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Ações Constitucionais

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CAPÍTULO 9 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS 
SUMÁRIO • l. Remédios constitucionais de natureza administrativa (não-jurisdicional); 1.1. 
Direito de petição (art. 52, XXXIV, "a", CF/88, c/c Lei n2 4.898/1965); 1.2. Direito à obten· 
ção de certidões (art. 52, XXXIV, "b", CF/88); c/c Lei nº 9.051/1995); 2. Habeas corpus (art. 
52, LXVlll e LXXVll, CF/88); 2.1. Introdução; 2.2. Legitimidade; 2.3. Espécies; 2.4. Cabimento; 
2.5. Pressuposto lógico e especificidades; 2.6. Competência; 2. 7. Procedimento; 2.8. Sistema 
recursai; 2.9. Técnica decisória, repercussões processuais e efeitos; 3. Mandado de seguran· 
ça individual (art. 52, LXIX, CF/88 e Lei n2 12.016/2009); 3.1. Introdução; 3.2. Cabimento; 
3.3. Hipóteses de restrição, quanto ao cabimento, ao mandado de segurança individual; 3.4. 
Competência; 3.5. Legitimidade ativa e passiva; 3.6. Procedimento; 3.7. Apontamentos acerca 
do procedimento no mandado de segurança; 3.8. Efeitos da decisão e recursos; 3.9. Prazo 
para impetração do mandado de segurança; 4. Mandado de segurança coletivo (art. 52 LXX, 
CF/88); 4.1. Introdução; 4.2. Hipóteses de cabimento; 4.3. Legitimidade ativa e passiva; 4.4. 
Competência; 4.5. Procedimento; 4.6. Efeitos da decisão; 4. 7. Principais súmulas relaciona· 
das ao mandado de segurança; 5. Mandado de injunção (art. 52, LXXI, CF/88); 5.1. Notícias 
históricas e conceito; 5.2. Requisitos para o cabimento; 5.3. Legitimidade ativa e passiva; 
5.4. Competência; 5.5. Procedimento; 5.6. Decisão e recursos cabíveis; 5. 7. O debate acer· 
ca dos efeitos da decisão concessiva de injunção; 6. Habeas data (art. 52, LXXll, CF/88 c/c 
Lei nº 9.507 /1997); 6.1. Introdução; 6.2. Cabimento; 6.3. Legitimidade ativa e passiva; 6.4. 
Competência; 6.5. Procedimento; 6.6. Decisão; 7. Ação popular (art. 52, LXXlll, CF/88; Lei n2 
4.717/65); 7.1. Introdução; 7.2. Conceito; 7.3. Espécies; 7.4. Requisitos; 7.5. Legitimidade ati· 
va e passiva; 7.6. Competência; 7.7. Procedimento; 7.8. Decisão na ação popular; 8. Quadro 
sinótico; 9. Questões; 9.1. Questões objetivas; 9.2. Questões discursivas; Gabarito questões 
objetivas; Gabarito questões discursivas. 
1 . REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS DE NATUREZA ADMINISTRATI­
VA (NÃO-JURISDICIONAL) 
São assim inrirulados haja visra serem exercidos na via administrativa, perance au­
coridades públicas. Segundo a Consriruição Federal, remos o (i) direico de perição e o (ii) 
direico à obrenção de cercidóes como remédios de natureza não jurisdicional. 
1 . 1 . Direito de petição - art. 5°, XXXIY, "a", CF/88, ele Lei nº 4.898/1965 
Conforme se depreende da leitura do disposirivo consrirucional (are. 5°, XXXIV, "a", 
CF/88), o direiro de perição rerá cabimenro sempre que houver necessidade de defesa de 
direicos, ou quando for consrarado o comerimenro, por parce de agenres do Poder Público, 
de uma ilegalidade ou de um abuso de poder. 
Trata-se de direiro que poderá ser exercido por rodos, ou seja, por pessoas naturais, 
nacionais ou estrangeiras residenres no país, bem como pessoas jurídicas escabelecidas no 
Brasil, independendo do pagamenco de raxas. 
Será desrinarário qualquer órgão ou aucoridade do Poder Público, podendo percencer 
ao Poder Execucivo, Legislativo, Judiciário e aré mesmo ao Minisrério Público. Ressaira-se 
não ser necessário que o pedido seja dirigido ao órgão eferivamenre comperence, sendo 
incumbência daquele que o receber encaminhá-lo à verdadeira aucoridadc comperence. 
409 
NATHALIA MASSON 
Como existe uma garantia implícita que assegura ao cidadão o direito de obter res­
posta sobre sua petição, no caso de recusa injustificada ou inércia das auroridades em 
analisar e oferecer resposta ao pleiro do peticionário, este último poderá valer-se da ação 
constitucional de mandado de segurança, conforme disposto no are. 5°, LXIX, da CF/88, 
em razão de inequívoca violação ao seu Direito Constitucional de petição aos Poderes Pú­
blicos. Nesse sentido, vê-se que a omissão na resposta importa desvio de poder, desafiada 
em mandado de segurança. 
1 .2. Direito à obtenção de certidões - art. 5°, XXXIY, "b", CF/88; ele Lei nº 
9.05111995) 
Amparado no art. 5°, XXXIV, "b", CF/88, referido direiro assegura a rodos "a ob­
tenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimencos de 
situações de interesse pessoal". 
Regulamentado pela Lei nº 9.051/1995, é um remédio constitucional que pode ser 
manejado, independentemente do pagamento de qualquer taxa, por qualquer pessoa, física 
ou jurídica, nacional ou estrangeira, tendo por destinatário qualquer órgão ou autoridade 
da administração pública, direta ou indireta. Nos termos do are. 1°, Lei nº 9.051/1995: "as 
certidões para a defesa e esclarecimentos de situações, requeridas aos órgãos da Adminis­
tração centralizada ou autárquica, às empresas públicas, às sociedades de economia mista 
e às fundações públicas da União, Jos EsLaJos, do Distrito Federal e dos Municípios, de­
verão ser expedidas no prazo improrrogável de quinze dias, contado do registro do pedido 
no órgão expedidor". 
Deste modo, sempre que o titular tiver o legítimo interesse na obtenção de uma certi­
dão, expedida pelo Poder Público, para defesa de direitos ou esclarecimento de situações de 
inceresse pessoal daquele, será cabível o direito de certidão protegido constitucionalmente. 
Ressalta-se que quando se tratar de alguma hipótese constitucional de sigilo, o direito 
de certidão não será cabível. Além disso, o direito de certidão abrange somente fatos já 
ocorridos, não podendo ser utilizado com o fico de realizar prognósticos de eventos futuros 
e, por isso, incertos. 
Essencial que o legitimado demonstre o legítimo interesse, ou seja, a existência de um 
direito individual ou da sociedade, tutelado pelo ordenamento, que necessita da certidão 
para ser protegido1• 
Ocorrendo a negativa ilegal do direito líquido e certo de obtenção das certidões - seja 
para defesa de direitos ou mesmo para esclarecimento de situações de interesse pessoal -
a ação pertinente será o mandado de segurança. Nesse sentido, a omissão em prestar a 
1. Nesse sentido, estabelece o artigo 22 da Lei nº 9.051/1995: "Nos requerimentos que objetivam a obtenção das 
certidões a que se refere esta Lei, deverão os interessados fazer constar esclarecimentos relativos aos fins e 
razões do pedido". 
410 
AÇÓES CONSTITUCIONAJS 
certidão solicitada configura abuso de poder, sanável na via judicial do remédio constitu­
cional mandado de segurança. Lembremos que a hipótese não tolera o manejo do habeas 
data, eis que o impecrante possui acesso à informação, não cem o interesse em retificá-la e 
nem mesmo anotar nenhuma explicação, almejando, tão somente, obter a certidão. 
2. HABEAS CORPUS (ART. 5°, LXVIII E LXXVII, CF/88) 
2 . 1 . Introdução 
O habeas corpus é um instrumento que surgiu como fruto das conquistas liberais do 
passado. Foi primeiramente concedido por João Sem Terra, na Inglaterra, por meio da 
Magna Carta de 12152, sendo, após, formalizado pelo habeas corpus Act no ano de 1679. 
Inicialmente, o habeas corpus não era vinculado à ideia de liberdade de locomoção, mas 
sim ao conceito de devido processo legal. Apenas a partir de 1679, com o habeas corpus 
Amendment Act, é que ficou configurado mais precisamente como um remédio destinado 
a assegurar a liberdade dos súditos e prevenir os encarceramentos ulcramar3. 
No Brasil, o habeas corpus surge de maneira incisiva no C6digo de Processo Crim inal de 
18324, o qual previa: "Todo o cidadão que entender que ele ou outrem sofre uma prisão ou 
constrangimento ilegal em sua liberdade terá o direito de pedir uma ordem de habeas corpus 
ao seu favor". A partir de então, muitas foram as legislações que tutelaram o instituto. 
Hoje, a Constituição democrática de 1988 preceicua, no artigo 5°, LXVIII que: "con­
ceder-se-á 'habeas-corpus' sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrerviolên­
cia ou coação em sua l iberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". 
Este writ, ou "remédio", possui a função de fazer cessar a ameaça ou coação à liberda­
de de ir, vir e permanecer do indivíduo. O autor da ação de habeas corpus recebe o nome 
de impecrante. O beneficiado, ou seja, o indivíduo em favor de quem se impetra, será o 
paciente, podendo coincidir com o impetrante. A autoridade que pratica a ilegalidade ou 
abuso de poder será a autoridade coatora ou impetrado. 
