO ...................................................................................................................................... 53 LISTA DE TABELAS TABELA 01 – GÊNERO DE BACTÉRIAS E FUNGOS MAIS FREQUENTEMENTE ENCONTRADOS EM CARNES PROCESSADAS............. 19 TABELA 02 – PADRÕES MICROBIOLÓGICOS SANITÁRIOS PARA ALIMENTOS – CARNES E PRODUTOS CÁRNEOS.............................................. 20 TABELA 03 – OS PRINCIPAIS COMPONENTES DA FUMAÇA.......................... 42 TABELA 04 – QUEBRA DE PESO – CÂMARA FRIA............................................ 90 TABELA 05 – QUEBRA DE PESO – COZIMENTO................................................ 91 TABELA 06 – RECLAMAÇÕES/DEVOLUÇÕES EM UM INTERVALO DE DOIS MESES......................................................................................................................... 92 TABELA 07 – NÚMERO DE NÃO-CONFORMIDADES NOS PROCEDIMENTOS DE AUTOCONTROLE............................................................................................... 93 LISTA DE SIGLAS AIN Aroma Idêntico ao Natural ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária APC Contagem Aeróbia em Placas APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle BPF Boas Práticas de Fabricação CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CMS Carne Mecanicamente Separada CNAN Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição CNNPA Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional DTA Doenças Transmitidas por Alimentos FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations FDA Food and Drug Administration HACCP Hazard Analysis and Critical ControlPoint IDA Ingestão Diária Aceitável ISO International Organization for Standardization MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MRA Avaliação de Riscos Microbiológicos MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial de Saúde POP Procedimento Operacional Padronizado PPHO Procedimento Padrão de Higiene Operacional ppm Partes por milhão SAN Segurança Alimentar e Nutricional SIF Sistema de Inspeção Federal TQM Gerenciamento da Qualidade Total UFC Unidades Formadoras de Colônia WHO World Health Organization RESUMO O Estágio de Conclusão de Curso realizado no Frigorífico Juliatto, localizado em São José dos Pinhas/Paraná, no setor de controle de qualidade, no período de Agosto a Novembro, teve como objetivo implementar os princípios de HACCP no frigorífico; aprender técnicas de produção de produtos cárneos processados; desenvolver programas de qualidade; analisar resultados dos programas; elaborar ações preventivas e corretivas e compreender a legislação relacionada com a produção de alimentos. A Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle das linguiças frescais foi realizada no ambiente de fábrica. Os processos de cura, emulsificação, maturação de fermentados, envase a vácuo foram vivenciados e seus controles executados. A compreensão, aplicação e verificação dos Programas de Autocontrole foram executadas, com a avaliação da eficácia das ações corretivas e preventivas necessárias para o cumprimento da legislação. Palavra-chave: Controle de Qualidade; HACCP; Procedimentos de Autocontrole. APRESENTAÇÃO O trabalho teve como objetivo descrever as atividades realizadas durante o Estágio Curricular no setor de controle de qualidade do Frigorífico Juliatto localizado em São José dos Pinhais – Paraná. O estágio foi realizado no período de 01 de Agosto a 30 de Novembro com carga horária de 360 horas, tendo como supervisor profissional o Engenheiro de Alimentos Roberto Juliatto, e como orientador acadêmico o Médico Veterinário Professor Doutor José Maurício França. O estágio teve como objetivo geral a aplicação das técnicas de garantia de qualidade na produção de embutidos do Frigorífico Juliatto. Os objetivos específicos foram o desenvolvimento de metodologia para implantação do sistema HACCP no frigorífico, a aplicação de técnicas de monitoramento e verificação na produção de embutidos, a aplicação de ações preventivas e corretivas, o acompanhamento de técnicas de produção, possibilitando uma maior vivência neste setor e a compreensão da legislação vigente. 1 1 INTRODUÇÃO Há alguns anos a preocupação das empresas era produzir em larga escala para suprir a demanda do mercado consumidor. Com o passar do tempo estes consumidores passaram a se tornar cada vez mais exigentes em relação à qualidade e praticidade, o que forçou as empresas a se adaptarem a esta nova realidade (ARAÚJO et al., 2010). Diante disto surgiu a ideia de que um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo às necessidades do cliente (ARAÚJO et al., 2010). Na indústria de alimentos os atributos de qualidade da carne foram então classificados em qualidades visuais e gustativas, qualidade nutricional e segurança alimentar. A qualidade visual e a gustativa são influenciadas por fatores ante mortem, ou intrínsecos, que são os fatores vinculados ao genótipo dos animais e às condições ambientais em que se desenvolvem; e os post mortem, ou extrínsecos, que são os procedimentos técnicos adotados pelos matadouros-frigoríficos e demais segmentos, até o consumidor final (FELÍCIO, 1997). Já a segurança alimentar e nutricional é a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as características culturais de cada povo, manifestadas no ato de se alimentar (MALUF et al., 2000). Embora a fome e a desnutrição sejam as manifestações mais cruéis da situação de insegurança alimentar, e a incapacidade de acesso aos alimentos a sua principal causa, o aspecto da qualidade do alimento e sua sanidade também possuem elevado 2 grau de importância para que a alimentação se torne segura. Ou seja, todos devem ter acesso a alimentos de boa qualidade nutricional e que sejam isentos de componentes químicos que possam prejudicar a saúde humana. Estes dois elementos são de maior importância em um contexto atual que favorece o desbalanceamento nutricional das dietas alimentares, bem como o envenenamento dos alimentos, em nome de uma maior produtividade ou com a utilização de tecnologias cujos efeitos sobre a saúde humana permanecem desconhecidos (MALUF et al., 2000). A busca por alimentos seguros e de rápido preparo fazem parte do estilo de vida da população atual, o que explica o crescimento explosivo no consumo dos produtos embutidos. Segundo Levy-Costa et al. (2005), desde os anos 70 até a atualidade o consumo per capta desta classe de alimentos teve um aumento de aproximadamente 300%. Os embutidos cárneos são definidos como produtos constituídos a base de carne picada e condimentada com forma geralmente simétrica. São embutidos sob pressão em um recipiente ou envoltório de origem orgânica ou inorgânica aprovado para este fim (ROÇA, 2000). Dependendo do produto, é procedida a escolha do tipo de tecido, da qualidade, do estado e da espécie ou espécies animais a serem empregados. Nos produtos cárneos preparados, empregam-se matérias primas de diversas espécies animais, como aves, bovinos e suínos em especial (PARDI et al., 1996). O Brasil é o maior produtor de carne bovina e de aves do mundo e o quarto maior produtor de carne suína. Considerando a produção brasileira de carnes (bovina, suína e de aves) em 2010, estimada em 24,5 milhões de toneladas, temos que 75% 3 dessa produção é consumida internamente no país. Essa alta capacidade de produção se dá por investimentos em técnicas agronômicas e nutricionais, aliado aos investimentos em genética, automação dos sistemas de produção, uso de alimentação controlada e manejo adequado, permitindo assim uma produção em maior quantidade e qualidade (MAPA, 2011). Com o intenso crescimento da produção de carnes e derivados, as empresas de alimentos vêm tendo que investir cada vez mais no controle de qualidade de produção para conciliar o aumento de produção com uma elevada segurança alimentar, tendo como consequência um aumento da credibilidade das empresas e fidelidade dos clientes. 