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Filosofia Jurídica Tema Aula 5: MORAL/DIREITO/ EQUIDADE E NORMAS – DISCUSSÃO CONCEITUAL Profa. Dra. Lauriani Porto Albertini lalicso@gmail.com 1 1. Moral e Direito: interelações e diferenças A gênese do Direito confundia-se com a da Moral, chegando ao ponto desta ser utilizada como única fonte de produção das normas jurídicas. Com a modernidade, o Direito passou a se distanciar da Moral, acompanhando as mudanças de valores e passando a proteger somente o que fosse essencial à paz, à segurança e ao convívio social O legislador ao aprovar as leis utiliza-se da Moral, podendo a lei aprovada, sem prejuízo de sua efetivação, ser moralmente aceita ou não-aceita por todos ou por parte da sociedade, sendo que, na maioria das vezes, prevalece o padrão moral médio daqueles a quem a lei é dirigida = nem tudo que é legal é moral PORTANTO: O Direito e a Moral se relacionam, ora em sintonia um com o outro, ora em total dissonância, chegando ao ponto de se poder ter uma norma legal absolutamente imoral. BREVES CONCEITOS: - Moral “é a aplicação da ética às relações humanas. Parte da filosofia que trata do bem, dos bons costumes e dos deveres do homem social, e entra como elemento principal na formação do Direito. Conjunto de normas de conduta em harmonia com a virtude. Conformidade com o que é lícito e honesto” - Direito é tido como “Ciência normativa, que estabelece e sistematiza as regras necessárias para assegurar o equilíbrio das funções do organismo social, à obediência de cujos membros são coercitivamente impostas pelo poder público” 2. Equidade A norma jurídica, como já visto anteriormente, é a descrição de uma conduta geral e abstrata, e, por isso, pode não se vincular diretamente a determinado caso concreto, haja vista que os acontecimentos sociais são muito mais complexos. Dessa forma, pode-se dizer que, em alguns casos, a norma deverá ser adaptada ao caso concreto, para vislumbrar as particularidades trazidas em cada caso. À essa adaptação dá-se o nome de equidade. ASSIM: a equidade é a possibilidade do aplicador do Direito de moldar a norma no intuito de que essa seja sensível às peculiaridades de cada situação trazida pela realidade, e dessa forma, possa ser mais justa. Pode-se dizer que leis injustas são contrárias à Justiça, ou seja, contrárias ao objetivo maior do Direito que, conforme já dito, é dar a cada um o que lhe pertence. Por alguma distorção, a norma se torna inútil na função a que se destina, ocorrendo uma injustiça. Pode ser que essa distorção se dê de três maneiras: - por destinação, quando a intenção do legislador é exatamente a de se criar uma norma injusta, - causais, que se dão em virtude de incompetência política, que produz leis que desviam de sua finalidade e - eventuais, quando, diante do caso concreto, a norma poderá se tornar injusta. 3. DIREITO E JUSTIÇA Justo é aquilo que é adequado, correto. A ideia de Justiça, então, poderá ser definida como a reunião de valores éticos e morais, que atribui, a cada um, de forma igualitária, a cada um o que lhe pertence. Há na doutrina uma discussão a cerca do caráter absoluto ou relativo da palavra Justiça. Na acepção relativa, a palavra Justiça possuiria significação ampla, e que poderia divergir de tempos em tempos, pois o que estaria correto e adequado no presente poderia se alterar no futuro e vice versa. ASSIM: Justiça é Direito dos fracos e, portanto, não pode ser um privilégio! 4. Normas Jurídicas As normas jurídicas são estruturas fundamentais do Direito e nas quais são gravados preceitos e valores que vão compor a Ordem Jurídica. A norma jurídica é responsável por regular a conduta do indivíduo, e fixar enunciados sobre a organização da sociedade e do Estado, impondo aos que a ela infringem, as penalidades previstas, e isso se dá em prol da busca do bem maior do Direito que, como vimos, é a Justiça. Características da Norma Jurídica: - A generalidade, característica relacionada ao fato da norma valer para qualquer um, sem distinção de qualquer natureza, para os indivíduos, também iguais entre si, que se encontram na mesma situação. A norma não foi criada para um ou outro, mas para todos. Essa característica consagra um dos princípios basilares do Direito: igualdade de todos perante a lei. - A abstratividade diz respeito ao fato de a norma não ter sido criada