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CURSO DE DIREITO Direito Agrário 3ª AULA IMÓVEL RURAL Os imóveis são bens que o Direito Civil sempre tutelou. Vamos recordar as definições deste ramo do Direito: Os bens imóveis, segundo preleciona Clóvis Beviláqua, são aqueles que não podem ser removidos de um lugar para outro sem destruição, sem alteração de sua substância. Imóveis por sua natureza O solo, a superfície, o subsolo e o espaço aéreo. Os acessórios e adjacências naturais, as árvores e os frutos pendentes (ainda não colhidos). As JAZIDAS, os RECURSOS MINERAIS e HIDRÁULICOS, conforme determina a Constituição Federal em seu art. 176 são propriedade DISTINTA do solo para exploração, lavra, estando a União autorizada a conceder ou autorizar seu aproveitamento no interesse nacional. O dono da terra tem direito à participação no fruto da lavra. Imóveis por acessão física artificial Acessão compreende o acréscimo ou aderência (DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. Op Cit p. 128.) de uma coisa a outra. Bem imóvel por acessão física ou artificial é o produzido pelo homem que se incorpora ao solo. Ex. construção, concreto armado, plantação, ponte, viaduto. Imóveis por determinação legal São aqueles que o artigo 80 do Código Civil entende como IMÓVEIS para fins legais (direitos reais sobre imóveis, direito à sucessão aberta e outros). Os imóveis podem ser urbanos ou rurais. 2 No estudo do nosso Direito Agrário é o Estatuto da Terra que define o que é imóvel rural: Art. 4º- Para os efeitos desta Lei, definem-se: I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada... Portanto, independente da localização do bem, quando se trata de direito agrário, o critério para o enquadramento do imóvel na categoria de “rural” é a sua destinação, a finalidade para qual ele é utilizado e aproveitado. Não importa se o trabalhador também reside na mesma área. A teoria da destinação foi à aceita na caracterização do imóvel como rural, para o Estatuto da Terra. São, então, características do imóvel rural: 1. ser prédio rústico (“ager” ou “praedium rusticum” do direito romano), que são as propriedades, edificações e benfeitorias nas quais podem ser acomodados animais, cultivadas as lavouras, realizados os depósitos de bens, maquinários e toda espécie de material empregado no campo. 2. ser área contínua, não importa se há algum acidente geográfico ou construção (uma ponte, um rio, uma depressão, uma estrada, etc.), se a destinação e o proveito econômico da porção de terra integram a propriedade ela é tida como contínua. 3. independente da localização: qualquer que seja a zona de inserção da propriedade (urbana ou rural); 4. ter destinação para explorar agricultura, pecuária ou produção agro- industrial. Importante é enfatizar que a teoria da localização para enquadramento do imóvel como rural ou urbano existe. Mas ela é critério para cobrança de impostos. 1. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL E A LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL Diz o art. 29 do Código Tributário Nacional: 3 “O imposto, de competência da União, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização fora da zona urbana do Município”. A lei municipal determina quais propriedades integram sua zona urbana e quais estão alheias a esta denominação. As propriedades que, portanto, permanecem na circunscrição rural do município podem gerar a tributação, pela União, do ITR (Imposto Territorial Rural). Evidente que há imóveis que estão na zona urbana do município e exploram uma horta, uma granja, etc. Neste caso, o imóvel cadastrado como rural pagará o ITR. A lei federal que regula o ITR é a Lei nº 9.393/1996: Do Fato Gerador do ITR Definição Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano. § 1º O ITR incide inclusive sobre o imóvel declarado de interesse social para fins de reforma agrária, enquanto não transferida a propriedade, exceto se houver imissão prévia na posse. § 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município. § 3º O imóvel que pertencer a mais de um município deverá ser enquadrado no município onde fique a sede do imóvel e, se esta não existir, será enquadrado no município onde se localize a maior parte do imóvel. A imunidade deste imposto exclui a cobrança sobre a pequena propriedade rural, cujo titular possua apenas aquela pequena gleba para si e para sua família, visando sua sobrevivência, sua exploração (art. 3º da Lei nº 9.393/1996): Imunidade 4 Art. 2º Nos termos do art. 153, § 4º, in fine, da Constituição, o imposto não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel. Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual ou inferior a: I - 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; II - 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; III - 30 ha, se localizado em qualquer outro município. Por isso a utilização da expressão “pequena gleba rural” está descrita na lei, e é definida, caso a caso, de acordo com a região do país onde o imóvel rural está localizado. A utilização racional do imóvel rural é também relevante para o ITR. As alíquotas são progressivas e incidem se o imóvel cumpre ou não a função social da propriedade. Quanto mais afastado o uso racional e social da propriedade, maior é alíquota do imposto. Superadas as questões da teoria da destinação e da localização do imóvel rural importa conhecermos outros termos importantes para o direito agrário. 