4 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO O Frigorífico Juliatto foi fundado no ano de 1967 por Ulisses Juliatto Filho, descendente de italianos, como uma pequena fábrica de linguiças em São José dos Pinhais – Paraná, uma cidade que ao longo dos anos apresentou enorme crescimento industrial. De pequeno, com produção limitada e poucos funcionários, o frigorífico Juliatto evoluiu para uma marca representativa no segmento de derivados suínos no Paraná. No ano de 2011 a empresa conta com a participação de 160 funcionários e produz 166 produtos diferentes. Nos últimos anos foram feitos muitos investimentos em instalações, recursos humanos, tecnologias e aquisição de frota própria, o que permitiu uma maior difusão no mercado e competitividade, fazendo com que seu pequeno comércio regional crescesse para quase todo o estado do Paraná, cidades deSão Paulo e Rio de Janeiro. A empresa trabalha dentro de rígidos padrões de qualidade seguindo as normas do Sistema de Inspeção Federal que determina, entre outras coisas, a higienização total de processo. Esta preocupação é estendida aos funcionários, a maioria da própria região, através de intenso treinamento sobre higiene pessoal e manipulação adequada de alimentos, objetivando em uma maior qualidade de produção. Uma das dificuldades encontrada pela empresa é a grande rotatividade de funcionários devido ao ambiente desfavorável (frio e umidade) que este tipo de serviço 5 exige. Cerca de 39% dos funcionários novos não chegam a passar do período de experiência. É contratada mensalmente uma média de 15 novos funcionários e o número de demissões e desistência é de aproximadamente 10 funcionários ao mês. De acordo com o chefe de produção da empresa, para se conseguir um funcionário para um cargo é necessário se contratar em média quatro. FIGURA 01 – VISTA AÉREA DO FRIGORÍFICO JULIATTO Fonte: Foto obtida do site do Frigorífico Juliatto (www.juliatto.com.br) 6 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR O termo "Segurança Alimentar" começou a ser utilizado após o fim da Primeira Guerra Mundial, quando se tornou claro, sobretudo na Europa, que um país poderia dominar o outro controlando seu fornecimento de alimentos (MALUF et al., 2000). A ideia de que a questão alimentar estava estritamente ligada à capacidade de produção manteve-se até a década de setenta. Na 1ª. Conferência Mundial de Segurança Alimentar, promovida pela FAO em 1974, quando a produção agrícola estava em crise, era dominante a ideia de que a Segurança Alimentar estava quase que exclusivamente ligada à produção agrícola, o que fez fortalecer o argumento da indústria química na defesa da Revolução Verde e no emprego maciço de insumos químicos (fertilizantes e agrotóxicos). Tempos depois a produção agrícola mundial se recuperou e mesmo com isso, a fome e a desnutrição não foram extintas, fazendo com que surgisse um novo conceito, muito mais amplo, de que Segurança Alimentar e Nutricional seria a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as características culturais de cada povo, manifestadas no ato de se alimentar. Esta condição não pode comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o sistema alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis (MALUF et al., 2000). 7 A utilização do conceito atual de segurança alimentar dá origem a diferentes interpretações. Países ricos, grandes produtores agrícolas, costumam alegar motivos de segurança alimentar para impor barreiras às importações e elevar artificialmente os preços dos alimentos. Países pobres, governados por líderes populistas, utilizam-se desse conceito para tabelar preços e impor pesadas perdas aos produtores agrícolas com o fim de contentar os seus eleitores. Da mesma maneira, a segurança alimentar é invocada por interesses particulares para promover a destruição do meio ambiente ou mesmo a destruição dos hábitos culturais de um povo. Enfim, não há como ignorar a importância das políticas de segurança alimentar como mobilizadoras das forças produtivas (BELIK, 2003). A segurança alimentar é um desafio atual e visa à oferta de alimentos livres de agentes que podem por em risco a saúde do consumidor. Assim, a fiscalização da qualidade dos alimentos deve ser feita não só no produto final, mas em todas as etapas de produção, desde o abate ou colheita, passando pelo transporte, armazenamento e processamento, até a distribuição final ao consumidor (VALENTE e PASSOS, 1994). No Brasil, a proposta de um Sistema e de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional teve origem em dois eventos ocorridos em meados da década de 1980, um mais técnico e outro político. Primeiro, a elaboração do documento: Segurança Alimentar – proposta de uma política de combate à fome no âmbito do Ministério da Agricultura, em 1985, que deu mais ênfase às dimensões social e econômica. Segundo, a mobilização da sociedade civil, que levou à realização da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição (CNAN), em 1986, cujas 8 proposições levaram, entre outras, à introdução do qualificativo nutricional à noção de segurança alimentar (CONSEA, 2009). Em 1991, no Brasil, divulgou-se a proposta de uma Política Nacional de Segurança Alimentar elaborada pelo “Governo Paralelo”, com um impacto inicial restrito. Porém, ao ser aceita no início de 1993 pelo Governo Itamar Franco como uma das fundamentações para a instalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), contribuiu para a definitiva introdução da questão agroalimentar e da fome como temas prioritários na agenda política nacional (MALUF et al., 1996). A primeira experiência de CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) teve a duração de dois anos, em 1993 e 1994, sendo interrompida em 1995 e retomada em 2003. O primeiro CONSEA, instituído naquele período, além de atuar junto ao governo federal, realizou a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar em Brasília, em 1994, com amplo apoio das organizações da sociedade civil e quase dois mil participantes vindos de todo país. A interrupção da curta experiência em nível federal, em 1995, não impediu que vários governos municipais e estaduais passassem a incorporar a referência de SAN entre suas ações. Já a CNAN (Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição) antecipou a proposição de instituir um Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, com desdobramentos nas esferas estadual e municipal, que veio a se materializar apenas duas décadas depois (CONSEA, 2009). A criação do Código de Defesa do Consumidor em 1990, e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1999, também contribuíram para um avanço considerável na qualidade dos alimentos e na proteção da saúde dos 9 consumidores. O Código de Defesa ao consumidor determina a total responsabilidade do produtor por danos aos consumidores e ao meio ambiente. Já a ANVISA foi criada para proteger e promover a saúde pública e garantir a segurança dos produtos e serviços (DE WAAL e ROBERT, 2005). Várias ferramentas de gestão da qualidade têm sido criadas e utilizadas na expectativa de atender a quesitos de idoneidade em respeito ao consumidor, para oferecer um produto seguro e, ao mesmo tempo, contemplar as exigências de comercialização, principalmente as de exportação, nas quais os critérios são bem mais rigorosos. Além destes pontos há também a diminuição de custos, gerada pela redução de perdas e otimização da produção, dentre outros benefícios (RIBEIRO-FURTINI e ABREU, 2004). Das ferramentas disponíveis podemos citar as BPF (Boas Práticas de Fabricação), PPHO (Procedimentos Padrão de Higiene Operacional), MRA (Avaliação de Riscos Microbiológicos), Gerenciamento da Qualidade (Série ISO), TQM (Gerenciamento da Qualidade Total) e o Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) (RIBEIRO-FURTINI e ABREU, 2004). 