O habeas corpus pode ser interposto com o objetivo de trancar ação penal, inquérito 
policial e, até mesmo, em face de particular. Assim, o writ é sempre ação constitucional 
penal, embora, em muitos casos, seja impetrado contra ato de autoridade civil. 
Em que pese o Código de Processo Penal incluir o habeas corpus no título dos recursos 
(Livro ll l , Título II, Capítulo X, CPP), é induvidosa a sua natureza jurídica de acáo pen li 
popular com status constitu<.:ional 
2. "A Magna Carta tratou-se de um pacto, celebrado entre o Rei João sem Terra e seus súditos rebelados, tendo 
por objeto a fixação de limites à atuação do monarca, sobretudo concedendo a estes um conjunto de direitos 
individuais, para protegê-los de eventuais arbitrariedades estatais." FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. 
Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 284. 
3. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 251 ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 444. 
4. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direita Constitucional. 1• ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 441. 
41 1 
NATHALIA \1A\S0" 
2.2. Legitimidade 
A legitimidade ativa no habeas corpus é universal, sendo que qualquer do povo, na­
cional ou estrangeiro\ independentemente de capacidade civil, política ou profissional, 
de idade, de sexo, profissão, estado mental, tem legitimidade para ingressar com habeas 
corpus, em benefício próprio ou alheio. 
Não há, sequer, a necessidade de advogado6- para a impetração do remédio (indepen­
de de capacidade posculatória). As pessoas jurídicas poderão impetrar o writ, desde que 
em benefício de terceiro. O Ministério Público também será legitimado e até mesmo o juiz 
poderá concedê-lo de ofício, desde que não o faça contra ato próprio. Conforme leciona 
Alexandre de Moraes8, "a legitimidade para ajuizamento do habeas corpus é um atriburo da 
personalidade, não se exigindo a capacidade de estar em juízo, nem a capacidade poscula­
tória, sendo uma verdadeira ação penal popular". Todavia, exige-se capacidade processual, 
é dizer, a capacidade de contrair obrigações e exercer direitos, inerente às pessoas que nas­
cem com vida, e à pessoa jurídica. 
Por outro lado, será sujeito passivo do habeas corpus aquele que pratica a coação 
ou ilegalidade ao direito de locomoção do paciente. Normalmente, será uma auroridade, 
como magistrados, delegados, membros de Tribunal ou até mesmo integrantes do Mi­
nistério Público. Entretanto, em alguns raros casos, o habeas corpus poderá ser impetrado 
também contra aros de particulares, em face de patente ilegalidade. É o que ocorre, 11.g., 
nas relações médico-hospitalares, onde se condiciona a liberação do paciente ao implemen­
ta da fatura do hospital. 
Já o paciente é a pessoa física beneficiada pela ordem. Intuitivamente, não caberá 
HC em favor da pessoa jurídica, cujos interesses poderão ser tutelados na esfera criminal 
pelo mandado de segurança. Do mesmo modo, não há de se falar em habeas corpus para 
tutela de animais i rracionais. 
2.3. Espécies 
Tradicionalmente, a doutrina destaca que o habeas corpus poderá ser de dois tipos: 
repressivo, também conhecido como liberatório, pois a liberdade de locomoção já está 
limitada, almejando-se a expedição de alvará de soltura; ou preventivo, quando o risco 
à liberdade é iminenre, objetivando-se a obtenção do salvo conduto. Conrudo, o habeas 
s. o estrangeiro, inclusive o não residente no Brasil, também poderá impetrar habeas corpus, desde que a petição 
seja redigida em português, conforme jurisprudência firmada no STF. 
6. A jurisprudência do STF entende que quando o réu já possui advogado constituído, terceiros não poderão impe­
trar o habeas corpus. 
7. Os Tribunais têm entendido que o leigo, apesar de legitimado para impetração do writ, não poderá fazer susten­
ção oral, sendo essa função exclusiva do advogado (STF - HC n2 63.338/RJ). 
8. MORAES, Alexandre de. Direita Constitucional. 211 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 117. 
412 
AÇÓFS CONSTITUCIONAIS 
corpus também poderá ser suspensivo, na hipótese de a prisão ter sido decretada, porém 
o mandado ainda estar pendente de cumprimento (almeja-se assim a expedição de um 
contramandado de prisão). Destaque-se que em qualquer das modalidades, admire-se a 
concessão de liminar, mesmo diante da omissão normativa, usando-se por analogia o re­
gramento do mandado de segurança. 
Esquematicamente teremos: 
Habeas 
carpus 
liberatório ou 
repressivo 
cabível quando já existir, 
no caso concreto, efetivo 
constrangimento Ilegal do 
paciente, como se dá, por 
exemplo, na prisão ilegal. 
Nesse caso, o deferimento do 
habeas corpus acompanha 
a determinação judicial de 
expedição de alvará de soltura 
2.4. Cabimento 
Habeas 
corpus 
preventivo 
Cabível quando existe 
apenas séria ameaça de 
constrangimento ilegal, que 
ainda não se concretizou. O 
juiz determina, nessa hipótese, 
a expedição de um salvo­
conduto (artigo 660, § 42, do 
Código de Processo Penal) 
Habeas 
corpus 
suspensivo 
Cabível quando já houver 
prisão ilegal decretada, porém 
ainda não cumprida. Aqui, o 
juiz determina a expedição do 
contramandado de prisão 
_) 
O habeas corpus cem por finalidade a cutela do direito de locomoção, conforme se 
depreende da leitura do dispositivo conscirucional (arr. 5°, inciso LXVIII, CF/88). Terá, 
portanto, cabimento contra abuso de poder ou ilegalidade que afere o direito de locomo­
ção do pacieme. 
O remédio será cabível não somente quando o direito de liberdade de locomoção já 
houver sido violentado, mas também quando ele se encontrar ameaçado. Ressalta-se que a 
liberdade de locomoção deve ser visualizada em um sentido amplo, não se restringindo à 
hipótese de efetiva prisão (ou ameaça de prisão) ilegal. 
A tutela é obtida por meio de ordem, expedida por juiz ou Tribunal, que faz cessar a 
ameaça ou a efetiva coação à liberdade de locomoção. 
O Código de Processo Penal, em seu are. 648, explicita hipóteses de cabimento do 
habeas corpus. Conforme o eirado dispositivo, a coação considerar-se-á ilegal quando: 
413 
NATflALIA MASSON 
(i) não houver jusra causa9: é a necessidade de lastro probatório mínimo dando sus­
tentabilidade à persecução penal. Por conseguinte, não havendo justa causa para o pro­
cedimento investigativo ou para o processo judicial, eles devem ser trancados, é dizer, 
sumariamente eliminados. Já a ausência de justa causa para a prisão cautelar, qualquer que 
seja ela (prisão em flagrante, preventiva ou temporária), importa manifesta ilegalidade, 
merecendo relaxamento; 
(ii) alguém estiver preso por mais tempo que determina a lei: a limitação temporal 
da prisão cautelar ainda não é uma constante no Brasil. O projeto do novo Código de 
Processo Penal (PL 156), almeja imprimir uma dosagem temporal à subsistência da pri­
são cautelar. Atualmente, entretanto, a prisão temporária é a única prisão provisória que 
possui prazo especificado de duração (art. 2° da Lei nº 7.960/1989). Superado o prazo, e 
persistindo o cárcere, a prisão passa a ser manifestamente ilegal, desafiando habeas corpus 
com intuito do seu relaxamento; 
(iii) quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo: a garantia constitu­
cional da competência é o escudo procetivo da legitimidade do aro. Desce modo, não só a 
ordem prisional decretadapor autoridade incompetente deve ser combatida, mas também 
não é aceitável que o processo tramite perante autoridade diversa da estabelecida na norma 
(ofensa ao princípio do juiz natural), e até mesmo o inquérito policial não deve transcorrer 
perante autoridade destituída de atribuição; 
(iv) houver cessado o motivo que autorizou a coação: a manutenção da prisão cautelar 
exige estrita necessidade, consubstanciada pela coexistência do fumus comissi delicti e do 
periculum libertatis. Se as hipóteses normativas que autorizariam a prisão cautelar desapa­
recem, a medida, inicialmente legal, passa a ser desnecessária, exigindo-se a sua revogação, 
ou eventualmente a concessão de liberdade provisória (art. 310 do CPP); 
(v) não for admitida a prestação de fiança, nos casos em que a lei autoriza: uma vez 
preenchidos os requisitos legais, a fiança deve ser vista como um direito, e a denegação 
arbitrária pode caracterizar, inclusive, abuso de autoridade. De regra, a fiança é obtida 
por requerimento à autoridade que preside a persecução penal, seja o delegado, nos crimes 
com pena de até 4 anos de privação da liberdade (art. 322 do CPP), ou o juiz. Havendo 
denegação do delegado, o mais comum é apresentar requerimento, por petição autônoma, 
ao juiz. Já se o magistrado denega, nada impede que se insista no requerimento perante a 
autoridade. Nos dois casos, nada impede o manejo imediato do habeas copus, para que se 
arbitre a fiança almejada; 
9. A inexistência de justa causa pode ser analisada a partir de prismas distintos. Podemos estar diante da falta de 
justa causa nas hipóteses de prisão, ação penal ou investigação criminal. Refere-se ao processo quando não 
estiver presente, por exemplo, a prova de materialidade do crime e indícios de autoria. A falta de justa causa na 
ação penal pode ser analisada como tema de mérito nas hipóteses de explícita at1picidade da conduta que foi 
imputada ou mesmo a manifesta extinção da punibilidade. 