2. A PROPRIEDADE FAMILIAR (MÓDULO RURAL) E O DIMENSIONAMENTO DA TERRA A propriedade rural pode ser medida, mensurada. Desde o Direito Romano esta prática era comum. No Brasil, o dimensionamento da terra foi uma preocupação concretizada a partir da Lei da Terra (Lei 605, de 1850) e hoje está prevista no Estatuto da Terra: Art. 4º. II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros; III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior... O módulo rural é “uma medida ou unidade agrícola padrão, que serve de ponto de referência para a fixação da dimensão econômica dos imóveis rurais” (Maria Helena Diniz). 5 O módulo rural contém elementos que o identificam. Primeiramente, ele é um instituto do Direito Agrário que visa medir uma certa área rural, delimitar a porção de terra. Pode ser aferido de acordo com a região do Brasil em que está inserida a terra e com a exploração econômica ali empregada (daí ser variável o módulo rural). O critério legal para sua delimitação considera a mão de obra usada para exploração da área, ou seja, deve ser suficiente para o agricultor e sua família (Números dos institutos de pesquisa consideram que a família brasileira é composta, em média,por quatro pessoas. Este mesmo número que foi considerado para a atribuição de trabalho pelo conjunto familiar.) serem absorvidos no uso da terra com vistas a sobreviverem (pelo menos em um salário mínimo), permitindo, ainda o progresso social e econômico. O módulo rural permite verificar se a área a ser explorada é economicamente viável. Existem mais de 200 regiões (consideradas pelo INCRA) que agrupam diferentes características regionais, permitindo exploração: hortigranjeira, de lavoura temporária (plantações por estações), de lavoura permanente, pecuária e florestal. O interessado faz o cadastro de seu imóvel rural junto ao INCRA para que lhe seja estabelecido o módulo rural de seu imóvel (a delimitação é específica para o imóvel cadastrado). Wellington Pacheco Barros (BARROS, Wellington Pacheco. Op. Cit. p. 33.) nos fornece exemplo de quantificação do módulo rural: “Antonio Pinto é proprietário de um imóvel de 300 hectares, na região de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, onde apenas 250 hectares são aproveitados em sua agricultura exclusiva do trigo-soja. Quantos módulos possui a propriedade de Antonio Pinto? Através de estudos realizados pelo INCRA na região de Cruz Alta, ficou estabelecido que essa região onde se situa a propriedade de Antonio Pinto é a B2, e que seu tipo de exploração é a de lavoura temporária; logo, o módulo ideal é de 25 hectares. No exemplo, a propriedade tem 10 módulos rurais (250 de área aproveitável, dividida por 25 do módulo ideal padrão).” 3. O PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE 6 A propriedade familiar (módulo rural) obedece ao princípio da indivisibilidade (cada módulo rural é indivisível). Esta posição é fruto da nossa herança greco-romana, conforme explica a doutrina: “A propriedade familiar era indivisível e diz-nos Aristóteles que em Tebas havia leis que prescreviam duma maneira absoluta que o número dos lotes de terra permanecesse imutável, o que certamente excluía a partilha e divisão entre e irmãos. É a indivisão do patrimônio uma espécie de direito de progenitura (cf Fustel de Coulanges, Cidade antiga, cit., p. 125). Coisa parecida se observa no art. 65 da Lei n. 4.504, quando a divisão reduz a propriedade em um minifúndio. Em nota, observa Fustel de Coulanges que a antiga língua latina conservou um vestígio desta indivisão, que por muito fraco que seja, merece, contudo, ser consignado. Chamava-se sors um lote de terra (nosso atual módulo) de domínio duma família: sors patrimonium significat. A palavra consortes dizia se daqueles que entre todos possuíam um só lote de terra e viviam no mesmo domínio. Ora, a antiga língua designava por esta palavra os irmãos e mesmo parentes num grau mais afastado: testemunho dum tempo em que o patrimônio e a família eram indivisíveis”. (Opitz, Silvia C.B. Op. Cit. p. 67.). Na nossa realidade atual, a impossibilidade de dividir imóveis rurais em certas circunstâncias levou a lides e controvérsias crescentes entre condôminos. O próprio Estatuto da Terra já reconhecia que uma área podia ser inferior àquela delimitada como propriedade familiar, tendo a conseqüência de o pedaço ocupado não ser adequado ou suficiente para sobrevivência do grupo social ali inserido (minifúndio - art. 4º, inciso IV). Tudo isso fez o legislador adotar a aprovação de dois institutos: ��FMP (fração mínima do parcelamento) e o ��Módulo Fiscal (art. 65 do E.T.) A fração mínima do parcelamento (FMP) é a menor área em que um imóvel rural pode ser desmembrado