3.2 BPF Boas Práticas de Fabricação (BPF) são normas de procedimentos para atingir um determinado padrão de identidade e qualidade de um produto e/ou de um serviço na área de alimentos, cuja eficácia e efetividade devem ser avaliadas através da inspeção e/ou da investigação. Aqui incluem-se também produtos tais como: as 10 bebidas, aditivos,embalagens, utensílios e materiais em contato com alimentos (BRASIL, 1993). Consiste na apresentação de informações referentes aos seguintes aspectos básicos: Padrão de Identidade e Qualidade – PIQ; Condições Ambientais; Instalações e Saneamento; Equipamentos e Utensílios; Recursos Humanos; Tecnologia Empregada; Controle de Qualidade; Garantia de Qualidade; Armazenagem; Transporte; Informações ao Consumidor; Exposição/ Comercialização; Desinfecção/desinfestação (BRASIL, 1993). A Portaria 368, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), aborda especificamente as BPF aprovando o Regulamento Técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de Boas Práticas para estabelecimentos de industrialização de alimentos, onde são estabelecidos os requisitos essenciais de higiene para alimentos destinados ao consumo humano (BRASIL, 1997a). O Manual de Boas Práticas de Fabricação é exigida, aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos, pela Portaria 326 de 1997 da Secretaria de Vigilância Sanitária (Anvisa) ligada ao MS. A mesma portaria sugere os PPHO para que estes facilitem e padronizem a montagem do manual de BPF (BRASIL, 1997b). 3.3 PPHO E POP Os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional – PPHO – representam um programa escrito, a ser desenvolvido, implantado e monitorado pelos estabelecimentos 11 e envolvem os procedimentos pré-operacionais e operacionais executados diariamente (MAPA, 1997). Os Procedimentos pré-operacionais devem fazer referência aos procedimentos de limpeza e sanitização das instalações, equipamentos e instrumentos industriais; frequência com que estes procedimentos serão executados (no mínimo diariamente); as substâncias detergentes e sanificantes utilizadas, com as respectivas concentrações; as formas de monitoramento e as respectivas frequências; os modelos dos formulários de registros desta última atividade (monitoramento); as medidas corretivas a serem aplicadas no caso da constatação de desvios dos procedimentos (MAPA, 1997). Os Procedimentos operacionais devem contemplar a descrição de todas as etapas dos processos de obtenção, transformação e estocagem dos produtos de origem animal executados pelas indústrias; a identificação de eventuais perigos biológicos, químicos ou físicos, decorrentes destas operações; os limites aceitáveis para cada perigo identificado; as medidas de controle que previam a materialização destes perigos; as medidas corretivas no caso de identificação de desvios; o estabelecimento da forma e a frequência do monitoramento; os formulários de registro das atividades de monitoramento. Também fazem parte dos Procedimentos Operacionais, todas as medidas educativas e eventos adotados pelos estabelecimentos, principalmente, visando aqueles pontos que não devem deixar de ser inseridos no programa (MAPA, 1997). Os PPHO, preconizados pelo FDA (Food and Drug Administration), constituíam até outubro de 2002 a referência para o controle de procedimentos de higiene, até que em 21/10/02 a resolução de nº 275 da ANVISA (MS) criou e instituiu 12 aqui no Brasil os POP (Procedimentos Operacionais Padronizados) que vão um pouco além do controle da higiene, porém, não descaracterizam os PPHO, que continuam sendo recomendados pelo MAPA, inclusive na Resolução nº10 de 22/05/2003 (MAPA) que institui o programa PPHO a ser utilizado nos estabelecimentos de leite e derivados que funcionam sob regime de Inspeção Federal, como etapa preliminar de programas de qualidade como o APPCC. Às vezes, o que tem sido feito é o acréscimo dos itens que faltam nos PPHO em comparação aos POP (5,7,8), enumerando-os como PPHO 9, 10, e o que for mais necessário, mas ambos (PPHO e POP que são instrumentais) vão dar suporte à confecção do mesmo manual de boas práticas que é documental (RIBEIRO- FURTINI e ABREU, 2004). 3.4 APPCC O sistema APPCC da sigla original em inglês HACCP (Hazard Analisys and Critical Control Points) teve sua origem na década de 50 em indústrias químicas na Grãbretanha e, nos anos 60 e 70, foi extensivamente usado nas plantas de energia nuclear e adaptado para a área de alimentos pela Pillsbury Company, a pedido da NASA, para que não houvesse nenhum problema com os astronautas relativo a enfermidades transmitidas por alimentos (DTA) e equipamentos (migalhas de alimentos) em pleno vôo. O problema de migalhas foi resolvido com o uso de embalagens especiais e, de possíveis DTA, com a utilização do sistema APPCC, que por mostrar-se altamente preventivo, evita a falsa sensação de segurança de produtos que eram, até em tão, inspecionados lote a lote por análises microbiológicas, sendo 13 esta a única garantia dada por outras ferramentas de controle de qualidade (RIBEIRO- FURTINI e ABREU, 2004). O sistema HACCP é uma importante ferramenta na proteção alimentar, consistindo num método preventivo. A sua implantação previne/minimiza os riscos alimentares, através da eliminação ou redução da probabilidade de ocorrência de uma eventual toxinfecção alimentar. A análise de perigos potenciais para a saúde dos consumidores nas atividades do sector alimentar, a identificação das fases/ locais onde esses mesmos perigos podem ocorrer e a decisão de quais são críticos para a saúde do consumidor são os principais objetivos do HACCP. Esta metodologia permite que as entidades se foquem nas fases e condições de produção críticos para a segurança alimentar, assegurando através do seu controle que os seus produtos sejam seguros para a saúde dos consumidores (APHORT, 2008). 3.5 CODEX ALIMENTARIUS O Codex Alimentarius (do latim Lei ou Código dos Alimentos), criado em 1963 por uma comissão criada pela FAO e pela OMS, é uma coletânea de normas alimentares adotadas internacionalmente e apresentadas de modo uniforme. Inclui ainda disposições de natureza consultiva na forma de códigos de práticas, diretrizes e outras medidas recomendadas. Seus principais objetivos são identificar os princípios fundamentais de higiene dos alimentos aplicáveis em toda a cadeia de alimentos (desde a produção primária até o consumidor final), para garantir que o alimento seja seguro e adequado para o consumo humano; recomendar a aplicação de enfoque 14 baseado no sistema HACCP como um meio de aumentar a segurança do alimento; indicar como implementar tais princípios; e fornecer uma orientação para o desenvolvimento de códigos específicos, necessários aos setores da cadeia de alimentos, processos e produtos, a fim de ampliar os requisitos de higiene específicos (CODEX ALIMENTARIUS, 2003). Seus princípios (BPF, PPHO) são pré-requisitos para a implantação do APPCC, em que ocorre o controle de cada etapa de processamento e o qual é considerado parte integrante das medidas de segurança alimentar (AKUTST et al., 2005). 