414 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
(vi} o processo for manifestamente nulo: havendo nulidade na persecução em 
juízo (are. 564 do CPP), impetra-se habeas corpus com o intuito de que o vício seja 
declarado, e o processo ordinariamente será refeiro a partir do nascimento do defeito 
apresenrado. Os atoa que decorrem do aro viciado também devem ser reconstruídos, 
pois estarão contaminados, em face da extensão objetiva do dano (princípio da con­
sequencialidade); 
(vii) extinta a punibilidade: as hipóteses de extinção da punibilidade estão con­
signadas no are. 107 do Código Penal, e importam na coisa julgada material, pois 
definitivamente não mais poderá haver sanção pelo fato praticado, já que a possibili­
dade de punição está extinta. Podem ser declaradas a qualquer tempo, ex officio pela 
autoridade j udicial (are. 61 do CPP). Nada impede, entretanto, que sejam objeto do 
habeas corpus. 
Importante ressalcar que esse rol previsto no art. 648, CPP é meramente exemplifica­
tivo. Dizer o contrário acarretaria em contribuir para a desvalorização do direito funda­
mental consagrado consticucionalmcnte10• 
Consideração indispensável é a de que não é cabível habeas corpus em se tratando de 
prisão disciplinar militar, por expressa disposição consticucional (are. 142, § 2°, da CF/88). 
Entrecanco, entende-se que apesar de não ser possível a impetração do writ para se discu­
tir o mérito da punição disciplinar, sua interposição tem cabimento para se impugnar a 
forma/legalidade da punição, como ocorre quando autoridade incompetente autorizou a 
prisão1 1 • 
2.5. Pressuposto lógico e especificidades 
A admissibilidade do habeas corpus pressupõe, mesmo que de forma acidental, que 
exista risco à liberdade de locomoção. [nexiscindo tal risco, é sinal de que o direito em 
jogo deve ser tutelado pelo mandado de segurança ou outra ferramenta compatível. 
Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal editou crês verberes de sua súmula, valendo 
a transcrição: 
Súmula 693 do STF: "Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a 
pena de multa ou relativo a processo em curso por infração penaJ a que a pena 
pecuniária seja a única cominada." Ex.: Crime de porre de drogas. 
Súmula 694 do STF: "Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de 
exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública." 
10. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 
446. 
11. Nesse sentido, conforme jurisprudência do Pretório Excelso, a proibição não abrange os chamados pressupostos 
de legalidade da sonção disciplinar - hierarquia, poder disciplinar, ato ligado à função e pena suscetível de ser 
aplicada (HC 70.648, Rei. Ministro Moreira Alves, e RE 338.840-RS, Rei. Ministra Ellen Gracie, 19.8.2003). 
415 
NATHAUA MASSON 
Súmula 695 do STF: "Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa 
de liberdade." 
Por outro lado, a jurisprudência dos Tribunais Superiores insiste em regular a 
admissibilidade do habeas corpus, estabelecendo restrições ao manejo do instituto. 
Vejamos: 
Súmula 606 do STF: "Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno 
de decisão de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo 
recurso." 
Súmula 691 do STF: "Não compele ao Supremo Tribunal Federal conhecer de 
habeas corpus impetrado contra decisão do Relaror que, em habeas corpus requerido 
a Tribunal superior, indefere a liminar. (Conhecimento na Hipótese de Flagrante 
Consrrangimento Ilegal - HC 85 . 1 85, HC 86.864 MC-DJ de 1 6/ 1 2/2005 e HC 
90746-DJ de 1 1 15/2007) 12 ." 
Súmula 692 do STF: "Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator 
de extradição, se fundado em faro ou direiro estrangeiro cuja prova não constava 
dos autos, nem foi ele provocado a respeiro." 
Questão das mais importances é a admissibilidade de um novo habeas corpus contra 
acórdão de Tribunal que denegou a ordem. A praxe forense recomendava o escalonamento 
de novo habeas corpus, no Tribunal imediatamente superior. Assim, se o mérito do habeas 
corpus fosse apreciado pelo STJ, uma ver denegada a ordem, caberia um outro HC, impe­
trado peranre o STF. Em recenre decisão, entrecanro, o STF entendeu que a defesa deve 
utilizar o recurso ordinário constitucional (art. 102, II e art. 105, II, "a", CF), ao invés de 
novamente acionar o remédio heróico.13 
2.6. Competência 
A competência para processar e julgar o habeas corpus irá variar conforme a qualidade 
da pessoa que sofrer o ato coator, ou a qualidade da pessoa responsável pelo ato. Assim, 
temos: 
(i) quando o paciente do writ for o Presidente da República, o Vice-Presidente da Re­
pública, os membros do Congresso Nacional, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, 
12. "O objetivo desta súmula, sem dúvida, foi obstaculizar impetrações sucessivas do writ contra a não concessão 
de medida liminar. Entendeu o Pretório Excelso que ele não poderia prematuramente substituir os Tribunais 
Superiores que ainda não julgaram definitivamente o habeas corpus, afetando, nos dizeres do Ministro Celso 
de Mello," o postulado da hierarquia dos graus de jurisdição e o princípio da competência. [ ... ) Mister salientar 
que, atualmente, a súmula n2 691 foi relativizada (mitigada) pelo próprio STF que a considera como regra, mas 
admite exceções à mesma em casos de manifesta (expressa) ilegalidade (por exemplo: decisões teratológicas) 
que acarreta patente afronta ao direito fundamental de liberdade previsto no art. 52, XV." FERNANDES, Bernardo 
Gonçalves. Curso de Direita Constitucional. 1! ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 449. 
13. HC 109.956. Relatado pelo Min. Marco Aurélio. 
416 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
o Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha, 
do Exército ou da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, do Tribunal de 
Contas da União e os chefesde missão diplomática de caráter permanente, a competência 
originária para julgamento será do Supremo Tribunal Federal (are. 102, I , "d", CF/88); 
(ii) em se tratando da hipótese de ser apontado como coator algum dos Tribunais 
Superiores, ou quando o impetrado ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos 
atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de 
crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância, a competência também será da 
Suprema Corte (art. 102, I, "j", CF/88); 
(iii) ainda será de competência do Supremo Tribunal Federal, por fim, julgar, em 
recurso ordinário, os habeas corpus decididos em única instância pelos Tribunais Supe­
riores (Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior 
Eleitoral e Tribunal Superior Militar), quando denegatória a decisão (art. 102, I I, "a", 
CF/88); 
(iv) sendo coator ou paciente Governador de Estado ou do Distrito Federal, Desem­
bargador dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, membros dos Tri­
bunais de Contas dos Estados e do Discrico Federal, dos Tribunais Regionais Federais, 
Tribunais Regionais Eleicorais e do Trabalho, membros dos Conselhos ou Tribunais de 
Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante Tri­
bunais, a competência originária será do Superior Tribunal de Justiça (are. 105, I, "c", 
CF/88); 
(v) o STJ também processará e julgará os habeas corpus quando o coator for Tribunal 
sujeico à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou 
da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. 
(vi) o Superior Tribunal de Justiça será competente, ainda, para julgar, em recurso 
ordinário, os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regio­
nais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Districo Federal e Territórios, quando for 
denegatória a decisão (are. 105, II, "a", CF/88); 
(vii) se a autoridade apontada como coatora for juiz federal, a competência será dos 
Tribunais Regionais Federais (are. 108, I, "d", CF/88). Também será dos Tribunais Re­
gionais Federais a competência para julgar, em grau de recurso, os habeas corpus decididos 
pelos juízes federais (are. 108, I I , CF/88); 
(viii) caberá ainda aos juízes federais, processar e julgar os habeas corpus em matéria 
criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos 
atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (are. 109, VII, CF/88). Finalmente, 
cabe à Justiça Eleitoral, julgar os habeas corpus em matéria de sua competência (art. 12 1 , 
§ 4°, CF/88). 
Acompanhe a tabela abaixo, para melhor visualização: 
417 
NATHALIA MASSON 
AUTORIDADE COATORA 
Autoridade policial estadual ou federal 
Promotor de Justiça, Juiz de Direito ou Turma Recursai 
Estadual 
Procurador da República ou Juiz Federal ou Turma Recursai 
Federal 
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal 
Ministro de Estado, Comandantes da Marinha, Exército 
ou Aeronáutica ou autoridade do STJ - art. 102, 1, "d", 
CF/88 
Juiz dos Juizados Especiais Criminais Estaduais 
Juiz dos Juizados Especiais Criminais Federais 
2. 7. Procedimento 
AUTORIDADE JUDICIAL COMPETENTE 
Juiz de Direito ou Juiz Federal 
Tribunal de Justiça 
Tribunal Regional Federal 
Superior Tribunal de Justiça 
Supremo Tribunal Federal 
Turma Recursai Criminal 
Estadual e Federal 
O habeas corpus segue um rito especial, porém, ao contrário dos procedimentos pre­
vistos nos Códigos de Processo Civil e Penal, é extremamente informal e célere14 , devido 
à importância do direito que pretende defender. Assim, não há necessidade da observância 
de rigor formal no procedimento. Pode ser materializado por instrumentos diversos, até 
mesmo por uma folha de caderno, escrito a mão, e sem o cumprimento litúrgico dos re­
quisitos de uma petição inicial. 