em um determinado município. Corresponde ao módulo de exploração hortigranjeira das respectivas Zonas Típicas de Módulo - ZTM A, B, C e D. 7 Ao ser parcelado o imóvel rural, para fins de transmissão a qualquer título, a área remanescente não poderá ser inferior a FMP (art. 8º da Lei 5.868/72), sendo a Zona Típica de Módulo (ZTM) a região delimitada (respeitado o módulo rural), agrupada por características ecológicas e econômicas homogêneas, baseada na divisão microrregional do IBGE – Microrregiões Geográficas - MRG, considerando as influências demográficas e econômicas de grandes centros urbanos: Art. 8º - Para fins de transmissão, a qualquer título, na forma do Art. 65 da Lei número 4.504, de 30 de novembro de 1964, nenhum imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de tamanho inferior à do módulo calculado para o imóvel ou da fração mínima de parcelamento fixado no § 1º deste artigo, prevalecendo a de menor área. § 1º - A fração mínima de parcelamento será: a) o módulo correspondente à exploração hortigranjeira das respectivas zonas típicas, para os Municípios das capitais dos Estados; b) o módulo correspondente às culturas permanentes para os demais Municípios situados nas zonas típicas A, B e C; c) o módulo correspondente à pecuária para os demais Municípios situados na zona típica D. § 2º - Em Instrução Especial aprovada pelo Ministro da Agricultura, o INCRA poderá estender a outros Municípios, no todo ou em parte, cujas condições demográficas e sócio-econômicas o aconselhem, a fração mínima de parcelamento prevista para as capitais dos Estados. (Lei 5868/72) Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural. § 1° Em caso de sucessão causa mortis e nas partilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em áreas inferiores às da dimensão do módulo de propriedade rural. § 2º Os herdeiros ou os legatários, que adquirirem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não poderão dividi-los em outros de dimensão inferior ao módulo de propriedade rural. § 3º No caso de um ou mais herdeiros ou legatários desejar explorar as terras assim havidas, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover no sentido de o requerente ou requerentes obterem financiamentos que lhes facultem o numerário para indenizar os demais condôminos. 8 § 4° O financiamento referido no parágrafo anterior só poderá ser concedido mediante prova de que o requerente não possui recursos para adquirir o respectivo lote. § 5° Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos parcelamentos de imóveis rurais em dimensão inferior à do módulo, fixada pelo órgão fundiário federal, quando promovidos pelo Poder Público, em programas oficiais de apoio à atividade agrícola familiar, cujos beneficiários sejam agricultores que não possuam outro imóvel rural ou urbano. (Incluído pela Lei nº 11.446, de 2007). § 6° Nenhum imóvel rural adquirido na forma do § 5o deste artigo poderá ser desmembrado ou dividido. (Incluído pela Lei nº 11.446, de 2007). As modalidades do módulo rural podem, então, ser entendidas, como leciona Maria Helena Diniz, como: a) Módulo da Região, determinado com base na delimitação de zonas típicas, tendo em vista o potencial demográfico de cada uma delas; b) Módulo da Propriedade ou do Imóvel, muito usado quando o imóvel explora várias culturas, representando medidas em hectares de área agricultável, para os diversos tipos de exploração; c) Módulo do Proprietário, para exprimir a média ponderada dos módulos correspondentes aos vários imóveis do mesmo proprietário, dividida pela área total de cada imóvel. 4. O MÓDULO FISCAL A jurisprudência adotou a Lei nº 8.629/93, art. 4º para designação de pequena propriedade e para delimitar benefícios a produtores, agricultores, assentados em reforma agrária, comunidades rurícolas, entre outros ocupantes: Lei 8.629/93 Art. 4º Para os efeitos desta lei, conceituam-se: I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial; II - Pequena Propriedade - o imóvel rural: a) de área compreendidaentre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; 9 Lei 11.326/06 (Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.) Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. Verifica-se que o termo legal utilizado é o MÓDULO FISCAL, ou seja, a medida expressa em hectares, que é pré-determinada, mas fixa para cada município, graças ao: tipo de exploração predominante no município, a renda obtida pelos trabalhadores rurais com esta exploração e as peculiaridades da região (em função da renda ou da área utilizada), inclusive caracteres da propriedade familiar. Distingue-se o Módulo Rural do Fiscal. O módulo rural é calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de localização. Já o Módulo Fiscal é estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos Módulos Rurais dos imóveis rurais do município. 