3.6 PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS O processamento de alimentos consiste na transformação de ingredientes brutos em alimentos atrativos e palatáveis. De acordo com o antropólogo biológico da Universidade de Harvard Richard Wrangham, o processamento de alimentos foi lançado cerca de dois milhões de anos atrás por um antepassado distante, que descobriu o ato de cozinhar os alimentos. Mais tarde, mas ainda durante tempos pré- históricos, foram descobertos o ato de fermentar, secar, preservar com sal, e outras formas primitivas de processamento de alimentos, o que permitiu a sobrevivência de grupos e a formação de comunidades (FLOROS et al., 2010). Estudos das civilizações antigas mostram claramente que, ao longo dos tempos os seres humanos da história superaram a fomee as doenças, não só pela colheita dos alimentos e por quantidade de terras cultivadas, mas também por 15 processá-los com métodos sofisticados. Por exemplo, os três alimentos mais importantes na Grécia Antiga – pão, azeite e vinho – foram todos produtos de processamento complicado que transformou perecíveis, intragáveis, ou quase comestíveis matérias-primas em alimentos seguros, saborosos, nutritivos, estáveis e agradáveis (FLOROS et al., 2010). Atualmente o processamento de alimentos deixou de ser apenas um método de conservação de alimentos e em todas as suas várias formas vêm trazendo imensuráveis benefícios em termos de disponibilidade, vida útil e segurança. A industrialização, sob o critério de dar o melhor possível de qualidade aos produtos alimentícios, proporciona a estes outras condições antes ausentes que são de nítidas vantagens para a melhoria do produto como a possibilidade de um maior tempo de vida útil e com isso melhor rendimento no aproveitamento, na padronização, consumo e armazenamento dos produtos alimentícios; melhoria das qualidades organolépticas, principalmente do sabor, aroma e consistência dos produtos e preservação do máximo possível dos seus valores nutritivos; obtenção de sabores especiais em produtos modificados por processamento de dessecação, salga e defumação; instituição de produtos especializados, para uso na dietética infantil e de adultos; expansão da elaboração de produtos tradicionais de certas regiões, como por exemplo queijos e vinhos; presença no mercado de produtos fora da época de safra ou originados de regiões longínquas; acentuada universalização dos padrões alimentares; elaboração de produtos obtidos por ação microrgânica ou enzimática; acondicionamento adequado, em embalagens rígidas ou flexíveis; relativo baixo preço, 16 considerando a fácil obtenção no comércio, a segurança, variedade e apresentação dos produtos. (EVANGELISTA, 2001) 3.7 QUALIDADE DOS PRODUTOS EMBUTIDOS 3.7.1 Microbiologia A degradação dos alimentos ocorre naturalmente por ação de microrganismos que usam os alimentos como a sua fonte de nutrientes. Esta ação dos microrganismos conduz a uma degradação dos alimentos tornando-os impróprios para o consumo. Assim, o processamento de alimentos deve levar em consideração o potencial para o desenvolvimento e crescimento de microrganismos patogênicos, devendo o processo ser estabelecido de forma a garantir a segurança do produto após o processamento e durante um determinado período (prazo de validade). As condições de processamento deverão levar em consideração o nível de contaminação inicial das matérias- primas (BAPTISTA e VENÂNCIO, 2003). Os fatores que afetam a atividade microbiana em carnes são divididos em fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores Intrínsecos são os fatores ligados diretamente a composição da carne. Já os parâmetros Extrínsecos são aquelas propriedades do meio de armazenamento que afetam os alimentos e os microrganismos. (JAY, 2005) 17 Os parâmetros considerados Intrínsecos são pH, umidade, potencial de oxidação-redução (Eh), quantidade de nutrientes, constituintes antimicrobianos e estrutura biológica dos tecidos (JAY, 2005). A redução da disponibilidade de água constitui método de preservação. O nível de requerimento de água para multiplicação é expresso, geralmente, como atividade de água ou aw. A aw da carne fresca é, usualmente, 0,99 ou maior; possibilitando crescimento da maioria dos microrganismos (SILVA, 1999). O pH final da carne in natura fica entre 5,4 a 5,6, o que permite o crescimento de fungos, leveduras e bactérias lácticas. A maioria dos microrganismos tem pH ótimo de crescimento próximo ao neutro (pH 7,0), principalmente entre 6,6 e 7,5. Os fungos crescem em valores mais variados de pH que varia de 2,0 a 8,0, sendo resistentes a pH mais ácidos do que aquele em que proliferam os demais microrganismos. As leveduras crescem melhor entre pH 4,0 e 4,5 (EVANGELISTA, 2001; SILVA, 1999). Os microrganismos aeróbios são favorecidos por altos níveis de potencial de oxirredução. Enquanto que, os anaeróbios são favorecidos por níveis baixos. O potencial de oxirredução cai com a conversão de músculo em carne (SILVA, 1999). A carne é, geralmente, rica em proteína e pobre em carboidratos, favorecendo os microrganismos proteolíticos como as leveduras. De um modo geral, a carne constitui um excelente meio para a multiplicação e crescimento dos microrganismos (SILVA, 1999). Os parâmetros considerados Extrínsecos são: temperatura de armazenamento; umidade relativa do meio; presença e concentração de gases; presença e atividade de outros microrganismos (JAY, 2005). A forma física da carne (carcaça, partes, moída) 18 também afeta diretamente a facilidade de multiplicação de microrganismos (SILVA, 1999). Cada microrganismo tem sua temperatura ótima de crescimento; a máxima e a mínima. A maioria cresce bem entre 15-40ºC (psicrotróficos e mesófilos). As bactérias psicrotróficas podem crescer bem em temperaturas de 7°C ou menos. Já as termófilas podem crescer bem a temperaturas de 45° a 65°C. O congelamento pode matar ou causar injúria à maioria das bactérias na carne. Há decréscimo da contagem bacteriana com o congelamento. A temperatura menor que 5ºC restringe o crescimento da maioria das bactérias espoliativas e todas as patogênicas. Portanto, esta é a temperatura crítica de refrigeração (JAY, 2005). Já no aquecimento de produtos, para garantir uma eficiência no processo de eliminação das bactérias patogênicas é utilizado um padrão de temperatura de aproximadamente 72°C a ser atingido internamente no produto. No Frigorífico Juliatto a maioria dos produtos é submetida a temperaturas internas de aproximadamente 78°C (maior margem de segurança). A umidade relativa está intimamente relacionada com a temperatura de refrigeração. A umidade deve ser baixa na temperatura de refrigeração para evitar o efeito “suar” que facilita espoliação da carne. As bactérias requerem umidade relativa elevada para multiplicação; acima de 90%, as leveduras 87-92% e, os fungos 84% ou menos (SILVA, 1999). Quanto à necessidade de oxigênio para multiplicação, os microrganismos podem ser aeróbios, anaeróbios e facultativos. Os fungos e leveduras de carnes são aeróbios. Na superfície da carne predominam as bactérias aeróbias e facultativas e no interior das carnes, as bactérias facultativas e anaeróbias. O uso de embalagem com 19 filmes de alta barreira e atmosfera modificada reduzem ou previnem integralmente o desenvolvimento de bactérias aeróbias (SILVA, 1999). O estado físico da carne, determinado pela sua forma física (Carne moída e CMS) expõe a carne a grande contaminação (SILVA, 1999). TABELA 01 – GÊNEROS DE BACTÉRIAS E FUNGOS MAIS FREQUENTEMENTE ENCONTRADOS EM CARNES PROCESSADAS Bactérias Fungos Gênero Coloração Gram Prevalência Relativa Gênero Prevalência Relativa Actinobacter Aeromonas Alcaligenes Bacilus Brochothrix Carnobacteriu m Corynebacteriu m Enterobacter Enterococcus Hafnia Kocuria Kurthia Lactobacillus Lactococcus Leuconostoc Listeria Microbacterium Micrococcus Moraxella Paenibacillus Pediococcus Pseudomonas Serratia Sthaphylococcu s Vibrío Weissella Yersinia - - - + + + + - + + + + + + + + + + - + + - - + - + - X X X X X X X X X X XX X X X X X X X X X X X X Leveduras Candida Debaryomyces Saccharomyce s TrichosporonBolores Alternaria Aspergillus Botrytis Cladosporium Fusarium Geotrichum Monilia Mucor Penicillium Rhizopus Scopulariopsis Thamnidium X XX X X X XX X X X X X X XX X X X Nota: X = casos ocorridos; XX relatos mais frequentes. Fonte: Microbiologia de alimentos, James M, Jay; trad. Eduardo Cesar Tondo et all – 6ª edição – Porto Alegre: Artmed, 2005; p 106. 