Embora não haja previsão ao deferimento de liminar, sendo o caso o juiz deverá defe­
ri-la, tendo por analogia o procedimento do mandado de segurança. Determinará, assim, a 
soltura imediata e provisória e, em outros casos, o salvo conduto de início, até mesmo inau­
dita altera pars. Isso poderá ocorrer na hipótese em que se perceber a existência de fumus 
boni iuris e periculum in mora. O primeiro caracteriza a aparência de razão ao imperrante e 
o segundo o perigo na demora do provimento final, sempre existente no caso de já ter sido 
obstaculizada a liberdade de paciente ou de ser iminente o ato. 
Com a inicial, deferida ou não a liminar, será a autoridade coatora notificada para 
apresentar informações, seguida, caso seja necessário, de oitiva do paciente e sentença, na 
qual se concederá, ou se negará, a ordem pleiteada. Neste sentido, se deferida a liminar an­
teriormente e a ordem for concessiva, tornar-se- á definitiva. Por outro lado, se denegatória 
a ordem, estará imediatamente revogada a liminar. 
14. � possível inferir a informalidade do próprio dispositivo processual que disciplina as regras de tramitação de 
interposição. Conforme o artigo 654 do Código de Processo Penal: "Art. 654. O habeas corpus poderá ser impe­
trado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público. § 12 A petição de 
habeas corpus conterá: a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de 
quem exercer a violência, coação ou ameaça; b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de 
simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a 
seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências". 
418 
AÇóES CONSTITUCIONAIS 
2.8. Sistema recursai 
Para melhor organizar o sistema recursai do habeas corpus, teremos: 
(i) Juízo de primeiro grau 
Da decisão do juízo de primeiro grau na ação de habeas corpus caberá recurso em 
sentido estrito ao TJ/TRF, independente se concessiva ou denegatória da ordem 
(art. 5 8 1 , X, CPP). Por outro lado, a concessão do HC pelo juiz singular com­
porta recurso ex officio (art. 574, I, CPP), é dizer, mesmo que não exista recurso 
voluntário das partes, o magistrado deve remeter a decisão para reanálise pelo 
Tribunal. Se isso não ocorrer, o decisum não transita em julgado (enunciado nº 
423 da súmula do STF). 
(ii) Tribunais de Justiça ou Tribunal Regional Federal 
O acórdão denegatório do habeas corpus perante o Tribunal de segundo grau desafia 
recurso ordinário constitucional ao STJ. Como já vimos, deve ser evitado, segundo 
o STF, um novo HC ao Tribunal imediatamente superior, devendo-se optar pela via 
recursal, é dizer, manejar o recurso ordinário. Já a concessão da ordem pelo TJ ou 
pelo TRF limita substancialmente a matéria a ser ventilada em eventual recurso. É 
que agora o recorrente só poderá discutir matéria jurídica, manejando recurso espe­
cial ao STJ e/ou recurso especial ao STF, desde que a situação se enquadre em uma 
das hipóteses de admissibilidade consriLUcional (are. 1 02, III e are. 1 05, III, CF). 
(iii) Tribunal Superior 
O acórdão denegatório do habeas corpus em Tribunal Superior desafia recurso 
ordinário constitucional ao STF (arr. 1 02, I I , CF). Por outro lado, a concessão da 
ordem pode admitir recurso extraordinário ao Supremo, desde que se amolde em 
uma das hipóteses de admissibilidade constitucional (are. 1 02, III, CF). 
(iv) Situações especiais 
Da decisão monocrática proferida por membro de Tribunal em sede de liminar 
em habeas corpus caberá agravo regimental. Por sua vez, da decisão concessiva de 
habeas corpus proferida por turma recursal dos juizados caberá recurso extraordi­
nário ao STF. 
2.9. Técnica decisória, repercussões processuais e efeitos 
Diante do processamento da ação de habeas corpus, teremos as seguintes peculiarida­
des:(i) o órgão competente para o julgamento do habeas corpus não está vinculado à causa 
de pedir e aos pedidos formulados. Verificada a existência de ato ilegal, mesmo não vei­
culado pelo impetrante, coma-se necessário seu afastamento (are. 654, § 2°, do CPP). É 
dizer, admite-se julgamento extra petita, afinal, nada impede que a ordem seja concedida 
ex officio; 
419 
NATHALIA MASSON 
(ii) concedida a ordem de habeas corpus com base em motivos que não sejam de ordem 
exclusivamente pessoal, deve ser estendida aos demais corréus, já que o HC, assim como 
ocorre com os recursos de ordem criminal, desfruta do efeito extensivo (art. 580, CPP); 
(iii) em regra, o habeas corpus não permite dilação probatória, exigindo, assim como 
ocorre no mandado de segurança, prova pré-constituída; 
(iv) nos habeas corpus interpostos perante órgãos jurisdicionais colegiados, em caso de 
empate na votação, considera-se a decisão favorável ao paciente, como consectário lógico 
do "in dt�bio pro reo". 
3. MANDADO DE SEGURANÇA INDMDUAL (ART. 5°, LXIX, CF/88 E 
LEI N° 12.016/2009) 
3.1. lntroduçáo 
O mandado de segurança, previsto no inciso LXIX, do are. 5° da Constituição Fe­
deral, é um writ da mais extrema importância. Trata-se de ação constitucional de viés 
civil, independente da natureza do ato impugnado, seja ele administrativo, jurisdicional, 
criminal, eleitoral ou trabalhista. 
Possui por escopo a proteção de direitos líquidos e certos contra ato de autoridade 
ou de quem exerça funções públicas, isto é, não se admite a ação em face de particular em 
atividade própria. O mandado de segurança atua como verdadeira garantia fundamental, 
prevista constitucionalmente e atinente ao Estado Democrático de Direito. 
O writ é uma criação brasileira, não havendo similar no direito estrangeiro15• Foi 
introduzido em nosso ordenamento pela Constituição de 1934, sendo mencionado pela 
Constituição de 1946 e, após, pela Cana autoritária de 1967. Atualmente, possui tutela 
pela Constituição da República de 1988, por meio do arr. 5°, LXIX, CF/88. Nas palavras 
de Uadi Bulos, 
a garancia não nasceu de uma hora para outra. Foi fruto de ingence trabalho doutriná­
rio e jurisprudencial, num período em que o jurisdicionado começava a sencir o sabor 
da liberdade de locomoção física e os meios de defender-se concra o arbítrio do Poder 
Público.16 
O remédio está devidamente regulamentado por norma infraconstitucional. Primei­
ramente, foi disciplinado pela Lei n° 1 .533/1951. A Lei nº 4.348/1964 também estabeleceu 
normas processuais relativas ao mandado de segurança. Recentemente, porém, foi publi­
cada a Lei nº 12.016, em 10.08.2009, que passou a ser o diploma legal regulamentador 
do instrumento. Essa lei revogou a anterior (Lei nº 1.533/1951), além de outras disciplinas 
normativas que diziam respeito ao mandado de segurança. 
15. TEMER. Michel. Elementos de direito constitucional. 171 ed. São Paulo: Malheiros, p. 179. 
16. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direita Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 575. 
420 
AÇÓES CONSTITUCIONAJS 
Em suma, breve histórico apresentado, se deve cer em mence, ames de avançar ao pró­
ximo icem, que o incuico do Escado, desde a introdução do remédio no direito brasileiro, 
sempre foi o de conferir ao cidadão instrumentos capazes de evitar ou combater eventuais 
ilegalidades ou abuso do poder. 
3.2. Cabimento 
Da leitura do dispositivo constitucional, percebe-se que o mandado de segurança 
constitui remédio a ser ucilizado quando direito líquido e cerco - capaz de ser demonstrado 
independente de ulterior dilação probatória - do indivíduo for violado por aro de autori­
dade governamental (autoridade pública de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Discrico Federal e dos Municípios, e das respectivas autarquias, fundações públicas, 
empresas públicas e sociedades de economia mista) ou de agente de pessoa jurídica privada 
que esteja, por delegação, no exercício de atribuição do Poder Público, contra o qual não 
seja oponível habeas corpus ou habeas data. 
O mandado de segurança é, pois, um remédio constitucional de caráter residual, 
uma vez que somente poderá ser impetrado para amparar direito líquido e certo que não 
disser respeito ao direito de locomoção (habeas corpus) e ao direito ao acesso e/ou retifica­
ção de informações pessoais (habeas data}. 
A redação constitucional pertinente ao mandado de segurança faz menção ao termo 
"ilegalidade" e à locução "abuso de poder". O vocábulo refere-se à ilegalidade em sentido 
amplo, que abrange a ilegalidade propriamente dica, bem como os aros praticados com 
excesso de poder, e também os praticados com desvio de finalidade17• 
Para a utilização do instrumento há, também, a exigência de que o direico seja "líqui­
do e cerco". Tal expressão possui natureza processual e significa que a parte cem ônus de 
demonstrar a existência do direito em que se funda sua pretensão já com os documentos 
que acompanham a petição inicial do mandado de segurança18, não podendo valer-se de 
ulterior dilação probacória19·20• 
17. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 292. 
18. Nesse sentido: "PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROVA PRÉ- CONSTITUÍDA. AUS�NCIA. EXTIN­
ÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. 1. Entre os requisitos específicos da ação mandamental está 
a comprovação, mediante prova pré-constituída, do direito subjetivo liquido e certo do impetrante. 2. Na hipó­
tese, discute-se a respeito da nulidade de pesquisa mineral, sob o fundamento de que a autorização de que trata 
o art. 27 do Decreto-lei nR 227 /1967 não foi concedida pelo legítimo proprietário ou posseiro da área objeto 
da pesquisa. Todavia, a titularidade da propriedade onde se localizam as jazidas é objeto de ação de usucapião 
ainda em curso, e depende de minuciosa instrução probatória, incabível em sede de mandado de segurança. 3. 