5. CLASSIFICAÇÃO DO IMÓVEL RURAL A doutrina e a lei classificam o imóvel rural em: a) "Minifúndio", o imóvel rural cuja área e possibilidades de exploração econômica são inferiores às da propriedade familiar – corresponde ao módulo fiscal; Silvia Opitz enfatiza que tal propriedade “pela sua pequenez, não garante toda a atividade do conjunto familiar, de modo a lhe propiciar os meios de sobrevivência e um certo progresso econômico”, assim o minifúndio deve “desaparecer ou pela venda, ou pela desapropriação, ou pela agregação a outro prédio, para dar lugar ao prédio rústico ideal representado pelo chamado módulo rural”. 10 b) “Pequena Propriedade, Propriedade Familiar ou Módulo Rural”, corresponde ao imóvel que, direta e pessoalmente, é explorado pelo agricultor e sua família, e que lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros. Varia de 1 a 4 módulos fiscais (Lei nº 8.629/93, art. 4º, inciso II). O título do bem é conferido a membro da família e a propriedade é por força da CF considerada impenhorável e insuscetível de desapropriação para fins de reforma agrária. c) “Média Propriedade” corresponde ao imóvel rural de área compreendida entre 4 a 15 módulos fiscais (art. 4º, inciso III da Lei nº 8.629/93). Estas áreas também são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural. d) "Latifúndio" é o imóvel rural que: �� Exceda a dimensão máxima fixada de 600 vezes o módulo (Estatuto da Terra - Art. 46, § 1º, letra b - limites máximos permitidos de áreas dos imóveis rurais: não excederão a seiscentas vezes o módulo médio da propriedade rural nem a seiscentas vezes a área média dos imóveis rurais, na respectiva zona.) ou 600 vezes a área média dos imóveis rurais na respectiva zona, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine – latifúndio por extensão ou por dimensão; ��Não excedendo o limite referido (600 vezes), e tendo área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural – latifúndio por exploração; ��A Lei não considera como latifúndio: ��o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante planejamento adequado; 11 ��o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da administração pública; ��Imóvel rural com utilização adequada, ou seja, aquele que faz uso: dos recursos naturais disponíveis e da exploração com respeito à vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade. ��Imóvel rural que não ultrapasse o limite legal e tenha uso racional e adequado; ��Imóvel rural que seja enquadrado como empresa rural. Observações: O latifúndio é desestimulado uma vez que pode sofrer a desapropriação e receber tributação específica, como expressamente coloca o ET: Art. 49. As normas gerais para a fixação do imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão a critérios de progressividade e regressividade, levando-se em conta os seguintes fatores: I - o valor da terra nua; II - a área do imóvel rural; III - o grau de utilização da terra na exploração agrícola, pecuária e florestal; IV - o grau de eficiência obtido nas diferentes explorações; V - a área total, no País, do conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário. Não se confunde latifúndio com "Empresa Rural". e) “Empresa Rural” - é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo (equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias). É, então, a forma com que o agricultor (como pessoa física ou por meio de pessoa jurídica) reúne as características de produtor, organizando a terra, o capital e o trabalho para a obtenção de lucro. 12 OCUPAÇÃO, POSSE E PROPRIEDADE DA TERRA A ocupação da terra foi realizada a partir da descoberta do Brasil, com estímulo à utilização de terras da “Coroa”, mediante contraprestações específicas (regime de capitanias, sesmarias, etc.). O cenário brasileiro, hoje, revela que a ocupação foi decorrência de uma série de períodos históricos em que o povoamento do país foi sendo realizado, de forma desorganizada e paulatina, com sacrifício e conflitos (entre trabalhadores rurais, proprietários de terras, destruição do meio ambiente, etc.). O intuito do Estatuto da Terra foi disciplinar a situação de ocupação de terras. Este diploma legal expressou que colonização é toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de Cooperativas (art. 4º, IX). A doutrina defende que colonizar envolve “abrir novos pólos de exploração, com ênfase no setor econômico, sem descuidar do fator humano” (Wellington Pacheco Barros). A Colonização pode ser: 1. OFICIAL (ET - Arts. 55 e seguintes) Art. 55. Na colonização oficial, o Poder Público tomará a iniciativa de recrutar e selecionar pessoas ou famílias, dentro ou fora do território nacional, reunindo-as em núcleos agrícolas ou agro-industriais, podendo encarregar-se de seu transporte, recepção, hospedagem e encaminhamento, até a sua colocação e integração nos respectivos núcleos. Este tipo de colonização foi formulado para se realizar em terras já incorporadas aoPatrimônio Público (e que venham a sê-lo), ou seja, em áreas ociosas ou de aproveitamento inadequado; próximas a grandes centros urbanos e de mercados de fácil acesso, tendo em vista os problemas de abastecimento; regiões de êxodo, em locais de fácil acesso e comunicação, de acordo com os planos nacionais e regionais de vias de transporte; de colonização predominantemente estrangeira, 13 tendo em mira facilitar o processo de interculturação e áreas de desbravamento ao longo dos eixos viários, para ampliar a fronteira econômica do país. Todavia, este tipo de colonização não foi realmente frutífero por abandono do governo, em grande parte dos casos, de famílias em locais inóspitos e sem acesso a meios de transporte, comunicação, infra-estrutura para sobrevivência. A terra acabava a ser incorporada novamente aos grandes proprietários locais. 