20 A ideia de que limites microbiológicos deveriam ser estipulados para alguns alimentos no intuito de garantir a sua segurança ou qualidade foi proposta em 1903 por Marxer, que sugeriu uma contagem aeróbia em placas (APC) com limite de 106 para carne de hambúrguer. De forma semelhante, as APCs e os limites de microrganismos indicadores foram propostos para vários outros produtos entre os anos de 1920 e 1930 (JAY, 2005). No Brasil, os padrões microbiológicos são determinados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pela RDC n° 12, de 02 de Janeiro de 2001. TABELA 02 – PADRÕES MICROBIOLÓGICOS SANITÁRIOS PARA ALIMENTOS – CARNES E PRODUTOS CÁRNEOS Alimentos Microrganismo Tolerância para amostra Indicativa Tolerância para amostra Representativa N c M M a) - Carnes resfriadas, ou congeladas, "in natura", de bovinos, suínos; - Carnes moídas; - Miúdos de bovinos, suínos e outros mamíferos. Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. - b) - Produtos cárneos crus, refrigerados ou congelados; - Produtos a base de sangue e derivados "in natura"; - Embutidos frescais (lingüiças cruas e similares) Coliformes a 45oC/g 5x103 5 3 5x102 5x103 Estaf.coag.positiva/g 5x103 5 2 103 5x103 C. sulfito redutor a 460C/g 3x103 5 2 5x102 3x103 Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. - c) - Produtos cárneos cozidos ou não, embutidos ou não (mortadela, salsicha, presunto, fiambre, morcela e outros); - Produtos a base de sangue e derivados, processados Coliformes a 45oC/g 103 5 2 102 103 Estaf.coag.positiva/g 3x103 5 1 102 3x103 C. sulfito redutor a 460C 5x102 5 1 102 5x102 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - 21 CONTINUAÇÃO DA TABELA 02 – PADRÕES MICROBIOLÓGICOS SANITÁRIOS PARA ALIMENTOS – CARNES E PRODUTOS CÁRNEOS Alimentos Microrganismo Tolerância para amostra Indicativa Tolerância para amostra Representativa N c M M d) - Produtos cárneos cozidos ou não, maturados ou não, fracionados ou fatiados, mantidos sob refrigeração Coliformes a 45ºC/g 105 5 2 102 103 C. sulfito redutor a 460C 5x102 5 1 102 5x102 Estaf.coag.positiva/g 5x103 5 1 103 5x103 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - e) - Produtos cárneos maturados (presuntos crus, copas, salames, lingüiças dessecadas, charque, "jerked beef" e similares) Coliformes a 45oC/g 103 5 2 102 103 Estaf.coag.positiva/g 5x103 5 1 103 5x103 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - Fonte: Resolução – RDC/ ANVISA n° 12, de 02 de Janeiro de 2001. <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm> Em um esforço para eliminar confusões e criar linguagem internacional, uma Comissão do Codex Alimentarius estabeleceu algumas definições as quais sofreram algumas alterações pela Comissão Internacional para Especificações Microbiológicas de Alimentos (ICMSF). Estas definições consistem em cinco componentes: uma relação dos microrganismos de interesse e/ou suas toxinas; os métodos analíticos para sua detecção e quantificação; um plano de amostragem, incluindo quando e onde as amostras devem ser colhidas; limites microbiológicos considerados apropriados para alimentos; o número de amostras que devem estar de acordo com esses limites. Esses cinco componentes estão incorporados em um plano de amostragem que consiste em um procedimento de amostragem e de decisão de critério, podendo ser um plano de duas ou três classes, onde “n” significa o número de amostras de um lote que devem ser examinadas para cumprir o plano; “c” é o número máximo aceitável/ permitido de 22 amostras que podem exceder o critério microbiológico m; “m” é o número máximo ou nível de relevância de bactérias por grama; e “M” é a quantidade utilizada para separar alimentos de qualidade aceitável de alimentos com qualidade inaceitável. Se qualquer uma das amostras exceder o valor de “M”, o lote inteiro será rejeitado. Se não mais do que “c” amostras apresentarem resultados acima de “m”, o lote é aceitável (JAY, 2005). Os microrganismos nos alimentos são normalmente controlados por remoção, inibição da multiplicação ou destruição. Os processos atualmente utilizados dependem da sensibilidade dos microrganismos a serem controlados e da própria natureza do produto. Os problemas microbianos podem surgir quando o efeito desejado não é alcançado e isso comumente acontece por erros nas técnicas de manipulação ou processamento. A detecção destes erros, sua correção e a prevenção futura são os maiores objetivos de qualquer sistema de controle microbiológico (PIRAGINE, 2005). 3.7.2 Matéria-Prima A produção de embutidos exige uma ampla variedade de ingredientes cárneos e não cárneos, cada um exercendo uma função específica de acordo com sua propriedade. Dentre os ingredientes cárneos, existe uma grande variação quanto à sua composição devido às diversas fontes das quais essa matéria-prima pode ser obtida (REIS et al., 1999). Como regra geral, a excelência de qualquer produto industrializado está condicionada à perfeição da matéria-prima (EVANGELISTA, 2001). 23 O recebimento de matéria prima ou dos produtos pelas indústrias ou pelos estabelecimentos comerciais, assim como seu transporte constitui a primeira etapa do controle higiênico sanitário. É a etapa mais importante do processo, pois a escolha correta da matéria prima, a verificação da sua procedência e a forma com que essa matéria prima é transportada até chegar na empresa, influenciam na sua qualidade (SEBRAE, 2004). A carne e seus derivados devem preencher os requisitos exigidos, quanto à sua qualidade, valor nutritivo e estado sanitário; sob o ponto de vista industrial, entretanto, é importante que além dos requisitos mencionados, adquira maior propensão para a formação de massa muscular (EVANGELISTA, 2001). Durante o processo de produção, para reduzir os custos, muitos fabricantes incorporam grande quantidade de retalhos provenientes da linha de abate e desossa em seus produtos, embora essa matéria-prima possua uma grande proporção de tecido conjuntivo. A hidroxiprolina é um aminoácido encontrado exclusivamente nesse tecido, sendo utilizada como indicador da qualidade dos embutidos em muitos países europeus (REIS et al., 1999). Durante o processamento a qualidade da matéria prima é garantida de maneira direta, pela manutenção das qualidades já asseguradas ao alimento, e indireta, pela ausência de fatores negativos, inerentes ao meio, aos utensílios, ao equipamento e aos manipuladores (EVANGELISTA, 2001). A deterioração da matéria prima ocorre, como comumente acontece com os alimentos, por