Mandado de segurança extinto sem julgamento do mérito. (STJ - MS nR- 11.944/DF, Rei. Ministro TEORI ALBINO 
ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/11/2008, D/e 09/12/2008)". 
19. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 293. 
20. A expressão não se refere à necessidade de que o direito seja induvidoso, conforme saliente a súmula 625, do 
STF: "Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança." 
421 
NATHAL!A lv!ASSON 
Conforme tradicional conceituação de Hely Lopes Meirelles21 , largamente utili­
zada pela doutrina e jurisprudência, "direito líquido e certo é o que se apresenta mani­
festo na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento 
da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por manda­
do de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos 
e condições de sua aplicação ao impetrante; se a sua existência for duvidosa; se a sua 
extensão ainda não estiver delimitada; se o seu exercício depender de situações e fatos 
ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por 
outros meios judiciais". 
Existe uma exceção a essa regra, não sendo a pré-Constituição probatória exigida de 
maneira absoluta, na hipótese do art. 6°, § 1°, da Lei nº 12.016/200922• 
Por fim, vale frisar que devemos entender como "autoridade pública" codas as pessoas 
físicas que exerçam alguma atividade estatal, investidas de poder decisório, necessário para 
poder rever o ato tido por ilegal ou abusivo. Incluem-se nessa definição, por exemplo, os 
agentes polícicos e os servidores públicos em sentido amplo23• Assim, embora destinado 
à defesa de direitos contra atos de aucoridade, a doutrina e a jurisprudência consideram 
legítima a utilização do mandado de segurança contra aco praticado por particular no 
exercício de atividadedelegada. 
3.3. Hipóteses de restrição, quanto ao cabimento, ao mandado de segurança 
individual 
Os requisitos, quando preenchidos, compreendem a admissibilidade do mandado de 
segurança. Existem casos, porém, em que não será cabível o mandamus, seja por restrição 
legal, ou mesmo por entendimento jurisprudencial. 
Nesse sentido, podemos afirmar que não será cabível o writ, quando se tratar: 
(i) de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independen­
temente de caução (are. 5°, 1, Lei nº 12.016/2009). Nesse caso, dispõe o interessado de 
meio próprio e efetivo de impugnação do aco. Nada impede, contudo, que a parte deixe 
esgotar o prazo recursai, para então impetrar, diretamente, o mandado de segurança. Da 
mesma forma, poderia impetrá-lo caso o recurso administrativo fosse recebido apenas 
em seu efeito devolutivo. Ressalta-se que, mesmo existindo o recurso administrativo com 
21. MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança, ação popular, ação civil pública, mondado de injunção e "ha­
beas data". São Paulo: Malheiros, 151 ed. 1994, 28! ed. 2005, p. 11. 
22. Art. 62, § 12, Lei n2 12.016/2009: No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em 
repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou 
de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia 
autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do do­
cumento para juntá-las à segunda via da petição. 
23. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 293. 
422 
AÇÓES CONSTITUCIONAIS 
efeito suspensivo, se houver omissão ilegal ou abusiva da administração, caberá mandado 
de segurança, nos moldes da súmula nº 429 do STF24• Ademais, o mero pedido de recon­
sideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança, 
conforme a súmula nº 430 do STF25; 
(ii) de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo (are. 5°, II, Lei nº 
12.016/2009). Conforme redação da nova Lei nº 1 2.016/2009, entende-se que há impe­
dimento para utilização do mandamus contra decisão judicial da qual caiba recurso com 
efeito suspensivo. Isso não impede, contudo, o cabimento contra ato judicial, ainda que 
passível de recurso (sem efeito suspensivo); 
(iii) de decisão judicial transitada em julgado (art. 5°, III , Lei n° 1 2.016/2009). 
Tal hipótese não escava prevista na lei anterior que disciplinava o mandado de segurança, 
contudo, o entendimento já havia sido explicitado pela jurisprudência do STF26• O impe­
dimento leva à conclusão de que o instrumento do mandado de segurança não é hábil para 
substituir recurso. Há, todavia, exceção: caso a decisão seja ceracológica (absurda), dotada 
de ilegalidade ou nulidade manifesta, mesmo não cabível o recurso, caberá (ainda que 
excepcionalmente) mandado de segurança27• 
(iv) de lei em tese. O mandado de segurança não é o meio idôneo para impugnar lei 
abstrata e genérica, mas apenas e cão somente os atos da administração pública que causem 
lesão ou ameaça de lesão a direito de um ou mais administrados em parcicular28• Contu­
do, importante ressaltar que a jurisprudência cem permitido o cabimento de mandado de 
segurança para combater leis de efeitos concretos, ou seja, leis em sentido formal, pois são 
editadas pelo Poder Legislativo, mas constituem verdadeiros atos administrativos em sen­
tido material (no que diz respeito ao conteúdo), sem o caráter de abstração e generalidade, 
uma vez que destinadas a reger relações de pessoas determinadas. Exemplificativamente: 
leis que criam Municípios e suprimem distritos; leis de isenção fiscais; leis que proíbem 
determinadas condutas; decretos de desapropriação; leis de planificação urbana e decretos 
de nomeação ou exoneração. 
(v) de ato interna corporis. Para o STF, não cabe mandado de segurança contra ma­
téria privada, interna, de cunho particular das Casas Legislativas. O contrário infringiria 
um valor muito caro ao ordenmaento: o princípio da separação de Poderes. 
24. STF, súmula ne 429: "A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do manda­
do de segurança contra omissão da autoridade". 
25. STF, súmula ne 430: "Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de 
segurança". 
26. STF, súmula ne 268: "Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado". 
27. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 361. 
28. Nesse sentido, justifica-se o enunciado da súmula n2 266 do STF: "Não cabe mandado de segurança contra lei 
em tese". 
423 
NATHALlA MASSON 
(vi) de substituição por ação popular ou ação de cobrança. Conforme a súmula nº 
101 do STF29, o mandado de segurança não substitui a ação popular e, consoante a súmula 
nº 269 da Suprema Corte30, também não substitui ação de cobrança. 
3.4. Competência 
A competência para o julgamento do mandado de segurança é fixada em conformida­
de com a autoridade impetrada. A natureza da autoridade que pratica a conduta comis­
siva ou omissiva da qual resulte lesão ou ameaça de lesão a direito tutelado pelo writ é que 
definirá a competência. Importante salientar que a competência funcional para o proces­
samento e julgamento do mandado de segurança será fixada no momento da propositura 
da ação, sendo que a posterior modificação da natureza do status funcional da autoridade 
coatora será irrelevante, pois o foro competente não se modifica. 
Existem duas regras para a fixação de competência em sede de mandado de segurança: 
(A) competência funcional (por prerrogativa de função), prevista constitucional­
mente: é delimitada pelos artigos: 102, I, "d" (STF); 102, I "r" (STF); 105, I, "b" (STJ); 
108, I, "c" (TRF); 109, VIII (Justiça Federal); art. 1 14, IV (Justiça do Trabalho), todos da 
Constituição Federal; 
(B) competência infraconstitucional, na qual o juízo competente para a impetração 
do writ será o da sede da autoridade coarora. 
Assim, temos: 
(i) Quando a autoridade coatora for o Presidente da República, as Mesas da Câmara 
dos Deputados e do Senado Federal, o Tribunal de Contas da União, o Procurador-Geral 
da República ou o próprio Supremo Tribunal Federal, a competência originária para julga­
mento será do Supremo Tribunal Federal, conforme are. 102, I, "d", CF/88; 
(ii) A competência também será do Supremo Tribunal Federal, quando se tratar de 
julgamento, em recurso ordinário, do mandado de segurança decidido em única instância 
pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (are. 102, II , "a", CF/88). 
(iii) Por outro lado, será hipótese de competência originária do Superior Tribunal de 
Justiça no caso de ato praticado por Ministro de Estado, pelos Comandantes da Marinha, 
do Exército e da Aeronáutica, ou pelo próprio Tribunal (are. 105, I, "b", CF/88). 
(iv) O Superior Tribunal de Justiça também julgará, em recurso ordinário, os man­
dados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou 
pelos Tribunais dos Estados, do Discriro Federal e Territórios, quando denegatória a deci­
são (art. 105, II, "b'', CF/88). 
29. STF, súmula n9 101: "O mandado de segurança não substitui a ação popular". 
30. STF, súmula ne 269: "O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança". 
424 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
(v) Aos Tribunais Regionais Federais cabe julgar, originariamente, os mandados de 
segurança contra ato de juiz federal ou do próprio Tribunal (arr. 108, I , "c", CF/88). 
(vi) Aos juízes federais, por sua vez, cabe processar e ju lgar os mandados de segu­
rança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos TribunaisRegionais Federais (art. 109, VIII, CF/88). 
(vii) Finalmente, estabelece o art. 1 14, IV, CF/88 {introduzido pela Emenda Constitu­
cional nº 45/2004), que confere à Justi� do Trabalho o processamento e julgamento de 
mandado de segurança quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua competência. 