2. PARTICULAR (ET - Arts. 60 e seguintes) Art. 60. Para os efeitos desta Lei, consideram-se empresas particulares de colonização as pessoas físicas, nacionais ou estrangeiras, residentes ou domiciliadas no Brasil, ou jurídicas, constituídas e sediadas no País, que tiverem por finalidade executar programa de valorização de área ou distribuição de terras. A colonização particular obteve maior resultado por exigir lucro e produtividade dos idealizadores, com projetos técnicos de conservação do meio ambiente, da infra-estrutura da área, fiscalização pelo INCRA, abertura de estradas de acesso e de penetração à área a ser colonizada; divisão dos lotes, respeito às vertentes de modo a todos os lotes possuírem água própria ou comum; manutenção de uma reserva florestal nos vértices dos espigões e nas nascentes; prestação de assistência médica e técnica aos adquirentes de lotes e aos membros de suas famílias; fomento da produção de uma determinada cultura agrícola já predominante na região ou ecologicamente aconselhada pelos técnicos do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária ou do Ministério da Agricultura; entrega de documentação legalizada e em ordem aos adquirentes de lotes. Outra questão importante, quando se trata do imóvel rural, é a POSSE. Posse agrária, para o prof. Antonio José de Mattos Neto, “é o exercício direto, contínuo, racional e pacífico de atividades agrárias desempenhadas em gleba de terra rural capaz de dar condições suficientes e necessárias ao seu uso econômico, gerando ao possuidor um poder jurídico de natureza real definitiva com amplas repercussões no Direito, tendo em vista o seu progresso e bem estar econômico e social”. A figura do possuidor foi destacada, uma vez que a posse possibilita a aquisição da propriedade da terra, quando cumprir requisitos específicos. Isto porque, na figura da posse agrária são exigidos, além da ocupação da terra: a exploração da 14 atividade tipicamente rural, uso adequado e racional da terra, respeitando o meio ambiente e as relações de trabalho. Conforme delimita a Constituição, portanto, a posse agrária também está submetida à função social. São elementos que caracterizam esta posse: a prática de atividades agrárias sobre o imóvel rural, exercida direta, pessoal e imediatamente pelo(s) titular (es) da posse, principalmente sobre terras públicas ou devolutas, a fim de que possa ser regularizada. O Estatuto da Terra (art. 97) explicita: Art. 97. Quanto aos legítimos possuidores de terras devolutas federais, observar-se-á o seguinte: I - o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá a discriminação das áreas ocupadas por posseiros, para a progressiva regularização de suas condições de uso e posse da terra providenciando, nos casos e condições previstos nesta Lei, a emissão dos títulos de domínio; II - todo o trabalhador agrícola que, à data da presente Lei, tiver ocupado, por um ano, terras devolutas, terá preferência para adquirir um lote da dimensão do módulo de propriedade rural, que for estabelecido para a região, obedecidas as prescrições da lei. A propriedade da terra é outro ponto especial no estudo do direito agrário. Sabemos que a propriedade é o direito real que uma pessoa tem de, em conformidade com a lei, usar, gozar e dispor de um bem (móvel ou imóvel, corpóreo e incorpóreo), e de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha (Maria Helena Diniz). Ela é o mais completo dos direitos subjetivos, razão pela qual é possível afirmar que, dentro do sistema de apropriação de riqueza em que vivemos, a propriedade representa a espinha dorsal do direito privado, pois o conflito de interesses entre os homens, que o ordenamento jurídico procura disciplinar, manifesta-se, na quase generalidade dos casos, na disputa sobre bens (Silvio Rodrigues). A propriedade também apresenta elementos constitutivos. São eles: a) Uso – “jus utendi”: possibilita ao proprietário utilizar o bem, de acordo com a sua vontade, nos termos da lei. b) Gozo – “jus fruendi”: possibilita ao proprietário arrecadar os frutos (também as rendas, os juros, etc.) obtidos com a exploração econômica do bem. 15 c) Disposição – “jus abutendi/ jus disponendi”: possibilita ao proprietário dispor da coisa, vendendo-a, doando-a, alienando-a, etc. d) Reivindicação – “jus reivindicatio / rei vindicato”: o proprietário tem direito de reaver a coisa do poder de quem ilegalmente a detenha, alicerçado em seu direito de domínio sobre o bem. No direito agrário, a propriedade pode ser adquirida originariamente com o instituto da usucapião através