ação de organismos vivos (insetos, microrganismos, etc.), por processos físicos (fenômenos resultantes de congelamento, recristalização, etc.) e por influência 24 biológica (respiração, rancificação, etc.). Para se evitar/retardar a deterioração das mesmas deve-se seguir regras no que se diz respeito à temperatura, umidade e composição da atmosfera, e o tempo de armazenamento (EVANGELISTA, 2001) 3.7.3 Aditivos De acordo com a Portaria nº 1.428 do Ministério da Saúde, aditivo alimentaré qualquer substância que não se consome normalmente como alimento, nem que se usa normalmente como ingrediente típico do alimento, com ou sem valor nutritivo, cuja adição intencional ao alimento com finalidade tecnológica (inclusive sensorial) na fabricação, elaboração, embalagens, empacotamento, transporte ou armazenamento, leve, ou de certa forma, espera-se que possa levar (direta ou indiretamente), a que ele mesmo o seus subprodutos cheguem a ser um complemento do alimento ou afetem suas características (BRASIL, 1993). O Decreto- Lei nº 55.871, de 26/03/1965, estabelece que é tolerável o uso de aditivos, desde que seja indispensável à adequada tecnologia da fabricação, que tenha sido previamente registrado no órgão competente do Ministério da Saúde e que seja empregado na quantidade estritamente necessária à obtenção do efeito desejado, respeitando o limite máximo que vier a ser fixado (PARDI et al., 1996). A avaliação dos aditivos alimentares no âmbito mundial é baseada no controle das IDAs (Ingestão Diária Aceitável), desenvolvida pelo Comitê de Expertos em Aditivos Alimentares da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) (POLÔNIO e PERES, 2009). 25 Entre os aditivos mais utilizados na fabricação de embutidos cárneos encontram-se os antioxidantes (ex. ácido ascórbico), os conservantes (ex. nitrito e nitrato), os umectantes (ex. propilenoglicol), os antiumectantes (ex. fosfato tricálcico) os espessantes, os corantes (ex. urucum), os estabilizantes (polifosfatos), os acidulantes (glucono-delta-lactona), os aromatizantes e flavorizantes (essências naturais) e os extensores cada um com função específica na elaboração dos produtos. Os antioxidantes, também conhecidos como interceptores de oxigênio, são aditivos protetores contra a rancidez de alimentos contendo gorduras, principalmente ricas em ácidos graxos insaturados (EVANGELISTA, 2001). Um antioxidante muito utilizado na produção de embutidos é o eritorbato de sódio. Os espessantes são substâncias capazes de aumentar a viscosidade de soluções, emulsões e suspensões. Entre eles estão os alginatos, caroboximetilcelulose sódica, goma adragante, goma arábica, goma caráia, goma guar, goma jataí, mono e diglicérides, musgo irlandês (cargena), celulose microcristalina. Muitos estabilizantes são também espessantes, sendo classificados como “estabilizadores vegetais não protéicos” (PARDI et al., 1996). Os conservantes são substâncias que retardam os processos de deterioração de produtos alimentícios, protegendo-os contra a ação de microrganismos ou de enzimas, e com isso aumentam o tempo de vida útil dos alimentos. O emprego de aditivos conservantes deve levar em conta as características do alimento (atividade de água por exemplo), a forma de elaboração, o tipo de embalagem, o tempo e condições de armazenamento e a qualidade dos microrganismos. A indústria de embutidos utiliza 26 conservantes como o ácido sórbico (sorbato de sódio, potássio ou cálcio), nitrito e nitrato (EVANGELISTA, 2001). No Brasil, a Instrução Normativa 51/2006 do MAPA, padroniza a concentração máxima de nitritos e nitratos a serem utilizados em produtos cárneos, de acordo com a Resolução do Mercosul GMC nº. 73/97, que regulamenta os limites de aditivos em carnes e produtos cárneos, permitindo a utilização de nitrato de sódio ou de potássio na ordem de 0,03 g/100g do produto (300 ppm), e de nitrito de sódio ou potássio, 0,015 g/100g (150 ppm) (BRASIL, 2006). Índices acima deste valor podem trazer sérios danos à saúde dos consumidores uma vez que o íon nitrito pode reagir com amidas e aminas presentes no alimento e gerar compostos nitrosaminas e nitrosamidas, os quais são carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos (SOUZA et al., 1990). O nitrito e o nitrato quando utilizados dentro das concentrações permitidas são fundamentais na prevenção do crescimento do Clostridium botulinum que produz a toxina botulínica, potencialmente fatal. Além disso, são indispensáveis por serem responsáveis pelas reações que promovem a coloração e sabores característicos dos produtos curados, e dão aos mesmos as características sensoriais desejáveis (CORREIA, 2008). Os corantes são substâncias que transmitem aos alimentos novas cores ou exaltam as que eles já possuem, com a finalidade de melhorar o seu aspecto (EVANGELISTA, 2001). Um dos corantes mais utilizados na indústria de embutidos é o Urucum, o qual é utilizado no tingimento de salsichas. Outro corante também utilizado é o Carmim. 27 Os estabilizantes são utilizados na indústria de produtos cárneos para aumentar o poder de retenção de água das proteínas miofibrilares e consequentemente, manter a integridade do produto. Nos produtos emulsificados, como as salsichas, a utilização dos estabilizantes garante a integridade da emulsão por ocasião do cozimento (LOPES, 2005). O estabilizante mais utilizado na indústria de produtos cárneos é o polifosfato de sódio, carragenas e gomas. Os agentes extensores são utilizados para garantir a textura dos embutidos, manter à estabilidade da emulsão, absorver a umidade e adicionar ou não valor proteico ao produto, sendo o amido e as féculas os mais utilizados no Brasil, principalmente em salsichas e mortadelas. Ao absorver a umidade, o amido permite o aumento no volume da emulsão, diminuindo assim a quantidade de carne necessária na formulação do embutido. No entanto, a legislação brasileira permite apenas 12% de amido neste tipo de embutido, justamente para evitar que algumas empresas façam uso deste produto apenas por uma questão econômica (GBI, 2005). Os umectantes são substâncias capazes de evitar a perda da umidade dos alimentos. O limite máximo de substâncias umectantes em produtos cárneos é de 0,004% de acordo com a Resolução nº33/68, da ex CNNPA. Exemplos destes aditivos são o lactato de sódio, o propileno glicol, o glicerol e o sorbitol (PARDI et al., 1996) Os acidulantes são substâncias utilizadas para dar o sabor acídulo ao produto. A diferença dos acidulantes para os acidificantes está na intensidade de sabor que estes transmitem. O pequeno grau de acidez comunicado pelos acidulantes faz com que a principal função de sua aplicação seja a de melhoria do sabor, enquanto os acidificantes tem também como função modificar o meio de determinados alimentos. 28 Entre eles pode-se citar o ácido cítrico e o ácido lático, os quais são amplamente utilizados na fabricação de produtos embutidos (EVANGELISTA, 2001). Os aromatizantes são substâncias que conferem e intensificam o aroma dos alimentos. Já os flavorizantes são substâncias que transmitem ou exaltam o sabor e o aroma dos alimentos. Ambos podem ser naturais, semissintéticos e sintéticos ou artificiais. No preparo de massas de produtos embutidos são empregadas muitas vezes, as chamadas “Substâncias aromatizantes idênticas à natural” (AIN), que são substâncias obtidas quimicamente por síntese ou outro processo químico adequado, e que apresenta estrutura química idêntica a da substância aromatizante natural (ex: AIN de alho, AIN de castanha, AIN de pimenta). O extrato natural de fumaça também é um aromatizante e flavorizante empregado na fabricação de embutidos (EVANGELISTA, 2001). 