para regular uma situação concreta ocorrida, mas para regular, de forma abstrata, abrangendo o maior número possível de casos semelhantes, que ocorrem, normalmente, da mesma forma. - A imperatividade é uma característica essencial, pois a norma, para ser cumprida e observada por todos, deverá ser imperativa, ou seja, impor aos destinatários a obrigação de obedecer. Não depende da vontade dos indivíduos, pois a norma não é conselho, mas ordem a ser seguida. - A coercibilidade, por fim, pode ser explicada como a possibilidade do uso da força para combater aqueles que não observam as normas. Essa força pode se dar mediante coação, que atua na esfera psicológica, desestimulando o indivíduo de descumprir a norma, ou por sanção (penalidade), que é o resultado do efetivo descumprimento. Classificações da Norma Jurídica: - Em relação à fonte leva em conta a origem das normas, e assim elas podem ser: a) Legislativas: quando escritas e organizadas; b) Consuetudinárias: quando as normas advém dos costumes; c) Jurisprudenciais: quando são retiradas de decisões dos tribunais; - No tempo se classificam pela vigência: a) Por prazo determinado: quando a própria lei determina o período que irá atuar; b) Por prazo indeterminado: quando a lei não prevê esse período de duração de sua atuação. - Âmbito material se classificam pelo conteúdo: a)Direito Público: quando o Estado seria uma das partes da relação, e impõe seu poder, verificando, dessa forma, uma relação de subordinação; b) Direito Privado: quando as partes são tidas como iguais, numa relação de coordenação. - Em relação à hierarquia por essa classificação podem ser: a) Constitucionais: decorrem da Constituição Federal, ou de suas emendas. É a norma mais importante do país, não podendo ser contrariada em nenhuma hipótese. b) Complementares: complementam algumas omissões da Constituição Federal. Possuem hierarquia logo abaixo das normas constitucionais. c) Leis ordinárias: estão localizadas num plano inferior. São as leis, medidas provisórias e leis delegadas. Normas regulamentares: advindas dos decretos e as individualizadas, decorrentes de testamentos e sentenças. - Em relação à qualidade podem ser: a) Positivas: quando a norma permite exige do indivíduo uma conduta compatível com uma ação ou omissão; b) Negativas: quando a norma implica na proibição de uma ação ou omissão. - Em relação à vontade das partes podem ser: a)Taxativas: quando independem da vontade das partes por abrangerem conteúdos de caráter fundamental; b) Dispositivas: leva em conta a vontade das partes, por se referirem aos interesses particulares, podendo ou não serem adotadas. 5. O NEXO INTERNO ENTRE O DIREITO E O PODER Vários são os autores que defendem que, em toda a história das estruturas de poder, o problema da legitimação dessas estruturas de dominação e de governo esbarra no problema da legitimação de um direito como codificação heterônoma. J. HABERMAS: Essa conexão é explicada pela relação simbiótica existente entre essas duas estruturas, no que Harbemas chama de "nexo interno do direito com o poder político", pois: “Os direitos subjetivos só podemser estatuídos e impostos através de organismos que tomam decisões que passam a ser obrigatórias para a coletividade”. Para Habermas, o contrário também é válido pois, tais decisões devem a sua obrigatoriedade coletiva à forma jurídica da qual se revestem. "O poder organizado politicamente não se achega ao direito como que a partir de fora, uma vez que é pressuposto por ele: ele mesmo se estabelece em formas do direito. O poder político só pode desenvolver-se através de um código jurídico institucionalizado na forma de direitos fundamentais" [HARBEMAS, 2003] ASSIM: não há autoridade sem norma, assim como não há poder sem força. Porém, tanto a força quanto as normas vinculadas a um poder podem ter atributos muito diferentes. Mas essa força também pode assumir a face de uma coação pela violência simbólica, que gera obediência em virtude de sanções de caráter simbólico. Exemplo: o sentimento de culpa moral ou punições divinas. 