da posse direta, pessoal e ininterrupta. Este modo de aquisição é caracterizado pelo fato de que não há vínculo jurídico entre o proprietário anterior e o atual e se justifica pelo exercício da posse agrária (utilização econômica do imóvel rural pelo posseiro, através de trabalho) em área alienável. A doutrina o denomina de usucapião constitucional, especial rural ou pro labore: Constituição Federal Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Aponta a doutrina que “não é por ser inculta a terra particular que o usucapião especial vai recair; necessário se torna que essa propriedade rural tenha incorporado a si o trabalho do agricultor, que este a tenha tornado produtiva e que nela tenho sua morada com sua família, célula mater, por excelência da sociedade. A finalidade da lei é tornar uma realidade a propriedade familiar, consistente no imóvel rural, como tal definido no art. 4º do ET, não superior a 50 hectares, que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico” (Opitz, Silvia). Não podem ser objeto de usucapião, nos termos do art. 3º. da Lei 6.969/1981: Art. 3º - A usucapião especial não ocorrerá nas áreas indispensáveis à segurança nacional, nas terras habitadas por silvícolas, nem nas 16 áreas de interesse ecológico, consideradas como tais as reservas biológicas ou florestais e os parques nacionais, estaduais ou municipais, assim declarados pelo Poder Executivo, assegurada aos atuais ocupantes a preferência para assentamento em outras regiões, pelo órgão competente. IMÓVEL PARTICULAR E PÚBLICO É imóvel particular ou privado a terra ou solo ou prédio cuja propriedade ou o domínio seja de pessoa física ou jurídica. São terras adquiridas legalmente, através de título legítimo, que lhe garante o pleno exercício do direito de propriedade. Cumpre observar, que somente o título representado pela escritura de compra e vendanão transmite a propriedade, havendo necessidade de que o mesmo seja levado ao registro, no CRI - Cartório de Registro de Imóveis, para operar-se a transferência e conseqüente aquisição efetiva da propriedade. Para quem pretende adquirir imóvel rural em regiões de conflitos fundiários é importante a verificação da cadeia dominial. Através desta, pode-se obter a relação de todos os proprietários anteriores, até alcançar-se o título de origem que garantiu a propriedade da pessoa física ou jurídica, primeiro dono do imóvel rural e que permitiu a sua transferência do patrimônio público para o domínio particular. Ademais, não podem ser objeto de alienação as terras localizadas em áreas indígenas e em áreas de reservas ou parques florestais, por serem considerados bens públicos. Outro cuidado que se impõe a quem pretenda adquirir terras rurais é o fato da existência de títulos falsos, oriundos de fraudes, como falsificações de livros de registros de imóveis e de procurações, mediante o uso de meros papéis timbrados, carimbos e assinaturas falsas. Este processo de falsificação caracteriza o que popularmente se denomina de grilagem, onde os títulos decorrem da prática de tais atos fraudulentos e acarretam a inexistência de direitos em razão de a nulidade operar-se de ‘pleno jure’. 17 Convém acrescentar que o Registro de Imóvel no Cadastro do INCRA, acompanhado dos recibos de pagamento do ITR - Imposto Territorial Rural, não se constituem em comprovantes da propriedade da terra. Isso porque INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária elabora seu cadastro com base nas simples declarações do contribuinte e não no título de propriedade do imóvel. Isso significa dizer que até mesmo um simples posseiro pode ter consigo um comprovante de pagamento do ITR. Resta salientar ainda que à propriedade privada da terra deva intrinsecamente se ater a uma função social e seu uso está condicionado ao bem-estar coletivo previsto nos artigos 184 e 186 da Constituição Federal de 1988, sob pena de a mesma sofrer desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária. Segundo o artigo 98, do Código Civil, são públicos os bens pertencentes à União, ou aos Estados, ou aos Municípios. Todos os outros são particulares, seja qual for à pessoa a que pertencerem. Por seu turno, a Constituição Federal define que: Art. 20 São bens da União: I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II – as terras devolutas indispensáveis á defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; (...) XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Com relação à possibilidade de exploração das terras públicas pelo Poder Público, há que se considerar, preliminarmente, o inteiro teor do artigo 10, do Estatuto da Terra, ‘in verbis’: Art. 10 O Poder Público poderá explorar, direta ou indiretamente, qualquer imóvel rural de sua propriedade, unicamente para fins de pesquisa, experimentação, demonstração e fomento, visando ao desenvolvimento da agricultura, a programas de colonização ou fins lucrativos de assistência técnica e de readaptação. § 1º Somente se admitirá a existência de imóveis rurais de propriedade pública, com objetivos diversos dos previstos neste 18 