29 4 PROCESSOS DE PRODUÇÃO 4.1 RECEPÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA Nesta etapa do processo era avaliada a temperatura dos congelados e resfriados, a guia de trânsito, o aspecto dos produtos e de suas embalagens, a higiene do caminhão utilizado para o transporte da matéria-primaassim como o estado aparente do motorista/entregador (uniforme e hábitos higiênicos). Este controle era feito pelo funcionário responsável pelo setor toda vez que um produto ingressava na empresa e, semanalmente, o Controle de Qualidade realizava uma verificação deste monitoramento, sendo que a matéria prima de origem animal deve chegar congelada a pelo menos -12°C ou resfriada a até 7°C. Os produtos resfriados recebidos eram as meias carcaças resfriadas de bovino e suíno; carne resfriada de bovino com osso (ponta de agulha); miúdos resfriados de bovino (rúmen-bucho, fígado, mocotó, coração e língua). Estes produtos eram direcionados diretamente para a câmara de recepção de matéria prima a qual apresentava temperatura em torno de 0 a 2°C. Já os produtos que chegavam resfriados e precisavam ser congelados para armazenamento passavam pelo túnel de congelamento a -30°C, para que ocorresse um processo de congelamento rápido, até que o interior dos produtos atingisse a temperatura de -18°C, sendo então transferidos para a câmara de estocagem a -19°C. Os produtos congelados recebidos eram a carne congelada de suíno (costela, barriga com pele); carne congelada de bovino sem osso (cupim e recortes); miúdo 30 congelado de suíno (rabo); CMS de aves congelada; carne industrial bovina congelada. Estes produtos possuíam um destino variado de acordo com a necessidade de uso dos mesmos. Produtos que chegavam congelados e que não seriam utilizados resfriados no próximo dia ou que deveriam ser utilizados na forma congelada eram encaminhados diretamente para a câmara de estocagem a uma temperatura de -19°C. Quando era necessário o descongelamento de um produto para posterior utilização, este seguia para a câmara de descongelamento a 0-2°C, evitando perdas nutricionais e qualitativas (crescimento microbiano) do produto por falha no processo de descongelamento o qual deve ocorrer lentamente. FIGURA 02 – CÂMARA DE RECEPÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA 4.2 DESOSSA Constitui a separação da carne dos ossos, nódulos e excesso de gordura. Nesta etapa são retirados os cortes específicos de carnes. É recomendado fazer a desossa com a carne resfriada (MADRUGA et al.2007). 31 No Frigorífico Juliatto as meias carcaças, que chegavam resfriadas a até 7°C, ficavam armazenadas na câmara de recepção de matéria prima a uma temperatura de 0°C até serem encaminhadas para a sala de desossa com temperatura de 10-15°C onde passavam pela serra fita para serem divididas inicialmente em duas porções, quartos dianteiro e traseiro, as quais seguiam pela linha para a retirada dos cortes mais específicos como o pernil, a paleta, o carré, lombo, barriga, sobrepaleta, suã, joelho, picanha, costela. FIGURA 03 – CORTES DE CARCAÇAS SUÍNAS Fonte: http://www.querocomer.com.br/noticias_impressao.asp?cod_noticia=7895. 4.3 PREPARO DE MASSAS 4.3.1 Triturador O triturador é uma máquina utilizada para quebrar blocos, principalmente de CMS e carne industrial congelados, em pedaços menores possibilitando a utilização destes no preparo de massas. 32 FIGURA 04 – CMS CONGELADA, APÓS PASSAR POR PROCESSO DE TRITURAÇÃO 4.3.2 Moedor A máquina utilizada pelo frigorífico possuía capacidade para 250 a 300 Kg de matéria prima e um sistema de discos cortantes que poderiam variar de tamanho de acordo com a necessidade. Os discos mais utilizados eram os de 10 mm (Linguiça de Pernil, Linguiça Toscana), 8 mm (Linguiça TC) e 6 mm mas a máquina poderia trabalhar com discos de 4 a 22 mm sendo que só existiam discos com medida de números pares. Os principais produtos que passavam pelo moedor eram pedaços de carne, miúdos, pele, retalhos, peças congeladas já trituradas e subprodutos cárneos a serem reprocessados. 33 4.3.3 Misturadeira Através de um sistema de pás giratórias, a misturadeira é utilizada para distribuir uniformemente os temperos e outros ingredientes homogeneizando e massageando as massas. De acordo com Madruga et al. (2007), este massageamento provoca a extração de proteínas que dão liga à mistura e aumentam a capacidade de retenção de água, garantindo a maciez do produto. A Misturadeira utilizada possuía uma capacidade de 450 Kg de produto e era acoplada ao emulsificador e a um sistema de elevador de carrinhos de inox para facilitar o despejo de produtos em seu interior. FIGURA 05 – MISTURADEIRA COM MATERIAL PROCESSADO 34 4.3.4 Emulsificador O emulsificador trabalhava através de um sistema de 2 discos giratórios tipo peneira com furos de 3,2 - 2,4 – 1,4 ou 1,2 mm e 2 discos giratórios com 6 facas cada um, em um cano de diâmetro aproximado de 10 cm onde as massas passavam sobre alta pressão e velocidade, ocorrendo então o processo de emulsificação que, de acordo com Olivo e Shimokomaki (2006) é a suspensão coloidal de dois líquidos não solúveis entre sí (imiscíveis), mas que, no entanto, mantém-se harmoniosamente dispersos um no outro. A máquina possuía também em seu interior um termômetro digital para controle da temperatura das massas a qual tende a aumentar durante o processo podendo causar a perda da estabilidade da emulsão. A temperatura ideal da massa para uma boa estabilidade é de 5 a 10°C. A máquina possuía regulagem de velocidade e pressão podendo trabalhar a até 7 bars de pressão, porém era indicado evitar ultrapassar os 5 bars para que não houvesse sobrecarga diminuindo com isso a vida útil do equipamento. Era necessário lubrificar os discos e o motor do equipamento diariamente, antes de sua utilização para evitar desgaste dos mesmos. 35 FIGURA 06 – MASSA NA DESCARGA DO EMULSIFICADOR 4.3.5 Cutter O cutter possui um sistema contendo 3 a 12 facas rotativas em posição vertical, altamente cortantes que trabalham em altíssima velocidade (acima de 3.000 rpm) sobre uma superfície curvada a qual gira em baixa velocidade num plano horizontal para afinar a massa ou simplesmente cortar ingredientes até o tamanho desejado, como é o caso do toucinho na massa de mortadela. O equipamento do Frigorífico Juliatto possuía capacidade para 200Kg de produto e trabalhava com um sistema de 9 facas. 36 FIGURA 07 – MASSA NO CUTTER 4.3.6 Embutideira As embutideiras utilizadas possuíam capacidade de produção de salsichas em sistema de suspensão de 950 a 1100Kg/hora utilizando-se o sistema automático de embutimento. Caso fosse utilizado o sistema de embutimento manual da máquina, com posterior amarra e suspensão manual, se conseguia embutir de 600 a 900 Kg/hora. Em alguns produtos, como no salame, era utilizada a clipadeira automática ao invés de barbante ou presilhas para fechar as tripas aumentando ainda mais a velocidade de produção. A massa era injetada com certa pressão na tripa natural ou artificial e simultaneamente eram feitas as torções (torcedor acoplado à embutideira) para posterior amarra. Alguns produtos eram amarrados manualmente com fio de barbante sem prévia torção, como era o caso da calabresa, morcela e salsichão. 37 O processo de embutimento deve ser feito de forma compacta, não permitindo a permanência de bolhas de ar as quais poderão causar oxidação e escurecimento do produto comprometendo a qualidade do mesmo (BRESSAN et al, 2001). Quando se utilizava o sistema de suspensão de salsichas, o qual era acoplado a embutideira, as mesmas eram penduradas automaticamente de forma a ficarem com o mesmo comprimento, dando agilidade ao processo e facilitandoa posterior pendura em varas para dar continuidade na produção. 