6. DISTINÇÃO CLÁSSICA POR AUTORES DA RELAÇÃO ENTRE MORAL/DIREITO/ EQUIDADE E NORMAS Christian THOMASIUS (Jurista, Séc. XVIII) disse que a Moral é de foro interno do indivíduo e o Direito é de foro externo. Ou seja, a Moral é norma de conduta individual, o Direito é norma de conduta social. Entretanto, segundo NORBERTO BOBBIO Thomasius, na realidade, não fez uma bipartição entre Direito e Moral, e sim, uma tripartição, distinguindo todas as regras da conduta humana em três categorias, segundo se refiram ao honestum (honestidade), ao justum (natural ao que é justo) ou ao decorum (respeito às normas morais). HANS KELSEN (jurista e filósofo, séc. XIX e XX) critica a afirmação de que o Direito prescreve uma conduta externa e a Moral uma conduta interna. Para ele, as normas das duas ordens determinam as espécies de conduta e como exemplo diz que a virtude moral da coragem não consiste apenas num estado de alma onde predomina a ausência de medo, mas também numa conduta exterior condicionada por aquele estado. Assim, quando uma ordem jurídica proíbe o homicídio, proíbe não apenas a morte de um homem causada pela conduta exterior de outro homem, mas também uma conduta interna, ou seja, a intenção de produzir tal resultado. A ideia moral x direito positivismo jurídico é criação de Hans Kelsen. Para ele, Direito e Moral são independentes e não possuem nem sequer uma área de intersecção. Em sua “Teoria Pura do Direito”, Kelsen elimina toda e qualquer influência no estudo da Norma, com o objetivo de torná- la “pura”. Em sua “Teoria Pura do Direito”, Kelsen elimina toda e qualquer influência no estudo da Norma, com o objetivo de torná-la “pura”. Apresenta essa questão em três aspectos: Coercibilidade e incoercibilidade Heteronomia e Autonomia Bilateralidade atributiva. Assim: a) COERCIBILIDADE E MORAL X DIREITO Coercibilidade é uma expressão técnica que serve pra mostrar a compatibilidade que existe entre o direito e a força. Segundo Kelsen, o direito é a ordenação coercitiva da conduta humana. Portanto sendo a Moral a conduta incoercível, porque não tem exigibilidade, e o Direito coercível por apresentar a exigibilidade. b) HETERONOMIA E MORAL X DIREITO Heteronomia é a sujeição às normas jurídicas de natureza obrigatória, ou seja, é quando um individuo se sujeita à vontade de terceiros ou de uma coletividade, em quanto a Autonomia está associada à autossuficiência, liberdade . Portanto dizemos então , que o direito é heterônomo visto ser posto por terceiros, aquilo que somos obrigado a cumprir e amoral autônoma pois não é imposta e sim criadas a partir de concepções do próprio individuo. c) BILATERALIDADE MORAL X DIREITO A Bilateralidade atributiva é uma proporção intersubjetiva ,em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender , exigir, ou a fazer garantidamente, algo. Por isso o Direito tem a qualidade atributiva, pois as normas ,corresponde a um dever a exigibilidade . E a Moral Apenas impõe deveres (ninguém pode exigir a conduta de outrem) E. KANT (filosófo, séc. XVIII e XIX) apresentou como critérios diferenciadores entre Direito e Moral a autonomia e a heteronomia. A autonomia indica a exigência, no plano moral, de uma adequação ou de uma conformidade absoluta entre a regra e a vontade pura do sujeito obrigado. A moralidade, sendo autônoma, não precisa se conformar com nada além da vontade pura do agente. O Direito, por sua vez, é heterônomo. Para a sua manifestação não se exige que a pessoa queira internamente realizar ou abster-se de um ato, basta que aja de conformidade exterior à norma. (HETERONOMIA) Heteronomia (do grego heteros, "diversos" + nomos, "regras") é um conceito criado por Kant para denominar a sujeição do individuo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. Se opõe assim ao conceito de autonomia onde o ente possui arbítrio e pode expressar sua vontade livremente. É um conceito básico relacionado ao Estado de Direito, em que todos devem se submeter à vontade da lei. Se opõe também a anomia que é a ausência de regras. Em Direito, a heteronomia é a característica da norma jurídica que estabelece que esta se impõe à vontade do destinatário — ou seja, a lei é imposta ao indivíduo, e exterior a ele, podendo ser criada por um ente interno (como o Estado), um ente maior que o Estado (como um bloco econômico) ou um ente internacional (como a ONU) J. L. AUSTIN (filósofo, séc. XX), o Direito é conjuntos de comandos provenientes de uma sociedade política e independente. - Política, por indicar ser composta por um número relevante de pessoas sujeitas a um superior comum; independente, por indicar que é autônoma e soberana. - Ainda segundo este autor, por