artigo, em caráter transitório, desde que não haja viabilidade de transferi-los para a propriedade privada. Conforme se pode ver a exploração do imóvel rural, pertencente ao domínio público, ficará restrita às atividades que visem ao desenvolvimento da agricultura (estações experimentais e centros de pesquisa), a programas de colonização ou fins educativos de assistência técnica e de adaptação. Admite o referido dispositivo, no seu § 1º, a existência de imóveis rurais públicos com destinação diversa da prevista no seu caput, mas somente em caráter transitório e desde que não haja possibilidade imediata de alienação à propriedade privada. Assim, na hipótese de o Poder Público incorporar ao seu patrimônio terras rurais decorrentes do processo expropriatório por interesse social ou do processo discriminatório de terras, tão logo o faça deverá promover a sua distribuição para fins de reforma agrária, isto é, dar-lhe a destinação prevista no artigo 10 do Estatuto da Terra ou aliená-las de conformidade com o artigo 8º, do Decreto-lei 2.375/87. As terras públicas também não podem ser objeto de contrato de arrendamento ou de parceria rurais, a não ser de forma excepcional. Tal vedação decorre do artigo 94 do Estatuto da Terra, que assim dispõe: Art. 94. É vedado contrato de arrendamento ou parceria na exploração de terras de propriedade pública, ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. Excepcionalmente, poderão se arrendadas ou dadas em parceria terras de propriedade pública, quando: a) razões de segurança nacional o determinarem; b) áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de implantação, forem organizadas para fins de demonstração; c) forem motivo de posse pacífica e a justo titulo, reconhecida pelo Poder Público, antes da vigência desta lei. Complementado o referido dispositivo, o artigo 14 da Lei nº 4.947/66 autorizou o IBRA a permitir, a titulo precário, nas áreas pioneiras do País, a utilização de terras públicas sob qualquer das formas de uso temporário previsto no Estatuto da Terra. 19 Todavia, foi o Decreto 59.566/66 (Regulamento do Estatuto da Terra) que, no seu artigo 81, procurou regular a incidência do parágrafo único do artigo 94, do Estatuto da Terra, embora, equivocadamente, somente tenha se referido expressamente ao artigo 14 da Lei nº 4.947/66, conforme se reproduz: Art. 81. Nos termos do artigo 14 da Lei nº 4.947, de 1966, o IBRA poderá permitir, após os necessários estudos em cada caso, e sempre a titulo precário, nas áreas pioneiras do País, a utilização de Terras publicas, sob qualquer das formas de uso temporário previsto no Estatuto da Terra, bem como promover sua progressiva adaptação às normas estabelecidas na referida Lei e neste Regulamento. AQUISIÇÃO E PERDA O direito pátrio, ao definir o método de aquisição de propriedade, seguiu o sistema romano. Desse modo, a aquisição da propriedade em nosso direito requer ‘modus acquisicionis’, ou seja, se dá por um modo, não bastando à existência de um título. No direito francês, que adota sistema diferente, o titulo é suficiente para transferir a propriedade. Assim, o próprio contrato de compra e venda, por exemplo, tem efeito translativo, não dependendo de nenhum ato posterior para efetivar a transferência. O sistema adotado por nosso Código Civil trata o título apenas como causa à transferência. Por conseguinte, além do título, que seria a justa causa à aquisição do domínio ou da propriedade, é necessária ainda a ocorrência de um dos modos que efetivam a transferência, previstos expressamente em lei. É comum utilizar diversos critérios para classificar os modos de aquisição da propriedade. O mais tradicional é o que se baseia na causa da aquisição, dividindo-os em originários e derivados. Os modos originários são aqueles que não exigem relação entre adquirente e proprietário precedente da coisa. O adquirente, assim, passa a ser proprietário da coisa independentemente do direito de seu predecessor. São exemplos de modos originários de aquisição da propriedade: a especificação, a acessão natural, e também, para a maioria dos estudiosos, a usucapião. 20 Modos derivados são os que decorrem de relação entre adquirente e proprietário precedente da coisa, ou seja, entre o antigo e o novo proprietário. A transferência do direito se dá por ato do alienante (antigo proprietário),que o cede ao adquirente. Desse modo, os direitos do adquirente sobre a coisa estão vinculados e restritos ao do predecessor, pois ninguém pode ceder mais direito do que já tem. Portanto, a propriedade continuará com todas as limitações que eventualmente tiver. Os modos derivados são todos aqueles que não são originários, como a tradição e o registro imobiliário (transcrição). O Código Civil, porém, não adota tal classificação, tendo preferido ao disciplinar tal matéria, distingui-los entre modos de aquisição de propriedade sobre bens imóveis e móveis. Os modos de adquirir bens imóveis, segundo os artigos 1.245 aos 1.259 do Código Civil, são: a Usucapião, o Registro do Título e a Acessão (Formação de Ilhas, Aluvião, Avulsão, Álveo