Ainda no que diz respeito à competência em sede de mandado de segurança indivi­
dual, alguns apontamentos finais são pertinentes: 
(1) os Tribunais são competentes para processar e julgar os mandados de segurança 
impetrados contra seus próprios atos e omissóes31; 
(2) havendo foro por prerrogativa de função e o mandado de segurança tiver que ser 
impetrado contra diferentes autoridades coatoras, a autoridade de maior hierarquia deter­
minará a competência para o julgamento do feito; 
(3) nos órgãos colegiados, o mandado de segurança será impetrado contra o presidente 
do órgão colegiado, por ser ele o representante máximo do órgão que sºubscreve o ato e 
responde por sua execução32; 
(4) quando o praticante da ação ou omissão for Promoror de Justiça, a competência 
para julgar o writ é do juiz de primeiro grau e não do Tribunal; 
(5) se o ato comissivo ou omissivo for de autoria de Comissão Parlamentar de Inqué­
rito, a competência para processamento e julgamento será do STF; 
(6) é de competência da Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança 
contra ato de dirigente de entidade particular de ensino superior no exercício de função 
delegada federal33; 
(7) o mandado de segurança contra nomeação de magistrado pelo Presidente da Re­
pública deverá ser impetrado no STF. Ainda que o vício que fundamenta a impetração 
ocorra em fase anterior do procedimento (por exemplo: na lista da OAB ou do Ministério 
Público ou mesmo na lista do Tribunal em questão), a autoridade coatora será o Presidente 
da República34; 
31. Nesse sentido, afirma a súmula n2 624, do STF: "Não compete ao STF conhecer originariamente de mandado de 
segurança contra atos de outros Tribunais". 
32. Contudo, devemos ter atenção para o fato de que quando o presidente do órgão colegiado for Ministro de 
Estado, o processamento e julgamento não será do STJ. Conforme a súmula n2 177 do STJ: "O Superior Tribunal 
de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão 
colegiado presidido por Ministro de Estado". A competência, portanto, será da Justiça Federal. 
33. TRF, súmula n2 15: "Compete à Justiça Federal julgar mandado de segurança contra ato que diga respeito ao ensino 
superior, praticado por dirigente de estabelecimento particular." Posicionamento reiterado pela jurisprudência do STJ. 
34. STF, súmula n2 627: "No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do Presiden­
te da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração seja nulidade 
ocorrida em fase anterior do procedimento". 
425 
NATHALIA MASSON 
(8) contra decisões proferidas pelas turmas do Supremo Tribunal Federal, não cabe 
mandado de segurança; 
(9) os Mandados de Segurança contra atos dos juízes dos Juizados Especiais Cíveis, 
bem como contra atos das Turmas Recursais Cíveis, devem ser impetrados nas próprias 
Turmas Recursais, tanto da Justiça Federal quanto da Justiça Estadual35. 
Autoridade estadual, dirigentes ou serventuários 
estaduais ou municipais 
Autoridade federal - art. 109, VIII CF 
Juiz de Direito; Mesa da Assembleia Legislativa 
Juiz Federal 
Juiz dos Juizados Especiais 
Turma Recursai 
Tribunal de Justiça; Tribunal Regional Federal; Superior 
Tribunal de Justiça; Supremo Tribunal Federal 
Ministro de Estado, Comandantes da Marinha, Exército 
o Aeronáutica. 
Presidente da República, Mesas da Câmara dos 
Deputados e do Senado, Tribunal de Contas da União, 
Procurador-Geral da República 
3.5. Legitimidade ativa e passiva 
Juiz de Direito 
Juiz Federal 
Tribunal de Justiça 
Tribunal Regional Federal 
Turma Recursai 
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal 
Pleno ou Órgão Especial dos Tribunais listados, a de­
pender do Regimento Interno de cada um deles 
Superior Tribunal de Justiça 
Supremo Tribunal Federal 
O legitimado ativo para a impetração do mandado de segurança será o detentor do 
direito líquido e cerco, não amparado por habeas corpus ou por habeas data36, podendo 
este ser qualquer pessoa física - brasileiros ou estrangeiros, residentes ou não no país­
ou pessoa jurídica- nacional ou estrangeira, privada ou pública- alguns órgãos públicos 
com capacidade processual (caso das Mesas das Casas Legislativas, Chefia dos Executivos, 
Chefia do Tribunal de Contas, Ministério Público), agentes políticos, além de outros entes 
despersonalizados com capacidade processual (e exemplo do espólio e da massa falida). 
35. Ver posicionamento do STF, nesse sentido, no MS n2 24.691. 
36. O titular do direito lesionado ou ameaçado de lesão é que pode impetrar o mandado de segurança. Essa é 
a regra da "legitimação ordinária". Há, contudo, uma exceção a essa regra, em que pode haver legitimação 
extraordinária (substituição processual). Trata-se da hipótese da pessoa que sofre uma lesão, por via reflexa, 
em razão da violação a direito de outrem, conforme previsto no Art. 32, Lei n2 1.533/1951: "O titular de direito 
líquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro, poderá impetrar mandado de segu­
rança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, em prazo razoável, apesar de para isso notificado 
judicialmente.". É o caso, por exemplo, do locatário, que poderá impetrar mandado de segurança contra ato da 
municipalidade, que cobra um imposto inconstitucional do proprietário do imóvel, mas que tem de ser pago 
por aquele, por força do que restou pactuado no contrato de locação. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. 
Direito Processual Constitucionol. São Paulo: Atlas, 2009, p. 297. 
426 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
O legirimado passivo, por ourro lado, será a aucoridade coacora. A aucoridade coarora 
é aquela que prarica ou ordena a execução ou a inexecução do aro a ser impugnado via 
mandado de segurança. 
Desraca-se que os "meros execucores" do aro, que cumprem ordens advindas da auro­
ridade coacora, não são considerados legirimados passivos na ação de mandado de segu­
rança. Em regra, o writ não deve ser imperrado conrra a pessoa jurídica de direiro público 
(ou de direiro privado que exerça arribuiçóes do Poder Público37), todavia, a dourrina e ju­
risprudência acual38 rêm encendido que a pessoa jurídica em nome da qual o aro (comissivo 
ou omissivo) foi pracicado rambém se enquandra como legicimada passiva. 
Segundo Bernardo Gonçalves Fernandes39, os seguinces mocivos corroboram para 
essa afirmação: 
(i) é ela que suporra o ônus da decisão (por exemplo, os efeicos pecuniários decorrences 
da concessão da segurança); 
(ii} ela é quem recorre da decisão prolarada no mandado de segurança; 
(iii) a redação da Lei nº 12.016/2009, deixa assence a possibilidade de parcicipação da 
pessoa jurídica à qual escá vinculado a aucoridade coarora na relação processual. Nesses 
cermos, esrá posirivado no are. 7°, I I , que no despacho da inicial o juiz ordenará "que se dê 
ciência do feiro ao órgão de represenração judicial da pessoa jurídica inceressada, enviando­
-lhe cópia da inicial sem documencos, para que, querendo, ingresse no feiro". 
3.6. Procedimento 
O procedimenco do mandado de segurança será especial, de rico sumaríssimo, no qual 
o objeco principal do inscrumenco é a anulação de aro ilegal ou abusivo de direico l íquido 
e cerco, ou a dererminação da prárica do aco omirido pela respecriva auroridade coacora 
compecence ou mesmo uma ordem de não fazer. A causa de pedir envolve necessariamence 
a ilegalidade ou o abuso de poder que venha a causar lesão ou ameaça de lesãoao direico 
líquido e cerco40• 
37. Nesse sentido, poderão ser sujeitos passivos dessa ação constitucional os particulares, quando delegatários do 
Poder Público. Exemplo: diretor de instituição de ensino particular, quando este comete alguma ilegalidade ou 
abuso de poder. Alguns requisitos devem ser preenchidos para que um particular esteja no pólo passivo de um 
mandado de segurança: deve existir uma transferência de atribuições do Poder Público para o particular, por 
melo de concessão, permissão etc. Além disso, o ato arrostado deve ter sido praticado no efetivo exercício des­
sas funções públicas. 
38. Ver: STJ - 11 T. - Resp. n2 83.633/ CE - v.u - rei. José Delgado, DJU, lS.04.1996, p. 11; STF, RExt. N2 412.430, 
julgado em 13.12.2005 de Rei. Min. Ellen Gracie. 
39. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucionol. 11 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 
365. 
40. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucionol. 11 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 373. 
427 
NATHALIA MASSON 
O writdeverá ser impetrado pelo legitimado ativo no órgão competente para julgá-lo. A 
petição será apresentada em duas vias, com os documentos que instruírem a primeira e indi­
cará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, a qual se acha vinculada 
ou na qual exerce atribuições. Na petição de impetração, o legitimado ativo poderá formular 
pedido de medida liminar, com fundamento no art. 7°, III, da Lei nº 12.016/2009. 
Caso o mandado de segurança não seja indeferido de plano, a autoridade coatora será 
notificada para prestar informações, tendo o prazo de dez dias para fazê-lo. Após o trans­
curso do prazo, o órgão do Poder Judiciário ouvirá o representante do Ministério Público, 
que opinará, na condição de custus legis, dentro do prazo improrrogável de dez dias. Em 
seguida, independentemente da existência do parecer do Parquet, os autos serão conclusos 
ao magistrado para decisão, que deverá ser proferida no prazo de trinta dias. 