4.4 CURA O termo cura de carnes se refere à conservação de um produto por adição de sal, compostos fixadores de cor (nitratos e/ou nitritos), açúcar e condimentos, onde também é obtida a melhora das propriedades sensoriais. Este processo tem por finalidade conservar a carne por um período de tempo mais longo, além de conferir-lhe determinadas qualidades sensoriais, como sabor e aroma mais agradáveis e coloração vermelha ou rósea atraente (ROÇA, 2000). A velocidade de cura em peças de carne depende da velocidade de difusão dos ingredientes de cura pelos tecidos que depende, por sua vez dos métodos de aplicação dos mesmos, do tamanho das peças de carne, da quantidade de cobertura de gordura e da temperatura (ROÇA, 2000). Existem vários métodos de incorporação dos ingredientes de cura às carnes. Entre ele, pode-se citar a cura a seco, cura por imersão, cura por injeção ou a combinação de métodos (PARDI et al., 1996). 38 A cura a seco consiste no friccionamento dos ingredientes de cura nas superfícies das peças ou simplesmente na adição dos mesmos ao produto (PARDI et al., 1996). Em produtos de salsicharia, os ingredientes de cura são incorporados durante os processos de mistura e moagem. São adicionados em forma seca ou como solução concentrada e são distribuídos uniformemente por todo produto durante a trituração e preparo da massa. Essa técnica é conhecida como cura direta (ROÇA, 2000). Em peças de carne a penetração do sal é influenciada pela temperatura, quanto mais elevada, maior será a penetração. No entanto, as temperaturas mais elevadas são passíveis de um maior crescimento microbiano, e por isso deve-se adotar a temperatura de 6 a 8°C como ótima (PARDI et al., 1996). O congelamento afeta a estrutura do tecido muscular. Sendo assim, a quantidade de sal que penetra nos músculos que foram congelados e descongelados é aproximadamente 20% maior que na carne fresca (PARDI et al., 1996). 4.4.1 Injetora A penetração dos agentes de cura é muito mais rápida e sua distribuição mais uniforme quando são injetados diretamente nos tecidos. Constitui a cura por injeção de salmoura, na qual podem ser feitas múltiplas injeções intramusculares ou injeção por via arterial (ROÇA, 2000). A injetora utilizada no Frigorífico Juliatto era automática, com múltiplas agulhas de injeção intramuscular, dupla regulagem de altura a ser ajustada de acordo 39 com o tamanho do produto e esteira automática. A solução a ser injetada era previamente preparada em tanque próprio, sendo que a sua composição e quantidade variavam de acordo com o produto a ser injetado. FIGURA 08 – INJETORA 4.4.2 Tumbler O tumbler é uma máquina cilíndrica giratória onde são colocadas peças de carne para massageamento e incorporação de temperos. O sistema de “tombo” da carne faz com que as proteínas miofibrilares se rompam aumentando a maciez da carne e a penetração dos temperos. 4.5 MATURAÇÃO A maturação ou fermentação consiste em manter o produto durante um período de tempo sob condições controladas de temperatura e umidade relativa do ar. 40 Nessa etapa ocorre o desenvolvimento do aroma, modificações na textura, dessecação, endurecimento do produto e finalizam-se as reações de cura (FORREST et al., 1979). Durante a fase de fermentação ocorre a produção de ácido lático e, consequentemente, o abaixamento do pH do embutido, que contribui diretamente sobre o sabor levemente picante, a textura típica e a conservação do produto final (MACEDO, 2005). Os principais embutidos que passavam por processos de maturação eram os salames (milano, italiano, hamburguês, salaminho, peperoni) e a copa. Atualmente são muito utilizadas no processo de fermentação de alguns embutidos as culturas starter as quais são definidas como preparações que contêm microrganismos vivos ou em estado latente que se desenvolvem pela fermentação de um determinado substrato presente no meio, capazes de desenvolver atividade metabólica desejável na carne (BERNARDI et al., 2010). O tipo de cultura starter utilizada na fabricação de salames varia de acordo com o agente de cura empregado. Quando se utiliza nitrito como único agente de cura, normalmente recomenda-se o emprego de bactérias lácticas e estafilococos, enquanto que a adição de nitrato para a cura necessita da ação de bactérias nitrato-redutoras do gênero Micrococcus como integrantes da cultura starter (MACEDO, 2005). A adição desses microrganismos tem como objetivos desejáveis melhorar a segurança do produto através do controle de patógenos pela competição entre eles, estender a vida útil do produto pela inibição de microrganismos deteriorantes, diversificar o produto, modificando a matéria-prima, a fim de se obterem novas 41 propriedades sensoriais, e promover benefícios à saúde através de efeitos positivos na microbiota intestinal (BERNARDI et al., 2010). O processo de fermentação da carne acarreta uma série de benefícios em sua conservação, sendo que a principal razão para o uso de bactérias lácticas nesse processo está em sua habilidade em gerar acidificação intensa e controlada que inibe o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis (MACEDO, 2005). FIGURA 09 – COPA NO ESTÁGIO INICIAL (À ESQUERDA) E FINAL (À DIREITA) DO PROCESSO DE MATURAÇÃO 4.6 ESTUFAS E FUMEIROS O frigorífico possuía cinco estufas para cozimento de produtos, sendo que apenas 1 delas possuía sistema de fumaça de serragem. Possuía também seis fumeiros os quais eram pouco utilizados no período de estágio devido à substituição da fumaça tradicional pela fumaça líquida na maioria dos produtos. 42 Entende-se por "defumados" os produtos que após o processo de cura são submetidos á defumação, para lhes dar cheiro e sabor característicos, além de um maior prazo de vida comercial devido à desidratação parcial (RIISPOA, 1952). TABELA 3 – OS PRINCIPAIS COMPONENTES DA FUMAÇA E RESPECTIVA AÇÃO PRODUTO AÇÃO álcool metílico Antisséptica ácido pirolenhoso Abaixa o pH e com o metanol produz ésteres ácido carbônico não atua anidrido carbônico não atua aldeidos Antisséptica cetonas Antisséptica ésteres Aromatizante fenóis e cresóis antisséptica e aromatizante; desenvolvem a cor caramelo característica 3,4 benzopireno e 1,2,5,6 fenantraceno carcinogênicos e aparecem em temperaturas altas de combustão Fonte: ROÇA, 1981. Os métodos convencionais de produção de fumaça, para efeito de defumação, são os métodos de queima lenta de serragem umedecida e da fricção de toros de madeira (PARDI et al., 1996). Os produtos defumados ficam menos sujeitos a contaminação do que as carnes não defumadas. Isso ocorre devido ao processo de dessecação superficial, a coagulação das proteínas pela condensação de formaldeído e de fenóis e a depoisição de material resinoso, além do efeito químico e bacteriológico, decorrentes do processo de defumação. Esse conjunto forma uma verdadeira barreira contra a penetração microbiana (PARDI et al., 1996). 43 A defumação também produz cor característica à carne através dos pigmentos dos componentes da fumaça e a formação das resinas superficial. A textura superficial também é alterada e resulta do efeito de secagem da fumaça (ROÇA, 1981). A defumação convencional em muitos alimentos está sendo substituída pelo emprego de aroma de fumaça, ou fumaças líquidas saborizantes. Esses produtos são, em geral, extratos
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