Abandonado e Construções e Plantações). E quanto aos bens móveis, também de acordo com os artigos 1.260 aos 1.274 do Código Civil, os modos de aquisição da propriedade são: a Usucapião, a Ocupação, o Achado do tesouro, a Tradição, a Especificação, a Confusão, a Comissão e a Adjunção. Como se vê, o Registro do Título é modo de aquisição exclusiva da propriedade imobiliária; já que os outros são comuns tanto para efetivar a transferência do domínio sobre bens móveis, quanto para imóveis. No Código Civil não se fala mais em transcrição, portanto não mais perdura qualquer discussão acerca de que a transcrição é ‘modus’ e o título é causa. TERRAS INDÍGENAS As terras habitadas pelos silvícolas são também utilizadas em atividades agrárias, porquanto é nesse seu habitat que eles praticam a caça e a pesca, consideradas atividades agrárias típicas, na linha do extrativismo. Mas, além das atividades extrativas, também podem se dedicar a outras também de natureza agrária, tais como a lavoura e a pecuária. Daí a sua importância para o Direito Agrário. Talvez por isso, observa-se que a evolução legislativa em favor dos silvícolas é cada vez mais acentuada. De fato, o artigo 12, da Lei nº 601/1850 (Lei de Terras) se dispôs a preocupar-se com os índios: 21 Artigo 12. O Governo reservará das terras devolutas, as que julgar necessárias: § 1º. para a colonização dos indígenas.... A atual Constituição Federal chegou mesmo a dedicar um capítulo inteiro sobre os índios (Capítulo VIII, Título VIII – Da Ordem Social). Em dois densos arts. (231 e 232) o legislador constituinte realçou, entre outros direitos dos índios, aquele sobre as terras que tradicionalmente ocupam, cumprindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. O Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73) traz o conceito de terras indígenas, em seu artigo 17, assim reproduzido: Art. 17 Reputam-se terras indígenas: I – as terras ocupadas ou habitada pelos silvícolas, a que se referem os artigos 4º IV, e 198, da Constituição (hoje revogada); II – as áreas reservadas de que trata o Capitulo III deste titulo; III – as terras de domínio das comunidades indígenas ou de silvícolas. GRILAGEM A grilagem é um fenômeno atual e ligado à conquista ilegal da terra, razão pela qual não tem campo de atuação restrito a este ou àquele território seja público ou particular. Conceitua-se Grilagem como sendo a idéia de aquisição ou de tentativa de aquisição ilícita da terra. Embora já incorporado ao nosso glossário de uso popular corrente no Brasil, a expressão ainda não foi consagrada pelo legislador nacional. Não há qualquer menção na Legislação Agrária, já que a grilagem é agora figura tão comum no meio rural. Não há, também, referência na Legislação Penal, que não incrimina, especificamente, a grilagem. Não é, ainda, citada na Legislação Civil, onde poderia ser lembrada quando se tratasse do instituto do registro público. TERRAS DEVOLUTAS Diversos são os conceitos atribuídos ao instituto Terras Devolutas, consagrado na literatura jurídica agrária brasileira, desde a Lei das Terras (Lei nº 601/1850). 22 Firma-se que as terras devolutas são aquelas terras que não verteram para o domínio privado, deste excluído, evidentemente, o que estiver aplicado a qualquer uso público. Baseando-se na sua origem etimológica explica-se que o termo devoluto quer dizer vazio, ou desocupado, ou sem dono. Na verdade, terras devolutas significam terras vagas e não ocupadas. Tanto que as sesmarias (Pedaço de terra devoluta ou cuja cultura fora abandonada, que os reis de Portugal entregavam a sesmeiros, para que o cultivassem), então concedidas, consignavam a circunstância de que não eram elas aproveitadas. Daí surge a Lei nº 601/1850 que não podia estabelecer mesmo uma definição jurídica para o comentado instituto das terras devolutas, senão abraçando, no seu próprio texto, todas as situações até então concebidas. Foi o que fez no artigo 3º e seus respectivos parágrafos, a saber: Art. 3º São terras devolutas: § 1º Terras que não se acharem aplicadas a algum uso público, nacional, provincial ou municipal. § 2º As que não se acharem em domínio particular por qualquer título legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo ou Provincial, não incursas em comisso por falta de cumprimento das condições de medição e cultura. § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursos em comissos, forem reavaliadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que apesar de não se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei. Tornou-se evidente que o principal objetivo da Lei nº 601/1850 foi conferir titulação a todos aqueles que não a tinham, mas ocupavam áreas de terras devolutas. É imperioso salientar que as circunstâncias históricas e conjunturais justificaram plenamente a edição dessa lei, para evitar a perpetuação do regime de posses ilegítimas como meio originário de aquisição da propriedade imobiliária, instalado desde a suspensão das sesmarias em 17 de julho de 1822.
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