3.7. Apontamentos acerca do procedimento no mandado de segurança 
Alguns apontamentos que dizem respeito ao trâmite procedimental são relevantes e 
devem ser analisados. Vejamos: 
(i) a concessão da liminar é direito subjetivo do autor, sendo o juiz obrigado a conce­
dê-la, desde que preenchidos os requisitos processuais41• Assim, o magistrado, ao despa­
char a inicial, ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver 
fundamento relevante e do aro impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja 
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com 
o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. Contudo, insta salientar que a 
Lei nº 12.016/2009 traz em seu bojo exceções legais, que deverão ser observadas pelo juiz. 
Nos seguintes casos, será vedada a concessão de medida liminar: 
{A) para a compensação de créditos cributários42; 
(B) para a entrega de mercadorias e bens proveninentes do exterior; 
(C) para a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de au­
mento ou extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza (are. 7°, § 5° da Lei 
nº 12.016/2009). 
(ii) concedida ou denegada a liminar pelo Juiz, existirá a possibilidade de recurso. 
Nos moldes do are. 7°, § 1°, da Lei nº 12 .016/2009, "da decisão do juiz de primeiro grau 
que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento". Será cabível o agravo 
de instrumento por se tratar de decisão incerlocutória. Embora não possua natureza pro­
cessual de recurso, além da possibilidade do agravo de instrumento, a pessoa jurídica de 
direito público interessada também poderá requerer ao Presidente do Tribunal competente 
a concessão de suspensão dos efeitos da liminar (are. 15, Lei nº 1 2.016/2009). 
41. Não há, na Constituição Federal, menção expressa à possibilidade de concessão de liminar em mandado de 
segurança. Contudo, a Lei n2 12.016/2009 permite, claramente, a concessão. 
42. Vide súmula n2 212, do STJ. 
428 
AÇÔES CONSTITUCIONAJS 
(iii) da decisão do Presidente do Tribunal que denegar ou conceder a suspensão da 
liminar, caberá recurso de agravo interno, conforme entendimento jurisprudencial43; 
(iv) os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prola­
ção da sentença (are. 7°, § 3°, Lei nº 12 .016/2009)44; 
(v) a suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em con­
trário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de 
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal 
Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da 
impetração (súmula nº 626, do STF45). 
3.8. Efeitos da decisão e recursos 
No mandado de segurança, a sentença concessiva do writ é mandamental, contendo 
ordem direcionada à autoridade coatora. Em regra, estipula execução imediata. Para que 
a medida seja efetivada, concedido o mandado, o juiz deverá transmitir em ofício, por 
intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de 
recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada 
(art. 13 da Lei nº 12 .016/2009). Há a possibilidade de execução provisória, antes mesmo 
de transitada em julgado a sentença, salvo nos casos em que for vedada a concessão da 
medida liminar46• 
Da decisão que conceder ou denegar o mandado de segurança, será cabível o recurso 
de apelação. São legitimados para recorrer o impetrante, a pessoa jurídica à qual está vin­
culada a autoridade coatora, a própria autoridade coatora e o Ministério Público47. 
A depender da situação e adequação, outros recursos relacionados ao mandado de 
segurança também serão cabíveis. São eles: recurso extraordinário para o STF (are. 102, 
III); recurso especial para o STJ (art. 105, III); recurso ordinário para o STF (art. 102, II, 
"a"); e recurso ordinário para o STJ (art. 105, II, "b"). 
43. Nesse sentido, foram canceladas as súmulas n2 506 do STF e n2 217 do STJ, que diziam só caber recurso de agra­
vo da decisão que deferisse a suspensão da liminar e não da que denegasse. 
44. Nesse mesmo sentido, súmula n2 405 do STF: "Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no 
julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão 
contrária". 
45. STF, súmula 626: "A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em contrário da 
decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou, 
havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar deferida 
coincida, total ou parcialmente, com o da impetração". 
46. Conforme art. 14, § 32 da Lei n2 12.016/2009: "A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser 
executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar". 
47. Nesse sentido é a súmula n2 99, do STJ: "O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em 
que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte". 
429 
NATHALLA MASSON 
Importante esclarecer que, no caso de indeferimento, será cabível apelação somente se 
o writ houver sido indeferido por juiz de primeira instância. Contudo, se a impetração se 
deu originamriamente em Tribunal e o indeferimento foi realizado pelo relator, de plano, 
o recurso cabível será o agravo regimental48• 
Via de regra, a apelação não terá efeito suspensivo. Nesse caso (não havendo efeito 
suspensivo), a pessoa jurídica de direito público pode pleitear a suspensão dos efeitos da 
sentença ao Presidente do Tribunal no qual o recurso está tramitando (are. 15 da Lei nº 
1 2.016/2009)49• 
No que diz respeito à coisa julgada, oart. 19 da Lei nº 1 2.016/2009 estabelece que 
"a sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não 
impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos 
patrimoniais". Nesse sentido, entende-se que a falta de coisa julgada material, ou seja, a de­
cisão negatória sem julgamento do mérito, faz surgir a possibilidade de renovação do pleito 
(impetração de novo mandado de segurança), desde que respeitado o prazo decadencial de 
cento e vinte dias, ou, caso vencido esse prazo, o uso de uma ação propria50. 
3.9. Prazo para impetração do mandado de segurança 
O prazo para impetração do mandado de segurança é de cento e vinte dias, conta­
dos do conhecimento oficial pelo interessado do ato a ser impugnado (are. 23 da Lei nº 
12.016/2009). 
Trata-se de prazo decadencial. Descarte, após iniciado, não se interrompe, tampouco 
se suspende. À luz do are. 5°, LXIX, CF/88, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou 
dizendo ser este prazo constitucional51• 
Algumas reflexões acerca do prazo devem ser ventiladas: 
(i) caso o writ seja impetrado dentro do prazo adequado (de cento e vinte dias), toda­
via em juízo não competente, sendo o mesmo remetido ao juízo competente, a Suprema 
Corte já se posicionou no sentido de que não há caducidade vez que a impetração se deu 
no curso do lapso temporal possível; 
48. Da apelação improcedente caberá Recurso Especial ou Extraordinário ao STJ e STF, respectivamente, caso haja 
enquadramento nas hipóteses dos dispositivos constitucionais do art. 102, I l i e do art. 105, Ili, ambos da Cons­
tituição Federal. Se, por outro lado, o indeferimento for do agravo regimental em um Tribunal de Justiça, caberá 
recurso ordinário para o STJ, com base no art. 105, li, CF/88. 
49. Da decisão do Presidente do Tribunal que concede ou que denega a suspensão dos efeitos da sentença, cabe 
agravo interno. 
50. No mesmo sentido, súmula n2 304 do STF: "Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa 
julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria". 
51. Conforme súmula n2 632, do STF: "É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de 
mandado de segurança". 
430 
AÇÓES CONSTITUCIONAIS 
(ii) se o mandamus for impetrado preventivamente, tendo em vista ameaça de lesão a 
direito líquido e cerco, não há que se falar em prazo decadencial de cento e vinte dias, eis 
que, enquanto perdurar a ameaça, haverá a possibilidade de interposição do mandado de 
segurança; 
(iii} na hipótese de o mandado de segurança ser interposto contra omissão de cerca 
autoridade, não haverá prazo decadencial a ser observado caso a administração não esteja 
sujeita a prazo para praticar o ato. Assim, enquanto durar a omissão caberá o mandado 
de segurança. Por outro lado, se a administração estiver sujeita a prazo para a prática de 
determinado ato, findo o mesmo sem a sua realização, passa a existir o prazo decadencial 
de cento e vinte dias para o manejo do writ. 
4. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO (ART. 5° LXX, CF/88) 
4. 1 . Introdução 
À luz de nossa acuai Constituição Federal, é possível afirmar que o mandado de segu­
rança é um gênero, que se fraciona em duas espécies: o mandado de segurans:a indivi­
dual e o coletivo. A conceituação do mandado de segurança coletivo, a rigor, é a mesma 
do mandado de segurança individual. Também se apresenta como uma ação constitucio­
nal de natureza civil e de procedimento especial, que visa tutelar direito líquido e cerco. 
No mandado de segurança coletivo, entretanto, o foco será a coletividade e a proteção 
de seus direitos (coletivos e individuais homogêneos), não o sujeito considerado em sua 
individualidade. A grande diferença entre o mandado de segurança na modalidade indivi­
dual e na modalidade coletiva reside, pois, em seu objeto e na legitimação ativa52• 
Não surpreende, pois, a tradicional afirmação da doutrina majoritária de que o man­
dado de segurança coletivo nada mais é do que a possibilidade de impetrar o mandado de 
segurança individual por intermédio da tutela jurisdicional coletiva. 
A Lei nº 1 2.016/2009 deixou assente, de maneira expressa, quais os direitos protegi­
dos pelo mandado de segurança coletivo. De acordo com o are. 2 1 , parágrafo único, são 
eles: 
(i) coletivos, assim entendidos, para efeito da Lei, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica básica; 
(ii) individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes 
de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos asso­
ciados ou membros do impetrante. 
52. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 131 ed. São Paulo: Método, 2009, p. 736. 
431 
NATHALIA MASSON 
A limitação determinada pela lei ao não abarcar os direitos difusos foi duramente 
criticada pela doutrina, ao argumento de que a lei estaria vedando, inadequadamente, a 
tutela dos direitos difusos por meio do mandado de segurança coletivo. Deve-se ressaltar, 
todavia, que o entendimento posto na lei é tradução do que já vinha sendo defendido nos 
Tribunais superiores, que descartam o uso do mandado de segurança coletivo como subs­
tituto da ação popular. Nesse sentido é a súmula 101 do STF: "O mandado de segurança 
não substitui a ação popular". 