ser posta por um sujeito humano que não possui qualidade de soberano para outro ou para outros sujeitos humanos, a Moral não prevê a aplicação de sanção em caso da sua não observância. ASSIM: Austin conclui que, a distinção entre norma jurídica e norma Moral dizendo que o Direito é um “comando soberano” enquanto que a Moral é constituída de “comandos humanos”. O fenômeno jurídico depende das relações sociais para o seu surgimento Ou seja: o fenômeno jurídico depende das relações sociais para o seu surgimento. Com o intuito de demonstrar a certeza dessa afirmação, a doutrina se vale da ilustração literária alusiva à história de Robson Crusoé, quando enfatiza que o náufrago não experimenta a base fenômeno jurídico enquanto se encontra sozinho naquela ilha desabitada. Essa alusão busca ilustrar a ideia de que a relação social (intersubjetiva) é pressuposto necessário para a ocorrência dos diversos fenômenos sociais, tais como a religião, a etiqueta, a política, a moral, o direito, entre outros. (Robinson Crusoe é um romance escrito por Daniel Defoe e publicado originalmente em 1719 no Reino Unido. A obra é a autobiografia fictícia do personagem-título, um náufrago que passou 28 anos em uma remota ilha tropical próxima a Trinidad, encontrando canibais, cativos e revoltosos antes de ser resgatado) Em outras palavras, para Austin havendo relações entre pessoas, surge o evento jurídico como uma das expressões sociais mais evidentes. Portanto: A política, a economia, a cultura, a religião, florescem como eventos decorrentes do fato social, inclusive estabelecendo normas de conduta. Entretanto, ao direito interessa a investigação da norma social qualificada, ou seja, a norma jurídica Segundo MIGUEL REALE (jurista e filósofo contemporâneo) , o grande mérito de Thomasius foi ter reconhecido que o Direito pode estar unido à coação, mas que não está necessariamente unido a ela. - Ou seja, Thomasius viu que o Direitonão se realiza sempre pela força, porquanto é necessário admitir-se a sua realização espontânea, graças a motivos ditados pelos interesses dos obrigados. - A coação sobrevém quando falha o cumprimento espontâneo; o recurso à força é uma segunda instância, um elemento extrínseco ou exterior à norma Jurídica, e não um de seus ingredientes essenciais. - ASSIM: a coação é um elemento virtual do Direito, podendo existir ou não. A Moral não admite a possibilidade da interferência da força, pois “um ato moral, realizado por astúcia ou força, não é ato moral no sentido autêntico da palavra”. Teoria Tridimensional do direito de Miguel Reale A teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale é uma teoria jurídica muito original e conhecida internacionalmente. Miguel Reale representa uma contribuição importante para a compreensão da ciência do Direito . A tridimensionalidade, ao analisar a experiência jurídica visa atualizar os valores e aperfeiçoar o ordenamento jurídico para adequá-los às novas exigências da sociedade. Sendo inovadora e importantíssima para a nova visão do Direito em todo mundo. A Teoria Tridimensional, põe o Direito em três elementos: fato, norma e valor. Para o jurista, Direito significa tanto o ordenamento jurídico quanto a ciência que o estuda. Segundo esta teoria , o Direito se compõe da conjugação harmônica dos três aspectos primordiais das distintas concepções unilaterais abaixo: - O aspecto normativo, ou seja, o aspecto de ordenamento do Direito; - O aspecto fático, ou seja, o seu nicho social e histórico; e - O aspecto axiológico, ou seja, os valores buscados pela sociedade, como a Justiça. Resumidamente, pode-se dizer que a norma é produzida por um órgão dotado de poder normativo que interpreta os fatos à luz dos valores compartilhados pela sociedade (intenções de valor), conforme o que seja entendido por "interesse público" (direções normativas). Correlacionam-se, portanto, três estruturas jurídicas fundamentais: -Direito Natural, como esquema normativo de exigências transcendentais; -Direito Positivo, como ordenamento normativo de fatos e valores no plano experimental; -Hermenêutica Jurídica, que esclarece o significado das regras positivas e assegura-lhes continua atualização e operabilidade Referência: REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1999 Obrigada pela atenção! Boa Noite !
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