Por último, em que pese a inexistência de uma definição constitucional acerca da 
finalidade e objeto da ação coletiva em comento, tradicionalmente tem-se fixado possuir o 
mandado de segurança coletivo tríplice finalidade, a saber: 
(1) fortalecer as organizações classistas, eis que o instrumento permite a defesa de di­
reitos dos membros ou associados, por exemplo, das associações e das entidades de classe; 
(2) facilitar o acesso à justiça; 
(3) evitar o acúmulo de demandas idênticas, pois a ação permite a substituição de 
diversos mandados de segurança individuais por um único de caráter coletivo. 
4.2. Hipóteses de cabimento 
Como já visto, o mandado de segurança coletivo poderá ser utilizado nas mesmas 
hipóteses de cabimento do mandado de segurança individual. Assim, possui por finalida­
de a proteção de direito l íquido e cerco, não amparado por habeas corpus ou habeas data, 
quando o paciente sofrer lesão ou ameaça a direito, por ação ou omissão da autoridade. 
Distingue-se do mandado de segurança individual, porém, no que diz respeito aos 
legitimados para a propositura da ação, conforme será demonstrado a seguir. 
Nesse sentido, o mandado de segurança coletivo não se destina à cutela de direitos de 
um indivíduo em particular, devendo ser utilizado apenas para a tutela de direitos coletivos 
em sentido amplo. Não é indispensável, contudo, que o mandamus coletivo busque tutelar 
direito coletivo da totalidade dos associados do impecrante, baseando que se destine à tu­
tela de algum direito coletivo de uma parcela deles53• 
4.3. Legitimidade ativa e passiva 
Na dicção do are. 5°, LXX, da Constituição Federal o mandado de segurança coletivo 
pode ser impetrado por: 
(i) partido político com representação no Congresso Nacional; 
53. Nesse sentido, súmula ng 630, do STF: "A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança 
ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria". 
432 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
(ii) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituí­
da e em funcionamento há pelo menos um ano54, em defesa dos interesses de seus 
membros ou associados. 
Mister salientar que, ao contrário do que se dá com o mandado de segurança indivi­
dual, em que a regra é a legitimação ordinária - ou seja, a substituição processual só se dá 
por exceção - no mandado de segurança coletivo a legitimação será sempreextraordinária, 
acuando os legitimados em nome próprio, mas em defesa de direitos coletivos de terceiros55. 
No que diz respeito aos partidos políticos, o requisito da representação no Congresso 
Nacional, conforme fixado na Constituição Federal, já estará plenamente atendido caso o 
partido impetrante tenha um único parlamentar, seja na Câmara dos Deputados, seja no 
Senado Federal. Assim, o Partido Político, para ter representação no Congresso Nacional 
- configurando, assim, a legitimidade ativa - necessita apenas de um único Deputado 
Federal ou de um único Senador da República, não havendo a exigência de membros do 
Poder Legislativo nas duas Casas para se consolidar a legitimidade. 
Não poderá impetrar mandado de segurança coletivo, portanto, o partido político 
que não tiver representantes no Congresso Nacional, e que os tenha apenas em Assembleia 
Legislativa de Estado, Câmara Legislativa do Distrito Federal ou Câmara Municipal. 
Os partidos políticos podem utilizar o mandado de segurança coletivo para proteção 
de quaisquer direitos coletivos da sociedade. O remédio nessa categoria não se restringe, 
portanto, a acuar na defesa exclusiva de seus membros ou associados. 
Seguindo a jurisprudência da Suprema Corte, não é necessária a autorização expres­
sa dos membros da entidade para a impetração do mandado de segurança coletivo. O 
mandamento constitucional contido no inciso XXI, do are. 5°, CF/88, que assim esta­
belece: "as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade 
para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente", não se aplica ao mandado de 
segurança coletivo56• 
54. De acordo com entendimento do STF, o requisito de funcionamento há pelo menos 1 (um) ano aplica-se co­
mente às associações e não para as entidades de classe ou sindicatos. Assim, o sindicato e a entidade de Classe 
somente precisam estar legalmente constituídos e terem por objetivo a defesa de interesses de seus membros 
ou associados. Vide STF - 11 T. - RE n2 198.919-DF- Rei. Min. limar Galvão, decisão: 15-06-1999 - Informativo 
STF n2 154. 
55. "Atenção, porém, ao posicionamento do STF contido no R.Ext. nv 181.438/SP. O Pretório Excelso entende que 
se o objeto do mandado de segurança coletivo é um direito dos associados, não há necessidade do direito de 
guardar vínculo com os fins próprios da entidade e nem mesmo há exigência de ser um direito peculiar ou pró­
prio da classe. Porém, o direito deve estar compreendido na titularidade dos associados e existir em razão das 
atividades exercidas pelos mesmos." FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 392. 
56. Conforme súmula n2 629, do STF: "A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em 
favor dos associados independe da autorização destes". 
433 
NATHALIA MASSON 
Ainda acerca da legitimidade, cumpre destacar que os Estados membros não são do­
tados de legitimidade ativa para a proposicura de mandado de segurança coletivo contra 
a União, alegando defesa de interesses das populações residentes nas respectivas unidades 
federadas. Além de não estarem arrolados na legitimidade ativa constitucionalmente pre­
vista (no art. 5°, LXX), os Escados não são propriamente órgãos de representação ou de 
gestão de interesses da população57• 
No que diz respeito às organizações sindicais, entidades de classe e associações, estas 
necessitam demonstrar a existência de interesse de agir, consolidado na pertinência temá­
tica entre os direicos coletivos que pretendem defender em juízo e os seus objetivos sociais, 
expressamente fixados em seus aros constitutivos. Quanto à necessidade de consticuição 
legal e funcionamento há pelo menos um ano, esta exigência refere-se tão somente às asso­
ciações, não se extendendo aos demais legitimados do mandado de segurança coletivo, ou 
seja, aos partidos políticos, sindicatos e entidades de classe58• 
A legicimidade passiva do mandado de segurança coletivo é mesma do mandado de 
segurança individual (vide item 3.5). 
4.4. Competência 
No mandado de segurança coletivo a disciplina constitucional referente à compe­
tência será a mesma do mandado de segurança individual (vide icem 3.4). Como se pode 
verificar da simples leitura dos artigos da Constituição da República, os mesmos não fa­
zem qualquer rescrição, no tocante a sua aplicação, a uma das modalidades específicas de 
mandado de segurança. 
4.5. Procedimento 
O procedimento também será semelhante ao do mandado de segurança individual. 
Porém, aqui há uma marcante distinção: a concessão de medida liminar no mandado de 
segurança coletivo somente será possível após a audiência do representante judicial da pes­
soa jurídica de direito público, que deverá se manifestar no prazo de setenta e duas horas 
(are. 22, § 2°, da Lei nº 1 2.016/2009). 
Nada impede, contudo, que esse dispositivo seja relativizado, ensejando a análise de 
plano do pedido liminar, nas hipóteses em que o procedimento ocasione a possibilidade de 
dano grave e difícil reparação ao impetrante do writ. 
57. Vide MS nR 21.059/RJ. 
58. RE 198.919-0F, Rei. Mini. limar Galvão, noticiado no INF 154, 5TF: "Tratando-se de mandado de segurança co­
letivo impetrado por sindicato, é indevida a exigência de uma ano de constituição e funcionamento, porquanto 
esta restrição destina-se apenas às associações, nos termos do art. SR, L.XX, "b", in fine, da CF". 
434 
AÇÔES CONSTITUCIONAIS 
4.6. Efeitos da decisão 
Os efeitos da decisão em mandado de segurança coletivo abrangem todos os asso­
ciados que se encontram descritos na petição inicial do writ, independentemente se o 
ingresso na associação tenha ocorrido antes ou após a impetração. Ademais, o mandado 
de segurança coletivo fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria 
substituídos pelo impetrante (are. 22, caput, da Lei nº 12.016/2009). 
Parte considerável da doutrina afirma que a concessão do writ acarretará coisa julgada 
material beneficiando todos os que se encontram como membros da entidade no momento 
da execução da sentença. Por oucro lado, sendo a sentença denegatória, esta gerará coisa 
julgada formal, o que possibilita a qualquer membro ou associado da entidade a pleitear, 
individualmente, mandado de segurança. Nesse sentido, a impetração do mandado de 
segurança coletivo não gera litispendência entre a esfera individual e coletiva, o que pos­
sibilita a posterior utilização do mandado de segurança individual. Ressaira-se, porém, 
que embora o mandado de segurança coletivo não induza litispendência para as ações 
individuais, os efeitos da coisa julgada não beneficiam o impetrante a rículo individual se 
o mesmo não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de trinca dias 
a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva (are. 22, § 1°, Lei nº 
12 .016/2009). 
4.7. Principais súmulas relacionadas ao mandado de segurança59 
Súmulas do STF 
súmula nº 101: O mandado de segurança não substitui a ação popular. 
súmula nº 248: É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal, 
para mandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da União. 
súmula nº 266: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese. 
súmula nº 267: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de 
recurso ou correição. 
súmula nº 268: Não cabe mandado de segurança contra decisão j udicial com 
trânsito em julgado. 
súmula nº 269: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobran­
ça. 
súmula nº 270: Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramen­
to da Lei nº 3.780, de 1 2 de julho de 1 960, que envolva exame de prova ou de 
situação funcional complexa. 
59. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 305. 
435 
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NATHALIA

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